DOCUMENTÁRIO ‘ALL THE BEAUTY AND THE BLOODSHED’ LEVA o LEÃO DE OURO em VENEZA. CATE BLANCHETT e COLIN FARRELL SÃO ELEITOS os MELHORES ATORES

‘Bones and All’, de Luca Guadagnino e ‘The Banshees of Inisherin’, de Martin McDonagh, levaram dois prêmios cada

Pra quem acompanhou a cobertura do 79º Festival de Cinema de Veneza, havia alguns fortes candidatos para conquistar os principais prêmios desta edição, mas apesar dos ótimas críticas a All the Beauty and the Bloodshed, poucos esperavam a vitória de um documentário. A documentarista Laura Poitras, que já havia ganhado o Oscar de Melhor Documentário em 2015 por Cidadãoquatro (sobre o analista de sistemas acusado de espionagem Edward Snowden), acompanha a luta da fotógrafa americana Nan Goldin (que ganhou fama nos anos 70 e 80 por registrar o submundo das drogas e sexo em Nova York) contra a família bilionária Sackler, que patrocina inúmeros museus internacionais com a venda de remédios altamente viciantes que já teriam causado a morte de mais de 400 mil pessoas.

Obviamente, a premiação impulsionará a campanha de All the Beauty and the Bloodshed ao Oscar de Melhor Documentário em 2023, mas alguns críticos já estão projetando uma possível indicação do documentário a Melhor Filme também, algo inédito na história da Academia. Pra quem duvida, vale lembrar que a distribuidora encarregada da campanha será a NEON, que levou Parasita ao Oscar de Melhor Filme. E, a título de curiosidade histórica, esta é a 3ª vitória de uma cineasta mulher no Festival de Veneza depois de Chloé Zhao (Nomadland) e Audrey Diwan (O Acontecimento).

O júri, presidido pela atriz Julianne Moore, concedeu o Grande Prêmio do Júri para a franco-senegalesa Alice Diop por Saint Omer. Neste drama de tribunal, uma escritora decide acompanhar o julgamento de Laurence Coly, acusada de ter matado seu próprio filho, para escrever uma adaptação livre de ‘Medéia’. Já o Prêmio do Júri ficou com o iraniano (ainda preso em seu país) Jafar Panahi por No Bears, um drama que apresenta duas histórias de amor.

Logo no início do festival, quando Tár foi exibido, a performance de Cate Blanchett colheu incontáveis elogios da crítica internacional. Neste estudo de personagem, a atriz interpreta uma tirânica regente de uma orquestra, com destaque para suas mudanças de humor. Mesmo com a presença super aguardada de Ana de Armas e a cinebiografia de Marilyn Monroe, Blonde, o júri não conseguiu resistir aos talentos de Blanchett e lhe conferiu seu 2º Volpi Cup de Melhor Atriz (o primeiro foi em 2008 por Não Estou Lá), igualando-se a outras atrizes fenomenais como Isabelle Huppert e Shirley MacLaine.

Para o Volpi Cup de Melhor Ator, a divisão era entre Brendan Fraser por The Whale e Hugh Jackman por The Son, ambos muito ovacionados após suas sessões em Veneza, mas quem acabou ficando com o reconhecimento foi Colin Farrell por sua nova colaboração com o diretor Martin McDonagh (que também levou o prêmio de Roteiro) em The Banshees of Inisherin. Nesta comédia de humor negro, dois melhores amigos se encontram num impasse quando um deles decide terminar a relação, gerando consequências graves para ambos. Farrell já havia ganhado o Globo de Ouro pelo ótimo Na Mira do Chefe (2008), mas foi ignorado pela Academia. Será que desta vez ele será levado a sério? Apesar do prêmio em Veneza, acredito que Fraser e Jackman têm mais chances de conquistar uma indicação ao Oscar.

Já o novo filme do italiano Luca Guadagnino, Bones and All, que retrata uma história de amor até as últimas consequências, levou dois prêmios: Direção e o prêmio Marcello Mastroianni para jovens atores para Taylor Russell, do bom As Ondas, mas conhecida pelos filmes de terror Escape Room. Tomara que este prêmio lhe abra portas para personagens mais instigantes com diretores de renome.

LISTA COMPLETA DOS VENCEDORES DA 79ª EDIÇÃO DE VENEZA

COMPETIÇÃO
Leão de Ouro: “All the Beauty and the Bloodshed,” Laura Poitras
Grande Prêmio do Júri: “Saint Omer,” Alice Diop
Leão de Prata de Melhor Director: “Bones and All,” Luca Guadagnino
Prêmio Especial do Júri: “No Bears,” Jafar Panahi
Melhor Roteiro: “The Banshees of Inisherin,” Martin McDonagh
Volpi Cup de Melhor Atriz: “Tár,” Cate Blanchett
Volpi Cup de Melhor Ator: “The Banshees of Inisherin,” Colin Farrell
Prêmio Marcello Mastroianni para Jovem Ator ou Atriz: “Bones and All,” Taylor Russell

MOSTRA HORIZONTE
Melhor Filme: 
“World War III,” Houman Seyyedi
Melhor Diretor: “Vera,” Tizza Covi e Rainer Frimmel
Prêmio Especial do Júri: “Bread and Salt,” Damian Kocur
Melhor Atriz: “Vera,” Vera Gemma
Melhor Ator: “World War III,” Mohsen Tanabandeh
Melhor Roteiro: “Blanquita,” Fernando Guzzoni
Melhor Curta-Metragem: “Snow in September,” Lkhagvadulam Purev-Ochir

LEÃO DO FUTURO
Luigi de Laurentiis Award for Best Debut Feature: 
“Saint Omer,” Alice Diop

HORIZONTE EXTRA
Prêmio do Público: “Nezouh,” Soudade Kaadan

CLÁSSICOS DE VENEZA
Melhor Documentário de Cinema: “Fragments of Paradise,” K.D. Davison
Melhor FIlme Restaurado: “Branded to Kill,” Seijun Suzuki

VENEZA IMERSIVA
Melhor Experiência Imersiva: “The Man Who Couldn’t Leave,” Chen Singing
Grande Prêmio do Júri: “From the Main Square,” Pedro Harres
Prêmio Especial do Júri: “Eggscape,” German Heller

DIAS DE VENEZA
Prêmio Cinema do Futuro: 
“The Maiden,” Graham Foy
Prêmio do Diretor: “Wolf and Dog,” Cláudia Varejão
People’s Choice Award: “Blue Jean,” Georgia Oakley

SEMANA DA CRÍTICA
Grande Prêmio: 
“Eismayer,” David Wagner
Menção Especial: “Anhell69,” Theo Montoya
Prêmio do Público: “Margini,” Niccolò Falsetti
Verona Film Club Award: “Anhell69,” Theo Montoya
Mario Serandrei – Hotel Saturnia Award for Best Technical Contribution: “Anhell69,” Theo Montoya
Melhor Curta-Metragem: “Puiet,” Lorenzo Fabbro and Bronte Stahl
Melhor Diretor (Curta): “Albertine Where Are You?,” Maria Guidone
Melhor Contribuição Técnica (Curta): “Reginetta,” Federico Russotto

SELEÇÃO OFICIAL do RETORNO do FESTIVAL DE CANNES!

FESTIVAL INTERNACIONAL RETORNA APÓS HIATO PANDÊMICO

Dentre todos os festivais mais famosos, Cannes foi o mais prejudicado pela pandemia, pois foi o único que teve que cancelar sua edição anterior. Por esse motivo, o diretor artístico Thierry Frémaux caprichou na seleção desta edição e se mostrou bastante animado para revelá-la.

Além de nomes consagrados como Wes Anderson, Leos Carax, Sean Baker, Asghar Farhadi e Paul Verhoeven, temos o retorno de vencedores da Palma de Ouro: Jacques Audiard, Nanni Moretti e Apichatpong Weerasethakul. Além disso, novamente temos presença de quatro diretoras na competição, recorde igual a de 2019: a húngara Ildikó Enyedi, as francesas Julia Ducornau, Mia Hansen-Løve e Catherine Corsini.

