ROMENO ‘BAD LUCK BANGING OR LOONY PORN’ VENCE o URSO DE OURO em BERLIM

COMÉDIA ROMENA SOBRE PRÉ-JULGAMENTO CONQUISTA JÚRI COMPOSTO POR VENCEDORES ANTERIORES

Nesta primeira edição online do Festival de Berlim, tivemos apenas 15 filmes selecionados oficialmente (normalmente são cerca de 18) e o júri foi composto exclusivamente por vencedores do Urso de Ouro. O maior destaque da seleção havia sido o novo filme da diretora francesa Céline Sciamma (conhecida mundialmente por Retrato de uma Jovem em Chamas), Petite Maman, mas curiosamente foi um dos poucos filmes que saiu do evento sem nenhum prêmio.

Talvez o fato do festival alemão ter um histórico de filmes mais políticos ou politizados tenha desfavorecido Sciamma, mas felizmente o júri tinha bom humor para reconhecer uma comédia romena com o Urso de Ouro. Bad Luck Banging or Loony Porn (que poderia ser traduzido livremente como ‘Azar na Transa ou Pornografia Maluca’) acompanha a professora Emi, que tem sua vida e carreira ameaçadas após um vídeo de sexo ter vazado na internet. Apesar da forte pressão da escola e dos pais dos alunos, ela se recusa a se render.

Pra quem conhece ou já viu um dos filmes do diretor Radu Jude (aliás, ele ganhou o prêmio de Direção em 2015 por Aferim!, que é ótimo), sabe que ele tem um senso de humor incomum, sutil e sofisticado. O júri defendeu sua escolha dizendo que o filme tem “a rara e essencial qualidade de uma obra duradoura. Ele captura na tela o próprio conteúdo e essência, a mente e o corpo, os valores e a carne crua de nosso presente momento. Deste exato momento da existência humana”. Obviamente, não vi o filme, mas vendo o trailer, é possível dizer que se trata de uma sátira sobre esse julgamento moral existente em redes sociais e na opinião pública que pode facilmente destruir uma vida. Segue link abaixo para o trailer em inglês:

Considerado o 2º lugar, o Grande Prêmio do Júri foi para o filme japonês Wheel of Fortune and Fantasy (traduzindo livremente “A Roda da Fortuna e da Fantasia”), que narra três histórias sobre amor centradas em personagens femininas. Em 2018, Asako I e II foi um dos meus filmes favoritos, então tenho expectativas para este novo trabalho de Ryusuke Hamaguchi. Com histórias delicadas e bem humoradas, o diretor trabalha como poucos o lado singelo e lúdico que merece mais reconhecimento.

O cinema sul-coreano de Hong Sang-soo foi novamente premiado. Embora o autor tenha se tornado uma figura carimbada em festivais internacionais nos últimos anos, sempre tem batido na trave quando se trata de prêmio máximo. Já venceu prêmio de Direção em Berlim, Un Certain Regard em Cannes e indicado na mostra Horizontes em Veneza, mas ainda está faltando aquele prêmio para consagrar sua carreira. Nesta edição de Berlim, seu filme Introduction levou o prêmio de Melhor Roteiro sobre um homem que viaja para a Alemanha para surpreender sua namorada.

Fugindo da tradição, o festival alterou as categorias de atuação. Ao invés de premiar atuações masculinas e femininas, o reconhecimento foi para personagem primário e secundário. Maren Eggert foi eleita a Melhor Atriz ao interpretar uma cientista que se submete a um experimento de conviver por três semanas com um robô humanóide para obter fundos para sua pesquisa na comédia I’m Your Man. Já como Coadjuvante, a jovem Lilla Kizlinger foi reconhecida pelo filme Forest – I See You Everywhere.

Vale lembrar que a 71ª edição de Berlim ainda não acabou. Entre 09 e 20 de Junho, o evento será presencial com público, ainda respeitando as normas sanitárias da pandemia.

