FILMES SELECIONADOS EM FESTIVAIS INTERNACIONAIS SÃO FAVORITOS. BRASIL TEM CHANCES REMOTAS COM DESERTO PARTICULAR
Embora o prazo de inscrição tenha terminado no último dia 1º de Novembro, alguns países não confirmaram seus filmes representantes como a Costa do Marfim e Guatemala. Outros países ausentes como Sudão não devem ter representantes para a próxima edição. Por enquanto, são 93 produções para disputar 5 vagas da categoria.
É preciso destacar a escolha da Espanha, que optou pela comédia The Good Boss, de Fernando León de Aranoa, no lugar do favorito Madres Paralelas, de Pedro Almodóvar, que recentemente venceu o Volpi Cup de Melhor Atriz para Penélope Cruz no Festival de Veneza. Ainda não vimos o filme de Aranoa (estrelado por Javier Bardem), mas nos parece uma escolha equivocada. Curiosamente, o mesmo aconteceu em 2002: Segunda-Feira ao Sol, do mesmo Aranoa, estrelado por Bardem, foi escolhido pela Espanha, mas foi Fale com Ela, de Pedro Almodóvar, que conquistou um Oscar de Roteiro Original e uma indicação a Melhor Direção para Almodóvar. Essa troca pode voltar a acontecer nesta temporada, e Penélope Cruz tem ótimas chances de receber nova indicação como Melhor Atriz.
E mais um pequeno parêntese: três países inscreveram o mesmo filme do ano anterior alegando que a exibição no país não foi possível devido à pandemia. Heliópolis foi novamente selecionado pelo comitê da Argélia. O filme de Djafar Gracem retrata um massacre ocorrido numa pequena cidade argelina no final da Segunda Guerra Mundial. O país africano já foi indicado 5 vezes na categoria (sendo 3 filmes dirigidos por Rachid Bouchareb) e levou um Oscar em 1970 com o formidável Z, de Costa-Gavras. Butão novamente inscreveu Lunana: A Yak in the Classroom, e Chade, Lingui. Ambos os países buscam a primeira indicação ao Oscar.
CALENDÁRIO DO OSCAR 2022
Para inscrição ser aprovada, o filme selecionado deve ter estreado no país de origem entre os dias 1º de Janeiro de 2021 e 31 de Dezembro de 2021, respeitando o prazo de inscrição no site da Academia até o dia 1º de Novembro.
Assim como na última edição, a pré-lista contará com 15 filmes votados por membros da Academia, que têm acesso aos filmes através da plataforma de streaming exclusiva. Essa lista será divulgada no dia 21 de Dezembro, enquanto os 5 finalistas apenas no dia 08 de Fevereiro de 2022, dia do anúncio dos indicados. Até antes da pandemia, a pré-lista era composta por 6 filmes selecionados por membros da Academia que viram os filmes, e 3 filmes selecionados por um comitê especial que garantia que filmes bem reconhecidos, elogiados e premiados na temporada fizessem parte da seleção final. Resta sabermos se esse sistema retornará após o término da pandemia.
COMO ESTÁ A DISPUTA ATÉ O MOMENTO?
É difícil a gente falar sobre filmes que não vimos, apenas dar impressões com base em críticas internacionais, passagens em festivais e histórico de diretores em relação ao Oscar. Nos últimos anos, filmes selecionados e premiados em Cannes, Berlim e Veneza têm garantido um certo favoritismo. Se pegarmos os últimos 5 vencedores do Oscar dessa categoria, temos: três filmes com passagem em Cannes: Druk, Parasita e O Apartamento (tendo Parasita levando a Palma de Ouro), um vencedor do Leão de Ouro em Veneza (Roma) e o vencedor de Melhor Roteiro em Berlim (Uma Mulher Fantástica).
Seguindo essa lógica, temos alguns favoritos:
TITANE (França)
Dir: Julia Ducournau
O segundo longa de Ducournau foi uma sensação no último Festival de Cannes, levando a Palma de Ouro do júri presidido por Spike Lee. A cineasta se tornou apenas a segunda mulher a ganhar a Palma de Ouro na história, que tinha apenas Jane Campion por O Piano. Na trama, acompanhamos um pai em busca de seu filho que sumira há 10 anos, mas o grande destaque é a questão transgênero e do body horror, consagrada por David Cronenberg. Se fosse alguns anos atrás, esse tipo de filme jamais teria lugar no Oscar, mas com os esforços de repaginação da Academia, Titane tem boas chances de figurar entre os cinco indicados. O filme foi exibido recentemente no Brasil pela Mostra de São Paulo, mas tem estreia prevista para Janeiro na plataforma da MUBI.
