Era uma Vez em… Hollywood, Coringa, 1917, O Irlandês e Ford vs Ferrari indicados ao ASC
FRANCO-FAVORITO E VETERANO ROGER DEAKINS CONQUISTA SUA 16ª INDICAÇÃO
Nesta última sexta-feira, dia 03, o sindicato de Diretores de Fotografia anunciou seus indicados nas duas categorias de cinema para sua 34ª edição: Fotografia e Spotlight Award, um prêmio dedicado aos filmes com menos chances de projeção nos cinemas.
THEATRICAL RELEASE (Lançamento de Cinema)
Roger Deakins (1917)
Phedon Papamichael (Ford Vs Ferrari)
Rodrigo Prieto (O Irlandês)
Robert Richardson (Era uma Vez em… Hollywood)
Lawrence Sher (Coringa)
SPOTLIGHT AWARD
Jarin Blaschke (O Farol)
Natasha Braier (Honey Boy)
Jasper Wolf (Monos)
Na categoria principal, a 16ª indicação de Roger Deakins é a principal atração por seu trabalho no filme de guerra 1917, que foi filmado e editado para parecer um único take em tempo real. Vencedor de quatro prêmios ASC, o diretor de fotografia britânico deve receber sua 15ª indicação ao Oscar no próximo dia 13, e com ótimas chances de conquistar seu segundo Oscar.
Rodrigo Prieto por O Irlandês e Robert Richardson por Era uma Vez em… Hollywood devem confirmar suas indicações ao Oscar também pela ótima campanha que os filmes têm feito desde o ano passado. Aliás, se formos falar de campanha, a Disney tem feito de tudo para colocar Ford vs. Ferrari na temporada de premiações. Botou Christian Bale no Globo de Ouro e SAG, e agora no sindicato de Diretores de Fotografia. Não que a fotografia de Phedon Papamichael não seja merecedora de reconhecimento, mas talvez num ano mais competitivo na categoria, tenha ficado de fora.
Apesar dos elogios à fotografia dos anos 70 de Lawrence Sher em Coringa, havia uma expectativa de que a fotografia PB de O Farol com seu formato quadrado fosse emplacar uma indicação na categoria principal, contudo acabou parando na categoria Spotlight Award, concedida aos lançamentos menores. Já que a ASC costuma acertar 4 dos 5 indicados ao Oscar, é possível que Ford vs Ferrari ou Coringa cedam lugar para O Farol, cuja fotografia foi uma das mais comentadas e aclamadas de 2019.
Jarin Blaschke compete com Natasha Braier por Honey Boy (talvez a maior surpresa desta edição) e Jasper Wolf por Monos, o filme representante da Colômbia ao Oscar de Filme Internacional que acabou não se classificando para a pré-lista como muitos esperavam.
Seguem as estatísticas das últimas seis edições do ASC em relação ao Oscar de Fotografia:
ANO
ASC CINEMA
SPOTLIGHT
OSCAR
2019
Łukasz Żal (Guerra Fria)
Giorgi Shvelidze (Namme)
Alfonso Cuarón (Roma)
2018
Roger Deakins (Blade Runner 2049)
Mart Taniel (November)
Roger Deakins (Blade Runner 2049)
2017
Greig Fraser (Lion: Uma Jornada Para Casa)
Gorka Gómez Andreu (House of Others)
Linus Sandgren (La La Land)
2016
Emmanuel Lubezki (O Regresso)
Adam Arkapaw (Macbeth: Ambição e Guerra)
Mátyás Erdély (Filho de Saul)
Emmanuel Lubezki (O Regresso)
2015
Emmanuel Lubezki (Birdman)
Peter Flinckenberg (Noite Decisiva)
Emmanuel Lubezki (Birdman)
2014
Emmanuel Lubezki (Gravidade)
Łukasz Żal, Ryszard Lenczewski (Ida)
Emmanuel Lubezki (Gravidade)
Claro que quatro acertos em seis não é nada mau, porém o prêmio do ASC tem essa tradição de acertar bem os indicados, mas errar nos vencedores. Honestamente, num ano mediano para fotografia, Roger Deakins tem tudo para ser o cara no Oscar pela segunda vez. Não seria nenhum exagero, já que o homem tem 14 indicações ao Oscar e apenas uma estatueta.
A 34ª edição do Annual ASC Awards acontece no dia 25 de Janeiro, sábado.
Rachel Weisz e Olivia Colman em cena de A Favorita (pic by IMDb)
FILME DE YORGOS LANTHIMOS AINDA TEM GÁS PARA ESTA TEMPORADA
Como de costume, a premiação européia elegeu com antecedência os vencedores das categorias mais técnicas como Fotografia e Montagem. Os vencedores dos principais prêmios como Filme, Direção e atuações serão revelados apenas no dia 07 de Dezembro em Berlim.
Indicado a 10 Oscars e vencedor do prêmio de Melhor Atriz deste ano para Olivia Colman, A Favorita não se encaixou no prazo do calendário de 2018 do European Film Awards (que fecha meses antes do fim do ano), mas mesmo disputando a edição seguinte, já saiu vitorioso em quatro categorias: Fotografia (Robbie Ryan), Montagem (Yorgos Mavropsaridis), Figurino (Sandy Powell) e Maquiagem (Nadia Stacey).
Pelas demais categorias anunciadas, o filme espanhol Dor e Glória conquistou o prêmio de Design de Produção (Antxon Gómez), enquanto o filme alemão System Crasher levou Trilha Musical (John Gürtler). Curiosamente, ambas as produções foram selecionadas por seus comitês para disputar o Oscar de Melhor Filme Internacional (ex-Melhor Filme em Língua Estrangeira) pela Espanha e Alemanha, respectivamente.
Asier Etxeandia e Leonardo Sbaraglia em cena de Dor e Glória (pic by IMDb)
A co-produção entre Uruguai, Espanha, Argentina, França e Alemanha, Uma Noite de 12 Anos, que acompanha os 12 anos de tortura sofridos por três prisioneiros no Uruguai tomado pela ditadura, levou o prêmio de design de Som, destacando sua importância nas cenas de escuridão na solitária.
Antonio de la Torre em cena de Uma Noite de 12 Anos (pic by IMDb)
Já o prêmio de Efeitos Visuais ficou com o sueco About Endlessness por apresentar imagens oníricas e filosóficas. Em sua passagem pelo último Festival de Veneza, saiu com o prêmio de Direção para o veterano Roy Andersson.
PRINCIPAIS CATEGORIAS DO EFA
Pelas categorias competitivas, cinco produções lideram as indicações: An Officer and a Spy, de Roman Polanski, O Traidor, de Marco Bellocchio, e os já citados Dor e Glória, System Crasher e A Favorita, cada um com quatro indicações.
Jean Dujardin em cena de An Officer and a Spy (pic by IMDb)
Recentemente, o sindicato de diretores, roteiristas e produtores da França lançou uma proposta de novas regras para membros sob investigação criminal, o que levaria à suspensão do diretor polonês Roman Polanski, que sofreu uma nova acusação de estupro pela atriz Valentine Monnier que teria ocorrido em 1975. O diretor nega as acusações, enquanto seu novo filme levou mais de 380 mil pessoas aos cinemas na França.
Dentre as indicações, vale ressaltar o elogiadíssimo Retrato de uma Jovem em Chamas, que teve ótima passagem no Festival de Cannes, levando o prêmio de Roteiro. Céline Sciamma disputa o prêmio como diretora e roteirista, e suas duas atrizes Adèle Haenel e Noémie Merlant foram reconhecidas em uma única indicação para Melhor Atriz.
Noémie Merlant e Adèle Haenel em cena de Retrato de uma Jovem em Chamas (pic by IMDb)
Ainda sobre a disputa de Melhor Atriz, Olivia Colman pode ser novamente reconhecida por A Favorita. Já na categoria de Melhor Ator, vale destacar a indicação de Jean Dujardin por An Officer and a Spy. Sim, aquele ator francês que levou o Oscar de Ator em 2012 por O Artista, que você achava que nunca mais ia deslanchar.
RELEVÂNCIA COM O OSCAR
Por defender um calendário diferente das demais premiações, inclusive o Oscar e Globo de Ouro, o European Film Awards já se torna um ponto fora da curva na temporada. Contudo, alguns de seus filmes indicados costumam aparecer nas principais listas, o que pode ajudar as campanhas de Dor e Glória, Les Miserábles, O Traidor,System Crasher, Honeyland e outros trabalhos como de animação que estão na briga pelo Oscar 2020.
Nos últimos cinco anos, por exemplo, tivemos alguns vencedores do EFA que chegaram ao tapete vermelho do Oscar como Guerra Fria, The Square, As Faces de Toni Erdmann, 45 Anos, O Lagosta, Sr. Turner e Ida.
MELHOR FILME • Les Misérables, de Ladj Ly • An Officer and a Spy, de Roman Polanski • Dor e Glória, de Pedro Almodóvar • System Crasher, de Nora Fingscheidt • A Favorita, de Yorgos Lanthimos • O Traidor, de Marco Bellocchio
MELHOR DIREÇÃO • Pedro Almodóvar (Dor e Glória) • Marco Bellocchio (O Traidor) • Yorgos Lanthimos (A Favorita) • Roman Polanski (An Officer and a Spy) • Céline Sciamma (Retrato de uma Jovem em Chamas)
MELHOR ATRIZ • Olivia Colman (A Favorita) • Trine Dyrholm (Rainha de Copas) • Noémie Merlant e Adèle Haenel (Retrato de uma Jovem em Chamas) • Viktoria Miroshnichenko (Uma Mulher Alta) • Helena Zengel (System Crasher)
MELHOR ATOR • Antonio Banderas (Dor e Glória) • Jean Dujardin (An Officer and a Spy) • Pierfrancesco Favino (O Traidor) • Levan Gelbakhiani (And Then We Danced) • Alexander Scheer (Gundermann) • Ingvar E. Sigurðsson (A White, White Day)
MELHOR ROTEIRO • Pedro Almodóvar (Dor e Glória) • Marco Bellocchio, Ludovica Rampoldi, Valia Santella, Francesco Piccolo (O Traidor) • Ladj Ly, Giordano Gederlini, Alexis Manenti (Les Misérables) • Robert Harris, Roman Polanski (An Officer and a Spy) • Céline Sciamma (Retrato de uma Jovem em Chamas)
MELHOR COMÉDIA • Ditte & Louise, de Niclas Bendixen • Tel Aviv Em Chamas, de Sameh Zoabi • A Favorita, de Yorgos Lanthimos
MELHOR ANIMAÇÃO • Buñuel In The Labyrinth Of The Turtles, de Salvador Simó • Perdi Meu Corpo (J’ai Perdu Mon Corps), de Jérémy Clapin • L’extraordinaire Voyage de Marona, de Anca Damian • Les Hirondelles de Kaboul, de Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mévellec
MELHOR DOCUMENTÁRIO • For Sama, de Waad Al-kateab & Edward Watts • Honeyland, de Ljubomir Stefanov & Tamara Kotevska • Putin’s Witnesses, de Vitaly Mansky • Selfie, de Agostino Ferrente • The Disappearance Of My Mother, de Beniamino Barrese
DESCOBERTA EUROPÉIA • Aniara, de Pella Kagerman, Hugo Lilja
• Atlantique, de Mati Diop • Blindsone, de Tuva Novotny
• Irina, de Nadejda Koseva
• Les Miserábles, de Ladj Ly
• Ray & Liz, de Richard Billingham
MELHOR CURTA-METRAGEM • Cães que Ladram aos Pássaros • Rekonstrukce • The Christmas Gift • Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre
• Watermelon Juice
Helena Zengel em cena de System Crasher, que estava na programação da Mostra Internacional de SP (pic by IMDb)
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A 32ª cerimônia do European Film Awards acontece no dia 07 de Dezembro.
