FESTIVAL ITALIANO PROCURA REPETIR PRÉVIA DO OSCAR DAS ÚLTIMAS EDIÇÕES
Logo após o término de um prorrogado Festival de Cannes, o festival de cinema mais tradicional de todos acaba de divulgar seus filmes selecionados da sua 78ª edição. Para quem não se recorda, nos últimos quatro anos, Veneza premiou dois vencedores do Oscar de Melhor Filme: Nomadland e A Forma da Água, e dois fortes indicados: Coringa e Roma. Pelo calendário, Veneza divide as atenções com o Festival de Toronto, mas não há dúvidas que tem se tornado um ótimo chamariz para estúdios lançarem seus filmes e iniciarem a temporada de premiações.
Contudo, apesar de um boa seleção oficial, filmes altamente aguardados como Duna, de Denis Villeneuve, O Último Duelo, de Ridley Scott, e Last Night in Soho, de Edgar Wright, serão exibidos fora de competição. Teria sido alguma ordem dos estúdios, dos realizadores ou simplesmente não qualificaram para a disputa principal pelo Leão de Ouro?
Já dentre os filmes na competição oficial, Pedro Almodóvar abre o festival com Parallel Mothers, teremos também a neozelandesa Jane Campion com The Power of the Dog, Paul Schrader com uma história de vingança The Card Counter, Paolo Sorrentino com The Hand of God, Michael Franco (que venceu o Grande Prêmio do Júri no ano passado por New Order) com Sundown, o retorno do único venezuelano vencedor do Leão de Ouro Lorenzo Vigas com La Caja, a estreia na direção da atriz Maggie Gyllenhaal com The Lost Daughter, adaptação do romance de Elena Ferrante, e a iraniana-americana Ana Lily Amirpour, conhecida por Garota Sombria Caminha Pela Noite, com Mona Lisa and the Blood Moon.
Obviamente, há nomes de atores conhecidos nessas produções que podem levar o Volpi Cup de interpretação. Pelo filme de Gyllenhaal, temos “só” Olivia Colman, Ed Harris, Jessie Buckley e Peter Sarsgaard, enquanto pelo filme de Campion, Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst e Jesse Plemons. A disputa entre as atrizes também ganha os nomes de Penélope Cruz (que compete por Parallel Mothers, de Almodóvar, e Official Competition, da dupla Mariano Cohn e Gastón Duprat), e Kristen Stewart que viveu a Princesa Diana em Spencer, de Pablo Larraín.
Assim como em Cannes, haverá uma mostra paralela intitulada Horizontes Extra, que tem o intuito de acolher mais produções que sofreram com a pandemia e perderam espaço em festivais. Aliás, é nessa mostra que está o único representante do Brasil: 7 Prisioneiros, de Alexandre Moratto, filme sobre tráfico humano com Rodrigo Santoro e Christian Malheiros, que disputou o Independent Spirit Award de Melhor Ator por Sócrates em 2019.
Vale lembrar que este ano, Veneza concederá um Leão de Ouro Honorário pela carreira dos atores Jamie Lee Curtis, que estrela o novo Halloween Kills, que será exibido fora de competição, e Roberto Benigni, que recentemente foi Gepeto na nova adaptação de Pinóquio.
A 78ª edição do Festival de Veneza começa no dia 1º de Setembro e termina no dia 11. O júri será presidido pelo diretor de Parasita, Bong Joon Ho, que contará também com Chloé Zhao (atual vencedora do Oscar e Leão de Ouro por Nomadland), a atriz Virginie Efira (Benedetta), Cynthia Erivo (Harriet), atriz e produtora canadense Sarah Gadon (O Homem Duplicado), o diretor italiano Saverio Costanzo (Hungry Hearts) e documentarista romeno Alexander Nanau, recém-indicado ao Oscar por Collective.
Confira a seleção completa de Veneza:
COMPETIÇÃO
Parallel Mothers, Pedro Almodovar (Espanha) – FILME DE ABERTURA Mona Lisa and the Blood Moon, Ana Lily Amirpour (EUA) Un Autre Monde, Stephane Brizé (França) The Power of the Dog, Jane Campion (Nova Zelândia, Austrália) America Latina, Damiano D’Innocenzo, Fabio D’Innocenzo (Itália, França) L’Evenement, Audrey Diwan (França) Official Competition, Gaston Depart, Mariano Cohn (Espanha, Argentina) Il Buco, Michelangelo Frammartino (Itália, France, Alemanha) Sundown, Michel Franco (México, França, Suécia) Lost Illusions, Xavier Giannoli (França) The Lost Daughter, Maggie Gyllenhaal (Grécia, EUA, Reino Unido, Israel) Spencer, Pablo Larrain (Alemanha, Reino Unido) Freaks Out, Gabriele Mainetti (Itália, Bélgica) Qui Rido Io, Mario Martone (Itália, Espanha) On The Job: The Missing 8, Eric Matti (Filipinas) Leave No Traces, Jan P. Matuszyski (Polônia, França, República Tcheca) Captain Volkonogov Escaped, Yuriy Borisov (Rússia, Estônia, França) The Card Counter, Paul Schrader (EUA, Reino Unido, China) The Hand of God, Paolo Sorrentino (Itália) Reflection, Valentin Vasyanovych (Ucrânia) La Caja, Lorenzo Vigas (México, EUA)
FORA DE COMPETIÇÃO – Ficção
Il Bambino Nascosto, Roberto Andò (Itália) – FILME DE ENCERRAMENTO Les Choses Humaines, Yvan Attal (França) Ariaferma, Leonardo Di Costanzo (Itália, Suíça) Halloween Kills, David Gordon Green (EUA) La Scuola Cattolica, Stefano Mordini (Itália) Old Henry, Potsy Ponciroli (EUA) The Last Duel, Ridley Scott (EUA, Reino Unido) Dune, Denis Villeneuve (EUA, Hungria, Jordânia, Emirados Árabes, Noruega, Canadá) Last Night in Soho, Edgar Wright (Reino Unido)
FORA DE COMPETIÇÃO – Não-Ficção
Life of Crime 1984-2020, Jon Albert (EUA) Tranchées, Loup Bureau (França) Viaggio Nel Crepuscolo, Augusto Contento (França, Itália) Republic of Silence, Diana El Jeiroudi (Alemanha, França, Síria, Catar) Hallelujah: Leonard Cohen, A Journey, A Song, Daniel Geller, Dayna Goldfine (EUA) DeAndré#Deandré Storia di un Impiegato, Roberta Lena (Itália) Django & Django, Luca Rea (Itália) Ezio Bosso. Le Cose Che Restano, Giorgio Verdelli (Itália)
FORA DE COMPETIÇÃO – Série de TV
“Scenes From a Marriage” (episodes 1-5), Hagai Levi (EUA)
HORIZONTES
Les Promesses, Thomas Kruithof (França) – FILME DE ABERTURA Atlantide, Yuri Ancarani (Itália, França, EUA, Catar) Miracle Bogdan George Apetri (Romênia, República Tcheca, Letônia) Pilgrims, Laurynas Bareisa (Lituânia) The Peackock’s Paradise, Laura Bispuri (Itália, Alemanha) The Falls, Chung Mong-Hong (Taiwan) El Hoyo En La Cerca, Joachin Del Paso (México, Polônia) Amira, Mohamed Diab (Egito, Jordânia, Emirados Árabes, Arábia Saudita) A Plein Temps, Eric Gravel (França) 107 Mothers, Peter Kerkekes (Eslovênia, República Tcheca, Ucrânia) Vera Dreams of the Sea, Kaltrina Krasniqi (Albânia, Macedônia do Norte) White Building, Kavich Neang (Camboja, França, China, Catar) Anatomy of Time, Jakrawal Nilthamrong (Tailândia, França, Holanda, Singapura, Alemanha) El Otro Tom, Rodrigo Pla, Laura Santullo (México, EUA) El Gran Movimiento, Kiro Russo (Bolívia, França, Catar, Suíça) Once Upon a Time in Calcutta, Adita Vikram Sengupta (Índia, França, Noruega) Rhino, Oleg Sentsov (Ucrânia, Polônia, Alemanha) True Things, Harry Wootliff (Reino Unido) Inu-Oh, Yuasa Masaaki (Japão, China)
HORIZONTES EXTRA
Land of Dreams, Shirin Neshat, Shoja Azari (EUA, Alemanha, Catar) — FILME DE ABERTURA Costa Brava, Mounia Akl (Líbano, França, Espanha, Suécia, Dinamarca, Noruega, Catar) Mama, I’m Home, Vladimir Bitokov (Rússia) Ma Nuit, Antoinette Boulot (França, Bélgica) La Ragazza Ha Volato, Wilma Labate (Itália, Eslovênia) 7 Prisoners, Alexandre Moratto (Brasil) The Blind Man Who Did Not Want to See Titanic, Teemu Nikki (Finlândia) La Macchina Delle Immagini di Alfredo C, Roland Sejko (Itália)
RECONSTITUIÇÕES DE ÉPOCA AINDA SÃO OS MAIS FORTES, MAS CONTEMPORÂNEOS PODEM SURPREENDER
Logo de cara, é possível perceber que o sindicato de Diretores de Arte (ADG) resolveu fazer uma mudança pontual. Para acolher melhor a boa safra de 2019, elevou seu número de indicados por categoria de cinco para seis, o que possibilitou o reconhecimento de trabalhos louváveis como Ford vs Ferrari, que já valeria pelos seus carros de época.
O curioso que, mesmo com essa abrangência maior, o design de produção da nova versão de Adoráveis Mulheres ficou de fora. Normalmente, quando vemos filmes de época como Orgulho e Preconceito, A Favorita ou A Garota Dinamarquesa automaticamente os incluímos na disputa como fortes candidatos, já que a Academia tem uma devoção por reconstruções de séculos passados.
E para o azar do filme de Greta Gerwig, o histórico recente do sindicato em relação ao Oscar é 100%. Pelo menos um dos vencedores das três categorias acabou levando o Oscar de Direção de Arte. Claro que pode haver uma reviravolta, ainda mais porque Adoráveis Mulheres teve um lançamento meio tardio na temporada, o que pode explicar sua ausência, e vale ressaltar que Jess Gonchor, responsável pelo design de produção, já foi indicado ao Oscar duas vezes por Ave, César! e Bravura Indômita.
Apesar da força das reconstituições de época na categoria do Oscar, trabalhos contemporâneos vistos em Entre Segredos e Facas, Nós e John Wick 3 são dignos de nota. Contudo, o candidato com mais chances é o sul-coreano Parasita. Aquela mansão da família Park não apenas serve para abrigar os personagens, mas é também uma personagem importante na trama. Também vale parabenizar o trabalho na casa da família Kim, localizada na área mais pobre da cidade. É possível notar que não são apenas sujeiras colocadas cuidadosamente, mas parece que realmente vive uma família com baixo poder aquisitivo naquele local.
ANO
ÉPOCA
FANTASIA/SCI-FI
CONTEMP
OSCAR
2018
A Favorita
Pantera Negra
Podres de Ricos
Pantera Negra
2017
A Forma da Água
Blade Runner 2049
Logan
A Forma da Água
2016
Estrelas Além do Tempo
Passageiros
La La Land
La La Land
2015
O Regresso
Mad Max: Estrada da Fúria
Perdido em Marte
Mad Max: Estrada da Fúria
2014
O Grande Hotel Budapeste
Guardiões da Galáxia
Birdman
O Grande Hotel Budapeste
Pelas categorias televisivas, destaque para a série novíssima da Disney Plus, The Mandalorian, que seria um spin-off do universo Star Wars, e que está causando um bafafá enorme nas redes sociais por causa da versão baby de Yoda.
E, como era de se esperar, a última temporada de Game of Thrones foi reconhecida pelos altos custos de produção. Outras séries que obtiveram êxito foram The Handmaid’s Tale, Chernobyl, The Crown e The Marvelous Mrs. Maisel.
Confira todos os indicados nas seções de cinema e TV. Assinalamos em vermelho nossas apostas para indicação ao Oscar de Direção de Arte:
CINEMA
FILME DE ÉPOCA
François Audouy (Ford vs Ferrari)
Bob Shaw (O Irlandês)
Ra Vincent (Jojo Rabbit)
Mark Friedberg (Coringa)
Dennis Gassner (1917)
Barbara Ling (Era uma Vez em… Hollywood)
FILME DE FANTASIA
Kevin Thompson (Ad Astra)
Gemma Jackson (Aladdin)
Charles Wood (Vingadores: Ultimato)
Rick Heinrichs (Dumbo)
Patrick Tatopoulos (Malévola: Dona do Mal)
Rick Carter, Kevin Jenkins (Star Wars: A Ascensão Skywalker)
FILME CONTEMPORÂNEO
Jade Healy (Um Lindo Dia na Vizinhança)
Kevin Kavanaugh (John Wick 3 – Parabellum)
David Crank (Entre Facas e Segredos)
Lee Ha-Jun (Parasita)
Ruth De Jong (Nós)
FILME DE ANIMAÇÃO
Max Boas (Abominável)
Michael Giaimo (Frozen 2)
Pierre-Olivier Vincent (Como Treinar o seu Dragão 3)
James Chinlund (O Rei Leão)
Bob Pauley (Toy Story 4)
TV/STREAMING
SÉRIE DE ÉPOCA OU FANTASIA – UMA HORA COM CÂMERA ÚNICA
“A Series of Unfortunate Events: ‘Penultimate Peril: Part 1,’” Bo Welch
“The Crown: ‘Aberfan,’” Martin Childs
“Game of Thrones: ‘The Bells,’” Deborah Riley
“The Mandalorian: ‘Chapter One,’” Andrew L. Jones
“The Marvelous Mrs. Maisel: ‘Ep. 305, Ep. 308,’” Bill Groom
SÉRIE CONTEMPORÂNEA – UMA HORA COM CÂMERA ÚNICA
“Big Little Lies: ‘What Have They Done?’ ‘The Bad Mother,’ ‘I Want to Know,’” John Paino
“The Boys: ‘The Female of the Species,’” Dave Blass
“Euphoria: ‘The Trials and Tribulations of Trying to Pee While Depressed,’ ‘And Salt the Earth Behind You,’” Kay Lee
“The Handmaid’s Tale: ‘Mayday,’” Elizabeth Williams
“The Umbrella Academy: ‘We Only See Each Other at Weddings and Funerals,’” Mark Worthington
MINISSÉRIE OU FILME PARA TV
“Black Mirror: ‘Striking Vipers,’” Anne Beauchamp
“Catch-22,” David Gropman
“Chernobyl,” Luke Hull
“Deadwood,” Maria Caso
“Fosse/Verdon,” Alex DiGerlando
SÉRIE DE MEIA HORA COM CÂMERA ÚNICA
“Barry: ‘ronny/lily,’” Tyler B. Robinson
“Fleabag: ‘Ep. 5,’” Jonathan Paul Green
“GLOW: ‘Up, Up, Up,’” Todd Fjelsted
“The Good Place: ‘Employee of the Bearimy,’ ‘Help Is Other People,’” Ian Phillips
“Russian Doll: ‘Nothing in This World is Easy,’” Michael Bricker
SÉRIE DE MULTI-CÂMERAS
“The Big Bang Theory: ‘The Stockholm Syndrome,’ ‘The Conference Valuation,’ ‘The Propagation Proposition,’” John Shaffner
“The Cool Kids: ‘Vegas, Baby!’” Stephan Olson
“Family Reunion: ‘Remember Black Elvis?’” Aiyanna Trotter
“No Good Nick: ‘The Italian Job,’” Kristan Andrews
“Will & Grace: ‘Family, Trip,’ ‘The Things We Do for Love,’ ‘Conscious Coupling,’” Glenda Rovello
FORMATO CURTO: WEB SÉRIES, VÍDEO MUSICAL OU COMERCIAL
Apple: “It’s Tough Out There,” Quito Cooksey
Ariana Grande, Miley Cyrus, Lana Del Rey: “Don’t Call Me Angel,” Emma Fairley
MedMen: “The New Normal,” James Chinlund
Portal for Facebook: “A Very Muppet Portal Launch,” Alex DiGerlando
Taylor Swift: “Lover,” Kurt Gefke
VARIEDADES, REALITY OU EVENTO ESPECIAL
“Drunk History: “Are You Afraid of the Drunk?” Monica Sotto
“91st Oscars,” David Korins
“Rent: Live,” Jason Sherwood
“Saturday Night Live: ‘1764 Emma Stone,’ ‘1762 Sandra Oh,’ ‘1760 John Mulaney,’” Keith Raywood, Akira Yoshimura, Joe DeTullio, Eugene Lee
“Taylor Swift Reputation Stadium Tour,” Tamlyn Wright, Baz Halpin
A cerimônia do 24º ADG está marcada para o dia 1º de Fevereiro.
