Ken Loach conquista sua segunda Palma de Ouro com ‘I, Daniel Blake’ em Cannes 2016

Ken Loach se mostra triunfante com sua segunda Palma de Ouro por I, Daniel Blake (photo by publico.pt)

Ken Loach se mostra triunfante com sua segunda Palma de Ouro por I, Daniel Blake (photo by publico.pt)

DIRETOR BRITÂNICO VENCEU EM 2006 COM ‘VENTOS DA LIBERDADE’

Num ano repleto de diretores renomados na competição oficial, deu Ken Loach mais uma vez! Agora ele se junta a um seleto grupo de cineastas que tem duas Palmas de Ouro no currículo: Michael Haneke, Francis Ford Coppola, Emir Kusturica, Bille August, Shohei Imamura, Alf Sjoberg e os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne.

Seu mais novo filme retrata um entrave sócio-trabalhista de um carpinteiro de meia-idade que não pode mais trabalhar depois de um acidente, mas luta para conseguir seus benefícios do governo. Pela sinopse, parece aqueles filmes de forte crítica social que permearam a década de 70 como os do italiano Elio Petri, mas vale lembrar que a própria filmografia de Loach possui pinceladas de cunho social. Segundo a crítica, I, Daniel Blake seria seu melhor trabalho, justamente por amadurecer essa vertente. Contudo, parece que o lado emocional falou mais alto na decisão do júri.

Mesmo sem justificar suas escolhas, o presidente do júri, George Miller, definiu a seleção com três qualidades: “inteligência, ferocidade e beleza”. No geral, a mídia estrangeira ficou desapontada com uma escolha conservadora vinda de um autor tão inovador como Miller. Entre os indicados, os críticos apontaram alguns favoritos como a ‘dramédia’ sobre pai e filha Toni Erdmann, da alemã Maren Ade; o suspense Elle, de Paul Verhoeven; e o romance coreano The Handmaiden, de Park Chan-wook. Curiosamente, nenhum deles recebeu um prêmio de consolação sequer!

O Grande Prêmio do Júri (o segundo lugar da edição) acabou nas mãos do prodígio canadense Xavier Dolan por seu It’s Only the End of the World, um drama que destrincha uma família disfuncional. Por conquistar prêmios em Cannes desde 2009, mas sempre batendo na trave, havia altas expectativas de que este seria o ano de Dolan, mas seu novo trabalho não foi uma unanimidade no festival, chegando a ser vaiado numa das sessões.

O jovem canadense Xavier Dolan (27) ganha seu prêmio mais importante em Cannes, o Grande Prêmio do Júri, por Juste la fin du monde (photo by thestar.com)

O jovem canadense Xavier Dolan (27) ganha seu prêmio mais importante em Cannes, o Grande Prêmio do Júri, por Juste la fin du monde (photo by thestar.com)

Vencedor do mesmo prêmio no ano anterior por Filho de Saul, o diretor László Nemes saiu em defesa de Dolan: “Fiquei admirado ao ver o filme. Todos nós sentimos que era uma jornada tocante. Quando começou, você podia sentir as escolhas muito específicas do diretor.” Vale destacar que esta é a primeira vez que Xavier Dolan trabalha com atores de nome, no caso, Marion Cotillard, Léa Seydoux e Vincent Cassel.

Antes que um ser politicamente correto reclame, houve uma mulher premiada em Cannes (excetuando, obviamente, a categoria de Atriz)! E foi novamente a diretora britânica Andrea Arnold com seu American Honey, um road movie estrelado por um sempre polêmico Shia LaBeouf. Trata-se de sua terceira vitória com o Prêmio do Júri, vencido anteriormente por Marcas da Vida (Red Road) e Aquário (Fish Tank). Considero seu estilo bastante intenso, que me lembra a direção de atores de Mike Leigh.