O jovem diretor e roteirista Bo Burnham vence o WGA de Roteiro Original por Oitava Série (pic by Metrópoles)
ÚLTIMO GRANDE PRÊMIO DE SINDICATOS ANTES DO OSCAR REVELA POSSÍVEL DIVERGÊNCIA
Nesse último domingo, o Sindicato de Roteiristas (Writers Guild of America) divulgou seus vencedores, e revelou uma divergência certa e outra possível com o Oscar.
Pela categoria de Roteiro Original, o vencedor foi Bo Burnham, roteirista e diretor estreante do ainda inédito no Brasil Oitava Série (Eighth Grade), que apesar de ter levado o DGA de Diretor Estreante, sequer foi indicado ao Oscar de Roteiro Original.
“Para os outros indicados da categoria, divirtam-se no Oscar, perdedores!”, abriu Burnham seu discurso de agradecimento. “Não, eu não preparei nada. Isto pertence à Elsie Fisher que interpretou o roteiro. Ninguém ligaria para o roteiro se ela não tivesse feito o filme”, continuou.
O filme sobre a última semana da oitava série bateu os indicados ao Oscar: Roma (Alfonso Cuarón), Vice (Adam McKay) e Green Book: O Guia (Nick Vallelonga, Brian Currie e Peter Farrelly), e o esnobado Um Lugar Silencioso (Bryan Woods, Scott Bleck e John Krasinski). No lugar de Oitava Série e Um Lugar Silencioso no Oscar, estão Paul Schrader (No Coração da Escuridão) e a dupla Deborah Davis e Tony McNamara (A Favorita).
Apesar das regras rígidas do WGA, Oitava Série é o primeiro roteiro a ganhar o WGA sem sequer ter recebido uma indicação ao Oscar desde Michael Moore em 2003 por Tiros em Columbine.
Já pela categoria de Roteiro Adaptado, deu Poderia Me Perdoar? sobre o então favorito Infiltrado na Klan. Embora o filme tenha se sobressaído na temporada graças aos seus atores Melissa McCarthy e Richard E. Grant, a força do roteiro foi primordial para transmitir as dores artísticas da escritora Lee Israel, falecida em 2014. Para quem trabalha com qualquer forma de Arte, especialmente aqui no Brasil, será fácil se identificar com a trajetória da protagonista.
Nicole Holofcener e Jeff Whitty vencem o WGA de Roteiro Adaptado por Poderia Me Perdoar? (pic by IndieWire)
“Quero agradecer a Lee,” disse Holofcener. “Ela provavelmente estaria sentada em sua sala julgando todos nós. Ela pensava que era a pessoa mais esperta e provavelmente era.”
As estatísticas do WGA em relação ao Oscar não são das melhores (seis vencedores levaram o Oscar dos últimos dez), mas no ano passado, os dois vencedores aqui se consagraram também no prêmio da Academia. Jordan Peele levou o Oscar de Roteiro Original por Corra!, e James Ivory levou Roteiro Adaptado por Me Chame Pelo Seu Nome. Já este ano, com a não-indicação para Oitava Série, não será possível um novo feito duplo.
VENCEDORES DO 71º WGA AWARDS:
ROTEIRO ORIGINAL Bo Burnham (Oitava Série)
ROTEIRO ADAPTADO Nicole Holofcener e Jeff Whitty, Based no livro de Lee Israel (Poderia Me Perdoar?)
ROTEIRO DE DOCUMENTÁRIO Ozzy Inguanzo e Dava Whisenant (Bathtubs Over Broadway)
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Lukasz Zal em set de filmagem de Guerra Fria. Ele não pôde comparecer ao evento. (pic by Indiewire)
GUERRA FRIA TIRA O ASC DAS MÃOS DE ALFONSO CUARÓN
Aproveitando a deixa do WGA, esqueci de postar o vencedor do ASC (American Society of Cinematographers Awards), prêmio do sindicato de diretores de fotografia que, aliás, sofreram um baque e tanto com o anúncio de que a categoria não seria apresentada ao vivo na transmissão do Oscar, levando vários membros a criticar a Academia até ela voltar atrás em sua decisão.
O diretor de fotografia polonês Łukasz Żal foi o grande vencedor por Guerra Fria. Sua belíssima fotografia em preto-e-branco já havia cativado os colegas de profissão por Ida (2013), já que venceu o Spotlight Award daquela edição de 2014, e recebeu uma indicação ao Oscar. Apesar da qualidade inegável de seu trabalho, essa vitória não deixa de ser surpreendente, já que Alfonso Cuarón estava ganhando todos os prêmios de fotografia da temporada por Roma. Será que ele consegue tirar uma das estatuetas de Cuarón no Oscar?
Já o Spotlight Award deste ano foi para Giorgi Shvelidze pelo singelo filme Namme, da Georgia.
Nos últimos cinco anos, houve apenas uma divergência entre ASC e Oscar, em 2017. Enquanto o sindicato premiou Greg Frasier por Lion: Uma Jornada Para Casa, a Academia preferiu Linus Sandgren por La La Land.
VENCEDORES DO ASC AWARDS:
MELHOR FOTOGRAFIA
Alfonso Cuarón (Roma)
Matthew Libatique (Nasce uma Estrela)
Robbie Ryan (A Favorita)
Linus Sandgren (O Primeiro Homem) Łukasz Żal (Guerra Fria)
SPOTLIGHT AWARD
Joshua James Richards (Domando o Destino) Giorgi Shvelidze (Namme)
Frank van den Eeden (Girl)
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A 91ª cerimônia está marcada para o próximo domingo, dia 24.
Emma Stone em cena de A Favorita, recordista de indicações ao BAFTA 2019 (pic by cineimage.ch)
FILME BRITÂNICO TEM AMPLA VANTAGEM DIANTE DOS DEMAIS CONCORRENTES
Com o Oscar antecipado para o dia 24 de fevereiro, TODOS os prêmios que o antecedem estão antecipando suas listas e cerimônias, então, todo dia tem uns trocentos indicados novos e mil coisas pra postar, e quem precisa dormir como faz?! Brincadeiras à parte, é curioso ver como uma mudança simples no calendário gera um tsunami.
Neste dia 09, foi a vez da Academia Britânica (BAFTA) anunciar suas indicações. E como esperado, A Favorita foi o filme recordista de indicações com 12, já que se trata de um filme de época (que proporciona indicações de Direção de Arte, Figurino e Maquiagem) e um elenco qualificado (três atrizes em alta: Olivia Colman, Rachel Weisz e Emma Stone).
Bem abaixo, empatados em segundo lugar, estão Bohemian Rhapsody, Roma, O Primeiro Homem e Nasce uma Estrela com sete indicações cada. Logo em seguida, Vice com seis, Infiltrado na Klan com cinco, e Green Book e Guerra Fria com quatro cada.
Vale destacar que Alfonso Cuarón conquistou SEIS indicações em seu nome, e Bradley Cooper conquistou CINCO. E esses feitos notáveis podem e devem se repetir nas indicações ao Oscar. A questão que fica é: em qual categoria eles serão compensados? À princípio, Cuarón em Filme Estrangeiro e Fotografia, e Cooper em Ator ou Diretor.
Alfonso Cuarón dirige cena marcante na praia em Roma (pic by IMDb)
O anúncio foi feito pelos atores Hayley Squires (do vencedor da Palma de Ouro Eu, Daniel Blake) e Will Poulter (que recentemente participou do filme interativo da Netflix Black Mirror: Bandersnatch).
As indicações do BAFTA reforçam bastante a campanha do filme de Yorgos Lanthimos, e pode consolidá-lo como recordista de indicações ao Oscar também, assim como reforçar uma possível primeira indicação à Direção, mesmo que tenha ficado de fora da seleção do DGA.
Muito beneficiado pela recente vitória no Globo de Ouro, Bohemian Rhapsody conquistou inacreditáveis sete indicações. Há um mês, falavam apenas numa única indicação de Melhor Ator para Malek, e olhe lá! Acho um tanto exagerado esse hype todo em torno do filme, principalmente as indicações para Fotografia e Montagem.
E o BAFTA retirou um pouco do limbo o filme de Damien Chazelle. Eram esperadas as indicações técnicas como Fotografia, Montagem, Som e Efeitos Sonoros, mas O Primeiro Homem conquistou ainda espaço em Roteiro Adaptado (particularmente não curto muito os trabalhos do Josh Singer, mas…) e Atriz Coadjuvante (Claire Foy ficou meio esquecida depois de ter sido preterida no SAG).
E vale citar o crescimento do filme polonês Guerra Fria que, além de Melhor Filme em Língua Estrangeira, foi reconhecido como Melhor Direção (lembrando que Pawlikowski venceu este mesmo prêmio em Cannes, e já levou o Oscar por seu filme anterior, Ida), Melhor Fotografia (um belíssimo preto-e-branco) e Roteiro Original, que me parece um pouco exagerado.
Joanna Kulig e Tomasz Kot em cena do polonês Guerra Fria (pic by Outnow.CH)
Nas categorias de atuação, a surpresa ficou por conta de Steve Coogan por Stan & Ollie. Enquanto os poucos que lembravam da cinebiografia de O Gordo e o Magro só mencionavam John C. Reilly, o BAFTA resolveu reconhecer Coogan. Ele deixa pra trás alguns concorrentes mais fortes como Willem Dafoe, Lucas Hedges e até Ethan Hawke. Na ala feminina, o elemento surpresa ficou com Viola Davis, cujo filme As Viúvas estava desaparecido na temporada. Achei curiosa a ausência de Emily Blunt pelo O Retorno de Mary Poppins pelo ícone que a personagem é na cultura britânica, mas pelo visto, os votantes não quiseram trair a Poppins de Julie Andrews.
