
Bruna Linzmeyer em cena de O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues (pic by The Hollywood Reporter)
COMEÇA A SELEÇÃO PARA REPRESENTANTE BRASILEIRO
Nessa última sexta-feira, dia 24, foram divulgadas as 22 produções que vão disputar a vaga de representante brasileiro pela categoria de Filme em Língua Estrangeira no Oscar 2019.
São 18 ficções e 4 documentários que seguem abaixo em ordem alfabética:
- Além do Homem
Dir: Willy Biondani - Alguma Coisa Assim
Dir: Esmir Filho - O Animal Cordial
Dir: Gabriela Amaral Almeida - Antes que eu me Esqueça
Dir: Tiago Arakilian - Aos Teus Olhos
Dir: Carolina Jabor - As Boas Maneiras
Dir: Marco Dutra e Juliana Rojas - Benzinho
Dir: Gustavo Pizzi - Canastra Suja
Dir: Caio Soh - O Caso do Homem Errado
Dir: Camila de Moraes - Como é Cruel Viver Assim
Dir: Julia Rezende - Dedo na Ferida
Dir: Silvio Tendler - O Desmonte do Monte
Dir: Sinai Sganzerla - Encantados
Dir: Tizuka Yamasaki - Entre Irmãs
Dir: Breno Silveira - Ex-Pajé
Dir: Luiz Bolognesi - Ferrugem
Dir: Aly Muritiba - O Grande Circo Místico
Dir: Cacá Diegues - Não Devore Meu Coração!
Dir: Filipe Bragança - Paraíso Perdido
Dir: Monique Gardenberg - Talvez uma História de Amor
Dir: Rodrigo Bernardo - Unicórnio
Dir: Eduardo Nunes - Yonlu
Dir: Hique Montanari
À princípio, não há nenhum grande favorito como Cidade de Deus ou Tropa de Elite 2, mas alguns títulos já se sobressaem devido a seu histórico internacional. O Grande Circo Místico já larga na frente por ter passagem na mostra não-competitiva no Festival de Cannes deste ano, além, claro, da fama do diretor Cacá Diegues que, embora nunca tenha sido indicado ao Oscar, competiu pela Palma de Ouro em três ocasiões nos anos 80. O drama com temática circense remete ao vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1952, O Maior Espetáculo da Terra, de Cecil B. DeMille, e conta com um bom elenco encabeçado por Bruna Linzmeyer, Jesuíta Barbosa, Juliano Cazarré, Mariana Ximenes e o francês Vincent Cassel.
Com passagens por festivais argentino, colombiano, francês, americano, suíço e espanhol, As Boas Maneiras também tem ótimas chances de ser selecionado. Além da crescente campanha internacional, o filme é do gênero terror e fantasia, que ficaram em alta depois de Corra! e A Forma da Água terem levado o Oscar este ano, e por ter uma autenticidade brasileira representada pela história folclórica do lobisomem. A dupla de diretores, Marco Dutra e Juliana Rojas, ainda está buscando se aperfeiçoar a cada filme, mas já é possível verificar um toque de personalidade no trabalho.

Marjorie Estiano e Isabél Zuaa em cena de As Boas Maneiras (pic by Omelete)
Acredito que a vaga deva ficar com uma dessas duas produções pelos motivos citados, porém vale destacar aqui Aos Teus Olhos e O Animal Cordial pela repercussão que ambos tiveram pela temática. Enquanto o primeiro aborda a questão do abuso sexual (em alta em Hollywood), o segundo abre uma discussão sobre a essência do ser humano em situações extremas.

Murilo Benício e Luciana Paes em cena de O Animal Cordial (pic by revistapreview.com.br)
Também estou lendo ótimas críticas de Benzinho (que acabou de levar 4 Kikitos no Festival de Gramado, incluindo o de Melhor Atriz para a elogiada atuação de Karine Telles) e o próprio vencedor de Melhor Filme em Gramado, Ferrugem.

Adriana Esteves e Karine Teles em cena de Benzinho, que concedeu os Kikitos de Coadjuvante e Atriz para ambas (pic by Cebola Verde)
Não sou de ligar muito para essa questão politicamente correta, mas o jornal Folha de S. Paulo levantou que dos 22 filmes, nove são dirigidos por mulheres. De repente, por causa dos movimentos feministas como o #MeToo, esse fator pode ajudar na campanha internacional. A matéria do jornal também destacou a ausência do filme de maior bilheteria aqui, Nada a Perder, a cinebiografia do Edir Macedo, dono da Igreja Universal. Talvez aquele suposto esquema da própria Igreja comprar vários ingressos e distribuir para os fiéis (que não comparecem às salas) tenham o desqualificado para esta seleção.
De qualquer forma, para a comissão que se encarregará da seleção do representante brasileiro, meu conselho é: não se guie pelos gostos da Academia, que seria o filme dramático do Holocausto e Segunda Guerra Mundial. Primeiro porque já tentamos e não fomos bem-sucedidos, segundo porque a própria Academia está mudando com a adição de tantos membros novos, e por último, porque o cinema brasileiro precisa simplesmente levar o seu melhor filme para Hollywood, independente de histórico, premiações e elenco. Digo isso, principalmente, porque o Brasil nunca levou o Oscar, e as chances de ganhar são baixas, então por que não prestigiar o melhor filme pelo menos?

No centro, Daniel de Oliveira faz o professor de natação acusado de assédio em Aos Teus Olhos (pic by vejasp)
Não posso julgar qual a melhor produção para selecionar, pois não vi todos os 22 filmes, mas gosto da idéia de As Boas Maneiras ser o representante por ter esse tom próprio (e não padronizado) de fábula com drama social brasileiro. O filme tem seus defeitos, sim, mas acredito que contém algum diferencial que os membros da Academia esperam ver, afinal eles são obrigados a assistir a mais de 90 filmes estrangeiros para votar.
Só para constar: Caso o representante seja aprovado para a pré-lista de nove filmes, será o primeiro desde 2006, quando O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias foi pré-selecionado. E caso esteja entre os 5 indicados da categoria, será o primeiro desde Central do Brasil, que concorreu em 1999.