O QUE A MARVEL DE STAN LEE REPRESENTOU

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Stan Lee quando foi homenageado com sua estrela na Calçada da Fama em 2011. Pic by Mario Anzuoni (Reuters)

Stanley Martin Lieber, mais conhecido por STAN LEE, faleceu nesta última segunda, dia 12/11. Ele sofria de pneumonia e problema nos olhos, e acabou falecendo no hospital Cedars Sinai em Los Angeles. Ele tinha 95 anos.

Lee era uma lenda viva. Se Bob Kane já era considerado uma por ter criado apenas o Batman, imagine o homem responsável pela origem do Quarteto Fantástico, Homem-Aranha (com Steve Ditko), Hulk, X-Men, Homem de Ferro, Thor, Demolidor, Capitão América, e Os Vingadores?

Stan Lee, Lou Ferrigno, Eric Kramer

Stan Lee entre Eric Allan Kramer e Lou Ferrigno, os atores que interpretavam Thor e Hulk nas séries e telefilmes dos anos 80.

Nascido em Nova York em 1922, serviu o exército americano durante a Segunda Guerra Mundial, e na década de 40, ingressou na Timely Publications. Nos anos 60, foi de extrema importância ao modernizar os super-heróis de quadrinhos, tornando-os mais humanos e realistas, com suas inseguranças e questionamentos de caráter.

Foi desta forma, trazendo personagens com super-poderes para o chão, que Stan Lee e a sua Marvel Comics conquistou uma legião de novos leitores e fãs, que se identificam com os mesmos problemas de seus personagens favoritos, em especial o Homem-Aranha, já que ele era um estudante, com contas para pagar e dificuldades de conquistar a garota por quem é apaixonado. Contudo, seu lema era de gente grande: “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”, que ele aprendeu a duras penas com a morte de seu tio Ben.

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Stan Lee posa com o cartaz do primeiro filme do Homem-Aranha (2002), dirigido por Sam Raimi (pic by smashmexico.com.mx)

Tenho orgulho de dizer que fui leitor da Marvel Comics desde minha pré-adolescência. Frequentava mais a banca de jornal da minha cidade do que a própria escola! Comecei lendo X-Men, e logo percebi que não se tratava de uma simples equipe de super-heróis como a Liga da Justiça. Os membros, que são mutantes em sua maioria, lutavam por harmonia entre os povos, combatendo o preconceito que tanto os atingia por serem diferentes.

Seus personagens-chave, o professor Charles Xavier e Magneto, foram baseados em figuras reais: Marthin Luther King e Malcolm X, respectivamente. Ambos lutavam na defesa dos direitos civis dos negros nos EUA, porém, enquanto o primeiro se utilizava do poder do discurso e da diplomacia, o segundo preferia os protestos mais violentos. Foi uma tacada de mestre de Stan Lee que, de quebra, ainda abrangeu nesse universo todas as minorias étnicas e sexuais que começavam a ganhar espaço naquela década.

Stan Lee Professor Xavier Magneto

Stan Lee entre Professor Xavier (Marthin Luther King) e Magneto (Malcolm X). Art by STP Design (Paco Taylor)

Com esse reflexo dos problemas sociais, os quadrinhos da Marvel passaram a atrair um público mais sofisticado e seus personagens tiveram seus diálogos mais eloquentes. Stan Lee teria dito então: “Se uma criança tem que recorrer a um dicionário, não é a pior coisa que pode acontecer.” Foi um importante passo para que os quadrinhos deixassem de ser apenas material infanto-juvenil.

Depois de colecionar tudo relacionado aos X-Men, fui atraído pelo universo do Homem-Aranha, quando li todas as primeiras histórias do personagem escritas por Stan Lee e desenhadas por Steve Ditko. Foi ali que entendi como o herói foi alçado ao mais alto patamar das HQs. Peter Parker era um aluno nerd com problemas de interação social e que carregava uma paixão tremenda pela bela Mary Jane Watson. Quando ganha seus poderes através de uma picada de uma aranha radioativa, ele se torna uma outra pessoa e é consumido por sua ambição, quando seu tio é baleado e morto indiretamente por sua causa. Stan Lee nos provou que não é nada fácil ser um super-herói.

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Quando o Homem-Aranha se dá conta que o bandido que ele deixou escapar foi o responsável pela morte de seu tio (pic by Villains Wiki)

Como leitor, também presenciei o pior momento da editora. Nos anos 90, a Marvel Comics abriu falência, tendo que vender direitos autorais de inúmeros personagens para os grandes estúdios para poder continuar viva. Assim, os direitos do Quarteto Fantástico e X-Men foram para a Fox Pictures, e os direitos do Homem-Aranha passaram a pertencer à Sony Pictures. 