FIGURINOS DE ÉPOCA: Rocketman, Meu Nome é Dolemite, Era uma Vez em… Hollywood, Jojo Rabbit e Downton Abbey
PRIMEIRA FIGURINISTA NEGRA A GANHAR O OSCAR, RUTH CARTER, PODE VENCER NOVAMENTE
Se no sindicato de Diretores de Arte, a sintonia com a Academia está alta, não podemos dizer o mesmo do sindicato de Figurinistas (CDG: Costume Designers Guild). Nos últimos cinco anos, três acertos. Parece razoável, certo? Porém, o prêmio possui três categorias distintas que poderiam reconhecer os mesmos trabalhos do Oscar.
E nos dois casos em que houve divergência, particularmente apreciamos mais os figurinos premiados pelo Oscar: Trama Fantasma e Animais Fantásticos do que os premiados do CDG. Veja tabela abaixo com histórico recente combinado:
Dentre os indicados, o nome mais forte parece ser de Ruth E. Carter, colaboradora assídua de Spike Lee, e que se tornou a primeira negra a vencer o Oscar de Figurino com Pantera Negra. Com a disputa ainda em aberto, o trabalho dela em Meu Nome é Dolemite pode angariar votos mesmo se tratando de uma produção da Netflix (muitos votantes são conservadores em relação à streaming). Se Eddie Murphy conseguir uma indicação como ator, sua campanha melhora ainda mais, e ela pode ganhar dois Oscars consecutivos.
ANO
ÉPOCA
FANTASIA/SCI-FI
CONTEMP
OSCAR
2018
A Favorita
Pantera Negra
Podres de Ricos
Pantera Negra
2017
A Forma da Água
Mulher-Maravilha
Eu, Tonya
Trama Fantasma
2016
Estrelas Além do Tempo
Doutor Estranho
La La Land
Animais Fantásticos e Onde Habitam
2015
A Garota Dinamarquesa
Mad Max: Estrada da Fúria
Beasts of No Nation
Mad Max: Estrada da Fúria
2014
O Grande Hotel Budapeste
Caminhos da Floresta
Birdman
O Grande Hotel Budapeste
Contando com os figurinos extravagantes e característicos de Elton John, o trabalho de Julian Day pode ser reconhecido por Rocketman, que vem logo atrás na disputa. Como no filme da Netflix, se Taron Egerton for indicado a Melhor Ator, a campanha do filme melhora e suas chances aumentam.
O trabalho de figurino de Era uma Vez em… Hollywood não chega a impressionar, mas Arianne Phillips é um nome previamente indicado ao Oscar e deve elevar o número de indicações do filme de Tarantino.
Embora não gostamos da idéia de reconhecer designs recicladas das animações, o live-action da Disney de Aladdin ganhou um sopro de criatividade nos figurinos estonteantes da princesa Jasmine, interpretada por Naomi Scott.
FIGURINO FANTASIA/SCI-FI: Capitã Marvel, Aladdin, Malévola: Dona do Mal, Star Wars: A Ascensão Skywalker e Vingadores: Ultimato
Assinalamos em vermelhonossas apostas para conseguir uma indicação ao Oscar de Melhor Figurino. Ficamos na dúvida entre Jojo Rabbit e Downton Abbey, mas apesar do último ser uma espécie de episódio alongado da série britânica, os votantes da Academia sempre apreciaram figurinos de época com glamour (vide O Grande Gatsby, por exemplo).
CINEMA
FILME CONTEMPORÂNEO
Arjun Bhasin (Um Lindo Dia na Vizinhança)
Mitchell Travers (As Golpistas)
Jenny Eagan (Entre Facas e Segredos)
Ellen Mirojnick (A Lavanderia)
Shiona Turini (Queen & Slim)
FILME DE ÉPOCA
Ruth E. Carter (Meu Nome é Dolemite)
Anna Mary Scott Robbins (Downton Abbey)
Mayes C. Rubeo (Jojo Rabbit)
Arianne Phillips (Era uma Vez em… Hollywood)
Julian Day (Rocketman)
FILME DE FICÇÃO CIENTÍFICA/FANTASIA
Michael Wilkinson (Aladdin)
Judianna Makovsky (Vingadores: Ultimato)
Sanja M. Hays (Capitã Marvel)
Ellen Mirojnick (Malévola: Dona do Mal)
Michael Kaplan (Star Wars: A Ascensão Skywalker)
TV/STREAMING
SÉRIE CONTEMPORÂNEA
Big Little Lies: “She Knows” – Alix Friedberg
Fleabag: “2.1” – Ray Holman
Killing Eve: “Desperate Times” – Charlotte Mitchell
Russian Doll: “Superiority Complex” – Jennifer Rogien
Brady Jandreau em cena do vencedor do Gotham Domando o Destino (pic by The Hollywood Reporter)
LANÇADO EM 2017, ‘DOMANDO O DESTINO’ CONTINUA CONQUISTANDO PRÊMIOS
Com três produções com chances no Oscar no páreo de Melhor Filme no Gotham, premiação do cinema independente, foi o humilde Domando o Destino (The Rider) que acabou conquistando o maior prêmio da noite.
Dirigido pela chinesa Chloé Zhao, o filme acompanha a recuperação do peão de rodeio Brady após um acidente com seu cavalo. Baseado na vida do peão Brady Jandreau, Domando o Destino foi uma forma ficcional da diretora recontar sua história. Curiosamente, o filme concorreu ao Independent Spirit Awards de 2017, mas volta agora à temporada de premiações pelo Gotham.
Em sua 34ª edição, o Gotham Awards elevou seu grau de importância no cenário quando coincidiu seus vencedores com os do Oscar de Melhor Filme em 3 oportunidades consecutivas com Moonlight, Spotlight e Birdman. Ano passado, o Gotham elegeu Me Chame Pelo seu Nome, mas deu A Forma da Água no Oscar.
Pelas categorias de atuação, o Gotham conquistou acertos bem esporádicos como Julianne Moore (Para Sempre Alice) e Casey Affleck (Manchester à Beira-Mar). Assim sendo, os vencedores deste ano: Ethan Hawke (First Reformed) e Toni Collette (Hereditário) podem não ter grandes chances no Oscar, mas certamente são vitórias merecidas que precisam ser celebradas.
Ethan Hawke aceita prêmio de Ator por First Reformed (pic by IMDb)
Excetuando o prêmio de Melhor Filme, o grande vencedor da edição foi o drama adolescente Oitava Série, que ganhou dois prêmios: de Atuação Revelação para Elsie Fisher, e de Direção Revelação para o jovem Bo Burnham. Trata-se de um retrato bem fresco dessa nova geração de jovens e como eles lidam com interação social e familiar com o suporte da tecnologia.
O diretor estreante Bo Burnham de Oitava Série discursa no palco do Gotham (pic by IMDb)
Apesar da categoria de Atuação Revelação ser unissex, este ano foi composta apenas por mulheres: além de Fisher, estavam indicadas a mexicana Yalitza Aparicio de Roma, Helena Howard de A Madeline de Madeline, KiKi Layne de Se a Rua Beale Falasse e Thomasin McKenzie de Não Deixe Rastros, atestando uma força feminina nos filmes.
Vale destacar os dois prêmios também para o drama existencial First Reformed, que além de levar o prêmio de Ator para Ethan Hawke, conquistou o de Roteiro para o veterano Paul Schrader. Também indicado ao Independent Spirit, Schrader está caminhando bem para sua possível primeira indicação ao Oscar. Seria uma ótima oportunidade de reconhecer o roteirista de Taxi Driver (1976) e Touro Indomável (1980).
Diretor e roteirista Paul Schrader aceita o prêmio de Roteiro por First Reformed (pic by Arizona Daily Star)
Confira os vencedores do 34º Gotham Awards assinalados na cor laranja:
MELHOR FILME First Reformed A Favorita (The Favorite) Madeline de Madeline (Madeline’s Madeline) If Beale Street Could Talk Domando o Destino (The Rider)
MELHOR DOCUMENTÁRIO Bisbee ‘17 Hale County This Morning, This Evening Minding the Gap Shirkers Won’t You Be My Neighbor?
PRÊMIO BINGHAM RAY PARA DIRETOR ESTREANTE Bo Burnham (Oitava Série) Ari Aster (Hereditário) Boots Riley (Sorry to Bother You) Crystal Moselle (Skate Kitchen) Jennifer Fox (O Conto)
MELHOR ROTEIRO Deborah Davis, Tony McNamara (A Favorita) Cory Finley (Thoroughbreds) Paul Schrader (First Reformed) Tamara Jenkins (Mais uma Chance) Andrew Bujalski (Support the Girls)
MELHOR ATOR Adam Driver (Infiltrado na Klan) Ben Foster (Não Deixe Rastros) Richard E. Grant (Poderia me Perdoar?) Ethan Hawke (First Reformed) Lakeith Stanfield (Sorry to Bother You)
MELHOR ATRIZ Glenn Close (A Esposa) Toni Collette (Hereditário) Kathryn Hahn (Mais uma Chance) Regina Hall (Support the Girls) Michelle Pfeiffer (Where is Kyra?)
ATOR OU ATRIZ REVELAÇÃO Thomasin McKenzie (Não Deixe Rastros) Helena Howard (A Madeline de Madeline) Kiki Layne (If Beale Street Could Talk) Elsie Fisher (Oitava Série) Yalitza Aparicio (Roma)
SÉRIE REVELAÇÃO – EPISÓDIOS LONGOS Alias Grace Big Mouth The End of the F***ing World Killing Eve Pose Sharp Objects
SÉRIE REVELAÇÃO – EPISÓDIOS CURTOS 195 Lewis Cleaner Daze Distance The F Word She’s the Ticket
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI PARA PERFORMANCE DE ELENCO Olivia Colman, Emma Stone, Rachel Weisz (A Favorita)
Elsie Fisher e Josh Hamilton em diálogo tocante em Oitava Série (pic by IMDb)
PREMIAÇÃO AMERICANA INDEPENDENTE ANUNCIA SUA SELEÇÃO COM FAVORITOS AUSENTES POR ELEGIBILIDADE
Há algumas semanas, o Gotham Awards foi o primeiro prêmio da temporada a revelar seus indicados, mas como ainda é tradição, a corrida pelo Oscar só começa oficialmente com os indicados ao Independent Spirit Awards!
Em sua 34ª edição, a premiação tem sido um dos principais parâmetros para o Oscar. Com exceção deste ano, quando Corra! levou Melhor Filme no Spirit, nos quatro anos anteriores, todas as produções que se consagraram com o Oscar de Melhor Filme, foi vencedor no Spirit antes: Moonlight, Spotlight, Birdman, e 12 Anos de Escravidão. Tá bom pra você?
Porém, nesta edição, por causa das regras de elegibilidade, algumas produções consideradas favoritas para esta temporada não poderão competir aqui como o mexicano Roma, de Alfonso Cuarón, e A Favorita, de Yorgos Lanthimos, por serem produções estrangeiras (teriam de ser norte-americanas). Além, claro, de terem de respeitar o teto do orçamento que é de 20 milhões de dólares, o que desqualificou A Forma da Água no ano passado, e este ano barrou franco-favoritos como Nasce uma Estrela, O Primeiro Homem e Green Book – O Guia.
Curiosamente, o anúncio dos indicados estava previsto para o próximo dia 19, mas por algum motivo foi adiantado para hoje, dia 16. O evento contou com a colaboração das atrizes Gemma Chan (do mega sucesso Podres de Ricos – muito linda e com um belo sotaque britânico!) e Molly Shannon (vencedora do Independent Spirit em 2016 pelo drama Other People). Confira o vídeo do canal oficial do Film Independent:
NÚMEROS DO INDEPENDENT SPIRIT AWARDS
Um fato bem curioso: o recordista de indicações desta edição sequer foi indicado a Melhor Filme. We the Animals, de Jeremiah Zagar, conquistou o total de 5 indicações, mas não foi incluído na principal categoria. Este drama familiar foi lançado no último festival de Sundance e agora disputa em categorias importantes como Ator Coadjuvante (Raúl Castillo) e Fotografia.
Em segundo lugar, temos duas produções da A24 (uma das produtoras mais em evidência nos últimos anos): Oitava Série e First Reformed, ambos com 4 indicações cada. E também com 4, o drama Você Nunca Esteve Realmente Aqui, de Lynne Ramsay, que apesar de ter concorrido à Palma de Ouro em Cannes em 2017, conseguiu ser distribuído em solo americano somente neste ano.
Logo em seguida, com 3 indicações, vem um dos possíveis candidatos ao Oscar 2019: Se a Rua Beale Falasse, novo trabalho do diretor de Moonlight, Barry Jenkins. A adaptação de James Baldwin foi lembrada nas categorias Filme, Diretor e Atriz Coadjuvante para Regina King. Também indicados a 3 prêmios estão Mais Uma Chance, de Tamara Jenkins, e Não Deixe Rastros, de Debra Granik, ambas diretoras indicadas na categoria de Direção.
No centro, Paul Giamatti, e à direita Kathryn Hahn, conversam com Kayli Carter em cena de Mais uma Chance (pic by IMDb)
COMENTÁRIOS
Como consegui assistir já a alguns filmes indicados, consigo dar algumas impressões. Primeiramente, fiquei super feliz pelas indicações de First ReformedeOitava Série. Não haveria Independent Spirit sem essas duas produções.
A primeira é o novo trabalho do veterano Paul Schrader, mais conhecido por ser o roteirista de Taxi Driver e de ter dirigido Gigolô Americano e Temporada de Caça. Ele retorna com este profundo e poderoso estudo da religião frente às descrenças humanas na sociedade. Ultimamente, tem sido tão raro encontrar um filme estrelado por um padre sem envolver exorcismo, demônios ou pedofilia, que já se torna algo digno de nota. A direção de Schrader é nua e crua, mas com alguns requintes de surrealismo. E temos aqui uma ótima performance de Ethan Hawke, que merece ser lembrado nas próximas premiações.
Ethan Hawke e Amanda Seyfried dialogam em cena de First Reformed (pic by IMDb)
Já a segunda é dirigida e escrita por um estreante com histórico youtuber Bo Burnham. Ele fez este singelo testamento da juventude e como ela lida com as relações sociais enquanto dialoga com a tecnologia. Apresenta cenas que vão do terror como a da piscina (com direito à trilha) até adoráveis como o diálogo entre pai e filha sentados em frente à fogueira. A indicação de Melhor Atriz para a jovem Elsie Fisher foi fantástica! Até então, ela era apenas conhecida por dublar uma menina na animação de Meu Malvado Favorito.