Steve Coogan como Stanley em Stan & Ollie (pic by IMDb)
Viola Davis foi lembrada por As Viúvas no BAFTA (pic by IMDb)
Ainda sobre os atores, chama a atenção uma nova ausência de Regina King como Coadjuvante por Se a Rua Beale Falasse. Mesmo depois de ganhar o Globo de Ouro, a atriz não havia emplacado no SAG, e agora no BAFTA. Será que ainda rola indicação ao Oscar desse jeito? Amy Adams agradece novamente.
Fiquei desapontado com a ausência de Oitava Série (nem Roteiro Original para Bo Burnham, nem Atriz para Elsie Fisher) e Hereditário (será que não teria sido melhor ter lançado o filme perto do fim de ano? Toni Collette está morrendo na praia…).
MELHOR FILME
INFILTRADO NA KLAN (BLACKkKLANSMAN) Jason Blum, Spike Lee, Raymond Mansfield, Sean McKittrick, Jordan Peele
A FAVORITA (THE FAVOURITE) Ceci Dempsey, Ed Guiney, Yorgos Lanthimos, Lee Magiday
GREEN BOOK: O GUIA (GREEN BOOK) Jim Burke, Brian Currie, Peter Farrelly, Nick Vallelonga, Charles B. Wessler
ROMA (ROMA) Alfonso Cuarón, Gabriela Rodríguez
NASCE UMA ESTRELA (A STAR IS BORN) Bradley Cooper, Bill Gerber, Lynette Howell Taylor
MELHOR FILME BRITÂNICO
BEAST Michael Pearce, Kristian Brodie, Lauren Dark, Ivana MacKinnon
BOHEMIAN RHAPSODY (BOHEMIAN RHAPSODY) Bryan Singer, Graham King, Anthony McCarten
A FAVORITA (THE FAVOURITE) Yorgos Lanthimos, Ceci Dempsey, Ed Guiney, Lee Magiday, Deborah Davis, Tony McNamara
McQUEEN Ian Bonhôte, Peter Ettedgui, Andee Ryder, Nick Taussig
STAN & OLLIE Jon S. Baird, Faye Ward, Jeff Pope
VOCÊ NUNCA ESTEVE REALMENTE AQUI (YOU WERE NEVER REALLY HERE) Lynne Ramsay, Rosa Attab, Pascal Caucheteux, James Wilson
ROTEIRISTA, DIRETOR OU PRODUTOR BRITÂNICO ESTREANTE
APOSTASY Daniel Kokotajlo (Writer/Director)
BEAST Michael Pearce (Writer/Director), Lauren Dark (Producer)
A CAMBODIAN SPRING Chris Kelly (Writer/Director/Producer)
PILI Leanne Welham (Writer/Director), Sophie Harman (Producer)
RAY & LIZ Richard Billingham (Writer/Director), Jacqui Davies (Producer)
FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
CAPERNAUM Nadine Labaki, Khaled Mouzanar
GUERRA FRIA Paweł Pawlikowski, Tanya Seghatchian, Ewa Puszczyńska
DOGMAN Matteo Garrone, Jean Labadie, Jeremy Thomas,
Paolo Del Brocco
ROMA Alfonso Cuarón, Gabriela Rodríguez
ASSUNTO DE FAMÍLIA Hirokazu Kore-eda, Kaoru Matsuzaki
DOCUMENTÁRIO
FREE SOLO Elizabeth Chai Vasarhelyi, Jimmy Chin
McQUEEN Ian Bonhôte, Peter Ettedgui
RBG Julie Cohen, Betsy West
THEY SHALL NOT GROW OLD Peter Jackson
TRÊS ESTRANHOS IDÊNTICOS Tim Wardle, Grace Hughes-Hallett, Becky Read
LONGA DE ANIMAÇÃO
OS INCRÍVEIS 2 Brad Bird, John Walker
ILHA DOS CACHORROS Wes Anderson, Jeremy Dawson
HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO Bob Persichetti, Peter Ramsey, Rodney Rothman, Phil Lord
DIREÇÃO
INFILTRADO NA KLAN Spike Lee
GUERRA FRIA Paweł Pawlikowski
A FAVORITA Yorgos Lanthimos
ROMA Alfonso Cuarón
NASCE UMA ESTRELA Bradley Cooper
ROTEIRO ORIGINAL GUERRA FRIA Janusz Głowacki, Paweł Pawlikowski
A FAVORITA Deborah Davis, Tony McNamara
GREEN BOOK Brian Currie, Peter Farrelly, Nick Vallelonga
ROMA Alfonso Cuarón
VICE Adam McKay
ROTEIRO ADAPTADO INFILTRADO NA KLAN Spike Lee, David Rabinowitz, Charlie Wachtel, Kevin Willmott
PODERIA ME PERDOAR? Nicole Holofcener, Jeff Whitty
O PRIMEIRO HOMEM Josh Singer
SE A RUA BEALE FALASSE Barry Jenkins
NASCE UMA ESTRELA Bradley Cooper, Will Fetters, Eric Roth
ATRIZ GLENN CLOSE (A Esposa)
LADY GAGA (Nasce uma Estrela)
MELISSA McCARTHY (Poderia me Perdoar?)
OLIVIA COLMAN (A Favorita)
VIOLA DAVIS (As Viúvas)
ATOR BRADLEY COOPER (Nasce uma Estrela)
CHRISTIAN BALE (Vice)
RAMI MALEK (Bohemian Rhapsody)
STEVE COOGAN (Stan & Ollie)
VIGGO MORTENSEN (Green Book)
ATRIZ COADJUVANTE AMY ADAMS (Vice)
CLAIRE FOY (O Primeiro Homem)
MARGOT ROBBIE (Duas Rainhas)
EMMA STONE (A Favorita)
RACHEL WEISZ (A Favorita)
ATOR COADJUVANTE ADAM DRIVER (Infiltrado na Klan)
MAHERSHALA ALI (Green Book)
RICHARD E. GRANT (Poderia me Perdoar?)
SAM ROCKWELL (Vice)
TIMOTHÉE CHALAMET (Querido Menino)
TRILHA ORIGINAL INFILTRADO NA KLAN Terence Blanchard
SE A RUA BEALE FALASSE Nicholas Britell
ILHA DOS CACHORROS Alexandre Desplat
O RETORNO DE MARY POPPINS Marc Shaiman
NASCE UMA ESTRELA Bradley Cooper, Lady Gaga, Lukas Nelson
FOTOGRAFIA BOHEMIAN RHAPSODY Newton Thomas Sigel
GUERRA FRIA Łukasz Żal
A FAVORITA Robbie Ryan
O PRIMEIRO HOMEM Linus Sandgren
ROMA Alfonso Cuarón
MONTAGEM BOHEMIAN RHAPSODY John Ottman
A FAVORITA Yorgos Mavropsaridis
O PRIMEIRO HOMEM Tom Cross
ROMA Alfonso Cuarón, Adam Gough
VICE Hank Corwin
DIREÇÃO DE ARTE ANIMAIS FANTÁSTICOS: OS CRIMES DE GRINDELWALD Stuart Craig, Anna Pinnock
A FAVORITA Fiona Crombie, Alice Felton
O PRIMEIRO HOMEM Nathan Crowley, Kathy Lucas
O RETORNO DE MARY POPPINS John Myhre, Gordon Sim
ROMA Eugenio Caballero, Bárbara Enríquez
FIGURINO THE BALLAD OF BUSTER SCRUGGS Mary Zophres
BOHEMIAN RHAPSODY Julian Day
A FAVORITA Sandy Powell
O RETORNO DE MARY POPPINS Sandy Powell
DUAS RAINHAS Alexandra Byrne
MAQUIAGEM E CABELO BOHEMIAN RHAPSODY Mark Coulier, Jan Sewell
A FAVORITA Nadia Stacey
DUAS RAINHAS Jenny Shircore
STAN & OLLIE Mark Coulier, Jeremy Woodhead
VICE Indicados ainda não definidos
SOM BOHEMIAN RHAPSODY John Casali, Tim Cavagin, Nina Hartstone, Paul Massey, John Warhurst
O PRIMEIRO HOMEM Mary H. Ellis, Mildred Iatrou Morgan, Ai-Ling Lee, Frank A. Montaño, Jon Taylor
MISSÃO: IMPOSSÍVEL – EFEITO FALLOUT Gilbert Lake, James H. Mather, Christopher Munro, Mike Prestwood Smith
UM LUGAR SILENCIOSO Erik Aadahl, Michael Barosky, Brandon Procter, Ethan Van der Ryn
NASCE UMA ESTRELA Steve Morrow, Alan Robert Murray, Jason Ruder, Tom Ozanich, Dean Zupancic
EFEITOS VISUAIS VINGADORES: GUERRA INFINITA Dan DeLeeuw, Russell Earl, Kelly Port, Dan Sudick
PANTERA NEGRA Geoffrey Baumann, Jesse James Chisholm, Craig Hammack, Dan Sudick
ANIMAIS FANTÁSTICOS: OS CRIMES DE GRINDELWALD Tim Burke, Andy Kind, Christian Manz, David Watkins
O PRIMEIRO HOMEM Ian Hunter, Paul Lambert, Tristan Myles, J.D. Schwalm
JOGADOR Nº 1 Matthew E. Butler, Grady Cofer, Roger Guyett, David Shirk
CURTA DE ANIMAÇÃO BRITÂNICO I’M OK Elizabeth Hobbs, Abigail Addison, Jelena Popović
MARFA Gary McLeod, Myles McLeod
ROUGHHOUSE Jonathan Hodgson, Richard Van Den Boom
CURTA-METRAGEM BRITÂNICO 73 COWS Alex Lockwood
BACHELOR, 38 Angela Clarke
THE BLUE DOOR Ben Clark, Megan Pugh, Paul Taylor
THE FIELD Sandhya Suri, Balthazar de Ganay
WALE Barnaby Blackburn, Sophie Alexander, Catherine Slater, Edward Speleers
PRÊMIO EE RISING STAR (votado pelo público)
BARRY KEOGHAN
CYNTHIA ERIVO
JESSIE BUCKLEY
LAKEITH STANFIELD
LETITIA WRIGHT
Indicados ao EE Rising Star, da esquerda para a direita: Cynthia Erivo, Barry Keoghan, Letitia Wright, Lakeith Stanfield e Jessia Buckley (montage by Movie Marker)
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A cerimônia de premiação acontece no dia 10 de fevereiro no London’s Royal Albert Hall. Joanna Lumley retorna como hostess.
Alfonso Cuarón dirige cena com Yalitza Aparicio em Roma (pic by imdb)
VENCEDOR DO OSCAR POR ‘GRAVIDADE’, ALFONSO CUARÓN COMPETE PELO MÉXICO
OK, os portões do ENEM fecharam! Ninguém mais entra, ninguém mais sai. 87 países enviaram seus filmes representantes para disputarem as 5 cobiçadas indicações na categoria de Filme em Língua Estrangeira. É importante ressaltar aqui que houve uma ligeira redução de inscritos comparando com o ano passado, quando houve 92 filmes.