E pra quem aguardava por premiações para atores conhecidos como Adam Driver (o Kylo Ren do novo Star Wars), Shia LaBeouf, Joel Edgerton, Marion Cotillard ou Kristen Stewart, ficou a expectativa, pois o júri reconheceu atores menos conhecidos: a filipina Jaclyn Jose de Ma’Rosa, de Brillante Mendoza; e o iraniano Shahab Hosseini de The Salesman, de Asghar Farhadi. Esta é a segunda performance sob direção de Farhadi a ganhar prêmio em Cannes; em 2014, a argentina Bérénice Bejo ganhou por O Passado. The Salesman foi o único a ganhar dois prêmios principais, já que venceu como Melhor Roteiro também.

Jaclyn Jose posa com seu prêmio de Performance Feminina por Ma'Rosa (photo by preen.inquirer.net)

Jaclyn Jose posa com seu prêmio de Performance Feminina por Ma’Rosa (photo by preen.inquirer.net)

O iraniano Shahab Hosseini ganha Performance Masculina por The Salesman (photo by themalaimailonline.com)

O iraniano Shahab Hosseini ganha Performance Masculina por The Salesman (photo by themalaimailonline.com)

Aliás, pelo burburinho, Joel Edgerton e Ruth Negga já deram o start inicial para a campanha para o Oscar 2017 por suas interpretações no drama Loving, de Jeff Nichols. Trata-de de uma história de amor interracial na Virginia de 1958, onde o casal foi preso por simplesmente se casar. Além do prestígio do diretor Nichols, a performance de Edgerton foi bastante elogiada em Cannes e, depois de todo aquele estardalhaço no Oscar por “falta de diversidade”, a Academia vai fazer um baita esforço para incluir negros, amarelos, índios, anões, albinos e imigrantes ilegais. O vilão Kylo Ren (Adam Driver) também conquistou pontos para o ano que vem por sua atuação em Paterson.

E na categoria de Diretor, houve o único empate da cerimônia, que ocorreu entre o romeno Cristian Mungiu, por The Graduation, e o francês Olivier Assayas, por Personal Shopper. Enquanto Mungiu recebeu seu terceiro prêmio (venceu a Palma de Ouro por 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, e Roteiro por Além das Montanhas), Assayas recebeu seu primeiro prêmio após 5 indicações à Palma de Ouro! Seu filme também foi vaiado, mas ele é muito querido na crítica.

Romanian director Cristian Mungiu (R) and French director Olivier Assayas talk on stage wafter being awarded with the Best Director prize, respectively for the film "Graduation (Bacalaureat)" and "Personal Shopper" during the closing ceremony of the 69th Cannes Film Festival in Cannes, southern France, on May 22, 2016. / AFP PHOTO / ALBERTO PIZZOLI

Vencedores de Melhor Diretor em Cannes: à esquerda, Olivier Assayas (Personal Shopper) discursa ao lado de Cristian Mungiu  (Graduation). Photo by ALBERTO PIZZOLI

E o Brasil continuará mais um ano com apenas a Palma de Ouro de Anselmo Duarte por O Pagador de Promessas (1962). Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, saiu de mãos abanando do festival. A passagem do filme brasileiro ficou marcada pelos protestos dos atores e da equipe no tapete vermelho contra o Impeachment da “presidenta” Dilma Roussef. Dentre os vários cartazes com dizeres em inglês e francês, havia um que dizia que “54 milhões de votos (que reelegeram a Dilma) foram queimados” e que “a democracia havia dado lugar a um golpe”. Não gosto muito de ficar falando de política com tantos intolerantes à solta na internet, mas só queria dizer que somente numa democracia, esses mesmos 54 milhões de eleitores também têm o direito de mudar de posição após um péssimo governo petista. Eu mesmo conheço alguns que se arrependeram de seus votos, e pra isso também serve o Impeachment, afinal, de que outra forma a sociedade poderia destituir um presidente antes do fim de seu mandato? E vale lembrar que o vice-presidente Michel Temer veio no mesmo pacote do PT, então não adianta reclamar. Temos que torcer para que ele faça um bom governo e consiga aprovar medidas para salvar a nossa economia.