Falando em categoria de Atriz, temos uma exceção nesta edição com 6 indicadas. Além de Fisher, achei ótimas as inclusões de Helena Howard (esta menina está incrível em Madeline de Madeline, com um talento daqueles natos num filme que sobre a verdadeira natureza da atuação) e Toni Collette, que concorre pelo ótimo filme de gênero Hereditário. Também vale a pena destacar a indicação de Glenn Close por A Esposa, já que ela vem se tornando a franco-favorita para ganhar finalmente seu primeiro Oscar após 6 indicações.
Helena Howard é uma explosão de talento no experimental Madeline de Madeline (pic by IMDb)
Fiquei um pouco surpreso com a indicação de Melhor Ator para John Cho por Buscando…. Apesar de ele segurar a onda praticamente sozinho durante o filme todo, que se passa em telas de celular e computador, achei um pouco forçada esta indicação. E pela indicação de Adam Driver ser a única do novo filme de Spike Lee, Infiltrado na Klan, que vinha sendo bem cotado para o Oscar.
Destaque para as indicações brasileiras de Melhor Ator para Christian Malheiros e Someone to Watch Award para o diretor Alex Moratto por Sócrates. Malheiros interpreta um jovem que perde sua mãe, enquanto procura um jeito de se virar sozinho e descobre sua sexualidade. Confira o trailer:
Achei formidáveis as indicações de Fotografia para Suspiria (Sayombhu Mukdeeprom) e Mandy (Benjamin Loeb). São trabalhos bastante vistosos que mereciam esse destaque para permanecerem em alta na corrida para o Oscar. Também ressalto a indicação de Em Chamas, de Chang-dong Lee, pela Coréia do Sul na categoria de Filme Internacional. Caso avance para o Oscar, será a primeira indicação merecida para o cinema sul-coreano. Claro que a categoria de estrangeiros está bem representada também por Roma (México), Assunto de Família (Japão), A Favorita (Reino Unido) e Happy as Lazzaro (Itália).
Cena do longa sul-coreano Em Chamas, baseado em conto do escritor Haruki Murakami (pic by IMDb)
AUSÊNCIAS
Entre as ausências mais sentidas foram de Melissa McCarthy por Poderia Me Perdoar?. Ela consegue balancear com muita graça seu lado dramático com seu conhecido timing cômico nesta cinebiografia de Lee Israel. Apesar de não ter aparecido aqui na lista, tem grandes chances de aparecer no Oscar e receber sua indicação. Curiosamente, seu colega de tela, Richard E. Grant, foi reconhecido como Ator Coadjuvante. Ainda na categoria de Atriz, Michelle Pfeiffer poderia ter sido lembrada por Where is Kyra?. Sua salvação pode ser os prêmios da crítica, o Critics’ Choice ou o Globo de Ouro.
Na categoria masculina, senti falta do Ben Foster pelo indicado Não Deixe Rastros, assim como Timothée Chalamet ou Lucas Hedges por Beautiful Boy e Boy Erased, respectivamente, na categoria de Ator Coadjuvante. E o já citado Spike Lee, pelo menos na categoria de Roteiro por Infiltrado na Klan.
INDICADOS AO INDEPENDENT SPIRIT AWARDS 2019:
MELHOR FILME
Oitava Série (Eighth Grade)
First Reformed
Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk)
Não Deixe Rastros (Leave no Trace)
Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here)
MELHOR DIREÇÃO
Debra Granik (Não Deixe Rastros)
Barry Jenkins (Se a Rua Beale Falasse)
Tamara Jenkins (Mais Uma Chance)
Lynne Ramsay (Você Nunca Esteve Realmente Aqui)
Paul Schrader (First Reformed)
FILME DE ESTRÉIA
Hereditário (Hereditary)
Sorry to Bother You
O Conto (The Tale)
We the Animals
Vida Selvagem (Wildlife)
MELHOR ATOR
John Cho (Buscando…)
Daveed Diggs (Ponto Cego)
Ethan Hawke (First Reformed)
Christian Malheiros (Sócrates)
Joaquin Phoenix (Você Nunca Esteve Realmente Aqui)
MELHOR ATRIZ
Glenn Close (A Esposa)
Toni Collette (Hereditário)
Elsie Fisher (Oitava Série)
Regina Hall (Support the Girls)
Helena Howard (Madeline de Madeline)
Carey Mulligan (Vida Selvagem)
Kayli Carter (Mais Uma Chance)
Tyne Daly (A Bread Factory)
Regina King (Se a Rua Beale Falasse)
Thomasin Harcourt McKenzie (Não Deixe Rastros)
J. Smith-Cameron (Nancy)
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Raúl Castillo (We the Animals)
Adam Driver (Infiltrado na Klan)
Richard E. Grant (Poderia Me Perdoar?)
Josh Hamilton (Oitava Série)
John David Washington (Monsters and Men)
MELHOR FOTOGRAFIA
Ashley Connor (Madeline de Madeline)
Diego Garcia (Vida Selvagem)
Benjamin Loeb (Mandy)
Sayombhu Mukdeeprom (Suspiria)
Zak Mulligan (We the Animals)
MELHOR ROTEIRO
Richard Glatzer, Rebecca Lenkiewicz, Wash Westmoreland (Colette)
Nicole Holofcener & Jeff Whitty (Poderia Me Perdoar?)
Tamara Jenkins (Mais Uma Chance)
Boots Riley (Sorry to Bother You)
Paul Schrader (First Reformed)
MELHOR ROTEIRO DE ESTREANTE
Bo Burnham (Oitava Série)
Christina Choe (Nancy)
Cory Finley (Puro-Sangue)
Jennifer Fox (O Conto)
Quinn Shephard, Laurie Shephard (Blame)
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Hale County this Morning, This Evening
Minding the Gap
Of Fathers and Sons
On Her Shoulders
Shirkers
Won’t You be my Neighbor?
MELHOR FILME INTERNACIONAL
Em Chamas. Dir: Chang-dong Lee (Coréia do Sul)
A Favorita. Dir: Yorgos Lanthimos (Reino Unido)
Happy as Lazzaro. Dir: Alice Rohrwacher (Itália)
Roma. Dir: Alfonso Cuarón (México)
Assunto de Família. Dir: Hirokazu Koreeda (Japão)
TRUER THAN FICTION AWARD
Alexandria Bombach (On Her Shoulders)
Bing Liu (Minding the Gap)
RaMell Ross (Hale County This Morning, This Evening)
PRODUCERS AWARD
Jonathan Duffy, Kelly Williams
Gabrielle Nadig
Shrihari Sathe
THE SOMEONE TO WATCH AWARD
Alex Moratto (Sócrates)
Ioana Uricaru (Lemonade)
Jeremiah Zagar (We the Animals)
THE BONNIE AWARD
Debra Granik
Tamara Jenkins
Karyn Kusama
ROBERT ALTMAN AWARD
SUSPIRIA
Diretor: Luca Guadagnino
Diretores de Casting: Avy Kaufman, Stella Savino
Elenco: Malgosia Bela, Ingrid Caven, Lutz Ebersdorf, Elena Fokina, Mia Goth, Jessica Harper, Dakota Johnson, Gala Moody, Chloë Grace Moretz, Renée Soutendijk, Tilda Swinton, Sylvie Testud, Angela Winkler
***
A 34ª cerimônia do Independent Spirit Awards está marcada para o dia 23 de fevereiro, um dia antes do Oscar, na praia de Santa Monica.
Bruna Linzmeyer em cena de O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues (pic by The Hollywood Reporter)
COMEÇA A SELEÇÃO PARA REPRESENTANTE BRASILEIRO
Nessa última sexta-feira, dia 24, foram divulgadas as 22 produções que vão disputar a vaga de representante brasileiro pela categoria de Filme em Língua Estrangeira no Oscar 2019.
São 18 ficções e 4 documentários que seguem abaixo em ordem alfabética:
Além do Homem
Dir: Willy Biondani
Alguma Coisa Assim
Dir: Esmir Filho
O Animal Cordial
Dir: Gabriela Amaral Almeida
Antes que eu me Esqueça
Dir: Tiago Arakilian
Aos Teus Olhos
Dir: Carolina Jabor
As Boas Maneiras
Dir: Marco Dutra e Juliana Rojas
Benzinho
Dir: Gustavo Pizzi
Canastra Suja
Dir: Caio Soh
O Caso do Homem Errado
Dir: Camila de Moraes
Como é Cruel Viver Assim
Dir: Julia Rezende
Dedo na Ferida
Dir: Silvio Tendler
O Desmonte do Monte
Dir: Sinai Sganzerla
Encantados
Dir: Tizuka Yamasaki
Entre Irmãs
Dir: Breno Silveira
Ex-Pajé
Dir: Luiz Bolognesi
Ferrugem
Dir: Aly Muritiba
O Grande Circo Místico
Dir: Cacá Diegues
Não Devore Meu Coração!
Dir: Filipe Bragança
Paraíso Perdido
Dir: Monique Gardenberg
Talvez uma História de Amor
Dir: Rodrigo Bernardo
Unicórnio
Dir: Eduardo Nunes
Yonlu
Dir: Hique Montanari
À princípio, não há nenhum grande favorito como Cidade de Deus ou Tropa de Elite 2, mas alguns títulos já se sobressaem devido a seu histórico internacional. O Grande Circo Místico já larga na frente por ter passagem na mostra não-competitiva no Festival de Cannes deste ano, além, claro, da fama do diretor Cacá Diegues que, embora nunca tenha sido indicado ao Oscar, competiu pela Palma de Ouro em três ocasiões nos anos 80. O drama com temática circense remete ao vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1952, O Maior Espetáculo da Terra, de Cecil B. DeMille, e conta com um bom elenco encabeçado por Bruna Linzmeyer, Jesuíta Barbosa, Juliano Cazarré, Mariana Ximenes e o francês Vincent Cassel.
Com passagens por festivais argentino, colombiano, francês, americano, suíço e espanhol, As Boas Maneiras também tem ótimas chances de ser selecionado. Além da crescente campanha internacional, o filme é do gênero terror e fantasia, que ficaram em alta depois de Corra! e A Forma da Água terem levado o Oscar este ano, e por ter uma autenticidade brasileira representada pela história folclórica do lobisomem. A dupla de diretores, Marco Dutra e Juliana Rojas, ainda está buscando se aperfeiçoar a cada filme, mas já é possível verificar um toque de personalidade no trabalho.
Marjorie Estiano e Isabél Zuaa em cena de As Boas Maneiras (pic by Omelete)
Acredito que a vaga deva ficar com uma dessas duas produções pelos motivos citados, porém vale destacar aqui Aos Teus Olhos e O Animal Cordial pela repercussão que ambos tiveram pela temática. Enquanto o primeiro aborda a questão do abuso sexual (em alta em Hollywood), o segundo abre uma discussão sobre a essência do ser humano em situações extremas.
Murilo Benício e Luciana Paes em cena de O Animal Cordial (pic by revistapreview.com.br)
Também estou lendo ótimas críticas de Benzinho (que acabou de levar 4 Kikitos no Festival de Gramado, incluindo o de Melhor Atriz para a elogiada atuação de Karine Telles) e o próprio vencedor de Melhor Filme em Gramado, Ferrugem.
Adriana Esteves e Karine Teles em cena de Benzinho, que concedeu os Kikitos de Coadjuvante e Atriz para ambas (pic by Cebola Verde)
Não sou de ligar muito para essa questão politicamente correta, mas o jornal Folha de S. Paulo levantou que dos 22 filmes, nove são dirigidos por mulheres. De repente, por causa dos movimentos feministas como o #MeToo, esse fator pode ajudar na campanha internacional. A matéria do jornal também destacou a ausência do filme de maior bilheteria aqui, Nada a Perder, a cinebiografia do Edir Macedo, dono da Igreja Universal. Talvez aquele suposto esquema da própria Igreja comprar vários ingressos e distribuir para os fiéis (que não comparecem às salas) tenham o desqualificado para esta seleção.
De qualquer forma, para a comissão que se encarregará da seleção do representante brasileiro, meu conselho é: não se guie pelos gostos da Academia, que seria o filme dramático do Holocausto e Segunda Guerra Mundial. Primeiro porque já tentamos e não fomos bem-sucedidos, segundo porque a própria Academia está mudando com a adição de tantos membros novos, e por último, porque o cinema brasileiro precisa simplesmente levar o seu melhor filme para Hollywood, independente de histórico, premiações e elenco. Digo isso, principalmente, porque o Brasil nunca levou o Oscar, e as chances de ganhar são baixas, então por que não prestigiar o melhor filme pelo menos?
No centro, Daniel de Oliveira faz o professor de natação acusado de assédio em Aos Teus Olhos (pic by vejasp)
Não posso julgar qual a melhor produção para selecionar, pois não vi todos os 22 filmes, mas gosto da idéia de As Boas Maneiras ser o representante por ter esse tom próprio (e não padronizado) de fábula com drama social brasileiro. O filme tem seus defeitos, sim, mas acredito que contém algum diferencial que os membros da Academia esperam ver, afinal eles são obrigados a assistir a mais de 90 filmes estrangeiros para votar.
Só para constar: Caso o representante seja aprovado para a pré-lista de nove filmes, será o primeiro desde 2006, quando O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias foi pré-selecionado. E caso esteja entre os 5 indicados da categoria, será o primeiro desde Central do Brasil, que concorreu em 1999.
Ryan Gosling como Neil Armstrong em O Primeiro Homem, de Damien Chazelle, abrirá a mostra competitiva de Veneza (pic by CineImage)
FESTIVAL ITALIANO VAI NA CONTRAMÃO DE CANNES E RECEBE PRODUÇÕES DE PLATAFORMAS COMO NETFLIX E AMAZON DE BRAÇOS ABERTOS
Se no Festival de Cannes, o negócio estava emperrado com uma série de restrições e até banimento das selfies no tapete vermelho, na cidade italiana de Veneza, it’s all open for business!
Filme da Netflix?
– Pode trazer que a gente põe até pra competir!
Filme restaurado inédito do Orson Welles distribuído pela Netflix?
– Traga que será recebido como uma gema do cinema!
Candidato fortíssimo ao prêmio da indústria hollywoodiana do Oscar?
– Não apenas concorrerá ao Leão de Ouro, como vai abrir a competição oficial.
Filme estrelado pela Lady Gaga?
– Aceitamos… mas pode ser na mostra paralela?
Quando questionado sobre a presença maciça da Netflix com seis títulos, o presidente do evento, Alberto Barbera, foi contundente: “Não podemos nos recusar a aceitar a realidade do novo cenário das produções.” Pela perspectiva dos cineastas, que buscam financiamentos e plataformas diversas para seus projetos, essa aceitação do festival foi abraçada e aplaudida. Só para citar um exemplo: o novo filme do mexicano Alfonso Cuarón, Roma, produzido pela Netflix, foi recusado em Cannes, mas aceito em Veneza. Quem sai perdendo nessa história?
Se antes Veneza já vinha num crescendo por ser uma prévia do Oscar (Vencedores do Oscar, Gravidade, Spotlight e A Forma da Água, estrearam no festival italiano), agora com essa abertura de formatos e plataformas, firma-se como o mais prestigiado no cenário internacional. E com isso em mente, o filme de abertura, O Primeiro Homem, do diretor de La La Land, Damien Chazelle, automaticamente se torna o franco-favorito para a próxima temporada de premiações.
Além de O Primeiro Homem contar com o triunfo de ser uma cinebiografia do astronauta Neil Armstrong, subgênero muito querido pela Academia, depois daquela lambança de La La Land ganhando e perdendo o Oscar de Melhor Filme em dois minutos, muitos votantes podem se sentir compelidos a compensar o diretor em 2019.
