RETROSPECTIVA 2021: CINEMA PÓS-PANDEMIA?

CINEMA BUSCA RECONSTRUÇÃO APÓS PANDEMIA, MAS TEME POR FUTURO COM VARIANTES

Olá a todos! Este ano, meu fim de ano está sendo bastante corrido, então meu post de retrospectiva será mais breve e resumido. Como as plataformas do Facebook e principalmente Instagram (como eu odeio aquele número de caracteres limitadíssimo!) não permitem um texto mais longo, faço questão de escrever um post aqui no WordPress, onde não há restrições.

Assim como o mundo tentou se recuperar em 2021 com a vacinação da COVID, o Cinema também se aproveitou das dificuldades impostas pela pandemia para tentar se reinventar com equipes de filmagem reduzidas, orçamentos ainda menores e temáticas que refletem esse momento delicado na sociedade. Em 2020, vimos como os serviços de streaming foram essenciais para manter nossa sanidade mental enquanto passamos a maior parte do tempo em casa isolados, e por isso mesmo passamos a recomendar filmes (na maior parte do tempo interligados por temáticas) todos os finais de semana como forma de entreter os seguidores cinéfilos.

Ainda não sabemos se a variante Ômicron e outras que possam vir causarão novos picos de casos e mortes pelo mundo, mas os governos (pelo menos boa parte) estão mais alertas e alguns já aplicam novos lockdowns. É triste só de pensar que podemos enfrentar uma onda igual ou maior, mas espero que a ciência possa continuar nos auxiliando nessa luta. Fico feliz que o público está voltando às salas de cinema, mas caso a pandemia persista, talvez seja necessário fechá-las novamente… pelo menos por um tempo.

OSCAR 2021: MUDANÇAS QUE NÃO SURTIRAM EFEITO

Por se tratar da primeira edição do Oscar após o início da pandemia, havia forte possibilidade de que a cerimônia fosse totalmente virtual como aconteceu com o Globo de Ouro, contudo o céu nublado começou a abrir quando o Grammy foi um evento bem-sucedido ao apostar no híbrido, com participações virtuais, poucos convidados no local e num ambiente aberto para driblar o contágio do vírus. Esse era o caminho a seguir para o Oscar dar certo presencialmente: mudar do Dolby Theater para a Union Station.

Sob essas condições limitadas, o ideal seria fazer o simples e o básico, e tentar reduzir o tempo da transmissão para melhorar a audiência decadente, mas Steven Soderbergh (eleito para dirigir a cerimônia), estava repleto de ideias e queria botar todas em prática. 1º Queria transformar o Oscar num filme e seguiu Regina King caminhando pelo tapete vermelho enquanto os créditos de abertura estampavam a tela; 2º Houve redução drástica de videoclipes com trechos dos filmes indicados substituídos por um roteiro de curiosidades sobre os indicados e não impôs limite de tempo para os discursos de agradecimento; 3º Alterou a ordem natural dos principais prêmios, apresentando Melhor Direção na primeira metade da cerimônia e fechou com Atriz e Ator, apostando um clímax estrelado por uma homenagem para o recém-falecido Chadwick Boseman, mas… faltou combinar com os votantes porque Anthony Hopkins, que estava dormindo em sua casa, foi o vencedor. E pra piorar, os números de audiência do Oscar foram os piores da história. Soderbergh não deve voltar tão cedo aos bastidores do Oscar…

Sobre os resultados, as vitórias de Anthony Hopkins, Frances McDormand, Yuh-jung Youn e Daniel Kaluuya foram justas pelas performances apresentadas. Quero dizer, não houve um prêmio servindo de compensação por uma derrota anterior, por exemplo. O terceiro Oscar para Frances McDormand a tornou a atriz mais premiada, atrás apenas da lendária Katharine Hepburn, que tem 4.

PANDEMIA: CINEMAS REABRINDO

Muita gente ainda não voltou às salas de cinema, mesmo com o avanço da vacinação. É super compreensível, afinal a sala de cinema ainda é um ambiente propício para um contágio (um monte de gente aglomerada sob o mesmo ar condicionado). Mas muitos já se arriscaram para voltar a ver um filme na tela grande, como eu.

Voltei para ver Invocação do Mal 3, depois fui ver os blockbusters Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, 007 Sem Tempo Para Morrer, Eternos, e por último, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (aliás, este último é o verdadeiro filme do retorno do público aos cinemas e foi bom estar numa sala com fãs reagindo positivamente ao filme). Gostaria de ter visto alguns filmes melhores e alternativos como Benedetta, Titane e Noite Passada no Soho, mas os cinemas do interior de SP são uma tristeza em termos de diversidade (e legenda em português!). Queria ter visto Ataque dos Cães da Netflix nos cinemas, mas foram raríssimas sessões somente na capital paulista.

Espero que essa variante Ômicron não represente uma ameaça tão grande a ponto de impedir os avanços da vacinação, pois a experiência de ver um filme no cinema é incomparável, ainda mais depois de tanto tempo vendo filmes em casa.

GLOBO DE OURO EM CRISE

Mesmo virtualmente, houve a cerimônia do Globo de Ouro com as hostesses Tina Fey e Amy Poehler, e havia motivo para celebração, pois pela primeira vez na história, três diretoras mulheres haviam sido indicadas na categoria: Chloé Zhao, Emerald Fennell e Regina King. Mas dois escândalos acabaram com a credibilidade do prêmio da HFPA num piscar de olhos: 1º Apesar de ser composto por menos de 90 jornalistas, não havia nenhum membro negro entre eles, e alguns membros sequer tinham publicações sobre cinema. 2º Havia fortes indícios que votantes da HFPA receberam diárias de hotéis na França em troca de votos para a série da Netflix, Emily in Paris.