Este ano marca a estréia na lista de dois países que muita gente sequer sabia da existência: Malawi e Niger, ambas nações do continente africano. Duas produções ainda aguardam aprovação da Academia: o filme cubano Sergio & Sergei, e o representante do Quirguistão Night Accident.
COMO ESTÁ A DISPUTA ATÉ O MOMENTO?
Ao contrário dos últimos anos, 2019 já tem um franco-favorito: Roma, de Alfonso Cuarón, que ganhou o Leão de Ouro em Veneza, é o representante oficial do México, que nunca ganhou o Oscar de Filme em Língua Estrangeira na história da Academia. Por todos os lugares por quais passa, independente de qual crítico, o filme biográfico do diretor é uma extrema unanimidade, inclusive, com alta possibilidade de concorrer ao Oscar de Melhor Filme (seria a primeira indicação da Netflix) e com boas chances de vencer! Essa dobradinha Melhor Filme e Melhor Filme em Língua Estrangeira nunca aconteceu antes.
Pra quem não se recorda, Alfonso Cuarón já venceu dois Oscars pela ficção científica Gravidade em 2014: Melhor Montagem e Melhor Direção. Ele já havia concorrido antes por Filhos da Esperança em 2007 (Roteiro Adaptado e Montagem) e por E Sua Mãe Também em 2002 (Roteiro Original). Tornou-se o primeiro diretor hispânico a vencer o Oscar de Diretor, abrindo a porta para seus compadres Alejandro González Iñárritu e Guillermo Del Toro.
Sakura Andô (mãe) e Lily Franky (pai) interagem com menina adotada em Assunto de Família (pic by imdb)
Claro que, mesmo diante desse sucesso estrondoso, só vamos ter 100% de certeza quando o filme for anunciado vencedor no palco da cerimônia. Até lá, muita água ainda vai rolar nesse rio de filmes. O representante japonês, Assunto de Família, de Hirokazu Koreeda, figura como uma espécie de segundo lugar nessa bolsa de apostas. Cineasta com presença frequente em grandes festivais internacionais, Koreeda ganhou enorme impulso após a vitória da Palma de Ouro em Cannes com este singelo drama sobre uma família de ladrões que adota uma menina de rua.
Dá pra praticamente cravar que Roma e Assunto de Família já estão garantidos na categoria. As outras 3 vagas podem ir para:
POLÔNIA: Guerra Fria (Cold War), de Pawel Pawlikowski
– Temos aqui o diretor que ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro por Ida em 2014, fazendo um novo filme em preto-e-branco com pano de fundo da guerra, tema que muitos votantes adoram. Cold War levou o prêmio de Direção em Cannes. E conta com a belíssima fotografia PB de Lukasz Zal (que foi indicado ao Oscar por Ida).
Joanna Kulig em cena de Guerra Fria (pic by imdb)
CORÉIA DO SUL: Em Chamas (Burning), de Lee Chang-dong
– Bastante elogiado em Cannes, de onde saiu com o FIPRESCI Prize, que reconhece a vertente artística, Em Chamas pode se tornar a primeira indicação da Coréia do Sul ao Oscar após o país perder grande chance com A Criada em 2016. Seu diretor Lee Chang-dong tem um currículo internacional respeitável, já tendo vencido o prêmio de roteiro por Poesia (2010) em Cannes.
Ah-In Yoo, Jong-seo Jeon e Steven Yeun em cena de Em Chamas (pic by imdb)
PARAGUAI: As Herdeiras (Las Herederas), de Marcelo Martinessi
– Em sua passagem pelo Festival de Berlim, o filme conquistou o prêmio de Melhor Atriz para Ana Brun. O filme narra a decadência financeira de uma família da elite paraguaia. O longa paraguaio já estreou no Brasil.
BÉLGICA: Girl, de Lukas Dhont
– A produção acompanha a trajetória de Lara, uma menina de 15 anos nascida num corpo de menino, que tem o sonho de ser bailarina. Girl teve boa passagem pela mostra Un Certain Regard de Cannes, e pode se beneficiar da recente vitória de outro filme LGBT no Oscar: Uma Mulher Fantástica.
Victor Polster como a bailarina Lara em cena de Girl (pic by imdb)
Outros filmes bem cotados são o dinamarquês A Culpa, de Gustave Möller; o alemão Never Look Away, de Florian Henckel von Donnnersmarck (que venceu o Oscar por A Vida dos Outros); e o libanês Capernaum, de Nadine Labaki.
E O BRASIL?
A Academia de Cinema Brasileiro nomeou O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues, para concorrer ao Oscar. Como o filme ainda não estreou em solo brasileiro, acabou não contando com o voto popular. Internacionalmente, o longa teve passagem bem discreta em mostra paralela não-competitiva de Cannes. A seleção se baseou na extensa filmografia do diretor, que este ano foi integrado à Academia de Letras Brasileira, e na temática circense que já fez sucesso décadas atrás na categoria como com A Estrada da Vida, de Federico Fellini.
Jesuíta Barbosa em cena de O Grande Circo Místico (pic by imdb)
A menos que haja uma mega reviravolta na campanha nos EUA, o filme tem tudo para morrer na praia, infelizmente. A escolha mais sensata teria sido entre Benzinho e As Boas Maneiras, que tiveram carreira internacional mais rica, que facilitaria na divulgação. Porém, vamos continuar torcendo… pelo menos até conferir a qualidade do filme!
PREPARE-SE!
No final de dezembro, sai a pré-lista com 9 produções. E os cinco indicados serão conhecidos no dia do anúncio das indicações: 22 de janeiro. A cerimônia acontecerá no dia 24 de fevereiro.
SEGUE A LISTA DAS 87 PRODUÇÕES INSCRITAS PARA O OSCAR 2019:
PAÍS
FILME
DIRETOR(A)(ES)
Afeganistão
Rona Azim’s Mother
Jamshid Mahmoudi
África do Sul
Sew the Winter to my Skin
Jahmil X.T. Qubeka
Alemanha
Never Look Away
Florian H. von Donnersmarck
Argélia
Until the End of Time
Yasmine Chouikh
Argentina
El Ángel
Luis Ortega
Armênia
Spitak
Alexander Kott
Austrália
Jirga
Benjamin Gilmour
Áustria
The Waldheim Waltz
Ruth Beckermann
Bangladesh
No Bed of Roses
Mostofa Sarwar Farook
Bélgica
Girl
Lukas Dhont
Bielorrússia
Crystal Swan
Darya Zhuk
Bolívia
The Goalkeeper
Rodrigo ‘Gory’ Patiño
Bósnia Herzegovina
Never Leave Me
Ainda Begi´c
Brasil
O Grande Circo Místico
Cacá Diegues
Bulgária
Omnipresent
Ilian Djevelekov
Camboja
Graves Without a Name
Rithy Panh
Canadá
Family Ties
Sophie Dupuis
Cazaquistão
Ayka
Sergey Dvortsevoy
Chile
…And Suddenly the Dawn
Silvio Caiozzi
China
Hidden Man
Jiang Wen
Colômbia
Birds of Passage
Cristina Gallego, Ciro Guerra
Coréia do Sul
Em Chamas
Lee Chang-dong
Costa Rica
Medea
Alexandra Latishev
Croácia
The Eighth Comissioner
Ivan Salaj
Dinamarca
Culpa
Gustav Möller
Egito
Yomeddine
A.B. Shawky
Equador
A Son of Man
Jamaicanoproblem
Eslováquia
The Interpreter
Martin Šulík
Eslovênia
Ivan
Janez Burger
Espanha
Champions
Javier Fesser
Estônia
Take it or Leave it
Liina Trishkina-Vanhatalo
Filipinas
Signal Rock
Chito S. Roño
Finlândia
Euthanizer
Teemu Nikki
França
Memoir of War
Emmanuel Finkiel
Geórgia
Namme
Zaza Khalvashi
Grécia
Polyxeni
Dora Masklavanou
Holanda
O Banqueiro da Resistência
Joram Lürsen
Hong Kong
Operation Red Sea
Dante Lam
Hungria
Sunset
László Nemes
Iêmen
10 Days Before the Wedding
Amr Gamal
Índia
Village Rockstars
Rima Das
Indonésia
Marlina the Murderer in Four Acts
Mouly Surya
Irã
Sem Data, Sem Assinatura
Vahid Jalivand
Iraque
The Journey
Mohamed Jabarah Al-Daradji
Islândia
Woman at War
Benedikt Erlingsson
Israel
The Cakemaker
Ofir Raul Graizer
Itália
Dogman
Matteo Garrone
Japão
Assunto de Família
Hirokazu Koreeda
Kosovo
The Marriage
Blerta Zeqiri
Letônia
To Be Continued
Ivars Seleckis
Líbano
Capernaum
Nadine Labaki
Lituânia
Wonderful Losers: A Different World
Arunas Matelis
Luxemburgo
Gutland
Govinda Van Maele
Macedônia
Secret Ingredient
Gjorce Stavreski
Malawi
The Road to Sunrise
Shemu Joyah
Marrocos
Burnout
Nour-Eddine Lakhmari
México
Roma
Alfonso Cuarón
Montenegro
Iskra
Gojko Berkuljan
Nepal
Panchayat
Shivam Adhikari
Níger
The Wedding Ring
Rahmatou Keïta
Noruega
What Will People Say
Iram Haq
Nova Zelândia
Yellow is Borbidden
Pietra Brettkelly
Palestina
Ghost Hunting
Raed Andoni
Panamá
Ruben Blades is not my Name
Abner Benaim
Paquistão
Cake
Assim Abbasi
Paraguai
As Herdeiras
Marcelo Martinessi
Peru
Eternity
Oscar Catacora
Polônia
Guerra Fria
Pawel Pawlikowski
Portugal
Pilgrimage
João Botelho
Quênia
Supa Modo
Likarion Wainaina
Reino Unido
I Am Not a Witch
Rungano Nyoni
Rep Dominicana
Cocote
Nelson Carlo De Los S. Arias
Rep Tcheca
Winter Flies
Olmo Omerzu
Romênia
I Do Not Care If We Go Down in History as Barbarians
O diretor japonês Hirokazu Kore-eda ostenta sua Palma de Ouro. No fundo, a presidente do júri Cate Blanchett. Pic by Eric Gaillard/REUTERS
APESAR DAS EXPECTATIVAS PARA UMA SEGUNDA PALMA DE OURO PARA UMA MULHER, CANNES PREMIOU SEGUNDO FILME ASIÁTICO NESTE SÉCULO
Havia três filmes indicados à Palma de Ouro nesta edição dirigidos por mulheres, o júri era formado por maioria feminina e encabeçada pela presidente Cate Blanchett, e tudo indicava que a segunda Palma de Ouro poderia acontecer desde 1993, quando O Piano venceu, MAS ainda não foi desta vez. Como a própria Blanchett disse em entrevista, adoraria ver uma mulher recebendo a honraria, mas “Palma de Ouro não é o Nobel da Paz”.