Outros nomes fortes aqui presentes para o Oscar são: Mike Leigh com seu drama histórico Peterloo; Julian Schnabel com seu At Eternity’s Gate sobre a vida do artista Van Gogh; o novo filme dos irmãos Ethan e Joel Coen, The Ballad of Buster Scruggs, que era uma série originalmente que acabou virando um longa; o próprio Roma, de Alfonso Cuarón, que se passa na Cidade do México nos anos 70; e 22 July, de Paul Greengrass, que volta com mais uma tragédia terrorista que se passa na Noruega.
Cena de Peterloo, de Mike Leigh (pic by Variety)
E diretores consagrados que costumam bater o cartão em festivais e sempre são favoritos aos grandes prêmios como o francês Jacques Audiard, que fez seu primeiro filme em inglês com The Sister Brothers, um western com Jake Gyllenhaal e Joaquin Phoenix; o grego Yorgos Lanthimos com The Favorite, que contou com as vencedoras do Oscar Emma Stone e Rachel Weisz. Também competindo pelo Leão de Ouro estão os ganhadores do Oscar de Filme em Língua Estrangeira: o húngaro László Nemes, que volta com Sunset; e o alemão Florian Henckel Von Donnersmarck, com Work Without Auhor.
Joaquin Phoenix e John C. Reilly em cena de The Sister Brothers, de Jacques Audiard (pic by ew.com)
Dentre os concorrentes desta edição, Suspiria certamente tem um dos visuais mais arrebatadores. Dirigido pelo italiano Luca Guadanigno, que repete a ótima parceria com o diretor de fotografia Sayombhu Mukdeeprom com quem trabalhou em Me Chame Pelo seu Nome, a refilmagem teria chances mínimas de premiação ainda mais por ser do gênero terror, mas como o presidente do júri deste ano é ninguém menos do que o criador de monstros Guillermo Del Toro, algumas surpresas podem acontecer. Veja trailer abaixo:
Apesar de entender toda a situação da briga que o festival de Cannes compraria com os vários donos de cinemas na França se aceitasse a Netflix, por outro lado, agora está vendo o festival de Veneza investindo no futuro por ter uma mente mais aberta. Nas últimas duas décadas, vimos o Cinema como Arte definhar a cada ano e se tornar um mero produto de grandes estúdios, especialmente da Disney que, recentemente, oficializou a compra da Fox. Nesse cenário de decadência criativa, a Netflix e outras plataformas de streaming estão acolhendo cineastas que perderam sua liberdade criativa e lhes oferecendo oportunidades de criação de conteúdo de forma mais livre. Hoje, os filmes produzidos pela Netflix ainda demonstram certo amadorismo, mas com as recentes inclusões de talentos como Alfonso Cuarón no acervo, a tendência é que dentro de alguns anos, teremos mais filmes de Netflix no Oscar do que os que estrearam nos cinemas. Além disso, o valor do ingresso que já era caro, pode ficar ainda mais devido à redução de público nas salas de projeção.
INDICADOS AO LEÃO DE OURO DE VENEZA 2018:
EM COMPETIÇÃO
O Primeiro Homem (First Man). Dir: Damien Chazelle
The Mountain. Dir: Rick Alverson
Doubles Vies. Dir: Olivier Assayas
The Sisters Brothers. Dir: Jacques Audiard
The Ballad of Buster Scruggs. Dir: Ethan and Joel Coen
Vox Lux. Dir: Brady Corbet
Roma. Dir: Alfonso Cuarón
22 July. Dir: Paul Greengrass
Suspiria (Suspiria). Dir: Luca Guadagnino
Work Without Author. Dir: Florian Henkel Von Donnersmark
The Nightingale. Dir: Jennifer Kent
The Favourite. Dir: Yorgos Lanthimos
Peterloo. Dir: Mike Leigh
Capri-Revolution. Dir: Mario Martone
What You Gonna Do When The World’s On Fire?. Dir: Roberto Minervini
Sunset. Dir: László Nemes
Freres Ennemis. Dir: David Oelhoffen
Neustro Tiempo. Dir: Carlos Reygadas
At Eternity’s Gate. Dir: Julian Schnabel
Acusada. Dir: Gonzalo Tobal
Killing. Dir: Shinya Tsukamoto
FORA DE COMPETIÇÃO
SPECIAL EVENT
The Other Side Of The Wind. Dir: Orson Welles
They’ll Love Me When I’m Dead. Dir: Morgan Neville
PROJEÇÕES ESPECIAIS
My Brilliant Friend. Dir: Saverio Costanzo
Il Diario Di Angela – Noi Due Cineasti. Dir: Yervant Gianikian
FICÇÃO
Una Storia Senza Nome. Dir: Roberto Andò
Les Estivants. Dir: Valeria Bruni Tedeschi
A Star Is Born. Dir: Bradley Cooper
Mi Obra Maestra. Dir: Gaston Duprat
A Tramway in Jerusalem. Dir: Amos Gitai
Un Peuple et Son Roi. Dir: Pierre Schoeller
La Quietud. Dir: Pablo Trapero
Dragged Across Concrete. Dir: S. Craig Zahler
Shadow. Dir: Zhang Yimou
NÃO-FICÇÃO
A Letter to a Friend In Gaza. Dir: Amos Gitai
Aquarela. Dir: Victor Kossakovsky
El Pepe, Una Vida Suprema. Dir: Emir Kusturica
Process. Dir: Sergei Loznitsa
Carmine Street Guitars. Dir: Ron Mann
Isis, Tomorrow. The Lost Souls Of Mosul. Dir: Francesca Mannocchi, Alessio Romenzi
American Dharma. Dir: Errol Morris
Introduzione All’Oscuro. Dir: Gaston Solnicki
1938 Diversi. Dir: Giorgio Treves
Your Face. Dir: Tsai Ming-Liang
Monrovia, Indiana. Dir: Frederick Wiseman
MOSTRA HORIZONTES
Sulla Mia Pelle. Dir: Alessio Cremonini
Manta Ray. Dir: Phuttiphong Aroonpheng
Soni. Dir: Ivan Ayr
The River. Dir: Emir Baigazin
La Noche de 12 Anos. Dir: Alvaro Brechner
Deslembro. Dir: Flavia Castro
The Announcement. Dir: Mahmut Fazil Coskun
Un Giorno All’Improvviso. Dir: Ciro D’Emilio
Charlie Says. Dir: Mary Harron
Amanda. Dir: Mikhael Hers
The Day I Lost My Shadow. Dir: Soudade Kaadan
L’Enkas. Dir: Sarah Marx
The Man Who Surprised Everyone. Dir: Evgeniy Tsiganov, Natalya Kudryashowa
Through The Holes. Dir: Garin Nugroho
As I Lay Dying. Dir: Mostafa Sayyari
La Profezia Dell’armadillo. Dir: Emanuele Scaringi
Guillermo del Toro discursa em nome da equipe toda de A Forma da Água (pic by Chris Pizzello)
OSCAR DESTACA A DIVERSIDADE, DEFENDE MINORIAS E AS MULHERES
A 90ª edição do Oscar, que ocorreu na noite deste domingo, dia 04 de março, guardava vários elementos que poderiam torná-la histórica, e a cerimônia não desapontou. E a diversidade internacional de seus apresentadores refletiu melhor as novas inclusões realizadas de três anos para cá.
POLÊMICA NO TAPETE VERMELHO
Poucas horas antes do tapete vermelho começar, soltaram uma denúncia de abuso e comportamento inapropriado contra o apresentador do tapete vermelho, Ryan Seacrest, que trabalha para o canal E!. Contudo, sua aparição não foi abortada pelo canal, que alegou que “não havia provas o suficiente” para incriminá-lo. No entanto, a idéia de mantê-lo gerou certo desconforto, já que ele teve inúmeras entrevistas recusadas por várias mulheres vítimas de abuso como Viola Davis, Jennifer Garner, Mira Sorvino, Ashley Judd, Margot Robbie e Sandra Bullock. Ninguém queria nem olhar pro infeliz. Seacrest, sendo inocente ou não, não teria sido melhor preservá-lo?
Ryan Seacrest foi atendido por apenas 4 figuras no tapete vermelho de 20 programadas (pic by Michael Buckner)
NÚMEROS DO OSCAR
O grande vencedor da noite foi A Forma da Água, que levou ao todo 4 estatuetas do Oscar: Filme, Diretor, Direção de Arte e Trilha Musical. Claro que hoje em dia é difícil definir um gênero apenas para um filme como na época das locadoras de vídeo, mas se considerarmos o filme de del Toro como uma Ficção Científica, trata-se da primeira a vencer como Melhor Filme em 90 anos de Academia. Certamente um marco histórico derrubando um tabu gigantesco.
Logo em seguida, aparece o filme de guerra Dunkirk, que levou 3 prêmios: Montagem, Som e Efeitos Sonoros. Em terceiro lugar, temos quatro concorrentes, cada um levando duas estatuetas para casa: Três Anúncios Para um Crime (Atriz e Ator Coadjuvante), Blade Runner 2049 (Fotografia e Efeitos Visuais), Viva: A Vida é uma Festa (Animação e Canção) e O Destino de uma Nação (Ator e Maquiagem).
A vitória de Roger Deakins na categoria de Fotografia após 14 indicações tem um fato curioso. É a primeira vitória de um filme não-indicado a Melhor Filme (Blade Runner 2049) a vencer nessa categoria em 12 anos, desde Memórias de uma Gueixa em 2006.
KIMMEL PROCURA SE REDIMIR
Como o host da noite, Jimmy Kimmel, foi convidado para retornar este ano devido à lambança do envelope errado de Moonlight, era natural que ele procurasse se redimir e satirizar a gafe de alguma maneira. Logo começou passando instruções aos indicados em seu monólogo de abertura: “Este ano, quando você ouvir seu nome sendo chamado, não se levante de imediato. Nos dê um minuto. Não queremos que aconteça outra ‘coisa.'”
Jimmy Kimmel explica: “O Oscar é o melhor homem de Hollywood: ele está com as mãos onde podemos ver, nunca diz uma palavra rude, e não tem pênis”.
Seguindo sua veia cômica política, ele não poderia deixar de citar diretamente o presidente republicano Donald Trump: “Nenhuma outra pessoa além do Presidente Trump chamou ‘Corra!’ de melhor 3/4 de filme do ano” (quem viu o filme vai entender a piada). E também discutiu a questão das bilheterias dos filmes indicados: “Nós não fazemos filmes como ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ para ganhar muito dinheiro. Fazemos para irritar (o vice-presidente conservador) Mike Pence.”
Porém, a melhor tirada da apresentação dele foi a idéia de presentear o discurso de agradecimento mais curto da noite com um jet ski, exibido naquele momento por Helen Mirren. Apesar da maioria não ligar pra tempo quando sobe ao palco, achei uma solução bastante criativa de dar aquele puxão de orelha nos que exageram e ainda abastecer o lado cômico nos agradecimentos como foi o caso de Gary Oldman, que já em seu segundo minuto de discurso, soltou um: “Obviamente, eu não vou ganhar o ski…”. Infelizmente, o plano de encurtar a cerimônia não deu muito certo no final, porque teria ultrapassado 50 minutos da transmissão.
Acompanhado por Helen Mirren, o figurinista Mark Bridges pilota seu novo jetski, vencido por ter feito o discurso mais curto com 36 segundos. (Pic by Kevin Winter)
Já a nova “pegadinha” dele não surtiu o efeito desejado. Kimmel convidou vários atores incluindo Gal Gadot, Margot Robbie, Armie Hammer e Tom Holland para aparecer de surpresa na sala de cinema em frente ao Dolby Theater, onde estava passando uma sessão de Uma Dobra no Tempo. Apesar do alvoroço do pessoal na sala de cinema, parecia que eles estavam mais animados com os brindes e quitutes distribuídos do que com a presença dos atores e de estarem ao vivo no Oscar. Tive essa impressão de que a maioria não liga mais pra premiação…
GRANDE TEMÁTICA DE INCLUSÃO DO OSCAR 2018
Obviamente, os assédios e o movimento Time’s Up foram o maior chamariz da cerimônia, desde o tapete vermelho até a quantidade de mulheres apresentando os prêmios no palco. Inclusive, após a decisão de Casey Affleck não comparecer ao evento para sua tarefa de apresentar o Oscar de Atriz pra evitar algum mal estar por causa de denúncias, duas atrizes vencedoras do Oscar, Jodie Foster e Jennifer Lawrence, foram convocadas para substituí-lo. Provavelmente para não causar nenhuma reclamação, fizeram outra troca: botaram Emma Stone para apresentar Melhor Diretor, e incumbiram Jane Fonda e Helen Mirren para apresentar Melhor Ator para Gary Oldman.
Jodie Foster e Jennifer Lawrence substituíram Casey Affleck na entrega do Oscar de Melhor Atriz (pic by Time Magazine)
Houve também a participação de ativistas no número musical da canção de “Stand Up for Something” do filme Marshall, que inclusive lembrou a encenação de outra música da compositora Diane Warren, “Til it Happens to You”, cantada por Lady Gaga no Oscar de 2016. Assim como naquela ocasião, pelo forte apelo social e étnico, acreditava que venceria como Melhor Canção, mas ficou na boa intenção novamente para Warren.
Contudo, o maior e melhor momento da noite em relação às mulheres, foi a bela homenagem de Frances McDormand, que deixou a estatueta do Oscar que acabara de ganhar no chão, para em seguida pedir para que todas as mulheres que foram indicadas se levantem. “Olhem em volta, damas e cavalheiros, porque todas nós temos histórias para contar e projetos que precisamos de financiamento. Não falem sobre isso nas festas, mas nos convide para seu escritório daqui uns dias ou vocês podem vir para o nosso, o que for melhor, e nós contaremos tudo sobre eles.” – É nessas horas que a gente vê o porquê fizeram questão de entregar um segundo Oscar para Frances: porque ela tem coisas importantes a dizer como representante. Ela termina o discurso com “Tenho duas palavras para deixar com vocês esta noite: inclusion rider” – explicando: “inclusion rider” é uma cláusula contratual que exige que contratem uma equipe mais diversificada. Resumindo: Frances McDormand exige atitude das mulheres para haver reais mudanças, e não apenas agirem como vítimas. Estupendo!
Frances McDormand convoca todas as mulheres a se levantarem no Oscar 2018 (pic by Mark Ralston)
Além do clamor feminino, é inegável o poder dado às minorias latinas, outro alvo ferrenho de Trump. Assim, produções e artistas latinos se destacaram nesta 90ª edição do Oscar. Tivemos o terceiro mexicano premiado como Melhor Diretor (Guillermo del Toro), tivemos a animação Viva: A Vida é uma Festa levando dois Oscars pra casa, e o prêmio para o Chile, cujo filme é protagonizado por uma transsexual (Daniela Vega), além de apresentadores mexicanos como Eugenio Derbez e a bela Eiza González.
E não poderia deixar de citar a comunidade negra (ou afro), que além de comemorar o mega sucesso de bilheteria de Pantera Negra, o primeiro super-herói negro do cinema, pôde celebrar a vitória de Jordan Peele como Melhor Roteiro Original pelo excelente Corra! (que deveria ter levado Melhor Filme).
DE ACORDO COM O SCRIPT
Com tantos prêmios que antecedem o Oscar, fica praticamente impossível de esperar por uma boa surpresa. Sério! Tem tanto prêmio de sindicato que serve de ótimo parâmetro que quase não espaço para vencedores diferentes hoje. Tipo, quem ganha o SAG, dificilmente vai perder o Oscar de ator ou atriz, assim como quem vencer o DGA terá 95% de chance de levar o Oscar de Direção também. Dessa forma, seguindo o exemplo dado, todos os atores e o diretor vencedores se repetiram dos respectivos prêmios dos sindicatos. Honestamente, ainda tinha uma pontinha de esperança de que Laurie Metcalf seria uma das grandes surpresas da noite batendo Allison Janney na categoria de Atriz Coadjuvante, mas ficou na vontade mesmo.