Apesar do retorno gradual do público aos cinemas nos EUA devido à vacinação avançada, a Europa ainda vive uma incerteza em relação ao Covid com a chegada de novas variantes, por isso Fremaux teve de adiar o festival em dois meses (de Maio para Julho), organizar tudo de acordo com medidas sanitárias e convencer os cineastas consagrados a cederem seus filmes para exibição.

É possível que muitos atores de Hollywood (como o elenco do novo filme de Wes Anderson, The French Dispatch) marquem presença na França, pois muitos já devem ter se vacinado, então é bem possível que tenhamos Tilda Swinton, Timothée Chalamet e Bill Murray no tapete vermelho de Cannes. Nesta edição, além das tradicionais mostras Un Certain Regard, Fora de Competição e Midnight Screenings, Fremaux também criou uma nova seção intitulada Cannes Premiere, que seria um espaço para que outros autores tenham um local seguro para exibirem seus novos filmes fora da competição, aproveitando projetos que ficaram na fila por causa da pandemia.

Cannes deve estar muito excitada com o retorno do festival, pois seus organizadores apoiam o tradicional sistema de salas de cinema e a ampla janela de 90 dias para a chegada dos filmes via streaming ou locação, algo completamente oposto ao sistema da Netflix e companhia que lançou novos filmes diretamente na plataforma digital e normalizaram seu método durante a pandemia. Melhor para o Festival de Veneza, que recebe os filmes da Netflix e Amazon de braços abertos e tem se tornado novo parâmetro dos filmes do Oscar seguinte, como tem acontecido com os vencedores do Leão de Ouro: A Forma da Água, Coringa e Nomadland.

Sobre a competição, os filmes selecionados são bastante promissores como os novos filmes de Sean Baker e Leos Carax. Seria bacana uma das quatro diretoras ganhar, pois seria o segundo filme dirigido por uma mulher a vencer a Palma de Ouro depois de O Piano em 1993. Mas particularmente, gostaria muito que o holandês Paul Verhoeven saísse com o prêmio pelo filme com freiras, e aumentasse suas chances de finalmente levar um Oscar, principalmente depois daquele absurdo de Elle sequer ter sido indicado ao Oscar de Filme em Língua Estrangeira em 2017. MAS… o presidente do júri será o diretor Spike Lee, que deve valorizar questões raciais nas produções.

Destaque para o único brasileiro nesta edição: Karim Aïnouz, que venceu o prêmio Un Certain Regard em 2019 por A Vida Invisível. Ele retorna com O Marinheiro das Montanhas, um diário de viagem da primeira visita do diretor à Argélia, país que seu pai nasceu. O filme será exibido na mostra de Sessões Especiais.

COMPETIÇÃO OFICIAL (PALMA DE OURO)

“Ahed’s Knee” OR “Ha’berech,” Nadav Lapid (Israel)

“Annette,” Leos Carax (França) — FILME DE ABERTURA

“Benedetta,” Paul Verhoeven (Holanda)

“Bergman Island,” Mia Hansen-Løve (França)

“Casablanca Beats,” Nabil Ayouch (Marrocos)

“Compartment No. 6” OR “Hytti Nro 6,” Juho Kuosmanen (Finlândia)

“Drive My Car,” Ryûsuke Hamaguchi (França)

“Everything Went Fine” OR “Tout s’est bien passé,” Francois Ozon (França)

“Flag Day,” Sean Penn (EUA)

“France,” Bruno Dumont (França)

“The French Dispatch,” Wes Anderson (EUA)

“A Hero,” Asghar Farhadi (Irã)

“La fracture,” Catherine Corsini (França)

“Lingui,” Mahamat-Saleh Haroun (Chad)

“Memoria,” Apichatpong Weerasethakul (Tailândia)

“Nitram,” Justin Kurzel (Austrália)

“Paris, 13th District” OR “Les Olympiades,” Jacques Audiard (França)

“Petrov’s Flu,” Kirill Serebrennikov (Rússia)

“Red Rocket,” Sean Baker (EUA)

“The Restless” OR “Les Intranquilles,” Joachim Lafosse (Bélgica)

“The Story of My Wife,” Ildikó Enyedi (Hungria)

“Three Floors” OR “Tre Piani,” Nanni Moretti (Itália)

“Titane,” Julia Ducournau (França)

“The Worst Person in the World,” Joachim Trier (Noruega)

UN CERTAIN REGARD

“After Yang,” Kogonada (EUA)

“Blue Bayou,” Justin Chon (EUA)

“Bonne Mère,” Hafsia Herzi (França)

“Commitment Hasan,” Hasan Semih Kaplanoglu (Turquia)

“Freda,” Gessica Généus (Haiti)

“Gaey Wa’r,” Na Jiazuo (China)

“Great Freedom,” Sebastian Meise (Áustria)

“House Arrest” OR “Delo,” Alexey German Jr. (Rússia)

“The Innocents,” Eskil Vogt (Noruega)

“La Civil,” Teodora Ana Mihai (Romênia-Bélgica)

“Lamb,” Valdimar Jóhansson (Islândia)

“Let There Be Morning,” Eran Kolirin (Israel)

“Moneyboys,“ C.B. Yi (Áustria)

“Noche de Fuego,” Tatiana Huezo (México)

“Rehana Maryam Noor,” Abdullah Mohammad Saad (Bangladesh)

“Unclenching the Fists,” Kira Kovalenko (Rússia)

“Un Monde,” Laura Wandel (Bélgica)

“Women Do Cry,” Mina Mileva and Vesela Kazakova (Bulgária)

FORA DE COMPETIÇÃO

“Aline, the Voice of Love,” Valerie Lemercier (França)

“Bac Nord,” Cédric Jimenez (França)

“Emergency Declaration,” Han Jae-Rim (Coréia do Sul)

“Peaceful” OR “De son vivant,” Emmanuelle Bercot (França)

“Stillwater,” Tom McCarthy (EUA)

“The Velvet Underground,” Todd Haynes (EUA)

MIDNIGHT SCREENINGS

“Bloody Oranges,” Jean-Christophe Meurisse (França)

SPECIAL SCREENINGS

“Babi Yar. Context,” Sergei Loznitsa (Ucrânia)

“Black Notebooks,” Shlomi Elkabetz (Israel)

“H6,” Yé Yé (França)

“Mariner of the mountains” OR “O Marinheiro das Montanhas,” Karim Aïnouz (Brasil)

“The Year of the Everlasting Storm,” Jafar Panahi (Irã), Anthony Chen (Singapura), Malik Vitthal (EUA), Laura Poitras (EUA), Dominga Sotomayor (Chile), David Lowery (EUA) and Apichatpong Weerasethakul (Tailândia)

CANNES PREMIERE

“Cow,” Andrea Arnold (Reino Unido)

“Deception” OR “Tromperie,” Arnaud Desplechin (França)

“Evolution,” Kornél Mundruczo (Hungria)

“Hold Me Tight,” Mathieu Almaric (França)

“In Front of Your Face,” Hong Sang-soo (Coréia do Sul)

“Jane by Charlotte,” Charlotte Gainsbourg (França)

“JFK Revisted: Through the Looking Glass,” Oliver Stone (EUA)

“Mothering Sunday,” Eva Husson (França)

“This Music Is Playing for No One,” Samuel Benchetrit (França)

“Val,” Ting Poo e Leo Scott (EUA)

‘SHOPLIFTERS’, DO AUTOR JAPONÊS HIROKAZU KORE-EDA, VENCE A PALMA DE OURO

 

 

hirokazu cannes

O diretor japonês Hirokazu Kore-eda ostenta sua Palma de Ouro. No fundo, a presidente do júri Cate Blanchett. Pic by Eric Gaillard/REUTERS

APESAR DAS EXPECTATIVAS PARA UMA SEGUNDA PALMA DE OURO PARA UMA MULHER, CANNES PREMIOU SEGUNDO FILME ASIÁTICO NESTE SÉCULO

Havia três filmes indicados à Palma de Ouro nesta edição dirigidos por mulheres, o júri era formado por maioria feminina e encabeçada pela presidente Cate Blanchett, e tudo indicava que a segunda Palma de Ouro poderia acontecer desde 1993, quando O Piano venceu, MAS ainda não foi desta vez. Como a própria Blanchett disse em entrevista, adoraria ver uma mulher recebendo a honraria, mas “Palma de Ouro não é o Nobel da Paz”.