O prêmio máximo da noite foi concedido ao cineasta autoral japonês Hirokazu Kore-eda por Shoplifters, um drama sócio-familiar sobre uma menina que vive nas ruas que é adotada por uma família pobre que a ensina a furtar em supermercados. Assim como o título francês, o brasileiro tende a ser “Assunto de Família”. Kore-eda ficou conhecido aqui no Brasil por Depois da Vida (1998), aquele em que as pessoas têm uma semana depois da morte para escolher uma memória, e pelo premiado em Cannes Ninguém Pode Saber (2004), quando o ator-mirim Yûya Yagira levou o prêmio de interpretação masculina.
Cena de Shoplifters, vencedor da Palma de Ouro. Pic by outnow.ch
Contudo, meu favorito dele é Pais e Filhos (2013), que aborda uma difícil situação de troca de bebês na maternidade. Para quem acompanha a carreira do diretor, sabe que ele tem uma predileção por temas familiares, mas como poucos, consegue fazer retratos bastante intimistas de seus personagens. Mesmo em seu penúltimo trabalho, o policial O Terceiro Assassinato, mesmo tendo um crime como foco, ele ainda explora relações conturbadas de família.
Esta foi apenas a segunda Palma de Ouro para um diretor asiático neste século XXI, que não ocorria desde 2010, quando o tailandês Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas levou o prêmio. Apenas um fato curioso, longe de querer cobrar cotas para asiáticos em Cannes. Aliás, boa parte da imprensa apontou que a Palma teria sido uma espécie de prêmio pelo conjunto da obra para Hirokazu Kore-eda, já que ele tem seis passagens pela Croissette. Este foi sua quinta indicação à Palma de Ouro, e ele tinha levado apenas um Prêmio do Júri (tipo 3º lugar) com Pais e Filhos.
Muito bem cotado entre a crítica estrangeira, BlacKkKlansman, de Spike Lee, acabou levando o Grande Prêmio do Júri. Respeitando uma tradição em sua filmografia, a crítica ao racismo está novamente presente nesta trama em que um negro se infiltra na organização Ku Klux Klan. Presente na cerimônia, o diretor aceitou o prêmio em nome da “República Popular do Brooklyn, Nova York”, fazendo menção à sua terra natal. Animado, Spike declarou: “Cannes foi o local perfeito para lançar o filme. Espero que o filme possa nos tirar de nossa estagnação mental de forma global, e voltar à verdade, bondade, amor e sem ódio”, e obviamente, aproveitou para dar cutucadas em Donald Trump: “Com este governo, estamos regredindo no tempo.” Particularmente, torço para que este BlacKkKlansman, assim como futuros trabalhos, voltem a ser os meios de expressão que ele utilizava tão bem para dialogar sobre racismo.
Spike Lee posa com seu Grande Prêmio do Júri por BlacKkKlansman. Pic by NY Daily News
Apesar de não terem levado a Palma de Ouro para casa, das três mulheres indicadas, duas levaram importantes prêmios nesta edição. Enquanto o Prêmio do Júri foi para a diretora libanesa Nadine Labaki por seu filme Capernaum, no qual retrata a vida de um menino de rua em Beirute que decide processar seus pais pela vida que tem, a diretora italiana Alice Rohrwacher dividiu o prêmio de Roteiro por Happy as Lazzaro com o cineasta iraniano Jafar Panahi por Três Faces.
Os prêmios de interpretação foram concedidos à talentos desconhecidos este ano. Do lado masculino, o ator italiano Marcello Fonte, que interpretou um franzino dono de pet shop que precisa tomar uma atitude drástica em Dogman, levou o prêmio, enquanto na ala feminina, a jovem cazaque Samal Yeslyamova conquistou a honra por sua performance como uma imigrante do Quirguistão que abandona seu bebê numa gélida Rússia em Ayka.
Marcello Fonte e Samal Yeslyamova posam com seus prêmios de interpretação de Cannes. Pic by zimbio
Já pelo prêmio de Direção, o polonês Pawel Pawlikowski foi reconhecido pelo drama Cold War, sobre o romance entre dois músicos contada através de elipses, bela fotografia preto-e-branco, e enquadramentos rígidos como conhecemos em Ida, vencedor do Oscar de Filme em Língua Estrangeira em 2014.
Contudo, talvez o que mais tenha chamado a atenção no dia da premiação, tenha sido a presença da atriz italiana Asia Argento. Pouco antes do anúncio do primeiro prêmio, ela surgiu no palco e soltou uma bomba: “Tenho algumas palavras para dizer: Em 1997, fui estuprada por Harvey Weinstein aqui em Cannes. Eu tinha 21 anos. Este festival era a área de caça dele. Quero lançar uma previsão: Harvey Weinstein nunca será bem-vindo aqui novamente. Ele viverá em desgraça, evitado pela comunidade fílmica que o acolheu e acobertou seus crimes. Mesmo esta noite, sentados entre vocês, existem aqueles que ainda devem ser responsabilizados por comportamentos que não pertencem à essa indústria. Vocês sabem quem vocês são, e mais importante, nós sabemos quem vocês são, e não vamos mais permitir que se saiam impunes.”
Asia Argento demonstrando a força feminina no dia do encerramento do festival de Cannes. Pic by Mashable
A declaração da atriz denota que os movimentos feministas como o #MeToo causaram rebuliço no evento. Embora a organização não tenha sido culpada pelo crime sexual ocorrido em 97, tomou providências e disponibilizou pela primeira vez uma linha direta para reportar qualquer ocorrência do tipo ou comportamento suspeito.
Se desse lado o festival soube se adequar aos tempos atuais, a briga com a Netflix devido ao sistema de streaming não se encaixar no antiquado sistema de exibição francês foi um ponto bastante negativo para Cannes. Sem poder contar com as novas produções da empresa americana, repletas de diretores renomados, para suas seleções, o festival francês pode perder relevância no cenário internacional.
BRASIL EM CANNES
Embora não estivesse concorrendo na mostra oficial neste ano, a produção nacional contou com três co-produções premiadas. Pela mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar), o documentário com toques de ficção Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (intitulado internacionalmente como The Dead and the Others), dirigido pela brasileira Renée Nader Messora e o português João Salaviza, que conta uma jornada espiritual indígena, venceu o Prêmio do Júri.
À direita, os diretores de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos: João Salaviza e Renée Nader Messora, recebendo o Prêmio do Júri da mostra Un Certain Regard. Pic by Estadão
Co-produzido em parceria com a França e Portugal, o filme Diamantino venceu o Grande Prêmio da mostra da Semana da Crítica. Dirigido pela dupla Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, o filme tem como protagonista uma espécie de Cristiano Ronaldo, jogador de futebol e modelo. E já O Órfão, de Carolina Markowicz, levou o prêmio Queer Palm de Curta-Metragem.
VENCEDORES DA 71ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE CANNES
COMPETIÇÃO
PALMA DE OURO Shoplifters Dir: Hirokazu Kore-eda
GRANDE PRÊMIO DO JÚRI BlacKkKlansman Dir: Spike Lee
PRÊMIO DO JÚRI Capernaum Dir: Nadine Labaki
DIRETOR Pawel Pawlikowski (Cold War)
ATOR Marcello Fonte (Dogman)
ATRIZ Samal Yeslyamova (Ayka)
ROTEIRO Alice Rohrwacher (Happy as Lazzaro) Jafar Panahi, Nader Saeivar (Three Faces)
PALMA DE OURO ESPECIAL Jean-Luc Godard
UN CERTAIN REGARD
PRÊMIO UN CERTAIN REGARD Border Dir: Ali Abbasi
DIRETOR Sergei Loznitsa (Donbass)
ATUAÇÃO Victor Polster (Girl)
ROTEIRO Meryem Benm’Barek (Sofia)
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI João Salaviza & Renée Nader Messora (Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos)
OUTROS PRÊMIOS
CAMERA D’OR Girl Dir: Lukas Dhont
PALMA DE OURO PARA CURTA All These Creatures Dir: Charles Williams
MENÇÃO ESPECIAL PARA CURTA On the Border Dir: Shujun Wei
PRÊMIO DO JÚRI ECUMÊNICO Capernaum Dir: Nadine Labaki
MENÇÃO ESPECIAL DO JÚRI ECUMÊNICO BlacKkKlansman Dir: Spike Lee
QUEER PALM Girl Dir: Lukas Dhont
DIRECTORS’ FORTNIGHT
PRÊMIO ART CINEMA Climax Dir: Gaspar Noé
PRÊMIO SOCIETY OF DRAMATIC AUTHORS AND COMPOSERS The Trouble With You Dir: Pierre Salvadori
EUROPA CINEMAS LABEL Lucia’s Grace Dir: Gianni Zanasi
PRÊMIO ILLY DE CURTA-METRAGEM Skip Day Dir: Patrick Bresnan, Ivete Lucas
SEMANA DA CRÍTICA
GRANDE PRÊMIO Diamantino Dir: Gabriel Abrantes, Daniel Schmidt
PRÊMIO SOCIETY OF DRAMATIC AUTHORS AND COMPOSERS Woman at War Dir: Benedikt Erlingsson
GAN Foundation Award for Distribution Sir
PRÊMIO LOUIS ROEDERER FOUNDATION RISING STAR Felix Maritaud (Sauvage)
CURTA-METRAGEM Hector Malot – The Last Day Of The Year Dir: Jacqueline Lentzou
FIPRESCI
COMPETIÇÃO Burning Dir: Lee Chang-dong
UN CERTAIN REGARD Girl Dir: Lukas Dhont
Directors’ Fortnight/Critics’ Week One Day Dir: Zsófa Szilagyi
CINÉFONDATION
PRIMEIRO PRÊMIO The Summer of the Electric Lion Dir: Diego Céspedes
Penélope Cruz e Javier Bardem em cena de Todos lo Saben, de Asghar Farhadi, que abrirá o Festival de Cannes
SELEÇÃO CONTÉM A PRESENÇA ILUSTRE DE JEAN-LUC GODARD E TRÊS CINEASTAS MULHERES
Olá, pessoal que segue o blog! Após um período de hibernação pós-Oscar, eis que retorno com a divulgação dos filmes selecionados para o Festival de Cannes, que entra em sua 71ª edição, lembrando que a presidente do júri deste ano é a atriz australiana Cate Blanchett.
AINDA SOBRE A NETFLIX
Antes de divagar sobre a seleção em si, gostaria de abrir um breve adendo ainda relacionado à desavença entre Cannes e Netflix, que começou ano passado, quando o então presidente do júri, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, lançou a declaração polêmica de que não premiaria (sem sequer conferir) nenhuma das duas produções da Netflix porque não seriam exibidas na tela grande. Para tentar apaziguar os ânimos, o coordenador de Cannes Thierry Frémaux decidiu que a partir de 2018, os filmes selecionados precisariam necessariamente ser exibidos em salas de cinema.