Vencedores das categorias de atuação: Sam Rockwell, Frances McDormand, Allison Janney e Gary Oldman (pic by oscars.org)
Até na categoria de Melhor Filme, que poderia proporcionar uma grande novidade por causa do sistema de votação distinto, esperava-se que haveria uma surpresa que não veio. A Forma da Água já tinha levado o prêmio do sindicato de produtores (PGA).
AS (POUQUÍSSIMAS) SURPRESAS
Para muitos que fizeram bolão e acompanharam o Oscar, a vitória do Chile na categoria de Filme em Língua Estrangeira não foi tão surpreendente assim. Mesmo vendo muitas apostas para Uma Mulher Fantástica, acreditava que o conservadorismo predominante jamais premiaria um filme protagonizado por uma transgênero. Então, foi uma surpresa bem agradável de ver na tela. Trata-se do primeiríssimo Oscar para o nosso país vizinho. Parabéns ao Chile!
Sebástian Lelio discursa em nome do filme Uma Mulher Fantástica (pic by Mark Ralston)
Seguindo pela mesma linha de Filme Estrangeiro, a vitória de “Remember Me” me surpreendeu um pouco. Primeiramente, a animação Viva: A Vida é uma Festa já ganharia o Oscar de Longa de Animação com certeza, então não haveria real necessidade de premiar a canção também. E principalmente porque a música não tinha pegado tanto assim na cabeça quanto “This is Me” (de O Rei do Show), que se tornou uma espécie de hino nas Olimpíadas de Inverno na Coréia do Sul.
Fiquei também um pouco chocado com a derrota dos Efeitos Visuais de Planeta dos Macacos: A Guerrapara Blade Runner 2049. Não que os efeitos do filme de Denis Villeneuve não sejam merecedores de tal honraria, mas como era o terceiro e último filme da trilogia nova de Planeta dos Macacos, das quais todas as partes foram indicados ao prêmio de efeitos visuais, esperava-se um pouco mais de reconhecimento por parte da Academia, inclusive para o ator-símbolo do motion capture, Andy Serkis.
No geral, as estatuetas foram distribuídos de forma uniforme. Pra se ter uma idéia: dos nove filmes indicados a Melhor Filme, sete conquistaram pelo menos um Oscar. As duas únicas exceções foram Lady Bird e The Post: A Guerra Secreta, que saíram de mãos vazias da cerimônia. Enfim, não é possível agradar a todos… No caso de Greta Gerwig, que estava concorrendo como Diretora e Roteirista, não há motivos para reclamar, pois ela teve uma mega-exposição durante toda a cerimônia, e certamente terá inúmeras oportunidades de dar continuidade à sua nova carreira como diretora. Já o filme de Spielberg, nem preciso explicar muito: simplesmente não merecia nem as duas indicações.
DELEITES PESSOAIS
Particularmente, tive um ou outro momento que gostei mais. Primeiro: o Oscar para Roger Deakins. Não apenas pela vitória que veio depois de 14 indicações, mas pelo conjunto da obra também. Deakins é um dos maiores (se não o maior) diretores de fotografia em atividade hoje. Sua qualidade técnica e visão elevam a qualidade de qualquer filme em que estiver envolvido, mesmo que o diretor seja mais inexperiente.
Queria Jordan Peele levando os três Oscars a que estava indicado: Filme, Diretor e Roteiro Original. Levou apenas o último, mas foi uma vitória super merecida, que coroa sua audácia e insistência de fazer um filme corajoso sobre o racismo vivido nos EUA. Corra! se tornou vencedor do Oscar, podendo estampar essa láurea com orgulho nas capas de seus DVDs e Blu-rays, e pode e deve proporcionar projetos super interessantes para Peele nos próximos anos. O cinema e o espectador agradecem.
Jordan Peele agradece pelo Oscar de Roteiro Original (pic by Time Magazine)
VENCEDORES DO 90th ACADEMY AWARDS:
MELHOR FILME * A Forma da Água (The Shape of Water)
MELHOR DIRETOR * Guillermo del Toro (A Forma da Água)
MELHOR ATOR * Gary Oldman (O Destino de uma Nação)
MELHOR ATRIZ * Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)
MELHOR ATOR COADJUVANTE * Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE * Allison Janney (Eu, Tonya)
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL * Jordan Peele (Corra!)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO * James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome)
MELHOR FOTOGRAFIA * Roger Deakins (Blade Runner 2049)
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE * Paul D. Austerberry, Shane Vieau, Jeffrey A. Melvin (A Forma da Água)
MELHOR MONTAGEM * Lee Smith (Dunkirk)
MELHOR FIGURINO * Mark Bridges (Trama Fantasma)
MELHOR MAQUIAGEM E CABELO * Kazuhiro Tsuji, David Malinowski, Lucy Sibbick (O Destino de uma Nação)
MELHOR TRILHA MUSICAL ORIGINAL * Alexandre Desplat (A Forma da Água)
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL * “Remember Me”, de Kristen Anderson-Lopez, Robert Lopez (Viva: A Vida é uma Festa!)
MELHOR SOM * Gregg Landaker, Gary Rizzo, Mark Weingarten (Dunkirk)
MELHORES EFEITOS SONOROS * Richard King, Alex Gibson (Dunkirk)
MELHORES EFEITOS VISUAIS * John Nelson, Ger Jeff White, Scott Benza, Michael MeiardusNefzer, Paul Lambert, Richard R. Hoover (Blade Runner 2049)
MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA * Uma Mulher Fantástica (CHILE)
MELHOR ANIMAÇÃO * Viva: A Vida é uma Festa! (Coco)
MELHOR DOCUMENTÁRIO * Ícaro
MELHOR DOCUMENTÁRIO-CURTA * Heaven is a Traffic Jam on the 405
Um dos vários cartazes da 90ª edição do Oscar com o host Jimmy Kimmel
AINDA SE RECUPERANDO DO #OSCARSSOWHITE, ACADEMIA TENTA LIDAR COM A QUESTÃO DO FEMINISMO E DOS ASSÉDIOS SEXUAIS NESTA 90ª EDIÇÃO
“It’s a wonderful night for Oscar! Oscar! Oscar! Who will win?” – É assim que Billy Crystal sempre abria seus monólogos do Oscar. Que filme vai ganhar? Este ano, o mistério está ainda maior depois da surpresa de Moonlight no ano passado. Afinal, que mensagem a Academia quer passar este ano? Ou seria apenas uma questão de sistema de votação?
Pra quem acompanhou as notícias de Hollywood em 2017, as denúncias de assédio e abuso predominaram as manchetes, causando um enorme rebuliço e até a expulsão do produtor e lobbista do Oscar, Harvey Weinstein. Com isso, todas as mulheres que trabalham na indústria reagiram ferozmente e levantaram a bandeira do movimento Time’s Up por uma indústria mais segura e igualitária para o sexo feminino. Há poucos dias, foi anunciado que a cerimônia do Oscar dedicará um momento para o movimento tamanha sua repercussão.
Pra ser bem sincero, estou com receio de que se Lady Bird, único representante entre os nove indicados a Melhor Filme dirigido por uma mulher, não levar nenhum prêmio, as ativistas subam ao palco e causem destruição em massa! Mas, brincadeiras à parte, o Oscar deste ano está bastante dividido, especialmente entre quatro filmes: Três Anúncios Para um Crime, A Forma da Água, Corra! e Lady Bird, algo muito raro em anos recentes do evento. Com isso, espera-se que novamente o anúncio de Melhor Filme seja o mais esperado da noite, que curiosamente, contará novamente com a dupla de atores Warren Beatty e Faye Dunaway, que protagonizaram a gafe do envelope.
Volta tudo: Faye Dunaway e Warren Beatty querem se redimir da gafe do envelope errado (pic US Weekly)
Falando em apresentadores, a Academia anunciou listas dos encarregados da tarefa. Assim como o momento pede, são nomes bem diversos que vão dos mais famosos como Viola Davis e Emma Stone até desconhecidos do grande público como Kumail Nanjiani, Eiza González e Eugenio Derbez. De estrelas de outras épocas como Jane Fonda, Rita Moreno e Eva Marie Saint até as recentes como Gal Gadot, Ansel Elgort e Oscar Isaac.
HOST PELA SEGUNDA VEZ: JIMMY KIMMEL
Assim que confirmaram que Jimmy Kimmel seria host novamente, tive a impressão de que estavam tentando compensá-lo pela lambança do envelope do ano passado, afinal, ser host quando tudo corre bem é uma coisa, agora ser host quando rola uma gafe enorme dessas, precisa ter muita calma e sangue frio para contornar a situação.
Mas deixando essa lambança de lado, Kimmel fez um bom trabalho como host, desde seu monólogo de abertura, apontando críticas políticas a Trump, até sua interação com algumas celebridades na platéia, com direito a doces jogados com mini-pára-quedas. Porém pecou com seu quadro de “pegadinha” com os turistas, que adentraram o Dolby Theater ao vivo e interagiram eternamente com alguns atores na primeira fileira. Aquilo custou um tempo precioso e não funcionou.
E continuo com a minha campanha para a volta de Jon Stewart como host em 2019, ou a estréia de Jim Carrey. Seria fantástico! Mas até lá, vou torcer para que Jimmy faça uma ótima apresentação e eleve a audiência em decadência do Oscar.
A 90ª EDIÇÃO DO OSCAR: O QUE PODE ACONTECER
Nesta edição especial de 90 anos do Oscar, podemos presenciar momentos históricos como o primeiro Oscar para Roger Deakins após 14 indicações. Outros momentos podem acontecer sobre o palco e que podem fazer história: primeira vitória de um diretor negro (se Jordan Peele levar por Corra!), primeira vitória de uma pessoa transgênero (se Yance Ford levar Melhor Documentário por Strong Island), primeira mulher negra a ganhar o Oscar de Roteiro Adaptado (se Dee Rees levar por Mudbound), primeira mulher a vencer Melhor Fotografia (se Rachel Morrison ganhar por Mudbound), a vencedora mais velha a ganhar o Oscar (se Agnès Varda conquistar Melhor Documentário por Visages, Villages aos 89 anos), o vencedor mais velho nas categorias de atuação (se Christopher Plummer receber seu segundo Oscar por Todo o Dinheiro do Mundo aos 88 anos), vencedor mais novo de Melhor Ator (se Timothée Chalamet ganhar por Me Chame Pelo Seu Nome aos 22 anos), primeiro ator a ganhar 4 estatuetas de Melhor Ator (se Daniel Day-Lewis vencer por Trama Fantasma).
MELHOR FILME
Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name)
O Destino de uma Nação (Darkest Hour)
Dunkirk (Dunkirk)
Corra! (Get Out)
Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird)
Trama Fantasma (Phantom Thread)
The Post: A Guerra Secreta (The Post)
A Forma da Água (The Shape of Water)
Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)
DEVE GANHAR:A Forma da Água DEVERIA GANHAR: Corra! ZEBRA: The Post: A Guerra Secreta
ESNOBADO: Projeto Flórida
Embora A Forma da Água tenha ganhado os principais prêmios da temporada que indicam forte favoritismo como o PGA (sindicato de produtores), a corrida está bem aberta nesta categoria, principalmente por causa do sistema de votação que permite que filmes “rankiados” na média possam ultrapassar os melhores posicionados como aconteceu ano passado com Moonlight. Além disso, nesta era politicamente correta, pesa bastante a mensagem que a Academia quer passar com seu vencedor de Melhor Filme.
E nesse quesito, Três Anúncios Para um Crime é o que mais se aproxima pela temática da impunidade relacionado a crimes sexuais. Logo em seguida, viria Lady Bird, por ser o único aqui dirigido e escrito por uma cineasta mulher (Greta Gerwig). Contudo, a meu ver, pelo sistema de votação, acredito no potencial de Corra! surpreender na noite e ser coroado o Melhor Filme do Ano, até porque é o melhor filme (e mais ousado) e se ganhar, ninguém ficaria insatisfeito.
Particularmente, adoraria também que Trama Fantasma fosse o coelho da cartola, mas acho muito pouco provável sua vitória, mesmo que seu diretor, Paul Thomas Anderson, seja finalmente reconhecido na categoria de Diretor.
A seguir, vou comentar um pouco de cada um dos nove filmes indicados. Eles estão listados por ordem de preferência pessoal, do pior para o melhor:
THE POST: A GUERRA SECRETA
Em poucas palavras: o pior filme de Spielberg em décadas. Nitidamente, vemos que ele fez o filme nas coxas, não tendo o costumeiro cuidado que ele tem em filmes históricos. Tudo isso pra poder aproveitar o momento de crítica ao governo Trump que é contra a liberdade de imprensa. Assim, faltou emoção, faltou catarse, faltou empatia com qualquer personagem, faltou praticamente tudo. Nem Meryl Streep merecia indicação…
O DESTINO DE UMA NAÇÃO
Joe Wright se consagrou com Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação, dois filmes de época. Mas, este O Destino de uma Nação não tem a mesma leveza dos filmes anteriores. É pesado, repleto de diálogos, monólogos e preso demais aos fatos históricos. Embora tenha um visual interessante pela fotografia de Bruno Delbonnel, Wright entrega uma cinebiografia quadrada que outros diretores menos talentosos poderiam entregar.
DUNKIRK
No geral, não achei que a ausência de um protagonista tenha funcionado, mesmo entendendo os motivos para isso. Porém, o que mais valorizo em Dunkirk é um amadurecimento de Christopher Nolan. Se antes ele fazia filmes extremamente verborrágicos e didáticos, ele procurou fazer justamente o oposto neste trabalho: poucos diálogos e menos explicações. E ele é um dos poucos diretores que sempre buscam fazer algo novo e feito para ser visto numa sala de cinema, de preferência com as caixas de som “bombando”.
LADY BIRD
Pra quem já assistiu aos filmes de John Hughes, que dissecou como poucos o universo juvenil, conferir Lady Bird parece mais uma versão com a geração dos anos 90. Aqui temos uma jovem perdida em seus sonhos enquanto luta para entender sua realidade. Honestamente, não entendi o alvoroço em volta do nome de Greta Gerwig, mas por causa de alguns momentos do filme, como a cena na loja de departamentos, é possível ver um futuro promissor na carreira dela.
TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME
Pra quem tem humor negro e aprecia algumas coisas absurdas e non-sense, Três Anúncios soa como um respiro de originalidade no cenário. Embora tenha defeitos no roteiro e arcos um pouco difíceis de engolir, o filme de Martin McDonagh pegou carona no momento pró-feminismo ao abordar a história de uma mulher que busca justiça no caso não solucionado do assassinato de sua filha.
A FORMA DA ÁGUA
Versão romântica e com final feliz de O Monstro da Lagoa Negra (1954). Guillermo del Toro concebe uma visão bastante romântica dessa história de amor inter-racial (?) entre uma mulher muda e uma criatura aquática presa. Claro que você consegue enxergar sob um viés político se trocarmos a muda por uma americana e a criatura por um mexicano sendo deportado por Trump, mas consigo ver mais como uma grande história de redenção de excluídos da sociedade: além da muda e da criatura, temos um homossexual idoso e uma faxineira negra.
