85 produções concorrem às 5 indicações do Oscar de Filme em Língua Estrangeira em 2017

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O vencedor do último Oscar de Filme em Língua Estrangeira, Lászlò Nemes, por seu drama O Filho de Saul (photo by washington.kormany.hu)

RECORDE NOS NÚMEROS EVIDENCIA CRESCIMENTO DE PRODUÇÕES INTERNACIONAIS EM BUSCA DE RECONHECIMENTO

Todos os países podem discordar das escolhas da Academia, mas é crescente o número de produções internacionais que se inscrevem na categoria de Filme em Língua Estrangeira. Este ano, temos o novo recorde de filmes: 85, superando o recorde anterior de 83 em 2014.

Particularmente, agrada-me essa elevação, pois proporciona a chance real de espectadores comuns conhecerem visões cinematográficas de outras nações menos famosas. Só pra exemplificar, nos últimos anos, a Academia indicou o filme da Mauritânia, Timbuktu, e da Camboja, A Imagem que Falta. Tudo bem que nenhum deles venceu, mas só o fato de estarem disputando o prêmio, já gera interesse por parte de cinéfilos do mundo todo, e cria uma referência daquele país. Este ano, o Iêmen inscreveu seu primeiro candidato: I Am Nojoom, Age 10 and Divorced, da diretora Khadija Al-Salami.

Claro que ainda tem países que nunca receberam uma indicação como a Coréia do Sul, e seu cinema intenso e violento (que costuma não ser popular entre os votantes mais idosos da Academia), mas acredito que seja mera questão de tempo com inserções de membros jovens e novos da Academia feitas pela presidente Cheryl Boone Isaacs no primeiro semestre.

E O BRASIL?

O filme selecionado pela comissão da Cultura este ano gerou uma grande polêmica de cunho político. Com o processo de impeachment questionado, a equipe do filme Aquarius, do diretor Kléber Mendonça Filho, fez um protesto em pleno tapete vermelho em Cannes, já que concorria à Palma de Ouro. Os cartazes de protesto levados diziam que “O Brasil está sob um golpe”.

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Equipe do filme ‘Aquarius’ no tapete vermelho de Cannes. No centro, a atriz Sônia Braga e à direita, o diretor Kléber Mendonça Filho (photo by elpais.com)

Cada um tem o direito de protestar sobre o que bem entender, claro, mas depois da saída da ex-presidente Dilma Roussef, o governo de Michel Temer não deve ter gostado nada e teria sabotado a campanha do filme como representante do Brasil no Oscar.

Particularmente, acredito que ninguém está certo. Se o filme recebeu verba do governo brasileiro para ser feito, o protesto é de certa forma incoerente, uma vez que estaria “cuspindo no prato que comeu”. Mas de qualquer forma, defendo a liberdade de expressão, e aliás, acredito que os artistas devem se expressar através de suas obras, e não cartazes mal feitos. Sou só eu que vejo a personagem de Sônia Braga como a Dilma Rousseff sendo expulsa? Já o governo Temer, se realmente criou esse imbróglio, errou ao confundir à obra com a opinião política de seus realizadores. O que vai concorrer ao Oscar? O filme ou a posição política do diretor? Se fosse assim, Clint Eastwood jamais teria ganhado um Oscar sequer, já que apóia veemente o extremista candidato republicano Donald Trump.

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Sônia Braga em cena de Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. (photo by abrilveja.com.br)

Enfim, o filme selecionado foi o drama Pequeno Segredo, de David Schurmann. O diretor deu uma entrevista defendendo a escolha de filme ao Oscar, pois teria os “ingredientes dramáticos que a Academia adora”. Realmente, o tema de adoção é internacional, mas obviamente, ele apenas tentou maquiar o escândalo de Aquarius preterido. Obviamente que o filme de Kléber Mendonça Filho teria mais chances de concorrer ao Oscar por sua projeção em Cannes, e ainda mais que conta com Sônia Braga, atriz de porte internacional, mas essa “briguinha” ridícula faz o cinema brasileiro perder essa boa oportunidade.

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Cena com Julia Lemmertz (à direita) em Pequeno Segredo (photo by AdoroCinema)

CANDIDATOS

Como vocês sabem, essa lista de 85 filmes será reduzida a uma pré-seleção de nove produções em dezembro, para então se consolidarem aos 5 indicados em janeiro, mais precisamente no dia 24, quando haverá o anúncio ao vivo das indicações.

Apesar do crescimento de produções de países menos conhecidos, os autores de outros países largam na frente como é o caso do espanhol Pedro Almodóvar. Ele já faturou o prêmio em 2000 pelo poderoso Tudo Sobre Minha Mãe e ainda levou o Oscar de Roteiro Original em 2003 por Fale com Ela. Nesse quesito, o bósnio Danis Tanovic também leva vantagem por já ter vencido em 2002 com Terra de Ninguém, e o iraniano Asghar Farhadi, que levou o Oscar em 2012 com A Separação. Vale lembrar também que a Polônia apresentou o último filme de Andrzej Wajda, Afterimage, como representante. O filme retrata a luta de um artista polonês contra o Stalinismo e seus ideais. Wajda, que faleceu nesta última semana, recebeu o Oscar Honorário em 2000. Pode ser a última chance da Academia conceder um Oscar póstumo pra um dos maiores diretores europeus.