Foi um desastre irreversível naquele momento. Dentre as consequências: a rede NBC decidiu que não iria transmitir a cerimônia de 2022; os principais estúdios anunciaram que não fariam campanha junto a HFPA até que as coisas estivessem melhores; e pra fechar com chave de ouro, Tom Cruise ficou tão cabreiro que quis devolver os três Globos de Ouro que ele ganhou na carreira (será que devolveu mesmo ou foi apenas uma ameaça publicitária?).

Nesses últimos 8 meses, a HFPA passou por algumas reformulações como a adesão de mais de 20 novos membros (sim, alguns são negros) e a mudança no regulamento que agora permite produções estrangeiras de competirem em categorias principais como Melhor Série e Melhor Filme. Nos últimos anos, produções de idiomas asiáticos não puderam competir como Parasita, A Despedida e Minari. Este ano, a série sul-coreana Round 6 (ou Squid Game) já concorre à Melhor Série – Drama.

Nitidamente, o Globo de Ouro parou no tempo e não deu um update no seu regulamento e precisava há tempos de uma varredura nesse clube elitista de membros, mas não se trata de qualquer prêmio para jogar no lixo quase 80 anos de história. Particularmente, acho de uma hipocrisia lastimável a postura desses estúdios, pois a maioria (se não todos) jogou por décadas esse jogo de compra de votos quando lhes conveio. Agora seria a hora de apoiar e sugerir mudanças na reforma, mas tudo se resumiu a abandono e descaso. Foi triste ver Snoop Dogg como a única celebridade a aceitar o convite da HFPA para anunciar os indicados de 2022.

AMAZON STUDIOS COMPRA A MGM

Não vou ser hipócrita de criticar o Capitalismo agora porque grandes estúdios estão comendo uns aos outros, pois é assim que o mundo gira, mas confesso que foi um pouco triste de ver a lendária MGM vendida pela “bagatela” de 8,45 bilhões de dólares no último mês de Maio. Embora estivesse em decadência financeira há alguns anos, o estúdio fez parte da nossa História com tantos filmes marcantes e qualidade como a mais longeva franquia de 007, a franquia de Rocky, RoboCop, A Pantera Cor-de-Rosa… Como elas serão continuadas sob nova direção?

Contudo, o que mais me preocupa é essa pasteurização, pois cada estúdio tinha uma ousadia singular que proporcionava uma diversidade de produções que fazia bem para o Cinema como forma de arte. É claro que não podemos ser meramente saudosistas e precisamos visualizar que os filmes mudam a cada década assim como a forma de fazê-los, mas existe sim um um pessimismo no futuro porque os estúdios estão sendo cada vez mais controlados por produtores mais interessados nos lucros das bilheterias e merchadising do que com a qualidade da história, sem contar com a falta de coragem de apostar em materiais originais e inovadores.

MORTE NO SET DE FILMAGENS

Em Outubro, durante as filmagens do filme Rust no Novo México, o ator e produtor Alec Baldwin acidentalmente atirou com uma arma de fogo real e matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins e feriu o diretor Joel Souza. Além de muito nova (42 anos), ela havia sido nomeada como uma “rising star” pela revista American Cinematographer em 2019, destacando a ascensão de uma mais uma mulher na função. A princípio, o disparo parecia meramente acidental, mas as investigações levantaram más condições de trabalho e o não cumprimento de leis trabalhistas e de segurança. Atualmente, a polícia está pedindo acesso ao celular do ator para maiores esclarecimentos.

Após esse incidente, muito se discutiu sobre o uso de armas de fogo reais em sets de filmagens, abrindo a possibilidade de utilizarem armas de brinquedo ou até feitas pela computação gráfica, reduzindo a zero as chances de um tiro acidental. Infelizmente, essa discussão já foi feita anteriormente e nada mudou de lá pra cá. Em 1994, durante filmagens de O Corvo, o ator Brandon Lee, filho de Bruce Lee, foi baleado por balas de verdade e acabou morrendo.

CRÍTICAS

META 2021

Ao contrário dos últimos dois anos, não tive tanto tempo disponível para ver filmes, mas na medida do possível, consegui assistir a 156 filmes até o momento. Dentre os títulos que finalmente conferi, destaco Uma Equipe Muito Especial (achava que era apenas um filme bobo de baseball, mas tem muito a dizer sobre a força feminina no cinema), A Hora da Zona Morta (ótima e curiosa colaboração entre Stephen King e David Cronenberg), A Fantástica Fábrica de Chocolate (todo mundo já viu na Sessão da Tarde! Adorei o humor negro que não se faz mais hoje), Era uma Vez na América (embora seja fã do diretor Sergio Leone, tenho certa aversão a filmes muito longos, mas esse épico realmente valeu a pena), e O Estranho Mundo de Jack (realmente filmes natalinos não são meu forte).

Em 2022, quero finalmente ver alguns filmes do Akira Kurosawa que estão na minha lista há tempos como Yojimbo, Ikiru e Ran, outros do Jean-Luc Godard como Masculino-Feminino, e de Federico Fellini como A Doce Vida. E vocês? Tem aqueles filmes que estão mofando na sua watchlist há vários anos? Comente no final do post.

PIORES DO ANO

TOP 5 PIORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. ESTADOS UNIDOS VS. BILLIE HOLIDAY (The United States vs. Billie Holiday, 2020). Dir: Lee Daniels

4. ERA UMA VEZ UM SONHO (Hilbilly Elegy, 2020). Dir: Ron Howard

3. EMMA. (Emma., 2020). Dir: Autumn de Wilde

2. UM PRÍNCIPE EM NOVA YORK 2 (Coming 2 America, 2021). Dir: Craig Brewer

1.MORTAL KOMBAT (Mortal Kombat, 2021). Dir: Simon McQuoid

Resolvi assistir logo após a loucura que foi a temporada de premiações, pois precisava de algo urgente que não precisasse usar o cérebro, mas não achei que Mortal Kombat chegasse a ferir meus neurônios. Pelo visual e design do trailer, parecia algo um pouco mais promissor, mas foi uma maçaroca detestável e ainda com ambições de criar um universo como a Marvel em um único filme. Muita pretensão!

