RETROSPECTIVA 2016: Um ano tenebroso

O host do Oscar 2017, Jimmy Kimmel, faz um pequeno quiz com habitante de Brooklyn

ANO FICA ASSOCIADO ÀS TRAGÉDIAS

Saudações aos cinéfilos que ficaram em casa neste fim de ano ou que conseguiram uma boa conexão de internet na praia! Primeiramente, gostaria de agradecer a todos que acompanharam aqui o blog ou pela página do Facebook, pois seu apoio significa muito pra mim, que continuo esse trabalho sem ganhar um único centavo!

Bom, acho que esse ano foi extremamente tenebroso a ponto de agradecer que estamos vivos ainda! Teve muita gente bacana partindo, muitas tragédias como a da queda do avião da Chapecoense, e para aqueles que ficaram, sobrou a crise econômica, um corrupto por dia preso pela Lava Jato (incrivelmente o Lula permanece ileso), desemprego, aumento da violência, inflação dos alimentos e agora esse calor dos infernos!

Bom, este ano foi meio atípico pra mim também, porque mudei de apartamento e acabei ocupando alguns meses para preparar e me ajeitar. Nessas horas que vejo que tinha tanta tralha em casa e deveria ter me livrado daquela coleção de VHS do James Bond! Com esses contratempos da mudança, tive bem menos tempo para assistir aos filmes, chegando num satisfatório número de 97. Não sei nem como consegui ver sete filmes na Mostra de Cinema! E não sei quanto a vocês, mas a cada ano que passa, parece que tenho mais vontade de rever os filmes que gosto do que ver filmes novos… Será que é crise de meia-idade?

Nesse post, vou tentar comentar alguns fatos relevantes de 2016. Fiquem à vontade para compartilhar seus pensamentos ou mesmo sua própria retrospectiva no final do post!

OSCAR 2016

Como há muito tempo não via, houve uma briga acirradíssima entre três filmes para ganhar o Oscar de Melhor Filme: O Regresso, A Grande Aposta e Spotlight: Segredos Revelados. Dos três, o vencedor Spotlight é o que menos gosto, porque tem menos cara de filme, e mais de televisão. Além disso, faltou um clima maior de tensão, afinal os jornalistas estavam mexendo com gente poderosa da Igreja. Cadê as ameaças? Havia uma cena que tinha um potencial enorme nesse sentido. Nela, o personagem de Mark Ruffalo está em casa falando sobre a matéria pelo telefone e a campainha toca. Seria excelente se houvesse ali uma ameaça ou iminente perigo, mas o clima simplesmente esfriou.

Enfim, a Academia foi pelo mais óbvio e se apoiou sobre um tema polêmico (pedofilia na Igreja) para justificar sua escolha. Acredito que seria mais justo premiar a ousadia da linguagem de A Grande Aposta, que além de apresentar uma montagem versátil com inserts cômicos, teve o grande mérito de saber abordar um tema chato (a crise imobiliária) num filme leve. Ou até o épico visual de Alejandro González Iñárritu, O Regresso, seria uma escolha mais sensata, porque tem cara de filme, aliás, filme de IMAX! Mas seria infinitamente mais surpreendente a vitória de Mad Max: Estrada da Fúria, porque foi o filme mais ousado de 2015, tanto que foi um sucesso entre crítica e público, além de ser um tapa na cara de todos esses produtores antiquados que só pensam em lucro. Mas enfim, a produção de George Miller ficou limitada aos prêmios técnicos.

Quanto aos prêmios de interpretação, o Oscar de Coadjuvante para Mark Rylance foi justo. Apesar de ter torcido por Stallone, todos sabíamos que seria mais pelo lado emotivo, afinal ele é uma estrela de ação extremamente carismática, reinterpretando um personagem adorado pela sétima vez. Gostaria muito de ter visto seu discurso de agradecimento, mas ainda não foi desta vez…

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Mark Rylance posa com seu Oscar por Ponte dos Espiões

Ainda não entendi o prêmio para Brie Larson como Atriz principal. Quem viu O Quarto de Jack, sabe que sua personagem é praticamente coadjuvante diante do próprio menino Jack (o ótimo Jacob Tremblay). E de qualquer forma, na minha opinião, Larson estava muito atrás de Charlotte Rampling (45 Anos) e Saoirse Ronan (Brooklyn).