Equipe do filme Aquarius com cartazes contra o Impeachment (photo by cinema.uol.com.br)

Equipe do filme Aquarius com cartazes contra o Impeachment (photo by cinema.uol.com.br)

Vale destacar que o cinema brasileiro foi agraciado com uma menção honrosa na categoria de curta-metragem para A Moça que Dançou com o Diabo, de João Paulo Miranda Maria, e com o Olho de Ouro para o documentário Cinema Novo, de Eryk Rocha.

Seguem os vencedores desta 69ª edição do Festival de Cannes:

PALMA DE OURO
I, Daniel Blake
Dir: Ken Loach

GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
It’s Only the End of the World
Dir: Xavier Dolan

PRÊMIO DO JÚRI
Andrea Arnold (American Honey)

DIRETOR
Olivier Assayas (Personal Shopper) & Cristian Mungiu (Graduation)

ATOR
Shahab Hosseini (The Salesman)

ATRIZ
Jaclyn Jose (Ma ‘Rosa)

ROTEIRO
Asghar Farhadi (The Salesman)

OUTROS PRÊMIOS

PALMA HONORÁRIA
Jean-Pierre Léaud

CAMERA D’Or
Divines
Dir: Houda Benyamina

PALMA DE OURO DE CURTA
Timecode
Dir: Juanjo Jimenez

MENÇÃO ESPECIAL CURTA
The Girl Who Danced With the Devil
Dir: João Paulo Miranda Maria

Ecumenical Jury Prize
It’s Only the End of the World
Dir: Xavier Dolan

PRÊMIO OLHO DE OURO
Cinema Novo
Dir: Eryk Rocha

UN CERTAIN REGARD

PRÊMIO UN CERTAIN REGARD
The Happiest Day in the Life of Olli Mäki
Dir: Juho Kuosmanen

PRÊMIO DO JÚRI
Harmonium
Dir: Koji Fukada

DIRETOR
Matt Ross (Captain Fantastic)

ROTEIRO
Delphine e Muriel Coulin (The Stopover)

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
Michael Dudok de Wit (The Red Turtle)

DIRECTORS’ FORTNIGHT

PRÊMIO ART CINEMA
Wolf and Sheep
Dir: Shahrbanoo Sadat

PRÊMIO Society of Dramatic Authors and Composers
The Together Project
Dir: Solveig Anspach

Europa Cinemas Label
Mercernary
Dir: Sacha Wolff

CRITICS’ WEEK

GRANDE PRÊMIO
Mimosas
Dir: Oliver Saxe

PRÊMIO VISIONÁRIO
Album
Dir: Mehmet Can Mertoğlu

PRÊMIO Society of Dramatic Authors and Composers
Diamond Island
Dir: Day Chou

FIPRESCI

COMPETIÇÃO
Toni Erdmann
Dir: Maren Ade

Un Certain Regard
Dogs
Dir: Bogdan Mirică

Critics’ Week
Raw
Dir: Julia Ducournau

Apesar de alta de filmes latinos, Brasil não disputa o Leão de Ouro no Festival de Veneza 2015

Pôster do 72º Festival de Veneza com Nastassja Kinski e Jean-Pierre Léaud.

Pôster do 72º Festival de Veneza com Nastassja Kinski e Jean-Pierre Léaud.

FESTIVAL CONTA COM SELEÇÃO QUE MISTURA NOMES CONSAGRADOS COM NOMES EM ASCENSÃO

Nesse último dia 29 de julho, o Festival de Veneza anunciou sua seleção oficial para esta edição de nº 72. A homenageada deste ano é a atriz alemã Nastassja Kinski, cujo retrato estampa o pôster do evento. Ao fundo, o jovem personagem Antoine Doinel dos filmes de François Truffaut indica a homenagem ao ator Jean-Pierre Léaud.