MELHORES DO ANO

Como revelei acima, só consegui assistir a cinco filmes nas salas de cinema este ano, portanto a seleção de melhores do ano será composta de lançamentos de 2020 e 2021.

5. MINARI: EM BUSCA DA FELICIDADE (Minari). Dir: Lee Isaac Chung

4.NOMADLAND (Nomadland). Dir: Chloé Zhao

3. ATAQUE DOS CÃES (The Power of the Dog). Dir: Jane Campion

2. MEU PAI (The Father). Dir: Florian Zeller

1. FLEE. Dir: Jonas Poher Rasmussen

A essa altura do campeonato, muitos já conhecem o filme dinamarquês que mistura animação e documentário. Não apresenta algo realmente inovador, mas possui muita alma no relato do refugiado Amin, que passou por inúmeras situações desumanas. Não sei se vai ganhar algum Oscar, mas merece destaque na temporada.

TOP 5 MELHORES em MÍDIA DIGITAL OU STREAMING

5. CONFRONTO NO PAVILHÃO 99 (Brawl in Cell Block 99, 2017) & JUSTIÇA BRUTAL (Dragged Across Concrete, 2018). Dir: S. Craig Zahler

4. SORRIA (Smile, 1975). Dir: Michael Ritchie (Obrigado pela recomendação, Carlos!)

3. UMA EQUIPE MUITO ESPECIAL (A Legue of Their Own, 1992). Dir: Penny Marshall

2. CABRA MARCADO PARA A MORTE (1984). Dir: Eduardo Coutinho

1. OS SAPATINHOS VERMELHOS (The Red Shoes, 1948). Dir: Michael Powell e Emeric Pressburger

Há muito tempo estava na minha lista, mas só agora consegui conferir este clássico sobre música e dança da dupla britânica Powell e Pressburger. Teria sido lindo se fosse numa sala de cinema, pois é um espetáculo inquestionável, mas saí muito feliz da sessão do streaming do Belas Artes a la Carte.

IN MEMORIAM

2021 já começou com tristes despedidas dos atores Cloris Leachman, Cicely Tyson, Hal Holbrook e Christopher Plummer só nos primeiros dois meses. Depois perdemos outros atores como Yaphet Kotto, Olympia Dukakis, Ned Beatty, Dean Stockwell, Jean-Paul Belmondo e os brasileiros Tarcísio Meira e o impagável Paulo Gustavo.

Entre os diretores, demos adeus à primeira diretora indicada ao Oscar de Direção, a italiana Lina Wertmuller, que felizmente recebeu o Oscar Honorário há um ano. Também perdemos Richard Donner, responsável por clássicos dos anos 70 e 80 como Superman: O Filme, Os Goonies, O Feitiço de Áquila, Máquina Mortífera e A Profecia, mas que infelizmente não teve a mesma homenagem da Academia…

VOTOS PARA 2022

Primeiramente, agradecer aos inúmeros voluntários e colaboradores da saúde que possibilitaram o avanço da campanha de vacinação no Brasil, apesar das inúmeras dificuldades e o combate a tantas fake news. Vamos torcer para que a ciência possa nos prover imunizantes seguros para essa e outras variantes que possam vir e se alastrar. E claro, desejo muita saúde a todos!

Aproveito para desejar um Feliz Natal e Próspero Ano Novo a todos os seguidores, independente das plataformas, seja comentando, curtindo ou simplesmente visualizando nossas postagens. Espero que consiga cobrir as notícias desta próxima temporada de premiação e compartilhar opiniões sobre as produções, sempre com muito respeito e dedicação.

RETROSPECTIVA 2018: O ANO da NETFLIX?

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Normalmente, eu posto um vídeo promocional da próxima edição do Oscar que o futuro host publica na internet, mas depois da confusão e demissão de Kevin Hart…

Olá, pessoal! Mais um ano se foi! Foi um ano bom ou ruim pra você?
Queria agradecer a todos que acompanharam o blog e a página do Facebook. Se comentaram, se leram, ou se apenas deram aquela passadinha, obrigado por seu apoio! Estou realizando este trabalho por puro prazer há 7 anos e sendo recompensado pelos seus views e participações. Agradeço bastante ao meu colaborador assíduo Hugo Cancela, aos amigos Bruna Martins, Flávia Fernandes, Antonio Lopes, Karoline Alves e Alice Ayres, e frequentadores assíduos como a rainha do Oscar Frame, Elisieli Rodrigues, Cristiano Filiciano, Miriam Moldes, Henrique Cereja, Fummanation Bonsucesso, Berto Leno, Tiago Bistaffa, Elza Vieira, Amélia Cassis, Yuri Dias, Lília Ricardo, Kátia Nunes e Verinha Dau, enfim, são tantos nomes que daria uma lista extensa! Peço desculpas por não poder incluir todos aqui!

Queria aproveitar para agradecer ao crítico Chico Fireman por me possibilitar trabalhar com as cabines de lançamentos de filmes, e pela sua generosidade e atenção!

META DE 2018

Continuando minha meta de 2017, procurei assistir mais àqueles filmes clássicos ou cults pra reduzir um pouco minha watchlist. Um que tenho orgulho de finalmente ter conferido é o clássico italiano , de Federico Fellini. Sério, eu não estava aguentando mais ver esse filme no topo da minha lista me olhando e perguntando: “E aí? Quando você vai me ver?” Eu lembro a última vez que viajei pra fora do país em 2014, eu jurava: “Antes de pegar esse avião, eu vou ver o filme do Fellini. Vai que eu morro…” Enfim, tomei coragem e assisti. Eu achava que o filme me daria uma dor de cabeça enorme, mas vi uma belíssima homenagem do diretor às mulheres que amou na vida. Ainda tenho vários do Fellini pra ver como Julieta dos Espíritos e A Doce Vida, mas quem sabe em 2019?