E vale lembrar aqui a primeira indicação para uma animação brasileira. Só espero que O Menino e o Mundo, de Ale Abreu, consiga estimular novos animadores e, acima de tudo, o Ministério da Cultura a investir mais em cinema nacional de outros gêneros. Vejo incontáveis filmes brasileiros sendo lançados no cinema, mas que não conseguem durar mais de 2 semanas em cartaz aqui em São Paulo. Imagina em outros estados…

DESTAQUES PESSOAIS

Gostaria de citar alguns filmes que considero relevantes, mesmo não constando nas minhas listas de melhores.

RUA CLOVERFIELD, 10 (10 CLOVERFIELD LANE)
Dir: Dan Trachtenberg

Há muito tempo não via uma boa ficção científica americana com poucos recursos. Talvez a última tenha sido Gattaca – A Experiência Genética (1997). Coincidência ou não, as duas conseguiram extrair o melhor da criatividade com orçamento baixo. Rua Cloverfield, 10 se mostra minimalista ao mesmo tempo em que segura o espectador sob muita tensão no bunker. Muito se deve também à excelente performance de John Goodman como o paranóico Howard – aliás, acho a melhor interpretação de sua carreira. Pena que no final, o produtor J.J. Abrams resolveu abrir o bolso e estragou o ótimo clima.

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Mary Elisabeth Winstead em cativeiro com John Goodman em Rua Cloverfield, 10, de Dan Trachtenberg (pic by cine.gr)

DEADPOOL (DEADPOOL)
Dir: Tim Miller

Depois de tantos filmes sobre super-heróis, você acaba parando de gerar expectativas para o próximo lançamento, e foi aí que Deadpool se deu melhor. Ciente de que esse universo precisava de uma chacoalhada, os roteiristas e o diretor decidiram ousar: botaram muita violência, piadas de humor negro e sexuais, e claro, sexo. Sem esses ingredientes, Deadpool seria um fracasso monumental. A química entre Ryan Reynolds e Morena Baccarin faz com que o público simpatize com os personagens. Essa coragem foi muito bem recompensada pela bilheteria, mesmo com censura para maiores de 16 anos. E agora o filme participa de premiações importantes como o Critics’ Choice e Globo de Ouro.

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Ryan Reynolds e Morena Baccarin: o melhor casal no universo dos quadrinhos

INVOCAÇÃO DO MAL 2 (THE CONJURING 2)
Dir: James Wan

James Wan continua sendo um dos raros pólos de terror da atualidade. Seus filmes podem ter uma certa fórmula, mesmo para assustar, mas todas funcionam. São coisas básicas como uma sugestão de presença no escuro ou uma simples mudança de foco num plano fixo, mas Wan manda bem como ninguém. Nesse filme, sua ambientação dos anos 80 é muito caprichada, e ele cria uma forte empatia com o casal central vivido por Patrick Wilson e Vera Farmiga numa belíssima e tocante cena em que ele toca a música “Can’t Help Falling in Love” de Elvis Presley para as crianças da casa assombrada. Por que não ter uma cena dessas num filme de terror?

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Vera Farmiga com a freira em cena de Invocação do Mal 2 (pic by moviepilot.de)

CRÍTICAS

Vamos às listas do ano, começando com os melhores vistos nos cinemas.

TOP 5 MELHORES DO ANO NO CINEMA

5. Animais Noturnos (Nocturnal Animals/ 2016)
Dir: Tom Ford

4. A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl/ 2015)
Dir: Tom Hooper

3. Brooklyn (Brooklyn/ 2015)
Dir: John Crowley

2. Elle (Elle/ 2016)
Dir: Paul Verhoeven

1. A Criada (Ah-ga-ssi/ 2016)
Dir: Park Chan-wook

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Elenco principal de A Criada, de Park Chan-wook (pic by moviepilot.de)

Definitivamente, a melhor produção que vi nos cinemas pela sua excelência no campo da fotografia, direção de arte e figurino.O diretor Park Chan-wook recria o início do século XX na Coréia, constrói personagens bem tridimensionais e uma estrutura narrativa que relembra o clássico de Akira Kurosawa, Rashomon. Foi uma lástima que o comitê coreano não o selecionou como representante para o Oscar, pois perdeu uma ótima chance de conseguir sua primeira indicação.