Confira todos os vencedores do Festival de Berlim:

URSO DE OURO
Bad Luck Banging or Loony Porn
Dir: Radu Jude

GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
Wheel of Fortune and Fantasy
Dir: Ryusuke Hamaguchi

PRÊMIO DO JÚRI
Mr Bachmann and His Class
Dir: Maria Speth

DIREÇÃO
Dénes Nagy (Natural Light)

ATUAÇÃO PRIMÁRIA
Maren Eggert (I’m Your Man)

ATUAÇÃO SECUNDÁRIA
Lilla Kizlinger (Forest – I See You Everywhere)

ROTEIRO
Hong Sangsoo (Introduction)

CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA
Yibrán Asuad pela montagem de A Cop Movie, de Alonso Ruizpalacios

MOSTRA PARALELA ENCONTROS

MELHOR FILME
We
Dir: Alice Diop

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
Taste
Dir: Lê Bảo

MELHOR DIREÇÃO
The Girl and the Spider
Dir: Ramon Zürcher, Silvan Zürcher


Social Hygiene
Dir: Denis Côté

MENÇÃO ESPECIAL
Rock Bottom Riser
Dir: Fern Silva

RETROSPECTIVA 2018: O ANO da NETFLIX?

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Normalmente, eu posto um vídeo promocional da próxima edição do Oscar que o futuro host publica na internet, mas depois da confusão e demissão de Kevin Hart…

Olá, pessoal! Mais um ano se foi! Foi um ano bom ou ruim pra você?
Queria agradecer a todos que acompanharam o blog e a página do Facebook. Se comentaram, se leram, ou se apenas deram aquela passadinha, obrigado por seu apoio! Estou realizando este trabalho por puro prazer há 7 anos e sendo recompensado pelos seus views e participações. Agradeço bastante ao meu colaborador assíduo Hugo Cancela, aos amigos Bruna Martins, Flávia Fernandes, Antonio Lopes, Karoline Alves e Alice Ayres, e frequentadores assíduos como a rainha do Oscar Frame, Elisieli Rodrigues, Cristiano Filiciano, Miriam Moldes, Henrique Cereja, Fummanation Bonsucesso, Berto Leno, Tiago Bistaffa, Elza Vieira, Amélia Cassis, Yuri Dias, Lília Ricardo, Kátia Nunes e Verinha Dau, enfim, são tantos nomes que daria uma lista extensa! Peço desculpas por não poder incluir todos aqui!

Queria aproveitar para agradecer ao crítico Chico Fireman por me possibilitar trabalhar com as cabines de lançamentos de filmes, e pela sua generosidade e atenção!

META DE 2018

Continuando minha meta de 2017, procurei assistir mais àqueles filmes clássicos ou cults pra reduzir um pouco minha watchlist. Um que tenho orgulho de finalmente ter conferido é o clássico italiano , de Federico Fellini. Sério, eu não estava aguentando mais ver esse filme no topo da minha lista me olhando e perguntando: “E aí? Quando você vai me ver?” Eu lembro a última vez que viajei pra fora do país em 2014, eu jurava: “Antes de pegar esse avião, eu vou ver o filme do Fellini. Vai que eu morro…” Enfim, tomei coragem e assisti. Eu achava que o filme me daria uma dor de cabeça enorme, mas vi uma belíssima homenagem do diretor às mulheres que amou na vida. Ainda tenho vários do Fellini pra ver como Julieta dos Espíritos e A Doce Vida, mas quem sabe em 2019?

Falando em mestres do cinema, estou satisfeito por ter acrescido mais três obras do sueco Ingmar Bergman. Finalmente assisti a Através de um EspelhoSonata de Outono e Gritos e Sussurros. Depois de assistir aos filmes dele, é inevitável não parar pra refletir sobre a vida e a família, que são temas bem fortes na filmografia dele. O quanto realmente nos importamos com familiares diante de situações difíceis. Além do diretor levantar esses questionamentos, ainda cria obras visuais extremamente poderosas com a ajuda inestimável de atrizes do calibre de Ingrid Bergman, Liv Ullmann e Harriet Andersson.