O prêmio máximo da noite foi concedido ao cineasta autoral japonês Hirokazu Kore-eda por Shoplifters, um drama sócio-familiar sobre uma menina que vive nas ruas que é adotada por uma família pobre que a ensina a furtar em supermercados. Assim como o título francês, o brasileiro tende a ser “Assunto de Família”. Kore-eda ficou conhecido aqui no Brasil por Depois da Vida (1998), aquele em que as pessoas têm uma semana depois da morte para escolher uma memória, e pelo premiado em Cannes Ninguém Pode Saber (2004), quando o ator-mirim Yûya Yagira levou o prêmio de interpretação masculina.

Shoplifters

Cena de Shoplifters, vencedor da Palma de Ouro. Pic by outnow.ch

Contudo, meu favorito dele é Pais e Filhos (2013), que aborda uma difícil situação de troca de bebês na maternidade. Para quem acompanha a carreira do diretor, sabe que ele tem uma predileção por temas familiares, mas como poucos, consegue fazer retratos bastante intimistas de seus personagens. Mesmo em seu penúltimo trabalho, o policial O Terceiro Assassinato, mesmo tendo um crime como foco, ele ainda explora relações conturbadas de família.

Esta foi apenas a segunda Palma de Ouro para um diretor asiático neste século XXI, que não ocorria desde 2010, quando o tailandês Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas levou o prêmio. Apenas um fato curioso, longe de querer cobrar cotas para asiáticos em Cannes. Aliás, boa parte da imprensa apontou que a Palma teria sido uma espécie de prêmio pelo conjunto da obra para Hirokazu Kore-eda, já que ele tem seis passagens pela Croissette. Este foi sua quinta indicação à Palma de Ouro, e ele tinha levado apenas um Prêmio do Júri (tipo 3º lugar) com Pais e Filhos.

Muito bem cotado entre a crítica estrangeira, BlacKkKlansman, de Spike Lee, acabou levando o Grande Prêmio do Júri. Respeitando uma tradição em sua filmografia, a crítica ao racismo está novamente presente nesta trama em que um negro se infiltra na organização Ku Klux Klan. Presente na cerimônia, o diretor aceitou o prêmio em nome da “República Popular do Brooklyn, Nova York”, fazendo menção à sua terra natal. Animado, Spike declarou: “Cannes foi o local perfeito para lançar o filme. Espero que o filme possa nos tirar de nossa estagnação mental de forma global, e voltar à verdade, bondade, amor e sem ódio”, e obviamente, aproveitou para dar cutucadas em Donald Trump: “Com este governo, estamos regredindo no tempo.” Particularmente, torço para que este BlacKkKlansman, assim como futuros trabalhos, voltem a ser os meios de expressão que ele utilizava tão bem para dialogar sobre racismo.

Spike Lee Cannes

Spike Lee posa com seu Grande Prêmio do Júri por BlacKkKlansman. Pic by NY Daily News

Apesar de não terem levado a Palma de Ouro para casa, das três mulheres indicadas, duas levaram importantes prêmios nesta edição. Enquanto o Prêmio do Júri foi para a diretora libanesa Nadine Labaki por seu filme Capernaum, no qual retrata a vida de um menino de rua em Beirute que decide processar seus pais pela vida que tem, a diretora italiana Alice Rohrwacher dividiu o prêmio de Roteiro por Happy as Lazzaro com o cineasta iraniano Jafar Panahi por Três Faces.

Os prêmios de interpretação foram concedidos à talentos desconhecidos este ano. Do lado masculino, o ator italiano Marcello Fonte, que interpretou um franzino dono de pet shop que precisa tomar uma atitude drástica em Dogman, levou o prêmio, enquanto na ala feminina, a jovem cazaque Samal Yeslyamova conquistou a honra por sua performance como uma imigrante do Quirguistão que abandona seu bebê numa gélida Rússia em Ayka.

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Marcello Fonte e Samal Yeslyamova posam com seus prêmios de interpretação de Cannes. Pic by zimbio

Já pelo prêmio de Direção, o polonês Pawel Pawlikowski foi reconhecido pelo drama Cold War, sobre o romance entre dois músicos contada através de elipses, bela fotografia preto-e-branco, e enquadramentos rígidos como conhecemos em Ida, vencedor do Oscar de Filme em Língua Estrangeira em 2014.

Contudo, talvez o que mais tenha chamado a atenção no dia da premiação, tenha sido a presença da atriz italiana Asia Argento. Pouco antes do anúncio do primeiro prêmio, ela surgiu no palco e soltou uma bomba: “Tenho algumas palavras para dizer: Em 1997, fui estuprada por Harvey Weinstein aqui em Cannes. Eu tinha 21 anos. Este festival era a área de caça dele. Quero lançar uma previsão: Harvey Weinstein nunca será bem-vindo aqui novamente. Ele viverá em desgraça, evitado pela comunidade fílmica que o acolheu e acobertou seus crimes. Mesmo esta noite, sentados entre vocês, existem aqueles que ainda devem ser responsabilizados por comportamentos que não pertencem à essa indústria. Vocês sabem quem vocês são, e mais importante, nós sabemos quem vocês são, e não vamos mais permitir que se saiam impunes.”

Asia Argento Cannes

Asia Argento demonstrando a força feminina no dia do encerramento do festival de Cannes. Pic by Mashable

A declaração da atriz denota que os movimentos feministas como o #MeToo causaram rebuliço no evento. Embora a organização não tenha sido culpada pelo crime sexual ocorrido em 97, tomou providências e disponibilizou pela primeira vez uma linha direta para reportar qualquer ocorrência do tipo ou comportamento suspeito.

Se desse lado o festival soube se adequar aos tempos atuais, a briga com a Netflix devido ao sistema de streaming não se encaixar no antiquado sistema de exibição francês foi um ponto bastante negativo para Cannes. Sem poder contar com as novas produções da empresa americana, repletas de diretores renomados, para suas seleções, o festival francês pode perder relevância no cenário internacional.

BRASIL EM CANNES

Embora não estivesse concorrendo na mostra oficial neste ano, a produção nacional contou com três co-produções premiadas. Pela mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar), o documentário com toques de ficção Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (intitulado internacionalmente como The Dead and the Others), dirigido pela brasileira Renée Nader Messora e o português João Salaviza, que conta uma jornada espiritual indígena, venceu o Prêmio do Júri.

Festival Internacional de Cine de Cannes

À direita, os diretores de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos: João Salaviza e Renée Nader Messora, recebendo o Prêmio do Júri da mostra Un Certain Regard. Pic by Estadão

Co-produzido em parceria com a França e Portugal, o filme Diamantino venceu o Grande Prêmio da mostra da Semana da Crítica. Dirigido pela dupla Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, o filme tem como protagonista uma espécie de Cristiano Ronaldo, jogador de futebol e modelo. E já O Órfão, de Carolina Markowicz, levou o prêmio Queer Palm de Curta-Metragem.