TOP 5 MELHORES EM MÍDIA DIGITAL

5. General (The General/ 1926)
Dir: Buster Keaton e Clyde Bruckman

4. O Barco: Inferno no Mar (Das Boot/ 1981)
Dir: Wolfgang Petersen

3. Um Condenado à Morte Escapou (Un condamné à mort s’est échappé ou Le vent souffle où il veut / 1956)
Dir: Robert Bresson

2. Vinhas da Ira (Grapes of Wrath/ 1940)
Dir: John Ford

1. 45 Anos (45 Years/ 2015)
Dir: Andrew Haigh

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Tom Courtenay e Charlotte Rampling em 45 Anos, de Andrew Haigh (photo by cinemagia.ro)

Não consigo parar de elogiar esse filme para todos os meus amigos. 45 Anos tem uma premissa bastante simples: Enquanto casal planeja festa de 45 anos de casamento, descobrem o corpo da ex-mulher do marido, causando um abalo sísmico no relacionamento. O filme de Andrew Haigh faz um levantamento sobre ser a segunda opção de seu parceiro. Teria sua vida valido a pena? Sua narrativa é bastante eficiente e objetiva, nunca se rendendo aos clichês que poderia facilmente cair. Atuação primorosa de Charlotte Rampling.

IN MEMORIAN

Não me recordo de um ano tão repleto de mortes como este de 2016. Logo de cara, fomos surpreendidos com a morte do ícone pop David Bowie e, mais recentemente, perdemos a nobreza intergaláctica Carrie Fisher e a estrela da era de ouro de Hollywood, Debbie Reynolds.

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O camaleão David Bowie, que também atuou em cults como Labirinto e Fome de Viver

Além de Bowie, perdemos os músicos George Michael, Prince (que venceu o Oscar de Trilha por Purple Rain – disponível no Netflix) e Leonard Cohen. Grandes escritores como Harper Lee (autora de O Sol é Para Todos) e Umberto Eco (autor de O Nome da Rosa).

Figuras emblemáticas como Gene Wilder, o eterno Willy Wonka de A Fantástica Fábrica de Chocolate; e Alan Rickman, que ficou eternizado como Hans Gruber de Duro de Matar e o professor Snape da saga Harry Potter. Vencedores do Oscar também nos deixaram: Patty Duke (Atriz Coadjuvante por O Milagre de Anne Sullivan), George Kennedy (Ator Coadjuvante por O Indomável), o diretor polonês Andrzej Wajda (Oscar Honorário), Curtis Hanson (diretor que venceu o Oscar de Roteiro Adaptado por Los Angeles – Cidade Proibida), Michael Cimino (Diretor por O Franco-Atirador) e Vilmos Szigmond (Fotografia por Contatos Imediatos do Terceiro Grau).

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Alan Rickman como Professor Snape

Grandes profissionais como Arthur Hiller (produtor de Love Story), Abbas Kiarostami (diretor responsável pelo nascimento do cinema iraniano), Robin Hardy (diretor do cult O Homem-Palha), um dos grandes diretores italianos do Neo-realismo Ettore Scola, Garry Marshall (diretor de Uma Linda Mulher), Douglas Slocombe (diretor de fotografia da trilogia Indiana Jones), o diretor de arte Gil Parrondo (responsável por Patton – Rebelde ou Herói e Nicholas e Alexandra), o jovem ator de Star Trek Anton Yelchin (que teve uma morte boba demais), o diretor dos clássicos de James Bond como 007 Contra Goldfinger, Guy Hamilton; e nossos diretores brasileiros Hector Babenco e Andrea Tonacci.

FELIZ ANO NOVO!

Depois de passar por um ano tenebroso como esse, a esperança para que 2017 seja um ano infinitamente superior cresce a cada dia. Se a economia vai estar melhor ou não, se a política brasileira vai tomar vergonha na cara ou não, se vamos ter mais “diversidade” no Oscar ou não isso eu não sei. A única coisa que quero é que cenas como essa (foto abaixo) não se repitam. Quando vi essa imagem nos jornais, fiquei estarrecido. Toda vez que olhava pra esse menino de Alepo, na Síria, que acabara de ter sua casa destruída por um bombardeio, tinha vontade de chorar. A que ponto chegamos? O menino não sabia nem o que tinha acontecido, enquanto sangrava pelo rosto todo! Esse tipo de acontecimento faz a gente perder a fé na humanidade. Por isso, meus votos para 2017 são de paz e de responsabilidade para essas pessoas e governos que muitas vidas dependem. Sejam mais conscientes de seus atos. É isso… Feliz Ano Novo para todos!

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Desnorteado, menino de Alepo sendo socorrido por uma ambulância. De cortar o coração.

