
Michael Haneke recebendo o Oscar de Filme Estrangeiro das mãos de Jennifer Garner (photo by umikarahajimaru.at.webry.info)
Seguindo o calendário da categoria de Melhor Filme Estrangeiro, a Academia divulgou os nove semi-finalistas que disputarão as cinco indicações. Trata-se de uma vitória e tanto estar entre esses nove, afinal havia 76 filmes de várias partes do mundo concorrendo às 5 vagas acirradas.
Sem delongas, eis os nove selecionados:
- The Broken Circle Breakdown, de Felix van Groeningen (BÉLGICA)
- An Episode in the Life of an Iron Picker, de Danis Tanovic (BÓSNIA E HERZEGOVINA)
- The Missing Picture, de Rithy Panh (CAMBOJA)
- A Caça, de Thomas Vinterberg (DINAMARCA)
- Two Lives, de Georg Maas (ALEMANHA)
- O Grande Mestre, de Wong Kar-wai (HONG KONG)
- The Notebook, de Janós Szász (HUNGRIA)
- A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino (ITÁLIA)
- Omar, de Hany Abu-Assad (PALESTINA)
Logo de cara, a ausência mais sentida é a de Azul é a Cor Mais Quente, de Abdellatif Kechiche. Depois de ter vencido a Palma de Ouro em Cannes, o filme vem conquistando vários prêmios, inclusive foi indicado ao Globo de Ouro e recentemente o Critics’ Choice Award. Contudo, devido às regras ultrapassadas da Academia, o filme não pôde representar a França na categoria de Filme Estrangeiro por não ter estreado em seu país até setembro deste ano. Pode concorrer ainda por outras categorias como Atriz (Adèle Exarchopoulos), Atriz Coadjuvante (Léa Seydoux) e Roteiro Adaptado. O representante da França, Renoir, de Gilles Bourdos, ficou de fora da corrida.

Azul é a Cor Mais Quente, de Abdellatif Kechiche: Fora do Oscar de Filme Estrangeiro (photo by http://www.elfilm.com)
Por um lado, fico triste pela ausência do filme na disputa pela redução na qualidade da categoria, mas por outro lado, conhecendo o conservadorismo dos votantes da Academia (um bando de velhos viciado em filmes sobre o Holocausto), tenho quase certeza de que o filme francês não teria chances reais de Oscar por sua temática homossexual e cenas longas e praticamente explícitas de sexo. Os mesmos votantes homofóbicos que preteriram O Segredo de Brokeback Mountain, sobre o amor entre dois caubóis, certamente tirariam Azul é a Cor Mais Quente da jogada.
O fato de vários filmes aclamados pela crítica ficarem de fora nos últimos anos, como em 2003 o espanhol Fale com Ela, de Pedro Almodóvar, tem chamado a atenção para alterações nos protocolos do Oscar. Em outubro, o presidente do comitê de filmes estrangeiros, Mark Johnson, prometeu que faria “mudanças radicais”, mas infelizmente, a alteração mais significativa não deu conta do recado. Os votantes teriam direito a eleger seis produções, e a comissão elegeria os outros três tendo como base o reconhecimento da crítica e dos festivais.

BÓSNIA E HERZEGOVINA: An Episode of an Iron Picker, de Danis Tanovic (photo by http://www.berlinale.de/)
Tal “radicalismo” está longe de ser a tão sonhada reforma das regras da categoria para filmes estrangeiros. Primeiramente, devido ao crescente número de concorrentes, deveriam estender o número de indicados para dez. Se em toda cerimônia, eles se gabam de que há bilhões de pessoas assistindo ao redor do mundo, por que não agradar os cinéfilos e cineastas fora dos Estados Unidos?
Então, dessas dez produções, 5 deveriam vir dos mais bem votados pelos críticos americanos (a média geral do NYFCC, LAFCA e demais estados e do National Board of Review), valorizando o trabalho dessas associações que visam destacar os melhores filmes do ano, e os outros 5 seriam eleitos pelo modo convencional de triagem. MAS de forma que facilite a vida dos votantes que trabalham, disponibilizando cópias de DVD/Blu-Ray, pois do jeito que está, com sessões vespertinas, apenas membros aposentados votam, elegendo filmes de temática judaica, 2ª Guerra Mundial e com quase zero de violência e sexo. Praticamente uma censura da época da ditadura militar.