Cena do filme polonês Afterimage, de Andrzej Wajda (photo by cine.gr)

Cena do filme polonês Afterimage, de Andrzej Wajda (photo by cine.gr)

Outro termômetro para quem larga na frente são os festivais. Muitos países preferem lançar representantes que já participaram em grandes festivais internacionais como Cannes e até conquistaram prêmios para ter mais chances com a Academia. Exemplos dessa estratégia são o alemão Toni Erdmann (indicado à Palma de Ouro), o argentino The Distinguished Citizen (prêmio de Ator em Veneza), o canadense It’s Only the End of the World (Grande Prêmio do Júri em Cannes), o filipino Ma’Rosa (Prêmio de Atriz em Cannes), o documentário italiano Fire at Sea (Urso de Ouro em Berlim) e o venezuelano De Longe te Observo (o primeiro filme latino a vencer o Leão de Ouro em Veneza).

Cena estranha de Toni Erdmann, representante alemão no Oscar. (photo by critic.de)

Cena estranha de Toni Erdmann, representante alemão no Oscar. (photo by critic.de)

E minha torcida vai para o representante francês, Elle, por se tratar de um dos meus diretores favoritos Paul Verhoeven (diretor de RoboCop e Instinto Selvagem). E também pelo tema polêmico, já que a protagonista vivida pela Isabelle Huppert tem fantasias com seu estuprador. Admiro a ousadia francesa em lançar este filme para votantes conservadores da Academia analisarem. Adoraria ver filmes mais ousados na lista de indicações, pois estou farto de filmes de Segunda Guerra Mundial e o Holocausto.

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Isabelle Huppert em cena de Elle, de Paul Verhoeven (photo by TelaTela)

Segue a lista dos 85 candidatos oficiais ao Oscar 2017 de Melhor Filme em Língua Estrangeira:

ALBÂNIA
Chromium
Dir: Bujar Alimani

ALEMANHA
Toni Erdmann
Dir: Maren Ade

ARÁBIA SAUDITA
Barakah Meets Barakah
Dir: Mahmoud Sabbagh

ARGÉLIA
The Well
Dir: Lotfi Bouchouchi

ARGENTINA
The Distinguished Citizen
Dir: Mariano Cohn, Gastón Duprat

AUSTRÁLIA
Tanna
Dir: Bentley Dean, Martin Butler

ÁUSTRIA
Stefan Zweig: Farewell to Europe
Dir: Maria Schrader

BANGLADESH
The Unnamed
Dir: Tauquir Ahmed

BÉLGICA
The Ardennes
Dir: Robin Pront

BOLÍVIA
Sealed Cargo
Dir: Julia Vargas Weise

BÓSNIA HERZEGOVINA
Death in Sarajevo
Dir: Danis Tanovic

BRASIL
Pequeno Segredo
Dir: David Schurmann

BULGÁRIA
Losers
Dir: Ivaylo Hristov

CAMBOJA
Before the Fall
Dir: Ian White

CANADÁ
It’s Only the End of the World
Dir: Xavier Dolan

Cena do filme canadense It's Only the End of the World. O jovem cineasta Xavier Dolan não parece ser unanimidade entre os votantes da Academia, mas a presença de atrizes como Marion Cotillard e Léa Seydoux podem ajudar na campanha. (photo by critic.de)

Cena do filme canadense It’s Only the End of the World. O jovem cineasta Xavier Dolan não parece ser unanimidade entre os votantes da Academia, mas a presença de atrizes como Marion Cotillard e Léa Seydoux podem ajudar na campanha. (photo by critic.de)

CAZAQUISTÃO
Amanat
Dir: Satybaldy Narymbetov

CHILE
Neruda
Dir: Pablo Larraín

Cena do filme biográfico Neruda, sobre poeta chileno. A vantagem aqui é o diretor Pablo Larraín, que além de já ter sido indicado ao Oscar por No, tem o filme Jackie com Natalie Portman nas categorias principais (photo by cine.gr)

Cena do filme biográfico Neruda, sobre poeta chileno. A vantagem aqui é o diretor Pablo Larraín, que além de já ter sido indicado ao Oscar por No, tem o filme Jackie com Natalie Portman nas categorias principais (photo by cine.gr)