VENCEDORES DA 71ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE CANNES

COMPETIÇÃO

PALMA DE OURO
Shoplifters

Dir: Hirokazu Kore-eda

GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
BlacKkKlansman

Dir: Spike Lee

PRÊMIO DO JÚRI
Capernaum
Dir: Nadine Labaki

DIRETOR
Pawel Pawlikowski (Cold War)

ATOR
Marcello Fonte (Dogman)

ATRIZ
Samal Yeslyamova (Ayka)

ROTEIRO
Alice Rohrwacher (Happy as Lazzaro)
Jafar Panahi, Nader Saeivar (Three Faces)

PALMA DE OURO ESPECIAL
Jean-Luc Godard

 

UN CERTAIN REGARD

PRÊMIO UN CERTAIN REGARD
Border

Dir: Ali Abbasi

DIRETOR
Sergei Loznitsa (Donbass)

ATUAÇÃO
Victor Polster (Girl)

ROTEIRO
Meryem Benm’Barek (Sofia)

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
João Salaviza & Renée Nader Messora (Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos)

 

OUTROS PRÊMIOS

CAMERA D’OR
Girl

Dir: Lukas Dhont

PALMA DE OURO PARA CURTA
All These Creatures

Dir: Charles Williams

MENÇÃO ESPECIAL PARA CURTA
On the Border

Dir: Shujun Wei

PRÊMIO DO JÚRI ECUMÊNICO
Capernaum

Dir: Nadine Labaki

MENÇÃO ESPECIAL DO JÚRI ECUMÊNICO
BlacKkKlansman

Dir: Spike Lee

QUEER PALM
Girl

Dir: Lukas Dhont

 

 

DIRECTORS’ FORTNIGHT

PRÊMIO ART CINEMA
Climax

Dir: Gaspar Noé

PRÊMIO SOCIETY OF DRAMATIC AUTHORS AND COMPOSERS
The Trouble With You

Dir: Pierre Salvadori

EUROPA CINEMAS LABEL
Lucia’s Grace

Dir: Gianni Zanasi

PRÊMIO ILLY DE CURTA-METRAGEM
Skip Day

Dir: Patrick Bresnan, Ivete Lucas

 

SEMANA DA CRÍTICA

GRANDE PRÊMIO
Diamantino

Dir: Gabriel Abrantes, Daniel Schmidt

PRÊMIO SOCIETY OF DRAMATIC AUTHORS AND COMPOSERS
Woman at War
Dir: Benedikt Erlingsson

GAN Foundation Award for Distribution
Sir

PRÊMIO LOUIS ROEDERER FOUNDATION RISING STAR
Felix Maritaud (Sauvage)

CURTA-METRAGEM
Hector Malot – The Last Day Of The Year

Dir: Jacqueline Lentzou

 

FIPRESCI

COMPETIÇÃO
Burning

Dir: Lee Chang-dong

UN CERTAIN REGARD
Girl

Dir: Lukas Dhont

Directors’ Fortnight/Critics’ Week
One Day

Dir: Zsófa Szilagyi

 

CINÉFONDATION

PRIMEIRO PRÊMIO
The Summer of the Electric Lion
Dir: Diego Céspedes

SEGUNDO PRÊMIO
Calendar

Dir: Igor Poplauhin

The Storms in Our Blood
Dir: Shen Di

TERCEIRO PRÊMIO
Inanimate

Dir: Lucia Bulgheroni

FESTIVAL DE CANNES: GODARD e SPIKE LEE estão de VOLTA pela DISPUTA da PALMA DE OURO

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Penélope Cruz e Javier Bardem em cena de Todos lo Saben, de Asghar Farhadi, que abrirá o Festival de Cannes

SELEÇÃO CONTÉM A PRESENÇA ILUSTRE DE JEAN-LUC GODARD E TRÊS CINEASTAS MULHERES

Olá, pessoal que segue o blog! Após um período de hibernação pós-Oscar, eis que retorno com a divulgação dos filmes selecionados para o Festival de Cannes, que entra em sua 71ª edição, lembrando que a presidente do júri deste ano é a atriz australiana Cate Blanchett.

AINDA SOBRE A NETFLIX

Antes de divagar sobre a seleção em si, gostaria de abrir um breve adendo ainda relacionado à desavença entre Cannes e Netflix, que começou ano passado, quando o então presidente do júri, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, lançou a declaração polêmica de que não premiaria (sem sequer conferir) nenhuma das duas produções da Netflix porque não seriam exibidas na tela grande. Para tentar apaziguar os ânimos, o coordenador de Cannes Thierry Frémaux decidiu que a partir de 2018, os filmes selecionados precisariam necessariamente ser exibidos em salas de cinema.

Após esse destrato, o diretor de conteúdo da Netflix anunciou que ficará de fora do Festival de Cannes este ano. Desse modo, candidatos em potencial como Roma, o novo filme de Alfonso Cuarón, e Norway, de Paul Greengrass, estão descartados. Porém, o problema reside na provável ausência de um dos maiores diretores de todos os tempos: Orson Welles. Sim, aquele mesmo de um tal Cidadão Kane, que é bem cotado pela crítica.

A filha dele, Beatrice Welles, finalizou o último trabalho do pai intitulado The Other Side of the Wind (O Outro Lado do Vento, em tradução livre), que foi filmado na década de 70, mas devido a problemas financeiros teve enormes dificuldades de ser lançado. Até que em 2017, a Netflix comprou os direitos e se comprometeu a fazer um grande lançamento, que seria em Cannes. E agora? Através de um e-mail, Beatrice fez um apelo ao coordenador de Cannes para reconsiderar a respeito da inclusão de produções da plataforma de streaming:

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Da esquerda para a direita: John Huston, Orson Welles e Peter Bogdanovich em set de The Other Side of the Wind.

 

“Fiquei bem chateada e preocupada em ler nos jornais a respeito do conflito com o Festival de Cannes. Tenho que falar pelo meu pai. Eu vi como as grandes companhias de produção destruíram sua vida, seu trabalho, e ao fazê-lo, um pouco do homem que amei tanto. Eu odiaria muito ver a Netflix ser mais uma dessas companhias.”

DISSECANDO A SELEÇÃO

Deixando um pouco a polêmica Arte vs. Distribuição de lado, a seleção de Cannes deste ano apresenta algumas peculiaridades. Dos 18 filmes que competem pela Palma de Ouro, temos apenas dois filmes norte-americanos: BlacKKKlansman, de Spike Lee, e Under the Silver Lake, de David Robert Mitchell, diretor do ótimo Corrente do Mal. Spike Lee não disputava a Palma de Ouro desde 1991 por Febre da Selva, formando um hiato de 27 anos. Com a baixa aderência de americanos, o tapete vermelho não será tão glamoroso com as ausências das celebridades hollywoodianas, mas acredito que este era o objetivo do festival: atrair mais qualidade e menos glamour.

Este ano, temos três filmes dirigidos por mulheres: Eva Husson, Nadine Labacki e Alice Rohrwacher. Embora não tenha alcançado o recorde de 2011, quando houve quatro mulheres, essa porcentagem feminina tem se elevado desde 2000. Sobre o assunto, o Frémaux deu a seguinte declaração: “Em Cannes, nunca teremos uma seleção baseada em uma discriminação positiva em relação às mulheres. Há uma diferença entre as mulheres cineastas e o movimento Me Too.”  Claro que Cannes, assim como o Oscar, pode dar uma força ao olhar com mais carinho os filmes dirigidos por mulheres, mas não são obrigados a selecioná-los pensando meramente no politicamente correto. Além disso, novamente eles elegeram uma presidente mulher com o intuito de lançar um olhar feminino na competição e quem sabe possibilitar uma segunda Palma de Ouro para uma cineasta (a primeira foi para Jane Campion e seu belo O Piano em 1993).

Dois dos diretores em competição estão presos em seus respectivos países: o iraniano Jafar Panahi, e o ucraniano Kirill Serebrennikov. Frémaux tentará apelar aos governos desses países para liberá-los e apresentar seus trabalhos na França, mas acredito que não conseguirá, pois os artistas podem pedir exílio político em território estrangeiro.

Ao contrário dos anos anteriores, a seleção deste ano não está recheada de nomes conhecidos dos festivais internacionais. Temos aqui o mestre francês Jean-Luc Godard com Le Livre d’Image, mas a maioria é composta por nomes internacionais emergentes como o polonês Pawel Pawlikowski (que venceu o Oscar por Ida em 2015), o italiano Matteo Garrone (conhecido pelo polêmico Gomorra) e o chinês Jia Zhang-Ke (conhecido por O Mundo e As Montanhas se Separam).

