Marvel Comics triunfa nas bilheterias
Sou um pouco suspeito para compor uma avaliação do filme dos Vingadores, afinal, desde minha adolescência fui leitor e colecionador assíduo dos quadrinhos da Marvel Comics. Depois de tantos anos acompanhando as histórias e os vários personagens da editora norte-americana, assistir a esse filme no cinema IMAX lotado é um sonho concretizado como fã da Marvel.
Cerca de 9 anos atrás, eu havia escrito uma resenha intitulada “Quando a Marvel Comics conquistaria as bilhterias” (confira através do link: http://www.mnemocine.com.br/oficina/winton3.htm). Nela, acreditava que os filmes da Marvel tinham atingido seu auge, com lançamentos das adaptações de X-Men e Homem-Aranha, mas ao conferir o filme Os Vingadores, esse auge pode ainda estar por vir.
O filme tem batido todos os recordes de bilheteria, tanto nos EUA como internacionalmente, incluindo o Brasil, onde nesse fim de semana do dia 25 de maio, atingiu a histórica marca de R$ 104 milhões, superando os já impressionantes números de Tropa de Elite 2 e Avatar. E, até o momento, ocupa o 4º lugar da bilheteria mundial com a soma de US$ 1.184 bilhão, atrás apenas de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 (3º), Titanic (2º) e Avatar (1º). A pergunta que fica é: até onde os produtores de Hollywood querem chegar? Num mercado cinematográfico cada vez mais covarde, encontrar um material rentável como os heróis da Marvel tem feito muitos produtores sonharem mais alto com as cifras. Com certeza, no mínimo uma trilogia já está programada para os próximos anos, além de filmes solos dos personagens.
Só para constar, vamos aos lançamentos já confirmados e com previsão de lançamento, lembrando que tudo deve ser em 3D: (quem não aguenta mais assistir a filmes com aqueles óculos engordurados levanta a mão!) o/
– O Espetacular Homem-Aranha (03 de julho de 2012): Apesar de achar um pouco cedo para um revival do personagem nos cinemas (Homem-Aranha 3 foi lançado em 2007), pelo trailer, pode ser que funcione com novos atores e uma nova trama envolvendo o desaparecimento dos pais de Peter Parker e o vilão Lagarto. Gosto do jovem ator Andrew Garfield, mas superar Tobey Maguire vai ser bem difícil. E Marc Webb, conhecido por dirigir a ótima comédia romântica (500) Dias com Ela, também é uma aposta para um blockbuster de ação. Confira o trailer abaixo:
– Homem de Ferro 3 (2013): Desta vez, conta com Sir Ben Kingsley como o vilão Mandarim e será dirigido desta vez por Shane Black, famoso roteirista da série Máquina Mortífera e mais recentemente o policial Beijos e Tiros, com o mesmo Robert Downey Jr.
– Thor 2 (2013): A boa notícia desta sequência é a contratação do diretor Alan Taylor, um dos criadores da série de TV Game of Thrones, que certamente dará um aspecto mais medieval às batalhas épicas do personagem nórdico.
– The Wolverine (2013): Para quem viu a cena depois dos créditos finais de X-Men Origens: Wolverine, sabe que esta sequência se passará no Japão, fazendo uma adaptação de uma das sagas mais importantes do personagem, envolvendo o vilão Samurai de Prata. Hugh Jackman já está escalado, obviamente, e o bom diretor James Mangold de Os Indomáveis.
– Capitão América 2 (2014): Ainda sem diretor, o filme quer focar na reflexão do lugar que o Capitão América teria na sociedade moderna pós-11 de setembro.
– Deadpool (2014): Talvez o personagem mais falastrão da Marvel Comics, Deadpool já fez o papel de vilão no filme X-Men Origens: Wolverine (2009). Infelizmente, ainda vão apostar no ator Ryan Reynolds, que recentemente estrelou a bomba Lanterna Verde.
– Ant-Man (2014): Apesar da pouca fama do Homem-Formiga, este filme já pode ser considerado um dos mais esperados, pois terá uma veia mais cômica. Prova disso é a contratação do diretor Edgar Wright, responsável pela comédia de zumbis Todo Mundo Quase Morto e do hi-tech Scott Pilgrim contra o Mundo. Para quem desconhece, Homem-Formiga é o bioquímico Hank Pym que inventa uma substância que o faz mudar de tamanho. Como a sequência abaixo mostra, ele sabe usar seus poderes sabiamente.

Homem-Formiga nem pisca: “Ms. Marvel, Ms. Marvel… nunca tinha ouvido falar em você. Mas deixa eu te contar um segredo… Você é minha heroína favorita de todos os tempos!”
Ainda sem título oficial, a sequência de X-Men: Primeira Classe já foi anunciada e a atriz Jennifer Lawrence (Mística) já assinou.
Mas, para quem acompanhou todo o planejamento da produtora, sabe que o sucesso do filme Os Vingadores começou lá atrás quando Nick Fury bateu a porta de Tony Stark no primeiro filme do Homem de Ferro em 2008 na cena pós-crédito. A partir daí, todo filme dos personagens da Marvel tinha uma cena “escondida” após os créditos que fazia essa ligação com outros filmes que seriam lançados. Aliás, este filme também apresenta uma cena secreta que aponta uma dica para o possível vilão da sequência, portanto, fiquem atentos e não saiam da sala de cinema antes da hora.