Para avaliar e premiar as produções selecionadas, o júri será presidido pelo diretor mexicano Alfonso Cuarón, que foi o primeiro latino a ganhar o Oscar de Direção por Gravidade em 2014. Ele contará com a colaboração de outros diretores como o turco Nuri Bilge Ceylan (que ganhou a Palma de Ouro com Winter Sleep), o polonês Pawel Pawlikowski (que ganhou o Oscar de Filme em Língua Estrangeira com Ida), a britânica Lynne Ramsay, o chinês Hou Hsiao-Hsien (que já levou o Leão de Ouro em 1989 por A Cidade do Desencanto) e o italiano Francesco Munzi. Além dos diretores, as atrizes Elizabeth Banks e Diane Kruger e o roteirista Emmanuel Carrère participarão do júri.

O presidente do júri Alfonso Cuarón (photo by cineuropa.org)

O presidente do júri Alfonso Cuarón (photo by cineuropa.org)

Embora não se confirme, com Cuarón na presidência, os concorrentes latino-americanos acabam ganhando algum status de favoritos. Pior para o Brasil que não teve nenhum representante na seleção oficial, aliás, fato que não ocorre há tempos. Felizmente, para não passar em branco na cerimônia, o país conta com dois longas na mostra paralela Orizzonti (Horizontes): Boi Neon, de Gabriel Mascaro; e Mate-me Por Favor, da estreante carioca Anita Rocha da Silveira. Além dos longas, o curta-metragem paranaense de Aly Muritiba e Marja Calafange, Tarântula, também integrará a mostra.

Cena do longa brasileiro Mate-Me Por Favor, de Anita Rocha da Silveira (photo by reicine.com.ar)

Cena do longa brasileiro Mate-Me Por Favor, de Anita Rocha da Silveira (photo by reicine.com.ar)

Já os latino-americanos marcam presença com um total de nove produções, tendo duas concorrendo ao prêmio máximo: Desde Allá, de Lorenzo Vigas (México – Venezuela), e El Clan, do argentino Pablo Trapero. O primeiro foca na busca de um homem de 50 anos por jovens para passar uma noite, enquanto o segundo se baseia em fatos verídicos sobre uma família que tinha uma loja e um bar para praticar sequestros, extorsões e até assassinatos na época da ditadura militar na Argentina.

Cena de Desde Allá, de Lorenzo Vigas (photo by filmaffinity.com)

Cena de Desde Allá, de Lorenzo Vigas (photo by filmaffinity.com)

O diretor do festival, Alberto Barbera confirmou o bom momento do cinema latino-americano: “O que há de mais fresco e inovador no cinema hoje em dia vem da América Latina. Finalmente, além da quantidade, há qualidade. São filmes que surpreendem.”

Cena do filme argentino El Clan, de Pablo Trapero  (photo by cine.gr)

Cena do filme argentino El Clan, de Pablo Trapero (photo by cine.gr)

Na corrida pelo Leão de Ouro, outros nomes já figuram como fortes candidatos. O italiano Marco Bellochio (Sangue del Mio Sangue) é considerado um dos cineastas mais influentes dessa geração e deve estar na lista de premiados. O canadense Atom Egoyan (Remember), o norte-americano Cary Fukunaga, que ficou conhecido pela série de TV True Detective (Beasts of No Nation), o israelense Amos Gitai (Rabin, the Last Day), o italiano Luca Guadagnino (A Bigger Splash), o russo Aleksandr Sokurov, que levou o prêmio por Fausto em 2011 (Francofonia), e os hollywoodianos Charlie Kaufman, que traz a animação de comédia e fantasia Anomalisa, e o britânico Tom Hooper, que dirigiu The Danish Girl, sobre um dos primeiros homens que passaram por cirurgia de troca de sexo.