Após esse destrato, o diretor de conteúdo da Netflix anunciou que ficará de fora do Festival de Cannes este ano. Desse modo, candidatos em potencial como Roma, o novo filme de Alfonso Cuarón, e Norway, de Paul Greengrass, estão descartados. Porém, o problema reside na provável ausência de um dos maiores diretores de todos os tempos: Orson Welles. Sim, aquele mesmo de um tal Cidadão Kane, que é bem cotado pela crítica.
A filha dele, Beatrice Welles, finalizou o último trabalho do pai intitulado The Other Side of the Wind (O Outro Lado do Vento, em tradução livre), que foi filmado na década de 70, mas devido a problemas financeiros teve enormes dificuldades de ser lançado. Até que em 2017, a Netflix comprou os direitos e se comprometeu a fazer um grande lançamento, que seria em Cannes. E agora? Através de um e-mail, Beatrice fez um apelo ao coordenador de Cannes para reconsiderar a respeito da inclusão de produções da plataforma de streaming:
Da esquerda para a direita: John Huston, Orson Welles e Peter Bogdanovich em set de The Other Side of the Wind.
“Fiquei bem chateada e preocupada em ler nos jornais a respeito do conflito com o Festival de Cannes. Tenho que falar pelo meu pai. Eu vi como as grandes companhias de produção destruíram sua vida, seu trabalho, e ao fazê-lo, um pouco do homem que amei tanto. Eu odiaria muito ver a Netflix ser mais uma dessas companhias.”
DISSECANDO A SELEÇÃO
Deixando um pouco a polêmica Arte vs. Distribuição de lado, a seleção de Cannes deste ano apresenta algumas peculiaridades. Dos 18 filmes que competem pela Palma de Ouro, temos apenas dois filmes norte-americanos: BlacKKKlansman, de Spike Lee, e Under the Silver Lake, de David Robert Mitchell, diretor do ótimo Corrente do Mal. Spike Lee não disputava a Palma de Ouro desde 1991 por Febre da Selva, formando um hiato de 27 anos. Com a baixa aderência de americanos, o tapete vermelho não será tão glamoroso com as ausências das celebridades hollywoodianas, mas acredito que este era o objetivo do festival: atrair mais qualidade e menos glamour.
Este ano, temos três filmes dirigidos por mulheres: Eva Husson, Nadine Labacki e Alice Rohrwacher. Embora não tenha alcançado o recorde de 2011, quando houve quatro mulheres, essa porcentagem feminina tem se elevado desde 2000. Sobre o assunto, o Frémaux deu a seguinte declaração: “Em Cannes, nunca teremos uma seleção baseada em uma discriminação positiva em relação às mulheres. Há uma diferença entre as mulheres cineastas e o movimento Me Too.” Claro que Cannes, assim como o Oscar, pode dar uma força ao olhar com mais carinho os filmes dirigidos por mulheres, mas não são obrigados a selecioná-los pensando meramente no politicamente correto. Além disso, novamente eles elegeram uma presidente mulher com o intuito de lançar um olhar feminino na competição e quem sabe possibilitar uma segunda Palma de Ouro para uma cineasta (a primeira foi para Jane Campion e seu belo O Piano em 1993).
Dois dos diretores em competição estão presos em seus respectivos países: o iraniano Jafar Panahi, e o ucraniano Kirill Serebrennikov. Frémaux tentará apelar aos governos desses países para liberá-los e apresentar seus trabalhos na França, mas acredito que não conseguirá, pois os artistas podem pedir exílio político em território estrangeiro.
Ao contrário dos anos anteriores, a seleção deste ano não está recheada de nomes conhecidos dos festivais internacionais. Temos aqui o mestre francês Jean-Luc Godard com Le Livre d’Image, mas a maioria é composta por nomes internacionais emergentes como o polonês Pawel Pawlikowski (que venceu o Oscar por Ida em 2015), o italiano Matteo Garrone (conhecido pelo polêmico Gomorra) e o chinês Jia Zhang-Ke (conhecido por O Mundo e As Montanhas se Separam).
Por motivos desconhecidos, muitos nomes frequentes de Cannes estão ausentes (pelo menos até o momento, já que deve haver a inclusão de mais dois ou três filmes ainda) como Naomi Kawase, Jacques Audiard, Xavier Dolan, Nuri Bilge Ceylan e Olivier Assayas. Existe a possibilidade de seus trabalhos não terem conseguido finalizar a tempo do prazo do festival, mas também uma decisão de apostar em novos talentos.
Entre os nomes por hora excluídos, mas que podem surgir ainda, está o dinamarquês Lars von Trier, aquele mesmo que foi banido do festival em 2011 por ter feito comentários de teor nazista e defendido Hitler. Ele tem um filme bastante polêmico a ser lançado este ano: The House that Jack Built, no qual Matt Dillon interpreta um serial killer que mata mais de 12 pessoas e consegue ocultar os corpos. Alguns comentários de pessoas que já teriam visto alegam que existem fortes cenas de brutalidade e violência. Outros excluídos bastante citados são os britânicos Mike Leigh, que tem o drama histórico Peterloo, e Terry Gilliam com seu eterno The Man Who Killed Don Quixote, que não teria sido selecionado por legais.
SESSÕES ESPECIAIS
Vale lembrar que haverá pelo menos uma sessão de 2001: Uma Odisséia no Espaço em homenagem aos 50 anos de seu lançamento em 1968. O diretor britânico Christopher Nolan, bastante fã do filme, será host desta sessão. Esperamos que essa empolgação chegue a alguma sala aqui no Brasil, já que a ficção científica de Kubrick merece ser visto na tela grande e com som de ótima qualidade.
Ainda sobre homenagens, o diretor brasileiro Cacá Diegues terá seu novo filme exibido fora de competição. O Grande Circo Místico, sobre uma família austríaca que mantém um circo, estrelado por Jesuíta Barbosa, Bruna Linzmeyer e Antônio Fagundes, terá sessão especial no festival. Cacá Diegues já competiu pela Palma de Ouro em três oportunidades com Bye Bye Brasil (1980), Quilombo (1984) e Um Trem Para as Estrelas (1987), mas nunca levou.
Jesuíta Barbosa e Bruna Linzmeyer em cena de O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues
E importante citar que outro cineasta brasileiro estará presente em Cannes. Joe Penna, nascido em São Paulo, residente nos EUA, que ficou conhecido por seu canal no YouTube, realizou seu primeiro longa-metragem intitulado Arctic, sobre um homem aguardando resgate no Ártico. Logo em seu projeto de estréia, conseguiu a presença marcante do ótimo Mads Mikkelsen, conhecido por viver Hannibal Lecter na série de TV, e que venceu o prêmio de Ator em Cannes pelo ótimo A Caça.
Cena de Arctic, de Joe Penna, estrelado por Madds Mikkelsen
INDICADOS À PALMA DE OURO:
Everybody Knows – FILME DE ABERTURA
Dir: Asghar Farhadi
En Guerre (At War)
Dir: Stephane Brize
Dogman
Dir: Matteo Garrone
Le Livre d’Image
Dir: Jean-Luc Godard
Netemo Sametemo (Asako I & II)
Dir: Ryusuke Hamaguchi
Plaire Aimer et Courir Vite (Sorry Angel)
Dir: Christophe Honore
Les Filles du Soleil (Girls of the Sun)
Dir: Eva Husson
Ash Is Purest White
Dir: Jia Zhang-Ke
Shoplifters
Dir: Kore-Eda Hirokazu
Capharnaum
Dir: Nadine Labaki
Buh-Ning (Burning)
Dir: Lee Chang-Dong
BlacKKKlansman
Dir: Spike Lee
Under the Silver Lake
Dir: David Robert Mitchell
Three Faces
Dir: Jafar Panahi
Zimna Wojna (Cold War)
Dir: Pawel Pawlikowski
Lazzaro Felice
Dir: Alice Rohrwacher
Yomeddine
Dir: A.B. Shawky
Leto
Dir: Kirill Serebrennikov
FORA DE COMPETIÇÃO
Solo: A Star Wars Story
Dir: Ron Howard
Le Grand Bain
Dir: Gilles Lelouche
SESSÕES ESPECIAIS
10 Years in Thailand
Dir: Aditya Assarat, Wisit Sasanatieng, Chulayarnon Sriphol e Apichatpong Weerasthakul
The State Against Mandela and the Others
Dir: Nicolas Champeaux e Gilles Porte
O Grande Circo Místico (The Great Mystical Circus)
Dir: Carlos Diegues
La Traversee
Dir: Romain Goupil
A Touts Vents (To the Four Winds)
Dir: Michel Toesca
Les Ames Mortes (Dead Souls)
Dir: Wang Bing
Pope Francis – A Man of His Word
Dir: Wim Wenders
MIDNIGHT SCREENINGS
Arctic
Dir: Joe Penna
Gongjak (The Spy Gone North)
Dir: Yoon Jong-Bing
UN CERTAIN REGARD
Grans (Border)
Dir: Ali Abbasi
Sofia
Dir: Meyem Benm’Barek
Les Chatouilles (Little Tickles)
Dir: Andrea Bescond & Eric Metayer
Long Day’s Journey Into Night
Dir: Bi Gan
Manto
Dir: Nandita Das
A Genoux les Gars (Sextape)
Dir: Antoine Desrosieres
Girl
Dir: Lukas Dhont
Guele d’Ange (Angel Face)
Dir: Vanessa Filho
Euphoria
Dir: Valeria Golino
Mon Tissu Prefere (My Favorite Fabric)
Dir: Gaya Jiji
Rafiki (Friend)
Dir: Wanuri Kahiu
Die Stropers (The Harvesters)
Dir: Etienne Kallos
In My Room
Dir: Ulrich Kohler
El Angel
Dir: Luis Ortega
The Gentle Indifference of the World
Dir: Adilkhan Yerzhanov
***
O Festival de Cannes se inicia no dia 8 de Maio e termina no dia 19, quando devem ser anunciados os vencedores eleitos pelo júri.
Fotografia de Roger Deakins em Blade Runner 2049 (pic by imdb.com)
BLADE RUNNER 2049 É O FRANCO-FAVORITO
A American Society of Cinematographers (ASC), sindicato dos diretores de fotografia, revelou seus indicados para cinema e televisão na última terça, dia 09.
Como esperado, o vencedor de três prêmios, Roger Deakins, recebeu sua 15ª indicação pelo belíssimo trabalho em Blade Runner 2049. Ele venceu em três oportunidades: em 1995 por Um Sonho de Liberdade, 2002 por O Homem que Não Estava Lá, e 2013 por 007 – Operação Skyfall. Se sua quarta vitória se confirmar, ele tem a grande chance de ganhar seu primeiro Oscar após 13 indicações.
Fotografia de Bruno Delbonnel em O Destino de uma Nação (pic by imdb.com)
Pois é, um absurdo que finalmente deve ser eliminado da história da Academia. E com sua provável premiação, o Oscar também vai reconhecer por tabela a fotografia marcante de luzes de neon de Jordan Cronenweth do primeiro Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982), que sequer foi indicado na época. Pra mim, Deakins já deveria ter vencido umas duas ou três vezes.
Fotografia de Rachel Morrison em Mudbound (pic by imdb.com)
Roger Deakins compete no ASC com Bruno Delbonnel (O Destino de uma Nação), Hoyte van Hoytema (Dunkirk), Dan Laustsen (A Forma da Água) e Rachel Morrison (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi). Morrison se torna a primeira diretora de fotografia indicada na história do prêmio, e se for reconhecida também pela Academia, seria a primeira na história do Oscar, a primeira em 90 anos.
Única película: Fotografia de Hoyte van Hoytema em Dunkirk (pic by imdb.com)
Pra quem se interessa por curiosidades, Hoytema é o único entre os cinco indicados que usou película para filmar, mais precisamente com a câmera IMAX. Os demais optaram por material digital, que tem sido a tendência econômica e artística dos filmes.
Fotografia de Dan Laustsen em A Forma da Água (pic by imdb.com)
Desde 2013, o sindicato também tem reconhecido fotografia de filmes menores através da categoria Spotlight, que já premiou os vencedores do Oscar de Filme em Língua Estrangeira, O Filho de Saul e Ida. Seguindo a “tradição”, este ano temos o representante da Hungria, Máté Herbai por Corpo e Alma, e o russo Mikhail Krichman por Desamor.
Pelas categorias de televisão, as séries Game of Thrones e 12 Monkeys conquistaram duas indicações cada.
INDICADOS AO AMERICAN SOCIETY OF CINEMATOGRAPHERS (ASC):
• Roger Deakins (Blade Runner 2049)
• Bruno Delbonnel (O Destino de uma Nação)
• Hoyte van Hoytema (Dunkirk)
• Dan Laustsen (A Forma da Água)
• Rachel Morrison (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi)
INDICADOS AO PRÊMIO SPOTLIGHT:
• Máté Herbai (Corpo e Alma)
• Mikhail Krichman (Desamor)
• Mart Taniel (November)
TELEVISÃO
Episode of a Series for Non-Commercial Television
Gonzalo Amat (The Man in the High Castle) Ep: “Land O’ Smiles”
Adriano Goldman (The Crown) Ep: “Smoke and Mirrors”
Robert McLachlan (Game of Thrones) Ep: “The Spoils of War”
Gregory Middleton (Game of Thrones) Ep: “Dragonstone”
Alasdair Walker (Outlander) Ep: “The Battle Joined”
Episode of a Series for Commercial Television
Dana Gonzales (Legion) Ep: “Chapter 1”
David Greene (12 Monkeys) Ep: “Mother”
Kurt Jones (The Originals) Ep: “Bag of Cobras”
Boris Mojsovski (12 Monkeys) Ep: “Thief”
Crescenzo Notarile (Gotham) Ep: “The Executioner”
Motion Picture, Miniseries, or Pilot Made for Television
Pepe Avila del Pino (The Deuce) Ep: Pilot
Serge Desrosiers (Sometimes the Good Kill)
Mathias Herndl (Genius) Ep: “Chapter 1”
Shelly Johnson (Training Day) Ep: Pilot – “Apocalypse Now”
Christopher Probst (Mindhunter) Ep: Pilot
***
Vencedores serão conhecidos no dia 17 de fevereiro.
O diretor Pawel Pawlikowski posa com seu Oscar de Filme em Língua Estrangeira este ano por Ida (photo by thehindubissinessline.com)
COM INSCRIÇÕES TERMINADAS, COMEÇAM AS ESPECULAÇÕES
Apesar de não ter havido quebra de recordes, 81 filmes foram selecionados para a disputa pelo Oscar de Filme de Língua Estrangeira, dois a menos do que o ano anterior com 83. A novidade deste ano atende pelo nosso vizinho Paraguai, que inscreveu um longa-metragem pela primeira vez ao prêmio. Embora as chances de vitória não sejam lá das maiores, é bacana ver mais um país latino concorrendo com uma obra que representa sua cultura, e também vale lembrar que a própria Academia tem se demonstrado mais aberta às produções de países sem muito histórico cinematográfico. Nesse ano, por exemplo, a Mauritânia e a Estônia receberam suas primeiras indicações por Timbuktu e Tangerinas, respectivamente. Então por que não sonhar com uma vaga?
E O BRASIL?
O Brasil corre atrás de sua 5ª indicação na categoria, algo que não acontece desde o longínquo ano de 1999, quando Central do Brasil perdeu para o italiano A Vida é Bela. O MinC selecionou a ‘dramédia’ Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, que ganhou o título internacional de The Second Mother, em referência ao personagem central de Regina Casé, que vive uma empregada doméstica que cuida do filho dos patrões como se fosse seu.
Cena de Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, presentante do Brasil este ano (photo by cine.gr)
O filme funciona bem como crítica social e um retrato das classes brasileiras, assim como comédia graças à atuação de Casé. Ganhou prêmios importantes em festivais como o de Sundance e Berlim, o que sempre ajuda na campanha e também na conquista do próprio público brasileiro que costuma olhar com mais atenção as produções premiadas, mas ainda está bem longe da própria campanha vitoriosa de Central do Brasil. A seleção de Que Horas Ela Volta? me agrada por representar bem o que acontece no país, o que não deixa de ser uma decisão corajosa, mas em termos de chances reais, acredito que o Brasil terá de esperar mais um ano ainda por uma nova indicação.
FAVORITOS ATÉ O MOMENTO
Em se tratando de Oscar de Filme em Língua Estrangeira, digamos que é uma caixinha de surpresas. Às vezes acontece de haver um franco-favorito como o iraniano A Separação ou o austríaco Amor, mas na maioria das vezes a Academia gosta de surpreender, infelizmente pra pior. São raríssimos os casos em que me surpreendi positivamente como quando o argentino O Segredo dos Seus Olhos e do alemão A Vida dos Outros levaram o prêmio batendo os favoritos.
Nessa altura do campeonato ainda é difícil prever os reais favoritos. Muitas vezes a gente se baseia em participações e premiações em grandes festivais como Cannes e Veneza, mas nada é 100% garantido. Ano passado, muitos apostaram no turco Winter Sleep como dono de uma das indicações por ter levado a Palma de Ouro, mas acabou nem passando pras semi-finais. Mas, se existe algum tipo de certeza, o chamado ‘Oscar lock’, este seria o representante húngaro O Filho de Saul, de László Nemes. Além de ter levado o Grande Prêmio do Júri em Cannes, tem o elemento-chave para quase todo filme vencedor desta categoria: 2ª Guerra Mundial e Judeus.
Cena de O Filho de Saul, ainda sem previsão de estréia no Brasil (photo by cine.gr)
A trama do filme se passa em 1944, no campo de concentração de Auschwitz, onde o prisioneiro Saul tem a ingrata tarefa de queimar os corpos de seus colegas até encontrar o corpo daquele que acredita ser seu filho. O filme tem toda a receita pronta para ganhar a estatueta. Podem me cobrar em fevereiro: O Filho de Saul vai ganhar o Oscar.
Além do húngaro, existem alguns filmes que estão sendo bem comentados pela crítica internacional e devem figurar pelo menos na lista dos semi-finalistas, graças ao comitê executivo criado pelo produtor Mark Johnson. Explico. Depois que o super bem criticado filme romeno 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, de Cristian Mungiu, ficou de fora da categoria de Filme em Língua Estrangeira de 2008, a Academia criou com a ajuda de Johnson um comitê responsável por selecionar três títulos na lista dos nove semi-finalistas para que não dependam exclusivamente dos votos dos velhinhos judeus que assistem às sessões dos filmes estrangeiros. Foi graças aos esforços desse comitê que filmes mais ousados foram indicados como o grego Dente Canino em 2010. Acredito que se esse comitê tivesse existido desde o início dos anos 2000, filmes muito bons porém violentos teriam sido indicados como o brasileiro Cidade de Deus e o sul-coreano Oldboy.
Enfim, águas passadas. Agora o comitê tem a chance de promover mais três filmes relevantes no cenário internacional. Eles têm o chileno O Clube, que tem um tema polêmico de padres católicos que se isolam numa casa após cometerem abuso sexual com menores. O filme é dirigido por Pablo Larraín, anteriormente indicado por No; Tem o sueco Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência, que ganhou o Leão de Ouro de 2014 e tem o nome do diretor veterano Roy Andersson pra ajudar; E de Taiwan, The Assassin concorre como filme mais belo visualmente e a Academia tem uma chance de ouro para premiar um dos melhores diretores asiáticos da atualidade: Hou Hsiao-Hsien, que levou o prêmio de Direção em Cannes este ano. Caso o filme asiático não passe, existe uma boa possibilidade de concorrer nas categorias de Figurino e Direção de Arte.
Bela cena de The Assassin, de Hou Hsiao-Hsien (photo by cine.gr)
Cena de Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência, de Roy Andersson. (photo by cine.gr)
Cena de O Clube, de Pablo Larraín (photo by cine.gr)
Outro representante bem comentado foi o português As Mil e uma Noites: Vol. 2, o Desolado, de Miguel Gomes. Trata-se da segunda parte da trilogia baseada na obra anônima de contos, pelo qual o diretor busca fazer críticas à política econômica atual de seu país. Ao contrário do que acontece com todos os filmes divididos em volumes, esta trilogia toda foi lançada no mesmo ano, totalizando mais de 6 horas de filme. A escolha pelo segundo volume foi uma aposta dos organizadores em Portugal, muito provavelmente para instigar ainda mais os votantes a conferir os demais filmes da trilogia.
Cena de As Mil e uma Noites,: Vol. 2, O Desolado, de Miguel Gomes (photo by outnow.ch)
Vale também citar aqui o filme romeno Aferim!, de Radu Jude, que levou o Urso de Prata de Melhor Diretor no último Festival de Berlim. Filmado em preto-e-branco, esse western moderno romeno se passa no século XIX, e apresenta uma trama de captura de um escravo cigano que teve um caso com a esposa de seu dono. Seria uma forma de crítica ao escravismo de que persiste na Romênia atual. Apresenta uma bela fotografia PB e pode surpreender.
Cena de Aferim!, de Radu Jude (photo by outnow.ch)
MINHA TORCIDA
Como muitos sabem, gosto de defender material diferente no Oscar, especialmente quando o candidato possui características diferentes, criativas, bizarras. Apesar de não ter visto ainda, o representante da Áustria deste ano parece ter todos esses elementos citados. Goodnight Mommy é sobre dois meninos gêmeos que se mudam para uma nova casa com sua mãe depois que ela passa por uma cirurgia plástica facial. Coberto por ataduras no rosto, a mãe se torna irreconhecível pelos filhos.