OK, todos os personagens haviam sido introduzidos ao público do cinema: Homem de Ferro, Hulk, Thor, Capitão América, Viúva Negra e Gavião Arqueiro (estes dois últimos como coadjuvantes). O agente especial Nick Fury (Samuel L. Jackson) reuniu todos, mas quem iria dirigir o filme? Quando se pensa num blockbuster dessa dimensão, a responsabilidade inevitavelmente acaba pressionando na escolha do diretor. Muitos colocariam na lista de possiblidades nomes de peso como James Cameron, Bryan Singer ou mesmo Zack Snyder (que vai dirigir o novo filme do Super-Homem), mas a Marvel tomou a decisão certa: chamou o especialista em quadrinhos Joss Whedon.
Além de ter escrito a série Buffy – A Caçadora de Vampiros, Whedon já foi indicado ao Oscar pelo roteiro de Toy Story (1994) e em 2005, dirigiu a boa ficção científica Serenity, mas o que mais conta aqui são suas raízes como roteirista de quadrinhos. Ele alavancou as vendas de uma das franquias mais importantes da Marvel Comics: The Astonishing X-Men dando profundidade emocional aos personagens e os diálogos geniais que se tornaram sua marca. Foi assim que ele soube explorar o potencial de cada personagem que tinha nas mãos e pensou como um fã também. Prova disso é uma cena de briga que envolve o Homem de Ferro e Thor, que pode não colaborar para o avanço da história, mas satisfaz a sede de milhares de leitores de quadrinhos.

Uma das obras de Astonishing X-Men assinadas por Whedon. Dá pra ver o nome dele lá no canto inferior?
Como na série 007, nos filmes da Marvel são os produtores que mandam. Então, buscaram um diretor que não queira interferir no material com seu estilo: o chamado operário-padrão. Como o estilo de Joss Whedon tem essa forte característica que é o trabalho nos diálogos, ele entrega um blockbuster bem feito com o diálogo nitidamente como a melhor qualidade do filme.
Como roteirista, Whedon foi bastante democrático ao distribuir suas falas igualitariamente para todos os personagens centrais. Talvez soe como algo sem importância, mas essa tarefa, além de ingrata pelo elevado número de personagens na tela, precisa dar ritmo à trama. Com 2 horas e 20 minutos, ele busca priorizar os diálogos às cenas de ação, conseguindo uma interação entre os heróis que abriria caminho para o nascimento da equipe dos Vingadores.
Quanto aos personagens e elenco, gostaria de tecer alguns comentários. Primeiramente, Mark Ruffalo se mostrou muito mais ator do que os intérpretes anteriores de Bruce Banner: Eric Bana e Edward Norton. Ele rouba todas as cenas em que aparece; isso é fato. Se eu fosse produtor da Marvel, já teria engatilhado um filme novo do Hulk com Ruffalo.
Talvez a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro não consigam sustentar um filme solo sozinhos, mas como uma dupla, podem funcionar muito bem. As cenas e a subtrama que envolve ambos num episódio anterior dá pano para a manga e, segundo boatos, a Marvel estaria pensando nesse projeto. Recentemente, vi no desenho animado dos Vingadores (que passa de manhã na Globo) e percebi que a dupla também atuava junto nos episódios. E Jeremy Renner também se destaca ao mostrar carisma e seriedade para o papel.
Segundo os desdobramentos do filme, a sequência pode acontecer no espaço sideral. Há indícios de que novos membros sejam incluídos na equipe como o Homem-Formiga e até uma posível participação do Homem-Aranha. Nesse sentido, o filme abre inúmeras portas para projetos mais ambiciosos. Já que rendeu, por que não investir mais?, pensaria qualquer produtor. Então, caro leitor do blog, prepare-se para uma enxurrada de adaptações de quadrinhos. Vão desenterrar até aquele personagem que morreu na segunda edição!
Mas voltando ao filme, apesar dos personagens, diálogos e atores serem o destaque, o aspecto que mais me chamou a atenção foi a mensagem sócio-política. Após os ataques terroristas do 11 de setembro, os Estados Unidos ainda estão se reerguendo desse golpe duro. E, como nenhuma nação, eles sabem usar o cinema como uma arte incentivadora. Foi assim após a derrota na Guerra do Vietnã nas décadas de 70 e 80: vários filmes trouxeram uma mensagem de apoio e alento aos soldados que lutaram uma guerra com objetivos claramente políticos e outros inúmeros criticaram ferozmente a perda de vidas.
Esta imagem acima ilustra perfeitamente essa analogia do filme com o ataque terrorista. Vemos uma Nova York em destroços coberta por fumaça. No meio, o herói que simboliza o patriotismo americano surge como resposta. No lugar dos seguidores do Al-Qaeda, temos alienígenas que não têm respeito pela vida. Do outro lado, um grupo formado por heróis vindos de várias partes do globo como a russa Natascha Romanova (Viúva Negra) unindo-se para enfrentar os invasores.
Obviamente, esta mensagem é explícita. E, concordando ou não, sempre considero ótimo um pouco de conteúdo político em filmes de grande orçamento, afinal, já passou o tempo em que blockbusters tinham que ser só 100% ação e efeitos visuais. Os Vingadores faz isso e ainda diverte todos os tipos de espectadores. Por isso, está batendo recordes de bilheteria merecidamente.
E como fã da Marvel, torço para que a editora-produtora seja ainda mais reconhecida por suas criações. Seus personagens têm uma conexão tão forte com a realidade que possiblita maior identificação com os leitores. E isso se encaixa perfeitamente em roteiros para cinema. Vida longa à Marvel Comics!