DINAMARCA: A Caça, de Thomas Vinterberg (photo by http://www.elfilm.com)
Os comitês que elegem os representantes de cada país já conhecem esse sistema, e por isso, costumam selecionar produções com roteiros nessa direção. Até mesmo o Brasil enviou em 2006: O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger, e em 2004: Olga, de Jayme Monjardim. O primeiro chegou a passar entre os semi-finalistas, mas não obteve a indicação. O Brasil não tem um filme indicado desde 1999, quando Central do Brasil concorreu também por Melhor Atriz para Fernanda Montenegro.

ALEMANHA: Two Lives, Georg Mass (photo by http://www.cinemagia.ro)
Claro que essa sugestão seria uma utopia no momento, mas os próprios membros do comitê de Filme Estrangeiro almejam mudanças há tempos. Acho que só precisam encontrar o meio certo para que a categoria se torne mais abrangente e justa. Espero que até o centenário do Oscar (estamos na 86ª edição), esse empecilho já esteja resolvido, pois o cinema americano anda cada vez mais dependente de produções estrangeiras como fonte de inspiração (vide as quinhentas refilmagens) e dos próprios profissionais estrangeiros que recebem oportunidade de trabalhar na indústria hollywoodiana.

HONG KONG: The Grandmaster, de Wong Kar-Wai (photo by http://www.berlinale.de)
Enquanto esse impasse não é resolvido, o jeito é analisar a lista dos nove pré-selecionados. Temos as ausências significativas de The Past, de Asghar Farhadi (Irã), O Sonho de Wadjda, de Haifaa Al-Mansour (Arábia Saudita), Gloria, de Sebastián Lelio (Chile), Instinto Materno, de Calin Peter Netzer (Romênia), The Rocket, de Kim Mordaunt (Austrália) e do brasileiro O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho. Gostaria muito que o filme nacional fosse escolhido para incentivar produções independentes brasileiras e a produção cinematográfica atual, que depende demais de incentivos fiscais de empresas desinteressadas e do império da Globo Filmes, que tem feito TV no Cinema.

HUNGRIA: The Notebook, de Janós Szász (photo by http://www.elfilm.com)
Dentre os semi-finalistas, é curioso adivinhar qual filme foi escolhido pelos votantes (os judeus idosos) e pelo comitê (baseado no reconhecimento da crítica).
1. The Broken Circle Breakdown, de Felix van Groeningen (BÉLGICA)
Filme sobre diferenças religiosas numa família. COMITÊ
2. An Episode in the Life of an Iron Picker, de Danis Tanovic (BÓSNIA E HERZEGOVINA)
História real de um catador de lixo que luta por tratamento médico para sua esposa doente. VOTANTES
3. The Missing Picture, de Rithy Panh (CAMBOJA)
Documentário sobre as atrocidades do Khmer Vermelho no Camboja utilizando bonecos de argila. Venceu o prêmio Un Certain Regard no último Festival de Cannes. VOTANTES
4. A Caça, de Thomas Vinterberg (DINAMARCA)
Um homem é acusado de pedofilia numa pequena cidade. Indicado à Palma de Ouro, e Mads Mikkelsen ganhou o prêmio de Melhor Ator em Cannes. COMITÊ
5. Two Lives, de Georg Maas (ALEMANHA)
Uma mulher esconde sua identidade para desvendar segredo que envolve a 2ª Guerra Mundial. VOTANTES
6. O Grande Mestre, de Wong Kar-wai (HONG KONG)
História sobre a vida do mestre em artes marciais, Ip Man, que treinou Bruce Lee. VOTANTES
7. The Notebook, de Janos Szasz (HUNGRIA)
Os horrores da 2ª Guerra Mundial na visão de dois irmãos gêmeos de 13 anos. VOTANTES
8. A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino (ITÁLIA)
Depois da morte de um amor antigo, escritor passa por crise existencial em Roma. Foi indicado à Palma de Ouro e o Globo de Ouro. COMITÊ
9. Omar, de Hany Abu-Assad (PALESTINA)
Estudo da vida e relações entre a fronteira palestina. VOTANTES

ITÁLIA: A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino (photo by http://www.elfilm.com)
Claro que o fato de ter sido escolhido pelos votantes conservadores não significa que o filme seja ruim. Às vezes, eles acertam como nas recentes vitórias de A Vida dos Outros em 2007, e O Segredo dos Seus Olhos em 2010. Mas denota uma fixação doentia por roteiros que envolvam fatos históricos como a guerra. Vamos virar o disco?
As indicações que revelarão os cinco escolhidos serão anunciadas no dia 16 de janeiro.

PALESTINA: Omar, de Hany Abu-Assad (photo by http://www.outnow.ch)