ROTEIROS de ‘PARASITA’ e ‘JOJO RABBIT’ SÃO os VENCEDORES do WGA

 

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Taika Waititi e Bong Joon Ho com seus prêmios do WGA (pic by @neonrated)

FILMES GANHAM PRÊMIOS COM ASTERISCOS

Na noite deste sábado, dia 1º de fevereiro, o sindicato de roteiristas (WGA) entregou seus prêmios de Cinema e de TV.

Seguem os vencedores destacados na cor azul:

ROTEIRO ORIGINAL

  • 1917, de Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns
  • Fora de Série (Booksmart), de Emily Halpern, Sarah Haskins, Susanna Fogel e Katie Silberman
  • Entre Facas e Segredos (Knives Out), de Rian Johnson
  • História de um Casamento (Marriage Story), de Noah Baumbach
  • Parasita (Parasite), de Bong Joon Ho e Han Jin Won

ROTEIRO ADAPTADO

  • Um Lindo Dia na Vizinhança (A Beautiful Day in the Neighborhood), de Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster – inspirado no artigo “Can You Say… Hero?”, por Tom Junod
  • O Irlandês (The Irishman), de Steven Zaillian – baseado no livro “I Heard You Paint Houses”, de Charles Brandt
  • Jojo Rabbit, de Taika Waititi – baseado no livro “Caging Skies”, de Christine Leunens
  • Coringa (Joker), de Todd Phillips e Scott Silver – baseado nos personagens da DC Comics
  • Adoráveis Mulheres (Little Women), de Greta Gerwig – baseado no romance de Louisa May Alcott

ROTEIRO DE DOCUMENTÁRIO

  • Citizen K, de Alex Gibney
  • Foster, de Mark Jonathan Harris
  • The Inventor: Out for Blood in Silicon Valley, de Alex Gibney
  • Joseph Pulitzer: Voice of the People, de Robert Seidman e Oren Rudavsky
  • The Kingmaker, de Lauren Greenfield
Design sem nome

Cenas de Parasita e Jojo Rabbit, que venceram os prêmios de roteiro

A vitória de Taika Waititi dá um novo fôlego para seu Jojo Rabbit, já que bateu três dos seus quatro concorrentes ao Oscar, faltando apenas Anthony McCarten de Dois Papas. Vencedor do prêmio do público no último Festival de Toronto, a sátira do Nazismo também levou os prêmios dos sindicatos de Montagem (Comédia ou Musical) e Figurino (de Época). Com essa campanha vitoriosa, é provável que Jojo Rabbit saia do Oscar com pelo menos uma estatueta… mas qual?

Até antes desta premiação, Greta Gerwig era a favorita por sua adaptação de Adoráveis Mulheres, mas Taika Waititi pode se tornar uma ameaça com o WGA vencido. Lembrando que a votação do Oscar se encerra apenas no dia 04 de Fevereiro (terça-feira), o que permite mudanças de escolhas de última hora.

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Cena de Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig (pic by IMDb)

Já na categoria de Roteiro Original, embora a premiação de Bong Joon Ho e Han Jin Won por Parasita ajude a manter o filme na mente dos votantes, é preciso se ater ao fato de que Quentin Tarantino não concorria com Era Uma Vez em… Hollywood, já que ele não é membro do sindicato. E mais importante: Tarantino já ganhou o Oscar (por Django Livre) mesmo nem concorrendo ao WGA. Será que a história de 2013 vai se repetir aqui? E se for o caso, Bong Joon Ho vai levar apenas o Oscar de Melhor Filme Internacional? Porque o DGA praticamente sacramentou a vitória de Sam Mendes como Melhor Diretor…

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Cena de Era Uma Vez em… Hollywood (pic by IMDb)

Em seu discurso de agradecimento, o diretor e roteirista sul-coreano disse: “Vocês entenderam a estrutura e nossa história e as nuances de nossos diálogos. É surpreendente!”, e depois fechou com uma declaração anti-Trump: “Algumas pessoas constroem barreiras mais altas. Nós, escritores, nós amamos destrui-las.”

A categoria de Documentário acaba não interferindo na corrida pelo Oscar, pois nenhum dos indicados aqui estão na lista final da Academia. Mas vale lembrar que o vencedor Alex Gibney, já venceu o Oscar por Táxi Para a Escuridão em 2008.

Pra quem ficou curioso, segue a tabela dos últimos dez anos comparando o WGA e o Oscar:

ANO WGA ORIGINAL OSCAR ORIGINAL WGA ADAPTADO OSCAR ADAPTADO
2019 Oitava Série Green Book Poderia Me Perdoar? Infiltrado na Klan
2018 Corra! Corra! Me Chame Pelo seu Nome Me Chame Pelo seu Nome
2017 Moonlight Manchester à Beira-Mar A Chegada Moonlight
2016 Spotlight Spotlight A Grande Aposta A Grande Aposta
2015 O Grande Hotel Budapeste Birdman O Jogo da Imitação O Jogo da Imitação
2014 Ela Ela Capitão Phillips 12 Anos de Escravidão
2013 A Hora Mais Escura Django Livre Argo Argo
2012 Meia-Noite em Paris Meia-Noite em Paris Os Descendentes Os Descendentes
2011 A Origem O Discurso do Rei A Rede Social A Rede Social
2010 Guerra ao Terror Guerra ao Terror Amor Sem Escalas Preciosa

Normalmente, o WGA acerta pelo menos um dos vencedores do Oscar de Roteiro, mas por exemplo, no ano passado, tivemos duas divergências, algo que foi raro nos anos anteriores.

No final das contas, o resultado do WGA não ajuda em nada nas previsões, pois Era Uma Vez em… Hollywood não estava concorrendo, e na categoria de Roteiro Adaptado, é provável que muitos votantes (especialmente as mulheres) optem por Greta Gerwig como forma de protesto pela ausência de mulheres na categoria de Direção.

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Cena da série Succession, da HBO (pic by IMDb)

Confira os vencedores das categorias de TV:

TELEVISION

Drama series
“Succession” (HBO)

Comedy series
“Barry,” written by Alec Berg, Duffy Boudreau, Bill Hader, Emily Heller, Jason Kim, Taofik Kolade, Elizabeth Sarnoff (HBO)

New Series
“Watchmen” (HBO)

Long Form Original
“Chernobyl,” written by Craig Mazin (HBO)

Long Form Adapted
“Fosse/Verdon” (FX)

Short Form New Media
“Special,” written by Ryan O’Connell (Netflix)

Animation
“Thanksgiving of Horror” (“The Simpsons”) (FOX)

Episodic Drama
“Tern Haven” (“Succession”), written by Will Tracy (HBO)

Episodic Comedy
“Pilot” (“Dead to Me”), written by Liz Feldman (Netflix)

Comedy/Variety Talk Series
“Last Week Tonight with John Oliver” (HBO)

Comedy/Variety Sketch Series
“Full Frontal with Samantha Bee Presents: Not the White House Correspondents’ Dinner Part 2” (TBS)

Comedy/Variety Specials
“I Think You Should Leave with Tim Robinson” (Netflix)

Daytime
“The Young and the Restless,” written by Amanda L. Beall, Jeff Beldner, Sara Bibel, Matt Clifford, Annie Compton, Christopher Dunn, Sara Endsley, Janice Ferri Esser, Mellinda Hensley, LynnMartin, Anne Schoettle, Natalie Minardi Slater, Teresa Zimmerman (CBS) WINNER

Documentary Script — Other than Current Events
“Right to Fail” (Frontline), written by Tom Jennings (PBS)

Documentary Script — Current Events
“Trump’s Trade War” (Frontline), written by Rick Young (PBS)

News Script — Analysis, Feature or Commentary
“Fly Like An Eagle” (60 Minutes), written by Katie Kerbstat Jacobson, Scott Pelley, Nicole Young (CBS)

News Script — Regularly Scheduled, Bulletin or Breaking Report
“Terror in America: The Massacres in El Paso and Dayton” (Special Edition of the CBS Evening News with Norah O’Donnell), written by Jerry Cipriano, Joe Clines, Bob Meyer (CBS)

Quiz and Audience Participation
“Are You Smarter Than a 5th Grader?,” head writer Bret Calvert, writers Seth Harrington, Rosemarie DiSalvo (Nickelodeon)

Children’s Episodic, Longform and Specials
“Remember Black Elvis?” (Family Reunion), written by Howard Jordan, Jr. (Netflix)


A 92ª cerimônia do Oscar acontece no dia 09 de Fevereiro. Não esqueça de participar de nosso Bolão do Oscar.

‘PODERIA ME PERDOAR?’ e ‘OITAVA SÉRIE’ VENCEM no WGA

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O jovem diretor e roteirista Bo Burnham vence o WGA de Roteiro Original por Oitava Série (pic by Metrópoles)

ÚLTIMO GRANDE PRÊMIO DE SINDICATOS ANTES DO OSCAR REVELA POSSÍVEL DIVERGÊNCIA

Nesse último domingo, o Sindicato de Roteiristas (Writers Guild of America) divulgou seus vencedores, e revelou uma divergência certa e outra possível com o Oscar.

Pela categoria de Roteiro Original, o vencedor foi Bo Burnham, roteirista e diretor estreante do ainda inédito no Brasil Oitava Série (Eighth Grade), que apesar de ter levado o DGA de Diretor Estreante, sequer foi indicado ao Oscar de Roteiro Original.

“Para os outros indicados da categoria, divirtam-se no Oscar, perdedores!”, abriu Burnham seu discurso de agradecimento. “Não, eu não preparei nada. Isto pertence à Elsie Fisher que interpretou o roteiro. Ninguém ligaria para o roteiro se ela não tivesse feito o filme”, continuou.

O filme sobre a última semana da oitava série bateu os indicados ao Oscar: Roma (Alfonso Cuarón), Vice (Adam McKay) e Green Book: O Guia (Nick Vallelonga, Brian Currie e Peter Farrelly), e o esnobado Um Lugar Silencioso (Bryan Woods, Scott Bleck e John Krasinski). No lugar de Oitava  Série e Um Lugar Silencioso no Oscar, estão Paul Schrader (No Coração da Escuridão) e a dupla Deborah Davis e Tony McNamara (A Favorita).

Apesar das regras rígidas do WGA, Oitava Série é o primeiro roteiro a ganhar o WGA sem sequer ter recebido uma indicação ao Oscar desde Michael Moore em 2003 por Tiros em Columbine.

Já pela categoria de Roteiro Adaptado, deu Poderia Me Perdoar? sobre o então favorito Infiltrado na Klan. Embora o filme tenha se sobressaído na temporada graças aos seus atores Melissa McCarthy e Richard E. Grant, a força do roteiro foi primordial para transmitir as dores artísticas da escritora Lee Israel, falecida em 2014. Para quem trabalha com qualquer forma de Arte, especialmente aqui no Brasil, será fácil se identificar com a trajetória da protagonista.

2019 Writers Guild Awards, Show, The Beverly Hilton, Los Angeles, USA - 17 Feb 2019

Nicole Holofcener e Jeff Whitty vencem o WGA de Roteiro Adaptado por Poderia Me Perdoar? (pic by IndieWire)

“Quero agradecer a Lee,” disse Holofcener. “Ela provavelmente estaria sentada em sua sala julgando todos nós. Ela pensava que era a pessoa mais esperta e provavelmente era.”

As estatísticas do WGA em relação ao Oscar não são das melhores (seis vencedores levaram o Oscar dos últimos dez), mas no ano passado, os dois vencedores aqui se consagraram também no prêmio da Academia. Jordan Peele levou o Oscar de Roteiro Original por Corra!, e James Ivory levou Roteiro Adaptado por Me Chame Pelo Seu Nome. Já este ano, com a não-indicação para Oitava Série, não será possível um novo feito duplo.

VENCEDORES DO 71º WGA AWARDS:

ROTEIRO ORIGINAL
Bo Burnham (Oitava Série)

ROTEIRO ADAPTADO
Nicole Holofcener e Jeff Whitty, Based no livro de Lee Israel (Poderia Me Perdoar?)

ROTEIRO DE DOCUMENTÁRIO
Ozzy Inguanzo e Dava Whisenant (Bathtubs Over Broadway)

***

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Lukasz Zal em set de filmagem de Guerra Fria. Ele não pôde comparecer ao evento. (pic by Indiewire)

GUERRA FRIA TIRA O ASC DAS MÃOS DE ALFONSO CUARÓN

Aproveitando a deixa do WGA, esqueci de postar o vencedor do ASC (American Society of Cinematographers Awards), prêmio do sindicato de diretores de fotografia que, aliás, sofreram um baque e tanto com o anúncio de que a categoria não seria apresentada ao vivo na transmissão do Oscar, levando vários membros a criticar a Academia até ela voltar atrás em sua decisão.

O diretor de fotografia polonês Łukasz Żal foi o grande vencedor por Guerra Fria. Sua belíssima fotografia em preto-e-branco já havia cativado os colegas de profissão por Ida (2013), já que venceu o Spotlight Award daquela edição de 2014, e recebeu uma indicação ao Oscar. Apesar da qualidade inegável de seu trabalho, essa vitória não deixa de ser surpreendente, já que Alfonso Cuarón estava ganhando todos os prêmios de fotografia da temporada por Roma. Será que ele consegue tirar uma das estatuetas de Cuarón no Oscar?

Já o Spotlight Award deste ano foi para Giorgi Shvelidze pelo singelo filme Namme, da Georgia.

Nos últimos cinco anos, houve apenas uma divergência entre ASC e Oscar, em 2017. Enquanto o sindicato premiou Greg Frasier por Lion: Uma Jornada Para Casa, a Academia preferiu Linus Sandgren por La La Land.

VENCEDORES DO ASC AWARDS:

MELHOR FOTOGRAFIA
Alfonso Cuarón (Roma)
Matthew Libatique (Nasce uma Estrela)
Robbie Ryan (A Favorita)
Linus Sandgren (O Primeiro Homem)
Łukasz Żal (Guerra Fria)

SPOTLIGHT AWARD
Joshua James Richards (Domando o Destino)
Giorgi Shvelidze (Namme)
Frank van den Eeden (Girl)

***

A 91ª cerimônia está marcada para o próximo domingo, dia 24.

 

 

 

 

 

 

 

‘NASCE UMA ESTRELA’ é o DESTAQUE do DGA, WGA, ASC e EDDIE AWARDS

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Indicado ao WGA: cena de Um Lugar Silencioso com John Krasinski (pic by outnow.ch)

Mal o ano começou, já tivemos as surpresas do Globo de Ouro, e agora temos o anúncios de três prêmios de sindicatos relevantes para a temporada e para a corrida do Oscar.

Vamos começar pelo mais chato e rígido de todos, o Writers Guild of America (WGA), do sindicato dos roteiristas. Pra quem está embarcando agora, o WGA é o mais complicado porque ele exige uma série de cumprimento de regras como filiação ao sindicato, e não reconhece roteiros de animações (com isso, quem sai perdendo é o próprio sindicato).

Os roteiros ausentes na lista do WGA não perdem muito, mas se forem lembrados, suas campanhas encorpam para o Oscar. Ano passado, os vencedores Corra! e Me Chame Pelo Seu Nome repetiram suas vitórias no Oscar. Apesar de serem rígidos, na última década, 2/3 dos indicados do WGA foram indicados ao Oscar também.

Este ano, entre as ausências mais notáveis que foram desqualificadas pelas toneladas de regras estão: A Favorita, Não Deixe Rastros, Domando o Destino, A Morte de Stalin, Hereditário e Sorry to Bother You, além dos estrangeiros Guerra Fria e Capernaum, e as animações Os Incríveis 2 e Ilha dos Cachorros. Já os esnobados foram Paul Schrader (No Coração da Escuridão) e Josh Singer (O Primeiro Homem).

Entre os indicados, destaque para os sucessos comerciais de Um Lugar Silencioso, Nasce uma Estrela e Pantera Negra, que pode repetir o feito de Logan (2017), que foi indicado no WGA e Oscar, tornando-se o primeiro roteiro indicado ao Oscar baseado em quadrinhos de super-heróis.

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Indicado ao WGA: Cena de Pantera Negra (pic by outnow.ch)

Pela categoria de Documentário, o curioso foi a total ausência de trabalhos reconhecidos em premiações anteriores como Won’t You Be My Neighbor, Free Solo e RBG, mas dá notoriedade para outros como o de Michael Moore, Fahrenheit 11/09.

ROTEIRO ORIGINAL
* Bo Burnham (Oitava Série)
* Nick Vallelonga, Brian Currie e Peter Farrelly (Green Book: O Guia)
* Bryan Woods, Scott Beck e John Krasinski, história de Bryan Woods e Scott Beck (Um Lugar Silencioso)
* Alfonso Cuarón (Roma)
* Adam McKay (Vice)

ROTEIRO ADAPTADO
Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott e Spike Lee – Baseado no livro de Ron Stallworth (Infiltrado na Klan)
* Ryan Coogler, Joe Robert Cole – Baseado nos quadrinhos da Marvel Comics de Stan Lee e Jack Kirby (Pantera Negra)
* Nicole Holofcener e Jeff Whitty – Baseado no livro de Lee Israel (Poderia Me Perdoar?)
* Barry Jenkins – Baseado no romance de James Baldwin (Se a Rua Beale Falasse)
* Eric Roth, Bradley Cooper e Will Fetters – Baseado no roteiro de 1954 de Moss Hart, no roteiro de 1976 de John Gregory Dunne, Joan Didion e Frank Pierson, baseado na história William Wellman e Robert Carson (Nasce uma Estrela)

ROTEIRO DE DOCUMENTÁRIO
Ozzy Inguanzo & Dava Whisenant (Bathtubs Over Broadway)
* Michael Moore (Fahrenheit 11/9)
* Lauren Greenfield (Generation Wealth)
* Gabe Polsky (In Search of Greatness)

***

O anúncio dos vencedores do WGA ocorre no dia 17 de fevereiro.