Além de The Danish Girl, outro grande favorito ao Oscar 2016, Aliança do Crime (Black Mass), de Scott Cooper, será exibido em Veneza, mas fora de competição. Ambos os filmes apresentam dois fortíssimos candidatos ao Oscar de Melhor Ator: Pelo primeiro, Eddie Redmayne em outro papel transformador, e pelo segundo, Johnny Depp, caracterizado como o criminoso Bill Bulger com sua aparência calva e grisalha.

Eddie Redmayne caracterizado como a Danish Girl (photo by cine.gr)

Eddie Redmayne caracterizado como The Danish Girl (photo by cine.gr)

Johnny Depp como Bill Bulger em Aliança do Crime (photo by independent.co.uk)

Johnny Depp como Bill Bulger em Aliança do Crime (photo by independent.co.uk)

O 72º Festival de Veneza acontece entre os dias 02 e 12 de setembro.

INDICADOS AO LEÃO DE OURO:

FRENZY (Abluka), de Emin Alper

HEART OF A DOG, de Laurie Anderson

SANGUE DEL MIO SANGUE, de Marco Bellocchio

LOOKING FOR GRACE, de Sue Brooks

EQUALS, de Drake Doremus

REMEMBER, de Atom Egoyan

BEASTS OF NO NATION, de Cary Fukunaga

PER AMOR VOSTRO, Giuseppe M. Gaudino

MARGUERITE, de Xavier Giannoli

RABIN, THE LAST DAY, de Amos Gitai

A BIGGER SPLASH, de Luca Guadagnino

THE ENDLESS RIVER, Oliver Hermanus

THE DANISH GIRL, de Tom Hooper

ANOMALISA, de Charlie Kaufman e Duke Johnson

L’ATTESA, Piero Messina

11 MINUTES (11 Minuts), de Jerzy Skolimowski

FRANCOFONIA, de Aleksandr Sokurov

EL CLAN, Pablo Trapero

DESDE ALLÁ, Lorenzo Vigas

L’HERMINE, de Christian Vincent

BEHEMOTH, Zhao Liang

Idris Elba em cena de Beasts of No Nation, de Cary Fukunaga (photo by cine.gr)

Idris Elba em cena de Beasts of No Nation, de Cary Fukunaga (photo by cine.gr)

MOSTRA HORIZONTES (ORIZZONTI)

Madame Courage, de Merzak Allouache
A Copy of My Mind, de Joko Anwar
Pecore in erba, de Alberto Caviglia
Tempete, de Samuel Collardey
The Childhood of a Leader, de Brady Corbet
Italian Gangster, de Renato De Maria
Wednesday, May 9, de Vahid Jalilvand
Mountain, de Yaelle Kayam
A War, de Tobias Lindholm
Interrogation, de Vetri Maaran
Free in Deed, de Jake Mahaffy
Boi Neon, de Gabriel Mascaro
Man Down, de Dito Montiel
Why Hast Thou Forsaken Me?, de Hadar Morag
Un monstruo de mil cabezas, de Rodrigo Pla
Mate-me Por Favor, de Anita Rocha Da Silveira
Taj Mahal, de Nicolas Saada
Interruption, de Yorgos Zois

FORA DE COMPETIÇÃO

Everest, de Baltasar Kormákur (FILME DE ABERTURA)
Go With Me
, de Daniel Alfredson

Non Essere Cattivo, de Claudio Caligari
Aliança do Crime (Black Mass), de Scott Cooper
Spotlight, de Thomas McCarthy
La Calle de la Amargura, de Arturo Ripstein
The Audition, de Martin Scorsese
Winter on Fire, de Evgeny Afineevsky
De Palma, de Noah Baumbach e Jake Paltrow
Janis, de Amy Berg
Sobytie, de Sergei Loznitsa
Gli Uomini di Questa Citta Io Non li Consoco, de Franceo Maresco
L’Esercito Piu Piccolo Del Mondo, de Gianfranco Pannone
Na Ri Xiawu, de Tsai Ming-liang
In Jackson Heights, de Frederick Wiseman
Human, de Yann Arthus-Bertrand 
La Vie et Rien D’Autre, de Bertrand Tavernier