Nagisa Ôshima (1932 – 2013)

Nagisa Ôshima em ação(photo by empireonline.com)

Nagisa Ôshima em ação
(photo by empireonline.com)

Quando fiquei sabendo da morte do diretor japonês Nagisa Ôshima nessa noite do dia 15 de janeiro, na hora me veio à cabeça aquela cena final de O Império dos Sentidos. Lançado em 1976, o polêmico filme trata de uma paixão obsessiva entre um homem e uma prostituta. Esse desejo é tão intenso e ardente que os hormônios parecem saltar da tela, chegando a causar uma ansiedade e mal estar. Ôshima cola a câmera em seus atores no ato sexual com esse propósito de aproximar o espectador. Ele busca transmitir esse desejo de forma que o público não fique indiferente a essa relação doentia.

Lembro de ter alugado esse filme, em VHS (!), quando tinha meus 20 anos, e mesmo uma década depois, partes dessa sensação incômoda ainda permanecem.

Clima caliente e obsessivo de O Império dos Sentidos, filme mais icônico de Nagisa Ôshima (photo by OutNow.CH)

Clima caliente e obsessivo de O Império dos Sentidos, filme mais icônico de Nagisa Ôshima (photo by OutNow.CH)

O Império dos Sentidos estreou no Festival de Cannes, porque o diretor pertencia ao prestigioso grupo conhecido como “Nuberu bagu” (a Nouvelle vague japonesa), que contava com Shôhei Imamura, Yoshishige Yoshida e Masahiro Shinoda. Mas, como todo filme que ultrapassa os limites da sociedade, sofreu nas mãos da censura do Japão, onde sua exibição foi proibida.

No Brasil, a história não foi diferente, ainda mais que o país estava sob forte censura entre as décadas de 70 e 80.  Curiosamente, O Império dos Sentidos só foi liberado por aqui nos anos 90, mas, humilhantemente, foi parar nas salas de cinema pornô no centro de São Paulo, desagradando o público de Arte e o público habitual do pornô, pois não se tratava de uma produção típica de prazer rotineiro.

Nagisa Ôshima se formou em Direito pela Universidade de Kyoto, mas migrou para o cinema, tornando-se assistente de direção na Companhia Shochiku. Contudo, inconformado com o sistema opressor dos estúdios, resolveu se rebelar e fundar sua própria produtora: Sozocha em 1965, possibilitando a realização de O Império dos Sentidos e outros filmes como O Império da Paixão (1978) e Furyo, Em Nome da Honra (1983), que tem em seu elenco um insinuante David Bowie. Furyo (Merry Christmas Mr. Lawrence) foi indicado à Palma de Ouro, venceu o BAFTA de Melhor Trilha Musical (Ryûichi Sakamoto) e Melhor Ator (Tom Conti) no National Board of Review.

Tom Conti e David Bowie em Furyo, em Nome da Honra.

Tom Conti e David Bowie em Furyo, em Nome da Honra. (photo by OutNow.CH)

Relacionamentos sexuais sempre estiveram presente na filmografia do Sr. Ôshima. Em 1986, ele dirigiu Max Mon Amour, no qual a protagonista (Charlotte Rampling) faz uma mulher francesa que troca o marido por um chimpanzé de zoológico para ser seu amante. Novamente foi indicado à Palma de Ouro em Cannes.

Seu último filme, Tabu (1999), coincidentemente, foi o primeiro filme que vi dele. Na trama, um complexo de treinamento de samurais na era Shogun passa a comportar uma série de conflitos internos quando entra em cena um jovem e belo samurai. O mestre (Takeshi Kitano) deve decidir se intervém na questão para trazer harmonia de volta ao seu complexo.

O samurai andrógino se defende de um "ataque noturno" em Tabu (photo by http://jfilmpowwow.blogspot.com.br)

O samurai andrógino se defende de um “ataque noturno” em Tabu (photo by jfilmpowwow.blogspot.com.br)

O cinema japonês (que o censurou) e o cinema mundial devem muito a Nagisa Ôshima. Graças a sua coragem e ousadia, o cinema como Arte se expandiu nos temas sexuais, polêmicos e humanos. O diretor e roteirista buscava entender a natureza humana e, ao mesmo tempo, aprimorar novos meios cinematográficos de captar histórias mais intimistas.

Nagisa Ôshima nos abandona aos 80 anos, mas seus filmes permanecem em nossas memórias e como inspiração para novos cineastas.

Tony Scott (1944 – 2012)

Tony Scott

Nesse último domingo, dia 19 de agosto, o diretor britânico Tony Scott cometeu suicídio ao pular de uma ponte em Los Angeles. A suspeita se confirmou quando encontraram um bilhete de suicídio em seu escritório. Testemunhas reportaram que ele saiu de seu carro por volta do meio-dia e meia, escalou uma grade do lado sul da construção e pulou sem hesitar.