Também consegui assistir pela primeira vez a A Mulher Faz o Homem (1939). Nunca fui muito fã do Frank Capra porque ele entrega uma visão demasiada otimista. Não que isso seja um defeito, mas sempre tive preferência por um cinema que expõe defeitos e falhas humanas, seja para o bem ou para o mal. É louvável acompanhar a luta de um jovem senador idealista contra um sistema corrupto, ainda mais hoje num Brasil que revela um novo caso de corrupção a cada dia, mas alguns personagens se tornam bidimensionais nessa visão, mesmo James Stewart.

8 Autumn Mr Smith

8½, Sonata de Outono e A Mulher Faz o Homem

Revisitei alguns diretores renomados como François Truffaut com Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois (1962), Wim Wenders com Asas do Desejo (1987), Billy Wilder com Testemunha de Acusação (1957), e Dario Argento com Suspiria (1977), que fiz questão de conferir antes de assistir à refilmagem, que nunca estréia aqui no Brasil! E vi uma obra-prima pouco conhecida aqui intitulada O Segundo Rosto (1966), de John Frankenheimer, que apresenta uma trama de ficção científica na qual uma organização secreta oferece uma segunda chance aos ricos, alterando suas aparências e encenando a morte das pessoas que foram. Rock Hudson, que sempre teve imagem de cowboy machão mas era homossexual, caiu como uma luva no papel principal e entrega a performance de sua vida.

PIORES DO ANO

Eu tinha o costume de comentar uns dois ou três filmes que foram decepcionantes, mas a partir deste ano, já dá pra formar uma lista dos 5 piores. Reparem que todos os filmes da lista são parte de uma franquia (considerando que Venom faz parte do universo do Homem-Aranha) ou é uma refilmagem. Quando Hollywood só pensa nos números lucrativos, o Cinema perde.

Por pouco Jogador Nº 1 não entra na lista. Depois de me desapontar muito com The Post: A Guerra Secreta, vejo que Steven Spielberg deveria dar um break na carreira, sei lá, tirar um ano sabático, pra refletir sobre o que cinema representa pra ele, porque parece que ele tem feito mais filmes com cabeça de produtor ultimamente… E pior é que dos três projetos futuros dele, um é a sequência de Indiana Jones com Harrison Ford (taí outro que precisa de uma pausa longa) e o outro é a refilmagem (totalmente desnecessária) do clássico musical Amor Sublime Amor (1961). Claro que posso queimar minha língua, mas Spielberg, cadê sua criatividade?

E apesar de querer assistir de tudo, sempre dou mais prioridade aos filmes que acho que podem ser bons, afinal, se tenho pouco tempo pra ver filmes, por que gastar as horinhas preciosas com filmes que tenho quase certeza de que serão meia-boca? Nesse quesito, deixei de assistir aos possíveis candidatos desta lista: Han Solo: Uma História Star Wars (que pelo histórico de produção conturbado, só pode ser um resultado desastroso) e o Fenda no Tempo, a mega produção politicamente correta da Disney.

TOP 5 PIORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. Venom (Venom)
Dir: Ruben Fleischer

4. Halloween (Halloween)
Dir: David Gordon Green

3. Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider)
Dir: Roar Uthaug

2. A Freira (The Nun)
Dir: Corin Hardy

1. Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom)
Dir: J.A. Bayona

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Chris Pratt em cena da desastrosa sequência Jurassic World: O Reino Ameaçado (pic by OutNow.CH)

OSCAR 2018: POLITICAMENTE CORRETO NUMA CERIMÔNIA MORNA

Os produtores da cerimônia resolveram dar uma colher de chá para Jimmy Kimmel e o convidaram novamente para ser host após aquela lambança do envelope errado no ano passado. Apesar de ter acertado naquela premiação do jet ski para o discurso mais curto, ainda cometeu equívocos como aquela chocha invasão à sala de cinema do outro lado da rua, na vã tentativa de aproximar o público comum das estrelas de Hollywood.