Falando em mestres do cinema, estou satisfeito por ter acrescido mais três obras do sueco Ingmar Bergman. Finalmente assisti a Através de um EspelhoSonata de Outono e Gritos e Sussurros. Depois de assistir aos filmes dele, é inevitável não parar pra refletir sobre a vida e a família, que são temas bem fortes na filmografia dele. O quanto realmente nos importamos com familiares diante de situações difíceis. Além do diretor levantar esses questionamentos, ainda cria obras visuais extremamente poderosas com a ajuda inestimável de atrizes do calibre de Ingrid Bergman, Liv Ullmann e Harriet Andersson.

Também consegui assistir pela primeira vez a A Mulher Faz o Homem (1939). Nunca fui muito fã do Frank Capra porque ele entrega uma visão demasiada otimista. Não que isso seja um defeito, mas sempre tive preferência por um cinema que expõe defeitos e falhas humanas, seja para o bem ou para o mal. É louvável acompanhar a luta de um jovem senador idealista contra um sistema corrupto, ainda mais hoje num Brasil que revela um novo caso de corrupção a cada dia, mas alguns personagens se tornam bidimensionais nessa visão, mesmo James Stewart.

8 Autumn Mr Smith

8½, Sonata de Outono e A Mulher Faz o Homem

Revisitei alguns diretores renomados como François Truffaut com Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois (1962), Wim Wenders com Asas do Desejo (1987), Billy Wilder com Testemunha de Acusação (1957), e Dario Argento com Suspiria (1977), que fiz questão de conferir antes de assistir à refilmagem, que nunca estréia aqui no Brasil! E vi uma obra-prima pouco conhecida aqui intitulada O Segundo Rosto (1966), de John Frankenheimer, que apresenta uma trama de ficção científica na qual uma organização secreta oferece uma segunda chance aos ricos, alterando suas aparências e encenando a morte das pessoas que foram. Rock Hudson, que sempre teve imagem de cowboy machão mas era homossexual, caiu como uma luva no papel principal e entrega a performance de sua vida.

PIORES DO ANO

Eu tinha o costume de comentar uns dois ou três filmes que foram decepcionantes, mas a partir deste ano, já dá pra formar uma lista dos 5 piores. Reparem que todos os filmes da lista são parte de uma franquia (considerando que Venom faz parte do universo do Homem-Aranha) ou é uma refilmagem. Quando Hollywood só pensa nos números lucrativos, o Cinema perde.

Por pouco Jogador Nº 1 não entra na lista. Depois de me desapontar muito com The Post: A Guerra Secreta, vejo que Steven Spielberg deveria dar um break na carreira, sei lá, tirar um ano sabático, pra refletir sobre o que cinema representa pra ele, porque parece que ele tem feito mais filmes com cabeça de produtor ultimamente… E pior é que dos três projetos futuros dele, um é a sequência de Indiana Jones com Harrison Ford (taí outro que precisa de uma pausa longa) e o outro é a refilmagem (totalmente desnecessária) do clássico musical Amor Sublime Amor (1961). Claro que posso queimar minha língua, mas Spielberg, cadê sua criatividade?

E apesar de querer assistir de tudo, sempre dou mais prioridade aos filmes que acho que podem ser bons, afinal, se tenho pouco tempo pra ver filmes, por que gastar as horinhas preciosas com filmes que tenho quase certeza de que serão meia-boca? Nesse quesito, deixei de assistir aos possíveis candidatos desta lista: Han Solo: Uma História Star Wars (que pelo histórico de produção conturbado, só pode ser um resultado desastroso) e o Fenda no Tempo, a mega produção politicamente correta da Disney.

TOP 5 PIORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. Venom (Venom)
Dir: Ruben Fleischer

4. Halloween (Halloween)
Dir: David Gordon Green

3. Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider)
Dir: Roar Uthaug

2. A Freira (The Nun)
Dir: Corin Hardy

1. Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom)
Dir: J.A. Bayona

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Chris Pratt em cena da desastrosa sequência Jurassic World: O Reino Ameaçado (pic by OutNow.CH)

OSCAR 2018: POLITICAMENTE CORRETO NUMA CERIMÔNIA MORNA

Os produtores da cerimônia resolveram dar uma colher de chá para Jimmy Kimmel e o convidaram novamente para ser host após aquela lambança do envelope errado no ano passado. Apesar de ter acertado naquela premiação do jet ski para o discurso mais curto, ainda cometeu equívocos como aquela chocha invasão à sala de cinema do outro lado da rua, na vã tentativa de aproximar o público comum das estrelas de Hollywood.

Contudo, não dá pra culpá-lo. Os próprios organizadores resolveram baixar o tom da festa e correr risco zero para evitar erros e polêmicas. Desde o monólogo politicamente correto de Kimmel, até os números musicais bastante contidos no palco comprovaram a postura que a Academia impôs ao evento.

Quanto aos resultados, chegamos ao limite do previsível, principalmente em relação aos atores. Com Gary Oldman, Frances McDormand, Sam Rockwell e Allison Janney ganhando todos os prêmios importantes anteriores, ficou difícil surpreender o público com algum resultado inesperado. Por isso mesmo, a partir da próxima cerimônia, a data será adiantada para o mês de fevereiro com o intuito de reduzir o impacto dos prêmios que o antecedem.

Sobre os resultados, torci bastante para Corra! levar Melhor Filme, Diretor e Roteiro Original, que felizmente Jordan Peele acabou levando. Gostei das premiações de James Ivory pelo Roteiro Adaptado de Me Chame Pelo Seu Nome, de Roger Deakins finalmente levando seu Oscar por Blade Runner 2049, e de Sebastián Lelio levando o primeiro Oscar de Filme em Língua Estrangeira para o Chile por Uma Mulher Fantástica.