Contrariando expectativas, filme chinês ‘Black Coal, Thin Ice’ leva o Urso de Ouro 2014

À esquerda, o ator Liao Fan ao lado do diretor Yi'nan Diao, vencedor do Urso de Ouro por Black Coal, Thin Ice (photo by www.thelocal.de)

À esquerda, o ator Liao Fan ao lado do diretor Yi’nan Diao, vencedor do Urso de Ouro por Black Coal, Thin Ice (photo by http://www.thelocal.de)

Por se tratar de um festival na Alemanha, a imprensa do país estava com altas expectativas de que o Urso de Ouro pudesse vir para casa, ainda mais por haver quatro produções alemãs em disputa, mas o presidente do júri, James Schamus (mais conhecido por produzir filmes do diretor Ang Lee), não estava interessado em patriotagem (talvez com receio de repetir o que Bernardo Bertolucci fez no último Festival de Veneza) e apenas um desses filmes recebeu o prêmio de roteiro: Kreuzweg (Stations of the Cross), que aborda a religião de ponto de vista familiar.

Outro que caiu do cavalo foi o diretor americano Richard Linklater, mundialmente conhecido por sua trilogia: Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013). Como suas sessões foram ovacionadas ao final e o filme fora muito bem cotado pela crítica especializada, Linklater aguardava pelo prêmio máximo como reconhecimento de sua ousadia em filmar uma história em 12 anos, mas acabou premiado apenas como Melhor Diretor (ele já havia sido premiado anteriormente por Antes do Amanhecer). Boyhood (sem título e sem previsão de estréia no Brasil) acompanha a vida e o amadurecimento do menino Mason dos 5 até os 17 anos de idade, mas sem exigir a troca de ator, já que ele esperou 12 anos pelo crescimento do ator Ellar Coltrane.

Equipe de Boyhood, da esquerda para a direita: Ethan Hawke, Ellar Coltrane, Patricia Arquette e o diretor Richard Linklater. No detalhe, o menino Coltrane (bigger photo by LA times)

Equipe de Boyhood, da esquerda para a direita: Ethan Hawke, Ellar Coltrane, Patricia Arquette e o diretor Richard Linklater. No detalhe, o menino Coltrane (bigger photo by LA times)

Na coletiva de imprensa dos vencedores, Richard Linklater procurou amenizar a decepção: “Quando a gente faz um filme, é porque sente necessidade de expressar alguma coisa, não é pensando em prêmios. O cinema não é, nem deve ser uma competição. Há espaço para todos.” A produção do filme teve que se virar para levantar a grana, pois nenhum investidor queria apostar dinheiro num filme que levaria mais de 12 anos para ser finalizado e distribuído. A idéia de aguardar por mais de uma década a retomada de uma filmagem soa como ousada e merecia mais reconhecimento, contudo é preciso conferir se essa exigência do diretor foi realmente devida e bem aplicada no filme, e não mera frescura experimental. Segundo depoimento, Linklater teria assemelhado sua idéia aos filmes de François Truffaut estrelados por Jean-Pierre Léaud que acompanham o amadurecimento do personagem Antoine Doinel: Os Incompreendidos (1959), Amor aos 20 Anos (1962), Beijos Proibidos (1968), Domicílio Conjugal (1970) e O Amor em Fuga (1979).

Com tanta insatisfação, a vitória do filme chinês Black Coal, Thin Ice, de Yi’nan Diao só podia ficar indigesta. Pra piorar o quadro, Schamus também premiou o ator Liao Fan. Trata-se apenas do terceiro filme de Diao, que retoma o tema da violência da China contemporânea explorada recentemente por Jia Zhang-Ke em Um Toque de Pecado (que ganhou Melhor Roteiro em Cannes 2013), mas com uma vertente cinema noir detetivesco. Obviamente, o cinema chinês está em alta, mas não significa que todos os filmes de lá são imprescindíveis.