Contudo, não dá pra culpá-lo. Os próprios organizadores resolveram baixar o tom da festa e correr risco zero para evitar erros e polêmicas. Desde o monólogo politicamente correto de Kimmel, até os números musicais bastante contidos no palco comprovaram a postura que a Academia impôs ao evento.

Quanto aos resultados, chegamos ao limite do previsível, principalmente em relação aos atores. Com Gary Oldman, Frances McDormand, Sam Rockwell e Allison Janney ganhando todos os prêmios importantes anteriores, ficou difícil surpreender o público com algum resultado inesperado. Por isso mesmo, a partir da próxima cerimônia, a data será adiantada para o mês de fevereiro com o intuito de reduzir o impacto dos prêmios que o antecedem.

Sobre os resultados, torci bastante para Corra! levar Melhor Filme, Diretor e Roteiro Original, que felizmente Jordan Peele acabou levando. Gostei das premiações de James Ivory pelo Roteiro Adaptado de Me Chame Pelo Seu Nome, de Roger Deakins finalmente levando seu Oscar por Blade Runner 2049, e de Sebastián Lelio levando o primeiro Oscar de Filme em Língua Estrangeira para o Chile por Uma Mulher Fantástica.

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Da esquerda para a direita: Jordan Peele leva o Oscar de Roteiro Original por Corra!, Roger Deakins de Fotografia por Blade Runner 2049, e Sebastián Lelio de Filme em Língua Estrangeira por Uma Mulher Fantástica.

Em relação às categorias de atuação, os votantes da Academia deveriam repensar melhor seu modo de avaliar as interpretações. Este ano, tivemos duas performances clichês e rotuladas levando o Oscar mais por causa dos efeitos de maquiagem transformativa: Gary Oldman com próteses esbravejando como um cachorro, e Allison Janney como a mãe amarga e envelhecida pela maquiagem. Timothée Chalamet e Lesley Manville trabalharam muito mais as nuances de seus personagens, e com pouco esforço, superaram os vencedores.

NETFLIX NOS FESTIVAIS E NO OSCAR

Claro que ainda não é oficial, mas Roma pode se tornar o primeiro filme da NETFLIX indicado ao Oscar de Melhor Filme, e por que não o primeiro a ganhar a estatueta? É inevitável o espaço e a importância que a Netflix e outras plataformas de streaming como a Amazon e a Hulu estão conquistando no mercado. Já é uma realidade de trabalho para inúmeros profissionais, assim como de alto consumo.

Diante desse cenário, eu faço a seguinte indagação: “Até quando vão ficar de birra, distribuidores franceses e organizadores do Festival de Cannes?”. Enquanto essa turma ficar discutindo a permanência de um sistema ultrapassado e a linguagem cinematográfica da Netflix, a empresa está dando risada, lucrando e ainda ganhando prêmios em outros festivais! Roma ganhou o Leão de Ouro em Veneza.

Obviamente, preferi assistir ao filme de Alfonso Cuarón numa sala de cinema com projeção em tela grande e som de qualidade, mas se não pudesse, assistiria na TV de casa mesmo (com um volume que meus vizinhos reclamariam), mas assistiria! A Netflix veio para suprir um tipo de cinema que os produtores de Hollywood já não querem mais fazer, pois estão visando apenas os lucros sem margem para erros ou riscos, por isso só temos blockbusters e adaptações de best-sellers nas salas de cinema.

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Foto que tirei na sessão especial de Roma no Kinoplex Itaim

Eu gostaria apenas que a Netflix e outras plataformas fizessem um esforço para colocar filmes selecionados para salas de cinema. Tipo, não faço questão de ver Para Todos os Garotos que Já Amei no cinema, mas Roma é outro nível de cinema que merece uma boa projeção. Isso certamente valorizaria ainda mais os profissionais e acabaria atraindo outros a trabalhar para a empresa.

