
CONHECIDA POR FILME ‘GRAVE’ (2016), CINEASTA FRANCESA CONQUISTA JÚRI PRESIDIDO POR SPIKE LEE
Adiada em 2 meses devido à pandemia, a 74ª edição do Festival de Cannes fez história ao premiar a segunda diretora feminina com a Palma de Ouro em toda sua história. A primeira e única vencedora até então havia sido a neozelandesa Jane Campion em 1993 por O Piano. Vale lembrar que o fato do júri ter sido composto por maioria feminina foi fundamental para esta histórica vitória também.
Em seu primeiro filme, Grave, uma estudante vegetariana de medicina veterinária passa por mudanças comportamentais após digerir um órgão de um coelho como trote de colegas. Já neste segundo longa, Julia mistura os gêneros comédia, drama, suspense e ficção científica numa história sobre uma mulher que passa a sentir atração sexual por carros após um acidente de infância. Apesar da trama lembrar o chocante Crash – Estranhos Prazeres (1996), de David Cronenberg, o filme dela ainda trata de troca de gêneros e um reencontro de um pai com seu filho após dez anos.
Na cerimônia de premiação, Spike Lee acabou anunciando o vencedor da Palma de Ouro antes de tudo, quebrando uma longa tradição. Mas sua gafe não afetou o bom andamento do evento, e ainda gerou uma energia incrivelmente imprevisível para saber quais filmes ainda seriam premiados e ouvir o discurso de agradecimento de Ducournau, que confessou que assistia à premiação todos os anos quando mais jovem: “Naquela época, eu tinha certeza que todos os filmes que eram premiados deveriam ser perfeitos. E hoje, eu estou nessa posição, mas sei que meu filme não é perfeito – mas acho que nenhum filme é perfeito aos olhos de quem o realizou”. Ela ainda agradeceu ao júri pela mente aberta, já que se trata de um filme sobre identidade de gênero também.
Com altas expectativas para uma possível segunda Palma de Ouro, o filme Memoria, do tailandês Apichatpong Weerasethakul acabou ficando apenas com o Prêmio do Júri (uma espécie de 3º lugar), empatado ainda com Ahed’s Knee, de Nadav Lapid. Outro empate ficou na categoria de Grande Prêmio do Júri (considerado o 2º lugar) entre A Hero, do iraniano Asghar Farhadi (que pode ganhar um 3º Oscar depois de A Separação e O Apartamento) e Compartment No. 6, do finalndês Juho Kuosmanen.
Nas categorias de atuação, o americano Caleb Landry Jones (conhecido por Três Anúncios Para um Crime, X-Men: Primeira Classe e Corra!) levou Melhor Interpretação Masculina ao viver o responsável por um massacre ocorrido em na Austrália em 1996 no filme Nitram, enquanto a norueguesa Renate Reinsve foi reconhecida por The Worst Person in the World, que vive uma jovem indecisa sobre seus interesses amorosos, carreira e família.
O controverso Leos Carax, que abriu o evento com Annette, acabou levando o prêmio de Direção. Esta é a terceira vez que o diretor foi indicada à Palma de Ouro, e este é o maior prêmio que já conquistou pelo festival. Havia uma expectativa de que seus protagonistas pudessem levar prêmios de intepretação, mas Adam Driver e Marion Cotillard tiveram que se contentar com o reconhecimento do diretor. Já na categoria de Roteiro, o japonês Ryûsuke Hamaguchi foi reconhecido por sua adaptação de um conto de Haruki Murakami em seu filme Drive My Car. Em 2018, ele disputou a Palma de Ouro pelo ótimo Asako I & II.
Dentre os filmes que não levaram prêmios, destaque para o novo e polêmico filme de Paul Verhoeven, Benedetta, sobre uma relação lésbica entre freiras de um convento, e Red Rocket, de Sean Baker. Embora tivessem recebido boas críticas, não parecem ter o perfil de filmes que agradariam Spike Lee.
Concorrendo com dois curtas-metragens, o Brasil ficou com o prêmio de Menção Honrosa por Céu de Agosto, de Jasmin Tenucci, sobre uma grávida que frequenta igreja e sofre com as queimadas de sua região.
Confira todos os vencedores desta 74ª edição de Cannes:
COMPETIÇÃO OFICIAL
Palma de Ouro: “Titane”
Grande Prêmio do Júri (EMPATE):: Asghar Farhadi, “A Hero” E Juho Kuosmanen’s “Compartment No. 6”
Direção: Leos Carax, “Annette”
Ator: Caleb Landry Jones, “Nitram”
Atriz: Renate Reinsve, “The Worst Person in the World”
Prêmio do Júri (EMPATE): Nadav Lapid “Ahed’s Knee” E Apichatpong Weerasethakul’s “Memoria”
Roteiro: Ryûsuke Hamaguchi, ”Drive My Car”
OUTROS PRÊMIOS
Camera d’Or: ”Murina,” Antoneta Alamat Kusijanović
Palma de Ouro Curta: “All the Crows in the World,” Tang Yi
Short Films Special Mention: “August Sky,” Jasmin Tenucci
Queer Palm: “The Divide”
UN CERTAIN REGARD
Un Certain Regard Award: “Unclenching the Fists,” Kira Kovalenko
Jury Prize: “Great Freedom,” Sebastian Meise
Prize for Ensemble Performance: “Bonne Mere,” Hafsia Herzi
Prize for Courage: “La Civil,” Teodora Ana Mihai
Prize for Originality: “Lamb,” Valdimar Johannsson
Special Mention: “Prayers for the Stolen,” Tatiana Huezo
DIRECTORS’ FORTNIGHT
Europa Cinemas Label: “A Chiara,” Jonas Carpignano
Society of Dramatic Authors and Composers Prize: “Magnetic Beats,” Vincent Maël Cardona
CRITICS’ WEEK
Nespresso Grand Prize: “Feathers,” Omar El Zohairy
Society of Dramatic Authors and Composers Prize: Elie Grappe and Raphaëlle Desplechin, “Olga”
GAN Foundation Award for Distribution: Elie Grappe and Raphaëlle Desplechin, “Zero Fucks Given”
Louis Roederer Foundation Rising Star Award: Sandra Melissa Torres, “Amparo”
CINÉFONDATION
First Prize: “The Salamander Child,” Theo Degen
Second Prize: “Salamander,” Yoon Daewoon
Third Prize — TIE: “Love Stories on the Move”, Carina-Gabriela Dasoveanu AND “Cantareira,” Rodrigo Ribeyro