NETFLIX VENCE COM FILME DE SPIKE LEELANÇADO EM JUNHO DE 2020, AUMENTANDO CHANCES DE OSCAR
Formado por cineastas, profissionais, acadêmicos, estudantes e entusiastas de cinema, o seleto grupo do National Board of Review elegeu o novo filme de Spike Lee, Destacamento Blood, como o Melhor Filme do ano. Em meados de 2020, a produção figurava como um dos favoritos para a temporada de premiações, mas nos últimos meses, vinha sendo reconhecido apenas pelas atuações de Delroy Lindo e Chadwick Boseman. Esta vitória volta a colocar o filme no mapa, pois os vencedores do NBR costumam receber pelo menos a indicação ao Oscar de Melhor Filme.
Já o nova-iorquino Spike Lee se torna o segundo negro a vencer o prêmio de Direção, também por Destacamento Blood, após a consagração de Barry Jenkins por Moonlight em 2016. Embora não tenha vencido prêmios competitivos dos críticos da NYFCC, o grupo lhe concedeu a honraria de Prêmio Especial pelo curta intitulado New York New York, filmado durante a pandemia.
Nas categorias de atuação, o NBR reconheceu a dupla de O Som do Silêncio, Riz Ahmed e Paul Raci, como Melhor Ator e Ator Coadjuvante, respectivamente. Já na ala feminina, Carey Mulligan vence seu segundo prêmio de Melhor Atriz do NBR por Bela Vingança (ela já havia vencido em 2009 por Educação), e a sul-coreana Yuh-jung Youn foi eleita a Melhor Atriz Coadjuvante por Minari, consolidando ainda mais seu favoritismo na categoria rumo ao Oscar.
O National Board of Review tem o costume de fazer seu top 10 (que este ano foi top 11) e top 5 para filmes, filmes independentes, filmes em língua estrangeira e documentário para beneficiar mais produções com seu prestígio de 112 anos. Dessa forma, os filmes Judas e o Messias Negro, O Céu da Meia-Noite, First Cow, Nomadland, Nunca Raramente Às Vezes Sempre (que também venceu o prêmio de Revelação) e Relatos do Mundo (que também ganhou o prêmio de Roteiro Adaptado) contaram com mais uma ajuda para si promoverem. As ausências mais sentidas ficaram por conta de A Voz Suprema do Blues, Mank, Os 7 de Chicago, Meu Pai, On the Rocks e Tenet.
CONFIRA TODOS OS VENCEDORES DO NBR:
MELHOR FILME Destacamento Blood (Da 5 Bloods)
MELHOR DIRETOR Spike Lee (Destacamento Blood)
MELHOR ATOR Riz Ahmed (O Som do Silêncio)
MELHOR ATRIZ Carey Mulligan (Bela Vingança)
MELHOR ATOR COADJUVANTE Paul Raci (O Som do Silêncio)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE Youn Yuh-Jung (Minari)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO Paul Greengrass, Luke Davies (Relatos do Mundo)
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL Lee Isaac Chung (Minari)
MELHOR PERFORMANCE REVELAÇÃO Sidney Flanigan (Nunca Raramente Às Vezes Sempre)
MELHOR ESTREIA NA DIREÇÃO Channing Godfrey Peoples (Miss Juneteenth)
MELHOR LONGA DE ANIMAÇÃO Soul
MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA La Llorona (Guatemala)
MELHOR DOCUMENTÁRIO Time
PRÊMIO NBR ICON: Chadwick Boseman PRÊMIO NBR DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO: One Night in Miami PRÊMIO NBR SPOTLIGHT: Radha Blank por escreverm dirigir, produzir e estrelar em The Forty-Year-Old Version MELHOR ELENCO: Destacamento Blood MELHOR FOTOGRAFIA: Joshua James Richards (Nomadland)
TOP FILMES (em ordem alfabética)
First Cow (A24)
The Forty-Year-Old Version (Netflix)
Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah) (Warner Bros.)