TWITTER DESTRUINDO CARREIRAS

Sabe aquele ditado “O passado não perdoa”? Graças ao Twitter, o passado voltou para atormentar e destruir as carreiras profissionais de algumas personalidades. A mais comentada foi do diretor e roteirista James Gunn, que foi demitido pela Disney de Guardiões da Galáxia Vol. 3. Quando seus tuítes de vários anos atrás voltaram à tona, viram que ele não batia muito bem. Quer dizer, as piadas de humor negro eram chocantes demais para qualquer executivo da Disney que quer preservar a imagem família feliz da empresa global. Eu entendo o lado da Disney, que seria atacada pela imprensa se não demitisse Gunn e correria sério risco de ter suas ações em queda, mas demitir por piada estúpida de Twitter de 10 anos atrás? Não poderiam dar uma chance do diretor se retratar publicamente? O cara ganhou bilhões de dólares com os dois Guardiões da Galáxia!

Twitter

Tweets antigos de James Gunn e Kevin Hart que ocasionaram em suas demissões

E no início de dezembro, o Twitter fez uma nova vítima: o ator e comediante Kevin Hart, que foi convidado pela Academia para ser host do Oscar 2019. No dia seguinte, porém, tuítes antigos dele, que denotavam uma figura pública homofóbica, foram descobertos. Certos de que ele seria crucificado, principalmente pela comunidade LGBT, os organizadores da Academia lançaram um ultimato para ele se desculpar, o que acabou não acontecendo. E dois dias depois do anúncio, Hart desistiu do cargo.

Sou totalmente contra qualquer tipo de censura. Mas os tempos são outros. Hoje, as empresas demitem por qualquer comportamento impróprio. Qualquer um. Não existe perdão de declarações do passado também, por isso, no caso do Twitter, onde os tuítes são “deletáveis”, melhor apagá-los. Evitaria desgastes como esse que a Academia passou agora.

Esses acontecimentos reabrem a velha discussão da separação entre pessoa e artista. Por exemplo, com o escândalo de Woody Allen que foi acusado de abusar da filha, inúmeras pessoas passaram a avaliar seus filmes de forma negativa por causa da acusação. Inclusive, achei patético a declaração da atriz Mira Sorvino, que alegou arrependimento de ter trabalhado com Allen no filme Poderosa Afrodite (1995), que lhe rendeu o Oscar de Atriz Coadjuvante e lançou seu nome em Hollywood. Cuspir no prato que comeu é fácil. Não aprova o comportamento dele? Basta não trabalhar mais com ele.

CRÍTICAS

Apesar da lista coroar os meus 5 favoritos do ano, obviamente é preciso mencionar outras produções que se destacaram de alguma forma. Dos blockbusters, vale citar Vingadores: Guerra Infinita, que foi a maior bilheteria do ano. Deixando meu lado de fã de quadrinhos, é preciso reconhecer esse trabalho estratégico e paciente de dez anos da Marvel Studios que culmina nesta produção, que soube contar com vários personagens sem ser maçante, e ainda apresenta com propriedade um vilão de alto nível como Thanos.

Ainda destacaria Missão: Impossível – Efeito Fallout, que pode não apresentar nada inovador, mas sem sombra de dúvida foi o melhor filme de ação do ano. É notável a entrega de Tom Cruise à franquia e como ele luta para se superar a cada filme. Falando em notabilidade, preciso mencionar o trabalho minucioso de stop motion da animação nova de Wes Anderson, Ilha dos Cachorros. Além da técnica impecável, trata-se de um design de personagens sublime. Só acho que carece um pouco mais de alma, mas talvez a Academia recompense Anderson pelas derrotas anteriores com este Oscar de Animação…

Também gostei do singelo Poderia Me Perdoar?. A história verídica me pegou pelo identificação com a protagonista: uma escritora em decadência que falsifica cartas de autores para pagar suas contas básicas. A dupla formada por Melissa McCarthy e Richard E. Grant é a melhor do ano. Espero que ambos estejam indicados no próximo Oscar. E ainda no campo do singelo, destaco também o drama Mais Uma Chance, que é da Netflix. É basicamente sobre um casal na casa dos 40 que luta para ter filho, chegando a recorrer aos ovários da sobrinha. Todos os três atores estão bem: Paul Giamatti, Kathryn Hahn e Kayli Carter.