A HERO (Irã)
Dir: Asghar Farhadi
Vencedor do Grande Prêmio do Júri (espécie de 2º lugar) em Cannes, este novo trabalho do diretor Asghar Farhadi automaticamente se tornou um favorito após uma repercussão bastante positiva na crítica internacional. Já houve especulações de que sua distribuidora nos EUA, Amazon Studios, tentará também indicações em outras categorias como Filme, Direção e Roteiro Original. Na história, Rahim está preso por causa de uma dívida. Durante uma condicional de dois dias, tenta convencer seu credor a retirar a queixa se pagar parte do que deve, mas seu plano não dá muito certo. Farhadi já tem dois Oscars de Melhor Filme em Língua Estrangeira por A Separação (2011) e O Apartamento (2016).
DRIVE MY CAR (Japão)
Dir: Ryusuke Hamaguchi
Segundo a crítica internacional, esta adaptação de conto de Haruki Murakami foi um dos melhores filmes presentes na seleção oficial de Cannes. Embora tenha levado o prêmio de Roteiro, muitos acreditavam que o filme japonês merecia a Palma de Ouro. Na trama, um diretor teatral que perdeu sua esposa dramaturga está de luto há dois anos, mas aceita dirigir uma peça em Hiroshima. No caminho, ele vai conhecendo melhor sua motorista e seu passado. Hamaguchi se mostrou um ótimo diretor no recente Asako I & II, lançado em 2018, e essa possível indicação ao Oscar deve alavancar ainda mais sua curta carreira.
COMPARTMENT No. 6 (Finlândia)
Dir: Juho Kuosmanen
Também presente no Festival de Cannes, de onde saiu com o Grande Prêmio do Júri (dividido com A Hero), este filme finalndês nos apresenta uma viagem de trem rumo ao Ártico, na qual dois estranhos compartilham uma jornada que mudará suas perspectivas de vida. Recentemente, foi indicado a Melhor Filme, Ator e Atriz no European Film Awards e isso deve impulsionar a campanha rumo à pré-lista.
THE WORST PERSON IN THE WORLD (Noruega)
Dir: Joachim Trier
Indicado à Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Atriz para Renate Reinsve no Festival de Cannes, este filme norueguês apresenta uma protagonista feminina que se reavalia em busca de respostas pessoais e profissionais após um longo relacionamento de 4 anos com seu ex. A direção de Joachim Trier parece proporcionar uma boa dose de lirismo e romantismo, dando um frescor ao gênero. Com a NEON na distribuição, as chances do filme certamente aumentam.
THE HAND OF GOD (Itália)
Dir: Paolo Sorrentino
Vencedor do Oscar em 2014 pelo poético A Grande Beleza, o diretor Paolo Sorrentino pode retornar ao Oscar com este filme mais pessoal, já que faz um retrato dos anos 80 inspirado em sua própria juventude em Nápoles e sua paixão por futebol (especialmente Diego Maradona) e cinema. Vencedor do Grande Prêmio do Júri no último Festival de Veneza, The Hand of God pode ser a primeira indicação da Itália desde o próprio A Grande Beleza.
OUTROS DESTAQUES
MEMORIA (Colômbia)
Dir: Apichatpong Weerasethakul
Quando foi selecionado para o Festival de Cannes, este novo trabalho do diretor tailandês logo criou expectativas, ainda mais por contar com a versátil Tilda Swinton no elenco. Vencedor da Palma de Ouro em 2010 por Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, Weerasethakul nos apresenta uma história sobre uma mulher escocesa que passa a ouvir sons estranhos durante uma viagem à Colômbia. Não parece ser um material que a Academia vá amar ou elogiar, mas o filme conta com a sabedoria da distribuidora NEON (que foi responsável pela campanha avassaladora de Parasita) e, claro, com a fama de Swinton.
FLEE (Dinamarca)
Dir: Jonas Poher Rasmussen
Esta animação/documentário já vem chamando a atenção desde que foi premiada no Festival de Sundance, ganhando o Grande Prêmio do Júri de Documentário. Acompanhamos a história real de um homem chamado Amin, que à beira de seu casamento com o namorado na Dinamarca, precisa revelar seu passado oculto no Afeganistão pela primeira vez. Misturando imagens de arquivo com animação, Flee narra uma história de sobrevivência que certamente dialogará com as tristes imagens que presenciamos no Afeganistão este ano. Embora tenha chances em Filme Internacional, deve garantir uma indicação em Longa de Animação, que costuma abraçar trabalhos alternativos, criativos e em língua estrangeira.