CHINA
Xuan Zang
Dir: Huo Jianqi

COLÔMBIA
Alias Maria
Dir: José Luis Rugeles

CORÉIA DO SUL
The Age of Shadows
Dir: Kim Jee-woon

COSTA RICA
About Us
Dir: Hernán Jiménez

CROÁCIA
On the Other Side
Dir: Zrinko Ogresta

CUBA
The Companion
Dir: Pavel Giroud

DINAMARCA
Land of Mine
Dir: Martin Zandvliet

EGITO
Clash
Dir: Mohamed Diab

EQUADOR
Such Is Life in the Tropics
Dir: Sebastián Cordero

ESLOVÁQUIA
Eva Nová
Dir: Marko Skop

ESLOVÊNIA
Houston, We Have a Problem!
Dir: Žiga Virc

ESPANHA
Julieta
Dir: Pedro Almodóvar

ESTÔNIA
Mother
Dir: Kadri Kõusaar

FILIPINAS
Ma’ Rosa

Dir: Brillante Ma Mendoza

FINLÂNDIA
The Happiest Day in the Life of Olli Mäki
Dir: Juho Kuosmanen

FRANÇA
Elle
Dir: Paul Verhoeven

GEORGIA
House of Others
Dir: Rusudan Glurjidze

GRÉCIA
Chevalier
Dir: Athina Rachel Tsangari

HOLANDA
Tonio
Dir: Paula van der Oest

HONG KONG
Port of Call
Dir: Philip Yung

HUNGRIA
Kills on Wheels
Dir: Attila Till

IÊMEN
I Am Nojoom, Age 10 and Divorced
Dir: Khadija Al-Salami

ISLÂNDIA
Sparrows
Dir: Rúnar Rúnarsson

ÍNDIA
Interrogation
Dir: Vetri Maaran

INDONÉSIA
Letters from Prague
Dir: Angga Dwimas Sasongko

IRÃ
The Salesman
Dir: Asghar Farhadi

Cena do iraniano The Salesman, que dialoga com a obra literária de Arthur Miller. Com o histórico de vitória no Oscar, Asghar Farhadi praticamente garante sua presença no Oscar 2017, na opinião deste humilde blogueiro. (photo by cine.gr)

Cena do iraniano The Salesman, que dialoga com a obra literária de Arthur Miller. Com o histórico de vitória no Oscar, Asghar Farhadi praticamente garante sua presença no Oscar 2017, na opinião deste humilde blogueiro. (photo by cine.gr)

IRAQUE
El Clásico
Dir: Halkawt Mustafa

ISRAEL
Sand Storm
Dir: Elite Zexer

ITÁLIA
Fire at Sea
Dir: Gianfranco Rosi

JAPÃO
Nagasaki: Memories of My Son
Dir: Yoji Yamada

JORDÂNIA
3000 Nights
Dir: Mai Masri

KOSOVO
Home Sweet Home
Dir: Faton Bajraktari

LETÔNIA
Dawn
Dir: Laila Pakalnina

LÍBANO
Very Big Shot
Dir: Mir-Jean Bou Chaaya

LITUÂNIA
Seneca’s Day
Dir: Kristijonas Vildziunas

LUXEMBURGO
Voices from Chernobyl
Dir: Pol Cruchten

MACEDÔNIA
The Liberation of Skopje
Dir: Rade Šerbedžija, Danilo Šerbedžija

MALÁSIA
Beautiful Pain
Dir: Tunku Mona Riza

MARROCOS
A Mile in My Shoes
Dir: Said Khallaf

MÉXICO
Desierto
Dir: Jonás Cuarón

Jeffrey Dean Morgan faz um cidadão americano que protege a fronteira americana contra os mexicanos por seus próprios termos. Além do tema polêmico, tem Jonás Cuarón, irmão de Alfonso, vencedor do Oscar por Gravidade. (photo by cine.gr)

Jeffrey Dean Morgan faz um cidadão americano que protege a fronteira americana contra os mexicanos por seus próprios termos. Além do tema polêmico, tem Jonás Cuarón, irmão de Alfonso, vencedor do Oscar por Gravidade. (photo by cine.gr)

MONTENEGRO
The Black Pin
Dir: Ivan Marinović

NEPAL
The Black Hen
Dir: Min Bahadur Bham

NORUEGA
The King’s Choice
Dir: Erik Poppe

NOVA ZELÂNDIA
A Flickering Truth
Dir: Pietra Brettkelly

PALESTINA
The Idol
Dir: Hany Abu-Assad

PANAMÁ
Salsipuedes
Dir: Ricardo Aguilar Navarro, Manolito Rodríguez

PAQUISTÃO
Mah-e-Mir
Dir: Anjum Shahzad

PERU
Videophilia (and Other Viral Syndromes)
Dir: Juan Daniel F. Molero

POLÔNIA
Afterimage
Dir: Andrzej Wajda

PORTUGAL
Letters from War
Dir: Ivo M. Ferreira

QUIRGUISTÃO
A Father’s Will
Dir: Bakyt Mukul, Dastan Zhapar Uulu

REINO UNIDO
Under the Shadow

Dir: Babak Anvari

REPÚBLICA DOMINICANA
Sugar Fields

Dir: Fernando Báez

REPÚBLICA TCHECA
Lost in Munich
Dir: Petr Zelenka

ROMÊNIA
Sieranevada
Dir: Cristi Puiu

RÚSSIA
Paradise
Dir: Andrei Konchalovsky

SÉRVIA
Diário de um Maquinista (Train Driver’s Diary)
Dir: Milos Radovic

SINGAPURA
Apprentice
Dir: Boo Junfeng

SUÉCIA
A Man Called Ove
Dir: Hannes Holm

SUÍÇA
My Life as a Zucchini
Dir: Claude Barras

TAILÂNDIA
Karma
Dir: Kanittha Kwunyoo

TAIWAN
Hang in There, Kids!
Dir: Laha Mebow

TURQUIA
Cold of Kalandar
Dir: Mustafa Kara

UCRÂNIA
Ukrainian Sheriffs
Dir: Roman Bondarchuk

URUGUAI
Breadcrumbs
Dir: Manane Rodríguez

VENEZUELA
De Longe te Observo (Desde Allah)
Dir: Lorenzo Vigas

Cena do filme venezuelano De Longe te Observo, de Lorenzo Vigas. Trata-se de um bom drama, mas a temática homossexual pode enfraquecer sua campanha (photo by cine.gr)