Uma boa surpresa foi a ficção científica Upgrade. Jamais imaginei que o roteirista Leigh Whannel, de Sobrenatural e Jogos Mortais, criaria esse universo futurista onde a tecnologia seria debatida de forma divertida mas também incisiva. Infelizmente, não há previsão de estréia no Brasil, mas de qualquer forma, tem tudo para se tornar um cult movie.

E, por último, gostei de ver a nova loucura de Lars von Trier no cinema. A Casa que Jack Construiu tem um tema interessantíssimo que questiona a inteligência humana através da filosofia de um serial killer inescrupuloso. Só faço dois adendos: deveria ter abusado mais do humor negro da primeira metade, e apesar de entender os motivos do diretor, cortaria a sequência em que ele insere imagens dos filmes anteriores dele, pois não colabora com a trama e ainda abre brecha para críticas de auto-indulgência depois daquele episódio de Persona Non Grata no Festival de Cannes.

TOP 5 MELHORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. Hereditário (Hereditary/ 2018)
Dir: Ari Aster

4. Oitava Série (Eighth Grade/ 2018)
Dir: Bo Burnham

3. Roma (Roma/ 2018)
Dir: Alfonso Cuarón

2. Asako I & II (Netemo Sametemo/ 2018)
Dir: Ryûsuke Hamaguchi

1. Em Chamas (Beoning/ 2018)
Dir: Chang-dong Lee

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1º LUGAR: EM CHAMAS (Beoning), de Lee Chang-dong

TOP 5 MELHORES EM MÍDIA DIGITAL

5. O Silêncio do Lago (Spoorloos/ 1988)
Dir: George Sluizer

4. Através de um Espelho (Såsom i en spegel/ 1961)
Dir: Ingmar Bergman

3. 8½ (8½/ 1963)
Dir: Federico Fellini

2. O Parque Macabro (Carnival of Souls/ 1962)
Dir: Herk Harvey

1. O Segundo Rosto (Seconds/ 1966)
Dir: John Frankenheimer

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1º LUGAR: O SEGUNDO ROSTO (Seconds), de John Frankenheimer

IN MEMORIAN

Este ano, perdemos diretores icônicos e vencedores do Oscar. Milos Forman (venceu por Um Estranho no Ninho e Amadeus) e Bernardo Bertolucci (venceu por O Último Imperador), mas no caso dele, ficou mais famoso por filmes polêmicos como O Conformista, O Último Tango em Paris e Os Sonhadores. Outro diretor que entregou importantes filmes foi Nicolas Roeg, que destaco Inverno de Sangue em Veneza, O Homem que Caiu na Terra e Bad Timing. E agora no dia 17, a diretora Penny Marshall, mais conhecida pelas comédias Quero Ser Grande e Uma Equipe Muito Especial nos deixou.

Entre os atores, indicados ao Oscar nos deixaram: Burt Reynolds (que mais chama a atenção por uma vida repleta de arrependimentos por recusa de papéis importantes), Sondra Locke (ex-mulher de Clint Eastwood), Barbara Harris e a vencedora do Oscar de Coadjuvante em 1957 por Palavras ao Vento, Dorothy Malone. Também vale citar Margot Kidder, a eterna Lois Lane do Superman do saudoso Christopher Reeve.

Dos profissionais brasileiros, demos adeus às lendas Nelson Pereira dos Santos (diretor de Vidas Secas e Rio 40 Graus), Roberto Farias (diretor de Assalto ao Trem Pagador e dos filmes do cantor Roberto Carlos como Roberto Carlos em Ritmo de Aventura), e as atrizes Beatriz Segall (a eterna Odete Roitman da novela Vale Tudo) e Tônia Carrero, que brilhou nos filmes do extinto estúdio da Vera Cruz como Tico-Tico no Fubá.

