A Arte do Oscar 2013

Pôster oficial do Oscar 2013 no tradicional preto e dourado (art by oscars.org)

Pôster oficial do Oscar 2013 no tradicional preto e dourado (art by oscars.org)

A arte do Oscar de 2013 vem com duas outras versões. Enquanto, o cartaz oficial (acima) respeita o tradicionalismo, destacando todos os filmes indicados em ordem aleatória, prepararam um com a imagem do host: o comediante e criador da série animada Family Guy e do filme Ted, Seth MacFarlane, que concorre com Melhor Canção Original também. Como participou do anúncio dos indicados no dia 10 de janeiro, ele também ilustra um dos pôsteres da premiação com cara de que vai fazer arte. Não estou tão animado com MacFarlane sendo host, mas torço para que consiga criar bons momentos e piadas. Como o show será transmitido ao vivo e em horário apropriado para crianças, alguns termos mais baixos que ele gosta de proferir serão descartados. Como host de 2014, voto para o retorno de Jon Stewart, do Daily News.

Seth MacFarlane em um das três versões do pôster do Oscar 2013 (photo by perezhilton.com)

Seth MacFarlane em um das três versões do pôster do Oscar 2013 (photo by perezhilton.com)

Porém, a grande sacada foi o pôster  em que a estaueta dourada homenageia todos os 84 vencedores do Oscar de Melhor Filme, de Asas (1927-1928) até O Artista (2011). Cada um tenta representar o filme de alguma maneira imagética. Alguns são mais fáceis de reproduzir, outros nem tanto.

Versão animada do Oscar 2013: homenagem bem elaborada com todos os vencedores de Melhor Filme (art by Oscars.org)

Se você quer tentar adivinhar quais são os filmes, clique no link abaixo e descubra as respostas:

http://oscar.go.com/photos/themed-galleries/special/oscars-best-pictures-tribute/media/1_111-copy

Particularmente, gostei de Guerra ao Terror, Platoon, Ghandi, O Franco-Atirador, O Poderoso Chefão, Perdidos na Noite e Lawrence da Arábia.

Vale a pena também dar uma olhada na arte da camiseta que eles vendem pelo site. Infelizmente, a canção “Let’s go all to the lobby!” não é tão popular aqui. Também com esse atendimento de alguns cinemas…

Estampa de camiseta do Oscar (art by Oscars.org)

Estampa de camiseta do Oscar (art by Oscars.org)

A cerimônia do Oscar 2013 será transmitida pelo canal pago TNT e pela TV aberta, a Globo (mas esqueça os primeiros cinco prêmios, porque o Big Brother não pode parar!) no dia 24 de fevereiro, a partir das 22h.

Reality, de Matteo Garrone (2012)

Reality, de Matteo Garrone

Depois de ganhar notoriedade internacional com seu filme sobre a máfia italiana, Gomorra (2008), o diretor Matteo Garrone retornou esse ano em Cannes com Reality, uma comédia sobre a influência dos reality shows na sociedade. Sagrou-se novamente com o Grande Prêmio do Júri, considerado o segundo lugar na competição do Festival, que laureou Amour, de Michael Haneke.

Matteo Garrone pode ser considerado um cineasta do século XXI. Não dizem que o cinema do futuro será feito por todos? Pra realizar Gomorra, o diretor liberou uma bagatelazinha de 26 mil euros para mafiosos locais por proteção durante as filmagens em Nápoles. Em troca, a máfia declarou que tinha direito a opinião no corte final do filme. Essa relação da Arte com dinheiro é muito antiga, que vem desde a época do mecenato, em que artistas eram patrocinados pelos mecenas, ficando à mercê de suas opiniões pessoais.

Curiosamente, dois filmes lançados em 1994 abordam essa questão. Em Tiros na Broadway, de Woody Allen, John Cusack é um diretor de teatro na década de 20, que se vê obrigado a escalar a namorada sem talento de um gângster em sua peça para que seja produzida. Já no filme de Tim Burton, Ed Wood, o diretor precisa empurrar toda a sua equipe para o batismo para conseguir o dinheiro da igreja local e produzir seu longa de ficção científica.