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Da esquerda para a direita: Jordan Peele leva o Oscar de Roteiro Original por Corra!, Roger Deakins de Fotografia por Blade Runner 2049, e Sebastián Lelio de Filme em Língua Estrangeira por Uma Mulher Fantástica.

Em relação às categorias de atuação, os votantes da Academia deveriam repensar melhor seu modo de avaliar as interpretações. Este ano, tivemos duas performances clichês e rotuladas levando o Oscar mais por causa dos efeitos de maquiagem transformativa: Gary Oldman com próteses esbravejando como um cachorro, e Allison Janney como a mãe amarga e envelhecida pela maquiagem. Timothée Chalamet e Lesley Manville trabalharam muito mais as nuances de seus personagens, e com pouco esforço, superaram os vencedores.

NETFLIX NOS FESTIVAIS E NO OSCAR

Claro que ainda não é oficial, mas Roma pode se tornar o primeiro filme da NETFLIX indicado ao Oscar de Melhor Filme, e por que não o primeiro a ganhar a estatueta? É inevitável o espaço e a importância que a Netflix e outras plataformas de streaming como a Amazon e a Hulu estão conquistando no mercado. Já é uma realidade de trabalho para inúmeros profissionais, assim como de alto consumo.

Diante desse cenário, eu faço a seguinte indagação: “Até quando vão ficar de birra, distribuidores franceses e organizadores do Festival de Cannes?”. Enquanto essa turma ficar discutindo a permanência de um sistema ultrapassado e a linguagem cinematográfica da Netflix, a empresa está dando risada, lucrando e ainda ganhando prêmios em outros festivais! Roma ganhou o Leão de Ouro em Veneza.

Obviamente, preferi assistir ao filme de Alfonso Cuarón numa sala de cinema com projeção em tela grande e som de qualidade, mas se não pudesse, assistiria na TV de casa mesmo (com um volume que meus vizinhos reclamariam), mas assistiria! A Netflix veio para suprir um tipo de cinema que os produtores de Hollywood já não querem mais fazer, pois estão visando apenas os lucros sem margem para erros ou riscos, por isso só temos blockbusters e adaptações de best-sellers nas salas de cinema.

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Foto que tirei na sessão especial de Roma no Kinoplex Itaim

Eu gostaria apenas que a Netflix e outras plataformas fizessem um esforço para colocar filmes selecionados para salas de cinema. Tipo, não faço questão de ver Para Todos os Garotos que Já Amei no cinema, mas Roma é outro nível de cinema que merece uma boa projeção. Isso certamente valorizaria ainda mais os profissionais e acabaria atraindo outros a trabalhar para a empresa.

TWITTER DESTRUINDO CARREIRAS

Sabe aquele ditado “O passado não perdoa”? Graças ao Twitter, o passado voltou para atormentar e destruir as carreiras profissionais de algumas personalidades. A mais comentada foi do diretor e roteirista James Gunn, que foi demitido pela Disney de Guardiões da Galáxia Vol. 3. Quando seus tuítes de vários anos atrás voltaram à tona, viram que ele não batia muito bem. Quer dizer, as piadas de humor negro eram chocantes demais para qualquer executivo da Disney que quer preservar a imagem família feliz da empresa global. Eu entendo o lado da Disney, que seria atacada pela imprensa se não demitisse Gunn e correria sério risco de ter suas ações em queda, mas demitir por piada estúpida de Twitter de 10 anos atrás? Não poderiam dar uma chance do diretor se retratar publicamente? O cara ganhou bilhões de dólares com os dois Guardiões da Galáxia!

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Tweets antigos de James Gunn e Kevin Hart que ocasionaram em suas demissões

E no início de dezembro, o Twitter fez uma nova vítima: o ator e comediante Kevin Hart, que foi convidado pela Academia para ser host do Oscar 2019. No dia seguinte, porém, tuítes antigos dele, que denotavam uma figura pública homofóbica, foram descobertos. Certos de que ele seria crucificado, principalmente pela comunidade LGBT, os organizadores da Academia lançaram um ultimato para ele se desculpar, o que acabou não acontecendo. E dois dias depois do anúncio, Hart desistiu do cargo.

Sou totalmente contra qualquer tipo de censura. Mas os tempos são outros. Hoje, as empresas demitem por qualquer comportamento impróprio. Qualquer um. Não existe perdão de declarações do passado também, por isso, no caso do Twitter, onde os tuítes são “deletáveis”, melhor apagá-los. Evitaria desgastes como esse que a Academia passou agora.

Esses acontecimentos reabrem a velha discussão da separação entre pessoa e artista. Por exemplo, com o escândalo de Woody Allen que foi acusado de abusar da filha, inúmeras pessoas passaram a avaliar seus filmes de forma negativa por causa da acusação. Inclusive, achei patético a declaração da atriz Mira Sorvino, que alegou arrependimento de ter trabalhado com Allen no filme Poderosa Afrodite (1995), que lhe rendeu o Oscar de Atriz Coadjuvante e lançou seu nome em Hollywood. Cuspir no prato que comeu é fácil. Não aprova o comportamento dele? Basta não trabalhar mais com ele.

CRÍTICAS

Apesar da lista coroar os meus 5 favoritos do ano, obviamente é preciso mencionar outras produções que se destacaram de alguma forma. Dos blockbusters, vale citar Vingadores: Guerra Infinita, que foi a maior bilheteria do ano. Deixando meu lado de fã de quadrinhos, é preciso reconhecer esse trabalho estratégico e paciente de dez anos da Marvel Studios que culmina nesta produção, que soube contar com vários personagens sem ser maçante, e ainda apresenta com propriedade um vilão de alto nível como Thanos.