Por motivos desconhecidos, muitos nomes frequentes de Cannes estão ausentes (pelo menos até o momento, já que deve haver a inclusão de mais dois ou três filmes ainda) como Naomi Kawase, Jacques Audiard, Xavier Dolan, Nuri Bilge Ceylan e Olivier Assayas. Existe a possibilidade de seus trabalhos não terem conseguido finalizar a tempo do prazo do festival, mas também uma decisão de apostar em novos talentos.

Entre os nomes por hora excluídos, mas que podem surgir ainda, está o dinamarquês Lars von Trier, aquele mesmo que foi banido do festival em 2011 por ter feito comentários de teor nazista e defendido Hitler. Ele tem um filme bastante polêmico a ser lançado este ano: The House that Jack Built, no qual Matt Dillon interpreta um serial killer que mata mais de 12 pessoas e consegue ocultar os corpos. Alguns comentários de pessoas que já teriam visto alegam que existem fortes cenas de brutalidade e violência. Outros excluídos bastante citados são os britânicos Mike Leigh, que tem o drama histórico Peterloo, e Terry Gilliam com seu eterno The Man Who Killed Don Quixote, que não teria sido selecionado por legais.

SESSÕES ESPECIAIS

Vale lembrar que haverá pelo menos uma sessão de 2001: Uma Odisséia no Espaço em homenagem aos 50 anos de seu lançamento em 1968. O diretor britânico Christopher Nolan, bastante fã do filme, será host desta sessão. Esperamos que essa empolgação chegue a alguma sala aqui no Brasil, já que a ficção científica de Kubrick merece ser visto na tela grande e com som de ótima qualidade.

Ainda sobre homenagens, o diretor brasileiro Cacá Diegues terá seu novo filme exibido fora de competição. O Grande Circo Místico, sobre uma família austríaca que mantém um circo, estrelado por Jesuíta Barbosa, Bruna Linzmeyer e Antônio Fagundes, terá sessão especial no festival. Cacá Diegues já competiu pela Palma de Ouro em três oportunidades com Bye Bye Brasil (1980), Quilombo (1984) e Um Trem Para as Estrelas (1987), mas nunca levou.

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Jesuíta Barbosa e Bruna Linzmeyer em cena de O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues

E importante citar que outro cineasta brasileiro estará presente em Cannes. Joe Penna, nascido em São Paulo, residente nos EUA, que ficou conhecido por seu canal no YouTube, realizou seu primeiro longa-metragem intitulado Arctic, sobre um homem aguardando resgate no Ártico. Logo em seu projeto de estréia, conseguiu a presença marcante do ótimo Mads Mikkelsen, conhecido por viver Hannibal Lecter na série de TV, e que venceu o prêmio de Ator em Cannes pelo ótimo A Caça.

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Cena de Arctic, de Joe Penna, estrelado por Madds Mikkelsen

INDICADOS À PALMA DE OURO:

  • Everybody Knows – FILME DE ABERTURA
    Dir: Asghar Farhadi
  • En Guerre (At War)
    Dir: Stephane Brize
  • Dogman
    Dir: Matteo Garrone
  • Le Livre d’Image
    Dir: Jean-Luc Godard
  • Netemo Sametemo (Asako I & II)
    Dir: Ryusuke Hamaguchi
  • Plaire Aimer et Courir Vite (Sorry Angel)
    Dir: Christophe Honore
  • Les Filles du Soleil (Girls of the Sun)
    Dir: Eva Husson
  • Ash Is Purest White
    Dir: Jia Zhang-Ke
  • Shoplifters
    Dir: Kore-Eda Hirokazu
  • Capharnaum
    Dir: Nadine Labaki
  • Buh-Ning (Burning)
    Dir: Lee Chang-Dong
  • BlacKKKlansman
    Dir: Spike Lee
  • Under the Silver Lake
    Dir: David Robert Mitchell
  • Three Faces
    Dir: Jafar Panahi
  • Zimna Wojna (Cold War)
    Dir: Pawel Pawlikowski
  • Lazzaro Felice
    Dir: Alice Rohrwacher
  • Yomeddine
    Dir: A.B. Shawky
  • Leto
    Dir: Kirill Serebrennikov

FORA DE COMPETIÇÃO

  • Solo: A Star Wars Story
    Dir: Ron Howard
  • Le Grand Bain
    Dir: Gilles Lelouche

SESSÕES ESPECIAIS

  • 10 Years in Thailand
    Dir: Aditya Assarat, Wisit Sasanatieng, Chulayarnon Sriphol e Apichatpong Weerasthakul
  • The State Against Mandela and the Others
    Dir: Nicolas Champeaux e Gilles Porte
  • O Grande Circo Místico (The Great Mystical Circus)
    Dir: Carlos Diegues
  • La Traversee
    Dir: Romain Goupil
  • A Touts Vents (To the Four Winds)
    Dir: Michel Toesca
  • Les Ames Mortes (Dead Souls)
    Dir: Wang Bing
  • Pope Francis – A Man of His Word
    Dir: Wim Wenders

MIDNIGHT SCREENINGS

  • Arctic
    Dir: Joe Penna
  • Gongjak (The Spy Gone North)
    Dir: Yoon Jong-Bing

UN CERTAIN REGARD

  • Grans (Border)
    Dir: Ali Abbasi
  • Sofia
    Dir: Meyem Benm’Barek
  • Les Chatouilles (Little Tickles)
    Dir: Andrea Bescond & Eric Metayer
  • Long Day’s Journey Into Night
    Dir: Bi Gan
  • Manto
    Dir: Nandita Das
  • A Genoux les Gars (Sextape)
    Dir: Antoine Desrosieres
  • Girl
    Dir: Lukas Dhont
  • Guele d’Ange (Angel Face)
    Dir: Vanessa Filho
  • Euphoria
    Dir: Valeria Golino
  • Mon Tissu Prefere (My Favorite Fabric)
    Dir: Gaya Jiji
  • Rafiki (Friend)
    Dir: Wanuri Kahiu
  • Die Stropers (The Harvesters)
    Dir: Etienne Kallos
  • In My Room
    Dir: Ulrich Kohler
  • El Angel
    Dir: Luis Ortega
  • The Gentle Indifference of the World
    Dir: Adilkhan Yerzhanov

***

O Festival de Cannes se inicia no dia 8 de Maio e termina no dia 19, quando devem ser anunciados os vencedores eleitos pelo júri.

‘Taxi’, de Jafar Panahi, leva o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2015

Jafar Panahi se torna taxista em filme vencedor do Urso de Ouro, Taxi (photo by outnow.ch)

Jafar Panahi se torna taxista em filme vencedor do Urso de Ouro, Taxi (photo by outnow.ch)

BERLIM PREMIA FILME POLÍTICO, MAS TAMBÉM PROTESTA PELA PRISÃO DE DIRETOR IRANIANO

Eu sei, eu sei… notícia velha. Estive concentrado no Oscar e como o Festival de Berlim insiste em permanecer em fevereiro, tive que deixar de escanteio. Enfim, estou aqui para registrar os vencedores do 65º Festival de Berlim, que foram anunciados no último dia 14 de fevereiro.

O grande vencedor foi o filme Taxi, do iraniano Jafar Panahi. Quando soube da sinopse do filme, na hora me lembrei daquele quadro-farsa “Táxi do Gugu”, pois basicamente foi o que Panahi fez: ele se transformou num motorista de táxi, mas ao contrário do nosso apresentador sem carisma, seu intuito era conhecer melhor a sociedade iraniana através de diálogos dentro do veículo, que escondia câmeras.

Vale relembrar que em março de 2010, o diretor foi preso por autoridades iranianas depois que descobriram que seu documentário levantava suspeitas de  fraudes na reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad em 2009. Foi sentenciado a prisão domiciliar e teoricamente, não poderia filmar por dez anos.

Muito conhecido por suas críticas sociais, Panahi se firmou como um dos grandes representantes do cinema iraniano com filmes como O Balão Branco e O Círculo, que além de revelarem a situação de seu país, influenciaram outros diretores como Walter Salles. Este é seu primeiro Urso de Ouro. Ele já venceu o Urso de Prata pelo roteiro de Cortinas Fechadas em 2013, e o Urso de Prata do Grande Prêmio do Júri por Fora do Jogo em 2006.