Cena do terror psicológico Goodnight Mommy, de Severin Fiala e Veronika Franz (photo by outnow,ch)
Existe uma bizarrice que lembra o do grego Dente Canino, mas é nitidamente um filme de terror psicológico, daqueles excelentes que Roman Polanski costumava fazer nos anos 60 e 70. Caso o filme austríaco seja reconhecido por prêmios da crítica americana, existe uma boa chance de ser defendido pelo comitê, caso contrário, não deve passar de uma ótima e corajosa tentativa.
Confira o trailer:
Segue a lista com os 81 filmes inscritos oficialmente para a 88ª edição do Academy Awards:
• AFEGANISTÃO:Utopia
Dir: Hassan Nazer
• ÁFRICA DO SUL: The Two of Us
Dir: Ernest Nkosi
• ALBÂNIA:Bota
Dir: Iris Elezi & Thomas Logoreci
• ALEMANHA: Labirinto de Mentiras (Im Labyrinth des Schweigens)
Dir: Giulio Ricciarelli
• ARGÉLIA:Twilight of Shadows
Dir: Mohamed Lakhdar Hamina
• ARGENTINA:The Clan (El Clan)
Dir: Pablo Trapero
• AUSTRÁLIA:Arrows of the Thunder Dragon
Dir: Greg Sneddon
• ÁUSTRIA:Goodnight Mommy
Dir: Veronika Franz & Severin Fiala
• BANGLADESH:Jalal’s Story
Dir: Abu Shahed Emon
• BÉLGICA:The Brand New Testament
Dir: Jaco Van Dormael
• BÓSNIA HERZEGOVINA:Our Everyday Story
Dir: Ines Tanović
• BRASIL:Que Horas Ela Volta? (The Second Mother)
Dir: Anna Muylaert
• BULGÁRIA:The Judgment
Dir: Stephan Komandarev
• CAMBOJA:The Last Reel
Dir: Sotho Kulikar
• CANADÁ:Félix and Meira
Dir: Maxime Giroux
• CAZAQUISTÃO: Stranger
Dir: Yermek Tursunov
• CHILE:O Clube (El Club)
Dir: Pablo Larraín
• CHINA:Go Away Mr. Tumor
Dir: Han Yan
• COLÔMBIA:O Abraço da Serpente (El Abrazo de la Serpiente)
Dir: Ciro Guerra
• CORÉIA DO SUL: The Throne
Dir: Lee Joon-ik
• COSTA DO MARFIM: Run
Dir: Philippe Lacôte
• COSTA RICA:Imprisoned
Dir: Esteban Ramírez
• CROÁCIA:The High Sun
Dir: Dalibor Matanić
• DINAMARCA:Guerra (Krigen)
Dir: Tobias Lindholm
• ESLOVÁQUIA:Goat
Dir: Ivan Ostrochovský
• ESLOVÊNIA: The Tree
Dir: Sonja Prosenc
• ESPANHA: Flowers
Dir: Jon Garaño & Jose Mari Goenaga
• ESTÔNIA:1944
Dir: Elmo Nüganen
• ETIÓPIA:Cordeiro (Lamb)
Dir: Yared Zeleke
• FILIPINAS:Heneral Luna
Dir: Jerrold Tarog
• FINLÂNDIA:The Fencer
Dir: Klaus Härö
• FRANÇA:Mustang
Dir: Deniz Gamze Ergüven
• GEORGIA:Moira
Dir: Levan Tutberidze
• GRÉCIA:Xenia
Dir: Panos H. Koutras
• GUATEMALA:Ixcanul
Dir: Jayro Bustamante
• HOLANDA: The Paradise Suite
Dir: Joost van Ginkel
• HONG KONG:To the Fore
Dir: Dante Lam
• HUNGRIA:O Filho de Saul (Saul Fia)
Dir: László Nemes
• ÍNDIA:Court
Dir: Chaitanya Tamhane
• IRÃ:Muhammad: The Messenger of God
Dir: Majid Majidi
• IRAQUE:Memories on Stone
Dir: Shawkat Amin Korki
Pôster do 72º Festival de Veneza com Nastassja Kinski e Jean-Pierre Léaud.
FESTIVAL CONTA COM SELEÇÃO QUE MISTURA NOMES CONSAGRADOS COM NOMES EM ASCENSÃO
Nesse último dia 29 de julho, o Festival de Veneza anunciou sua seleção oficial para esta edição de nº 72. A homenageada deste ano é a atriz alemã Nastassja Kinski, cujo retrato estampa o pôster do evento. Ao fundo, o jovem personagem Antoine Doinel dos filmes de François Truffaut indica a homenagem ao ator Jean-Pierre Léaud.
Para avaliar e premiar as produções selecionadas, o júri será presidido pelo diretor mexicano Alfonso Cuarón, que foi o primeiro latino a ganhar o Oscar de Direção por Gravidade em 2014. Ele contará com a colaboração de outros diretores como o turco Nuri Bilge Ceylan (que ganhou a Palma de Ouro com Winter Sleep), o polonês Pawel Pawlikowski (que ganhou o Oscar de Filme em Língua Estrangeira com Ida), a britânica Lynne Ramsay, o chinês Hou Hsiao-Hsien (que já levou o Leão de Ouro em 1989 por A Cidade do Desencanto) e o italiano Francesco Munzi. Além dos diretores, as atrizes Elizabeth Banks e Diane Kruger e o roteirista Emmanuel Carrère participarão do júri.
O presidente do júri Alfonso Cuarón (photo by cineuropa.org)
Embora não se confirme, com Cuarón na presidência, os concorrentes latino-americanos acabam ganhando algum status de favoritos. Pior para o Brasil que não teve nenhum representante na seleção oficial, aliás, fato que não ocorre há tempos. Felizmente, para não passar em branco na cerimônia, o país conta com dois longas na mostra paralela Orizzonti (Horizontes): Boi Neon, de Gabriel Mascaro; e Mate-me Por Favor, da estreante carioca Anita Rocha da Silveira. Além dos longas, o curta-metragem paranaense de Aly Muritiba e Marja Calafange, Tarântula, também integrará a mostra.
Cena do longa brasileiro Mate-Me Por Favor, de Anita Rocha da Silveira (photo by reicine.com.ar)
Já os latino-americanos marcam presença com um total de nove produções, tendo duas concorrendo ao prêmio máximo: Desde Allá, de Lorenzo Vigas (México – Venezuela), e El Clan, do argentino Pablo Trapero. O primeiro foca na busca de um homem de 50 anos por jovens para passar uma noite, enquanto o segundo se baseia em fatos verídicos sobre uma família que tinha uma loja e um bar para praticar sequestros, extorsões e até assassinatos na época da ditadura militar na Argentina.
Cena de Desde Allá, de Lorenzo Vigas (photo by filmaffinity.com)
O diretor do festival, Alberto Barbera confirmou o bom momento do cinema latino-americano: “O que há de mais fresco e inovador no cinema hoje em dia vem da América Latina. Finalmente, além da quantidade, há qualidade. São filmes que surpreendem.”
Cena do filme argentino El Clan, de Pablo Trapero (photo by cine.gr)
Na corrida pelo Leão de Ouro, outros nomes já figuram como fortes candidatos. O italiano Marco Bellochio (Sangue del Mio Sangue) é considerado um dos cineastas mais influentes dessa geração e deve estar na lista de premiados. O canadense Atom Egoyan (Remember), o norte-americano Cary Fukunaga, que ficou conhecido pela série de TV True Detective (Beasts of No Nation), o israelense Amos Gitai (Rabin, the Last Day), o italiano Luca Guadagnino (A Bigger Splash), o russo Aleksandr Sokurov, que levou o prêmio por Fausto em 2011 (Francofonia), e os hollywoodianos Charlie Kaufman, que traz a animação de comédia e fantasia Anomalisa, e o britânico Tom Hooper, que dirigiu The Danish Girl, sobre um dos primeiros homens que passaram por cirurgia de troca de sexo.
Além de The Danish Girl, outro grande favorito ao Oscar 2016, Aliança do Crime (Black Mass), de Scott Cooper, será exibido em Veneza, mas fora de competição. Ambos os filmes apresentam dois fortíssimos candidatos ao Oscar de Melhor Ator: Pelo primeiro, Eddie Redmayne em outro papel transformador, e pelo segundo, Johnny Depp, caracterizado como o criminoso Bill Bulger com sua aparência calva e grisalha.
Eddie Redmayne caracterizado como The Danish Girl (photo by cine.gr)
Johnny Depp como Bill Bulger em Aliança do Crime (photo by independent.co.uk)
O 72º Festival de Veneza acontece entre os dias 02 e 12 de setembro.
INDICADOS AO LEÃO DE OURO:
FRENZY (Abluka), de Emin Alper
HEART OF A DOG, de Laurie Anderson
SANGUE DEL MIO SANGUE, de Marco Bellocchio
LOOKING FOR GRACE, de Sue Brooks
EQUALS, de Drake Doremus
REMEMBER, de Atom Egoyan
BEASTS OF NO NATION, de Cary Fukunaga
PER AMOR VOSTRO, Giuseppe M. Gaudino
MARGUERITE, de Xavier Giannoli
RABIN, THE LAST DAY, de Amos Gitai
A BIGGER SPLASH, de Luca Guadagnino
THE ENDLESS RIVER, Oliver Hermanus
THE DANISH GIRL, de Tom Hooper
ANOMALISA, de Charlie Kaufman e Duke Johnson
L’ATTESA, Piero Messina
11 MINUTES (11 Minuts), de Jerzy Skolimowski
FRANCOFONIA, de Aleksandr Sokurov
EL CLAN, Pablo Trapero
DESDE ALLÁ, Lorenzo Vigas
L’HERMINE, de Christian Vincent
BEHEMOTH, Zhao Liang
Idris Elba em cena de Beasts of No Nation, de Cary Fukunaga (photo by cine.gr)
MOSTRA HORIZONTES (ORIZZONTI)
Madame Courage, de Merzak Allouache A Copy of My Mind, de Joko Anwar Pecore in erba, de Alberto Caviglia Tempete, de Samuel Collardey The Childhood of a Leader, de Brady Corbet Italian Gangster, de Renato De Maria Wednesday, May 9, de Vahid Jalilvand Mountain, de Yaelle Kayam A War, de Tobias Lindholm Interrogation, de Vetri Maaran Free in Deed, de Jake Mahaffy Boi Neon, de Gabriel Mascaro Man Down, de Dito Montiel Why Hast Thou Forsaken Me?, de Hadar Morag Un monstruo de mil cabezas, de Rodrigo Pla Mate-me Por Favor, de Anita Rocha Da Silveira Taj Mahal, de Nicolas Saada Interruption, de Yorgos Zois