Ainda destacaria Missão: Impossível – Efeito Fallout, que pode não apresentar nada inovador, mas sem sombra de dúvida foi o melhor filme de ação do ano. É notável a entrega de Tom Cruise à franquia e como ele luta para se superar a cada filme. Falando em notabilidade, preciso mencionar o trabalho minucioso de stop motion da animação nova de Wes Anderson, Ilha dos Cachorros. Além da técnica impecável, trata-se de um design de personagens sublime. Só acho que carece um pouco mais de alma, mas talvez a Academia recompense Anderson pelas derrotas anteriores com este Oscar de Animação…

Também gostei do singelo Poderia Me Perdoar?. A história verídica me pegou pelo identificação com a protagonista: uma escritora em decadência que falsifica cartas de autores para pagar suas contas básicas. A dupla formada por Melissa McCarthy e Richard E. Grant é a melhor do ano. Espero que ambos estejam indicados no próximo Oscar. E ainda no campo do singelo, destaco também o drama Mais Uma Chance, que é da Netflix. É basicamente sobre um casal na casa dos 40 que luta para ter filho, chegando a recorrer aos ovários da sobrinha. Todos os três atores estão bem: Paul Giamatti, Kathryn Hahn e Kayli Carter.

Uma boa surpresa foi a ficção científica Upgrade. Jamais imaginei que o roteirista Leigh Whannel, de Sobrenatural e Jogos Mortais, criaria esse universo futurista onde a tecnologia seria debatida de forma divertida mas também incisiva. Infelizmente, não há previsão de estréia no Brasil, mas de qualquer forma, tem tudo para se tornar um cult movie.

E, por último, gostei de ver a nova loucura de Lars von Trier no cinema. A Casa que Jack Construiu tem um tema interessantíssimo que questiona a inteligência humana através da filosofia de um serial killer inescrupuloso. Só faço dois adendos: deveria ter abusado mais do humor negro da primeira metade, e apesar de entender os motivos do diretor, cortaria a sequência em que ele insere imagens dos filmes anteriores dele, pois não colabora com a trama e ainda abre brecha para críticas de auto-indulgência depois daquele episódio de Persona Non Grata no Festival de Cannes.

TOP 5 MELHORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. Hereditário (Hereditary/ 2018)
Dir: Ari Aster

4. Oitava Série (Eighth Grade/ 2018)
Dir: Bo Burnham

3. Roma (Roma/ 2018)
Dir: Alfonso Cuarón

2. Asako I & II (Netemo Sametemo/ 2018)
Dir: Ryûsuke Hamaguchi

1. Em Chamas (Beoning/ 2018)
Dir: Chang-dong Lee

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1º LUGAR: EM CHAMAS (Beoning), de Lee Chang-dong

TOP 5 MELHORES EM MÍDIA DIGITAL

5. O Silêncio do Lago (Spoorloos/ 1988)
Dir: George Sluizer

4. Através de um Espelho (Såsom i en spegel/ 1961)
Dir: Ingmar Bergman

3. 8½ (8½/ 1963)
Dir: Federico Fellini

2. O Parque Macabro (Carnival of Souls/ 1962)
Dir: Herk Harvey

1. O Segundo Rosto (Seconds/ 1966)
Dir: John Frankenheimer

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1º LUGAR: O SEGUNDO ROSTO (Seconds), de John Frankenheimer

IN MEMORIAN

Este ano, perdemos diretores icônicos e vencedores do Oscar. Milos Forman (venceu por Um Estranho no Ninho e Amadeus) e Bernardo Bertolucci (venceu por O Último Imperador), mas no caso dele, ficou mais famoso por filmes polêmicos como O Conformista, O Último Tango em Paris e Os Sonhadores. Outro diretor que entregou importantes filmes foi Nicolas Roeg, que destaco Inverno de Sangue em Veneza, O Homem que Caiu na Terra e Bad Timing. E agora no dia 17, a diretora Penny Marshall, mais conhecida pelas comédias Quero Ser Grande e Uma Equipe Muito Especial nos deixou.

Entre os atores, indicados ao Oscar nos deixaram: Burt Reynolds (que mais chama a atenção por uma vida repleta de arrependimentos por recusa de papéis importantes), Sondra Locke (ex-mulher de Clint Eastwood), Barbara Harris e a vencedora do Oscar de Coadjuvante em 1957 por Palavras ao Vento, Dorothy Malone. Também vale citar Margot Kidder, a eterna Lois Lane do Superman do saudoso Christopher Reeve.

Dos profissionais brasileiros, demos adeus às lendas Nelson Pereira dos Santos (diretor de Vidas Secas e Rio 40 Graus), Roberto Farias (diretor de Assalto ao Trem Pagador e dos filmes do cantor Roberto Carlos como Roberto Carlos em Ritmo de Aventura), e as atrizes Beatriz Segall (a eterna Odete Roitman da novela Vale Tudo) e Tônia Carrero, que brilhou nos filmes do extinto estúdio da Vera Cruz como Tico-Tico no Fubá.

Vale lembrar a perda das cantoras Aretha Franklin, cujas músicas sempre estarão em trilhas sonoras de vários filmes, e pra mim, em especial, Dolores O’Riordan, vocalista do grupo The Cranberries. A morte dela aos 46 anos (!) por afogamento após uma intoxicação alcóolica me deixou abatido por uns dias.

Demos adeus aos escritores Neil Simon, que apesar de ter sido indicado ao Oscar quatro vezes sem nenhuma vitória, tinha carreira consolidada e venerada no teatro como dramaturgo; e o roteirista William Goldman, vencedor de duas estatuetas do Oscar por Butch Cassidy e Todos os Homens do Presidente.

E não poderia falar de escritores sem mencionar Stan Lee. Embora os filmes da Marvel Studios sejam um sucesso pela estratégia de mesclar universos do produtor Kevin Feige, nada seria possível sem a inestimável contribuição criativa de Lee. Ele foi o pioneiro nos quadrinhos que enxergou a humanidade nos personagens de super-heróis, que eles poderiam ser falhos também e assim, facilitar a identificação com os leitores. Foi essa chave que até hoje gera essa conexão dos filmes com o grande público.

