
O vencedor do último Oscar de Filme em Língua Estrangeira, Lászlò Nemes, por seu drama O Filho de Saul (photo by washington.kormany.hu)
RECORDE NOS NÚMEROS EVIDENCIA CRESCIMENTO DE PRODUÇÕES INTERNACIONAIS EM BUSCA DE RECONHECIMENTO
Todos os países podem discordar das escolhas da Academia, mas é crescente o número de produções internacionais que se inscrevem na categoria de Filme em Língua Estrangeira. Este ano, temos o novo recorde de filmes: 85, superando o recorde anterior de 83 em 2014.
Particularmente, agrada-me essa elevação, pois proporciona a chance real de espectadores comuns conhecerem visões cinematográficas de outras nações menos famosas. Só pra exemplificar, nos últimos anos, a Academia indicou o filme da Mauritânia, Timbuktu, e da Camboja, A Imagem que Falta. Tudo bem que nenhum deles venceu, mas só o fato de estarem disputando o prêmio, já gera interesse por parte de cinéfilos do mundo todo, e cria uma referência daquele país. Este ano, o Iêmen inscreveu seu primeiro candidato: I Am Nojoom, Age 10 and Divorced, da diretora Khadija Al-Salami.
Claro que ainda tem países que nunca receberam uma indicação como a Coréia do Sul, e seu cinema intenso e violento (que costuma não ser popular entre os votantes mais idosos da Academia), mas acredito que seja mera questão de tempo com inserções de membros jovens e novos da Academia feitas pela presidente Cheryl Boone Isaacs no primeiro semestre.
E O BRASIL?
O filme selecionado pela comissão da Cultura este ano gerou uma grande polêmica de cunho político. Com o processo de impeachment questionado, a equipe do filme Aquarius, do diretor Kléber Mendonça Filho, fez um protesto em pleno tapete vermelho em Cannes, já que concorria à Palma de Ouro. Os cartazes de protesto levados diziam que “O Brasil está sob um golpe”.

Equipe do filme ‘Aquarius’ no tapete vermelho de Cannes. No centro, a atriz Sônia Braga e à direita, o diretor Kléber Mendonça Filho (photo by elpais.com)
Cada um tem o direito de protestar sobre o que bem entender, claro, mas depois da saída da ex-presidente Dilma Roussef, o governo de Michel Temer não deve ter gostado nada e teria sabotado a campanha do filme como representante do Brasil no Oscar.
Particularmente, acredito que ninguém está certo. Se o filme recebeu verba do governo brasileiro para ser feito, o protesto é de certa forma incoerente, uma vez que estaria “cuspindo no prato que comeu”. Mas de qualquer forma, defendo a liberdade de expressão, e aliás, acredito que os artistas devem se expressar através de suas obras, e não cartazes mal feitos. Sou só eu que vejo a personagem de Sônia Braga como a Dilma Rousseff sendo expulsa? Já o governo Temer, se realmente criou esse imbróglio, errou ao confundir à obra com a opinião política de seus realizadores. O que vai concorrer ao Oscar? O filme ou a posição política do diretor? Se fosse assim, Clint Eastwood jamais teria ganhado um Oscar sequer, já que apóia veemente o extremista candidato republicano Donald Trump.

Sônia Braga em cena de Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. (photo by abrilveja.com.br)
Enfim, o filme selecionado foi o drama Pequeno Segredo, de David Schurmann. O diretor deu uma entrevista defendendo a escolha de filme ao Oscar, pois teria os “ingredientes dramáticos que a Academia adora”. Realmente, o tema de adoção é internacional, mas obviamente, ele apenas tentou maquiar o escândalo de Aquarius preterido. Obviamente que o filme de Kléber Mendonça Filho teria mais chances de concorrer ao Oscar por sua projeção em Cannes, e ainda mais que conta com Sônia Braga, atriz de porte internacional, mas essa “briguinha” ridícula faz o cinema brasileiro perder essa boa oportunidade.