O Céu da Meia-Noite (The Midnight Sky) (Netflix)
Minari (A24)
Relatos do Mundo (News of the World) (Universal Pictures)
Nomadland (Searchlight Pictures)
Bela Vingança (Promising Young Woman) (Focus Features)
Soul (Pixar)
O Som do Silêncio (Sound of Metal) (Amazon Studios)
TOP 5 FILMES EM LÍNGUA ESTRANGEIRA (em ordem alfabética)
Apples (Grécia)
Collective (Romênia)
Dear Comrades (Rússia)
O Agente Duplo (The Mole Agent) (Chile)
Night of the Kings (Costa do Marfim)
TOP 5 DOCUMENTÁRIOS (em ordem alfabética)
All In: The Fight for Democracy (Amazon Studios)
Boys State (A24/Apple TV Plus)
As Mortes de Dick Johnson (Dick Johnson is Dead) (Netflix)
Miss Americana (Netflix)
The Truffle Hunters (Sony Pictures Classics)
TOP 10 FILMES INDEPENDENTES (em ordem alfabética)
The Climb (Sony Pictures Classics)
Driveways (FilmRise)
Farewell Amor (IFC Films)
Miss Juneteenth (Vertical Entertainment)
The Nest (IFC Films)
Nunca Raramente Às Vezes Sempre (Never Rarely Sometimes Always) (Focus Features)
The Outpost (Chicken Soup for the Soul Entertainment)
APÓS VITÓRIA DE ‘PARASITA’ COMO MELHOR FILME E FILME INTERNACIONAL, CAMPANHAS TENDEM A SER MAIS AMBICIOSAS
Neste segundo ano da categoria renomeada Filme Internacional (ex-Filme em Língua Estrangeira), houve um pró e um contra. O pró se deve à vitória da produção sul-coreana Parasita na última edição do Oscar, na qual venceu 4 estatuetas, sendo uma histórica: Melhor Filme. Até o ano passado, todos imaginavam que isso seria impossível, já que em 91 anos de premiação, a Academia sempre preteriu filmes de outros idiomas nessa categoria, embora tenha indicado alguns ao longo de sua história como Roma, de Alfonso Cuarón. Com essa porta finalmente aberta, as campanhas de filmes internacionais não devem mais se limitar a uma única categoria, e o Oscar tem tudo para se tornar um prêmio mais globalizado e diversificado.
O contra fica por conta da pandemia do Covid-19. Embora os prazos para inscrições tenham se estendido, trata-se de um ano atípico, pois as campanhas não poderão atuar como antes com sessões fechadas para evitar aglomerações. Por outro lado, a vantagem é que a Academia lançou sua própria plataforma de streaming para membros, o que em tese facilita o acesso dos filmes para os votantes. Resta saber se eles vão conseguir assistir cerca de 90 filmes (quase ninguém vai) e quais filmes eles vão selecionar para assistir e porquê. Se houvesse campanha normal, ela faria diferença, mas nesse cenário, vai depender apenas de publicidade em sites e revistas; lembrando ainda que este é o último ano permitido para cópias de DVD e Blu-ray para membros, pois a Academia está buscando sustentabilidade há alguns anos.
CURIOSIDADES
Devido à pandemia, os filmes elegíveis tiveram um prazo maior no quesito data de lançamento, que pode ter ocorrido em seus países entre os dias 1º de Outubro de 2019 a 31 de Dezembro de 2020, o que acaba atrasando um pouco as inscrições. Até o momento, temos 87 filmes inscritos, mas esse número pode aumentar ainda com a oficialização de países como Camboja, Gana, Nepal, Uganda e Malawi. Este ano, três países inscreveram um filme pela primeira vez na história: o Sudão, que enviou You Will Die at 20, o Suriname, que inscreveu Wiren, e o Lesoto, que com seu Isso Não é um Enterro, É uma Ressurreição tem grandes chances de conquistar também sua primeira indicação.
O país asiático Butão, que inscreveu Lunana: A Yak in the Classroom, participa do Oscar após um longo intervalo de 21 anos.
COMO ESTÁ A DISPUTA ATÉ O MOMENTO?
Apesar da pandemia, a melhor forma de publicidade continua sendo a inclusão em festivais internacionais como Cannes (que embora não tenha acontecido fisicamente, liberou uma lista de selecionados), Berlim, Veneza, Sundance e Toronto, portanto, aquelas produções que tiveram passagem nesses eventos acabam largando na frente dos demais.
