Rapidinhas de Cannes 2013

A jovem atriz Emma Watson rouba a cena no tapete vermelho em Cannes

A jovem atriz Emma Watson rouba a cena no tapete vermelho em Cannes

Nada como um tapete vermelho para promover os filmes em exibição em Cannes. Mesmo não se tratando de um candidato ao prêmio máximo, a Palma de Ouro, o novo filme de Sofia Coppola, Bling Ring: A Gangue de Hollywood, encarregou-se de atrair os holofotes da mídia, uma vez que sua atriz principal é ninguém menos que a jovem Emma Watson, a Hermione da série Harry Potter. Vista como talento promissor, Watson interpreta um membro de uma gangue de adolescentes que assalta casas e mansões de celebridades de Hollywood depois de obter informações pela internet.

Certa vez li numa publicação nacional que Sofia Coppola, filha do lendário diretor Francis Ford Coppola, só fazia filmes sobre patologias da burguesia atual, tais como melancolia e vazio existencial. Claro que As Virgens Suicidas (1999), Encontros e Desencontros (2003) e Maria Antonieta (2006) dialogam com essa temática, mas nem por isso deixam de apresentar perspectivas interessantes. Neste novo trabalho, ela procura destrinchar o universo adolescente de hoje através dessa obsessão quase doentia de transpôr a vida pessoal nas redes sociais. Os ladrões da gangue não precisam necessariamente do dinheiro, mas buscam o glamour das estrelas através de jóias e roupas caras e postar as fotos para os amigos e seguidores virtuais apreciarem. Novos tempos.

Em entrevista no festival, a diretora e roteirista, Sofia Coppola, brincou: “Sou tão feliz por não ter tido Facebook quando eu era adolescente!”. Claire Julien, outra atriz do filme, declarou: “Facebook hoje é quase uma obrigação, porque todo mundo tem e você acha que vai ficar pra trás se não tiver”.

Equipe de Fruitvale Station: Melonie Diaz, o diretor Ryan Coogler, Michael B. Jordan e Octavia Spencer

Equipe de Fruitvale Station: Melonie Diaz, o diretor Ryan Coogler, Michael B. Jordan e Octavia Spencer

Apesar de todo o burburinho em volta de Bling Ring: A Gangue de Hollywood, o filme que acabou se destacando mais na competição Un Certain Regard até o momento foi o drama independente americano Fruitvale Station. Baseado em fatos verídicos, o longa conta a história do jovem negro que foi assassinado por policiais brancos em 2008.

Após sua exibição, o longa foi aplaudido de pé por cinco minutos. Muitos da mídia apostam que o primeiro longa de Coogler tem grandes chances de repetir o feito de outra produção independente: Indomável Sonhadora, pois igualmente conquistou o Grande Prêmio de Sundance esse ano, tem ótimas possibilidades de conquistar um prêmio em Cannes e poderá concorrer em principais categorias do Oscar 2014, inclusive como Melhor Ator (Michael B. Jordan), que arrancou críticas excepcionais. Aliás, o Oscar deve se tornar realidade, pois a Weinstein Company, que costuma fazer lobbys bem fortes, comprou os direitos do filme.

A nova musa de Cannes, Marine Vacth, em cena de Jeune et Jolie, de François Ozon

A nova musa de Cannes, Marine Vacth, em cena de Jeune et Jolie, de François Ozon

Já pela competição oficial, o novo filme do conceituado diretor François Ozon também busca destrinchar esse vazio da juventude atual em Jeune et Jolie. Logo tachado como o novo A Bela da Tarde pela imprensa internacional, o filme acompanha a trajetória da jovem de 17 anos que procura sexo por puro prazer, sem necessidades financeiras ou mesmo culpa. A semelhança com a história da brasileira Bruna Surfistinha é nítida, mas digamos que Ozon oferece um olhar mais intimista e delicado, a começar pela escolha da protagonista.

Descoberta aos 17 anos como modelo, Marine Vacth, impressionou a todos com sua beleza exuberante. Porém, o diretor não buscava apenas beleza: “Em seus olhos, eu podia ver que havia um mundo inteiro ali. Um mistério e uma tristeza que eram exatamente o que procurava no meu filme”.

Assim como o filme foi comparado ao de Luís Buñuel, obviamente ela também foi comparada à musa Catherine Deneuve. Em resposta, Marine foi sucinta e profissional: “Não sou Catherine Deneuve. Quero ser eu mesma e não seguir os passos dos outros”. Se ela e o agente souberem escolher sabiamente futuros projetos, a atriz tem tudo para conquistar novos horizontes, como fez a francesa Eva Green, por exemplo.