Cena do filme venezuelano De Longe te Observo, de Lorenzo Vigas. Trata-se de um bom drama, mas a temática homossexual pode enfraquecer sua campanha (photo by cine.gr)

VIETNÃ
Yellow Flowers on the Green Grass
Dir: Victor Vu

A 89ª cerimônia do Oscar será no dia 26 de fevereiro.

Depois de Lúcia (Después de Lucía), de Michel Franco (2012)

Pôster original de Depois de Lúcia, de Michel Franco

Pôster original de Depois de Lúcia, de Michel Franco

Segundo filme de Michel Franco descrê na Educação

Qual seria a função do cinema? Muitos responderiam “entretenimento” e não estariam de todo errados. O cinema de hoje é fruto do boom blockbusteriano originado em 1975 com o sucesso de Tubarão, de Steven Spielberg. Antes disso, cinema era visto (apenas) como Sétima Arte, permeado por cineastas consagrados como Jean-Luc Godard, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini e Jean Renoir. Nesses tempos, os filmes eram um dos melhores meios de analisarmos a sociedade e este é o motivo desses mesmos filmes continuarem sendo atemporais.

Hoje, a regra virou exceção. Quando encontramos um filme em cartaz que esteja disposto a colocar uma luz sobre os problemas da sociedade, deveria ser um convite irrecusável em meio a tantas produções vazias. Contudo, o mercado cinematográfico nacional, tendo em mãos as estatísticas e estudos da preferência do público brasileiro, parece não se importar com o poder crítico do cinema, uma vez que o filme mexicano Depois de Lúcia estreou nesse dia 22 de março em apenas três (três!) salas em São Paulo, o maior pólo cultural do país: Cine Sabesp, Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca e Reserva Cultural.

Claro que o segundo longa de Michel Franco não se encaixa nos moldes de sucesso, mesmo que alternativos, pois sequer tem nomes famosos. A única publicidade que poderia atrair mais espectadores seria o prêmio Un Certain Regard (Um Certo Olhar) recebido no último Festival de Cannes. Mas para quem resolver dar uma chance ao filme, descobrirá qualidades de observação da sociedade mexicana e os problemas educacionais enfrentados em escolas de todo o mundo.

Da esquerda para a direita: Os atores Hernan Mendoza e Tessa Ia ao lado do diretor Michel Franco no Festival de Cannes (photo by www.cinemagia.ro)

Da esquerda para a direita: Os atores Hernan Mendoza e Tessa Ia ao lado do diretor Michel Franco no Festival de Cannes (photo by http://www.cinemagia.ro)

Depois de Lúcia começa com a mudança de cidade, da costa do Pacífico (Puerto) para a Cidade do México, do chef de cozinha Roberto e sua filha adolescente Alejandra. Apesar de haver poucas explanações, a Lúcia do título é a mãe da família, morta recentemente em um acidente automobilístico, e isso basta para situar o espectador da situação de luto dos personagens. A jovem Alejandra mantém um relacionamento de cumplicidade com o pai, mas não há diálogo suficiente sobre como lidar com problemas da nova vida. Inicialmente aceita por um grupo de amigos da escola, ela acaba cometendo um deslize comum nessa idade. Porém, sem querer importunar o pai nesse momento delicado, ela resolve enfrentar calada a tortura física e psicológica que seus colegas de classe impõem nesse julgamento moral.

Obviamente, não há nada muito novo nesse tema tão na moda como o bullying, mas a abordagem de Franco deixa o público atônito com a realidade cruel do universo de filhos e alunos de hoje enquanto o mantém de mãos atadas sem qualquer poder de reação diante das imagens. Sem poder contar com o amparo das forças policiais e da política, o diretor faz com que o espectador se sinta inútil e ausente perante a decadência dos jovens de hoje. Já na tela, o pai de Alejandra, Roberto, até clama por justiça, mas não vê outro meio de fazer algo de concreto pela filha a não ser se despir dos pudores morais.

A atriz Tessa Ia dá vida à personagem Alejandra numa jornada de martírio silencioso (photo by OutNow.CH)

A atriz Tessa Ia dá vida à personagem Alejandra numa jornada de martírio silencioso (photo by OutNow.CH)

Apesar do cinema fazer algumas alterações ou mesmo exagerar em algumas situações para comprovar seu ponto de vista, este filme busca ser apenas um retrato fiel da sociedade mexicana atual. Num artigo do escritor David Toscana, publicado no Estado de S. Paulo no dia 11 de março de 2013, intitulado “O México parou de ler”, temos um relato chocante sobre a ineficiência do sistema educacional mexicano. Toscana afirma que, embora haja mais crianças matriculadas hoje, elas aprendem menos. Cita também a recente pesquisa de avaliação de hábitos de leitura feita pela Unesco com 108 países, na qual o México caiu para a vergonhosa penúltima colocação. As crianças mexicanas estão saindo das escolas praticamente como analfabetas.