Em prisão domiciliar há quatro anos, Panahi foi representado por familiares na cerimônia de premiação, então quando o presidente do júri, Darren Aronofsky, anunciou seu nome como vencedor, sua sobrinha Hanna Saeidi subiu ao palco para receber o prêmio. Muito emocionada, ela chorou ao pegar o Urso de Ouro e foi amparada por Aronofsky. “Não consigo dizer nada. Estão tão emocionada”, disse entre lágrimas.

Hanna Saeidi se emociona ao receber o Urso de Ouro pelo pai, Jafar Panahi, pelo filme Taxi (photo by http://www.rbb-online.de)

Hanna Saeidi se emociona ao receber o Urso de Ouro pelo tio, Jafar Panahi, pelo filme Taxi (photo by http://www.rbb-online.de)

Embora a idéia do filme seja digna de premiação, o Urso de Ouro para Taxi certamente sofreu algum nível de influência pela continuidade da prisão do diretor por tanto tempo. Por mais que o presidente do júri se esperneie todo pra explicar que a decisão foi unânime entre os demais membros do júri, é praticamente impossível não enxergar esse reconhecimento como uma forma de protesto internacional que busque indiretamente a liberdade do artista em terras iranianas. Apesar de improvável, espero que esse prêmio colabore pelo menos com a redução da pena de Jafar Panahi.

Caso Panahi não estivesse preso, muitos críticos presentes no festival defenderam que o filme Aferim! poderia ser o grande vencedor. Filmado em preto-e-branco, esse western moderno romeno se passa no século XIX, e apresenta uma trama de captura de um escravo cigano que teve um caso com a esposa de seu dono. Seria uma forma de crítica ao escravismo de que persiste na Romênia atual. Apesar do tema sério, Aferim! teria um humor que lembra os antigos filmes de Emir Kusturica. Acabou levando o prêmio de Diretor para Radu Jude, compartilhado com o filme Body, da diretora Malgorzata Szumowska.

Cena de Aferim!, de Radu Jude, que levou o Urso de Prata de Diretor (photo by outnow.ch)

Cena de Aferim!, de Radu Jude, que levou o Urso de Prata de Diretor (photo by outnow.ch)

Já o Grande Prêmio do Júri, uma espécie de segundo lugar, ficou com o chileno Pablo Larraín e seu El Club, que aborda contradições da Igreja Católica através de sacerdotes de uma cidade costeira do Chile. Para quem não se lembra, Larraín foi responsável pelo politicamente inovador No, que concorreu ao Oscar de Filme em Língua Estrangeira em 2013.

Quanto aos prêmios de atuação, ambos foram para a mesma produção. Charlotte Rampling e Tom Courtenay foram reconhecidos por 45 Years, um drama britânico que mostra o impacto sobre um casamento de 45 anos quando o corpo da ex-namorada do marido é encontrado 50 anos depois. É muito bacana ver um ator de 78 anos retornando aos holofotes depois de já ter sido indicado ao Oscar por Doutor Jivago (1965) e O Fiel Camareiro (1983). Já Rampling há tempos merecia um prêmio do naipe de Berlim, pois consegue atuar bem em qualquer gênero ou papel. Como cinéfilo, torço para que ambos estejam no burburinho e consigam até indicações ao Oscar 2016!

Premiados em Berlim: Tom Courtenay e Charlotte Rampling em 45 Years (photo by outnow.ch)

Premiados em Berlim: Tom Courtenay e Charlotte Rampling em 45 Years (photo by outnow.ch)

Apesar de não terem sido premiados, os filmes Cinderella e Mr. Holmes tiveram boas críticas relacionadas aos atores Cate Blanchett e Ian McKellen, respectivamente. Enquanto a primeira interpretou a madrasta má da princesa, o segundo soube humanizar o velho personagem de Arthur Conan Doyle. Quem sabe essas performances também não sobrevivem até o próximo Oscar?

Cate Blanchett como lady Tremaine em Cinderella (photo by outnow.ch)

Cate Blanchett como lady Tremaine em Cinderella (photo by outnow.ch)

Vencedores do 65º Festival de Berlim:

URSO DE OURO
Taxi, de Jafar Panahi

URSO DE PRATA – Grande Prêmio do Júri
El Club (The Club), de Pablo Larraín

URSO DE PRATA – Alfred Bauer Prize
Ixcanul (Ixcanul Volcano), de Jayro Bustamante – para filme que abre novas perspectivas

URSO DE PRATA para MELHOR DIRETOR (empate)
Radu Jade (Aferim!)
Malgorzata Szumowska (Body)

URSO DE PRATA para MELHOR ATRIZ
Charlotte Rampling (45 Years)

URSO DE PRATA para MELHOR ATOR
Tom Courtenay (45 Years)

URSO DE PRATA para MELHOR ROTEIRO
Patricio Guzmán (El boton de nacar) (The Pearl Button)

URSO DE PRATA para MELHOR CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA (empate)
Sturla Brandth Grøvlen (Victoria) – pela câmera
Evgeniy Privin e Sergey Mikhalchuk (Pod electricheskimi oblakami) (Under Electric Clouds) – pela câmera

 

Rampling e Courtenay com seus Ursos de Prata por 45 Years (photo by files.prokerala.com)

Rampling e Courtenay com seus Ursos de Prata por 45 Years (photo by files.prokerala.com)

Indicados ao 65º Festival de Berlim (2015)

65º Festival de Berlim (2015)

65º Festival de Berlim (2015)

FESTIVAL APRESENTA BOA SELEÇÃO COM VETERANOS E TALENTOS PROMISSORES

É curioso ver um ano depois os vencedores do Festival de Berlim 2014 entre os favoritos ao Oscar 2015. Em 2014, o festival premiou Boyhood: Da Infância à Juventude como Melhor Diretor, enquanto O Grande Hotel Budapeste levou o Prêmio Especial do Júri. É uma pena que o festival fique meio de escanteio com a alta temporada de premiações como o BAFTA e o Oscar.

A edição deste ano traz nomes ilustres como Terrence Malick, Kenneth Branagh, Werner Herzog, Oliver Hirschbiegel e Wim Wenders, que será homenageado com o Urso de Ouro pela carreira. Haverá sessões especiais de alguns de seus filmes como O Amigo AmericanoAsas do Desejo e Paris, Texas.

O presidente do júri, Darren Aronofsky (photo by novostimira.com)

O presidente do júri, Darren Aronofsky (photo by novostimira.com)

O júri, presidido pelo diretor de Cisne Negro, Darren Aronofsky, contará ainda com o ator alemão Daniel Brühl, o diretor sul-coreano Bong Joon-ho, a produtora Martha De Laurentiis, a diretora peruana Claudia Llosa, a atriz francesa Audrey Tautou e o produtor executivo norte-americano Matthew Weiner.

Eles terão a tarefa de conferir e avaliar as 23 produções internacionais, concedendo em seguida prêmios que podem mudar o rumo de cineastas promissores como a italiana Laura Bispuri que trouxe seu filme de estréia Vergine Giurata, ou consagrar nomes conhecidos do grande público como Werner Herzog, Peter Greenaway e Terrence Malick.

Além dos nomes mais conhecidos, estou ansioso para conferir os novos trabalhos do diretor chileno Pablo Larraín, que chegou a ser indicado ao Oscar pelo criativo No, e a espanhola Isabel Coixet, que causou furor pelo tocante drama Minha Vida Sem Mim (2003). E bastante curioso pra ver a nova parceria do diretor Bill Condon com o veterano Ian McKellen numa nova aventura de Sherlock em Mr. Holmes. Eles fizeram uma gema sobre a vida do diretor James Whale em Deuses e Monstros (1998), que lhe rendeu o Oscar de Roteiro Adaptado. Particularmente, já considero McKellen um sério candidato a Melhor Ator no Oscar 2016.