A METAMORFOSE DOS PÁSSAROS (Portugal)
Dir: Catarina Vasconcelos
Embora já tenha inscrito diretores consagrados como o saudoso Manoel de Oliveira e o jovem Miguel Gomes, Portugal não recebeu uma indicação sequer desde que começou a selecionar representantes em 1980. Por se tratar de um documentário, A Metamorfose dos Pássaros pode concorrer também na categoria de Melhor Documentário, assim como fez a Romênia este ano com Collective. Com passagem no Festival de Berlim de 2020, levou um prêmio técnico da FIPRESCI e pode surpreender nesta temporada.
LEAVE NO TRACES (Polônia)
Dir: Jan P. Matuszynski
Em 1983, na Polônia comunista, o estudante Grzegorz Przemyk foi espancado até a morte pela polícia, o que torna a única testemunha ocular inimigo do Estado. Filmes poloneses costumam frequentar esta categoria, mas em sua grande maioria, pelas temáticas relacionadas ao Holocausto ou cultura judaica. Baseado num caso verídico, este segundo longa do Matuszynski estava entre os indicados ao Leão de Ouro no último Festival de Veneza.
MÁ SORTE NO SEXO OU PORNÔ AMADOR (Romênia)
Dir: Radu Jude
No último Festival de Berlim, o novo filme de Radu Jude conquistou o Urso de Ouro. Além desse feito, sua temática que explora a cultura de cancelamento vem chamando a atenção do público e da crítica, especialmente pela abordagem cômica do diretor. Na trama, a professora Emi tem sua reputação e carreira ameaçadas quando um vídeo de sexo seu vaza na internet, causando a ira dos pais dos alunos que desejam sua demissão.
E O BRASIL?
Como muitos já sabem, Deserto Particular foi selecionado pelo comitê da Academia Brasileira de Cinema. Embora não houvesse nenhum grande favorito como um Cidade de Deus ou O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, 7 Prisioneiros era considerada a melhor aposta do Brasil. Numa análise fria, alguns motivos facilmente defenderiam sua escolha: 1. NETFLIX: Sem uma boa distribuidora e uma boa campanha publicitária, nenhum filme ganha o Oscar. 7 Prisioneiros já contava com data de lançamento na plataforma de streaming mundial. 2. FERNANDO MEIRELLES e RAMIN BAHRANI: Dois cineastas indicados ao Oscar na produção (Meirelles por Cidade de Deus, e Bahrani por O Tigre Branco) certamente trariam maior visibilidade ao longa. 3. ALEXANDRE MORATTO: Embora pouco conhecido do grande público, Moratto já teve carreira internacional com seu filme anterior Sócrates (2018), que foi indicado ao Independent Spirit Awards. 4. VENEZA: 7 Prisioneiros teve uma boa passagem pelo festival italiano na mostra Orizzonti.
Pelas primeiras críticas que lemos, Deserto Particular se mostra um bom candidato também, principalmente por dialogar com essa polarização brasileira tão contemporânea. Contudo, sem uma boa distribuidora nos EUA que garanta visibilidade, as chances do filme de Aly Muritiba parecem remotas neste momento. O orçamento que o governo brasileiro disponibiliza para campanha publicitária é uma piada, portanto é preciso um milagre. Aproveitamos para criticar a Academia Brasileira de Cinema, que deveria antecipar essa seleção e exigir uma análise mais fria dos membros do comitê se realmente queremos que o Brasil retorne ao Oscar. Central do Brasil continua sendo o último filme nacional indicado na categoria em 1999, há longos 22 anos.
CONFIRA OS FILMES SELECIONADOS POR SEUS PAÍSES PARA DISPUTAR VAGA NO OSCAR 2022 (ATÉ O MOMENTO):
PAÍS | FILME | DIRETOR (A) (ES) |
África do Sul | Barakat | Amy Jephta |
Albânia | Two Lions Headig to Venice | Jonid Jorgji |
Alemanha | O Homem Ideal (I’m Your Man) | Maria Shrader |
Arábia Saudita | The Tambour of Retribution | Abdulaziz Alshlahei |
Argélia | Héliopolis | Djafar Gacem |
Argentina | The Intruder | Natalia Meta |
Armênia | Should the Wind Drop | Nora Martirosyan |
Austrália | O Uivo das Romãs (When Pomegranates Howl) | Granaz Moussavi |
Áustria | Great Freedom | Sebastian Meise |