Infelizmente, muito desse estudo se reflete no Brasil. Nessa semana, o MEC proibiu a criação de novos cursos de Direito simplesmente porque o nível de aprovação no exame da Ordem de Advogados do Brasil (OAB) era baixíssimo. O índice de reprovação foi de 93%! E o que dizer do último ENEM? Dois candidatos resolveram brincar na redação sobre imigração ao inserirem uma receita de miojo e trecho do hino do clube de futebol Palmeiras, conseguindo ainda pontuação média. Apesar da atitude ridícula dos estudantes, impressiona o método de avaliação aplicado. Vale ainda lembrar que há mais de um ano vemos nos noticiários mortes e acidentes graves causados por erros gritantes de enfermeiros e auxiliares de enfermagem nos hospitais públicos.

O colunista da Folha de S. Paulo, José Simão, até brincou com a situação degradante do ensino. “… enquanto aluno do Enem dá receita de Miojo, (Aloizio Mercadante – Ministro da Educação) se regala com macarronada em Roma (paparicando o novo Papa ao lado da Dilma)”. Enquanto não houver “A” reforma educacional, o Brasil permanecerá sendo mero candidato a país do futuro.

Atitudes infantis no ENEM desmascaram sistema de avaliação falho (foto por castrodigital.com.br)

Atitudes infantis no ENEM desmascaram sistema de avaliação falho (foto por castrodigital.com.br)

Claro que não se trata apenas da educação como formação acadêmica. Depois de Lúcia procura resgatar a educação politicamente incorreta que havia algumas décadas atrás, quando pais e professores aplicavam disciplina com rigor. Havia uma espécie de permissão dos pais para que castigos físicos pudessem fazer parte do método de ensino. Hoje, esse mesmo método é visto com maus olhos porque a sociedade acredita que punições físicas são coisas ultrapassadas e inadequadas, porém, tinha um objetivo muito definido: dignidade e respeito ao próximo. Muitos professores brasileiros que atuam no sistema público votariam a favor da volta da palmatória. Provavelmente, se a boa e velha palmatória permanecesse nos manuais escolares, hoje haveria menos Alejandras.

Depois de Lúcia, ou como os americanos dizem After Lucia, foi nomeado o representante do México na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas como o número de indicados permanece cinco, e o longa apresenta sequências violentas, acabou ficando de fora. Felizmente estreou por aqui, mas corra esta semana para assistir antes que saia de cartaz para dar lugar a um filme vazio. E recomendo também o filme A Caça, de Thomas Vinterberg, outro tapa na cara do politicamente correto. Estreou apenas na sala Espaço Itaú de Cinema- Augusta.

AVALIAÇÃO: BOM

Django Livre (Django Unchained), de Quentin Tarantino (2012)

Pôster de Django Livre (foto por pipocamoderna.com.br)

Pôster de Django Livre (foto por pipocamoderna.com.br)

Tarantino retoma projeto pessoal, recebe críticas, mas leva 5 indicações ao Oscar

Depois do sucesso comercial dos dois volumes de Kill Bill (2003 e 2004), o diretor Quentin Tarantino resolveu abrir seu baú e revisitar antigos projetos pessoais. Entre eles, estavam Bastardos Inglórios (2009) e este Django Livre. Conhecido por seu dom de criação de diálogos afiados e seu repertório infinito de referências do universo pop, ele expôs os projetos ousados à luz do sol e agora colhe os frutos: 1 Oscar para Bastardos e 5 indicações para Django Livre.

Fã assíduo do western spaghetti dos diretores italianos Sergio Corbucci e Sergio Leone, ao contrário de muitos diretores, Tarantino faz questão de mostrar as devidas credenciais de suas referências. Ele usa a trilha original de Luis Bacalov de Django (1966), de Corbucci, além de trilhas do compositor Ennio Morricone, colaborador de Leone em Três Homens em Conflito (1966) e Era Uma Vez no Oeste (1968), denotando a extrema importância de suas fontes de inspiração para a criação de um novo material. Tomando como base “nada se cria, tudo se transforma”, Tarantino se tornou um artista que trabalha com recicláveis como ninguém. Acredito ainda que ele pode ser um dos cineastas-símbolo dessa geração atual que pouco cria e que celebra muito o vintage.

Quentin Tarantino busca o melhor ângulo que aprendera do mestre Sergio Leone (photo by BeyondHollywood.com)

Quentin Tarantino busca o melhor ângulo que aprendera do mestre Sergio Leone (photo by BeyondHollywood.com)

Como usa suas referências com extrema propriedade, Quentin Tarantino acaba estimulando o público novo a pesquisar essas mesmas fontes. Com certeza, enquanto você está lendo este post, há vários cinéfilos pelo mundo tirando o pó da capinha dos DVDs da seção Western das locadoras (ou fazendo certos downloads…) para conferir o que o diretor enxergou no material original. Além disso, outra consequência extremamente benéfica de sua metodologia ecológica é o resgate do brilho de alguns atores esquecidos pelo tempo.

