
Pôster da 70ª edição do Festival de Veneza, inspirada pelo filme A Eternidade e Um Dia, de Theodoro Angelopoulos
Primeiramente, gostaria de pedir desculpas pelo atraso nesse post dos indicados ao Festival de Veneza. Como estive muito atarefado no final de julho, acabei me esquecendo do evento italiano.
Em segundo lugar, os organizadores do evento resolveram fazer uma bela homenagem ao diretor grego Theodoro Angelopoulos, morto num acidente de carro em janeiro desse ano. Concorreu ao Leão de Ouro por O Megalexandros (1980), O Melissokromos (1986) e Paisagem na Neblina (1988), mas nunca levou o prêmio máximo. Já em Cannes, conseguiu o feito em 1998 pelo drama A Eternidade e Um Dia.
Este ano, resolveram convocar um diretor italiano para presidir o júri. O premiado e consagrado cineasta Bernardo Bertolucci, conhecido por dirigir obras marcantes como O Último Imperador (com o qual ganhou 9 Oscars, inclusive Melhor Filme e Direção), Os Sonhadores (2003) e o eternamente erótico O Último Tango em Paris (1972). Apesar de nunca ter concorrido ao Leão de Ouro, Bertolucci foi homenageado em 2007 pelo conjunto da obra.

The Zero Theorem, de Terry Gilliam. Em cena, Christoph Waltz e David Thewlis. (photo by http://www.indiewire.com)

Dame Judi Dench ao lado de Steve Coogan em Philomena (photo by http://www.spaziofilm.it)
Ainda da Ásia, pra quem acredita que a presença da nova animação do mestre nipônico Hayao Miyazaki, Kaze Tachinu (The Wind Rises), trará mais leveza ao festival, pode estar seriamente enganado. Baseado numa história em quadrinhos de autoria do próprio Miyazaki, o filme se passa durante a 2ª Guerra Mundial e acompanha a vida do designer dos aviões de guerra Jiro Horikoshi. Segundo a crítica, Kaze Tachinu busca atingir o nível de dramaticidade e tragédia da clássica animação Túmulo dos Vagalumes(1988), do diretor Isao Takahata. Miyazaki conta novamente com a importante colaboração do compositor Joe Hisaishi.

Kaze Tachinu (The Wind Rises), de Hayao Miyazaki
Como de costume, os festivais podem dar aquela forcinha para as produções conterrâneas. Caso uma produção italiana não seja agraciada com o Leão de Ouro, existe forte possibilidade de ser compensada com algum outro prêmio, principalmente pelo presidente do júri também ser italiano. Seguindo essa lógica, os representantes conterrâneos: Via Castellana Bandiera (Castellana Bandiera Street) e Sacro GRA (Sacred GRA) podem se beneficiar, inclusive o veterano Gianni Amelio, que já tem um Leão de Ouro pelo filme Assim é que Se Ria (1998), que volta a competir com L’intrepido (The Intrepid).

Cena de L’intrepido (The Intrepid), de Gianni Amelio (photo by http://www.cinemagia.ro)
Contudo, ao contrário de edições anteriores, a competição está bastante nivelada. Embora haja alguns diretores mais experientes, não necessarimente indica um favoritismo. Nessas situações mais neutras, torna-se mais propício uma revelação ganhar reconhecimento. Temos vários nomes menos conhecidos como o do grego Alexandros Avranas, que vem com seu segundo longa Miss Violence. Vale a pena ficar de olho também no francês Philippe Garrel (La jalousie), no jovem britânico Jonathan Glazer (Under the Skin) e no pupilo do cinema independente americano David Gordon Green (Joe), uma vez que ganhou o Urso de Prata de direção no último Festival de Berlim por Prince Avalanche, que devem surpreender a crítica e o público.
O Festival de Veneza homenageará com o prêmio pelo conjunto da obra o diretor norte-americano William Friedkin, que, apesar de ter ficado mundialmente conhecido pelo terror O Exorcista (1973) e pelo oscarizado Operação França (1971), que renovou Hollywood na década de 70, também contribuiu para a modernização da linguagem televisiva. Aproveitando sua presença no festival, uma cópia restaurada de seu filme O Comboio do Medo (Sorcerer, de 1977) será exibida. “Considero Comboio do Medo meu filme mais pessoal e difícil”, declarou Friedkin.
Fora de competição, o novo filme do mexicano Alfonso Cuarón, Gravidade, será exibido com a presença dos astros George Clooney e Sandra Bullock.
Os 20 indicados ao Leão de Ouro são:
– Es-Stouh (The Rooftops)
Dir: Merzak Allouache (Argélia/ France)
– L’intrepido (The Intrepid)
Dir: Gianni Amelio (Itália)
– Miss Violence
Dir: Alexandros Avranas (Grécia)
– Tracks
Dir: John Curran (Inglaterra/ Austrália)
– Via Castellana Bandiera (Castellana Bandiera Street)
Dir: Emma Dante (Itália/ Suíça/ França)
– Tom a la ferme (Tom at the Farm)
Dir: Xavier Dolan (Canadá/ França)
– Child of God
Dir: James Franco (EUA)
– Philomena
Dir: Stephen Frears (Inglaterra)
– La jalousie (Jealousy)
Dir: Philippe Garrel (França)
– The Zero Theorem
Dir: Terry Gilliam (Inglaterra/ EUA)
– Ana Arabia
Dir: Amos Gitai (Israel/ França)
– Under the Skin
Dir: Jonathan Glazer (Inglaterra/ EUA)
– Joe
Dir: David Gordon Green (EUA)
– Die Frau des Polizisten (The Police Officer’s Wife)
Dir: Philip Groening (Alemanha)
– Parkland
Dir: Peter Landesman (EUA)
– Kaze tachinu (The Wind Rises)
Dir: Hayao Miyazaki (Japão)
– The Unknown Known: the Life and Times of Donald Rumsfeld
Dir: Errol Morris (EUA)
– Night Moves
Dir: Kelly Reichardt (EUA)
– Sacro GRA (Sacred GRA)
Dir: Gianfranco Rosi (Itália)
– Jiaoyou (Stray Dogs)
Dir: Tsai Ming-liang (Taiwan/ França)
O Festival de Veneza começa no dia 28 de agosto e termina no dia 07 de setembro, quando o júri divulgará os vencedores.

Scarlett Johansson vive a alienígena em forma humana Laura no filme Under the Skin, de Jonathan Glazer (photo by http://www.beyondhollywood.com)