
Cartaz oficial da 72a edição de Cannes com Agnès Varda na filmagem de seu primeiro longa
THIERRY FREMAUX, PRESIDENTE DO FESTIVAL, OUVIU OS PROTESTOS DE 2018
No ano passado, 82 mulheres, entre elas as atrizes Marion Cotillard, Salma Hayek, Kristen Stewart e Cate Blanchett, caminharam juntas pelo tapete vermelho para protestar contra a baixa representação feminina no evento. “As mulheres não são uma minoria neste mundo, apesar da nossa indústria dizer o contrário. Como mulheres, todas nós encaramos nossos próprios desafios, mas nós nos juntamos aqui nestes degraus como um símbolo de nossa determinação e comprometimento com o progresso”, leram Blanchett e Agnès Varda.
Embora não seja adepto de qualquer cota, os números femininos em Cannes realmente são irrisórios. Em 71 anos de história, foram apenas 82 filmes selecionados para a competição oficial, enquanto masculinos ultrapassam os 1.600. Vale lembrar também que apenas UMA mulher levou a Palma de Ouro, quando Jane Campion conquistou em 1993 com O Piano. Apesar da cadeira de direção ter sido altamente predominada por homens ao longo das décadas, o número de mulheres aumentou consideravelmente desde os anos 90 para cá.
Enfim, o presidente do Festival de Cannes acompanhou o descontentamento feminino e elegeu 4 diretoras para competir pela Palma de Ouro (os filmes estão assinalados com emojis na lista abaixo). Esse número, que representa 21% das 19 produções que estão concorrendo, é o melhor desde 2011. E do total do evento, são 13 diretoras convidadas que representam 12 filmes (um deles é co-dirigido por duas diretoras).
O número feminino pode aumentar caso haja mais mulheres numa pós-seleção que sempre ocorre antes da abertura do festival. Contudo, o filme mais aguardado desta segunda leva talvez seja o novo filme de Quentin Tarantino, Era uma vez em Hollywood, que está em fase final de montagem. Considerando que a carreira de Tarantino deslanchou por causa da Palma de Ouro por Pulp Fiction, ele deve fazer de tudo para conseguir entregar seu novo filme a tempo.
BRASIL DE VOLTA À COMPETIÇÃO OFICIAL
A última vez que o cinema nacional esteve entre os indicados à Palma de Ouro foi há 3 anos, justamente pelo filme anterior de Kléber Mendonça Filho, Aquarius, estrelado por Sônia Braga. Seu novo trabalho , co-dirigido por Juliano Dornelles, Bacurau, ou Nighthawk (título internacional), se passaria no Nordeste onde uma comunidade rural teria desaparecido com a morte de uma nonagenária.

Cena de Bacurau, de Kléber Mendonça Filho (pic by Gazeta Online)
Se antes a equipe do filme protestou contra o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef no tapete vermelho (o que acarretou na desclassificação injusta do filme na seleção para o Oscar), imagino que neste ano deva sobrar para Jair Bolsonaro.
Já pela mostra Un Certain Regard, o cineasta Karim Aïnouz volta com A Vida Invisível de Eurídice Gusmão (Invisible Life). O diretor cearense escalou a dama do teatro, Fernanda Montenegro, para viver Eurídice, que lutou contra o machismo dos anos 50 no Rio de Janeiro.

Cena de A Vida Invisível de Eurídice Gusmão
E A NETFLIX, CANNES?
Este ano é o segundo consecutivo que a plataforma de streaming foi banida da competição oficial por causa dos interesses das redes de cinema na França. Apesar do sucesso de Roma, de Alfonso Cuarón, que deveria ter passado em Cannes, o presidente Fremaux ainda resiste às mudanças.
Essa postura conservadora terá consequências desastrosas nos próximos anos, já que muitos lançamentos de streaming migrarão automaticamente para outros festivais como Veneza. The Irishman, próximo filme de Martin Scorsese, que reunirá Robert De Niro e Al Pacino, lançamento de peso da Netflix em 2019, deverá estrear em Veneza, pegando carona para a temporada de premiações em setembro.
DA SELEÇÃO OFICIAL
Cannes continua sendo aquela panelinha de sempre, seja do ponto de vista positivo ou negativo. A seleção deles se apóia na credibilidade dos cineastas, tanto que temos os irmãos Dardenne, Ken Loach, Terrence Malick e até o novo de Pedro Almodóvar, que já estreou comercialmente na Espanha. Curiosamente, foi o mesmo Almodóvar que expurgou a Netflix há 3 anos, defendendo Cannes quando fora presidente do júri. Coincidência ou troca de amenidades?
Claro que a maioria dos filmes deve ser de boa qualidade, mas chega uma hora que não dá pra depender apenas dos renomados.