ME CHAME PELO SEU NOME
Pra ser bem honesto, nunca pensei que este filme chegaria à festa do Oscar. Não que seja um filme ruim ou não merecedor de tamanha atenção, mas a Academia dificilmente reconhece produções com aspecto mais europeu e dirigido por um italiano (Luca Guadagnino). Mas essa história de um caso amoroso entre dois jovens conquistou o público, especialmente com o monólogo de encerramento por Michael Stuhlbarg. Assim como em outros filmes de Guadagnino, ele toma o tempo necessário para você entrar naquele universo e também utiliza metáforas que o cinema americano não usaria.
TRAMA FANTASMA
Quando se assiste ao trailer deste filme, não se cria expectativa alguma, pra não dizer que cria ânimo para vê-lo. Mas não estamos falando de qualquer cineasta, mas de Paul Thomas Anderson, um cineasta que parece à prova de filmes ruins em sua cinematografia. Aqui ele faz um belíssimo estudo das relações humanas através de dois personagens de comportamentos desagradáveis e que precisam aprender a lidar um com o outro. Além de todos os atores em sintonia e em estado de graça, a trilha de Jonny Greenwood acentua as cenas e concede um tom clássico ao filme. Em Trama Fantasma, existem tantas nuances que é impossível apreciar tudo numa única sessão.
CORRA!
Quantos filmes você já não assistiu com a temática do racismo? Inúmeros, certo? Todos se tornam clichês se comparados à trama de Jordan Peele em Corra!. Colocar dois personagens discutindo e se xingando por causa da cor da pele é coisa de amadores. Peele se utiliza de convenções sociais para gerar um impasse entre um rapaz negro e a família branca de sua namorada. Jordan não apenas atualiza o filme de Sidney Poitier, Adivinhe Quem Vem Para Jantar, mas consegue atingir as vísceras do racismo.
MELHOR DIRETOR
Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma)
Guillermo del Toro (A Forma da Água)
Greta Gerwig (Lady Bird: A Hora de Voar)
Christopher Nolan (Dunkirk)
Jordan Peele (Corra!)
Jordan Peele (Corra!) pic by moviepilot.de
DEVE GANHAR: Guillermo del Toro (A Forma da Água) DEVERIA GANHAR: Jordan Peele (Corra!) ZEBRA: Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma)
ESNOBADO: Sean Baker (Projeto Flórida)
É muito raro na história da Academia, o diretor que levou o prêmio do sindicato de diretores (DGA) não levar a estatueta do Oscar em seguida. Mais especificamente, esse fato ocorreu apenas sete vezes, portanto, o mexicano Guillermo del Toro já é tecnicamente o vencedor. Se confirmado esse reconhecimento, ele será o terceiro mexicano a vencer nesta categoria em menos de dez anos (!), seguido por Alfonso Cuarón e Alejandro G. Iñárritu. Dá-lhe, México!
Del Toro consegue criar esse universo de fantasia com atmosfera bem romântica, calcada na ótima trilha de Alexandre Desplat, na direção de arte, na fotografia e nas referências cinematográficas, ficando impossível de não reconhecer como um filme dele. Mas pra mim, Jordan Peele fez tudo isso e teve a ousadia que faltou para os outros: ele teceu uma crítica racial formidável em forma de filme de terror e ficção científica como grandes mestres fizeram no passado como John Carpenter. Nem ligo pra essa coisa de primeiro diretor negro a ganhar o Oscar, e ficarei extremamente feliz se ele ganhar.
MELHOR ATOR
Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)
Daniel Day-Lewis (Trama Fantasma)
Daniel Kaluuya (Corra!)
Gary Oldman (O Destino de uma Nação)
Denzel Washington (Roman J. Israel, Esq.)
Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)
DEVE GANHAR: Gary Oldman (O Destino de uma Nação) DEVERIA GANHAR: Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome) ZEBRA: Denzel Washington (Roman J. Israel, Esq.)
ESNOBADO: James Franco (O Artista do Desastre), Robert Pattinson (Bom Comportamento)
Ok, que Gary Oldman é um dos melhores atores de sua geração não há dúvida ou discordância, mas é realmente toda essa unanimidade por O Destino de uma Nação? Sabemos que a fórmula das cinebiografias aliada a uma boa maquiagem já proporciona ótima vantagem no Oscar, mas toda vez que via Oldman dando berros como Winston Churchill, achava que estava beirando o caricato. De novo: eu entendo que isso vende no Oscar e que ele merece um Oscar pela carreira, mas e como fica Timothée Chalamet, que entregou a melhor performance masculina do ano? Espera ele ser indicado por um filme bobo e dar o Oscar pra compensar por essa derrota? Ok, o Oscar pode ser prematuro e estragar a carreira dele se formos pensar em consequências pessimistas, mas ele merece pela naturalidade de suas expressões, diálogos e mudança de idiomas.
Dois adendos rápidos: Daniel Day-Lewis traz novamente uma ótima performance. É doloroso saber que este pode ser seu último filme, já que anunciou aposentadoria. Mas nem por isso, apoio votação nele porque vai se retirar do cinema, mas pela performance em si, repleta de nuances.
E o que dizer de James Franco fora da corrida por causa de denúncias? Justo? Injusto? Foi realmente uma pena ele ser excluído por esse motivo. Sua interpretação-imitação de Tommy Wiseau é excelente, e o filme O Artista do Desastre se baseia demais na atuação dele. Ah, e se tivesse que exclui-lo mesmo, poderiam tê-lo substituído por algum material mais fresco como Robert Pattison em Bom Comportamento.
MELHOR ATRIZ
Sally Hawkins (A Forma da Água)
Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)
Margot Robbie (Eu, Tonya)
Saoirse Ronan (Lady Bird: A Hora de Voar)
Meryl Streep (The Post: A Guerra Secreta)
Sally Hawkins (A Forma da Água) pic by cine.gr
DEVE GANHAR: Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime) DEVERIA GANHAR: Sally Hawkins (A Forma da Água) ZEBRA: Meryl Streep (The Post: A Guerra Secreta)
ESNOBADO: Brooklynn Prince (Projeto Flórida), Daniela Vega (Uma Mulher Fantástica)
Certamente foi um ano excepcional para as atrizes. E esse movimento Time’s Up pode e deve proporcionar mais papéis de protagonismo para elas, o que me agrada muito devido à atual escassez de papéis mais interessantes no cinema (porque na TV tem sobrando…). Pra quem acompanhou a temporada, Frances McDormand já levou esse Oscar. Mas devo lembrar que este será seu segundo Oscar, e poucas atrizes conseguiram esse feito. Muitos votantes utilizam esse critério na hora de votar: “Fulana já ganhou antes”. E curiosamente, o papel de Midred Hayes muito lembra a policial Marge Gundersson de Fargo. Particularmente, não vi nenhuma interpretação nova na carreira de McDormand. Pra mim, ela ganhará por puro carisma e torcida.
Das indicadas, a melhor performance foi de Sally Hawkins. E não é só porque ela interpreta uma mulher muda, e teve que aprender linguagem de sinais. Não. Ela consegue personificar uma mulher solitária que se apaixona e nunca desiste de uma vida melhor. Quem consegue fingir amor por um ser aquático sem cair no ridículo? Hawkins consegue e com certa ousadia, pois não teme expôr sua nudez e desejo carnal.
Não me entendam mal. Sou fã de Meryl Streep, tanto que assisti The Post só por causa dela no cinema. Contudo, mais uma vez, ela não mereceu uma nova indicação. Tudo bem que ela consegue dar maior profundidade à sua personagem que vive num universo masculino, mas o filme não ajuda em nenhum momento. Não sou muito a favor de indicar crianças por causa das altas expectativas, mas trocaria fácil Meryl Streep pela pequena-prodígio Brooklynn Prince de Projeto Flórida, ou a atriz chilena Daniela Vega por Uma Mulher Fantástica. E não, não estou selecionando por ser transgênero, mas pela performance corajosa mesmo.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Willem Dafoe (Projeto Flórida)
Woody Harrelson (Três Anúncios Para um Crime)
Richard Jenkins (A Forma da Água)
Christopher Plummer (Todo o Dinheiro do Mundo)
Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)
Willem Dafoe (Projeto Flórida)
DEVE GANHAR: Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime) DEVERIA GANHAR: Willem Dafoe (Projeto Flórida) ZEBRA: Woody Harrelson (Três Anúncios Para um Crime)
ESNOBADO: Steve Carell (A Guerra dos Sexos)
Das categorias de atuação, é a que menos me agrada. Mas confesso que não assisti a Todo o Dinheiro do Mundo, então vou deixar o Christopher Plummer longe da crítica. Dos quatro, todos têm alguma deficiência, seja de interpretação ou de profundidade de papel. Por exemplo, Sam Rockwell está bem, mas o arco de seu personagem com essa suposta redenção não rolou pra mim. Já Willem Dafoe é a performance que mais me agrada, porém sinto que faltou uma cena que pudesse entregar um pouco mais sobre quem era seu personagem ou como ele chegou ali. Mas resumindo: adoraria ver o Dafoe ganhar.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Mary J. Blige (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi)
Allison Janney (Eu, Tonya)
Lesley Manville (Trama Fantasma)
Laurie Metcalf (Lady Bird: A Hora de Voar)
Octavia Spencer (A Forma da Água)
Laurie Metcalf (Lady Bird) pic by cine.gr
DEVE GANHAR: Allison Janney (Eu, Tonya) DEVERIA GANHAR: Laurie Metcalf (Lady Bird) ZEBRA: Octavia Spencer (A Forma da Água)
ESNOBADO: Holly Hunter (Doentes de Amor)
Sou meio suspeito pra falar de Holly Hunter, porque costumo gostar de quase tudo o que ela faz, inclusive como dubladora em Os Incríveis, mas a interpretação dela em Doentes de Amor faz toda a diferença para a personagem dela, que poderia muito bem ser esquecível se fosse outra atriz. Holly cria alguns maneirismos e tiques para sua personagem sem gerar alarde exagerado. Prefiro ela a Octavia Spencer que, apesar de fazer uma personagem de alívio cômico em A Forma da Água, parece repetir o mesmo personagem em todo novo trabalho.
Pra mim, a grande atuação de coadjuvante deste ano é de Laurie Metcalf. Ela não usa maquiagem transformadora, não apresenta sotaques de caipira, nem tem cenas de gritaria, porque não precisa disso para mostrar suas habilidades naturais de interpretação. Ela faz a aquela mãe que toda adolescente já teve, que guarda para si suas dores e sonhos, é protetora e zela pelo bem-estar dos filhos. Se Lesley Manville ganhar, também seria um Oscar mais do que merecido. E se Allison Janney ganhar por Eu, Tonya, será a confirmação de que maquiagem e papel excêntrico sempre ganham.
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Kumail Nanjiani, Emily V. Gordon (Doentes de Amor)
Jordan Peele (Corra!)
Greta Gerwig (Lady Bird: A Hora de Voar)
Guillermo del Toro, Vanessa Taylor (A Forma da Água)
Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime)
Cena de Corra! (pic by cine.gr)
DEVE GANHAR: Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime) DEVERIA GANHAR: Jordan Peele (Corra!) ZEBRA: Kumail Nanjiani, Emily V. Gordon (Doentes de Amor)
ESNOBADO: Adrian Molina, Matthew Aldrich (Viva: A Vida é uma Festa)
Provavelmente o Oscar que deve definir qual filme leva o maior prêmio da noite: Melhor Filme. Se Jordan Peele levar, Corra! deve ganhar Filme, Greta Gerwig com Lady Bird e Martin McDonagh com Três Anúncios. Esperamos que Jordan Peele vença aqui pela sua originalidade, claro.
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome)
Scott Neustadter, Michael H. Weber (O Artista do Desastre)
Scott Frank, James Mangold, Michael Green (Logan)
Aaron Sorkin (A Grande Jogada)
Dee Rees, Virgil Williams (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi)
Cena de Me Chame Pelo Seu Nome
DEVE GANHAR: James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome) DEVERIA GANHAR: James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome) ZEBRA: Aaron Sorkin (A Grande Jogada)
Quando o votante encarar essa categoria na cédula de votação, ele deve pensar: “Logan? Oscar para quadrinhos? Nem pensar… O Artista do Desastre? Depois de tantas denúncias… Aaron Sorkin não ganhou uns anos atrás por Rede Social? Mudbound… não vi! Não quero dar roteiro para Me Chame Pelo Seu Nome, mas é melhorzinho aqui e leva pelo menos um prêmio.” Resumindo a ópera, não há competição contra o roteiro de James Ivory, que aliás, foi indicado três vezes como diretor e nunca levou. Só espero que Timothée Chalamet esteja por perto para ajudá-lo a subir no palco como fez no WGA.
MELHOR FOTOGRAFIA
Roger Deakins (Blade Runner 2049)
Bruno Delbonnel (O Destino de uma Nação)
Hoyte Van Hoytema (Dunkirk)
Rachel Morrison (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi)
ESNOBADO: Sayombhu Mukdeeprom (Me Chame Pelo Seu Nome)
Depois de “apenas” 14 indicações, finalmente parece ter chegado a vez de Roger Deakins subir ao palco. Mas engana-se aquele que pensa que o diretor de fotografia está sendo reconhecido pelo conjunto da obra, como em muitos casos, mas pelo trabalho excepcional no visual de Blade Runner 2049. Como já citei aqui em posts anteriores, era um desafio enorme fazer a fotografia desta sequência do cultuado original de 1982, Blade Runner: O Caçador de Andróides, pois era necessário respeitar a identidade visual criada por Jordan Cronenweth (diretor de fotografia) e ainda criar sua própria. Um Oscar para Deankins mataria três coelhos numa só cajadada: seria uma forma de reconhecer o filme original de 1982 (que não levou nada na época), de reconhecer esta sequência bastante elogiada pela crítica, e de reconhecer o trabalho de um dos maiores diretores de fotografia das últimas décadas.
MELHOR MONTAGEM
Paul Machliss, Jonathan Amos (Em Ritmo de Fuga)
Lee Smith (Dunkirk)
Tatiane S. Riegel (Eu, Tonya)
Sidney Wolinsky (A Forma da Água)
Jon Gregory (Três Anúncios Para um Crime)
Cena de Dunkirk (pic by cine.gr)
DEVE GANHAR: Dunkirk DEVERIA GANHAR: Dunkirk ZEBRA: Três Anúncios Para um Crime
ESNOBADO: Ronald Bronstein, Benny Safdie (Bom Comportamento)
Lee Smith deveria ganhar só por ter editado um filme do Christopher Nolan com menos de duas horas de duração! Há quanto tempo você não via um filme do diretor tão econômico na duração? Mas além do tempo, a edição de Lee Smith conseguiu gerar tensão do início ao fim, seja na praia, na embarcação ou dentro do avião pilotado por Tom Hardy. Vale lembrar que o montador foi previamente indicado duas vezes, mas nunca levou.
Como o BAFTA anda prevendo os vencedores de Montagem (previu a vitória de Whiplash e Até o Último Homem), pode ser que Em Ritmo de Fuga conquiste seu Oscar também. E pra mim, uma montagem que ficou faltando aqui foi do independente Bom Comportamento.
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
Sarah Greenwood, Katie Spencer (A Bela e a Fera)
Dennis Gassner, Alessandra Querzola (Blade Runner 2049)
Sarah Greenwood, Katie Spencer (O Destino de uma Nação)
Nathan Crowley, Gary Fettis (Dunkirk)
Paul D. Austerberry, Shane Vieau, Jeffrey A. Melvin (A Forma da Água)
Cena de Blade Runner 2049
DEVE GANHAR: A Forma da Água DEVERIA GANHAR: Blade Runner 2049 ZEBRA: A Bela e a Fera
ESNOBADO: Assassinato no Expresso Oriente
Tenho uma dura crítica a fazer em relação a Direção de Arte e Figurino. Fui contra à decisão da Academia de indicar o filme A Bela e a Fera em ambas as categorias, porque são Production Design e Costume Design, ou seja, estão reconhecendo o design desses dois setores. E o grande problema é que essas versões live-action das animações da Disney copiam tudo dos originais; não apenas o roteiro, mas os cenários e os figurinos. Se queriam premiar o design mesmo, tinham que premiar os artistas das animações. E isso é extremamente preocupante porque a Disney está filmando uma série de versões live-action como Mulan e O Rei Leão.