ANOTHER ROUND (Dinamarca). Dir: Thomas Vinterberg Nesse quesito, o representante dinamarquês é um dos que mais se destacam. Selecionado no Festival de Cannes, o filme acompanha quatro professores colegiais que fazem um teste que melhoraria a qualidade de suas vidas ao manter um nível constante de álcool no sangue. Comédia pode não ser o gênero favorito da Academia, mas vale lembrar que a parceria entre o diretor Vinterberg (um dos fundandores do movimento Dogma 95) e o ator Mads Mikkelsen deu origem à indicação ao Oscar por A Caça em 2013.
QUO VADIS, AIDA? (Bósnia Herzegovina). Dir: Jasmila Zbanic Além de ter sido indicado ao Leão de Ouro no último Festival de Veneza, o filme apresenta uma premissa que parece concebida para conquistar uma vaga no Oscar: a tradutora Aida, que trabalha para a ONU, tem sua família procurando por abrigo no acampamento da ONU após o exército Sérvio tomar conta de sua cidade. A última vez que a Bósnia esteve no Oscar foi em 2002, quando ganhou o prêmio de Filme em Língua Estrangeira pelo bom Terra de Ninguém, que curiosamente também lida com guerra e ONU.
ISSO NÃO É UM ENTERRO, É UMA RESSURREIÇÃO (Lesoto). Dir: Lemohang Jeremiah Mosese Com passagem em vários festivais, inclusive Sundance, onde foi indicado ao Grande Prêmio do Júri, esta modesta produção tem como protagonista uma senhora viúva de mais de 80 anos que, quando ameaçada para sair de suas terras para a construção de uma barragem, acende seu espírito de resiliência. A trama lembra um pouco o brasileiro Aquarius, e o filme foi bastante elogiado na última edição da Mostra de Cinema de SP.
AND TOMORROW THE ENTIRE WORLD (Alemanha). Dir: Julia von Heinz Este filme alemão foi indicado ao Leão de Ouro em Veneza, mas o que mais chama a atenção é sua vertente mais política que ajuda a conquistar votos. Na trama, uma estudante de Direito de 20 anos se junta ao movimento anti-fascista (Antifa) por se opor à ascensão da extrema direita na Alemanha. A história teria como base a experiência da própria diretora Julia von Heinz, que já foi integrante do movimento, e agora busca discutir suas perspectivas a respeito.
LA LLORONA (Guatemala). Dir: Jayro Bustamante Com passagem também em Veneza, este filme apresenta uma mistura de filme político e ficção com toques sobrenaturais. Um general aposentado que supervisionou um genocídio foi absolvido dos crimes e assassinatos, mas passa a sofrer de crises de demência relacionada ao Alzheimer. Contudo, o filme apoia a sugestão de que o espírito tradicional da Llorona esteja por trás dessa vingança.
OUTROS DESTAQUES
Muitas vezes, os países selecionam seus filmes baseados na credibilidade dos diretores. No caso do Japão, República Tcheca e do Irã, por exemplo, os respectivos nomes de Naomi Kawase, Agnieszka Holland e Majid Majidi reforçam essa estratégia de largar na frente com nomes já consagrados em festivais e até no Oscar. Brillante Mendoza é talvez o cineasta mais famoso das Filipinas e vive nos festivais. Já Fernando Trueba já ganhou o Oscar pela Espanha por Sedução, mas este ano defende a Colômbia.
Embora não esteja tão forte na disputa, é preciso ressaltar que o representante turco, O Milagre na Cela 7, ganhou notoriedade após o sucesso de público na plataforma da Netflix. Ainda sobre a Netflix, o representante da Áustria, Quando a Vida Acontece (What We Wanted) também está disponível no catálogo. Já pela Globoplay, temos disponível o chileno Agente Duplo no acervo.
E O BRASIL?