Cena com Julia Lemmertz (à direita) em Pequeno Segredo (photo by AdoroCinema)
CANDIDATOS
Como vocês sabem, essa lista de 85 filmes será reduzida a uma pré-seleção de nove produções em dezembro, para então se consolidarem aos 5 indicados em janeiro, mais precisamente no dia 24, quando haverá o anúncio ao vivo das indicações.
Apesar do crescimento de produções de países menos conhecidos, os autores de outros países largam na frente como é o caso do espanhol Pedro Almodóvar. Ele já faturou o prêmio em 2000 pelo poderoso Tudo Sobre Minha Mãe e ainda levou o Oscar de Roteiro Original em 2003 por Fale com Ela. Nesse quesito, o bósnio Danis Tanovic também leva vantagem por já ter vencido em 2002 com Terra de Ninguém, e o iraniano Asghar Farhadi, que levou o Oscar em 2012 com A Separação. Vale lembrar também que a Polônia apresentou o último filme de Andrzej Wajda, Afterimage, como representante. O filme retrata a luta de um artista polonês contra o Stalinismo e seus ideais. Wajda, que faleceu nesta última semana, recebeu o Oscar Honorário em 2000. Pode ser a última chance da Academia conceder um Oscar póstumo pra um dos maiores diretores europeus.
Outro termômetro para quem larga na frente são os festivais. Muitos países preferem lançar representantes que já participaram em grandes festivais internacionais como Cannes e até conquistaram prêmios para ter mais chances com a Academia. Exemplos dessa estratégia são o alemão Toni Erdmann (indicado à Palma de Ouro), o argentino The Distinguished Citizen (prêmio de Ator em Veneza), o canadense It’s Only the End of the World (Grande Prêmio do Júri em Cannes), o filipino Ma’Rosa (Prêmio de Atriz em Cannes), o documentário italiano Fire at Sea (Urso de Ouro em Berlim) e o venezuelano De Longe te Observo (o primeiro filme latino a vencer o Leão de Ouro em Veneza).
E minha torcida vai para o representante francês, Elle, por se tratar de um dos meus diretores favoritos Paul Verhoeven (diretor de RoboCop e Instinto Selvagem). E também pelo tema polêmico, já que a protagonista vivida pela Isabelle Huppert tem fantasias com seu estuprador. Admiro a ousadia francesa em lançar este filme para votantes conservadores da Academia analisarem. Adoraria ver filmes mais ousados na lista de indicações, pois estou farto de filmes de Segunda Guerra Mundial e o Holocausto.

Isabelle Huppert em cena de Elle, de Paul Verhoeven (photo by TelaTela)
Segue a lista dos 85 candidatos oficiais ao Oscar 2017 de Melhor Filme em Língua Estrangeira:
ALBÂNIA
Chromium
Dir: Bujar Alimani
ALEMANHA
Toni Erdmann
Dir: Maren Ade
ARÁBIA SAUDITA
Barakah Meets Barakah
Dir: Mahmoud Sabbagh
ARGÉLIA
The Well
Dir: Lotfi Bouchouchi
ARGENTINA
The Distinguished Citizen
Dir: Mariano Cohn, Gastón Duprat
AUSTRÁLIA
Tanna
Dir: Bentley Dean, Martin Butler
ÁUSTRIA
Stefan Zweig: Farewell to Europe
Dir: Maria Schrader
BANGLADESH
The Unnamed
Dir: Tauquir Ahmed
BÉLGICA
The Ardennes
Dir: Robin Pront
BOLÍVIA
Sealed Cargo
Dir: Julia Vargas Weise
BÓSNIA HERZEGOVINA
Death in Sarajevo
Dir: Danis Tanovic
BRASIL
Pequeno Segredo
Dir: David Schurmann
BULGÁRIA
Losers
Dir: Ivaylo Hristov
CAMBOJA
Before the Fall
Dir: Ian White
CANADÁ
It’s Only the End of the World
Dir: Xavier Dolan

Cena do filme canadense It’s Only the End of the World. O jovem cineasta Xavier Dolan não parece ser unanimidade entre os votantes da Academia, mas a presença de atrizes como Marion Cotillard e Léa Seydoux podem ajudar na campanha. (photo by critic.de)
CAZAQUISTÃO
Amanat
Dir: Satybaldy Narymbetov
CHILE
Neruda
Dir: Pablo Larraín

Cena do filme biográfico Neruda, sobre poeta chileno. A vantagem aqui é o diretor Pablo Larraín, que além de já ter sido indicado ao Oscar por No, tem o filme Jackie com Natalie Portman nas categorias principais (photo by cine.gr)
CHINA
Xuan Zang
Dir: Huo Jianqi
COLÔMBIA
Alias Maria
Dir: José Luis Rugeles
CORÉIA DO SUL
The Age of Shadows
Dir: Kim Jee-woon
COSTA RICA
About Us
Dir: Hernán Jiménez
CROÁCIA
On the Other Side
Dir: Zrinko Ogresta
CUBA
The Companion
Dir: Pavel Giroud
DINAMARCA
Land of Mine
Dir: Martin Zandvliet
EGITO
Clash
Dir: Mohamed Diab
EQUADOR
Such Is Life in the Tropics
Dir: Sebastián Cordero
ESLOVÁQUIA
Eva Nová
Dir: Marko Skop
ESLOVÊNIA
Houston, We Have a Problem!
Dir: Žiga Virc
ESPANHA
Julieta
Dir: Pedro Almodóvar
ESTÔNIA
Mother
Dir: Kadri Kõusaar
FILIPINAS
Ma’ Rosa
Dir: Brillante Ma Mendoza
FINLÂNDIA
The Happiest Day in the Life of Olli Mäki
Dir: Juho Kuosmanen
FRANÇA
Elle
Dir: Paul Verhoeven
GEORGIA
House of Others
Dir: Rusudan Glurjidze
GRÉCIA
Chevalier
Dir: Athina Rachel Tsangari
HOLANDA
Tonio
Dir: Paula van der Oest
HONG KONG
Port of Call
Dir: Philip Yung
HUNGRIA
Kills on Wheels
Dir: Attila Till
IÊMEN
I Am Nojoom, Age 10 and Divorced
Dir: Khadija Al-Salami
ISLÂNDIA
Sparrows
Dir: Rúnar Rúnarsson
ÍNDIA
Interrogation
Dir: Vetri Maaran
INDONÉSIA
Letters from Prague
Dir: Angga Dwimas Sasongko
IRÃ
The Salesman
Dir: Asghar Farhadi