Enfim, após esse breve desabafo, a competição está acirrada entre Blade Runner 2049 e A Forma da Água, pois ambos saíram vencedores no prêmio do sindicato de Diretores de Arte. O primeiro venceu como Fantasia, e o segundo levou como Filme de Época. Qualquer um vencendo o Oscar, será um prêmio bem dado e merecido. Contudo, acredito que A Forma da Água leva pra ganhar aquela “gordurinha” proporcional às 13 indicações.
MELHOR FIGURINO
Jacqueline Durran (A Bela e a Fera)
Jacqueline Durran (O Destino de uma Nação)
Mark Bridges (Trama Fantasma)
Luis Sequeira (A Forma da Água)
Consolata Boyle (Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha)
Cena de Trama Fantasma com Vicky Krieps (pic by outnow.ch)
DEVE GANHAR: Trama Fantasma DEVERIA GANHAR: Trama Fantasma ZEBRA: Victoria e Abdul
ESNOBADO: Alexandra Byrne (Assassinato no Expresso Oriente)
Acho que ninguém tira esse segundo Oscar de Mark Bridges (ele venceu por O Artista). Vamos aos fatos: Trama Fantasma é um filme sobre roupas e moda. Quando as vestimentas são importantes para a trama, costuma ganhar muitos pontos. Foi assim que Memórias de uma Gueixa, A Jovem Rainha Vitória e A Duquesa levaram seus Oscars de Figurino.
A única concorrente que pode ameaçar o favoritismo de Bridges é Jacqueline Durran, que este ano concorre com dois filmes: A Bela e a Fera e O Destino de uma Nação, ou seja, os votos dela certamente vão se dividir e possibilitar ainda maior vantagem de favorito.
MELHOR MAQUIAGEM E CABELO
Arjen Tuiten (Extraordinário)
Kazuhiro Tsuji, David Malinowski, Lucy Sibbick (O Destino de uma Nação)
Daniel Phillips, Loulia Sheppard (Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha)
Jacob Tremblay em cena de Extraordinário (pic by cine.gr)
DEVE GANHAR: O Destino de uma Nação DEVERIA GANHAR: Extraordinário ZEBRA: Victoria e Abdul
ESNOBADO: Eu, Tonya
Não é a primeira vez que falo isso aqui no blog, mas eu sinto falta daqueles filmes de criaturas como Um Lobisomem Americano em Londres e A Mosca, em que o excepcional trabalho de maquiagem de transformação era de encher os olhos. Infelizmente, com o passar do tempo, esse talento foi cada vez mais desvalorizado por produtores de Hollywood, que queriam reduzir custos e fazer tudo numa computação gráfica barata.
Dos três indicados, não gosto de nenhum de fato. Mas me parece que a maquiagem de Extraordinário está melhor executada e a interpretação do jovem Jacob Tremblay consegue se destacar mesmo debaixo dela. Já a maquiagem de O Destino de uma Nação não está ruim, mas fica mais perceptível de que é uma pessoa maquiada pra ficar mais velha.
Eu tiraria Victoria e Abdul da jogada e o substituiria por Eu, Tonya. Acredito que sua maquiagem consegue caracterizar melhor as personagens no melhor estilo início dos anos 90, e a performance de Allison Janney muito se deve à maquiagem, e o processo de “enfeiamento” de Margot Robbie também contribui com o aspecto biográfico.
MELHOR TRILHA MUSICAL ORIGINAL
Hans Zimmer (Dunkirk)
Jonny Greenwood (Trama Fantasma)
Alexandre Desplat (A Forma da Água)
John Williams (Star Wars: Os Últimos Jedi)
Carter Burwell (Três Anúncios Para um Crime)
Vicky Krieps e Daniel Day-Lewis em cena de Trama Fantasma (pic by cineimage.ch)
DEVE GANHAR: A Forma da Água DEVERIA GANHAR:Trama Fantasma ZEBRA: Três Anúncios Para um Crime
ESNOBADO: Michael Abels (Corra!), Daniel Lopatin (Bom Comportamento), Michael Giacchino (Planeta dos Macacos: A Guerra)
Vamos ser honestos? Não tem trilha mais bela deste ano do que a de Jonny Greenwood. Suas composições são tão bonitas e clássicas que também podem muito bem ser apreciadas além do filme Trama Fantasma. Sua parceria com o diretor Paul Thomas Anderson já deveria ter rendido um Oscar pelo menos, principalmente por Sangue Negro, portanto sua primeira indicação é mais do que merecida.
Contudo, a trilha de Alexandre Desplat pontua tão bem a atmosfera fantasiosa e lúdica de A Forma da Água, que é praticamente impossível de não conceder um segundo Oscar para o compositor francês. Sua composição aqui se utiliza de sons que remetem ao universo aquático, e a Academia adora sons bem específicos que destacam a trilha nos filmes.
Não desmerecendo o trabalho de Carter Burwell, e nem de John Williams, mas eu os substituiria pelo frescor das trilhas de Michael Abels e Daniel Lopatin. O primeiro criou uma música sensacional para a atmosfera de estranhamento de Corra!, principalmente para as sequências de hipnose. Já o segundo coordenou o ritmo frenético e empolgante de Bom Comportamento. Duas ausências injustificáveis.
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
“Mighty River” (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi)
“Mystery of Love” (Me Chame Pelo Seu Nome)
“Remember Me” (Viva: A Vida é uma Festa)
“Stand Up for Something” (Marshall)
“This is Me” (O Rei do Show)
DEVE GANHAR: “This is Me” DEVERIA GANHAR: “This is Me” ZEBRA: “Stand Up for Something”
ESNOBADO: “Visions of Gideon” (Me Chame Pelo Seu Nome)
Esses dias atrás, quando vi Mudbound, pensei: “A Mary J. Blige está bem como atriz, mas pouca gente está falando dela. Quem sabe ela não surpreende na categoria de Canção?” A música “Mighty River” não é tão empolgante, mas caiu bem no filme de Dee Rees. Será que vão compensar a artista e o filme?
A única chance disso acontecer é se os votos de “Remember Me” e “This is Me” se dividirem. Particularmente, vejo “This is Me” como a grande favorita, especialmente pelo “making of” divulgado no YouTube (link acima), mas a canção também é de extrema importância para a trama de Viva: A Vida é uma Festa. O grande contra de O Rei do Show é que só foi indicado para Canção.
Só um adendo: a canção “Stand Up for Something” é a nona indicação da ótima compositora Diane Warren, responsável por grandes hits como “Because You Loved Me”, “How do I Live” e “I Don’t Want to Miss a Thing”. Infelizmente, acho bem improvável sua vitória aqui, mas acredito que ela vai acabar ganhando seu Oscar com direito a uma salva de palmas de pé do público.
MELHOR SOM
Em Ritmo de Fuga
Blade Runner 2049
Dunkirk
A Forma da Água
Star Wars: Os Últimos Jedi
Cena de Dunkirk (pic by cine.gr)
DEVE GANHAR:Dunkirk DEVERIA GANHAR: Dunkirk ZEBRA: A Forma da Água
Normalmente, a regra que funciona nesta categoria é: o filme mais barulhento ganha. Então sempre temos filmes de guerra e ação aqui. Só para citar vencedores mais recentes: Até o Último Homem e Mad Max: Estrada da Fúria. Este ano, o candidato que mais se encaixa nesse perfil é Dunkirk, que apresenta sons de tiros, explosões, barcos, aviões, enfim, um festival sonoro pra quem viu numa sala de cinema de boa qualidade como o IMAX. Existe uma chance mínima de Em Ritmo de Fuga surpreender aqui, mas como disse, mínima.
MELHORES EFEITOS SONOROS
Em Ritmo de Fuga
Blade Runner 2049
Dunkirk
A Forma da Água
Star Wars: Os Últimos Jedi
Cena de Tom Hardy em Dunkirk (pic by cine.gr)
DEVE GANHAR: Dunkirk DEVERIA GANHAR: Dunkirk ZEBRA: A Forma da Água
Richard King é o grande nome desta categoria. É um senhorzinho de óculos que consegue recriar em estúdio os melhores efeitos sonoros da atualidade. Foi assim que ele ganhou dois Oscars por Mestre dos Mares e Batman: O Cavaleiro das Trevas. Essa sua parceria com o diretor Christopher Nolan lhe proporciona sempre novos desafios com grandes potenciais para o Oscar. Esse seu novo trabalho em Dunkirk é fenomenal! Seu design de som é o grande responsável pela tensão contínua do filme, e não a trilha musical de Hans Zimmer, como muitos creditam.
MELHORES EFEITOS VISUAIS
Blade Runner 2049
Guardiões da Galáxia Vol. 2
Kong: A Ilha da Caveira
Planeta dos Macacos: A Guerra
Star Wars: Os Últimos Jedi
Andy Serkis como Caesar em Planeta dos Macacos: A Guerra (pic by moviepilot.de)
DEVE GANHAR: Planeta dos Macacos: A Guerra DEVERIA GANHAR: Planeta dos Macacos: A Guerra ZEBRA: Kong: A Ilha da Caveira
Apesar de Blade Runner 2049 ser praticamente uma criação toda feita em computação gráfica, não há outro trabalho mais bem feito e bem integrado aos atores do que Planeta dos Macacos: A Guerra. Muitos podem defender que se ganhar o Oscar, será pra compensar a falta de estatuetas por toda a trilogia, mas a verdade é que o segundo filme já deveria ter sido premiado antes. E isso só aumenta as chances deste terceiro e último ato. Além disso, uma vitória nesta categoria, valoriza, e muito, os esforços descomunais do ator Andy Serkis, responsável por outras criaturas digitais como o Gollum e King Kong.
MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
Corpo e Alma
O Insulto
Sem Amor
The Square: A Arte da Discórdia
Uma Mulher Fantástica
Daniela Vega em cena de Uma Mulher Fantástica (pic by cine.gr)
DEVE GANHAR: The Square DEVERIA GANHAR: Uma Mulher Fantástica ZEBRA: Corpo e Alma
ESNOBADO: Em Pedaços (ALEMANHA)
O fato mais curioso desta categoria é que o favorito até as indicações ao Oscar era o alemão Em Pedaços, de Fatih Akin, que levou o Globo de Ouro e o Critics’ Choice Awards, mas todo esse histórico vitorioso se esvaiu quando ficou de fora da lista oficial. E agora? Qual era o segundo favorito? Muitos estão defendendo que o Chile vencerá seu primeiro Oscar com Uma Mulher Fantástica, mas tenho minhas dúvidas por causa do alto conservadorismo dos votantes, que não vêem com muito bons olhos esse universo LGBT do filme. Claro que adoraria estar enganado e ver Sebastián Lélio no palco, mas acho que o representante sueco, The Square, tem mais chances por ter vencido a Palma de Ouro em Cannes e por abordar o universo das Artes e exposições.
MELHOR LONGA DE ANIMAÇÃO
Com Amor, Van Gogh
O Poderoso Chefinho
O Touro Ferdinando
The Breadwinner
Viva: A Vida é uma Festa
Cena da animação da Pixar, Viva: A Vida é uma Festa
DEVE GANHAR: Viva: A Vida é uma Festa DEVERIA GANHAR: Viva: A Vida é uma Festa ZEBRA: O Touro Ferdinando
ESNOBADO: Mary and the Witch’s Flower
Uma das categorias mais sem surpresa do ano é esta. O novo filme da Pixar, Viva: A Vida é uma Festa, é uma obra visualmente impecável, tem um excelente timing político, já que aborda e homenageia a cultura mexicana (Trump quer construir o muro na fronteira do México) e ainda tem um forte elemento emocional nas últimas cenas que dificilmente não conquista o votante. Depois de ganhar seu primeiro Oscar pelo excelente Toy Story 3, o diretor Lee Unkrich demonstra que tem muito talento para criação também, algo que o estúdio estava precisando urgentemente após tantas sequências. Só não gostei do título brasileiro, mas ao mesmo tempo, entendo o porquê de abandonarem o título original Coco.
Achei bacana ver o cineasta brasileiro Carlos Saldanha novamente indicado ao Oscar (ele havia sido indicado pelo curta Gone Nutty em 2004), mas seu filme aqui nesta categoria é o azarão.
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Abacus: Pequeno o Bastante Para Condenar
Visages Villages
Strong Island
Ícaro
Últimos Homens em Aleppo
Cena de Visages Villages com JR e Agnès Varda (pic by cine.gr)
DEVE GANHAR: Últimos Homens em Aleppo DEVERIA GANHAR: Visages Villages ZEBRA: Abacus: Pequeno o Bastante Para Condenar
ESNOBADO: Jane
A grande questão desta categoria é: será que Agnès Varda, que recebeu o Oscar Honorário em novembro, vai ganhar seu primeiro Oscar competitivo? Acredito que seria o primeiro caso nos 90 anos da Academia: um homenageado ganhar no mesmo ano uma estatueta. A verdade é que o documentário dela, feito com JR, Visages Villages, é um tocante retrato de pessoas comuns da França. Como num road movie, a cineasta busca histórias de vida enquanto o artista tira fotos das pessoas e as cola em muros, casas e monumentos. O resultado visual é impressionante.
Dentre os excluídos desta lista, destaco o documentário da cientista Jane Goodall, que fez carreira cuidando de chimpanzés. O filme conquistou inúmeros prêmios na temporada, mas ficou para trás na pré-seleção do Oscar.
MELHOR DOCUMENTÁRIO-CURTA
Edith+Eddie
Heaven is a Traffic Jam on the 405
Heroin(e)
Knife Skills
Traffic Stop
DEVE GANHAR: Heroin(e) DEVERIA GANHAR: Edith+Eddie ZEBRA: Knife Skills
Pelo que andei lendo, o curta Heroin(e) está com uma forte campanha por parte da Netflix para ganhar esse Oscar. O documentário acompanha três mulheres tentando quebrar o ciclo da droga. Não sei se a campanha surtirá efeito, mas Edith+Eddie é um bom candidato pelo seu tema: a relação inter-racial mais antiga dos EUA.
MELHOR CURTA-METRAGEM
DeKalb Elementary
The Eleven O’Clock
My Nephew Emmett
The Silent Child
Watu Wote: All of Us
DEVE GANHAR: DeKalb Elementary DEVERIA GANHAR: Watu Wote: All of Us ZEBRA: The Nephew Emmett
O curta DeKalb Elementary ganha vantagem por abordar um tema polêmico e bastante atual nos EUA: o controle de armas de fogo. No filme, acompanhamos um rapaz bem instável psicologicamente invadindo salas de aula com um rifle. Infelizmente não consegui conferir o curta por indisponibilidade, mas acredito que o tema já deva chamar a atenção de muitos votantes da Academia.
MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
Dear Basketball
Garden Party
LOU
Negative Space
Revolting Rhymes
DEVE GANHAR: Dear Basketball DEVERIA GANHAR: Garden Party ZEBRA: LOU
O curta de animação baseado no poema do jogador de basquete, Kobe Bryant, já vinha crescendo desde que estava na pré-seleção da categoria. No Oscar luncheon, Bryant foi uma das figuras mais ovacionadas quando chamada para a foto oficial. E basquete nos EUA é a mesma coisa que futebol aqui no Brasil: uma obsessão. Vi o curta pelo YouTube e ele tem traços de lápis que remetem a rascunho, acompanhado de narração em off do próprio jogador.