A equipe de Inside Llewyn Davis (da esq. para dir.): Garrett Hedlund, Joel Coen, Oscar Isaac, Carey Mulligan, Justin Timberlake, Ethan Coen, Johnn Goodman e o músico T-Bone Burnett

A equipe de Inside Llewyn Davis (da esq. para dir.): Garrett Hedlund, Joel Coen, Oscar Isaac, Carey Mulligan, Justin Timberlake, Ethan Coen, John Goodman e o músico T-Bone Burnett

Já considerado favorito à Palma de Ouro, o novo trabalho dos irmãos Coen, Inside Llewyn Davis, apresenta o protagonista-título como um cantor folk no cenário musical da Nova York de 1961. Apesar de fictício, o personagem seria uma mistura de vários artistas musicais da época, inclusive de Bob Dylan, que o filme tem ligação quase direta.

Inside Llewyn Davis seria um road movie, com direito a um gato chamado Ulisses (referência direta de Homero, cuja obra “A Odisséia” foi adaptado pelos irmãos Coen em E Aí, Irmão, Cadê Você? em 2000) e o mesmo ator do road movie de Walter Salles, Na Estrada, Garrett Hedlund. Entretanto, o maior elogio foi para a atuação do protagonista, Oscar Isaac, pois além de sua interpretação, canta as composições do músico T-Bone Burnett. Seria mais um fortíssimo candidato ao Oscar de Melhor Ator de 2014.

Trata-se da oitava indicação de Joel Coen e Ethan Coen à Palma de Ouro, tendo levado apenas uma em 1991 pelo drama Barton Fink – Delírios de Hollywood. Mas já conquistaram outros prêmios como direção pelo mesmo filme, Fargo em 1996, e por O Homem que Não Estava Lá em 2001, comprovando que os diretores são mesmo queridinhos em Cannes.

Indicados à Palma de Ouro de Cannes 2013

Pôster do Festival de Cannes 2013, estrelado pelo casal hollywoodiano Paul Newman e Joanne Woodward

Pôster do Festival de Cannes 2013, estrelado pelo casal hollywoodiano Paul Newman e Joanne Woodward

Foi dada a largada do maior festival de cinema do mundo com o anúncio dos filmes indicados ao mais cobiçado prêmio: a Palma de Ouro. É importante destacar que o elo entre Cannes e o Oscar, outrora frio e distante, está numa crescente. Em 2011, o vencedor do prêmio de interpretação masculina, O Artista, acabou levando 5 Oscars incluindo Melhor Filme. Já neste ano,  além da produção franco-austríaca Amor, vencedora da Palma de Ouro, ter vencido o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, outros filmes que participaram das seleções de Cannes como Moonrise Kingdom e Indomável Sonhadora conquistaram indicações ao prêmio da Academia.

Essa ponte entre o Festival de Cannes, que ocorre em maio, e o Oscar, em fevereiro, tem sido benéfica para ambos. Enquanto os realizadores selecionados na França podem ambicionar vôos mais altos e comerciais com um possível reconhecimento nos EUA, o fato da lista de indicados ao Oscar terem esse “pedigree” de sucesso oriundo de Cannes eleva o patamar de qualidade da Academia, que já sofreu muitas críticas por valorizarem demais produções que se deram bem nas bilheterias sem levar muito em consideração a veia artística do filme.

O presidente do júri: Steven Spielberg (photo by goodfellasmovie.blogspot.com)

O presidente do júri: Steven Spielberg (photo by goodfellasmovie.blogspot.com)

Este ano, o presidente do júri de Cannes, Steven Spielberg, contará com uma seleção bem eclética que vai de nomes consagrados como os irmãos Coen e Roman Polanski (que já venceram a Palma de Ouro com Barton Fink – Delírios de Hollywood e O Pianista, respectivamente) até realizadores desconhecidos do cenário internacional como o espanhol Amat Escalante e italiana Valeria Bruni Tedeschi, atriz que já trabalhou com outro indicado este ano, o francês François Ozon, e o próprio Spielberg em Munique (2005).

Normalmente, os presidentes do júri evitam conceder a Palma às produções de seu país a fim de não criar polêmicas na divulgação dos premiados no encerramento, como o compatriota Quentin Tarantino já fez duas vezes. Em 2004, ele premiou o documentarista americano Michael Moore por Fahrenheit 11 de Setembro, e ficou marcado por ter dado explicações de sua escolha pela primeira vez na história do festival. Já em 2010, como presidente do Festival de Veneza, concedeu o Leão de Ouro à americana e ex-namorada Sofia Coppola por Um Lugar Qualquer. Ok, pode acontecer, afinal o sistema não é como futebol, no qual os árbitros não são do mesmo país ou estado dos times em campo, mas os reclamantes defendem que havia escolhas mais interessantes em competição.