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Cena dentro do cinema em Roma, de Alfonso Cuarón (pic by IMDb)

A Associação Americana de Diretores de Fotografia (ASC) também divulgou suas seleções de trabalhos. A lista demonstra diversidade técnica que vai da película de 65 mm de Roma, passando pela exploração das luzes de velas em A Favorita, até o multi-formato de O Primeiro Homem.

Felizmente, é daqueles ano em que podemos dizer “Qualquer um que ganhar merece”. Até o momento, o trabalho mais premiado foi de Alfonso Cuarón por Roma, aliás, ele se tornou o primeiro DP (director of photography) a ser indicado na categoria principal fotografando o próprio filme que dirigiu. Em 2016, Cary Joji Fukunaga conseguiu o mesmo feito por Beasts of No Nation, mas pela categoria  Spotlight Award.

Pelas estatísticas, 80% dos trabalhos nas listas do ASC vão parar na categoria de Fotografia do Oscar. Normalmente, quatro estão em ambas as listas, e um é substituído. À princípio, nessa dança das cadeiras, Matthew Libatique por Nasce uma Estrela pode perder seu lugar para um dos ausentes mais comentados: Rachel Morrison (que se tornou a primeira DP mulher indicada ao ASC e ao Oscar por Mudbound) por Pantera Negra, ou James Laxton por Se a Rua Beale Falasse.

MELHOR FOTOGRAFIA
* Alfonso Cuarón (Roma)
* Matthew Libatique (Nasce uma Estrela)
* Robbie Ryan (A Favorita)
* Linus Sandgren (O Primeiro Homem)
* Łukasz Żal (Guerra Fria)

PRÊMIO SPOTLIGHT
* Joshua James Richards (Domando o Destino)
* Giorgi Shvelidze (Namme)
* Frank van den Eeden (Girl)

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Joshua James Richards conseguiu explorar o melhor no singelo Domando o Destino (pic by IMDb)

Pela categoria do prêmio Spotlight para filmes menos conhecidos, Joshua James Richards merece o destaque por explorar a beleza natural do cenário, identificando sua luz no protagonista e seu paixão pelo cavalo em Domando o Destino, que faturou o prêmio de Melhor Filme no último Gotham Award.

***

A cerimônia do 33º ASC Awards está marcado para o dia 09 de fevereiro.

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John David Washington e Laura Harrier em cena de Infiltrado na Klan (pic by outnow.ch)

Com cerca de 1.000 membros, o sindicato de Montadores também anunciou seus indicados na última segunda. Aqui a porcentagem de acerto é um pouco melhor do que a de Fotografia com 88% considerando os últimos 25 anos.

Aqui, como no Globo de Ouro, o Eddie é dividido em duas categorias: Drama e Comédia, além das de Animação e Documentário, o que dificulta no esquecimento de alguns trabalhos mais fortes. No ano passado, Dunkirk levou Montagem – Drama e acabou ficando com o Oscar também. Normalmente, os filmes de ação e guerra têm boa vantagem em relação aos demais gêneros. E o prêmio costuma revelar o Melhor Filme. Dificilmente o filme que levar Melhor Filme não vai estar indicado ao Oscar de Montagem.

Achei curiosa a indicação de Infiltrado na Klan como Drama. Apesar do tema sério do racismo, fica nítido que Spike Lee dirigiu uma comédia. O resultado pode ser catastrófico como no Globo de Ouro, de onde saiu de mãos abanando.

MELHOR MONTAGEM (DRAMA)
* Barry Alexander Brown (Infiltrado na Klan)
* John Ottman (Bohemian Rhapsody)
* Tom Cross (O Primeiro Homem)
* Alfonso Cuarón & Adam Gough (Roma)
* Jay Cassidy (Nasce uma Estrela)

MELHOR MONTAGEM (COMÉDIA)
* Myron Kerstein (Podres de Ricos)
* Craig Alpert, Elísabet Ronaldsdóttir, Dirk Westervelt (Deadpool 2)
* Yorgos Mavropsaridis (A Favorita)
* Patrick J. Don Vito (Green Book: O Guia)
* Hank Corwin (Vice)

MELHOR MONTAGEM DE ANIMAÇÃO
* Stephen Schaffer (Os Incríveis 2)
* Andrew Weisblum, Ralph Foster, Edward Bursch (Ilha dos Cachorros)
* Robert Fisher, Jr. (Homem-Aranha no Aranhaverso)

MELHOR MONTAGEM DE DOCUMENTÁRIO
* Bob Eisenhardt (Free Solo)
* Carla Gutierrez (RBG)
* Michael Harte (Três Estranhos Idênticos)
* Jeff Malmberg, Aaron Wickenden (Won’t You Be My Neighbor?)

MELHOR MONTAGEM DE DOCUMENTÁRIO (FEITO PARA TV)
* Martin Singer (A Final Cut for Orson: 40 Years in the Making)
* Greg Finton, Poppy Das (Robin Williams: Come Inside My Mind)
* Neil Meiklejohn (Wild Wild Country, Part 3)
* Joe Beshenkovsky (The Zen Diaries of Garry Shandling)

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A cerimônia do 69º Eddie Awards acontecerá no dia 1º de fevereiro.

'A Star Is Born' Film - 2018

Bradley Cooper explica cena para diretor de fotografia Matthew Libatique para Nasce uma Estrela (pic by Variety)

Entre todos os prêmios de sindicato, o Directors Guild of America (DGA) é o mais importante pelo seu histórico de ter apenas sete divergências entre ele e o Oscar, sendo a última em 2013, naquele episódio fatídico do Ben Affleck ficar de fora da categoria por Argo. As estatísticas, como citei, são as maiores: 90% de acerto em relação ao Oscar, ou seja, quem ganhar aqui, está com uma das mãos na estatueta dourada.

MELHOR DIREÇÃO

  • Bradley Cooper (Nasce uma Estrela)
  • Alfonso Cuarón (Roma)
  • Peter Farrelly (Green Book: O Guia)
  • Spike Lee (Infiltrado na Klan)
  • Adam McKay (Vice)

Apesar da vasta filmografia, Spike Lee é apenas o quinto diretor negro indicado ao DGA. O primeiro foi Lee Daniels (Preciosa) em 2010, Steve McQueen (12 Anos de Escravidão) em 2014, Barry Jenkins (Moonlight) em 2017 e Jordan Peele (Corra!) ano passado. Na verdade, esse é um dado estatístico que não costumo dar muita importância, porque parece que estou pedindo mais diretores negros indicados APENAS pela cor da pele. Gostaria de ver diretores negros mais reconhecidos apenas por seus trabalhos, assim como queria que Spike Lee tivesse sido indicado lá atrás em 1990 por Faça a Coisa Certa.

Ainda na temática politicamente correta, houve bons trabalhos de diretoras mulheres em 2018 como Poderia Me Perdoar?, da Marielle Heller, e Mais uma Chance, da Tamara Jenkins, mas particularmente, se fosse defender campanha feminina seria apenas da Chloé Zhao no independente Domando o Destino.

Voltando à lista do DGA, a inclusão de Peter Farrelly foi uma surpresa. Apesar da recente vitória de seu Green Book no Globo de Ouro ter ajudado bastante, o diretor nunca gozou de uma boa reputação como diretor em Hollywood, porque suas comédias escrachadas e politicamente incorretas sempre sofreram preconceito. Por isso, se alguém da lista não conseguir espaço no Oscar, acredito que será ele.

Por outro lado, se alguém conseguir surpreender, temos alguns nomes na fila de espera como o de Barry Jenkins (Se a Rua Beale Falasse), Damien Chazelle (O Primeiro Homem), Yorgos Lanthimos (A Favorita) e até Ryan Coogler (Pantera Negra).

MELHOR DIRETOR ESTREANTE

  • Bo Burnham (Oitava Série)
  • Bradley Cooper (Nasce uma Estrela)
  • Carlos Lopez Estrada (Ponto Cego)
  • Matthew Heineman (A Private War)
  • Boots Riley (Sorry to Bother You)

Na categoria de estreantes, Bradley Cooper aparece novamente e é o que mais tem chances de vitória, a menos que ganhe Direção e o prêmio de estreante vá para outro. Se for para Bo Burnham, seria um prêmio bem justo, pois ele trouxe muita energia e vibração desta nova geração de adolescentes em Oitava Série.

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Bo Burnham dirige Elsie Fisher em cena de Oitava Série (pic by Vanity Fair)

Não vi os demais diretores indicados aqui, mas sem querer menosprezar esses trabalhos, ressalto aqui a estréia corajosa de Ari Aster em Hereditário, que mostrou muita personalidade na criação de atmosfera de terror psicológico, e Aneesh Chaganti por Buscando…, que teve ótimas sacadas para seu filme se apoiar exclusivamente de telas de celular, computador e TV.

Sobre Matthew Heineman, um fato curioso: ele foi indicado como estreante, mas já ganhou dois prêmios do DGA por Cartel Land e City Ghosts, mas como se tratam de documentários, eles consideram estréia na ficção.

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A 71ª cerimônia de premiação do DGA está agendada para o dia 02 de fevereiro. 

RETROSPECTIVA 2018: O ANO da NETFLIX?

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Normalmente, eu posto um vídeo promocional da próxima edição do Oscar que o futuro host publica na internet, mas depois da confusão e demissão de Kevin Hart…

Olá, pessoal! Mais um ano se foi! Foi um ano bom ou ruim pra você?
Queria agradecer a todos que acompanharam o blog e a página do Facebook. Se comentaram, se leram, ou se apenas deram aquela passadinha, obrigado por seu apoio! Estou realizando este trabalho por puro prazer há 7 anos e sendo recompensado pelos seus views e participações. Agradeço bastante ao meu colaborador assíduo Hugo Cancela, aos amigos Bruna Martins, Flávia Fernandes, Antonio Lopes, Karoline Alves e Alice Ayres, e frequentadores assíduos como a rainha do Oscar Frame, Elisieli Rodrigues, Cristiano Filiciano, Miriam Moldes, Henrique Cereja, Fummanation Bonsucesso, Berto Leno, Tiago Bistaffa, Elza Vieira, Amélia Cassis, Yuri Dias, Lília Ricardo, Kátia Nunes e Verinha Dau, enfim, são tantos nomes que daria uma lista extensa! Peço desculpas por não poder incluir todos aqui!

Queria aproveitar para agradecer ao crítico Chico Fireman por me possibilitar trabalhar com as cabines de lançamentos de filmes, e pela sua generosidade e atenção!

META DE 2018

Continuando minha meta de 2017, procurei assistir mais àqueles filmes clássicos ou cults pra reduzir um pouco minha watchlist. Um que tenho orgulho de finalmente ter conferido é o clássico italiano , de Federico Fellini. Sério, eu não estava aguentando mais ver esse filme no topo da minha lista me olhando e perguntando: “E aí? Quando você vai me ver?” Eu lembro a última vez que viajei pra fora do país em 2014, eu jurava: “Antes de pegar esse avião, eu vou ver o filme do Fellini. Vai que eu morro…” Enfim, tomei coragem e assisti. Eu achava que o filme me daria uma dor de cabeça enorme, mas vi uma belíssima homenagem do diretor às mulheres que amou na vida. Ainda tenho vários do Fellini pra ver como Julieta dos Espíritos e A Doce Vida, mas quem sabe em 2019?

Falando em mestres do cinema, estou satisfeito por ter acrescido mais três obras do sueco Ingmar Bergman. Finalmente assisti a Através de um EspelhoSonata de Outono e Gritos e Sussurros. Depois de assistir aos filmes dele, é inevitável não parar pra refletir sobre a vida e a família, que são temas bem fortes na filmografia dele. O quanto realmente nos importamos com familiares diante de situações difíceis. Além do diretor levantar esses questionamentos, ainda cria obras visuais extremamente poderosas com a ajuda inestimável de atrizes do calibre de Ingrid Bergman, Liv Ullmann e Harriet Andersson.

Também consegui assistir pela primeira vez a A Mulher Faz o Homem (1939). Nunca fui muito fã do Frank Capra porque ele entrega uma visão demasiada otimista. Não que isso seja um defeito, mas sempre tive preferência por um cinema que expõe defeitos e falhas humanas, seja para o bem ou para o mal. É louvável acompanhar a luta de um jovem senador idealista contra um sistema corrupto, ainda mais hoje num Brasil que revela um novo caso de corrupção a cada dia, mas alguns personagens se tornam bidimensionais nessa visão, mesmo James Stewart.

8 Autumn Mr Smith

8½, Sonata de Outono e A Mulher Faz o Homem

Revisitei alguns diretores renomados como François Truffaut com Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois (1962), Wim Wenders com Asas do Desejo (1987), Billy Wilder com Testemunha de Acusação (1957), e Dario Argento com Suspiria (1977), que fiz questão de conferir antes de assistir à refilmagem, que nunca estréia aqui no Brasil! E vi uma obra-prima pouco conhecida aqui intitulada O Segundo Rosto (1966), de John Frankenheimer, que apresenta uma trama de ficção científica na qual uma organização secreta oferece uma segunda chance aos ricos, alterando suas aparências e encenando a morte das pessoas que foram. Rock Hudson, que sempre teve imagem de cowboy machão mas era homossexual, caiu como uma luva no papel principal e entrega a performance de sua vida.

PIORES DO ANO

Eu tinha o costume de comentar uns dois ou três filmes que foram decepcionantes, mas a partir deste ano, já dá pra formar uma lista dos 5 piores. Reparem que todos os filmes da lista são parte de uma franquia (considerando que Venom faz parte do universo do Homem-Aranha) ou é uma refilmagem. Quando Hollywood só pensa nos números lucrativos, o Cinema perde.

Por pouco Jogador Nº 1 não entra na lista. Depois de me desapontar muito com The Post: A Guerra Secreta, vejo que Steven Spielberg deveria dar um break na carreira, sei lá, tirar um ano sabático, pra refletir sobre o que cinema representa pra ele, porque parece que ele tem feito mais filmes com cabeça de produtor ultimamente… E pior é que dos três projetos futuros dele, um é a sequência de Indiana Jones com Harrison Ford (taí outro que precisa de uma pausa longa) e o outro é a refilmagem (totalmente desnecessária) do clássico musical Amor Sublime Amor (1961). Claro que posso queimar minha língua, mas Spielberg, cadê sua criatividade?

E apesar de querer assistir de tudo, sempre dou mais prioridade aos filmes que acho que podem ser bons, afinal, se tenho pouco tempo pra ver filmes, por que gastar as horinhas preciosas com filmes que tenho quase certeza de que serão meia-boca? Nesse quesito, deixei de assistir aos possíveis candidatos desta lista: Han Solo: Uma História Star Wars (que pelo histórico de produção conturbado, só pode ser um resultado desastroso) e o Fenda no Tempo, a mega produção politicamente correta da Disney.

TOP 5 PIORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. Venom (Venom)
Dir: Ruben Fleischer

4. Halloween (Halloween)
Dir: David Gordon Green

3. Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider)
Dir: Roar Uthaug

2. A Freira (The Nun)
Dir: Corin Hardy

1. Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom)
Dir: J.A. Bayona

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Chris Pratt em cena da desastrosa sequência Jurassic World: O Reino Ameaçado (pic by OutNow.CH)

OSCAR 2018: POLITICAMENTE CORRETO NUMA CERIMÔNIA MORNA

Os produtores da cerimônia resolveram dar uma colher de chá para Jimmy Kimmel e o convidaram novamente para ser host após aquela lambança do envelope errado no ano passado. Apesar de ter acertado naquela premiação do jet ski para o discurso mais curto, ainda cometeu equívocos como aquela chocha invasão à sala de cinema do outro lado da rua, na vã tentativa de aproximar o público comum das estrelas de Hollywood.

Contudo, não dá pra culpá-lo. Os próprios organizadores resolveram baixar o tom da festa e correr risco zero para evitar erros e polêmicas. Desde o monólogo politicamente correto de Kimmel, até os números musicais bastante contidos no palco comprovaram a postura que a Academia impôs ao evento.

Quanto aos resultados, chegamos ao limite do previsível, principalmente em relação aos atores. Com Gary Oldman, Frances McDormand, Sam Rockwell e Allison Janney ganhando todos os prêmios importantes anteriores, ficou difícil surpreender o público com algum resultado inesperado. Por isso mesmo, a partir da próxima cerimônia, a data será adiantada para o mês de fevereiro com o intuito de reduzir o impacto dos prêmios que o antecedem.

Sobre os resultados, torci bastante para Corra! levar Melhor Filme, Diretor e Roteiro Original, que felizmente Jordan Peele acabou levando. Gostei das premiações de James Ivory pelo Roteiro Adaptado de Me Chame Pelo Seu Nome, de Roger Deakins finalmente levando seu Oscar por Blade Runner 2049, e de Sebastián Lelio levando o primeiro Oscar de Filme em Língua Estrangeira para o Chile por Uma Mulher Fantástica.