Cena do iraniano The Salesman, que dialoga com a obra literária de Arthur Miller. Com o histórico de vitória no Oscar, Asghar Farhadi praticamente garante sua presença no Oscar 2017, na opinião deste humilde blogueiro. (photo by cine.gr)
IRAQUE
El Clásico
Dir: Halkawt Mustafa
ISRAEL
Sand Storm
Dir: Elite Zexer
ITÁLIA
Fire at Sea
Dir: Gianfranco Rosi
JAPÃO
Nagasaki: Memories of My Son
Dir: Yoji Yamada
JORDÂNIA
3000 Nights
Dir: Mai Masri
KOSOVO
Home Sweet Home
Dir: Faton Bajraktari
LETÔNIA
Dawn
Dir: Laila Pakalnina
LÍBANO
Very Big Shot
Dir: Mir-Jean Bou Chaaya
LITUÂNIA
Seneca’s Day
Dir: Kristijonas Vildziunas
LUXEMBURGO
Voices from Chernobyl
Dir: Pol Cruchten
MACEDÔNIA
The Liberation of Skopje
Dir: Rade Šerbedžija, Danilo Šerbedžija
MALÁSIA
Beautiful Pain
Dir: Tunku Mona Riza
MARROCOS
A Mile in My Shoes
Dir: Said Khallaf
MÉXICO
Desierto
Dir: Jonás Cuarón

Jeffrey Dean Morgan faz um cidadão americano que protege a fronteira americana contra os mexicanos por seus próprios termos. Além do tema polêmico, tem Jonás Cuarón, irmão de Alfonso, vencedor do Oscar por Gravidade. (photo by cine.gr)
MONTENEGRO
The Black Pin
Dir: Ivan Marinović
NEPAL
The Black Hen
Dir: Min Bahadur Bham
NORUEGA
The King’s Choice
Dir: Erik Poppe
NOVA ZELÂNDIA
A Flickering Truth
Dir: Pietra Brettkelly
PALESTINA
The Idol
Dir: Hany Abu-Assad
PANAMÁ
Salsipuedes
Dir: Ricardo Aguilar Navarro, Manolito Rodríguez
PAQUISTÃO
Mah-e-Mir
Dir: Anjum Shahzad
PERU
Videophilia (and Other Viral Syndromes)
Dir: Juan Daniel F. Molero
POLÔNIA
Afterimage
Dir: Andrzej Wajda
PORTUGAL
Letters from War
Dir: Ivo M. Ferreira
QUIRGUISTÃO
A Father’s Will
Dir: Bakyt Mukul, Dastan Zhapar Uulu
REINO UNIDO
Under the Shadow
Dir: Babak Anvari
REPÚBLICA DOMINICANA
Sugar Fields
Dir: Fernando Báez
REPÚBLICA TCHECA
Lost in Munich
Dir: Petr Zelenka
ROMÊNIA
Sieranevada
Dir: Cristi Puiu
RÚSSIA
Paradise
Dir: Andrei Konchalovsky
SÉRVIA
Diário de um Maquinista (Train Driver’s Diary)
Dir: Milos Radovic
SINGAPURA
Apprentice
Dir: Boo Junfeng
SUÉCIA
A Man Called Ove
Dir: Hannes Holm
SUÍÇA
My Life as a Zucchini
Dir: Claude Barras
TAILÂNDIA
Karma
Dir: Kanittha Kwunyoo
TAIWAN
Hang in There, Kids!
Dir: Laha Mebow
TURQUIA
Cold of Kalandar
Dir: Mustafa Kara
UCRÂNIA
Ukrainian Sheriffs
Dir: Roman Bondarchuk
URUGUAI
Breadcrumbs
Dir: Manane Rodríguez
VENEZUELA
De Longe te Observo (Desde Allah)
Dir: Lorenzo Vigas

Cena do filme venezuelano De Longe te Observo, de Lorenzo Vigas. Trata-se de um bom drama, mas a temática homossexual pode enfraquecer sua campanha (photo by cine.gr)
VIETNÃ
Yellow Flowers on the Green Grass
Dir: Victor Vu
A 89ª cerimônia do Oscar será no dia 26 de fevereiro.