Azerbaijão | The Island Within | Ru Hasanov |
Bangladesh | Rehana | Abdullah Mohammad Saad |
Bélgica | Playground | Laura Wandel |
Bolívia | The Great Movement | Kiro Russo |
Bósnia Herzegovina | The White Fortress | Igor Drljaca |
Brasil | Deserto Particular | Aly Muritiba |
Bulgária | Medo (Fear) | Milko Lazarov |
Butão | Lunana: A Yak in the Classroom | Pawo Choyning Dorji |
Camarões | Hidden Dreams | Ngang Romanus |
Camboja | White Building | Ivaylo Hristov |
Canadá | Drunken Birds | Ivan Grbovic |
Cazaquistão | Yellow Cat | Adilkhan Yerzhanov |
Chade | Lingui | Mahamat-Saleh Haroun |
Chile | White on White | Theo Court |
China | Cliff Walkers | Zhang Yimou |
Colômbia | Memória | Apichatpong Weerasethakul |
Coréia do Sul | Escape from Mogadishu | Ryoo Seung-wan |
Costa Rica | Clara Sola | Nathalie Álvarez Mesén |
Croácia | Tereza37 | Danilo Serbedzija |
Dinamarca | Fuga (Flee) | Jonas Poher Rasmussen |
Egito | Souad | Ayten Amin |
Equador | Sumergible | Alfredo León León |
Eslováquia | 107 Mothers | Peter Kerekes |
Eslovênia | Sanremo | Miroslav Mandic |
Espanha | The Good Boss | Fernando León Aranoa |
Estônia | On the Water | Peeter Simm |
Finlândia | Compartment No. 6 | Juho Kuosmanen |
França | Titane | Julia Ducournau |
Geórgia | Brighton 4th | Levan Koguashvili |
Grécia | Digger | Georgis Grigorakis |
Haiti | Freda | Gessica Généus |
Holanda | Do Not Hesitate | Shariff Korver |
Hong Kong | Retrato de um Campão (Zero to Hero) | Jimmy Wan |
Hungria | Post Mortem | Péter Bergendy |
Índia | Pedregulhos (Pebbles) | P.S. Vinothraj |
Indonésia | Yuni | Kamila Andini |
Irã | A Hero | Asghar Farhadi |
Iraque | Europa | Haider Rashid |
Irlanda | Foscadh | Seán Breathnach |
Islândia | Lamb | Valdimar Jóhannsson |
Israel | Let There Be Morning | Eran Kolirin |
Itália | The Hand of God | Paolo Sorrentino |
Japão | Drive My Car | Ryusuke Hamaguchi |
Jordânia | Amira | Mohamed Diab |
Kosovo | Hive | Blerta Basholli |
Letônia | The Pit | Dace Puce |
Líbano | Costa Brava, Líbano | Mounia Akl |
Lituânia | The Jump | Giedre Zickyte |
Luxemburgo | Io Sto Bene | Donato Rotunno |
Macedônia do Norte | Sisterhood | Dina Duma |
Malásia | Hail, Driver! | Muzzamer Rahman |
Malawi | Fatsani: A Tale of Survival | Gift Sukez Sukali |
Malta | Entre Águas (Luzzu) | Alex Camilleri |
Marrocos | Casablanca Beats | Nabil Ayouch |
México | A Noite do Fogo (Prayers for the Stolen) | Tatiana Huezo |
Montenegro | After the Winter | Ivan Bakrac |
Noruega | The Worst Person in the World | Joachim Trier |
Palestina | The Stranger | Ameer Fakher Eldin |
Panamá | Plaza Catedral | Abner Benaim |
Paraguai | Apenas o Sol | Arami Ullón |
Peru | Powerful Chief | Henry Vallejo |
Polônia | Leave No Traces | Jan P. Matuszynski |
Portugal | A Metamorfose dos Pássaros | Catarina Vasconcelos |
Quênia | Mission to Rescue | Gilbert Lukalia |
Quirguistão | Shambala | Artykpai Suyundukov |
Reino Unido | Dying to Divorce | Chloe Fairweather |
República Dominicana | Holy Beasts | Laura Amelia Guzmán, Israel Cárdenas |
República Tcheca | Zátopek | David Ondricek |
Romênia | Má Sorte no Sexo ou Pornô Amador | Radu Jude |
Rússia | Unclenching the Fists | Kira Kovalenko |
Sérvia | Oasis | Ivan Ikic |
Singapura | Precious is the Night | Wayne Peng |
Somália | The Gravedigger’s Wife | Khadar Ayderus Ahmed |
Suécia | Tigers | Ronnie Sandahl |
Suíça | Olga | Elie Grappe |
Tailândia | The Medium | Banjong Pisanthanakun |
Taiwan | The Falls | Mong-Hong Chung |
Tunísia | Golden Butterfly | Abdelhamid Bouchnak |
Turquia | Commitment Hasan | Semih Kaplanoglu |
Ucrânia | Bad Roads | Nataliia Vorozhbit |
Uruguai | The Broken Glass Theory | Diego Fernández |
Uzbequistão | 2000 Songs of Farida | Yalkin Tuychiev |
Venezuela | The Inner Glow | Luis Rodríguez, Andrés Rodríguez |
Vietnã | Dad, I’m Sorry | Trâ n Thành |
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