COMEMORAÇÃO
Vamos às satisfações pessoais? Se Roger Deakins e Jordan Peele ganharem o Oscar, já me dou por satisfeito. Agora se Jonny Greenwood e a canção “This is Me” ganharem os respectivos Oscars de Trilha Musical e Canção Original, vou ter orgasmos múltiplos. Agora, se Paul Thomas Anderson, Timothée Chalamet e Laurie Metcalf ganharem, aí eu atinjo o nirvana! Vou passar o resto de 2018 num eterno chá de cogumelo.
Bom, independente dos resultados, que todos tenham uma ótima noite de Oscar!
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A 90ª cerimônia do Oscar terá transmissão ao vivo pela TNT no dia 04 de março a partir das 21h, horário de Brasília.
Cena de Blade Runner 2049 fotografado por Roger Deakins (pic by imdb.com)
UM DOS MAIORES DIRETORES DE FOTOGRAFIA VENCE POR BLADE RUNNER 2049
Vocês se lembram do ator Peter O’Toole? Aquele que ficou conhecido por ter sido indicado ao Oscar várias vezes (mais precisamente oito) e nunca ganhou? Até o ano de sua morte em 2013, continuou sem ganhar, mas foi homenageado com o Oscar Honorário em 2003. Claro que existem outros casos de várias indicações sem vitória como o ator Richard Burton (sete), o compositor Thomas Newman (quatorze) e o diretor de fotografia Roger Deakins, que este ano foi indicado pela décima quarta vez, por Blade Runner 2049.
Às vezes, a espera é longa mesmo, mas houve casos em que havia luz no fim do túnel como o compositor Randy Newman, que ganhou o Oscar por Monstros S.A. em 2002 já em sua 16ª indicação, e talvez o mais icônico caso: o técnico de som Kevin O’Connell, que ganhou finalmente após 21 indicações na última cerimônia por Até o Último Homem, quando deu um dos discursos mais emocionantes da noite.
Este ano, em que o Oscar completa 90 anos de história, pode ser finalmente o ano de Roger Deakins. Como cinéfilo e fã ardoroso de seu trabalho, fico na maior expectativa de seu discurso ao ganhar o Oscar. Em inúmeras entrevistas, ele sempre diz que não liga e que está feliz por fazer seu trabalho, mas todos sabem que ele merece ganhar por méritos, e não por piedade, cotas ou simplesmente por acumular indicações.
Até mesmo você, que não liga muito para o lado técnico nos filmes, se lembrar agora quais filmes Roger Deakins foi responsável pela fotografia, há de concordar com seu talento e qualidade visual. Aqui mesmo, pelo ASC, sindicato de diretores de fotografia, ele foi reconhecido três vezes: em 1995 por Um Sonho de Liberdade (que tem movimentos de câmera inesquecíveis), em 2002 por O Homem que Não Estava Lá (uma das fotografias preto-e-branco mais marcantes das últimas décadas) e em 2013 por 007 – Operação Skyfall (definitivamente o mais belo filme de James Bond, especialmente na parte da iluminação noturna).
Talvez a cena mais linda visualmente em 007 – Operação Skyfall. Belo trabalho de Roger Deakins.
No último fim de semana, na cerimônia do 32º ASC (American Society of Cinematographers), Roger Deakins subiu novamente ao palco para levar seu quarto prêmio. A fotografia de Blade Runner 2049 certamente foi um desafio enorme para Deakins, pois se trata de uma continuação do clássico cult de 1982, tendo a obrigação de respeitar a identidade visual criada pelo diretor de fotografia Jordan Cronenweth (morto em 1996), e claro, de criar sua própria fotografia futurista.
Coincidentemente, ele bateu os mesmos quatro concorrentes do Oscar deste ano: Bruno Delbonell (O Destino de uma Nação), Dan Laustsen (A Forma da Água), Hoyte van Hoytema (Dunkirk) e Rachel Morrison (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi) e sim, a primeira mulher indicada. Como não há qualquer disparidade entre os prêmios, as chances de dar zebra são bem baixas.
Aos 68 anos de idade, o fotógrafo que já conquistou a confiança de inúmeros diretores consagrados como Sam Mendes, os irmãos Coen, Stephen Daldry e Martin Scorsese, agora firmou parceria de sucesso criativo com o canadense Denis Villeneuve com quem trabalhou em Os Suspeitos (2013), Sicario: Terra de Ninguém (2015) e agora nesta sequência de Blade Runner: O Caçador de Andróides.
No set de Os Suspeitos, o diretor Denis Villeneuve orienta Roger Deakins (pic by Collider)
Claro que Roger Deakins não precisa do Oscar. Seu legado está nos filmes que ajuda a filmar. Mas queremos ver um grande profissional como ele sendo reconhecido na maior premiação de cinema com direito a mais de 30 segundos de discurso e aplausos de pé.
SPOTLIGHT AWARD E OUTROS
Inaugurado em 2014, o prêmio Spotlight é concedido para fotografias de filmes menos conhecidos que dificilmente teriam chances nas premiações maiores. A edição deste ano premiou Mart Taniel pela primorosa fotografia PB de November, filme de fantasia da Estônia. Espero que esse reconhecimento lhe traga maiores oportunidades na indústria.
Cena do filme November, fotografado por Mart Taniel (pic by imdb.com)
E o ASC selecionou os diretores de fotografia Russell Carpenter e Russell Boyd para receberem o Prêmio pelo Conjunto da Obra e o Prêmio Internacional, respectivamente. Ambos já venceram o Oscar uma vez cada: Carpenter por Titanic em 1998, e Boyd por Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo em 2004.
VENCEDORES DO 32º ASC AWARDS:
Fotografia de Cinema Roger Deakins ASC (Blade Runner 2049)
Spotlight Award Mart Taniel (November)
Fotografia de Filme para TV, Minissérie ou Piloto Mathias Herndl (Genius) Ep: “Chapter 1”
Fotografia de Episódio de Séries Para TV Não-Comercial Adriano Goldman (The Crown) Ep: “Smoke and Mirrors”
Fotografia de Episódio de Séries Para TV Comercial Boris Mojsovski (12 Monkeys) Ep: “Thief”
Lifetime Achievement Award Russell Carpenter
Board of Governors Award Angelina Jolie
Career Achievement in Television Award Alan Caso
International Award Russell Boyd
Presidents Award Stephen Lighthill
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O Oscar 2018 acontece no próximo dia 04 de março e será transmitido pela TNT.
Da esquerda para a direita: Martin McDonagh, Pete Czernin, Sam Rockwell, Frances McDormand e Graham Broadbent ostentam seus BAFTAs por Três Anúncios Para um Crime (pic by cnn.com)
DRAMA SOBRE IMPUNIDADE CONQUISTA A ACADEMIA BRITÂNICA
Há dois modos de vermos o BAFTA. Primeiro (que é minha preferência): quando o BAFTA acontecia depois do Oscar, com a poeira devidamente baixa, reconhecia como Melhor Filme as comédias Ou Tudo ou Nada (1997) e Quatro Casamentos e um Funeral (1994), e por que não lembrar que premiou Os Bons Companheiros (1990) e seu diretor Martin Scorsese? O BAFTA podia não ser tão badalado na época, mas sabia ter personalidade, pra não dizer que estava praticamente cagando e andando para o Oscar.
E segundo, é o BAFTA antes do Oscar, já nos anos 2000, deixando seu isolamento de lado para ser mais um parâmetro para Hollywood, pra não dizer um nobre “esquenta” do Oscar. De lá pra cá, não houve mais nenhuma escolha mais ousada ou ponto fora da curva. Tudo estava devidamente planejado e nos conformes e isso tirou a graça do prêmio. Claro que para os que estão concorrendo, deve ser ótimo ter mais um prêmio relevante antes da noite do Oscar e dar aquela encorpada na campanha, mas por outro lado, existem inúmeras outras produções menores que perderam seu espaço.
Acredito que havia um medo por parte dos organizadores do BAFTA do prêmio se tornar obsoleto no cenário de premiações de cinema, optando assim pela integração no calendário americano. E não dá pra negar que o BAFTA melhorou seu status de importância, uma vez que boa parte dos cineastas e artistas internacionais agora faz questão de marcar presença no evento.
Este ano, como parâmetro do Oscar, o prêmio da Academia Britânica não revelou nenhuma grande surpresa. Pelo contrário, elegeu a maioria dos favoritos das categorias de atuação como Gary Oldman, Frances McDormand, Sam Rockwell e Allison Janney, que já havia vencido o Globo de Ouro e o SAG Awards.
Allison Janney vence o BAFTA de Atriz Coadjuvante por Eu, Tonya (pic by imdb.com)
Ainda sem surpresas, Guillermo del Toro conquistou o prêmio de Direção por A Forma da Água, que levou ainda Trilha Musical e Direção de Arte. Essas três vitórias, inclusive, podem e devem se repetir no Oscar. Aliás, o BAFTA vem “estragando” possíveis surpresas ao adiantar as vitórias do Oscar como quando Whiplash e Até o Último Homem levaram o prêmio de Montagem. Isso pode abrir um presságio de que Em Ritmo de Fuga pode bater o grandioso Dunkirk, já que levou o BAFTA dessa categoria.
Claro que existem categorias em que os prêmios podem divergir nas escolhas. E este ano, acredito que Efeitos Visuais pode finalmente consagrar os excelentes efeitos digitais da trilogia de O Planeta dos Macacos (os dois primeiros filmes foram indicados, mas não levaram). Enquanto o BAFTA premiou os efeitos de Blade Runner 2049, o Oscar pode reconhecer os efeitos de Planeta dos Macacos: A Guerra, reconhecendo por tabela os esforços descomunais de Andy Serkis como protagonista.
Como impulsionador ou estimulador, o BAFTA pode ter ajudado bastante a campanha de James Ivory em Roteiro Adaptado por Me Chame Pelo Seu Nome. Após levar o WGA, prêmio do sindicato de roteiristas, o filme de Luca Guadagnino pode ter garantido seu único Oscar, já que as chances de Timothée Chalamet se mostram quase remotas diante do favoritismo de Oldman como Winston Churchill.
Gary Oldman vence o BAFTA por O Destino de uma Nação (pic by The Sun)
Já pelo lado de Roteiro Original, a vitória de Três Anúncios Para um Crime resgata Martin McDonagh do limbo e pode ter enfraquecido os favoritismos de Greta Gerwig por Lady Bird e de Jordan Peele por Corra!.
Aliás, uma questão importante: depois de sair de mãos vazias do BAFTA, existem ainda chances reais de Lady Bird levar alguma estatueta do Oscar? Se o filme de Gerwig não vencer nada, as mulheres do movimento Time’s Up vão quebrar geral no Oscar? Particularmente, eu daria o Oscar de Atriz Coadjuvante para Laurie Metcalf, mas talvez os membros da Academia queiram premiar a criadora por trás de Lady Bird de alguma forma e isso só viria através do prêmio de Roteiro Original, onde o páreo é um dos mais duros.
Bom, por motivos de estréias em solo britânico fora do calendário, o vencedor do BAFTA de Filme em Língua Estrangeira deste ano foi para o fenomenal sul-coreano A Criada, de Park Chan-wook. O filme de época com temática sexual ganhou inúmeros prêmios em 2017, mas como foi preterido pelo próprio governo de seu país (houve uma espécie de golpe à la Temer), A Criada não conseguiu sequer a indicação no Oscar.
PROTEST IN BLACK
Assim como aconteceu no Globo de Ouro, os atores e celebridades foram trajados de preto como forma de protesto contra a onda de assédios em Hollywood e em união ao movimento feminista Time’s Up.
Trajada num vestido vermelho, rosa, branco e preto, a vencedora do BAFTA de Melhor Atriz, Frances McDormand, viu-se obrigada a justificar seu vestuário “inapropriado” no enterro. “Eu tenho um pequeno problema com obediência, mas quero que vocês saibam que eu me posiciono com total solidariedade com minhas irmãs que vieram de preto esta noite. Também quero dizer que eu aprecio um ato bem organizado de desobediência civil”, discursou a atriz.
Frances McDormand vence seu primeiro BAFTA por Três Anúncios Para um Crime e precisa justificar sua vestimenta não-preta (pic by stylist.co.uk)
Aproveitando a carona nesse tema, tenho muitas ressalvas em relação à essa mistura de selecionar filmes e atuações com temas polêmicos da atualidade. Afinal, estamos votando nos melhores trabalhos cinematográficos ou nos trabalhos que tem mais a ver com o momento conturbado? Quer dizer, vamos eleger Greta Gerwig a diretora do ano porque ela é mulher e dirigiu um filme sobre o crescimento de uma menina ou vamos eleger Jordan Peele ou Guillermo del Toro pelos excelentes trabalhos na criação de um universo?
O politicamente correto tem dominado o pensamento do século XXI e agora invade as praias das Artes, onde sempre reinou a liberdade de expressão. Agora temos que usar preto obrigatoriamente numa premiação de cinema porque é a coisa certa a se fazer diante da mídia?
VENCEDORES DO 71º BAFTA:
FILME Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri) Produtores: Graham Broadbent, Pete Czernin, Martin McDonagh
DIRETOR Guillermo Del Toro (A Forma da Água)
ATOR Gary Oldman (O Destino de uma Nação)
ATRIZ Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)
ATOR COADJUVANTE Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)
ATRIZ COADJUVANTE Allison Janney (Eu, Tonya)
FILME BRITÂNICO Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri) Produtores: Martin McDonagh, Graham Broadbent, Pete Czernin
LONGA DE ANIMAÇÃO Viva: A Vida é uma Festa (Coco)
FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA A Criada (The Handmaiden) – CORÉIA DO SUL Dir: Park Chan-wook
DOCUMENTÁRIO Eu Não Sou Seu Negro (I Am Not Your Negro) Dir: Raoul Peck
EE RISING STAR AWARD (VOTO DO PÚBLICO) Daniel Kaluuya
DIRETOR, ROTEIRISTA OU PRODUTOR BRITÂNICO ESTREANTE I Am Not a Witch Rungano Nyoni (Roteirista/Diretor), Emily Morgan (Produtora)
ROTEIRO ORIGINAL Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime)
ROTEIRO ADAPTADO James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome)
TRILHA MUSICAL ORIGINAL Alexandre Desplat (A Forma da Água)
FOTOGRAFIA Roger Deakins (Blade Runner 2049)
MONTAGEM Jonathan Amos, Paul Machliss (Em Ritmo de Fuga)
FIGURINO Mark Bridges (Trama Fantasma)
DIREÇÃO DE ARTE Paul Austerberry, Jeff Melvin, Shane Vieau (A Forma da Água)
MAQUIAGEM E CABELO David Malinowski, Ivana Primorac, Lucy Sibbick, Kazuhiro Tsuji (O Destino de uma Nação)
EFEITOS VISUAIS Richard R. Hoover, Paul Lambert, Gerd Nefzer, John Nelson (Blade Runner 2049)
SOM Alex Gibson, Richard King, Gregg Landaker, Gary A. Rizzo, Mark Weingarten (Dunkirk)
CURTA DE ANIMAÇÃO BRITÂNICO Poles Apart Paloma Baeza, Ser En Low
CURTA BRITÂNICO Cowboy Dave Colin O’Toole, Jonas Mortense
CONTRIBUIÇÃO BRITÂNICA PARA O CINEMA National Film and Television School (NFTS)
BAFTA FELLOWSHIP (PREVIAMENTE ANUNCIADO) Ridley Scott
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A 90ª cerimônia do Oscar acontece no dia 04 de março e será transmitido pelo canal pago TNT.