Em Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), John Travolta ressurgiu das cinzas para voltar a mostrar seus movimentos na dança de “You Never Can Tell”, de Chuck Berry. Em Jackie Brown (1997), a estrela negra de filmes produzidos por Roger Corman nos anos 70, Pam Grier, foi redescoberta por Hollywood. O Bill de Kill Bill foi a estrela da série de TV Kung Fu, David Carradine, e Daryl Hanna teve seu primeiro papel interessante depois de ser a replicante de Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982) como a assassina caolha Elle Driver. Desta vez, por razões óbvias, Tarantino trouxe Franco Nero, o Django original, para fazer a breve cena da luta de mandigos ao lado de Leonardo DiCaprio. Também resgatou o James Crockett da série Miami Vice, Don Johnson, e o veterano Bruce Dern, que pode voltar a concorrer a um Oscar em 2014 pelo novo filme de Alexander Payne, Nebraska. Os EUA têm tantos talentos à disposição que é realmente lamentável que os cineastas não aproveitem.

Django e Django: Franco Nero (à esq) faz uma pequena participação (photo by OutNow.CH)

Django e Django: Franco Nero (à esq) faz uma pequena participação (photo by OutNow.CH)

Para o papel de protagonista, Tarantino havia escrito para Will Smith, mas por motivos não divulgados, recusou a proposta. Depois de fazer testes com Idris Elba, Chris Tucker e Terrence Howard, o papel acabou nas mãos de Jamie Foxx. Apesar de seu personagem falar pouco, o ator encorpora o espírito vingativo do escravo através do olhar. Já para o papel do vilão Calvin Candie, foi necessário um diálogo entre o diretor e Leonardo DiCaprio para convencê-lo a participar, pois como tem imagem de bom menino e líder do movimento Verde, estava desconfortável com o racismo explícito do personagem. Sinceramente, não sei se DiCaprio foi a melhor escolha, mas como cinéfilo, aplaudi seu esforço em se desvencilhar de filmes anteriores. Acredito que ele caminha bem para um futuro promissor se continuar ambicioso na escolha de projetos.

Por outro lado, as duas melhores atuações do filme vieram de escolhas previamente acertadas na cabeça de Tarantino: Christoph Waltz como Dr. King Schultz, e Samuel L. Jackson como o criado Stephen. Poliglota e excelente ator, Waltz revelou numa entrevista que tinha forte receio de que sua atuação repetisse seu personagem anterior de Coronel Hans Landa de Bastardos Inglórios. Esse medo reside principalmente no fato de ambos os personagens serem letrados e terem ótima dicção, mas os universos são totalmente diferentes. Quanto a Jackson, trata-se da sexta colaboração com Tarantino, então eles já estão num nível excepcional de sintonia no set. Ele trabalha tão bem a entonação de seus diálogos, que é possível ver o racismo extremo em cada palavra dita, enquanto ele nos diverte com seu humor negro. Fazia muito tempo em que não via Samuel L. Jackson tão inspirado, ainda mais num papel de idoso com debilidade física.

Samuel L. Jackson rouba suas cenas como o criado racista Stephen (photo by OutNow.CH)

Samuel L. Jackson (à esq) rouba suas cenas como o criado racista Stephen ao lado de Kerry Washington (photo by OutNow.CH)

Com Django Livre, é possível enxergar que Quentin está no fim de outra fase como diretor. Seus primeiros filmes formam uma trilogia que prioriza a estrutura narrativa. Histórias e personagens interligados tornaram-se sua marca principal nos anos 90, influenciando vários trabalhos como Trainspotting – Sem Limites, de Danny Boyle e Traffic, de Steven Soderbergh. Tarantino estava buscando modernizar o uso de múltiplos personagens e tramas no mesmo filme como Robert Altman fez em Nashville (1975) e ShortCuts – Cenas da Vida (1993).

Já na segunda trilogia, que se inicia com Kill Bill: Vol. 1 (2003), Tarantino resolve apelar na violência. Apesar do exagero, ele transforma essa gratuidade em uma beleza plástica. Ele convida o diretor de fotografia Robert Richardson a mergulhar num oceano de referências visuais fílmicas e televisivas para poder recriar e homenageá-las.

Cena visual de Kill Bill: Vol. 2 (2004) com fotografia de Robert Richardson (photo by odeon.typepad.com)

Cena visual de Kill Bill: Vol. 2 (2004) com fotografia de Robert Richardson (photo by odeon.typepad.com)

Shosanna e seu machado em Bastardos Inglórios (photo by OutNow.CH)

Shosanna e seu machado em Bastardos Inglórios (photo by OutNow.CH)

Violência em evidência: plasticidade no sangue e na plantação (photo by BeyondHollywood.com)

Violência em evidência: plasticidade no sangue e na plantação (photo by BeyondHollywood.com)

Além da violência mais acentuada e estetizada, como pode-se perceber pelas fotos acima, existem outras curiosidades nessa segunda fase. Todos esses filmes dialogam com o forte tema da vingança. A Noiva quer matar Bill. Shosanna quer a cabeça de Landa. E Django quer destruir Calvin Candie para resgatar sua esposa. Alguém aí falou em guardar rancor? Tarantino acredita que nada mais ferve o sangue do que uma vingancinha. No começo de Kill Bill: Vol. 1, ele coloca o antológico provérbio klingon de Jornada nas Estrelas: “Revenge is a dish best served cold (Vingança é um prato que se come frio)”.

