Rush: No Limite da Emoção (Rush), de Ron Howard (2013)

Rush: No Limite da Emoção

Rush: No Limite da Emoção

Eu sei. Quem vai querer assistir a um filme de ficção de Fórmula 1? E pra piorar, esse pôster e esse subtítulo não ajudam em absolutamente nada na motivação do público! Desde que o nosso piloto campeão Ayrton Senna se foi em 1994, o esporte nunca mais foi o mesmo. Hoje quando ligamos a TV no domingo, aquela mesmice de pilotos (pra não dizer que Sebastian Vettel ganha sempre), táticas costumeiras de pit stop, poderosos politicamente corretos decidindo qual dos pilotos deve ganhar, e o Galvão Bueno tentando animar a corrida sem sucesso torna tudo mais monótono. Felizmente, a verdade é que no novo filme de Ron Howard, o esporte serve como meio para a rivalidade de anos entre os dois personagens James Hunt e Niki Lauda.

Particularmente, não faria tanta questão de assistir ao filme no cinema se não houvesse um burburinho de Oscar. Como postado anteriormente (confira link da previsão do Oscar 2014: https://cinemaoscareafins.wordpress.com/2013/08/22/oscar-2014-primeirissima-previsao/), Rush: No Limite da Emoção tem chances nas categorias de Ator Coadjuvante (para Daniel Brühl), Roteiro Original e Efeitos Sonoros. Claro que o fato de ter sido dirigido pelo vencedor do Oscar, Ron Howard, pode colaborar para mais algumas indicações, e a bilheteria pode ter forte influência. Em sua primeira semana nos EUA, o filme arrecadou razoáveis 10 milhões de dólares, estreando em 3º lugar.

Como explorado no filme, a rivalidade entre Hunt e Lauda tem início na Fórmula 3, uma categoria mais carente tecnicamente do automobilismo. Lá, a competitividade germina através de uma tática arriscada de Hunt que culminou na batida e consequente saída de Lauda da corrida. Ao tirar satisfação, o austríaco Lauda acaba provocando uma discussão que expõe diferenças de estilo de vida. Enquanto Lauda se mostra um exímio conhecedor mecânico, dedicado a ponto de renunciar aos prazeres da vida, o outro é o típico playboy agraciado com beleza e carisma.

Aliás, o casting do filme é algo a ser celebrado. O ator Chris Hemsworth (o semi-deus Thor) e a jovem revelação alemã Daniel Brühl, que ficou conhecido por Adeus, Lenin! e Bastardos Inglórios, são praticamente cópias de seus personagens James Hunt e Niki Lauda, respectivamente. Claro que Brühl precisou de uma ajudinha da maquiagem para torná-lo mais parecido com um “rato austríaco”.

À esquerda, o austríaco Nikki Lauda ao lado do americano James Hunt

À esquerda, o austríaco Nikki Lauda ao lado do britânico James Hunt…

... e à esquerda Chris Hemsworth ao lado de Daniel Bruhl

… e à esquerda Chris Hemsworth ao lado de Daniel Brühl. Nota alguma semelhança?

O longa de Ron Howard busca focar mais essa rivalidade em 1976, fatídico ano em que Niki sofreu um acidente trágico que o colocou no hospital com queimaduras que desfiguraram seu rosto. Durante sua ausência, Hunt se aproximava da liderança e tudo caminhava para uma conquista fácil do campeonato, até que Lauda retornou às pistas motivado pela própria rivalidade que fervia entre ambos e reaquecer as corridas finais.

Por se tratar de um filme baseado em fatos históricos reais, a riqueza de detalhes na reconstrução de época através da direção de arte e figurino impressionam. Além disso, Ron Howard copia milimetricamente o acidente de Lauda (é possível atestar a verossimilhança nos créditos finais, quando o acidente real é exibido). Também vale mencionar o ótimo trabalho de maquiagem de Mark Coulier (vencedor do Oscar por A Dama de Ferro em 2012), que usou uma aplicação dentária e prostéticos para recriar as queimaduras de Niki Lauda.

Maquiagem de Mark Coulier se mostra coerente com a reconstrução da época (photo by tobyhusseyreporting.wordpress.com)

Maquiagem de Mark Coulier se mostra coerente com a reconstrução da época (photo by tobyhusseyreporting.wordpress.com)

Em entrevista, Daniel Brühl confessou que sentia inveja de Chris Hemsworth, assim como seu personagem, já que ele precisava se apresentar às 3h da manhã no set de filmagem por causa da maquiagem. “Eu ficava louco porque eu tinha que me sentar por seis a sete horas. Às vezes eu olhava pro cronograma e eu me lembro que um dia estava dizendo que Chsris Hemsworth tinha que se apresentar às 10h. Primeira cena era beijar uma enfermeira. Segunda cena era fazer sexo no avião. Minha cena era trocar de pneus!”, desabafa Daniel.

Daniel também revelou que ficou bem relaxado durante o teste para o papel, porque não acreditava que conseguiria. “Eles foram bastante ousados em oferecer este papel para um ator alemão. Felizmente, Ron Howard e eu tivemos uma conexão instantânea. Nós conversávamos tanto que não tive que atuar.” Ele também passou algum tempo na Áustria para aprender o sotaque, mas acima de tudo, soube dar humanidade a um personagem que facilmente poderia se tornar um antagonista bidimensional. Se bem lembrado pela crítica, Daniel Brühl deve conquistar sua primeira indicação ao Oscar.

Daniel Bruhl conversa com o diretor Ron Howard (photo by www.beyondhollywood.com)

Daniel Brühl conversa com o diretor Ron Howard (photo by http://www.beyondhollywood.com)

Em nova parceria com Ron Howard, depois de Frost/Nixon, o roteirista Peter Morgan tem se tornado especialista em pesquisar fatos históricos e transformá-los em grandes roteiros repletos de dramaticidade (foi assim também em O Último Rei da Escócia e A Rainha). Aqui, ele faz um levantamento da rivalidade dos pilotos e traz à tona sua profunda pesquisa de detalhes pessoais para enriquecer os personagens. Porém, talvez seu grande mérito seja criar humor nessa relação de amor e ódio para tornar o filme mais leve.

É importante ressaltar o foco do diretor e do roteirista na questão do tamanho da influência que a paixão pelas corridas e a obsessão pela rivalidade afetam a vida pessoal dos personagens. Estariam dispostos a abrir mão de necessidades básicas para atingir seus objetivos? Esse deterioramento dos personagens me lembra um pouco a obsessão doentia de caçar um serial killer no filme Zodíaco, de David Fincher.

Rush: No Limite da Emoção está longe da qualidade de Grand Prix (1966), talvez o melhor filme de Fórmula 1 da história, mas tem suas virtudes e empolga o público, que embarca graças aos personagens centrais. Como ressaltou a crítica de Inácio Araújo, da Folha de S. Paulo, apesar do filme se tratar do esporte, a melhor sequência se dá quando vemos Niki Lauda pedindo carona à sua futura esposa, expondo todos os temas numa só tacada.

A melhor sequência do filme (photo by www.OutNow.CH)

A melhor sequência do filme (photo by http://www.OutNow.CH)

CHANCES NO OSCAR: Indicações para Ator Coadjuvante (Daniel Brühl), Maquiagem e Efeitos Sonoros. Visão otimista: Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e Montagem.

AVALIAÇÃO: BOM

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