Segue a lista dos indicados à Palma de Ouro, lembrando que no decorrer do evento, cerca de três filmes são inclusos na competição oficial:

Palma de Ouro

Palma de Ouro

PALMA DE OURO

O Grande Gatsby (The Great Gatsby), de Baz Luhrmann (FILME DE ABERTURA)

Un Château en Italie, de Valeria Bruni-Tedeschi
Inside Llewyn Davis, de Ethan Coen e Joel Coen
Michael Kohlhaas, de Arnaud del Pallières
Jimmy P. (Psychotherapy of Plains Indian), de Arnaud Desplechin
Heli, de Amat Escalante
Le Passé (The Past), de Asghar Farhadi
The Immigrant, de James Gray
Grigris, de Mahamat-Saleh Haroun
Tian Zhu Ding (A Touch of Sin), de Jia Zhanke
Soshite Chichi ni Naru (Like Father, Like Son), de Kore-eda Hirokazu
La Vie d’Adèle (Blue is the Warmest Color), de Abdellatif Kechiche
Wara no Tate (Shield of Straw), de Takashi Miike
Jeune et Jolie (Young and Beautiful), de François Ozon
Nebraska, de Alexander Payne
La Vénus à la Fourrure, de Roman Polanski
Behind the Candelabra, de Steven Soderbergh
La Grande Bellezza (The Great Beauty), de Paolo Sorrentino
Borgman, de Alex van Warmerdam
Only God Forgives, de Nicolas Winding Refn

Zulu, de Jérôme Salle (FILME DE ENCERRAMENTO)

Independente dos vencedores, já vale conferir novos trabalhos de diretores de visão singular como os japoneses Takashi Miike e Kore-eda Hirokazu, o chinês Jia Zhang Ke (que sabe retratar como ninguém as transformações da China na globalização), o dinamarquês Nicolas Winding Refn, que ganhou o prêmio de direção com Drive, e o italiano Paolo Sorrentino, que está em ascensão.

Particularmente, fiquei feliz com a indicação de Alexander Payne por Nebraska. O diretor é um dos poucos americanos que sabem conciliar sua veia comercial ao lado de estrelas como George Clooney e Jack Nicholson com uma perspectiva bastante humana. Para este novo projeto Nebraska, havia rumores de que o ator Robert Duvall assumiria o papel de protagonista aos 82 anos, mas outro veterano conquistou o papel principal: Bruce Dern, 76, pai da atriz Laura Dern. Ele foi considerado uma das grandes promessas no campo da atuação na década de 70, chegando a ser indicado ao Oscar de coadjuvante por Amargo Regresso, mas não vingou em Hollywood.

Claro que não tem como não mencionar o novo filme de Steven Soderbergh, afinal, o diretor tem sérios planos de parar de fazer filmes para lançamento em salas de cinema, muito em razão da covardia dos grandes estúdios de Hollywood. Numa entrevista, Soderbergh revelou que o filme foi planejado para lançamento em cinema, mas acabou indo para o ar pelo canal HBO porque os estúdios alegaram que a história era “muito gay”. “Ninguém queria fazer. Fomos atrás de todo mundo na cidade. Todos disseram que era muito gay. E isso veio depois de O Segredo de Brokeback Mountain(!), que nem é engraçado como esse filme. Fiquei chocado. Não fez nenhum sentido para nós.” Behind the Candelabra conta o caso de amor verídico entre o músico Liberace (Michael Douglas) e o bem mais jovem Scott (Matt Damon).

Michael Douglas e Matt Damon já caracterizados em Behind the Candelabra, de Steven Soderbergh: "Gay demais"? (photo by www.cine.gr)

Michael Douglas e Matt Damon já caracterizados em Behind the Candelabra, de Steven Soderbergh: “Gay demais”? (photo by http://www.cine.gr)

Além dessa polêmica, com a indicação de Behind the Candelabra, o Festival de Cannes garante a presença de estrelas hollywoodianas no tapete vermelho. Além dos já citados Michael Douglas e Matt Damon, a veterana Debbie Reynolds (do musical Cantando na Chuva), Dan Aykroyd e Rob Lowe podem comparecer ao evento. Já Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire e Carey Mulligan devem marcar presença pela nova adaptação de O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann, ainda mais que o filme abrirá o festival. Mulligan ainda compete pelo novo filme dos irmãos Coen, Inside Llewyn Davis, que conta também com Justin Timberlake e John Goodman. E ainda estão convidados Ryan Gosling e Kristin Scott Thomas pelo novo filme de Nicolas Winding Refn, Only God Forgives, que aborda uma vingança no submundo do crime em Bangkok.