Vale lembrar a perda das cantoras Aretha Franklin, cujas músicas sempre estarão em trilhas sonoras de vários filmes, e pra mim, em especial, Dolores O’Riordan, vocalista do grupo The Cranberries. A morte dela aos 46 anos (!) por afogamento após uma intoxicação alcóolica me deixou abatido por uns dias.

Demos adeus aos escritores Neil Simon, que apesar de ter sido indicado ao Oscar quatro vezes sem nenhuma vitória, tinha carreira consolidada e venerada no teatro como dramaturgo; e o roteirista William Goldman, vencedor de duas estatuetas do Oscar por Butch Cassidy e Todos os Homens do Presidente.

E não poderia falar de escritores sem mencionar Stan Lee. Embora os filmes da Marvel Studios sejam um sucesso pela estratégia de mesclar universos do produtor Kevin Feige, nada seria possível sem a inestimável contribuição criativa de Lee. Ele foi o pioneiro nos quadrinhos que enxergou a humanidade nos personagens de super-heróis, que eles poderiam ser falhos também e assim, facilitar a identificação com os leitores. Foi essa chave que até hoje gera essa conexão dos filmes com o grande público.

Stan Lee

VOTOS PARA 2019

Acho que o grande assunto no Brasil este ano foram as eleições para presidente. E o que mais fiquei chocado foi a defesa ferrenha que muitos faziam para candidatos que sequer mereciam o mínimo de confiança. Acho que depois de acompanhar tanto tempo a política brasileira, só defendo uma coisa: Nenhum político merece nossa confiança. Talvez o político em si seja até uma pessoa honesta, mas o sistema é muito corrupto e parece enraizado. Não vou nem entrar na questão das propostas, porque tem cada absurdo… Acho que o Brasil só vai pra frente com uma Reforma na Educação contando com um alto investimento.

Enfim, torço para que algo dê certo neste próximo governo. Que, de alguma forma, consigam afastar o país dessa crise, gerando mais emprego, renda e segurança, que é um problema crônico, mas sem esquecer da educação e da nossa cultura!

Apoio a diversidade de autores brasileiros, especialmente no cinema. Este ano, contamos com filmes bem distintos e alternativos como Café com Canela, As Boas Maneiras, O Animal Cordial, Arábia e Benzinho. O Cinema Brasileiro deixou de ser aquele recluso de favelas e seca no Nordeste. Se vamos ganhar o Oscar? Se dependesse apenas dos filmes, não teria dúvidas de que vai chegar a hora do Brasil, mas se a política continuar interferindo… vamos ver o cinema do Camboja, Cazaquistão e Paraguai ganhar antes da gente.

Desejo Feliz Ano Novo para todos que acompanham o blog e a página do Facebook! Que seja um ano repleto de alegrias, conquistas, saúde e paz!

Compartilhe seus melhores e/ou piores filmes que viu em 2018 nos comentários!

A DELICADEZA do CINEMA ASIÁTICO de ‘ASAKO I & II’

Asako

Baku (Masahiro Higashide) e Asako (Erika Karata) em Asako I & II (pic by IMDb)

ENQUANTO A TRAMA RESSALTA A INCONSTÂNCIA HUMANA, A DIREÇÃO ENRIQUECE NOSSO PODER DE OBSERVAÇÃO

Asako e Baku vivem um romance intenso e avassalador, porém, certo dia, o temperamental Baku desaparece. Dois anos mais tarde, depois de se mudar de Osaka para Tóquio, Asako encontra o duplo perfeito de Baku.

Quando li esta sinopse antes de ver o filme, na hora me veio na cabeça uma versão feminina e asiática de Um Corpo que Cai (Vertigo), de Alfred Hitchcock. No lugar de Kim Novak, um japonês idêntico a outro. Ou num segundo momento, uma ficção científica que pudesse explicar de algum modo a existência de um duplo. Clonagem talvez? Mas quando começou o filme, nada disso mais importava.