Nos bastidores de Dolor y Gloria, Antonio Banderas claramente interpreta o alter ego de Almodóvar (pic by fotogramas.es)
Lembrando que o presidente do júri deste ano é o mexicano vencedor de 2 Oscars, Alejandro González Iñárritu, fato que pode beneficiar produções de língua latina.
INDICADOS À PALMA DE OURO 2019:
THE DEAD DON’T DIE. Dir: Jim Jarmusch (Filme de Abertura)
ATLANTIQUE. Dir: Mati Diop 🙋🏻♀️
BACURAU. Dir: Kleber Mendonça Filho & Juliano Dornelles
FRANKIE. Dir: Ira Sachs
A HIDDEN LIFE. Dir: Terrence Malick
IT MUST BE HEAVEN. Dir: Elia Suleiman
LES MISÉRABLES. Dir: Ladj Ly
LITTLE JOE. Dir: Jessica Hausner 🙋🏻♀️
MATTHIAS AND MAXIME. Dir: Xavier Dolan
OH MERCY! Dir: Arnaud Desplechin
PAIN & GLORY. Dir: Pedro Almodóvar
PARASITE. Dir: Bong Joon Ho
PORTRAIT OF A LADY ON FIRE. Dir: Céline Sciamma 🙋🏻♀️
SIBYL. Dir: Justine Triet 🙋🏻♀️
SORRY WE MISSED YOU. Dir: Ken Loach
THE TRAITOR. Dir: Marco Bellocchio
THE WHISTLERS. Dir: Corneliu Porumboiu
THE WILD GOOSE LAKE. Dir: Diao Yi’nan
THE YOUNG AHMED. Dir: Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne
COMPETIÇÃO UN CERTAIN REGARD
Adam. Dir: Maryam Touzani
Beanpole. Dir: Kantemir Balagov
A Brother’s Love. Dir: Monia Chokri
Bull. Dir: Annie Silverstein
The Climb. Dir: Michael Covino
Evge. Dir: Nariman Aliev
Freedom. Dir: Albert Serra
Vida Invisível. Dir: Karim Aïnouz
Joan of Arc. Dir: Bruno Dumont
Chambre 212. Dir: Christophe Honoré
Papicha. Dir: Mounia Meddour
Port Authority. Dir: Danielle Lessovitz
Summer of Changsha. Dir: Zu Feng
The Swallows of Kabul. Dir: Zabou Breitman & Eléa Gobé Mévellec
A Sun That Never Sets. Dir: Olivier Laxe
Zhuo Ren Mi Mi. Dir: Midi Z
FORA DE COMPETIÇÃO
The Best Years of a Life. Dir: Claude Lelouch
Diego Maradona. Dir: Asif Kapadia
La Belle Époque. Dir: Nicolas Bedos
Rocketman. Dir: Dexter Fletcher
Too Old to Die Young – North of Hollywood, West of Hell. Dir: Nicolas Winding Refn
MIDNIGHT SCREENINGS
The Gangster, the Cop, the Devil. Dir: Lee Won-Tae
SPECIAL SCREENINGS
Family Romance, LLC. Dir: Werner Herzog
For Sama. Dir: Waad Al Kateab, Edward Watts
Que Sea Ley. Dir: Juan Solanas
Share. Dir: Pippa Bianco
To Be Alive and Know It. Dir: Alain Cavalier
Tommaso. Dir: Abel Ferrara
***
O 72o Festival de Cannes começa no dia 14 de Maio e termina no dia 25.