Carey Mulligan e Justin Timberlake em Inside Llewyn Davis

Carey Mulligan e Justin Timberlake em Inside Llewyn Davis (photo by http://www.elfilm.com)

Apesar de contar também com a presença das estrelas Joaquin Phoenix, Jeremy Renner e Marion Cotillard, vale a pena ficar atento ao novo filme James Gray, The Immigrant (Lowlife). Embora seja relativamente jovem, o diretor tem chamado atenção por seu trabalho com o elenco, tendo valorizado o potencial de Joaquin Phoenix através dos filmes Os Donos da Noite (2007) e Amantes (2008). Talvez um dos prêmios de atuação saia deste filme.

Joaquin Phoenix e Marion Cotillard em The Immigrant, de James Gray (photo by www.elfilm.com

Joaquin Phoenix e Marion Cotillard em The Immigrant, de James Gray (photo by http://www.elfilm.com

E pra fechar, a indicação de Le Passé (The Past) possibilita o público de conferir o primeiro filme do iraniano Asghar Farhadi depois do sucesso de A Separação (vencedor do Urso de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro) numa produção em língua francesa, dirigindo a atriz Bérènice Bejo (de O Artista).

Bérènice Bejo em Le Passé (The Past), do iraniano Asghar Farhadi (photo by www.cineimage.ch)

Bérènice Bejo em Le Passé (The Past), do iraniano Asghar Farhadi (photo by http://www.cineimage.ch)

O Festival de Cannes também oferece outras seleções, sendo a mais instigante a Mostra Un Certain Regard, que visa buscar um olhar inovador que reflita os problemas dos tempos atuais. Em 2012, o mexicano Depois de Lúcia se sagrou vencedor dessa competição ao questionar a eficiência do sistema educacional (confira post sobre o filme em https://cinemaoscareafins.wordpress.com/2013/03/24/depois-de-lucia-despues-de-lucia-de-michel-franco-2012/).

Seleção Un Certain Regard

Seleção Un Certain Regard

UN CERTAIN REGARD (Um Certo Olhar):

The Bling Ring, de Sofia Coppola
Omar, de Hany Abu-Assad
Death March, de Adolfo Alix Jr.
Fruitvale, de Ryan Coogler
Les Salauds, de Claire Denis
Norte, Hangganan Ng Kasaysayan (Norte, the End of History), de Lav Diaz
As I Lay Dying, de James Franco
Miele, de Valeria Golino
L’Inconnu du Lac, de Alain Guiraudie
Bends, de Flora Lau
L’Image Manquante, de Rithy Panh
La Jaula de Oro, de Diego Quemada-Diez
Sarah Préfère la Course (Sarah Would Rather Run), de Chloé Robichaud
Grand Central, de Rebecca Zlotowski

FORA DE COMPETIÇÃO

All is Lost, de J.C. Chandor
Blood Ties, de Guillaume Canet

Resumidamente, vale destacar a forte presença de Sofia Coppola com o filme pop The Bling Ring, sobre uma gangue real de jovens de classe média alta roubando casas de celebridades em Beverly Hills. Coppola apostou suas fichas na jovem Emma Watson, da extinta cinessérie Harry Potter, que comprova que cresceu uma bela atriz.

Emma Watson (à dir.) em cena de The Bling Ring (photo by OutNow.CH)

Emma Watson (à dir.) em cena de The Bling Ring (photo by OutNow.CH)

Os atores James Franco e Valeria Golino foram selecionados por trabalhos na direção, denotando uma forte tendência de novos diretores oriundos da escola de atuação tendo como forte referência Ben Affleck (vencedor do Oscar de Melhor Filme por Argo).

E Fruitvale, de Ryan Coogler, que já ganhou o Grande Prêmio do Jury – Dramático no Festival de Sundance, volta a concorrer por outro importante reconhecimento em Cannes, podendo seguir os mesmos passos de Indomável Sonhadora, de Benh Zeitlin.

O Festival de Cannes 2013 tem início no dia 15 de maio e vai até o dia 26, quando serão divulgados os vencedores desta edição.

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