Logo de cara, vemos o encontro casual de Asako e Baku num museu em Osaka. Pelo jeito descontraído e bastante largado, Baku chama a atenção dela, mas nada acontece por sua vontade. Contudo, poucos minutos depois, o casal se reencontra fora do museu, e de um jeito bem clichê com câmera lenta, os dois se olham como se o destino tivesse planejado. Só que, ao contrário dela, ele toma a atitude e caminha em sua direção: “Qual seu nome?”. Assim na lata? Sim. Eles brevemente discutem sobre o ideograma do nome de Asako e eles se beijam de forma relâmpago. O modo como tudo aconteceu encanta Asako e o jeito misterioso e imprevisível de Baku a conquista.

Como a sinopse já canta, Baku desaparece um dia do jeito como ela narra. Assim do nada, depois de dois anos de relacionamento. Aí a vida segue. Ela se muda para Tóquio e passa a trabalhar numa cafeteria. Porém, o destino age novamente, e pra qual empresa ela faz café? Pra empresa de Ryohei, o duplo de Baku. Após o baque, sentimentos afloram e começa tudo de novo. Vale se apaixonar pela mesma pessoa, mas com a personalidade diferente? Ao contrário de Baku, o novo pretendente é correto, dedicado, enfim, “pra casar”.

Asako and Ryohei

Asako com Ryohei em Asako I & II (pic by IMDb)

Asako enfrenta dois turbilhões. O primeiro quando surge a cópia de Baku. E cinco anos depois, quando ressurge o próprio Baku. Como lidar com as duas situações? Do jeito quieto e bem introvertido, ela busca respostas e procura se guiar pelos seus sentimentos. O que acontece depois pode soar previsível para alguns espectadores (talvez aqueles aficionados em “doramas”), mas para mim, foi uma surpresa, e que me fez questionar se realmente vamos entender o ser humano um dia.

Contudo, como cinéfilo que aprecia o cinema asiático, o que realmente importa em Asako I & II é a delicadeza com que o diretor Ryûsuke Hamaguchi constrói lentamente o segundo relacionamento, como se cria a confiança com base na cumplicidade, e como tudo pode ruir com uma simples trinca. Numa de minhas cenas favoritas, que pode não significar muito para a maioria, Ryohei retorna para o apartamento onde moram após dirigir uma longa viagem de trabalho voluntário. Cansado, ele desaba no chão, e em seguida, Asako retira seus sapatos e suas meias para então começar a massagear os pés dele como forma de gratidão.

Se você gosta de cinema asiático, mais precisamente japonês, assista a Asako I & II. Será difícil não se envolver e se encantar com a trama, os personagens e a forma como eles se relacionam. E para quem está mais habituado a um cinema mais comercial e estiver um pouco saturado dele, busque novos ares com esse filme. Será uma ótima indicação para quem sabe apreciar melhor o cinema oriental sem depender exclusivamente de Akira Kurosawa, por exemplo.

E para quem curte gatos, o felino de Asako, Jintan, é um show à parte. Ele parecia adestrado de forma natural nas cenas.

Asako Cat Jintan

Jintan, o gato que nasceu pra estrelar filmes com Masahiro Hagashide.

AVALIAÇÃO: ÓTIMO 8/10
CHANCES DE OSCAR: Nenhuma. O representante do Japão foi Assunto de Família, que já está na pré-lista do Oscar de Filme em Língua Estrangeira. Vale lembrar que Asako I & II estava na competição pela Palma de Ouro em Cannes deste ano.

ASAKO I & II (Netemo Sametemo). Dir: Ryûsuke Hamaguchi. ELENCO: Erika Karata, Masahiro Higashide, Sairi Itô, Kôji Nakamoto, Kôji Seto, Misako Tanaka, Daichi Watanabe e Rio Yamashita.

ESTRÉIA: 20/12/18 em São Paulo (Espaço Itaú de Cinema e Belas Artes), Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Rio De Janeiro e Salvador.
No dia 26/12 em Fortaleza. E em início de janeiro: Porto Alegre, Recife, Goiânia. Teresina e Curitiba. Consulte a programação! Censura: 12 anos.

NOTA DE AGRADECIMENTO: Flávia Miranda do ProCultura e Zeta Filmes.

Asako poster

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