O diretor Duncan Jones, discípulo de Scott

No dia seguinte, as notícias confirmavam a existência de um diagnóstico que acusava um câncer cerebral, que teria desencadeado a tragédia. Embora exista um motivo, a ocorrência chocou a comunidade hollywoodiana por envolver duas questões delicadas: suicídio e eutanásia. Um de seus discípulos, o diretor Duncan Jones (Lunar e Contra o Tempo) comentou no Twitter: “Acabei de ficar sabendo do Tony. Horrível… Tony foi um homem verdadeiramente amável que me colocou debaixo de sua asa e acendeu minha paixão para fazer filmes. Oh, Tony… Queria que você tivesse sentido que havia um jeito de continuar. Que triste desperdício. Meus pensamentos ficam com sua mulher e seus lindos filhos”.

Tony Scott ao lado de seu irmão mais velho Ridley Scott (a esquerda).

Outras incontáveis mensagens de condolências de amigos e colegas de trabalho choveram pela internet . Tony Scott, 68 anos, deixa a esposa, a atriz Donna Scott (conheceram-se no set de filmagens de Dias de Trovão, quando ainda era Donna Wilson), dois filhos gêmeos Frank e Max, e o irmão mais velho, Ridley Scott, consagrado diretor de Alien – O Oitavo Passageiro, Blade Runner – O Caçador de Andróides e mais recentemente Prometheus. Os irmãos eram sócios na Scott Free Production, que além de colaborar na produção dos filmes de ambos, atuava nas séries televisivas Numb3rs e The Good Wife.

Todas as notícias chamam Tony Scott de “o diretor de Top Gun – Ases Indomáveis” por se tratar de um de seus maiores sucessos comerciais, que alavancou a carreira do jovem Tom Cruise na década de 80, mas na opinião deste humilde blogueiro, seu melhor filme foi Fome de Viver (1983). Na época, vampiros eram vampiros, aquela perfeita mistura de charme, crueldade e erotismo. Não essa baboseira de hoje de vampiros andróginos e capados (sem querer ofender a determinados filmes de hoje). O filme cult ofuscava a platéia com uma plasticidade de encher os olhos, contava com uma química avassaladora de David Bowie e das ninfas Susan Sarandon e Catherine Deneuve (numa antológica cena de amor lésbico). O trabalho primoroso de Stephen Goldblatt muito deve à influência visual do filme do irmão Ridley, Blade Runner, lançado no ano anterior.

Cena caliente entre David Bowie e Catherine Deneuve no cult Fome de Viver (1983)

Nos anos 80 e 90, Tony passou a ganhar notoriedade em Hollywood ao encontrar um equilíbrio fundamental entre ação, romance e comédia. O sucesso nas bilheterias de Top Gun – Ases Indomáveis (1986), Um Tira da Pesada II (1987), Dias de Trovão (1990), Revenge – A Vingança (1990), Amor à Queima Roupa (1993) e Maré Vermelha (1995). Consequentemente, muitos atores tiveram seus contratos com cifras maiores depois da parceria com Scott; dentre eles: Eddie Murphy, Nicole Kidman, Kevin Costner, Christian Slater, Patricia Arquette, Denzel Washington e Bruce Willis.

Amor bandido: Patricia Arquette e Christian Slater têm química em Amor à Queima Roupa (1993)

Contudo, nos últimos anos, Tony Scott passou a se dedicar a filmes mais policiais com tramas de reviravoltas previsíveis e com visual padrão de fotografia, especialmente Chamas da Vingança (2004), Domino – A Caçadora de Recompensa (2005) e Déjà vu (2006). O diretor ainda faria a refilmagem O Sequestro do Metrô 123 (2009) e seu último filme, Incontrolável (2010), sobre um trem carregado de material químico tóxico prestes a colidir e dizimar a população de uma cidade. Estava desenvolvendo uma sequência para Top Gun, que contaria com o retorno do astro Tom Cruise ao papel do piloto de caça Maverick.

O sucesso Top Gun – Ases Indomáveis, estrelado pelo casal Kelly McGillis e Tom Cruise, quem diria! teria uma sequência! Fala sério…

Top Gun – Ases Indomáveis foi o único filme de Tony Scott a ganhar um Oscar: o de melhor canção para Take My Breath Away, pela voz de Berlin. Quem não comprou a fita cassete naquela época? O diretor nunca foi indicado ao prêmio da Academia, mas levou o Emmy pela direção da série de TV The Gathering Storm em 2003.

Segue o clipe da música vencedora do Oscar, que deixou muitos casais enamorados e menininhas sonhando acordadas com Tom Cruise:

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