Ressaca do Oscar

Plummer, Spencer, Streep e Dujardin

Depois de alguns meses só falando de Oscar, Globo de Ouro e outros prêmios, resolvi dar uma pausa maior antes de recomeçar a postar. É engraçado ver agora aqueles filmes que não tiveram chance no Oscar estrearem nas salas de cinema como é o caso de Drive e W.E. – O Romance do Século, ambos indicados nas categorias de efeitos sonoros e figurino, respectivamente e apenas. Parece que agora há um espacinho na grade de programação para os mesmos.

Como já vi Drive e não me interessei tanto pelo filme da Madonna, resolvi correr atrás do prejuízo e conferir o trabalho de Meryl Streep em A Dama de Ferro. Na época, eu estava receoso de que a figura não tão quista de Thatcher fosse prejudicar Meryl Streep na conquista do prêmio da Academia, mas felizmente a veterana atriz se mostrou maior do que seu papel e o filme medíocre em si. O que esperar da diretora de Mamma Mia ao assumir a biografia de uma pessoa tão controversa? Faltou o olhar político de um Elia Kazan ou de um Costa-Gavras. É claro que Phyllida Lloyd não deu conta do recado e o filme só vale mesmo pela atriz e pelo belo trabalho de maquiagem.

Meryl Streep: dona do 3º Oscar e do melhor discurso da noite

Aliás, o discurso de Meryl Streep foi o melhor da noite do Oscar. Ela deixa de lado o filme e os agradecimentos chatos para valorizar as amizades que fez durante toda sua carreira de forma honrosa. Particularmente, fico bastante feliz quando atrizes mais experientes vencem, porque das ganhadoras dos últimos 15 anos, apenas 3 voltaram a ser indicadas, dando a entender que trabalhos mais consistentes são casos isolados nessa categoria.

Mas enfim, voltando à ressaca do Oscar, seria interessante (ou melhor, um sonho) ver o mesmo empenho das distribuidoras em correr atrás das estréias de filmes indicados e premiados também nos casos do Festival de Berlim, Sundance, Veneza e Cannes. É claro que muita coisa melhorou nos últimos anos, pois essas produções estrangeiras “alternativas” passaram a aparecer timidamente nas salas comerciais de cinema, e não apenas ficar restringidas às mostras paralelas como a Mostra Internacional de Cinema, que ocorre todo mês outubro em São Paulo.

Obviamente, se ainda não dá pra exigir todos os filmes reconhecidos dos grandes festivais aqui no Brasil, nem se fala então do atraso. Vamos pegar alguns exemplos. Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, filme tailandês vencedor da Palma de Ouro de 2010, estreou comercialmente na França no dia 1º de setembro de 2010, enquanto que aqui no Brasil, 21 de janeiro de 2011. Quatro meses: pouco ou muito para um filme com o prêmio máximo de Cannes?

Apichatpong Weerasethakul recebendo a Palma de Ouro por Tio Boonme: quase um ano depois de Cannes no Brasil (foto: Reuters)

Drive, vencedor de Melhor Diretor no Festival de Cannes em 2011, teve sua estréia nos EUA no dia 16 de setembro de 2011. Aqui no Brasil: quase metade de um ano depois: 02 de março de 2012. Isso porque tem Ryan Gosling e Carey Mulligan no elenco.

Os próprios filmes de Woody Allen costumavam levar 1 ano pra chegar às telas brasileiras.  Enquanto aqui estreava o penúltimo de Allen, lá fora já tinham visto o último. Felizmente, com a evolução de seus filmes e melhor aceitação do público, suas estréias foram antecipadas aqui. Vicky Cristina Barcelona e Meia-Noite em Paris levaram apenas um intervalo de 3 meses e 1 mês, respectivamente.

O que muitos não se dão conta é que esse atraso pode acarretar em mais pirataria. Se uma pessoa sabe que o filme que ela quer ver só vai estrear aqui depois de 6 meses, o que a impede de comprar na banquinha de cópias ilegais por 4 “real” hoje? Isso sem contar o absurdo dos altos preços cobrados por cópias originais. Por que não abaixar os impostos para que os consumidores possam contribuir legalmente? Enfim, essa é uma discussão que merece vários posts, mas recentemente um primeiro passo foi dado pelo Ministério da Cultura, que aprovou a isenção de impostos para CDs e DVDs de artistas nacionais (confira notícia no link: http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/12/camara-aprova-em-2-turno-isencao-de-impostos-para-cd-e-dvd-nacional.html) no final de 2011. A proposta ainda deve passar por 2 votações pelo Senado. Vamos torcer para que os políticos pensem um pouco na cultura do país.

Como resistir a este cartaz se na loja o mesmo filme está 30 reais?

Nos últimos meses, vencedores foram anunciados do Festival de Sundance e Festival de Berlim. Para quem desconhece, Sundance foi criado pelo ex-galã de Hollywood e diretor Robert Redford, tanto que o festival leva o nome de seu famoso personagem de Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969), a fim de criar uma nova vitrine que privilegiasse um cinema mais independente. Este ano, o filme Beasts of the Southern Wild, de Benh Zeitlin foi vencedor do Grand Jury Prize – Dramatic, além do prêmio de fotografia. Previsão de estréia no Brasil? Se nos EUA é só dia 27 de junho de 2012, quem sabe em 2013? Digo isso porque o vencedor de 2011, o bom drama romântico Like Crazy, de Drake Doremus nem estreou por aqui.

Se o vencedor de Sundance 2011 não chega ao Brasil, temos que importar o blu-ray. Aproveito pra perguntar: Por que não usar aqui as capas com metade da espessura?

Já o Festival de Berlim costuma primar na seleção de filmes de cunho sócio-político. Para citar alguns vencedores do Urso de Ouro: A Separação, Contra a Parede, 12 Homens e uma Sentença, O Salário do Medo e Em Nome do Pai, além dos brasileiros Central do Brasil e Tropa de Elite. Este ano, a produção italiana dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, Cesare deve Morire (César Deve Morrer), foi a grande vencedora. Nela, presos de uma penitenciária de segurança máxima encenam a peça Júlio César de Shakespeare. Previsão de estréia? Na Itália, país da produção, dia 02 de março. No Brasil? Se na França vai ser dia 17 de outubro…

Com uma defasagem ainda bastante incômoda nos lançamentos dos cinemas, o Oscar ainda merece credibilidade por trazer filmes de qualidade acima da média às salas brasileiras.

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