Porém, foi graças a esse momento turbulento, que a Marvel passou a ser mais conhecida no mundo todo, já que suas criações invadiram as telinhas de TV (o desenho animado dos X-Men foi um grande sucesso comercial) e depois as telas dos cinemas, com os filmes Blade – O Caçador de Vampiros (1998), X-Men: O Filme (2000) e Homem-Aranha (2002).

A partir de 2008, com a criação da Marvel Studios, e com a inestimável colaboração do produtor e visionário Kevin Feige, as adaptações cinematográficas pertenciam a um planejamento colossal como nunca feito na história. Com o lançamento de Homem de Ferro (2008) e O Incrível Hulk (2008), os filmes começaram a apresentar cenas pós-créditos estreladas por Nick Fury (Samuel L. Jackson), que abordava os personagens centrais para convidá-los a participar de um projeto chamado Vingadores.

Dez anos depois, aqui estamos com o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) atingindo números que a Marvel dos anos 90 nunca imaginou. Só no ano de 2018, Pantera Negra conquistou mais de 1.3 bilhões de dólares, e Vingadores: Guerra Infinita bateu o recorde com astronômicos 2.04 bilhões de dólares. Esse sucesso indiscutível provou de uma vez por todas que as criações humanistas de Stan Lee tinham esse dom de falar diretamente com o público.

Como retribuição, Lee obteve crédito como produtor executivo e fazia suas pontas nas produções. Confira todas as aparições dele, desde a TV até o último Vingadores: Guerra Infinita.

Stan Lee nos deixa um legado inestimável. Ele criou um universo habitado por personagens que os leitores e espectadores podem se relacionar através do humanismo deles. Afinal, não se trata de qual personagem é mais poderoso ou não numa luta de bem contra o mal, mas dos questionamentos do caráter e dos ideais por quais cada um luta. Precisamos de heróis assim, que questionem o sistema, reflitam sobre a vida, tomem decisões corajosas e encarem as consequências. Quem não conseguiria se inspirar com figuras assim?

Obrigado por tudo o que nos proporcionou, Stan Lee! Que descanse em paz!

 

‘A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, O Final’ é o grande vencedor do Framboesa de Ouro 2013

Framboesa de Ouro (Razzie Awards) em sua 33ª edição (photo by movies.infoonlinepages.com)

Framboesa de Ouro (Razzie Awards) em sua 33ª edição (photo by movies.infoonlinepages.com)

A 33ª edição do Framboesa de Ouro (Razzie Awards) não resistiu a tanta mediocridade e entregou quase todas as honrarias ao último filme da Saga Crepúsculo. Como todos sabem, o Framboesa de Ouro reconhece os piores filmes do ano, mas (talvez por vergonha?) ninguém comparece para receber o prêmio em mãos. As raras exceções são o diretor Paul Verhoeven, que ganhou como Pior Diretor por Showgirls (1995), e as atrizes Halle Berry (por Mulher-Gato em 2004) e a divertida Sandra Bullock, que ganhou o prêmio por Maluca Paixão em 2009, um dia antes de vencer o Oscar por Um Sonho Possível.

Ao subir ao palco, Bullock trazia consigo um carrinho com várias cópias do filme em DVD para distribui-los para quem votou nela. “Algo me diz que vocês não assistiram ao filme”, brincou a atriz, que ainda trouxe uma cópia do roteiro, alegando que sua performance muito se deve à qualidade da história. Apesar de estar longe de ser uma ótima atriz, o fato de saber reconhecer uma performance ruim e aprender com seus erros já a faz ganhar pontos como profissional e com os fãs. Veja vídeo de seu discurso:

Claro que ninguém da equipe de A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, O Final apareceu no Framboesa. Seria pedir demais para que eles reconhecessem a inferioridade da produção. Infelizmente, o Cinema atual ainda apresenta muitos filmes feitos a partir de números, seja da venda dos livros em que se baseiam, seja do salário dos atores queridos pelo público jovem e, claro, pela alta bilheteria. Para evitar que o público se torne cada vez menos exigente se faz necessário um prêmio como o Framboesa de Ouro, que aponta uma luz no canto escuro que ninguém quer ver. Falam o que quiserem do cinema americano, mas pelo menos eles sabem reconhecer sua própria mediocridade, e isso o torna mais forte.