A comissão formada por membros da Academia Brasileira de Cinema (lembrando novamente que não houve interferência do governo) apostou suas fichas em Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou. Foi uma escolha incomum por se tratar de um documentário, e ainda em preto-e-branco, mas dentre alguns argumentos para sua defesa estão o tema (Babenco já foi um diretor indicado ao Oscar nos anos 80) e a classificação automática na categoria de Melhor Documentário. O filme de estréia de Bárbara Paz pode ser indicado nessas duas categorias ao mesmo tempo, assim como aconteceu este ano com o filme da Macedônia do Norte, Honeyland.
Apesar de não ter havido um franco-favorito nessa seleção brasileira, Casa de Antiguidades (que foi selecionado por Cannes) era cotado como um dos favoritos, mas logo atrás vinham Pacarrete (que conquistou o festival de Gramado), Sertânia e Marighella. Agora não adianta pensar em hipóteses do que poderia acontecer, mas uma coisa é certa: se Bacurau fosse o selecionado deste ano (já concorreu ano passado), as chances do Brasil no Oscar seriam infinitamente maiores, pois o filme de Kléber Medonça Filho e Juliano Dornelles estreou comercialmente nos EUA este ano e vem conquistando a crítica e até aparecendo em listas de melhores de 2020. Uma pena. Central do Brasil continua sendo nossa última indicação nesta categoria, desde 1999.
A 93ª cerimônia do Oscar acontecerá no dia 25 de Abril, e as indicações serão anunciadas no dia 15 de Março.
CONFIRA OS FILMES SELECIONADOS POR SEUS PAÍSES PARA DISPUTAR VAGA NO OSCAR 2021 (ATÉ O MOMENTO):
PAÍS
FILME
DIRETOR (A) (ES)
África do Sul
Toorbos
Rene van Rooyen
Albânia
Open Door
Florenc Papas
Alemanha
And Tomorrow the Entire World
Julia von Heinz
Arábia Saudita
Scales
Shahad Ameen
Argélia
Héliopolis
Djafar Gacem
Argentina
The Sleepwalkers
Paula Hernández
Armênia
Songs of Solomon
Arman Nshanyan
Áustria
Quando a Vida Acontece
Ulrike Kofler
Bangladesh
Sincerely Yours, Dhaka
11 diretores
Bélgica
Working Girls
Frédéric Fonteyne, Anne Paulicevich
Bielorússia
Persian Lessons
Vadim Perelman
Bolívia
Chaco
Diego Mondaca
Bósnia Herzegovina
Quo Vadis, Aida?
Jasmila Žbanić
Brasil
Babenco: Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou
Bárbara Paz
Bulgária
The Father
Kristina Grozeva, Petar Valchanov
Butão
Lunana: A Yak in the Classroom
Pawo Choyning Dorji
Canadá
14 Days, 12 Nights
Jean-Philippe Duval
Cazaquistão
The Crying Steppe
Marina Kunarova
Chile
Agente Duplo
Maite Alberdi
China
Leap
Peter Chan
Colômbia
Forgotten We’ll Be
Fernando Trueba
Coréia do Sul
The Man Standing Next
Woo Min-ho
Costa do Marfim
Night of the Kings
Philippe Lacôte
Costa Rica
Terra das Cinzas
Sofía Quirós Ubeda
Croácia
Extracurricular
Ivan-Goran Vitez
Dinamarca
Another Round
Thomas Vinterberg
Egito
When We’re Born
Tamer Ezzat
Equador
Emptiness
Paul Venegas
Eslováquia
The Auschwitz Report
Peter Bebjak
Eslovênia
Stories from the Chestnut Woods
Gregor Bozic
Espanha
The Endless Trench
Aitor Arregi, Jon Garaño, Jose Mari Goenaga
Estônia
The Last Ones
Veiko Õunpuu
Filipinas
Mindanao
Brillante Mendoza
Finlândia
Tove
Zaida Bergroth
França
Nós Duas
Filippo Meneghetti
Geórgia
Beginning
Dea Kulumbegashvili
Grécia
Apples
Christos Nikou
Guatemala
La Llorona
Jayro Bustamante
Holanda
Buladó
Éche Janga
Hong Kong
Better Days
Derek Tsang
Hungria
Preparations to be Together for an Unknown Period of Time