Stan Lee

VOTOS PARA 2019

Acho que o grande assunto no Brasil este ano foram as eleições para presidente. E o que mais fiquei chocado foi a defesa ferrenha que muitos faziam para candidatos que sequer mereciam o mínimo de confiança. Acho que depois de acompanhar tanto tempo a política brasileira, só defendo uma coisa: Nenhum político merece nossa confiança. Talvez o político em si seja até uma pessoa honesta, mas o sistema é muito corrupto e parece enraizado. Não vou nem entrar na questão das propostas, porque tem cada absurdo… Acho que o Brasil só vai pra frente com uma Reforma na Educação contando com um alto investimento.

Enfim, torço para que algo dê certo neste próximo governo. Que, de alguma forma, consigam afastar o país dessa crise, gerando mais emprego, renda e segurança, que é um problema crônico, mas sem esquecer da educação e da nossa cultura!

Apoio a diversidade de autores brasileiros, especialmente no cinema. Este ano, contamos com filmes bem distintos e alternativos como Café com Canela, As Boas Maneiras, O Animal Cordial, Arábia e Benzinho. O Cinema Brasileiro deixou de ser aquele recluso de favelas e seca no Nordeste. Se vamos ganhar o Oscar? Se dependesse apenas dos filmes, não teria dúvidas de que vai chegar a hora do Brasil, mas se a política continuar interferindo… vamos ver o cinema do Camboja, Cazaquistão e Paraguai ganhar antes da gente.

Desejo Feliz Ano Novo para todos que acompanham o blog e a página do Facebook! Que seja um ano repleto de alegrias, conquistas, saúde e paz!

Compartilhe seus melhores e/ou piores filmes que viu em 2018 nos comentários!

VENEZA ELEVA SEU STATUS AO ACEITAR OSCARIZÁVEIS E NETFLIX, REJEITADO EM CANNES

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Ryan Gosling como Neil Armstrong em O Primeiro Homem, de Damien Chazelle, abrirá a mostra competitiva de Veneza (pic by CineImage)

FESTIVAL ITALIANO VAI NA CONTRAMÃO DE CANNES E RECEBE PRODUÇÕES DE PLATAFORMAS COMO NETFLIX E AMAZON DE BRAÇOS ABERTOS

Se no Festival de Cannes, o negócio estava emperrado com uma série de restrições e até banimento das selfies no tapete vermelho, na cidade italiana de Veneza, it’s all open for business!

Filme da Netflix?
– Pode trazer que a gente põe até pra competir!
Filme restaurado inédito do Orson Welles distribuído pela Netflix?
– Traga que será recebido como uma gema do cinema!
Candidato fortíssimo ao prêmio da indústria hollywoodiana do Oscar?
– Não apenas concorrerá ao Leão de Ouro, como vai abrir a competição oficial.
Filme estrelado pela Lady Gaga?
– Aceitamos… mas pode ser na mostra paralela?

Quando questionado sobre a presença maciça da Netflix com seis títulos, o presidente do evento, Alberto Barbera, foi contundente: “Não podemos nos recusar a aceitar a realidade do novo cenário das produções.” Pela perspectiva dos cineastas, que buscam financiamentos e plataformas diversas para seus projetos, essa aceitação do festival foi abraçada e aplaudida. Só para citar um exemplo: o novo filme do mexicano Alfonso Cuarón, Roma, produzido pela Netflix, foi recusado em Cannes, mas aceito em Veneza. Quem sai perdendo nessa história?

Se antes Veneza já vinha num crescendo por ser uma prévia do Oscar (Vencedores do Oscar, Gravidade, Spotlight e A Forma da Água, estrearam no festival italiano), agora com essa abertura de formatos e plataformas, firma-se como o mais prestigiado no cenário internacional. E com isso em mente, o filme de abertura, O Primeiro Homem, do diretor de La La Land, Damien Chazelle, automaticamente se torna o franco-favorito para a próxima temporada de premiações.

Além de O Primeiro Homem contar com o triunfo de ser uma cinebiografia do astronauta Neil Armstrong, subgênero muito querido pela Academia, depois daquela lambança de La La Land ganhando e perdendo o Oscar de Melhor Filme em dois minutos, muitos votantes podem se sentir compelidos a compensar o diretor em 2019.

Outros nomes fortes aqui presentes para o Oscar são: Mike Leigh com seu drama histórico PeterlooJulian Schnabel com seu At Eternity’s Gate sobre a vida do artista Van Gogh; o novo filme dos irmãos Ethan e Joel CoenThe Ballad of Buster Scruggs, que era uma série originalmente que acabou virando um longa; o próprio Roma, de Alfonso Cuarón, que se passa na Cidade do México nos anos 70; e 22 July, de Paul Greengrass, que volta com mais uma tragédia terrorista que se passa na Noruega.

PETERLOO

Cena de Peterloo, de Mike Leigh (pic by Variety)

E diretores consagrados que costumam bater o cartão em festivais e sempre são favoritos aos grandes prêmios como o francês Jacques Audiard, que fez seu primeiro filme em inglês com The Sister Brothers, um western com Jake Gyllenhaal e Joaquin Phoenix; o grego Yorgos Lanthimos com The Favorite, que contou com as vencedoras do Oscar Emma Stone e Rachel Weisz. Também competindo pelo Leão de Ouro estão os ganhadores do Oscar de Filme em Língua Estrangeira: o húngaro László Nemes, que volta com Sunset; e o alemão Florian Henckel Von Donnersmarck, com Work Without Auhor.

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Joaquin Phoenix e John C. Reilly em cena de The Sister Brothers, de Jacques Audiard (pic by ew.com)

Dentre os concorrentes desta edição, Suspiria certamente tem um dos visuais mais arrebatadores. Dirigido pelo italiano Luca Guadanigno, que repete a ótima parceria com o diretor de fotografia Sayombhu Mukdeeprom com quem trabalhou em Me Chame Pelo seu Nome, a refilmagem teria chances mínimas de premiação ainda mais por ser do gênero terror, mas como o presidente do júri deste ano é ninguém menos do que o criador de monstros Guillermo Del Toro, algumas surpresas podem acontecer. Veja trailer abaixo:

Apesar de entender toda a situação da briga que o festival de Cannes compraria com os vários donos de cinemas na França se aceitasse a Netflix, por outro lado, agora está vendo o festival de Veneza investindo no futuro por ter uma mente mais aberta. Nas últimas duas décadas, vimos o Cinema como Arte definhar a cada ano e se tornar um mero produto de grandes estúdios, especialmente da Disney que, recentemente, oficializou a compra da Fox. Nesse cenário de decadência criativa, a Netflix e outras plataformas de streaming estão acolhendo cineastas que perderam sua liberdade criativa e lhes oferecendo oportunidades de criação de conteúdo de forma mais livre. Hoje, os filmes produzidos pela Netflix ainda demonstram certo amadorismo, mas com as recentes inclusões de talentos como Alfonso Cuarón no acervo, a tendência é que dentro de alguns anos, teremos mais filmes de Netflix no Oscar do que os que estrearam nos cinemas. Além disso, o valor do ingresso que já era caro, pode ficar ainda mais devido à redução de público nas salas de projeção.

INDICADOS AO LEÃO DE OURO DE VENEZA 2018:

EM COMPETIÇÃO

  • O Primeiro Homem (First Man). Dir: Damien Chazelle
  • The Mountain. Dir: Rick Alverson
  • Doubles Vies. Dir: Olivier Assayas
  • The Sisters Brothers. Dir: Jacques Audiard
  • The Ballad of Buster Scruggs. Dir: Ethan and Joel Coen
  • Vox Lux. Dir: Brady Corbet
  • Roma. Dir: Alfonso Cuarón
  • 22 July. Dir: Paul Greengrass
  • Suspiria (Suspiria). Dir: Luca Guadagnino
  • Work Without Author. Dir: Florian Henkel Von Donnersmark
  • The Nightingale. Dir: Jennifer Kent
  • The Favourite. Dir: Yorgos Lanthimos
  • Peterloo.  Dir: Mike Leigh
  • Capri-Revolution. Dir: Mario Martone
  • What You Gonna Do When The World’s On Fire?. Dir: Roberto Minervini
  • Sunset. Dir: László Nemes
  • Freres Ennemis. Dir: David Oelhoffen
  • Neustro Tiempo. Dir: Carlos Reygadas
  • At Eternity’s Gate. Dir: Julian Schnabel
  • Acusada. Dir: Gonzalo Tobal
  • Killing. Dir: Shinya Tsukamoto

FORA DE COMPETIÇÃO

SPECIAL EVENT

  • The Other Side Of The Wind. Dir: Orson Welles
  • They’ll Love Me When I’m Dead. Dir: Morgan Neville

PROJEÇÕES ESPECIAIS

  • My Brilliant Friend. Dir: Saverio Costanzo
  • Il Diario Di Angela – Noi Due Cineasti. Dir: Yervant Gianikian

FICÇÃO

  • Una Storia Senza Nome. Dir: Roberto Andò
  • Les Estivants. Dir: Valeria Bruni Tedeschi
  • A Star Is Born. Dir: Bradley Cooper
  • Mi Obra Maestra. Dir: Gaston Duprat
  • A Tramway in Jerusalem. Dir: Amos Gitai
  • Un Peuple et Son Roi. Dir: Pierre Schoeller
  • La Quietud. Dir: Pablo Trapero
  • Dragged Across Concrete. Dir: S. Craig Zahler
  • Shadow. Dir: Zhang Yimou

NÃO-FICÇÃO

  • A Letter to a Friend In Gaza. Dir: Amos Gitai
  • Aquarela. Dir: Victor Kossakovsky
  • El Pepe, Una Vida Suprema. Dir: Emir Kusturica
  • Process. Dir: Sergei Loznitsa
  • Carmine Street Guitars. Dir: Ron Mann
  • Isis, Tomorrow. The Lost Souls Of Mosul. Dir: Francesca Mannocchi, Alessio Romenzi
  • American Dharma. Dir: Errol Morris
  • Introduzione All’Oscuro. Dir: Gaston Solnicki
  • 1938 Diversi. Dir: Giorgio Treves
  • Your Face. Dir: Tsai Ming-Liang
  • Monrovia, Indiana. Dir: Frederick Wiseman

MOSTRA HORIZONTES

  • Sulla Mia Pelle. Dir: Alessio Cremonini
  • Manta Ray. Dir: Phuttiphong Aroonpheng
  • Soni. Dir: Ivan Ayr
  • The River. Dir: Emir Baigazin
  • La Noche de 12 Anos. Dir: Alvaro Brechner
  • Deslembro. Dir: Flavia Castro
  • The Announcement. Dir: Mahmut Fazil Coskun
  • Un Giorno All’Improvviso. Dir: Ciro D’Emilio
  • Charlie Says. Dir: Mary Harron
  • Amanda. Dir: Mikhael Hers
  • The Day I Lost My Shadow. Dir: Soudade Kaadan
  • L’Enkas. Dir: Sarah Marx
  • The Man Who Surprised Everyone. Dir: Evgeniy Tsiganov, Natalya Kudryashowa
  • Through The Holes. Dir: Garin Nugroho
  • As I Lay Dying. Dir: Mostafa Sayyari
  • La Profezia Dell’armadillo. Dir: Emanuele Scaringi
  • Stripped. Dir: Yaron Shani
  • Jinpa. Dir: Pema Tseden
  • Tel Aviv on Fire. Dir: Same Zoabi
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