A dupla premiada Taylor Lautner e Kristen Stewart (photo by BeyondHollywood.com)

A dupla premiada Taylor Lautner e Kristen Stewart. Felizmente este é o último filme da saga (photo by BeyondHollywood.com)

Quando Batman & Robin foi lançado em 1997, a produção foi indicado ao prêmio, vencendo Pior Atriz Coadjuvante para Alicia Silverstone. Reconhecido merecidamente como um dos piores do ano, o filme dirigido pelo carnavalesco Joel Schumacher acarretou diretamente na melhoria das adaptações de quadrinhos que viriam em seguida como Blade – O Caçador de Vampiros (1998) e X-Men – O Filme (2000).

Infelizmente, o número de produções nacionais ainda é muito pequeno, mas um Framboesa de Ouro cairia muito bem por aqui. Recentemente, Kleber Mendonça, o diretor do ótimo O Som ao Redor, que foi considerado um dos melhores filmes do ano segundo o jornal The New York Times, fez a seguinte declaração ao resposta ao diretor-executivo da Globo Filmes, Cadu Rodrigues:

O diretor brasileiro Kleber Mendonça (photo by revistadecinema.uol.com.br)

O diretor brasileiro Kleber Mendonça (photo by revistadecinema.uol.com.br)

“A Globo Filmes faz mal à idéia de cultura no Brasil, atrofia o conceito de diversidade no cinema brasileiro e adestra um público cada vez mais dopado para reagir a um cinema institucional e morto”.

Embora sua afirmação seja radical, tem muita verdade nesse pensamento. Claro que o dinheiro vindo da produção da Globo Filmes possibilita maior quantidade de filmes nacionais em cartaz, assim como melhor divulgação através do próprio canal de TV, mas todas são estreladas por atores globais com um tipo de humor escrachado sem conteúdo. Quando o diretor Kleber Mendonça lançou sua crítica, ele queria exigir mais qualidade e menos quantidade. “Que a Globo Filmes invista em pelo menos três projetos por ano que tenham a pretensão de ir além, projetos que não sumam do radar da cultura depois de três ou quatro meses cumprindo a meta de atrair milhões de espectadores que não sabem nem exatamente o porquê de terem ido ver aquilo”.

Dois dos maiores sucessos de bilheteria de 2012 são produções da Globo Filmes: as comédias Até que a Sorte nos Separe e De Pernas pro Ar 2. Enquanto o primeiro foi o filme mais visto do ano, o segundo foi do 2º semestre. Ambos foram estrelados por artistas globais: Leandro Hassum e Danielle Winits, e Ingrid Guimarães e Maria Paula, mas dirigidos pelo mesmo diretor: Roberto Santucci. Claro que o cinema brasileiro avançou mais e deixou os filmes da Xuxa e dos Trapalhões para trás, mas ainda temos um longo caminho a percorrer.

Voltando ao Framboesa de Ouro, Adam Sandler ganha pela segunda vez consecutiva como Pior Ator por Este é o meu Garoto. Em 2012, ele venceu duplamente por Cada um Tem a Gêmea que Merece, ao interpretar um homem e uma mulher. Depois que trabalhou no ótimo Embriagado de Amor (2002) com o diretor Paul Thomas Anderson, Sandler nunca mais fez um filme que valesse a pena ver.

Adam Sandler (a esq.) em mais um filme descartável, ao lado de Andy Samberg (photo by OutNow.CH)

Adam Sandler (a esq.) em mais um filme descartável, ao lado de Andy Samberg (photo by OutNow.CH)

Em mais uma inclusão de cantores no mundo do cinema, Rihanna fez parte de mais um fracasso em Battleship – A Batalha dos Mares, enquanto Taylor Lautner e Kristen Stewart, vencedores dos prêmios de atuação, vão ter trabalho para se desligarem da imagem dos personagens ralos da saga de Stephenie Meyer.

Confira a lista dos vencedores:

PIOR FILME
A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, O Final

PIOR ATOR
Adam Sandler (Este é o meu Garoto)

PIOR ATRIZ
Kristen Stewart (A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, O Final)

PIOR ATOR COADJUVANTE
Taylor Lautner (A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, O Final)

PIOR ATRIZ COADJUVANTE
Rihanna (Battleship – A Batalha dos Mares)

PIOR ELENCO
A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, O Final

PIOR DIRETOR
Bill Condon (A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, O Final)

PIOR REMAKE OU SEQUÊNCIA
A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, O Final

PIOR DUPLA
Kristen Stewart e Taylor Lautner (A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2, O Final)

PIOR ROTEIRO
David Caspe (Este é o meu Garoto)

A cantora Rihanna naufragou junto ao filme Battleship - A Batalha dos Mares (photo by BeyondHollywood.com)

A cantora Rihanna naufragou junto ao filme Battleship – A Batalha dos Mares (photo by BeyondHollywood.com)

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