Cena de Black Coal, Thin Ice (photo by elfilm.com)

Cena de Black Coal, Thin Ice (photo by elfilm.com)

Na matéria publicada hoje no jornal O Estado de S. Paulo por Luiz Carlos Merten, ele fala em “incompetência do júri”, metendo o pau no James Schamus. Particularmente, não acredito em más escolhas no âmbito da Arte. Ele foi apenas convidado pelos organizadores do evento e deu seu voto como realizador. Se ele votasse nos melhores segundo a imprensa, não haveria necessidade de um júri, certo? Nessa questão, sou apenas contra a escalação de um júri composto por artistas previamente envolvidos com os concorrentes, seja profissional ou amorosamente, pois permite equívocos como o Leão de Ouro para Um Lugar Qualquer, de Sofia Coppola (ex-namorada do presidente do júri, Quentin Tarantino) e ambigüidades como a Palma de Ouro para A Fita Branca, de Michael Haneke, concedido por sua atriz favorita Isabelle Huppert.

Com um elenco inflado de celebridades internacionais como Ralph Fiennes, Edward Norton, Jude Law, Tilda Swinton, Saoirse Ronan, Léa Seydoux, Owen Wilson, Adrien Brody, Bill Murray, Jeff Goldblum, Willem Dafoe, Harvey Keitel, Tom Wilkinson, F. Murray Abraham e Jason Schwartzman (seria mais fácil citar quem NÃO está no filme!), o diretor Wes Anderson acompanha a rotina do concierge Gustave (Fiennes) no hotel que dá nome ao filme The Grand Budapest Hotel. Como em seus filmes anteriores, Anderson busca extrair um humor inusitado e nada comum de seus atores. No festival, saiu com o Grande Prêmio do Júri (espécie de segundo lugar), e se sobreviver ao ano todo, pode até concorrer nas categorias de Melhor Elenco de 2014…

À esquerda, Ralph Fiennes como o concierge Gustave com o seu leal lobby boy Zero, interpretado por Tony Revolori (photo by outnow.ch)

À esquerda, Ralph Fiennes como o concierge Gustave com o seu leal lobby boy Zero, interpretado por Tony Revolori em The Grand Budapest Hotel (photo by outnow.ch)

Embora o brasileiro Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, não ter levado nenhum prêmio como os demais concorrentes sul-americanos, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, filme de estréia de Daniel Ribeiro, levou o Teddy Bear, concedido à melhor produção de temática homossexual.

Vencedores do 64º Festival de Berlim:

URSO DE OURO: Black Coal, Thin Ice (Bai ri yan huo), de Yi’nan Diao

MELHOR DIRETOR: Richard Linklater (Boyhood)

MELHOR ATOR: Liao Fan (Black Coal, Thin Ice)

MELHOR ATRIZ: Haru Kuroki (Little House)

MELHOR ROTEIRO: Dietrich Brüggemann e Anna Brüggemann (Stations of the Cross)

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI: Wes Anderson (The Grand Budapest Hotel)

ALFRED BAUER PRIZE: Amar, Beber, Cantar (Aimer, boire et chanter), de Alain Resnais

URSO DE PRATA POR CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA: Zeng Jian pela fotografia de Blind Massage

TEDDY BEAR: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro

A japonesa Haru Kuroki recebe o Urso de Prata de Melhor Atriz das mãos do vencedor do Oscar Christoph Waltz (photo by japantimes.co.jp)

A japonesa Haru Kuroki recebe o Urso de Prata de Melhor Atriz das mãos do vencedor do Oscar Christoph Waltz (photo by japantimes.co.jp)

%d blogueiros gostam disto: