
Alfonso Cuarón recebe o Leão de Ouro por Roma, seu projeto mais pessoal (pic by Variety)
COM A VITÓRIA, NETFLIX CAVA UMA VAGA INÉDITA NA CATEGORIA DE MELHOR FILME NO OSCAR 2019
Depois de inúmeras avaliações positivas em Veneza, o Leão de Ouro só podia ir para Roma. O mais novo trabalho do mexicano Alfonso Cuarón, um drama preto-e-branco que acompanha a vida de uma família trabalhadora nos anos 70 no México, bateu outras 21 produções e praticamente garantiu seu lugar na próxima edição do Oscar.
Por se tratar de um projeto bastante pessoal do diretor, baseado em sua vida e seu passado, Cuarón sequer chamou seu colaborador assíduo Emmanuel Lubezki e assumiu a direção de fotografia, além da montagem e roteiro. Resultado: o diretor retorna ao festival que o consagrou com Gravidade em 2013 para levar o prêmio máximo.

Cena de Roma, de Alfonso Cuarón (pic by imdb.com)
“Esse prêmio e este festival são incrivelmente importantes para mim”, agradeceu o diretor Alfonso Cuarón ao receber a honraria. De certa forma, esta premiação resume bem o que foi o Festival de Veneza deste ano.
Primeiramente, trata-se da primeira produção da Netflix a ganhar o Leão de Ouro. Sim, a mesma plataforma de streaming que foi recusada e odiada no Festival de Cannes em Maio e agora brilha na Itália, onde foi muito bem recebida pelos organizadores do evento. O presidente de Veneza, Alberto Barbera, reconheceu que Netflix é o futuro do cinema, e que não poderia impedir esse próximo passo.
Por outro lado, os donos das salas de cinema na França podem fazer cara feia, mas o fato é que os streamings já são realidade e não será nada fácil mantê-los afastados dos festivais, pois a tendência é que os eventos que os recusam sejam os extintos nessa história. Hollywood e seus profissionais querem trabalhar e o que não falta na Netflix, Amazon e outras plataformas é justamente trabalho!
Além de Roma, a Netflix viu outra produção premiada na noite: Melhor Roteiro para os irmãos Coen por The Ballad of Buster Scruggs, que originalmente seria uma série Netflix, mas acabou se tornando um longa-metragem.

Yorgos Lanthimos recebe o Grande Prêmio do Júri (Leão de Prata) por The Favourite (pic by The Greek Observer)
Pra não dizer que foi tudo um mar de rosas em Veneza, houve um pequeno burburinho sobre um possível favorecimento de Roma pelo presidente do júri deste ano, Guillermo del Toro, conterrâneo e amigo de Alfonso Cuarón. Essa especulação só não tomou maiores proporções, porque o filme mexicano foi tão bem recebido por toda a mídia especializada, que ficou difícil levantar essa suspeita.
Além de premiar Roma, Veneza também reconheceu dois prováveis atores indicados ao Oscar 2019: Olivia Colman e Willem Dafoe. A atriz britânica estrela ao lado de Rachel Weisz e Emma Stone o novo filme do grego Yorgos Lanthimos, The Favourite, que faturou também o Grande Prêmio do Júri. Já o ator americano foi premiado por viver o artista Vincent Van Gogh no filme biográfico At Eternity’s Gate, dirigido por Julian Schnabel.

À esquerda, Olivia Colman interpreta a Rainha Anne em cena de The Favourite, e ao receber o prêmio de Melhor Atriz em Veneza

À esquerda, Willem Dafoe interpreta o pintor Vincent Van Gogh em cena de At Eternity’s Gate, e ao lado recebendo o prêmio de Melhor Ator em Veneza
E vale destacar o prêmio especial do júri para a cineasta australiana Jennifer Kent, que já havia surpreendido o público com O Babadook em 2014. Ela retorna com uma história de vingança e violência passada no século XIX em The Nightingale, que também valeu o prêmio Marcello Mastroianni para o jovem Baykali Ganambarr. Em sites especializados, destacaram que Kent foi a única cineasta mulher a receber um dos principais prêmios. Prefiro dizer que ela foi simplesmente merecedora por sua competência.

À esquerda, a atriz Aisling Franciosi em cena de The Nightingale, e à direita, a diretora Jennifer Kent com o Prêmio Especial do Júri.
VENCEDORES DA 75ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE VENEZA:
LEÃO DE OURO
Roma
Dir: Alfonso Cuarón
GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
The Favourite
Dir: Yorgos Lanthimos
LEÃO DE PRATA PARA MELHOR DIRETOR
Jacques Audiard (The Sisters Brothers)
MELHOR ATRIZ
Olivia Colman (The Favourite)
MELHOR ATOR
Willem Dafoe (At Eternity’s Gate)
MELHOR ROTEIRO
Joel Coen e Ethan Coen (The Ballad of Buster Scruggs)
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
The Nightingale
Dir: Jennifer Kent
PRÊMIO MARCELLO MASTROIANNI PARA JOVEM ATOR
Baykali Ganambarr (The Nightingale)
MOSTRA HORIZONTES (ORIZZONTI)
MELHOR FILME: “Manta Ray”, de Phuttiphong Aroonpheng (Tailândia)
MELHOR DIREÇÃO: Emir Baigazin, Emir Baigazin (Cazaquistão)
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI: “The Announcement”, de Mahmut Fazil Coskun (Turquia)
MELHOR ATRIZ: Natalia Kudryashova (A Man Who Surprised Everyone) (Rússia)
MELHOR ATOR: Kais Nashif (Tel Aviv on Fire) (Israel)
MELHOR ROTEIRO: “Jinpa”, de Pema Tseden (China)
MELHOR CURTA-METRAGEM: “Kado”, de Aditya Ahmad (Indonésia)
LEÃO DO FUTURO: “The Day I Lost My Shadow”, de Soudade Kaadan (Síria)
Luigi De Laurentiis Award for Best Debut Film:
VENICE CLASSICS
MELHOR DOCUMENTÁRIO NO CINEMA: “The Great Buster: A Celebration,” Peter Bogdanovich
MELHOR FILME RESTAURADO: “The Night of the Shooting Stars”, de Paolo e Vittorio Taviani
VIRTUAL REALITY COMPETITION
MELHOR REALIDADE VIRTUAL: “Spheres”, de Eliza McNitt
MELHOR EXPERIÊNCIA DE REALIDADE VIRTUAL: “Buddy VR”, de Chuck Chae
MELHOR HISTÓRIA DE REALIDADE VIRTUAL: “Isle of the Dead”, de Benjamin Nuel