Ian McKellen como Sherlock Holmes em Mr. Holmes (photo by outnow.ch)

Ian McKellen como Sherlock Holmes em Mr. Holmes (photo by outnow.ch)

O evento também estará muito bem servido de celebridades no tapete vermelho. Além de figuras carimbadas dos festivais como Juliette Binoche (Nobody Wants the Night), Léa Seydoux (Diary of  a Chambermaid), Charlotte Rampling (45 Years), são aguardadas as presenças de Christian Bale, Natalie Portman (Knight of Cups), Nicole Kidman, James Franco (Queen of the Desert) – sendo que Franco ainda estrela Every Thing Will Be Fine – e Ian McKellen (Mr. Holmes). Até daria pra apostar que os vencedores dos prêmios de atuação estarão entre esses nomes acima, mas como depende demais das preferências do júri, não dá pra descartar premiação para nomes praticamente desconhecidos.

Christian Bale e Natalie Portman em cena de Knight of Cups, novo filme de Terrence Malick: cheiro de prêmios. (photo by outnow.ch)

Christian Bale e Natalie Portman em cena de Knight of Cups, novo filme de Terrence Malick: cheiro de prêmios. (photo by outnow.ch)

Seguem os indicados ao 65º Festival de Berlim:

45 Years
Dir: Andrew Haigh
Reino Unido

Als wir träumten (As We Were Dreaming)
Dir: Andreas Dresen
Alemanha/França

Body
Dir: Malgorzata Szumowska
Polônia

Cha va con va (Big Father, Small Father and Other Stories)
Dir: Phan Dang Di
Vietnã/França/Alemanha/Holanda

Cinderella
Dir: Kenneth Branagh
EUA

Eisenstein in Guanajuato
Dir: Peter Greenaway
Holanda/México/Bélgica/Finlândia

Ixcanul (Ixcanul Volcano)
Dir: Jayro Bustamante
Guatemala/França

Journal d’une femme de chambre (Diary of a Chambermaid)
Dir: Benoit Jacquot
França/Bélgica

Knight of Cups
Dir: Terrence Malick
EUA

Mr. Holmes
Dir: Bill Condon
Reino Unido

Nobody Wants the Night
Dir: Isabel Coixet
Espanha/França/Bulgária

Pod electricheskimi oblakami (Under Electric Clouds)
Dir: Alexey German
Rússia/Ucrânia/Polônia

Queen of the Desert
Dir: Werner Herzog
EUA

Taxi
Dir: Jafar Panahi
Irã

Victoria
Dir: Sebastian Schipper
Alemanha

Yi bu zhi yao (Gone with the Bullets)
Dir: Jiang Wen
China/EUA

Aferim!
Dir: Radu Jude
Romênia/Bulgária/República Tcheca

El boton de nacar (The Pearl Button)
Dir: Patricio Guzman
França/Chile/Espanha

El Club (The Club)
Dir: Pablo Larrain
Chile

Elser (13 Minutes)
Dir: Oliver Hirschbiegel
Alemanha

Every Thing Will Be Fine
Dir: Wim Wenders
Alemanha/Canadá/França/Suécia/Noruega

Ten no chasuke (Chasuke’s Journey)
Dir: Sabu
Japão

Vergine giurata (Sworn Virgin)
Dir: Laura Bispuri
Itália/Suíça/Alemanha/Albânia/Kosovo

O romeno ‘Child’s’ Pose vence o Urso de Ouro em Berlim 2013

O diretor Calin Peter Netzer e seu Urso de Ouro em Berlim (photo by timesofomam.com)

O diretor Calin Peter Netzer e seu Urso de Ouro em Berlim (photo by timesofomam.com)

Numa edição considerada fraca, o júri presidido pelo cineasta Wong Kar wai teve trabalho para fazer a seleção dos premiados. Premiado com o Urso de Ouro, o drama Child’s Pose acompanha a história de uma mãe da elite romena que vê uma oportunidade de reatar o relacionamento com seu filho quando ele se envolve num acidente de carro e é preso. Em nota clara à imprensa, o presidente do júri declarou que seu filme favorito era o chileno Gloria, mas optou pela democracia entre os demais membros do júri como Susanne Bier e Tim Robbins.

Urso de Ouro: A atriz Luminita Gheorghiu em cena do drama romeno Child's Pose.

Urso de Ouro: A atriz Luminita Gheorghiu em cena do drama romeno Child’s Pose (photo by OutNow.CH)

Gloria também tem uma mulher madura como protagonista, mas ela é uma recém-divorciada de 58 anos em busca de um recomeço amoroso. A personagem foi tão bem defendida por Paulina García que acabou levando o prêmio de Melhor Atriz. Apesar de não ter visto o filme de Sebastián Lelio, seria uma ótima oportunidade de consagrar uma produção latino-americana em festivais internacionais. Curiosamente, o chileno No, de Pablo Larraín, concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no domingo.

O único filme a ganhar mais de um prêmio, An Episode in the Life of an Iron Pricker, reproduz uma história real de um catador de lixo que luta por tratamento médico para sua esposa doente. Para criar o docu-drama, o diretor Danis Tanovic decidiu escalar o próprio homem da história: Nazif Mujic. Curiosamente, ele acabou levando o prêmio de Melhor Ator por viver ele mesmo no filme. Este seria um voto polêmico por não haver um trabalho de atuação e interpretação, mas também como protesto devido à pobreza de performances de atores masculinos.

A arte imita a vida: o ator

A arte imita a vida: o ator Nazif Mujic reencena sua própria vida em An Episode in the Life of an Iron Pricker (photo by OutNow.CH)

Talvez a maior surpresa tenha sido o reconhecimento a David Gordon Green com o Urso de Prata de Direção por Prince Avalanche. Como o filme não era considerado um forte concorrente, sua vitória surpreendeu boa parte da imprensa que cobria o evento. Além disso,  por se tratar de uma comédia com os atores hollywoodianos (Paul Rudd e Emile Hirsch) num festival que prioriza questões políticas, foi um choque entre as escolhas do júri.

A comédia Prince Avalanche com os americanos Emile Hirsch e Paul Rudd (photo by OutNow.CH)

A comédia Prince Avalanche com os americanos Emile Hirsch e Paul Rudd (photo by OutNow.CH)

Na tentativa de compensar essa amenidade, o prêmio de roteiro foi para Closed Curtains, de Jafar Panahi. Independentemente da qualidade do longa, só o fato do diretor estar em prisão domiciliar no Irã por motivos de censura, já valeria como forma de manifestar a desaprovação da falta de liberdade à qualquer forma de Arte.

Enquanto o americano Promised Land, de Gus Van Sant, saiu com uma Menção Especial, o conterrâneo Steven Soderbergh saiu de mãos vazias por seu drama Terapia de Risco (Side Effects), protagonizado pelas estrelas hollywoodianas Jude Law, Rooney Mara, Catherine Zeta-Jones e Channing Tatum, comprovando que o filme só foi selecionado para trazer brilho ao tapete vermelho.

Urso de Ouro: Child’s Pose, de Calin Peter Netzer (Romênia).

Urso de Prata: An Episode in the Life of an Iron Picker, de Danis Tanovic (Bósnia).

Urso de Prata Alfred Bauer (por sua inovação artística): Vic + Flo Saw a Bear, de Denis Côté (Canadá).