Também vale ressaltar que o diretor coloca grupos que já foram minoria como tais personagens buscando vingança: Mulheres em Kill Bill, Judeus em Bastardos e Negros em Django. E quando se toca no assunto de minorias étnicas ou religiosas, a coisa tende a pegar fogo nessa sociedade politicamente correta ao extremo. O primeiro a se manifestar foi o diretor negro Spike Lee, mais conhecido por fazer filmes com temática racial como Febre da Selva e Faça a Coisa Certa.

Em entrevista, ele teria dito as seguintes palavras: “American Slavery Was Not A Sergio Leone Spaghetti Western. It Was A Holocaust. My Ancestors Are Slaves. Stolen From Africa. I Will Honor Them (A escravidão americana não era um filme de spaghetti western de Sergio Leone. Foi um Holocausto. Meus antepassados foram escravos. Tirados da África. Vou honrá-los)” – O que é mais ridículo é que o autor dessa crítica non-sense sequer viu o filme! Spike Lee estaria indignado com o fato de haver o termo racialmente pejorativo “nigger“, que seria algo como “crioulo” aqui. Esse termo era utilizado pelos senhores referindo-se a seus escravos. E como fazer um filme sobre esse período sem conter essa palavra no roteiro?

Não-oficialmente falando, talvez essa birra por parte de Lee venha de uma regrinha de humor americano que implica que apenas as vítimas da piada têm o direito de criar essas mesmas piadas. Por exemplo: só judeu pode tirar sarro de judeu, caso contrário seria um ultraje tão grande que seria um incidente diplomático. Jamie Foxx logo rebateu a polêmica através do jornal The Guardian: “…I respect Spike, he’s a fantastic director. But he gets a little shady when he’s taking shots at his colleagues without looking at the work. To me, that’s irresponsible. (Respeito Spike, ele é um diretor fantástico. Mas ele fica um pouco sombrio quando atira em seus colegas sem olhar para o trabalho deles. Para mim, isso é irresponsabilidade)”.

Os pré-conceituosos: A presidente Dilma Roussef recebe Spike Lee no Planalto em visita para realização de documentário Go Brazil Go em abril de 2012 (foto por blog.planalto.gov.br)

Os pré-conceituosos: A presidente Dilma Rousseff recebe Spike Lee no Planalto em visita para realização de documentário Go Brazil Go! em abril de 2012 (foto por Roberto Stickert Filho/PR de blog.planalto.gov.br)

Aproveitando o tema, outro filme indicado ao Oscar também tem sido alvo de controvérsias. Segundo declarações de um membro da Academia, um panaca chamado David Clennon, teria dito em carta aberta que não votaria em A Hora Mais Escura, porque o filme faria apologia à tortura. Para quem não conhece, o novo filme de Kathryn Bigelow teve acesso exclusivo aos arquivos da CIA na captura e morte do líder terrorista Osama Bin Laden, e há algumas cenas em que membros da inteligência americana aplicam torturas a fim de obterem pistas. Em defesa de seu filme, a diretora declarou: ” Torture was, as we all know, employed in the early years of the hunt. That doesn’t mean it was the key to finding Bin Laden. It means it is a part of the story we couldn’t ignore. (Tortura foi, como todos sabemos, empregada nos primeiros anos da caça. Isso não significa que foi a chave para encontrar Bin Laden. Significa que foi uma parte da história que nós não poderíamos ignorar)”.

A sociedade americana anda muito politicamente correta, e ainda sente as consequências daquele vídeo horroroso (em todos os sentidos) intitulado Innocence of the Muslims (Inocência dos Muçulmanos – ver vídeo e post em https://cinemaoscareafins.wordpress.com/2012/09/19/video-causa-conflito-no-oriente-medio/), que desencadeou uma briga internacional entre os países de origem muçulmana e os EUA, por abrigarem o responsável pelo filme. Além disso, hoje negros deixaram de ser negros. São afro-descendentes. Estamos pisando em ovos ao falar sobre temas étnicos. Isso porque nem vou comentar sobre as cotas raciais racistas criadas pelo ex-(e atual) presidente Lula e companhia. Se querem compensar décadas e mais décadas de escravidão, respeito e igualdade funcionam melhor como dignidade.

Veredito final: Nem Tarantino, nem Bigelow foram indicados ao Oscar de direção. Mas isso pouco importa agora. Django Livre é um ótimo filme que busca contar uma história de amor e vingança. Como qualquer outra obra de arte, não precisa estar atrelada à verdade absoluta ou a fatos verídicos. E como qualquer Arte boa, deve ter o poder de abrir espaço para interpretação e discussão saudável.

AVALIAÇÃO: MUITO BOM

Dr. King Schultz e Django formam uma dupla um tanto incomum (photo by BeyongHollywood.com)

Dr. King Schultz e Django formam uma dupla um tanto incomum (photo by BeyongHollywood.com)

Irã boicota o Oscar 2013 por causa do vídeo ‘Inocência dos Muçulmanos’

Asghar Farhadi com seu Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para o Irã. Pelo visto, não foi suficiente para evitar um boicote em 2013 (foto por Jason Merritt/ Getty Images)

Depois de ataques às embaixadas norte-americanas, bandeiras queimadas em público e recompensa de 100 mil dólares pela cabeça do diretor Nakoula Basseley Nakoula, responsável pelo vídeo produzido nos EUA Inocência dos Muçulmanos (Innocence of the Muslims), era questão de tempo essa pressão atingir o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Mesmo tendo vencido o último Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com o belo drama A Separação, de Asghar Farhadi, o Irã (leia-se seu governo) decidiu boicotar o Oscar devido ao incendiário vídeo que vem causando muita violência e revolta no mundo muçulmano entre o Paquistão e o Egito, resultando em mais de cinquenta mortos, incluindo o assassinato do embaixador americano na Líbia.

Nakoula Basseley Nakoula WANTED: A cabeça deste homem está valendo 100 mil dólares? Quando é o próximo vôo para os EUA? Quem está pagando é o político paquistanês Ghulam Ahmad Bilour.

O ministro da cultura do Irã, Mohammed Hosseini, admitiu pela imprensa de que o país já havia eleito o filme A Cube of Sugar (Ye habe Ghand), do diretor Seyyed Reza Mir-Karimi – que trata de um casamento que termina em funeral quando os pais do noivo morrem – para a competição internacional, mas voltaram atrás por considerarem Inocência dos Muçulmanos “um insulto intolerável para o Profeta do Islã”. Hosseini, juntamente com o chefe da agência controladora do cinema iraniano, Javad Shamaghdari, concordam com o boicote e incentivam outros países islâmicos a fazerem o mesmo.

Esse boicote só teria fim se as autoridades americanas revelassem à justiça os responsáveis pelo vídeo Inocência dos Muçulmanos. Em discurso nas Nações Unidas, o presidente Barack Obama condenou o filme anti-Islâmico, mas insistiu que os tumultos que ele acarretou não são justificados. “Não há palavras que sirvam como desculpa para a matança de pessoas inocentes. Nenhum vídeo justifica um ataque a uma embaixada”.

O presidente Barack Obama em discurso na ONU. “Nada justifica matança de inocentes” (foto por Associated Press)

Obviamente, o governo iraniano quer se aproveitar da projeção internacional do Oscar para demonstrar insatisfação com o governo norte-americano. Por mais que Obama concorde que o vídeo é uma ofensa, seu país prega a democracia e a liberdade de expressão. Se ele condena o diretor pelo filme, pode arranjar briga com a ONU e os defensores da Constituição. Se em circusntâncias normais, o presidente não tocaria nesse vespeiro, imagina em época de eleição!

Para os fanáticos religiosos islâmicos, cinema não tem nada a ver com Arte, mas uma arma para atingir os inimigos. Na competição da categoria de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, embora tenham comemorado a vitória sobre seus rivais de Israel (o filme Footnote, de Joseph Cedar) como se fosse uma guerra vencida, os iranianos mais radicais ainda reclamaram da exposição dos problemas de sua sociedade por meio da história de separação de um casal. Desse jeito, fica difícil de encontrar alguma conciliação se já emperram com questões mais insignificantes.

Independente do rumo que esses conflitos tomem, o Oscar, o filme iraniano A Cube of Sugar e seu diretor Seyyed Reza Mir-Karimi nada devem para os fundamentalistas islâmicos ofendidos por um vídeo tosco, mas infelizmente, acabam sendo os bodes expiatórios. Nas cidades em conflito, uma filial da rede de restaurantes KFC acabou sendo destruída só porque é americana. Isso é justo?

Sobrou para o representante iraniano A Cube of Sugar, de Seyyed Reza Mir-Karimi. O cinema paga o pato dos fundamentalistas islâmicos.

Aqui no Brasil, quando a classe média xiita fica revoltada com os “estadunidenses”, eles batem o pé e boicotam o McDonald’s. Sim, é um protesto devastador, mas bem mais sensato do que sair travestido de viking e arrasar com tudo pela frente.

*Devido a protestos de um grupo de muçulmanos no Brasil contra o Google (que detém os direitos do Youtube), uma corte em São Paulo ordenou que a empresa retire o vídeo do ar no prazo de 10 dias. Por isso, para quem ainda não viu o vídeo, aproveite para checar: https://cinemaoscareafins.wordpress.com/2012/09/19/video-causa-conflito-no-oriente-medio/. Curiosamente, essa decisão foi tomada um dia após o discurso da presidente Dilma Roussef na ONU contra a “islamofobia”. Para quem não conhece o jeito do PT (partido trabalhista) trabalhar, acostume-se. Eles adoram controlar com censura os meios de comunição e acreditam que o “Mensalão” é uma história de ficção científica. Nesse quesito, o país está a um passo do governo ditatorial de Hugo Chavez.

Com ou sem o Irã, as indicações ao Oscar 2013 serão anunciadas no dia 10 de janeiro de 2013.

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