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Da esquerda para a direita: Jordan Peele leva o Oscar de Roteiro Original por Corra!, Roger Deakins de Fotografia por Blade Runner 2049, e Sebastián Lelio de Filme em Língua Estrangeira por Uma Mulher Fantástica.

Em relação às categorias de atuação, os votantes da Academia deveriam repensar melhor seu modo de avaliar as interpretações. Este ano, tivemos duas performances clichês e rotuladas levando o Oscar mais por causa dos efeitos de maquiagem transformativa: Gary Oldman com próteses esbravejando como um cachorro, e Allison Janney como a mãe amarga e envelhecida pela maquiagem. Timothée Chalamet e Lesley Manville trabalharam muito mais as nuances de seus personagens, e com pouco esforço, superaram os vencedores.

NETFLIX NOS FESTIVAIS E NO OSCAR

Claro que ainda não é oficial, mas Roma pode se tornar o primeiro filme da NETFLIX indicado ao Oscar de Melhor Filme, e por que não o primeiro a ganhar a estatueta? É inevitável o espaço e a importância que a Netflix e outras plataformas de streaming como a Amazon e a Hulu estão conquistando no mercado. Já é uma realidade de trabalho para inúmeros profissionais, assim como de alto consumo.

Diante desse cenário, eu faço a seguinte indagação: “Até quando vão ficar de birra, distribuidores franceses e organizadores do Festival de Cannes?”. Enquanto essa turma ficar discutindo a permanência de um sistema ultrapassado e a linguagem cinematográfica da Netflix, a empresa está dando risada, lucrando e ainda ganhando prêmios em outros festivais! Roma ganhou o Leão de Ouro em Veneza.

Obviamente, preferi assistir ao filme de Alfonso Cuarón numa sala de cinema com projeção em tela grande e som de qualidade, mas se não pudesse, assistiria na TV de casa mesmo (com um volume que meus vizinhos reclamariam), mas assistiria! A Netflix veio para suprir um tipo de cinema que os produtores de Hollywood já não querem mais fazer, pois estão visando apenas os lucros sem margem para erros ou riscos, por isso só temos blockbusters e adaptações de best-sellers nas salas de cinema.

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Foto que tirei na sessão especial de Roma no Kinoplex Itaim

Eu gostaria apenas que a Netflix e outras plataformas fizessem um esforço para colocar filmes selecionados para salas de cinema. Tipo, não faço questão de ver Para Todos os Garotos que Já Amei no cinema, mas Roma é outro nível de cinema que merece uma boa projeção. Isso certamente valorizaria ainda mais os profissionais e acabaria atraindo outros a trabalhar para a empresa.

TWITTER DESTRUINDO CARREIRAS

Sabe aquele ditado “O passado não perdoa”? Graças ao Twitter, o passado voltou para atormentar e destruir as carreiras profissionais de algumas personalidades. A mais comentada foi do diretor e roteirista James Gunn, que foi demitido pela Disney de Guardiões da Galáxia Vol. 3. Quando seus tuítes de vários anos atrás voltaram à tona, viram que ele não batia muito bem. Quer dizer, as piadas de humor negro eram chocantes demais para qualquer executivo da Disney que quer preservar a imagem família feliz da empresa global. Eu entendo o lado da Disney, que seria atacada pela imprensa se não demitisse Gunn e correria sério risco de ter suas ações em queda, mas demitir por piada estúpida de Twitter de 10 anos atrás? Não poderiam dar uma chance do diretor se retratar publicamente? O cara ganhou bilhões de dólares com os dois Guardiões da Galáxia!

Twitter

Tweets antigos de James Gunn e Kevin Hart que ocasionaram em suas demissões

E no início de dezembro, o Twitter fez uma nova vítima: o ator e comediante Kevin Hart, que foi convidado pela Academia para ser host do Oscar 2019. No dia seguinte, porém, tuítes antigos dele, que denotavam uma figura pública homofóbica, foram descobertos. Certos de que ele seria crucificado, principalmente pela comunidade LGBT, os organizadores da Academia lançaram um ultimato para ele se desculpar, o que acabou não acontecendo. E dois dias depois do anúncio, Hart desistiu do cargo.

Sou totalmente contra qualquer tipo de censura. Mas os tempos são outros. Hoje, as empresas demitem por qualquer comportamento impróprio. Qualquer um. Não existe perdão de declarações do passado também, por isso, no caso do Twitter, onde os tuítes são “deletáveis”, melhor apagá-los. Evitaria desgastes como esse que a Academia passou agora.

Esses acontecimentos reabrem a velha discussão da separação entre pessoa e artista. Por exemplo, com o escândalo de Woody Allen que foi acusado de abusar da filha, inúmeras pessoas passaram a avaliar seus filmes de forma negativa por causa da acusação. Inclusive, achei patético a declaração da atriz Mira Sorvino, que alegou arrependimento de ter trabalhado com Allen no filme Poderosa Afrodite (1995), que lhe rendeu o Oscar de Atriz Coadjuvante e lançou seu nome em Hollywood. Cuspir no prato que comeu é fácil. Não aprova o comportamento dele? Basta não trabalhar mais com ele.

CRÍTICAS

Apesar da lista coroar os meus 5 favoritos do ano, obviamente é preciso mencionar outras produções que se destacaram de alguma forma. Dos blockbusters, vale citar Vingadores: Guerra Infinita, que foi a maior bilheteria do ano. Deixando meu lado de fã de quadrinhos, é preciso reconhecer esse trabalho estratégico e paciente de dez anos da Marvel Studios que culmina nesta produção, que soube contar com vários personagens sem ser maçante, e ainda apresenta com propriedade um vilão de alto nível como Thanos.

Ainda destacaria Missão: Impossível – Efeito Fallout, que pode não apresentar nada inovador, mas sem sombra de dúvida foi o melhor filme de ação do ano. É notável a entrega de Tom Cruise à franquia e como ele luta para se superar a cada filme. Falando em notabilidade, preciso mencionar o trabalho minucioso de stop motion da animação nova de Wes Anderson, Ilha dos Cachorros. Além da técnica impecável, trata-se de um design de personagens sublime. Só acho que carece um pouco mais de alma, mas talvez a Academia recompense Anderson pelas derrotas anteriores com este Oscar de Animação…

Também gostei do singelo Poderia Me Perdoar?. A história verídica me pegou pelo identificação com a protagonista: uma escritora em decadência que falsifica cartas de autores para pagar suas contas básicas. A dupla formada por Melissa McCarthy e Richard E. Grant é a melhor do ano. Espero que ambos estejam indicados no próximo Oscar. E ainda no campo do singelo, destaco também o drama Mais Uma Chance, que é da Netflix. É basicamente sobre um casal na casa dos 40 que luta para ter filho, chegando a recorrer aos ovários da sobrinha. Todos os três atores estão bem: Paul Giamatti, Kathryn Hahn e Kayli Carter.

Uma boa surpresa foi a ficção científica Upgrade. Jamais imaginei que o roteirista Leigh Whannel, de Sobrenatural e Jogos Mortais, criaria esse universo futurista onde a tecnologia seria debatida de forma divertida mas também incisiva. Infelizmente, não há previsão de estréia no Brasil, mas de qualquer forma, tem tudo para se tornar um cult movie.

E, por último, gostei de ver a nova loucura de Lars von Trier no cinema. A Casa que Jack Construiu tem um tema interessantíssimo que questiona a inteligência humana através da filosofia de um serial killer inescrupuloso. Só faço dois adendos: deveria ter abusado mais do humor negro da primeira metade, e apesar de entender os motivos do diretor, cortaria a sequência em que ele insere imagens dos filmes anteriores dele, pois não colabora com a trama e ainda abre brecha para críticas de auto-indulgência depois daquele episódio de Persona Non Grata no Festival de Cannes.

TOP 5 MELHORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. Hereditário (Hereditary/ 2018)
Dir: Ari Aster

4. Oitava Série (Eighth Grade/ 2018)
Dir: Bo Burnham

3. Roma (Roma/ 2018)
Dir: Alfonso Cuarón

2. Asako I & II (Netemo Sametemo/ 2018)
Dir: Ryûsuke Hamaguchi

1. Em Chamas (Beoning/ 2018)
Dir: Chang-dong Lee

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1º LUGAR: EM CHAMAS (Beoning), de Lee Chang-dong

TOP 5 MELHORES EM MÍDIA DIGITAL

5. O Silêncio do Lago (Spoorloos/ 1988)
Dir: George Sluizer

4. Através de um Espelho (Såsom i en spegel/ 1961)
Dir: Ingmar Bergman

3. 8½ (8½/ 1963)
Dir: Federico Fellini

2. O Parque Macabro (Carnival of Souls/ 1962)
Dir: Herk Harvey

1. O Segundo Rosto (Seconds/ 1966)
Dir: John Frankenheimer

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1º LUGAR: O SEGUNDO ROSTO (Seconds), de John Frankenheimer

IN MEMORIAN

Este ano, perdemos diretores icônicos e vencedores do Oscar. Milos Forman (venceu por Um Estranho no Ninho e Amadeus) e Bernardo Bertolucci (venceu por O Último Imperador), mas no caso dele, ficou mais famoso por filmes polêmicos como O Conformista, O Último Tango em Paris e Os Sonhadores. Outro diretor que entregou importantes filmes foi Nicolas Roeg, que destaco Inverno de Sangue em Veneza, O Homem que Caiu na Terra e Bad Timing. E agora no dia 17, a diretora Penny Marshall, mais conhecida pelas comédias Quero Ser Grande e Uma Equipe Muito Especial nos deixou.

Entre os atores, indicados ao Oscar nos deixaram: Burt Reynolds (que mais chama a atenção por uma vida repleta de arrependimentos por recusa de papéis importantes), Sondra Locke (ex-mulher de Clint Eastwood), Barbara Harris e a vencedora do Oscar de Coadjuvante em 1957 por Palavras ao Vento, Dorothy Malone. Também vale citar Margot Kidder, a eterna Lois Lane do Superman do saudoso Christopher Reeve.

Dos profissionais brasileiros, demos adeus às lendas Nelson Pereira dos Santos (diretor de Vidas Secas e Rio 40 Graus), Roberto Farias (diretor de Assalto ao Trem Pagador e dos filmes do cantor Roberto Carlos como Roberto Carlos em Ritmo de Aventura), e as atrizes Beatriz Segall (a eterna Odete Roitman da novela Vale Tudo) e Tônia Carrero, que brilhou nos filmes do extinto estúdio da Vera Cruz como Tico-Tico no Fubá.

Vale lembrar a perda das cantoras Aretha Franklin, cujas músicas sempre estarão em trilhas sonoras de vários filmes, e pra mim, em especial, Dolores O’Riordan, vocalista do grupo The Cranberries. A morte dela aos 46 anos (!) por afogamento após uma intoxicação alcóolica me deixou abatido por uns dias.

Demos adeus aos escritores Neil Simon, que apesar de ter sido indicado ao Oscar quatro vezes sem nenhuma vitória, tinha carreira consolidada e venerada no teatro como dramaturgo; e o roteirista William Goldman, vencedor de duas estatuetas do Oscar por Butch Cassidy e Todos os Homens do Presidente.

E não poderia falar de escritores sem mencionar Stan Lee. Embora os filmes da Marvel Studios sejam um sucesso pela estratégia de mesclar universos do produtor Kevin Feige, nada seria possível sem a inestimável contribuição criativa de Lee. Ele foi o pioneiro nos quadrinhos que enxergou a humanidade nos personagens de super-heróis, que eles poderiam ser falhos também e assim, facilitar a identificação com os leitores. Foi essa chave que até hoje gera essa conexão dos filmes com o grande público.

Stan Lee

VOTOS PARA 2019

Acho que o grande assunto no Brasil este ano foram as eleições para presidente. E o que mais fiquei chocado foi a defesa ferrenha que muitos faziam para candidatos que sequer mereciam o mínimo de confiança. Acho que depois de acompanhar tanto tempo a política brasileira, só defendo uma coisa: Nenhum político merece nossa confiança. Talvez o político em si seja até uma pessoa honesta, mas o sistema é muito corrupto e parece enraizado. Não vou nem entrar na questão das propostas, porque tem cada absurdo… Acho que o Brasil só vai pra frente com uma Reforma na Educação contando com um alto investimento.

Enfim, torço para que algo dê certo neste próximo governo. Que, de alguma forma, consigam afastar o país dessa crise, gerando mais emprego, renda e segurança, que é um problema crônico, mas sem esquecer da educação e da nossa cultura!

Apoio a diversidade de autores brasileiros, especialmente no cinema. Este ano, contamos com filmes bem distintos e alternativos como Café com Canela, As Boas Maneiras, O Animal Cordial, Arábia e Benzinho. O Cinema Brasileiro deixou de ser aquele recluso de favelas e seca no Nordeste. Se vamos ganhar o Oscar? Se dependesse apenas dos filmes, não teria dúvidas de que vai chegar a hora do Brasil, mas se a política continuar interferindo… vamos ver o cinema do Camboja, Cazaquistão e Paraguai ganhar antes da gente.

Desejo Feliz Ano Novo para todos que acompanham o blog e a página do Facebook! Que seja um ano repleto de alegrias, conquistas, saúde e paz!

Compartilhe seus melhores e/ou piores filmes que viu em 2018 nos comentários!

‘OITAVA SÉRIE’, ‘FIRST REFORMED’ e ‘SE A RUA BEALE FALASSE’ DISPUTAM MELHOR FILME no INDEPENDENT SPIRIT AWARDS

EIGHT GRADE

Elsie Fisher e Josh Hamilton em diálogo tocante em Oitava Série (pic by IMDb)

PREMIAÇÃO AMERICANA INDEPENDENTE ANUNCIA SUA SELEÇÃO COM FAVORITOS AUSENTES POR ELEGIBILIDADE

Há algumas semanas, o Gotham Awards foi o primeiro prêmio da temporada a revelar seus indicados, mas como ainda é tradição, a corrida pelo Oscar só começa oficialmente com os indicados ao Independent Spirit Awards!

Em sua 34ª edição, a premiação tem sido um dos principais parâmetros para o Oscar. Com exceção deste ano, quando Corra! levou Melhor Filme no Spirit, nos quatro anos anteriores, todas as produções que se consagraram com o Oscar de Melhor Filme, foi vencedor no Spirit antes:  Moonlight, Spotlight, Birdman, e 12 Anos de Escravidão. Tá bom pra você?

Porém, nesta edição, por causa das regras de elegibilidade, algumas produções consideradas favoritas para esta temporada não poderão competir aqui como o mexicano Roma, de Alfonso Cuarón, e A Favorita, de Yorgos Lanthimos, por serem produções estrangeiras (teriam de ser norte-americanas). Além, claro, de terem de respeitar o teto do orçamento que é de 20 milhões de dólares, o que desqualificou A Forma da Água no ano passado, e este ano barrou franco-favoritos como Nasce uma Estrela, O Primeiro Homem e Green Book – O Guia.

Curiosamente, o anúncio dos indicados estava previsto para o próximo dia 19, mas por algum motivo foi adiantado para hoje, dia 16. O evento contou com a colaboração das atrizes Gemma Chan (do mega sucesso Podres de Ricos – muito linda e com um belo sotaque britânico!) e Molly Shannon (vencedora do Independent Spirit em 2016 pelo drama Other People). Confira o vídeo do canal oficial do Film Independent:

NÚMEROS DO INDEPENDENT SPIRIT AWARDS

Um fato bem curioso: o recordista de indicações desta edição sequer foi indicado a Melhor Filme. We the Animals, de Jeremiah Zagar, conquistou o total de 5 indicações, mas não foi incluído na principal categoria. Este drama familiar foi lançado no último festival de Sundance e agora disputa em categorias importantes como Ator Coadjuvante (Raúl Castillo) e Fotografia.

Em segundo lugar, temos duas produções da A24 (uma das produtoras mais em evidência nos últimos anos): Oitava Série e First Reformed, ambos com 4 indicações cada. E também com 4, o drama Você Nunca Esteve Realmente Aqui, de Lynne Ramsay, que apesar de ter concorrido à Palma de Ouro em Cannes em 2017, conseguiu ser distribuído em solo americano somente neste ano.

Logo em seguida, com 3 indicações, vem um dos possíveis candidatos ao Oscar 2019: Se a Rua Beale Falasse, novo trabalho do diretor de Moonlight, Barry Jenkins. A adaptação de James Baldwin foi lembrada nas categorias Filme, Diretor e Atriz Coadjuvante para Regina King. Também indicados a 3 prêmios estão Mais Uma Chance, de Tamara Jenkins, e Não Deixe Rastros, de Debra Granik, ambas diretoras indicadas na categoria de Direção.

PRIVATE LIFE

No centro, Paul Giamatti, e à direita Kathryn Hahn, conversam com Kayli Carter em cena de Mais uma Chance (pic by IMDb)

COMENTÁRIOS

Como consegui assistir já a alguns filmes indicados, consigo dar algumas impressões. Primeiramente, fiquei super feliz pelas indicações de First Reformed e Oitava Série. Não haveria Independent Spirit sem essas duas produções.

A primeira é o novo trabalho do veterano Paul Schrader, mais conhecido por ser o roteirista de Taxi Driver e de ter dirigido Gigolô Americano e Temporada de Caça. Ele retorna com este profundo e poderoso estudo da religião frente às descrenças humanas na sociedade. Ultimamente, tem sido tão raro encontrar um filme estrelado por um padre sem envolver exorcismo, demônios ou pedofilia, que já se torna algo digno de nota. A direção de Schrader é nua e crua, mas com alguns requintes de surrealismo. E temos aqui uma ótima performance de Ethan Hawke, que merece ser lembrado nas próximas premiações.

first reformed

Ethan Hawke e Amanda Seyfried dialogam em cena de First Reformed (pic by IMDb)

Já a segunda é dirigida e escrita por um estreante com histórico youtuber Bo Burnham. Ele fez este singelo testamento da juventude e como ela lida com as relações sociais enquanto dialoga com a tecnologia. Apresenta cenas que vão do terror como a da piscina (com direito à trilha) até adoráveis como o diálogo entre pai e filha sentados em frente à fogueira. A indicação de Melhor Atriz para a jovem Elsie Fisher foi fantástica! Até então, ela era apenas conhecida por dublar uma menina na animação de Meu Malvado Favorito.

Falando em categoria de Atriz, temos uma exceção nesta edição com 6 indicadas. Além de Fisher, achei ótimas as inclusões de Helena Howard (esta menina está incrível em Madeline de Madeline, com um talento daqueles natos num filme que sobre a verdadeira natureza da atuação) e Toni Collette, que concorre pelo ótimo filme de gênero Hereditário. Também vale a pena destacar a indicação de Glenn Close por A Esposa, já que ela vem se tornando a franco-favorita para ganhar finalmente seu primeiro Oscar após 6 indicações.

MADELINE

Helena Howard é uma explosão de talento no experimental Madeline de Madeline (pic by IMDb)

Fiquei um pouco surpreso com a indicação de Melhor Ator para John Cho por Buscando…. Apesar de ele segurar a onda praticamente sozinho durante o filme todo, que se passa em telas de celular e computador, achei um pouco forçada esta indicação. E pela indicação de Adam Driver ser a única do novo filme de Spike Lee, Infiltrado na Klan, que vinha sendo bem cotado para o Oscar.

Destaque para as indicações brasileiras de Melhor Ator para Christian Malheiros e Someone to Watch Award para o diretor Alex Moratto por Sócrates. Malheiros interpreta um jovem que perde sua mãe, enquanto procura um jeito de se virar sozinho e descobre sua sexualidade. Confira o trailer:

Achei formidáveis as indicações de Fotografia para Suspiria (Sayombhu Mukdeeprom) e Mandy (Benjamin Loeb). São trabalhos bastante vistosos que mereciam esse destaque para permanecerem em alta na corrida para o Oscar. Também ressalto a indicação de Em Chamas, de Chang-dong Lee, pela Coréia do Sul na categoria de Filme Internacional. Caso avance para o Oscar, será a primeira indicação merecida para o cinema sul-coreano. Claro que a categoria de estrangeiros está bem representada também por Roma (México), Assunto de Família (Japão), A Favorita (Reino Unido) e Happy as Lazzaro (Itália).

BURNING

Cena do longa sul-coreano Em Chamas, baseado em conto do escritor Haruki Murakami (pic by IMDb)

AUSÊNCIAS

Entre as ausências mais sentidas foram de Melissa McCarthy por Poderia Me Perdoar?. Ela consegue balancear com muita graça seu lado dramático com seu conhecido timing cômico nesta cinebiografia de Lee Israel. Apesar de não ter aparecido aqui na lista, tem grandes chances de aparecer no Oscar e receber sua indicação. Curiosamente, seu colega de tela, Richard E. Grant, foi reconhecido como Ator Coadjuvante. Ainda na categoria de Atriz, Michelle Pfeiffer poderia ter sido lembrada por Where is Kyra?. Sua salvação pode ser os prêmios da crítica, o Critics’ Choice ou o Globo de Ouro.

Na categoria masculina, senti falta do Ben Foster pelo indicado Não Deixe Rastros, assim como Timothée Chalamet ou Lucas Hedges por Beautiful Boy e Boy Erased, respectivamente, na categoria de Ator Coadjuvante. E o já citado Spike Lee, pelo menos na categoria de Roteiro por Infiltrado na Klan.

INDICADOS AO INDEPENDENT SPIRIT AWARDS 2019:

MELHOR FILME

  • Oitava Série (Eighth Grade)
  • First Reformed
  • Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk)
  • Não Deixe Rastros (Leave no Trace)
  • Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here)

MELHOR DIREÇÃO

  • Debra Granik (Não Deixe Rastros)
  • Barry Jenkins (Se a Rua Beale Falasse)
  • Tamara Jenkins (Mais Uma Chance)
  • Lynne Ramsay (Você Nunca Esteve Realmente Aqui)
  • Paul Schrader (First Reformed)

FILME DE ESTRÉIA

  • Hereditário (Hereditary)
  • Sorry to Bother You
  • O Conto (The Tale)
  • We the Animals
  • Vida Selvagem (Wildlife)

MELHOR ATOR

  • John Cho (Buscando…)
  • Daveed Diggs (Ponto Cego)
  • Ethan Hawke (First Reformed)
  • Christian Malheiros (Sócrates)
  • Joaquin Phoenix (Você Nunca Esteve Realmente Aqui)

MELHOR ATRIZ

  • Glenn Close (A Esposa)
  • Toni Collette (Hereditário)
  • Elsie Fisher (Oitava Série)
  • Regina Hall (Support the Girls)
  • Helena Howard (Madeline de Madeline)
  • Carey Mulligan (Vida Selvagem)
  • Kayli Carter (Mais Uma Chance)
  • Tyne Daly (A Bread Factory)
  • Regina King (Se a Rua Beale Falasse)
  • Thomasin Harcourt McKenzie (Não Deixe Rastros)
  • J. Smith-Cameron (Nancy)
MELHOR ATOR COADJUVANTE
  • Raúl Castillo (We the Animals)
  • Adam Driver (Infiltrado na Klan)
  • Richard E. Grant (Poderia Me Perdoar?)
  • Josh Hamilton (Oitava Série)
  • John David Washington (Monsters and Men)

MELHOR FOTOGRAFIA

  • Ashley Connor (Madeline de Madeline)
  • Diego Garcia (Vida Selvagem)
  • Benjamin Loeb (Mandy)
  • Sayombhu Mukdeeprom (Suspiria)
  • Zak Mulligan (We the Animals)


MELHOR ROTEIRO

  • Richard Glatzer, Rebecca Lenkiewicz, Wash Westmoreland (Colette)
  • Nicole Holofcener & Jeff Whitty (Poderia Me Perdoar?)
  • Tamara Jenkins (Mais Uma Chance)
  • Boots Riley (Sorry to Bother You)
  • Paul Schrader (First Reformed)

MELHOR ROTEIRO DE ESTREANTE

  • Bo Burnham (Oitava Série)
  • Christina Choe (Nancy)
  • Cory Finley (Puro-Sangue)
  • Jennifer Fox (O Conto)
  • Quinn Shephard, Laurie Shephard (Blame)

MELHOR DOCUMENTÁRIO

  • Hale County this Morning, This Evening
  • Minding the Gap
  • Of Fathers and Sons
  • On Her Shoulders
  • Shirkers
  • Won’t You be my Neighbor?

MELHOR FILME INTERNACIONAL

  • Em Chamas. Dir: Chang-dong Lee (Coréia do Sul)
  • A Favorita. Dir: Yorgos Lanthimos (Reino Unido)
  • Happy as Lazzaro. Dir: Alice Rohrwacher (Itália)
  • Roma. Dir: Alfonso Cuarón (México)
  • Assunto de Família. Dir: Hirokazu Koreeda (Japão)

TRUER THAN FICTION AWARD

  • Alexandria Bombach (On Her Shoulders)
  • Bing Liu (Minding the Gap)
  • RaMell Ross (Hale County This Morning, This Evening)

PRODUCERS AWARD

  • Jonathan Duffy, Kelly Williams
  • Gabrielle Nadig
  • Shrihari Sathe


THE SOMEONE TO WATCH AWARD

  • Alex Moratto (Sócrates)
  • Ioana Uricaru (Lemonade)
  • Jeremiah Zagar (We the Animals)

THE BONNIE AWARD

  • Debra Granik
  • Tamara Jenkins
  • Karyn Kusama
ROBERT ALTMAN AWARD
SUSPIRIA
Diretor: Luca Guadagnino
Diretores de Casting: Avy Kaufman, Stella Savino
Elenco: Malgosia Bela, Ingrid Caven, Lutz Ebersdorf, Elena Fokina, Mia Goth, Jessica Harper, Dakota Johnson, Gala Moody, Chloë Grace Moretz, Renée Soutendijk, Tilda Swinton, Sylvie Testud, Angela Winkler
***
A 34ª cerimônia do Independent Spirit Awards está marcada para o dia 23 de fevereiro, um dia antes do Oscar, na praia de Santa Monica.

‘FIRST REFORMED’ e ‘A FAVORITA’ LARGAM NA FRENTE no GOTHAM AWARDS

 

First Reformed

Ethan Hawke em First Reformed, com 3 indicações no Gotham Awards (pic by myfilm.gr)

DRAMA DE PAUL SCHRADER E COMÉDIA HISTÓRICA DE YORGOS LANTHIMOS SÃO OS DESTAQUES DOS INDEPENDENTES

Na última quinta-feira, dia 18, foi dada a largada oficial da temporada de premiações com o anúncio dos indicados do Gotham Awards. Apesar de estar apenas em sua 28ª edição, o prêmio concedido pelo IFP (Independent Filmmaker Project) foca em produções independentes. algo que o Independent Spirit Awards costumava fazer até os anos 90, quando ainda não era o precursor do Oscar.

Com três indicações, First Reformed, de Paul Schrader, lidera a corrida pelas categorias Filme, Roteiro e Ator (Ethan Hawke). A Favorita, de Yorgos Lanthimos, empata tecnicamente, pois além de indicações de Filme e Roteiro, recebeu um prêmio especial de Elenco pelo trio Olivia Colman, Rachel Weisz e Emma Stone como forma de compensá-las pela ausência nas categorias de atuação.

Rachel Weisz, Olivia Colman, Emma Stone

Rachel Weisz, Olivia Colman e Emma Stone em premiere de A Favorita. Trio recebeu o prêmio de Elenco no Gotham Awards. Pic by Firstpost

Aliás, sobre a categoria de atriz, temos um embate interessante de veteranas: Glenn Close, que já vinha conquistando espaço nas campanhas para sua sétima indicação ao Oscar, e Michelle Pfeiffer, que após décadas desde sua última indicação ao Oscar em 1993, pode finalmente voltar aos holofotes do tapete vermelho. Curiosamente, ambas são atrizes que se destacaram na década de 90, e depois foram perdendo força no cinema.

Elas competem pelo prêmio de Atriz do Gotham com Toni Collette. A atriz australiana recebeu merecidos elogios pela intensa performance no terror psicológico Hereditário, de Ari Aster, que também compete como Diretor Estreante. Alguns acreditam que ela será indicada pela Academia pela segunda vez (curiosamente, a primeira vez também foi com um filme de terror: O Sexto Sentido), pois os tempos mudaram, e os filmes de gênero não sofrem tanto com o conservadorismo como antigamente.

Toni Collette Hereditary

Toni Collette intensa em Hereditário: 2 indicações para o Gotham (pic by IMDb)

Falando em gênero, a edição anterior do Gotham premiou Corra! em três categorias: Roteiro, Prêmio do Público e Diretor Estreante para Jordan Peele, resultando no Oscar de Roteiro Original; assim como o prêmio de Melhor Filme que foi para Me Chame Pelo Seu Nome, que terminou com o Oscar de Roteiro Adaptado, ou seja, Gotham Awards está no mapa da temporada de premiações.

Também gostaria de destacar as duas indicações para a “dramédia” Eighth Grade (que deve se chamar Oitava Série aqui no Brasil). Trata-se da estréia de Bo Burnham, que era youtuber, e decidiu dirigir um filme sobre essa fase complicada da adolescência e sua relação com a tecnologia. Existe um certo frescor na linguagem narrativa de Burnham, muito auxiliado pela ótima performance da jovem Elsie Fisher.

Elsie Fisher Eighth Grade

Elsie Fisher em cena de Eighth Grade: 2 indicações para o Gotham Awards (pic by imdb.com)

Ainda sem título no Brasil, vale destacar o drama First Reformed, escrito e dirigido por Paul Schrader. No centro da trama, temos um padre, vivido pelo consistente Ethan Hawke, lutando contra seus ideais religiosos após um incidente com o marido de uma fiel de sua igreja. Cheguei a comentar no Letterboxd, que se tratava do primeiro filme em vários anos que tínhamos um padre protagonista sem lidar com questões típicas como pedofilia, exorcismo, demônios ou assédio sexual, o que já é digno de nota.

Badalado pela vitória no Oscar 2017 por Moonlight, o novo filme do diretor Barry Jenkins, If Beale Street Could Talk, foi reconhecido em duas categorias aqui: Filme e Atriz Revelação para Kiki Layne, que faz a esposa que tem seu marido preso por engano. De temática negra ou afro, o filme deve crescer bastante ainda pelas campanhas, assim como The Green Book, que ficou de fora do Gotham.

MELHOR FILME
First Reformed
A Favorita (The Favorite)
Madeline de Madeline (Madeline’s Madeline)
If Beale Street Could Talk
Domando o Destino (The Rider)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Bisbee ‘17
Hale County This Morning, This Evening
Minding the Gap
Shirkers
Won’t You Be My Neighbor?

PRÊMIO BINGHAM RAY PARA DIRETOR ESTREANTE
Bo Burnham (Oitava Série)
Ari Aster (Hereditário)
Boots Riley (Sorry to Bother You)
Crystal Moselle (Skate Kitchen)
Jennifer Fox (O Conto)

MELHOR ROTEIRO
Deborah Davis, Tony McNamara (A Favorita)
Cory Finley (Thoroughbreds)
Paul Schrader (First Reformed)
Tamara Jenkins (Mais uma Chance)
Andrew Bujalski (Support the Girls)

MELHOR ATOR
Adam Driver (Infiltrado na Klan)
Ben Foster (Não Deixe Rastros)
Richard E. Grant (Poderia me Perdoar?)
Ethan Hawke (First Reformed)
Lakeith Stanfield (Sorry to Bother You)

MELHOR ATRIZ
Glenn Close (The Wife)
Toni Collette (Hereditário)
Kathryn Hahn (Mais uma Chance)
Regina Hall (Support the Girls)
Michelle Pfeiffer (Where is Kyra?)

ATOR OU ATRIZ REVELAÇÃO
Thomasin Harcourt (Não Deixe Rastros)
Helena Howard (A Madeline de Madeline)
Kiki Layne (If Beale Street Could Talk)
Elsie Fisher (Oitava Série)
Yalitza Aparicio (Roma)

SÉRIE REVELAÇÃO – EPISÓDIOS LONGOS
Alias Grace
Big Mouth
The End of the F***ing World
Killing Eve
Pose
Sharp Objects

SÉRIE REVELAÇÃO – EPISÓDIOS CURTOS
195 Lewis
Cleaner Daze
Distance
The F Word
She’s the Ticket

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI PARA PERFORMANCE DE ELENCO
Olivia Colman, Emma Stone, Rachel Weisz (A Favorita)

***

A 28ª edição do Gotham Awards acontecerá no dia 26 de novembro em Nova York.

22 FILMES DISPUTAM A VAGA DO BRASIL NO OSCAR 2019

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Bruna Linzmeyer em cena de O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues (pic by The Hollywood Reporter)

COMEÇA A SELEÇÃO PARA REPRESENTANTE BRASILEIRO

Nessa última sexta-feira, dia 24, foram divulgadas as 22 produções que vão disputar a vaga de representante brasileiro pela categoria de Filme em Língua Estrangeira no Oscar 2019.

São 18 ficções e 4 documentários que seguem abaixo em ordem alfabética:

  • Além do Homem
    Dir: Willy Biondani
  • Alguma Coisa Assim
    Dir: Esmir Filho
  • O Animal Cordial
    Dir: Gabriela Amaral Almeida
  • Antes que eu me Esqueça
    Dir: Tiago Arakilian
  • Aos Teus Olhos
    Dir: Carolina Jabor
  • As Boas Maneiras
    Dir:  Marco Dutra e Juliana Rojas
  • Benzinho
    Dir: Gustavo Pizzi
  • Canastra Suja
    Dir: Caio Soh
  • O Caso do Homem Errado
    Dir: Camila de Moraes
  • Como é Cruel Viver Assim
    Dir: Julia Rezende
  • Dedo na Ferida
    Dir: Silvio Tendler
  • O Desmonte do Monte
    Dir: Sinai Sganzerla
  • Encantados
    Dir: Tizuka Yamasaki
  • Entre Irmãs
    Dir: Breno Silveira
  • Ex-Pajé
    Dir: Luiz Bolognesi
  • Ferrugem
    Dir: Aly Muritiba
  • O Grande Circo Místico
    Dir: Cacá Diegues
  • Não Devore Meu Coração!
    Dir: Filipe Bragança
  • Paraíso Perdido
    Dir: Monique Gardenberg
  • Talvez uma História de Amor
    Dir: Rodrigo Bernardo
  • Unicórnio
    Dir: Eduardo Nunes
  • Yonlu
    Dir: Hique Montanari

À princípio, não há nenhum grande favorito como Cidade de Deus ou Tropa de Elite 2, mas alguns títulos já se sobressaem devido a seu histórico internacional. O Grande Circo Místico já larga na frente por ter passagem na mostra não-competitiva no Festival de Cannes deste ano, além, claro, da fama do diretor Cacá Diegues que, embora nunca tenha sido indicado ao Oscar, competiu pela Palma de Ouro em três ocasiões nos anos 80. O drama com temática circense remete ao vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1952, O Maior Espetáculo da Terra, de Cecil B. DeMille, e conta com um bom elenco encabeçado por Bruna Linzmeyer, Jesuíta Barbosa, Juliano Cazarré, Mariana Ximenes e o francês Vincent Cassel.

Com passagens por festivais argentino, colombiano, francês, americano, suíço e espanhol, As Boas Maneiras também tem ótimas chances de ser selecionado. Além da crescente campanha internacional, o filme é do gênero terror e fantasia, que ficaram em alta depois de Corra! e A Forma da Água terem levado o Oscar este ano, e por ter uma autenticidade brasileira representada pela história folclórica do lobisomem. A dupla de diretores, Marco Dutra e Juliana Rojas, ainda está buscando se aperfeiçoar a cada filme, mas já é possível verificar um toque de personalidade no trabalho.

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Marjorie Estiano e Isabél Zuaa em cena de As Boas Maneiras (pic by Omelete)

Acredito que a vaga deva ficar com uma dessas duas produções pelos motivos citados, porém vale destacar aqui Aos Teus Olhos e O Animal Cordial pela repercussão que ambos tiveram pela temática. Enquanto o primeiro aborda a questão do abuso sexual (em alta em Hollywood), o segundo abre uma discussão sobre a essência do ser humano em situações extremas.

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Murilo Benício e Luciana Paes em cena de O Animal Cordial (pic by revistapreview.com.br)

Também estou lendo ótimas críticas de Benzinho (que acabou de levar 4 Kikitos no Festival de Gramado, incluindo o de Melhor Atriz para a elogiada atuação de Karine Telles) e o próprio vencedor de Melhor Filme em Gramado, Ferrugem.

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Adriana Esteves e Karine Teles em cena de Benzinho, que concedeu os Kikitos de Coadjuvante e Atriz para ambas (pic by Cebola Verde)

Não sou de ligar muito para essa questão politicamente correta, mas o jornal Folha de S. Paulo levantou que dos 22 filmes, nove são dirigidos por mulheres. De repente, por causa dos movimentos feministas como o #MeToo, esse fator pode ajudar na campanha internacional. A matéria do jornal também destacou a ausência do filme de maior bilheteria aqui, Nada a Perder, a cinebiografia do Edir Macedo, dono da Igreja Universal. Talvez aquele suposto esquema da própria Igreja comprar vários ingressos e distribuir para os fiéis (que não comparecem às salas) tenham o desqualificado para esta seleção.

De qualquer forma, para a comissão que se encarregará da seleção do representante brasileiro, meu conselho é: não se guie pelos gostos da Academia, que seria o filme dramático do Holocausto e Segunda Guerra Mundial. Primeiro porque já tentamos e não fomos bem-sucedidos, segundo porque a própria Academia está mudando com a adição de tantos membros novos, e por último, porque o cinema brasileiro precisa simplesmente levar o seu melhor filme para Hollywood, independente de histórico, premiações e elenco. Digo isso, principalmente, porque o Brasil nunca levou o Oscar, e as chances de ganhar são baixas, então por que não prestigiar o melhor filme pelo menos?

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No centro, Daniel de Oliveira faz o professor de natação acusado de assédio em Aos Teus Olhos (pic by vejasp)

Não posso julgar qual a melhor produção para selecionar, pois não vi todos os 22 filmes, mas gosto da idéia de As Boas Maneiras ser o representante por ter esse tom próprio (e não padronizado) de fábula com drama social brasileiro. O filme tem seus defeitos, sim, mas acredito que contém algum diferencial que os membros da Academia esperam ver, afinal eles são obrigados a assistir a mais de 90 filmes estrangeiros para votar.

Só para constar: Caso o representante seja aprovado para a pré-lista de nove filmes, será o primeiro desde 2006, quando O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias foi pré-selecionado. E caso esteja entre os 5 indicados da categoria, será o primeiro desde Central do Brasil, que concorreu em 1999.

‘A FORMA DA ÁGUA’ SE TORNA A PRIMEIRA FICÇÃO CIENTÍFICA A VENCER COMO MELHOR FILME EM 90 ANOS DE OSCAR

Guillermo del Toro

Guillermo del Toro discursa em nome da equipe toda de A Forma da Água (pic by Chris Pizzello)

OSCAR DESTACA A DIVERSIDADE, DEFENDE MINORIAS E AS MULHERES

A 90ª edição do Oscar, que ocorreu na noite deste domingo, dia 04 de março, guardava vários elementos que poderiam torná-la histórica, e a cerimônia não desapontou. E a diversidade internacional de seus apresentadores refletiu melhor as novas inclusões realizadas de três anos para cá.

POLÊMICA NO TAPETE VERMELHO

Poucas horas antes do tapete vermelho começar, soltaram uma denúncia de abuso e comportamento inapropriado contra o apresentador do tapete vermelho, Ryan Seacrest, que trabalha para o canal E!. Contudo, sua aparição não foi abortada pelo canal, que alegou que “não havia provas o suficiente” para incriminá-lo. No entanto, a idéia de mantê-lo gerou certo desconforto, já que ele teve inúmeras entrevistas recusadas por várias mulheres vítimas de abuso como Viola Davis, Jennifer Garner, Mira Sorvino, Ashley Judd, Margot Robbie e Sandra Bullock. Ninguém queria nem olhar pro infeliz. Seacrest, sendo inocente ou não, não teria sido melhor preservá-lo?

90th Annual Academy Awards, Roaming Arrivals, Los Angeles, USA - 04 Mar 2018

Ryan Seacrest foi atendido por apenas 4 figuras no tapete vermelho de 20 programadas (pic by Michael Buckner)

NÚMEROS DO OSCAR

O grande vencedor da noite foi A Forma da Água, que levou ao todo 4 estatuetas do Oscar: Filme, Diretor, Direção de Arte e Trilha Musical. Claro que hoje em dia é difícil definir um gênero apenas para um filme como na época das locadoras de vídeo, mas se considerarmos o filme de del Toro como uma Ficção Científica, trata-se da primeira a vencer como Melhor Filme em 90 anos de Academia. Certamente um marco histórico derrubando um tabu gigantesco.

Logo em seguida, aparece o filme de guerra Dunkirk, que levou 3 prêmios: Montagem, Som e Efeitos Sonoros. Em terceiro lugar, temos quatro concorrentes, cada um levando duas estatuetas para casa: Três Anúncios Para um Crime (Atriz e Ator Coadjuvante), Blade Runner 2049 (Fotografia e Efeitos Visuais), Viva: A Vida é uma Festa (Animação e Canção) e O Destino de uma Nação (Ator e Maquiagem).

A vitória de Roger Deakins na categoria de Fotografia após 14 indicações tem um fato curioso. É a primeira vitória de um filme não-indicado a Melhor Filme (Blade Runner 2049) a vencer nessa categoria em 12 anos, desde Memórias de uma Gueixa em 2006.

KIMMEL PROCURA SE REDIMIR

Como o host da noite, Jimmy Kimmel, foi convidado para retornar este ano devido à lambança do envelope errado de Moonlight, era natural que ele procurasse se redimir e satirizar a gafe de alguma maneira. Logo começou passando instruções aos indicados em seu monólogo de abertura: “Este ano, quando você ouvir seu nome sendo chamado, não se levante de imediato. Nos dê um minuto. Não queremos que aconteça outra ‘coisa.'”

oscar jimmy kimmel 2018

Jimmy Kimmel explica: “O Oscar é o melhor homem de Hollywood: ele está com as mãos onde podemos ver, nunca diz uma palavra rude, e não tem pênis”.

Seguindo sua veia cômica política, ele não poderia deixar de citar diretamente o presidente republicano Donald Trump: “Nenhuma outra pessoa além do Presidente Trump chamou ‘Corra!’ de melhor 3/4 de filme do ano” (quem viu o filme vai entender a piada). E também discutiu a questão das bilheterias dos filmes indicados: “Nós não fazemos filmes como ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ para ganhar muito dinheiro. Fazemos para irritar (o vice-presidente conservador) Mike Pence.”

Porém, a melhor tirada da apresentação dele foi a idéia de presentear o discurso de agradecimento mais curto da noite com um jet ski, exibido naquele momento por Helen Mirren. Apesar da maioria não ligar pra tempo quando sobe ao palco, achei uma solução bastante criativa de dar aquele puxão de orelha nos que exageram e ainda abastecer o lado cômico nos agradecimentos como foi o caso de Gary Oldman, que já em seu segundo minuto de discurso, soltou um: “Obviamente, eu não vou ganhar o ski…”. Infelizmente, o plano de encurtar a cerimônia não deu muito certo no final, porque teria ultrapassado 50 minutos da transmissão.

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Acompanhado por Helen Mirren, o figurinista Mark Bridges pilota seu novo jetski, vencido por ter feito o discurso mais curto com 36 segundos. (Pic by Kevin Winter)

Já a nova “pegadinha” dele não surtiu o efeito desejado. Kimmel convidou vários atores incluindo Gal Gadot, Margot Robbie, Armie Hammer e Tom Holland para aparecer de surpresa na sala de cinema em frente ao Dolby Theater, onde estava passando uma sessão de Uma Dobra no Tempo. Apesar do alvoroço do pessoal na sala de cinema, parecia que eles estavam mais animados com os brindes e quitutes distribuídos do que com a presença dos atores e de estarem ao vivo no Oscar. Tive essa impressão de que a maioria não liga mais pra premiação…

 

GRANDE TEMÁTICA DE INCLUSÃO DO OSCAR 2018

Obviamente, os assédios e o movimento Time’s Up foram o maior chamariz da cerimônia, desde o tapete vermelho até a quantidade de mulheres apresentando os prêmios no palco. Inclusive, após a decisão de Casey Affleck não comparecer ao evento para sua tarefa de apresentar o Oscar de Atriz pra evitar algum mal estar por causa de denúncias, duas atrizes vencedoras do Oscar, Jodie Foster e Jennifer Lawrence, foram convocadas para substituí-lo. Provavelmente para não causar nenhuma reclamação, fizeram outra troca: botaram Emma Stone para apresentar Melhor Diretor, e incumbiram Jane Fonda e Helen Mirren para apresentar Melhor Ator para Gary Oldman.

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Jodie Foster e Jennifer Lawrence substituíram Casey Affleck na entrega do Oscar de Melhor Atriz (pic by Time Magazine)

Houve também a participação de ativistas no número musical da canção de “Stand Up for Something” do filme Marshall, que inclusive lembrou a encenação de outra música da compositora Diane Warren, “Til it Happens to You”, cantada por Lady Gaga no Oscar de 2016. Assim como naquela ocasião, pelo forte apelo social e étnico, acreditava que venceria como Melhor Canção, mas ficou na boa intenção novamente para Warren.

Contudo, o maior e melhor momento da noite em relação às mulheres, foi a bela homenagem de Frances McDormand, que deixou a estatueta do Oscar que acabara de ganhar no chão, para em seguida pedir para que todas as mulheres que foram indicadas se levantem.  “Olhem em volta, damas e cavalheiros, porque todas nós temos histórias para contar e projetos que precisamos de financiamento. Não falem sobre isso nas festas, mas nos convide para seu escritório daqui uns dias ou vocês podem vir para o nosso, o que for melhor, e nós contaremos tudo sobre eles.” – É nessas horas que a gente vê o porquê fizeram questão de entregar um segundo Oscar para Frances: porque ela tem coisas importantes a dizer como representante. Ela termina o discurso com “Tenho duas palavras para deixar com vocês esta noite: inclusion rider” – explicando: “inclusion rider” é uma cláusula contratual que exige que contratem uma equipe mais diversificada. Resumindo: Frances McDormand exige atitude das mulheres para haver reais mudanças, e não apenas agirem como vítimas. Estupendo!

Frances Oscar

Frances McDormand convoca todas as mulheres a se levantarem no Oscar 2018 (pic by Mark Ralston)

 

Além do clamor feminino, é inegável o poder dado às minorias latinas, outro alvo ferrenho de Trump. Assim, produções e artistas latinos se destacaram nesta 90ª edição do Oscar. Tivemos o terceiro mexicano premiado como Melhor Diretor (Guillermo del Toro), tivemos a animação Viva: A Vida é uma Festa levando dois Oscars pra casa, e o prêmio para o Chile, cujo filme é protagonizado por uma transsexual (Daniela Vega), além de apresentadores mexicanos como Eugenio Derbez e a bela Eiza González.

E não poderia deixar de citar a comunidade negra (ou afro), que além de comemorar o mega sucesso de bilheteria de Pantera Negra, o primeiro super-herói negro do cinema, pôde celebrar a vitória de Jordan Peele como Melhor Roteiro Original pelo excelente Corra! (que deveria ter levado Melhor Filme).

DE ACORDO COM O SCRIPT

Com tantos prêmios que antecedem o Oscar, fica praticamente impossível de esperar por uma boa surpresa. Sério! Tem tanto prêmio de sindicato que serve de ótimo parâmetro que quase não espaço para vencedores diferentes hoje. Tipo, quem ganha o SAG, dificilmente vai perder o Oscar de ator ou atriz, assim como quem vencer o DGA terá 95% de chance de levar o Oscar de Direção também. Dessa forma, seguindo o exemplo dado, todos os atores e o diretor vencedores se repetiram dos respectivos prêmios dos sindicatos. Honestamente, ainda tinha uma pontinha de esperança de que Laurie Metcalf seria uma das grandes surpresas da noite batendo Allison Janney na categoria de Atriz Coadjuvante, mas ficou na vontade mesmo.

Oscar 2018 Actors Winners

Vencedores das categorias de atuação: Sam Rockwell, Frances McDormand, Allison Janney e Gary Oldman (pic by oscars.org)

Até na categoria de Melhor Filme, que poderia proporcionar uma grande novidade por causa do sistema de votação distinto, esperava-se que haveria uma surpresa que não veio. A Forma da Água já tinha levado o prêmio do sindicato de produtores (PGA).

AS (POUQUÍSSIMAS) SURPRESAS

Para muitos que fizeram bolão e acompanharam o Oscar, a vitória do Chile na categoria de Filme em Língua Estrangeira não foi tão surpreendente assim. Mesmo vendo muitas apostas para Uma Mulher Fantástica, acreditava que o conservadorismo predominante jamais premiaria um filme protagonizado por uma transgênero. Então, foi uma surpresa bem agradável de ver na tela. Trata-se do primeiríssimo Oscar para o nosso país vizinho. Parabéns ao Chile!

Una Mujer Oscar

Sebástian Lelio discursa em nome do filme Uma Mulher Fantástica (pic by Mark Ralston)

Seguindo pela mesma linha de Filme Estrangeiro, a vitória de “Remember Me” me surpreendeu um pouco. Primeiramente, a animação Viva: A Vida é uma Festa já ganharia o Oscar de Longa de Animação com certeza, então não haveria real necessidade de premiar a canção também. E principalmente porque a música não tinha pegado tanto assim na cabeça quanto “This is Me” (de O Rei do Show), que se tornou uma espécie de hino nas Olimpíadas de Inverno na Coréia do Sul.

Fiquei também um pouco chocado com a derrota dos Efeitos Visuais de Planeta dos Macacos: A Guerra para Blade Runner 2049. Não que os efeitos do filme de Denis Villeneuve não sejam merecedores de tal honraria, mas como era o terceiro e último filme da trilogia nova de Planeta dos Macacos, das quais todas as partes foram indicados ao prêmio de efeitos visuais, esperava-se um pouco mais de reconhecimento por parte da Academia, inclusive para o ator-símbolo do motion capture, Andy Serkis.

No geral, as estatuetas foram distribuídos de forma uniforme. Pra se ter uma idéia: dos nove filmes indicados a Melhor Filme, sete conquistaram pelo menos um Oscar. As duas únicas exceções foram Lady Bird e The Post: A Guerra Secreta, que saíram de mãos vazias da cerimônia. Enfim, não é possível agradar a todos… No caso de Greta Gerwig, que estava concorrendo como Diretora e Roteirista, não há motivos para reclamar, pois ela teve uma mega-exposição durante toda a cerimônia, e certamente terá inúmeras oportunidades de dar continuidade à sua nova carreira como diretora. Já o filme de Spielberg, nem preciso explicar muito: simplesmente  não merecia nem as duas indicações.

DELEITES PESSOAIS

Particularmente, tive um ou outro momento que gostei mais. Primeiro: o Oscar para Roger Deakins. Não apenas pela vitória que veio depois de 14 indicações, mas pelo conjunto da obra também. Deakins é um dos maiores (se não o maior) diretores de fotografia em atividade hoje. Sua qualidade técnica e visão elevam a qualidade de qualquer filme em que estiver envolvido, mesmo que o diretor seja mais inexperiente.

Queria Jordan Peele levando os três Oscars a que estava indicado: Filme, Diretor e Roteiro Original. Levou apenas o último, mas foi uma vitória super merecida, que coroa sua audácia e insistência de fazer um filme corajoso sobre o racismo vivido nos EUA. Corra! se tornou vencedor do Oscar, podendo estampar essa láurea com orgulho nas capas de seus DVDs e Blu-rays, e pode e deve proporcionar projetos super interessantes para Peele nos próximos anos. O cinema e o espectador agradecem.

90th Annual Academy Awards - Show

Jordan Peele agradece pelo Oscar de Roteiro Original (pic by Time Magazine)

VENCEDORES DO 90th ACADEMY AWARDS:

MELHOR FILME
* A Forma da Água (The Shape of Water)

MELHOR DIRETOR
* Guillermo del Toro (A Forma da Água)

MELHOR ATOR
* Gary Oldman (O Destino de uma Nação)

MELHOR ATRIZ
* Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
* Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
* Allison Janney (Eu, Tonya)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
* Jordan Peele (Corra!)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
* James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome)

MELHOR FOTOGRAFIA
* Roger Deakins (Blade Runner 2049)

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
* Paul D. Austerberry, Shane Vieau, Jeffrey A. Melvin (A Forma da Água)

MELHOR MONTAGEM
* Lee Smith (Dunkirk)

MELHOR FIGURINO
* Mark Bridges (Trama Fantasma)

MELHOR MAQUIAGEM E CABELO
* Kazuhiro Tsuji, David Malinowski, Lucy Sibbick (O Destino de uma Nação)

MELHOR TRILHA MUSICAL ORIGINAL
* Alexandre Desplat (A Forma da Água)

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
* “Remember Me”, de Kristen Anderson-Lopez, Robert Lopez (Viva: A Vida é uma Festa!)

MELHOR SOM
* Gregg Landaker, Gary Rizzo, Mark Weingarten (Dunkirk)

MELHORES EFEITOS SONOROS
* Richard King, Alex Gibson (Dunkirk)

MELHORES EFEITOS VISUAIS
* John Nelson, Ger Jeff White, Scott Benza, Michael MeiardusNefzer, Paul Lambert, Richard R. Hoover (Blade Runner 2049)

MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
* Uma Mulher Fantástica (CHILE)

MELHOR ANIMAÇÃO
* Viva: A Vida é uma Festa! (Coco)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
* Ícaro

MELHOR DOCUMENTÁRIO-CURTA
* Heaven is a Traffic Jam on the 405

MELHOR CURTA-METRAGEM
* The Silent Child

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
* Dear Basketball

EM VÉSPERA do OSCAR, ‘CORRA!’ LEVA MELHOR FILME e DIRETOR no INDEPENDENT SPIRIT AWARDS

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No centro, Jordan Peele levanta o prêmio de Melhor Filme do Independent Spirit Awards por Corra! (pic by latimes.com)

FILME DE TERROR PODE ENTRAR PARA O HALL DOS VENCEDORES DO INDEPENDENT E OSCAR

Os tempos mudaram no Independent Spirit… Antigamente, o vencedor do prêmio passava bem longe do Oscar que acontece sempre no dia seguinte. De alguns anos pra cá, tem rolado uma dobradinha Independent-Oscar. Foi assim com O Artista, 12 Anos de Escravidão, Birdman, Spotlight e Moonlight.

O fato é que a indústria de cinema mudou desde a crise econômica dos EUA (por volta de 2008), e desde então, os estúdios e as premiações têm preferido produções de menor orçamento, pensando tanto em margem de lucro quanto qualidade. E nesse aspecto, o Independent Spirit se consagrou o eleito da temporada de premiações como novo parâmetro, pois seu regulamento exige que os indicados tenham orçamento de até 20 milhões de dólares, caso contrário, não compete.

Essa regra fundamental do Independent excluiu este ano filmes do Oscar como O Destino de uma Nação, Dunkirk e The Post, abrindo caminho para outros artistas menos favoritos desta temporada como Timothée Chalamet, que venceu o prêmio de Melhor Ator, no lugar do vitorioso frequente Gary Oldman. É claro que a um dia da cerimônia do Oscar, os votos já foram computados e o resultado do Independent pouco vai influenciar, mas ele já costuma dar um forte indicativo das intenções de votos de muitos membros da Academia.

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Timothée Chalamet sobe eufórico para receber o prêmio de Melhor Ator por Me Chame Pelo Seu Nome (pic by Tommaso Boddi, Getty Images throught USA Today)

Infelizmente, Chalamet foi a única surpresa das categorias de atuação diante do predomínio do favoritismo de Frances McDormand, Sam Rockwell e Allison Janney. Já nas categorias principais, as vitórias de Corra! e seu diretor Jordan Peele podem significar que o filme não está descartado na corrida das apostas perante Três Anúncios Para um Crime e A Forma da Água. Aliás, a vitória de Greta Gerwig na categoria de Melhor Roteiro pode indicar a possibilidade de ela receber a estatueta no Oscar como forma de compensação por perder como Diretora por Lady Bird.

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Greta Gerwig é ovacionada enquanto recebe o prêmio de roteiro por Lady Bird. Pic by filmindependent.com

Mas voltando à vitória de Corra!, foi bem interessante ver que as duas figuras que se encarregaram de apresentar os prêmios de Diretor e Filme foram dois artistas negros do passado e do presente: o diretor Spike Lee e o ator sensação de Pantera Negra, Chadwick Boseman, respectivamente.

Importante lembrar que outros indicados ao Oscar como o filme chileno Uma Mulher Fantástica e o documentário Visages Villages também saíram premiados no Independent Spirit como Filme em Língua Estrangeira e Documentário, respectivamente.

Vencedores do 33º INDEPENDENT SPIRIT AWARDS

MELHOR FILME

  • CORRA! (Get Out)
    Produtores: Jason Blum, Edward H. Hamm Jr., Sean McKittrick, Jordan Peele

MELHOR FILME DE DIRETOR ESTREANTE

  • INGRID GOES WEST
    Diretor: Matt Spicer
    Produtores: Jared Ian Goldman, Adam Mirels, Robert Mirels, Aubrey Plaza, Tim White, Trevor White

PRÊMIO JOHN CASSAVETES – Concedido a uma produção com orçamento abaixo de 500 mil dólares.

  • Life and nothing more
    Roteirista/Diretor: Antonio Méndez Esparza
    Produtores: Amadeo Hernández Bueno, Alvaro Portanet Hernández, Pedro Hernández Santos

MELHOR DIRETOR

  • Jordan Peele (Corra!)

MELHOR ROTEIRO

  • Greta Gerwig (Lady Bird)

MELHOR ROTEIRO DE ESTREANTE

  • Emily V. Gordon, Kumail Nanjiani (Doentes de Amor)

MELHOR FOTOGRAFIA

  • Sayombhu Mukdeeprom (Me Chame Pelo seu Nome)

MELHOR MONTAGEM

  • Tatiana S. Riegel (Eu, Tonya)

MELHOR ATRIZ

  • Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)

MELHOR ATOR

  • Timothée Chalamet (Me Chame Pelo seu Nome)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

  • Allison Janney (Eu, Tonya)

MELHOR ATOR COADJUVANTE

  • Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)

PRÊMIO ROBERT ALTMAN – Concedido ao diretor, diretor de casting e ao elenco

  • Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi (Mudbound)
    Diretor: Dee Rees
    Diretores de Casting: Billy Hopkins, Ashley Ingram
    Elenco: Jonathan Banks, Mary J. Blige, Jason Clarke, Garrett Hedlund, Jason Mitchell, Rob Morgan, Carey Mulligan

MELHOR DOCUMENTÁRIO

  • Visages Villages
    Diretores: Agnés Varda, JR
    Produtora: Rosalie Varda

MELHOR FILME INTERNACIONAL

  • Uma Mulher Fantástica (Una Mujer Fantástica)
    Chile
    Dir: Sebastián Lelio

PRÊMIO BONNIE – Este prêmio inaugural reconhecerá uma diretora no meio de sua carreira com um prêmio de 50 mil dólares.

  • Chloé Zhao

PRÊMIO JEEP TRUER THAN FICTION – Concedido a um diretor emergente de não-ficção que ainda não recebeu nenhum reconhecimento significante.

  • Jonathan Olshefski
    Diretor de Quest

PRÊMIO KIEHL’S SOMEONE TO WATCH – Reconhece um cineasta talentoso de visão singular que ainda não recebeu nenhum reconhecimento apropriado.

  • Justin Chon
    Diretor de Gook

PRÊMIO PIAGET DE PRODUTORES – Honra produtores emergentes, que com poucos recursos, demonstram criatividade, tenacidade e visão necessários para produzir filmes independentes de qualidade.

  • Summer Shelton
Emily V Gordon Kumail Nanjiani Independent

O casal de roteiristas na vida real Kumail Nanjiani e Emily V. Gordon recebem o prêmio de Roteiro Estreante por Doentes de Amor (pic by Film Independent)

A 90ª cerimônia do Oscar acontece hoje, dia 04 de março, e será transmitida pelo canal TNT a partir das 22h, com tapete vermelho a partir das 20h.

APOSTAS PARA O OSCAR 2018: O ANO DO FEMINISMO

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Um dos vários cartazes da 90ª edição do Oscar com o host Jimmy Kimmel

AINDA SE RECUPERANDO DO #OSCARSSOWHITE, ACADEMIA TENTA LIDAR COM A QUESTÃO DO FEMINISMO E DOS ASSÉDIOS SEXUAIS NESTA 90ª EDIÇÃO

“It’s a wonderful night for Oscar! Oscar! Oscar! Who will win?” – É assim que Billy Crystal sempre abria seus monólogos do Oscar.  Que filme vai ganhar? Este ano, o mistério está ainda maior depois da surpresa de Moonlight no ano passado. Afinal, que mensagem a Academia quer passar este ano? Ou seria apenas uma questão de sistema de votação?

Pra quem acompanhou as notícias de Hollywood em 2017, as denúncias de assédio e abuso predominaram as manchetes, causando um enorme rebuliço e até a expulsão do produtor e lobbista do Oscar, Harvey Weinstein. Com isso, todas as mulheres que trabalham na indústria reagiram ferozmente e levantaram a bandeira do movimento Time’s Up por uma indústria mais segura e igualitária para o sexo feminino. Há poucos dias, foi anunciado que a cerimônia do Oscar dedicará um momento para o movimento tamanha sua repercussão.

Pra ser bem sincero, estou com receio de que se Lady Bird, único representante entre os nove indicados a Melhor Filme dirigido por uma mulher, não levar nenhum prêmio, as ativistas subam ao palco e causem destruição em massa! Mas, brincadeiras à parte, o Oscar deste ano está bastante dividido, especialmente entre quatro filmes: Três Anúncios Para um Crime, A Forma da Água, Corra! e Lady Bird, algo muito raro em anos recentes do evento. Com isso, espera-se que novamente o anúncio de Melhor Filme seja o mais esperado da noite, que curiosamente, contará novamente com a dupla de atores Warren Beatty e Faye Dunaway, que protagonizaram a gafe do envelope.

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Volta tudo: Faye Dunaway e Warren Beatty querem se redimir da gafe do envelope errado (pic US Weekly)

Falando em apresentadores, a Academia anunciou listas dos encarregados da tarefa. Assim como o momento pede, são nomes bem diversos que vão dos mais famosos como Viola Davis e Emma Stone até desconhecidos do grande público como Kumail Nanjiani,  Eiza González e Eugenio Derbez. De estrelas de outras épocas como Jane Fonda, Rita Moreno e Eva Marie Saint até as recentes como Gal Gadot, Ansel Elgort e Oscar Isaac.

HOST PELA SEGUNDA VEZ: JIMMY KIMMEL

Assim que confirmaram que Jimmy Kimmel seria host novamente, tive a impressão de que estavam tentando compensá-lo pela lambança do envelope do ano passado, afinal, ser host quando tudo corre bem é uma coisa, agora ser host quando rola uma gafe enorme dessas, precisa ter muita calma e sangue frio para contornar a situação.

Mas deixando essa lambança de lado, Kimmel fez um bom trabalho como host, desde seu monólogo de abertura, apontando críticas políticas a Trump, até sua interação com algumas celebridades na platéia, com direito a doces jogados com mini-pára-quedas. Porém pecou com seu quadro de “pegadinha” com os turistas, que adentraram o Dolby Theater ao vivo e interagiram eternamente com alguns atores na primeira fileira. Aquilo custou um tempo precioso e não funcionou.

E continuo com a minha campanha para a volta de Jon Stewart como host em 2019, ou a estréia de Jim Carrey. Seria fantástico! Mas até lá, vou torcer para que Jimmy faça uma ótima apresentação e eleve a audiência em decadência do Oscar.

A 90ª EDIÇÃO DO OSCAR: O QUE PODE ACONTECER

Nesta edição especial de 90 anos do Oscar, podemos presenciar momentos históricos como o primeiro Oscar para Roger Deakins após 14 indicações. Outros momentos podem acontecer sobre o palco e que podem fazer história: primeira vitória de um diretor negro (se Jordan Peele levar por Corra!), primeira vitória de uma pessoa transgênero (se Yance Ford levar Melhor Documentário por Strong Island), primeira mulher negra a ganhar o Oscar de Roteiro Adaptado (se Dee Rees levar por Mudbound), primeira mulher a vencer Melhor Fotografia (se Rachel Morrison ganhar por Mudbound), a vencedora mais velha a ganhar o Oscar (se Agnès Varda conquistar Melhor Documentário por Visages, Villages aos 89 anos), o vencedor mais velho nas categorias de atuação (se Christopher Plummer receber seu segundo Oscar por Todo o Dinheiro do Mundo aos 88 anos), vencedor mais novo de Melhor Ator (se Timothée Chalamet ganhar por Me Chame Pelo Seu Nome aos 22 anos), primeiro ator a ganhar 4 estatuetas de Melhor Ator (se Daniel Day-Lewis vencer por Trama Fantasma).

MELHOR FILME

  • Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name)
  • O Destino de uma Nação (Darkest Hour)
  • Dunkirk (Dunkirk)
  • Corra! (Get Out)
  • Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird)
  • Trama Fantasma (Phantom Thread)
  • The Post: A Guerra Secreta (The Post)
  • A Forma da Água (The Shape of Water)
  • Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)

DEVE GANHAR: A Forma da Água
DEVERIA GANHAR: Corra!
ZEBRA: The Post: A Guerra Secreta

ESNOBADO: Projeto Flórida

Embora A Forma da Água tenha ganhado os principais prêmios da temporada que indicam forte favoritismo como o PGA (sindicato de produtores), a corrida está bem aberta nesta categoria, principalmente por causa do sistema de votação que permite que filmes “rankiados” na média possam ultrapassar os melhores posicionados como aconteceu ano passado com Moonlight. Além disso, nesta era politicamente correta, pesa bastante a mensagem que a Academia quer passar com seu vencedor de Melhor Filme.

E nesse quesito, Três Anúncios Para um Crime é o que mais se aproxima pela temática da impunidade relacionado a crimes sexuais. Logo em seguida, viria Lady Bird, por ser o único aqui dirigido e escrito por uma cineasta mulher (Greta Gerwig). Contudo, a meu ver, pelo sistema de votação, acredito no potencial de Corra! surpreender na noite e ser coroado o Melhor Filme do Ano, até porque é o melhor filme (e mais ousado) e se ganhar, ninguém ficaria insatisfeito.

Particularmente, adoraria também que Trama Fantasma fosse o coelho da cartola, mas acho muito pouco provável sua vitória, mesmo que seu diretor, Paul Thomas Anderson, seja finalmente reconhecido na categoria de Diretor.

A seguir, vou comentar um pouco de cada um dos nove filmes indicados. Eles estão listados por ordem de preferência pessoal, do pior para o melhor:

THE POST: A GUERRA SECRETA
Em poucas palavras: o pior filme de Spielberg em décadas. Nitidamente, vemos que ele fez o filme nas coxas, não tendo o costumeiro cuidado que ele tem em filmes históricos. Tudo isso pra poder aproveitar o momento de crítica ao governo Trump que é contra a liberdade de imprensa. Assim, faltou emoção, faltou catarse, faltou empatia com qualquer personagem, faltou praticamente tudo. Nem Meryl Streep merecia indicação…

The Post

O DESTINO DE UMA NAÇÃO
Joe Wright se consagrou com Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação, dois filmes de época. Mas, este O Destino de uma Nação não tem a mesma leveza dos filmes anteriores. É pesado, repleto de diálogos, monólogos e preso demais aos fatos históricos. Embora tenha um visual interessante pela fotografia de Bruno Delbonnel, Wright entrega uma cinebiografia quadrada que outros diretores menos talentosos poderiam entregar.

The Darkest Hour

DUNKIRK
No geral, não achei que a ausência de um protagonista tenha funcionado, mesmo entendendo os motivos para isso. Porém, o que mais valorizo em Dunkirk é um amadurecimento de Christopher Nolan. Se antes ele fazia filmes extremamente verborrágicos e didáticos, ele procurou fazer justamente o oposto neste trabalho: poucos diálogos e menos explicações. E ele é um dos poucos diretores que sempre buscam fazer algo novo e feito para ser visto numa sala de cinema, de preferência com as caixas de som “bombando”.

DUNKIRK EDDIE_

LADY BIRD
Pra quem já assistiu aos filmes de John Hughes, que dissecou como poucos o universo juvenil, conferir Lady Bird parece mais uma versão com a geração dos anos 90. Aqui temos uma jovem perdida em seus sonhos enquanto luta para entender sua realidade. Honestamente, não entendi o alvoroço em volta do nome de Greta Gerwig, mas por causa de alguns momentos do filme, como a cena na loja de departamentos, é possível ver um futuro promissor na carreira dela.

Lady Bird 2

TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME
Pra quem tem humor negro e aprecia algumas coisas absurdas e non-sense, Três Anúncios soa como um respiro de originalidade no cenário. Embora tenha defeitos no roteiro e arcos um pouco difíceis de engolir, o filme de Martin McDonagh pegou carona no momento pró-feminismo ao abordar a história de uma mulher que busca justiça no caso não solucionado do assassinato de sua filha.

Three Billboards Frances Peter Dinklage_

A FORMA DA ÁGUA
Versão romântica e com final feliz de O Monstro da Lagoa Negra (1954). Guillermo del Toro concebe uma visão bastante romântica dessa história de amor inter-racial (?) entre uma mulher muda e uma criatura aquática presa. Claro que você consegue enxergar sob um viés político se trocarmos a muda por uma americana e a criatura por um mexicano sendo deportado por Trump, mas consigo ver mais como uma grande história de redenção de excluídos da sociedade: além da muda e da criatura, temos um homossexual idoso e uma faxineira negra.

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ME CHAME PELO SEU NOME
Pra ser bem honesto, nunca pensei que este filme chegaria à festa do Oscar. Não que seja um filme ruim ou não merecedor de tamanha atenção, mas a Academia dificilmente reconhece produções com aspecto mais europeu e dirigido por um italiano (Luca Guadagnino). Mas essa história de um caso amoroso entre dois jovens conquistou o público, especialmente com o monólogo de encerramento por Michael Stuhlbarg. Assim como em outros filmes de Guadagnino, ele toma o tempo necessário para você entrar naquele universo e também utiliza metáforas que o cinema americano não usaria.

CALL ME BY YOUR NAME 3

TRAMA FANTASMA
Quando se assiste ao trailer deste filme, não se cria expectativa alguma, pra não dizer que cria ânimo para vê-lo. Mas não estamos falando de qualquer cineasta, mas de Paul Thomas Anderson, um cineasta que parece à prova de filmes ruins em sua cinematografia. Aqui ele faz um belíssimo estudo das relações humanas através de dois personagens de comportamentos desagradáveis e que precisam aprender a lidar um com o outro. Além de todos os atores em sintonia e em estado de graça, a trilha de Jonny Greenwood acentua as cenas e concede um tom clássico ao filme. Em Trama Fantasma, existem tantas nuances que é impossível apreciar tudo numa única sessão.

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CORRA!
Quantos filmes você já não assistiu com a temática do racismo? Inúmeros, certo? Todos se tornam clichês se comparados à trama de Jordan Peele em Corra!. Colocar dois personagens discutindo e se xingando por causa da cor da pele é coisa de amadores. Peele se utiliza de convenções sociais para gerar um impasse entre um rapaz negro e a família branca de sua namorada. Jordan não apenas atualiza o filme de Sidney Poitier, Adivinhe Quem Vem Para Jantar, mas consegue atingir as vísceras do racismo.

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MELHOR DIRETOR

  • Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma)
  • Guillermo del Toro (A Forma da Água)
  • Greta Gerwig (Lady Bird: A Hora de Voar)
  • Christopher Nolan (Dunkirk)
  • Jordan Peele (Corra!)
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Jordan Peele (Corra!) pic by moviepilot.de

DEVE GANHAR: Guillermo del Toro (A Forma da Água)
DEVERIA GANHAR: Jordan Peele (Corra!)
ZEBRA: Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma)

ESNOBADO: Sean Baker (Projeto Flórida)

É muito raro na história da Academia, o diretor que levou o prêmio do sindicato de diretores (DGA) não levar a estatueta do Oscar em seguida. Mais especificamente, esse fato ocorreu apenas sete vezes, portanto, o mexicano Guillermo del Toro já é tecnicamente o vencedor. Se confirmado esse reconhecimento, ele será o terceiro mexicano a vencer nesta categoria em menos de dez anos (!), seguido por Alfonso Cuarón e Alejandro G. Iñárritu. Dá-lhe, México!

Del Toro consegue criar esse universo de fantasia com atmosfera bem romântica, calcada na ótima trilha de Alexandre Desplat, na direção de arte, na fotografia e nas referências cinematográficas, ficando impossível de não reconhecer como um filme dele. Mas pra mim, Jordan Peele fez tudo isso e teve a ousadia que faltou para os outros: ele teceu uma crítica racial formidável em forma de filme de terror e ficção científica como grandes mestres fizeram no passado como John Carpenter. Nem ligo pra essa coisa de primeiro diretor negro a ganhar o Oscar, e ficarei extremamente feliz se ele ganhar.

MELHOR ATOR

  • Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)
  • Daniel Day-Lewis (Trama Fantasma)
  • Daniel Kaluuya (Corra!)
  • Gary Oldman (O Destino de uma Nação)
  • Denzel Washington (Roman J. Israel, Esq.)
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Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)

DEVE GANHAR: Gary Oldman (O Destino de uma Nação)
DEVERIA GANHAR: Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)
ZEBRA: Denzel Washington (Roman J. Israel, Esq.)

ESNOBADO: James Franco (O Artista do Desastre), Robert Pattinson (Bom Comportamento)

Ok, que Gary Oldman é um dos melhores atores de sua geração não há dúvida ou discordância, mas é realmente toda essa unanimidade por O Destino de uma Nação? Sabemos que a fórmula das cinebiografias aliada a uma boa maquiagem já proporciona ótima vantagem no Oscar, mas toda vez que via Oldman dando berros como Winston Churchill, achava que estava beirando o caricato. De novo: eu entendo que isso vende no Oscar e que ele merece um Oscar pela carreira, mas e como fica Timothée Chalamet, que entregou a melhor performance masculina do ano? Espera ele ser indicado por um filme bobo e dar o Oscar pra compensar por essa derrota? Ok, o Oscar pode ser prematuro e estragar a carreira dele se formos pensar em consequências pessimistas, mas ele merece pela naturalidade de suas expressões, diálogos e mudança de idiomas.

Dois adendos rápidos: Daniel Day-Lewis traz novamente uma ótima performance. É doloroso saber que este pode ser seu último filme, já que anunciou aposentadoria. Mas nem por isso, apoio votação nele porque vai se retirar do cinema, mas pela performance em si, repleta de nuances.

E o que dizer de James Franco fora da corrida por causa de denúncias? Justo? Injusto? Foi realmente uma pena ele ser excluído por esse motivo. Sua interpretação-imitação de Tommy Wiseau é excelente, e o filme O Artista do Desastre se baseia demais na atuação dele. Ah, e se tivesse que exclui-lo mesmo, poderiam tê-lo substituído por algum material mais fresco como Robert Pattison em Bom Comportamento.

MELHOR ATRIZ

  • Sally Hawkins (A Forma da Água)
  • Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)
  • Margot Robbie (Eu, Tonya)
  • Saoirse Ronan (Lady Bird: A Hora de Voar)
  • Meryl Streep (The Post: A Guerra Secreta)
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Sally Hawkins (A Forma da Água) pic by cine.gr

 

DEVE GANHAR: Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)
DEVERIA GANHAR: Sally Hawkins (A Forma da Água)
ZEBRA: Meryl Streep (The Post: A Guerra Secreta)

ESNOBADO: Brooklynn Prince (Projeto Flórida), Daniela Vega (Uma Mulher Fantástica)

Certamente foi um ano excepcional para as atrizes. E esse movimento Time’s Up pode e deve proporcionar mais papéis de protagonismo para elas, o que me agrada muito devido à atual escassez de papéis mais interessantes no cinema (porque na TV tem sobrando…). Pra quem acompanhou a temporada, Frances McDormand já levou esse Oscar. Mas devo lembrar que este será seu segundo Oscar, e poucas atrizes conseguiram esse feito. Muitos votantes utilizam esse critério na hora de votar: “Fulana já ganhou antes”. E curiosamente, o papel de Midred Hayes muito lembra a policial Marge Gundersson de Fargo. Particularmente, não vi nenhuma interpretação nova na carreira de McDormand. Pra mim, ela ganhará por puro carisma e torcida.

Das indicadas, a melhor performance foi de Sally Hawkins. E não é só porque ela interpreta uma mulher muda, e teve que aprender linguagem de sinais. Não. Ela consegue personificar uma mulher solitária que se apaixona e nunca desiste de uma vida melhor. Quem consegue fingir amor por um ser aquático sem cair no ridículo? Hawkins consegue e com certa ousadia, pois não teme expôr sua nudez e desejo carnal.

Não me entendam mal. Sou fã de Meryl Streep, tanto que assisti The Post só por causa dela no cinema. Contudo, mais uma vez, ela não mereceu uma nova indicação. Tudo bem que ela consegue dar maior profundidade à sua personagem que vive num universo masculino, mas o filme não ajuda em nenhum momento. Não sou muito a favor de indicar crianças por causa das altas expectativas, mas trocaria fácil Meryl Streep pela pequena-prodígio Brooklynn Prince de Projeto Flórida, ou a atriz chilena Daniela Vega por Uma Mulher Fantástica. E não, não estou selecionando por ser transgênero, mas pela performance corajosa mesmo.

MELHOR ATOR COADJUVANTE

  • Willem Dafoe (Projeto Flórida)
  • Woody Harrelson (Três Anúncios Para um Crime)
  • Richard Jenkins (A Forma da Água)
  • Christopher Plummer (Todo o Dinheiro do Mundo)
  • Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)
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Willem Dafoe (Projeto Flórida)

DEVE GANHAR: Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)
DEVERIA GANHAR: Willem Dafoe (Projeto Flórida)
ZEBRA: Woody Harrelson (Três Anúncios Para um Crime)

ESNOBADO: Steve Carell (A Guerra dos Sexos)

Das categorias de atuação, é a que menos me agrada. Mas confesso que não assisti a Todo o Dinheiro do Mundo, então vou deixar o Christopher Plummer longe da crítica. Dos quatro, todos têm alguma deficiência, seja de interpretação ou de profundidade de papel. Por exemplo, Sam Rockwell está bem, mas o arco de seu personagem com essa suposta redenção não rolou pra mim. Já Willem Dafoe é a performance que mais me agrada, porém sinto que faltou uma cena que pudesse entregar um pouco mais sobre quem era seu personagem ou como ele chegou ali. Mas resumindo: adoraria ver o Dafoe ganhar.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

  • Mary J. Blige (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi)
  • Allison Janney (Eu, Tonya)
  • Lesley Manville (Trama Fantasma)
  • Laurie Metcalf (Lady Bird: A Hora de Voar)
  • Octavia Spencer (A Forma da Água)
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Laurie Metcalf (Lady Bird) pic by cine.gr

 

DEVE GANHAR: Allison Janney (Eu, Tonya)
DEVERIA GANHAR: Laurie Metcalf (Lady Bird)
ZEBRA: Octavia Spencer (A Forma da Água)

ESNOBADO: Holly Hunter (Doentes de Amor)

Sou meio suspeito pra falar de Holly Hunter, porque costumo gostar de quase tudo o que ela faz, inclusive como dubladora em Os Incríveis, mas a interpretação dela em Doentes de Amor faz toda a diferença para a personagem dela, que poderia muito bem ser esquecível se fosse outra atriz. Holly cria alguns maneirismos e tiques para sua personagem sem gerar alarde exagerado. Prefiro ela a Octavia Spencer que, apesar de fazer uma personagem de alívio cômico em A Forma da Água, parece repetir o mesmo personagem em todo novo trabalho.

Pra mim, a grande atuação de coadjuvante deste ano é de Laurie Metcalf. Ela não usa maquiagem transformadora, não apresenta sotaques de caipira, nem tem cenas de gritaria, porque não precisa disso para mostrar suas habilidades naturais de interpretação. Ela faz a aquela mãe que toda adolescente já teve, que guarda para si suas dores e sonhos, é protetora e zela pelo bem-estar dos filhos. Se Lesley Manville ganhar, também seria um Oscar mais do que merecido. E se Allison Janney ganhar por Eu, Tonya, será a confirmação de que maquiagem e papel excêntrico sempre ganham.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

  • Kumail Nanjiani, Emily V. Gordon (Doentes de Amor)
  • Jordan Peele (Corra!)
  • Greta Gerwig (Lady Bird: A Hora de Voar)
  • Guillermo del Toro, Vanessa Taylor (A Forma da Água)
  • Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime)
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Cena de Corra! (pic by cine.gr)

DEVE GANHAR: Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime)
DEVERIA GANHAR: Jordan Peele (Corra!)
ZEBRA: Kumail Nanjiani, Emily V. Gordon (Doentes de Amor)

ESNOBADO: Adrian Molina, Matthew Aldrich (Viva: A Vida é uma Festa)

Provavelmente o Oscar que deve definir qual filme leva o maior prêmio da noite: Melhor Filme. Se Jordan Peele levar, Corra! deve ganhar Filme, Greta Gerwig com Lady Bird e Martin McDonagh com Três Anúncios. Esperamos que Jordan Peele vença aqui pela sua originalidade, claro.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

  • James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome)
  • Scott Neustadter, Michael H. Weber (O Artista do Desastre)
  • Scott Frank, James Mangold, Michael Green (Logan)
  • Aaron Sorkin (A Grande Jogada)
  • Dee Rees, Virgil Williams (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi)
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Cena de Me Chame Pelo Seu Nome

DEVE GANHAR: James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome)
DEVERIA GANHAR: James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome)
ZEBRA: Aaron Sorkin (A Grande Jogada)

Quando o votante encarar essa categoria na cédula de votação, ele deve pensar: “Logan? Oscar para quadrinhos? Nem pensar… O Artista do Desastre? Depois de tantas denúncias… Aaron Sorkin não ganhou uns anos atrás por Rede Social? Mudbound… não vi! Não quero dar roteiro para Me Chame Pelo Seu Nome, mas é melhorzinho aqui e leva pelo menos um prêmio.” Resumindo a ópera, não há competição contra o roteiro de James Ivory, que aliás, foi indicado três vezes como diretor e nunca levou. Só espero que Timothée Chalamet esteja por perto para ajudá-lo a subir no palco como fez no WGA.

MELHOR FOTOGRAFIA

  • Roger Deakins (Blade Runner 2049)
  • Bruno Delbonnel (O Destino de uma Nação)
  • Hoyte Van Hoytema (Dunkirk)
  • Rachel Morrison (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi)
  • Dan Laustsen (A Forma da Água)
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Fotografia de Roger Deakins em Blade Runner 2049

DEVE GANHAR: Blade Runner 2049
DEVERIA GANHAR: Blade Runner 2049
ZEBRA: Dunkirk

ESNOBADO: Sayombhu Mukdeeprom (Me Chame Pelo Seu Nome)

Depois de “apenas” 14 indicações, finalmente parece ter chegado a vez de Roger Deakins subir ao palco. Mas engana-se aquele que pensa que o diretor de fotografia está sendo reconhecido pelo conjunto da obra, como em muitos casos, mas pelo trabalho excepcional no visual de Blade Runner 2049. Como já citei aqui em posts anteriores, era um desafio enorme fazer a fotografia desta sequência do cultuado original de 1982, Blade Runner: O Caçador de Andróides, pois era necessário respeitar a identidade visual criada por Jordan Cronenweth (diretor de fotografia) e ainda criar sua própria. Um Oscar para Deankins mataria três coelhos numa só cajadada: seria uma forma de reconhecer o filme original de 1982 (que não levou nada na época), de reconhecer esta sequência bastante elogiada pela crítica, e de reconhecer o trabalho de um dos maiores diretores de fotografia das últimas décadas.

MELHOR MONTAGEM

  • Paul Machliss, Jonathan Amos (Em Ritmo de Fuga)
  • Lee Smith (Dunkirk)
  • Tatiane S. Riegel (Eu, Tonya)
  • Sidney Wolinsky (A Forma da Água)
  • Jon Gregory (Três Anúncios Para um Crime)
Bodega Bay

Cena de Dunkirk (pic by cine.gr)

DEVE GANHAR: Dunkirk
DEVERIA GANHAR: Dunkirk
ZEBRA: Três Anúncios Para um Crime

ESNOBADO: Ronald Bronstein, Benny Safdie (Bom Comportamento)

Lee Smith deveria ganhar só por ter editado um filme do Christopher Nolan com menos de duas horas de duração! Há quanto tempo você não via um filme do diretor tão econômico na duração? Mas além do tempo, a edição de Lee Smith conseguiu gerar tensão do início ao fim, seja na praia, na embarcação ou dentro do avião pilotado por Tom Hardy. Vale lembrar que o montador foi previamente indicado duas vezes, mas nunca levou.

Como o BAFTA anda prevendo os vencedores de Montagem (previu a vitória de Whiplash e Até o Último Homem), pode ser que Em Ritmo de Fuga conquiste seu Oscar também. E pra mim, uma montagem que ficou faltando aqui foi do independente Bom Comportamento.

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

  • Sarah Greenwood, Katie Spencer (A Bela e a Fera)
  • Dennis Gassner, Alessandra Querzola (Blade Runner 2049)
  • Sarah Greenwood, Katie Spencer (O Destino de uma Nação)
  • Nathan Crowley, Gary Fettis (Dunkirk)
  • Paul D. Austerberry, Shane Vieau, Jeffrey A. Melvin (A Forma da Água)
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Cena de Blade Runner 2049

DEVE GANHAR: A Forma da Água
DEVERIA GANHAR: Blade Runner 2049
ZEBRA: A Bela e a Fera

ESNOBADO: Assassinato no Expresso Oriente

Tenho uma dura crítica a fazer em relação a Direção de Arte e Figurino. Fui contra à decisão da Academia de indicar o filme A Bela e a Fera em ambas as categorias, porque são Production Design e Costume Design, ou seja, estão reconhecendo o design desses dois setores. E o grande problema é que essas versões live-action das animações da Disney copiam tudo dos originais; não apenas o roteiro, mas os cenários e os figurinos. Se queriam premiar o design mesmo, tinham que premiar os artistas das animações. E isso é extremamente preocupante porque a Disney está filmando uma série de versões live-action como Mulan e O Rei Leão.

Enfim, após esse breve desabafo,  a competição está acirrada entre Blade Runner 2049 e A Forma da Água, pois ambos saíram vencedores no prêmio do sindicato de Diretores de Arte. O primeiro venceu como Fantasia, e o segundo levou como Filme de Época. Qualquer um vencendo o Oscar, será um prêmio bem dado e merecido. Contudo, acredito que A Forma da Água leva pra ganhar aquela “gordurinha” proporcional às 13 indicações.

MELHOR FIGURINO

  • Jacqueline Durran (A Bela e a Fera)
  • Jacqueline Durran (O Destino de uma Nação)
  • Mark Bridges (Trama Fantasma)
  • Luis Sequeira (A Forma da Água)
  • Consolata Boyle (Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha)
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Cena de Trama Fantasma com Vicky Krieps (pic by outnow.ch)

DEVE GANHAR: Trama Fantasma
DEVERIA GANHAR: Trama Fantasma
ZEBRA: Victoria e Abdul

ESNOBADO: Alexandra Byrne (Assassinato no Expresso Oriente)

Acho que ninguém tira esse segundo Oscar de Mark Bridges (ele venceu por O Artista). Vamos aos fatos: Trama Fantasma é um filme sobre roupas e moda. Quando as vestimentas são importantes para a trama, costuma ganhar muitos pontos. Foi assim que Memórias de uma Gueixa, A Jovem Rainha Vitória e A Duquesa levaram seus Oscars de Figurino.

A única concorrente que pode ameaçar o favoritismo de Bridges é Jacqueline Durran, que este ano concorre com dois filmes: A Bela e a Fera e O Destino de uma Nação, ou seja, os votos dela certamente vão se dividir e possibilitar ainda maior vantagem de favorito.

MELHOR MAQUIAGEM E CABELO

  • Arjen Tuiten (Extraordinário)
  • Kazuhiro Tsuji, David Malinowski, Lucy Sibbick (O Destino de uma Nação)
  • Daniel Phillips, Loulia Sheppard (Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha)
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Jacob Tremblay em cena de Extraordinário (pic by cine.gr)

DEVE GANHAR: O Destino de uma Nação
DEVERIA GANHAR: Extraordinário
ZEBRA: Victoria e Abdul

ESNOBADO: Eu, Tonya

Não é a primeira vez que falo isso aqui no blog, mas eu sinto falta daqueles filmes de criaturas como Um Lobisomem Americano em Londres e A Mosca, em que o excepcional trabalho de maquiagem de transformação era de encher os olhos. Infelizmente, com o passar do tempo, esse talento foi cada vez mais desvalorizado por produtores de Hollywood, que queriam reduzir custos e fazer tudo numa computação gráfica barata.

Dos três indicados, não gosto de nenhum de fato. Mas me parece que a maquiagem de Extraordinário está melhor executada e a interpretação do jovem Jacob Tremblay consegue se destacar mesmo debaixo dela. Já a maquiagem de O Destino de uma Nação não está ruim, mas fica mais perceptível de que é uma pessoa maquiada pra ficar mais velha.

Eu tiraria Victoria e Abdul da jogada e o substituiria por Eu, Tonya. Acredito que sua maquiagem consegue caracterizar melhor as personagens no melhor estilo início dos anos 90, e a performance de Allison Janney muito se deve à maquiagem, e o processo de “enfeiamento” de Margot Robbie também contribui com o aspecto biográfico.

MELHOR TRILHA MUSICAL ORIGINAL

  • Hans Zimmer (Dunkirk)
  • Jonny Greenwood (Trama Fantasma)
  • Alexandre Desplat (A Forma da Água)
  • John Williams (Star Wars: Os Últimos Jedi)
  • Carter Burwell (Três Anúncios Para um Crime)
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Vicky Krieps e Daniel Day-Lewis em cena de Trama Fantasma (pic by cineimage.ch)

DEVE GANHAR: A Forma da Água
DEVERIA GANHAR: Trama Fantasma
ZEBRA: Três Anúncios Para um Crime

ESNOBADO: Michael Abels (Corra!), Daniel Lopatin (Bom Comportamento), Michael Giacchino (Planeta dos Macacos: A Guerra)

Vamos ser honestos? Não tem trilha mais bela deste ano do que a de Jonny Greenwood. Suas composições são tão bonitas e clássicas que também podem muito bem ser apreciadas além do filme Trama Fantasma. Sua parceria com o diretor Paul Thomas Anderson já deveria ter rendido um Oscar pelo menos, principalmente por Sangue Negro, portanto sua primeira indicação é mais do que merecida.

Contudo, a trilha de Alexandre Desplat pontua tão bem a atmosfera fantasiosa e lúdica de A Forma da Água, que é praticamente impossível de não conceder um segundo Oscar para o compositor francês. Sua composição aqui se utiliza de sons que remetem ao universo aquático, e a Academia adora sons bem específicos que destacam a trilha nos filmes.

Não desmerecendo o trabalho de Carter Burwell, e nem de John Williams, mas eu os substituiria pelo frescor das trilhas de Michael Abels e Daniel Lopatin. O primeiro criou uma música sensacional para a atmosfera de estranhamento de Corra!, principalmente para as sequências de hipnose. Já o segundo coordenou o ritmo frenético e empolgante de Bom Comportamento. Duas ausências injustificáveis.

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

  • “Mighty River” (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi)
  • “Mystery of Love” (Me Chame Pelo Seu Nome)
  • “Remember Me” (Viva: A Vida é uma Festa)
  • “Stand Up for Something” (Marshall)
  • “This is Me” (O Rei do Show)

DEVE GANHAR: “This is Me”
DEVERIA GANHAR: “This is Me”
ZEBRA: “Stand Up for Something”

ESNOBADO: “Visions of Gideon” (Me Chame Pelo Seu Nome)

Esses dias atrás, quando vi Mudbound, pensei: “A Mary J. Blige está bem como atriz, mas pouca gente está falando dela. Quem sabe ela não surpreende na categoria de Canção?” A música “Mighty River” não é tão empolgante, mas caiu bem no filme de Dee Rees. Será que vão compensar a artista e o filme?

A única chance disso acontecer é se os votos de “Remember Me” e “This is Me” se dividirem. Particularmente, vejo “This is Me” como a grande favorita, especialmente pelo “making of” divulgado no YouTube (link acima), mas a canção também é de extrema importância para a trama de Viva: A Vida é uma Festa. O grande contra de O Rei do Show é que só foi indicado para Canção.

Só um adendo: a canção “Stand Up for Something” é a nona indicação da ótima compositora Diane Warren, responsável por grandes hits como “Because You Loved Me”, “How do I Live” e “I Don’t Want to Miss a Thing”. Infelizmente, acho bem improvável sua vitória aqui, mas acredito que ela vai acabar ganhando seu Oscar com direito a uma salva de palmas de pé do público.

MELHOR SOM

  • Em Ritmo de Fuga
  • Blade Runner 2049
  • Dunkirk
  • A Forma da Água
  • Star Wars: Os Últimos Jedi
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Cena de Dunkirk (pic by cine.gr)

DEVE GANHAR: Dunkirk
DEVERIA GANHAR: Dunkirk
ZEBRA: A Forma da Água

Normalmente, a regra que funciona nesta categoria é: o filme mais barulhento ganha. Então sempre temos filmes de guerra e ação aqui. Só para citar vencedores mais recentes: Até o Último Homem e Mad Max: Estrada da Fúria. Este ano, o candidato que mais se encaixa nesse perfil é Dunkirk, que apresenta sons de tiros, explosões, barcos, aviões, enfim, um festival sonoro pra quem viu numa sala de cinema de boa qualidade como o IMAX. Existe uma chance mínima de Em Ritmo de Fuga surpreender aqui, mas como disse, mínima.

MELHORES EFEITOS SONOROS

  • Em Ritmo de Fuga
  • Blade Runner 2049
  • Dunkirk
  • A Forma da Água
  • Star Wars: Os Últimos Jedi
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Cena de Tom Hardy em Dunkirk (pic by cine.gr)

DEVE GANHAR: Dunkirk
DEVERIA GANHAR: Dunkirk
ZEBRA: A Forma da Água

Richard King é o grande nome desta categoria. É um senhorzinho de óculos que consegue recriar em estúdio os melhores efeitos sonoros da atualidade. Foi assim que ele ganhou dois Oscars por Mestre dos Mares e Batman: O Cavaleiro das Trevas. Essa sua parceria com o diretor Christopher Nolan lhe proporciona sempre novos desafios com grandes potenciais para o Oscar. Esse seu novo trabalho em Dunkirk é fenomenal! Seu design de som é o grande responsável pela tensão contínua do filme, e não a trilha musical de Hans Zimmer, como muitos creditam.

MELHORES EFEITOS VISUAIS

  • Blade Runner 2049
  • Guardiões da Galáxia Vol. 2
  • Kong: A Ilha da Caveira
  • Planeta dos Macacos: A Guerra
  • Star Wars: Os Últimos Jedi
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Andy Serkis como Caesar em Planeta dos Macacos: A Guerra (pic by moviepilot.de)

DEVE GANHAR: Planeta dos Macacos: A Guerra
DEVERIA GANHAR: Planeta dos Macacos: A Guerra
ZEBRA: Kong: A Ilha da Caveira

Apesar de Blade Runner 2049 ser praticamente uma criação toda feita em computação gráfica, não há outro trabalho mais bem feito e bem integrado aos atores do que Planeta dos Macacos: A Guerra. Muitos podem defender que se ganhar o Oscar, será pra compensar a falta de estatuetas por toda a trilogia, mas a verdade é que o segundo filme já deveria ter sido premiado antes. E isso só aumenta as chances deste terceiro e último ato. Além disso, uma vitória nesta categoria, valoriza, e muito, os esforços descomunais do ator Andy Serkis, responsável por outras criaturas digitais como o Gollum e King Kong.

MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

  • Corpo e Alma
  • O Insulto
  • Sem Amor
  • The Square: A Arte da Discórdia
  • Uma Mulher Fantástica
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Daniela Vega em cena de Uma Mulher Fantástica (pic by cine.gr)

DEVE GANHAR: The Square
DEVERIA GANHAR: Uma Mulher Fantástica
ZEBRA: Corpo e Alma

ESNOBADO: Em Pedaços (ALEMANHA)

O fato mais curioso desta categoria é que o favorito até as indicações ao Oscar era o alemão Em Pedaços, de Fatih Akin, que levou o Globo de Ouro e o Critics’ Choice Awards, mas todo esse histórico vitorioso se esvaiu quando ficou de fora da lista oficial. E agora? Qual era o segundo favorito? Muitos estão defendendo que o Chile vencerá seu primeiro Oscar com Uma Mulher Fantástica, mas tenho minhas dúvidas por causa do alto conservadorismo dos votantes, que não vêem com muito bons olhos esse universo LGBT do filme. Claro que adoraria estar enganado e ver Sebastián Lélio no palco, mas acho que o representante sueco, The Square, tem mais chances por ter vencido a Palma de Ouro em Cannes e por abordar o universo das Artes e exposições.

MELHOR LONGA DE ANIMAÇÃO

  • Com Amor, Van Gogh
  • O Poderoso Chefinho
  • O Touro Ferdinando
  • The Breadwinner
  • Viva: A Vida é uma Festa
COCO

Cena da animação da Pixar, Viva: A Vida é uma Festa 

DEVE GANHAR: Viva: A Vida é uma Festa
DEVERIA GANHAR: Viva: A Vida é uma Festa
ZEBRA: O Touro Ferdinando

ESNOBADO: Mary and the Witch’s Flower

Uma das categorias mais sem surpresa do ano é esta. O novo filme da Pixar, Viva: A Vida é uma Festa, é uma obra visualmente impecável, tem um excelente timing político, já que aborda e homenageia a cultura mexicana (Trump quer construir o muro na fronteira do México) e ainda tem um forte elemento emocional nas últimas cenas que dificilmente não conquista o votante. Depois de ganhar seu primeiro Oscar pelo excelente Toy Story 3, o diretor Lee Unkrich demonstra que tem muito talento para criação também, algo que o estúdio estava precisando urgentemente após tantas sequências. Só não gostei do título brasileiro, mas ao mesmo tempo, entendo o porquê de abandonarem o título original Coco.

Achei bacana ver o cineasta brasileiro Carlos Saldanha novamente indicado ao Oscar (ele havia sido indicado pelo curta Gone Nutty em 2004), mas seu filme aqui nesta categoria é o azarão.

MELHOR DOCUMENTÁRIO

  • Abacus: Pequeno o Bastante Para Condenar
  • Visages Villages
  • Strong Island
  • Ícaro
  • Últimos Homens em Aleppo
Visages Villages JR

Cena de Visages Villages com JR e Agnès Varda (pic by cine.gr)

DEVE GANHAR: Últimos Homens em Aleppo
DEVERIA GANHAR: Visages Villages
ZEBRA: Abacus: Pequeno o Bastante Para Condenar

ESNOBADO: Jane

A grande questão desta categoria é: será que Agnès Varda, que recebeu o Oscar Honorário em novembro, vai ganhar seu primeiro Oscar competitivo? Acredito que seria o primeiro caso nos 90 anos da Academia: um homenageado ganhar no mesmo ano uma estatueta. A verdade é que o documentário dela, feito com JR, Visages Villages, é um tocante retrato de pessoas comuns da França. Como num road movie, a cineasta busca histórias de vida enquanto o artista tira fotos das pessoas e as cola em muros, casas e monumentos. O resultado visual é impressionante.

Dentre os excluídos desta lista, destaco o documentário da cientista Jane Goodall, que fez carreira cuidando de chimpanzés. O filme conquistou inúmeros prêmios na temporada, mas ficou para trás na pré-seleção do Oscar.

MELHOR DOCUMENTÁRIO-CURTA

  • Edith+Eddie
  • Heaven is a Traffic Jam on the 405
  • Heroin(e)
  • Knife Skills
  • Traffic Stop

DEVE GANHAR: Heroin(e)
DEVERIA GANHAR: Edith+Eddie
ZEBRA: Knife Skills

Pelo que andei lendo, o curta Heroin(e) está com uma forte campanha por parte da Netflix para ganhar esse Oscar. O documentário acompanha três mulheres tentando quebrar o ciclo da droga. Não sei se a campanha surtirá efeito, mas Edith+Eddie é um bom candidato pelo seu tema: a relação inter-racial mais antiga dos EUA.

MELHOR CURTA-METRAGEM

  • DeKalb Elementary
  • The Eleven O’Clock
  • My Nephew Emmett
  • The Silent Child
  • Watu Wote: All of Us

DEVE GANHAR: DeKalb Elementary
DEVERIA GANHAR: Watu Wote: All of Us
ZEBRA: The Nephew Emmett

O curta DeKalb Elementary ganha vantagem por abordar um tema polêmico e bastante atual nos EUA: o controle de armas de fogo. No filme, acompanhamos um rapaz bem instável psicologicamente invadindo salas de aula com um rifle. Infelizmente não consegui conferir o curta por indisponibilidade, mas acredito que o tema já deva chamar a atenção de muitos votantes da Academia.

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO

  • Dear Basketball
  • Garden Party
  • LOU
  • Negative Space
  • Revolting Rhymes

DEVE GANHAR: Dear Basketball
DEVERIA GANHAR: Garden Party
ZEBRA: LOU

O curta de animação baseado no poema do jogador de basquete, Kobe Bryant, já vinha crescendo desde que estava na pré-seleção da categoria. No Oscar luncheon, Bryant foi uma das figuras mais ovacionadas quando chamada para a foto oficial. E basquete nos EUA é a mesma coisa que futebol aqui no Brasil: uma obsessão. Vi o curta pelo YouTube e ele tem traços de lápis que remetem a rascunho, acompanhado de narração em off do próprio jogador.

COMEMORAÇÃO

Vamos às satisfações pessoais? Se Roger Deakins e Jordan Peele ganharem o Oscar, já me dou por satisfeito. Agora se Jonny Greenwood e a canção “This is Me” ganharem os respectivos Oscars de Trilha Musical e Canção Original, vou ter orgasmos múltiplos. Agora, se Paul Thomas Anderson, Timothée Chalamet e Laurie Metcalf ganharem, aí eu atinjo o nirvana! Vou passar o resto de 2018 num eterno chá de cogumelo.

Bom, independente dos resultados, que todos tenham uma ótima noite de Oscar!

***

A 90ª cerimônia do Oscar terá transmissão ao vivo pela TNT no dia 04 de março a partir das 21h, horário de Brasília.

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