Urso de Prata de Melhor Diretor: David Gordon Green (Prince Avalanche)

Urso de Prata de Melhor Atriz: Paulina García (Gloria)

Urso de Prata de Melhor Ator: Nazif Mujic (An Episode in the Life of an Iron Picker)

Urso de Prata Contribuição Artística: Aziz Zhambakiyev (Harmony Lessons)

Urso de Prata de Roteiro: Jafar Panahi (Closed Curtain)

Filme de Estreia: The Rocket, de Kim Mourdant

Urso de Ouro de Melhor Curta: La Fugue, de Jean-Bernard Marlin

Menção Especial: Promised Land, de Gus Van Sant

Menção Especial: Layla Fourie, de Pia Marais

A atriz Paulina García em Gloria (photo by OutNow.CH)

A atriz Paulina García em Gloria (photo by OutNow.CH)

63º Festival de Berlim (2013)

Pôster da 63ª edição do Festival de Berlim nas ruas da cidade (photo by http://www.cp24.com)

Pôster da 63ª edição do Festival de Berlim nas ruas da cidade (photo by http://www.cp24.com)

O Festival de Berlim tem um histórico de seleções oficiais que prioriza filmes com teor mais político. Claro que não se tratam de roteiros envolvendo politicagens, mas tudo que esteja relacionado mesmo que indiretamente. Um claro exemplo dessa preferência foi a vitória do iraniano A Separação, de Asghar Farhadi, em 2011. O filme trata de uma briga familiar causado por filosofias políticas distintas que podem explicar a situação atual da sociedade iraniana.

Entre os grandes vencedores do Urso de Ouro, temos clássicos como O Salário do Medo, de Henri-Georges Clouzot, 12 Homens e uma Sentença, de Sidney Lumet, e A Noite, de Michelangelo Antonioni. E clássicos modernos como Além da Linha Vermelha, de Terrence Malick, e Domingo Sangrento, de Paul Greengrass.

Entre os grandes festivais internacionais, Berlim talvez seja o mais democrático de todos, pois reconhece a qualidade sem ficar preso a nomes consagrados como costuma fazer o Festival de Cannes. E o Brasil já se beneficiou dessa democracia em duas oportunidades: Central do Brasil, de Walter Salles, e Tropa de Elite, de José Padilha, duas produções que oferecem perspectivas diferentes do mesmo país, levaram o Urso de Ouro em 1998 e 2008, respectivamente.

Este ano, a tarefa de garimpar entre os 19 selecionados foi concedida ao cineasta chinês Wong Kar-Wai. Em seu currículo invejável constam títulos notáveis como Felizes Juntos, Amores Expressos e um dos melhores filmes das últimas décadas, Amor à Flor da Pele. Seu mais novo filme, The Grandmaster, que conta a história do mestre de artes marciais Ip Man que treinou Bruce Lee, abrirá o festival, contudo, por razões óbvias, fora de competição.

Ele preside o júri composto por grandes nomes: a diretora dinamarquesa Susanne Bier, o ator norte-americano Tim Robbins, o diretor alemão Andreas Dresen, a diretora de fotografia Ellen Kuras, a diretora e vídeo-artista iraniana Shirin Neshat, e a produtora grega Athina Rachel Tsangari.

The Grandmaster, de Wong Kar-Wai (photo by www.berlinale.de)

The Grandmaster, de Wong Kar-Wai (photo by http://www.berlinale.de)

Confira lista dos indicados ao Urso de Ouro 2013:

A Long and Happy Life, de Boris Khlebnikov
An Episode in the Life of an Iron Picker, de Danis Tanovic
Camille Claudel 1915, de Bruno Dumont
Child’s Pose, de Calin Peter Netzer
Closed Curtain, de Jafar Panahi, Camboziya Partovi
Gloria, de Sebastián Lelio
Gold, de Thomas Arslan
Harmony Lessons, de Emir Baigazin
In the Name Of, de Malgorzata Szumowska
Layla Fourie, de Pia Marais
Nobody’s Daughter Haewon, de Sang-soo Hong
On My Way, de Emmanuelle Bercot
Paradise: Hope, de Ulrich Seidl
Prince Avalanche, de David Gordon Green
Promised Land, de Gus Van Sant
Side Effects, de Steven Soderbergh
The Necessary Death of Charlie Countryman, de Frederick Bond
The Nun, de Guillaume Nicloux
Vic + Flo Saw a Bear, de Denis Côté

Alguns filmes foram selecionados, mas não competirão pelo Urso de Ouro:

 Before Midnight, de Richard Linklater
√ Dark Blood, de George Sluizer
Night Train to Lisbon, de Bille August
The Croods, de Chris Sanders, Kirk De Micco
The Grandmaster, de Wong Kar-Wai

Um dos fatos mais curiosos desta 63ª edição de Berlim é a presença do filme Dark Blood, de George Sluizer. No elenco, temos Jonathan Pryce, Judy Davis e River Phoenix. River Phoenix?! Sim, o falecido ator. Ele morreu onze dias antes do término das filmagens em 1993. O diretor resolveu comprar o material bruto e finalizar a pós-produção. Independente do resultado final, já vale a pena conferir pelo talento que River Phoenix era. Foi considerado o novo James Dean dos anos 80.

River Phoenix em Dark Blood (photo by www.berlinale.de)

River Phoenix em Dark Blood (photo by http://www.berlinale.de)

Quanto à seleção oficial, algumas mídias publicaram algo como “Steven Soderbergh e Gus Van Sant salvam Berlim”. Ok, ambos possuem currículos invejáveis e foram reconhecidos pela Academia com um Oscar e indicação, respectivamente, mas discordo do tom que desvaloriza os demais selecionados. Na verdade, existe uma teoria de que o filme de Soderbergh, Side Effects, e de Van Sant, Promised Land, só foram selecionados para que os astros de Hollywood marquem presença no tapete vermelho alemão: Jude Law, Rooney Mara, Channing Tatum, Catherine Zeta-Jones e Matt Damon.

Na seleção oficial, também temos ótimos cineastas como Danis Tanovic, Bruno Dumont e Sang-soo Hong. O primeiro, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por Terra de Ninguém em 2002, veio para São Paulo em 2005 para promover seu filme O Inferno e sua extrema simpatia na Mostra Internacional de Cinema. Além disso, o Festival de Berlim tem uma tradição de selecionar trabalhos de cineastas estreantes na tentativa de buscar novas visões do cinema mundial.

An Episode of an Iron Picker, de Danis Tanovic (photo by http://www.berlinale.de/)

An Episode in the Life of an Iron Picker, de Danis Tanovic (photo by http://www.berlinale.de/)

Apesar da presença dos hollywoodianos, a expectativa de premiação gira em torno de atrizes européias veteranas como Juliette Binoche, Catherine Deneuve e Isabelle Huppert, que estrelam produções separadamente.

Outra surpresa agradável é o retorno de Jafar Panahi aos festivais. Em março de 2010, o diretor foi preso por autoridades iranianas depois que descobriram que seu documentário levantava suspeitas de  fraudes na reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad em 2009. Foi sentenciado a prisão domiciliar e teoricamente, não poderia filmar por dez anos.

Muito conhecido por suas críticas sociais, Panahi se firmou como um dos grandes representantes do cinema iraniano com filmes como O Balão Branco e O Círculo, que além de revelarem a situação de seu país, influenciaram outros diretores como Walter Salles. Por esses motivos, seu novo trabalho, Closed Curtain, tem alta expectativa por parte da crítica e do público presente em Berlim.

Novo trabalho do diretor Jafar Panahi, Closed Curtain (photo by http://www.berlinale.de/)

Novo trabalho do diretor Jafar Panahi, Closed Curtain (photo by http://www.berlinale.de/)

O Urso de Ouro Honorário homenageará o documentarista francês Claude Lanzmann. Seu filme mais conhecido, Shoah (1985), entrou para a história do Cinema ao destrinchar o genocídio de judeus através de entrevistas (de sobreviventes a agressores), visitas aos locais do extermínio, e sem a utilização de imagens de arquivo (muito comuns em documentários sobre o Holocausto). Shoah ocupa a 29ª posição da lista dos melhores filmes de todos os tempos da revista britânica Sight & Sound, e tem nove horas e meia de duração. Confira lista completa dos 50 filmes aqui: https://cinemaoscareafins.wordpress.com/2012/08/03/vertigo-quebra-hegemonia-de-cidadao-kane/

Claude Lanzmann receberá homenagem pela carreira (photo by digitalproductionme.com)

Claude Lanzmann receberá homenagem pela carreira (photo by digitalproductionme.com)

O Festival de Berlim começou no dia 07 de fevereiro e termina no dia 17, quando serão anunciados os vencedores.

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