Neste novo trabalho, Matteo Garrone tem uma nova polêmica. O protagonista de Reality, Aniello Arena, não pôde ir a Cannes para promover o filme. Atrasou-se? Ficou doente? Morreu? Não… ele estava preso! Sim, Aniello Arena está cumprindo uma pena de vinte anos por duplo homicídio!

Protagonista de Reality, Aniello Arena: 2 horas de fama e 20 anos de prisão.

Garrone o conheceu através de uma peça de teatro encenada por presidiários e já queria chamá-lo para atuar em Gomorra, mas o juiz não havia permitido. Apelando à justiça para liberá-lo, o diretor conseguiu o aval. Durante o dia, Aniello trabalhava no filme e de noite, voltava sob custódia da polícia.

Agora, imaginem como era o clima no set de filmagem? Quem atuaria tranquilamente ao lado de um assassino? Não sei como Matteo Garrone conseguiu essa proeza, mas as atuações no estilo italiano ficaram muito cômicas. Felizmente, a escolha de Aniello foi muito bem acertada, pois ele esbanja o carisma necessário para sua personagem e fotografa bem (lembra Roy Scheider e Sylvester Stallone) Em entrevista, Matteo Garrone negava as acusações de que teria contratado Aniello como forma de retribuição a Gomorra.

Elenco de Reality: o jeitão italiano de ser ao lado de um assassino

Em Reality, acompanhamos a história de Luciano (Aniello Arena), pai de família que tem uma peixaria e consegue uma renda extra revendendo eletrodomésticos. Certo dia, sua família insiste para que ele participe da seleção do reality show italiano do Big Brother (ou como eles chamam por lá: Il Grande Fratello). A proposta começa despretensiosa, apenas para agradar as filhas pequenas, mas ao longo dos próximos dias, Luciano se anima com a chance de ficar famoso e ganhar muito dinheiro, criando uma expectativa colossal para ser chamado.

Da segunda metade para o final, o espectador acompanha a degradação do protagonista, marcada pela ilusão e pela paranóia crescente de que pessoas ligadas ao Big Brother estariam observando-o e avaliando seu comportamento. Essa mania de perseguição lembra o cult A Conversação (1974), de Francis Ford Coppola, obviamente num nível light. Contudo, essa paranóia também causa estragos permanentes em Luciano e na desestruturação de sua família.

A produção foi indicada à Palma de Ouro ao lado de fortes concorrentes como Além das Montanhas, de Cristian Mungiu; Cosmópolis, de David Cronenberg; Moonrise Kingdom, de Wes Anderson; Um Alguém Apaixonado, de Abbas Kiarostami; Na Estrada, de Walter Salles; Ferrugem e Osso, de Jacques Audiard. Reality ficou com o Grande Prêmio do Júri, o segundo na curta carreira de Matteo Garrone.

Ele merece os créditos pela crítica à banalidade dos reality shows e pela coragem de escalar um presidiário para o papel principal. Poderia ter dado tudo errado com o ator transformando o set de filmagem num cenário sangrento, mas a história teve seu final feliz. Se formos justos, Aniello Arena merecia o prêmio de ator, mas acho que os organizadores do festival não estão preparados para esse tipo de reconhecimento.

Matteo Garrone recebendo o Grande Prêmio do Júri por Reality.

Assisti ao filme numa das sessões da 36ª Mostra de Cinema de São Paulo, que ocorre entre os dias 19 de outubro a 1º de novembro (com uns dias a mais de repescagem no final). Infelizmente, Reality ainda não tem previsão de estréia no Brasil. E não, Reality não é o representante da Itália no Oscar, mas Caesar Must Die, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani. Curiosamente, o filme dos Taviani retrata um grupo de presidiários reais encenando Júlio César, de William Shakespeare.

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