Jackie Chan, Anne Coates, Lynn Stalmaster e Frederick Wiseman serão os homenageados do Governors Awards

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Da esquerda para direita: Jackie Chan, Anne V. Coates, Lynn Stalmaster e Frederick Wiseman (photo by Rex/Shutterstock/ Invision/AP through Variety)

HOMENAGEADOS ABRANGEM 4 ÁREAS DISTINTAS:
ATUAÇÃO, MONTAGEM, CASTING E DOCUMENTÁRIO

Olá, gente! Primeiramente, gostaria de pedir desculpas pelo atraso em postar aqui. Recentemente, mudei de residência e com isso, acabei não postando os indicados ao Festival de Veneza! Quando os vencedores forem divulgados, prometo que postarei.

Bom, a Academia revelou esta semana os profissionais que serão homenageados na cerimônia Governors Awards, que acontece no próximo dia 12 de novembro: o ator Jackie Chan, a montadora Anne V. Coates, o diretor de casting Lynn Stalmaster e o documentarista Frederick Wiseman.

“O Oscar Honorário foi criado para artistas como Jackie Chan, Anne Coates, Lynn Stalmaster e Frederick Wiseman – verdadeiros pioneiros e lendas em seus respectivos ofícios,” declarou a presidente da Academia Cheryl Boone Isaacs. “O conselho se orgulha por honrar suas extraordinárias conquistas, e esperamos ansiosamente para celebrar com eles no Governors Awards em Novembro.”

Após a atitude abrangedora da presidente Isaacs através dos convites para membros de todas as raças e nacionalidades, homenagear o hong-konguês Jackie Chan e a britânica Anne Coates parece ser uma nova extensão de sua política acolhedora.

Li alguns comentários de internautas perguntando: “O que Jackie Chan fez para merecer essa homenagem?” Se formos pela lógica da idade, comparado aos demais homenageados desta edição, Jackie realmente é um bebê, mas vale lembrar que ele já tem seus 62 anos. Já pela lógica de merecimento, temos que reconhecer que se trata de um ator internacional, que já atuou, escreveu, dirigiu e produziu mais de 30 filmes de artes marciais em Hong Kong. Dentre seus filmes mais famosos estão A Hora do Rush (trilogia), Bater ou Correr, a refilmagem de Karatê Kid e a trilogia de animação Kung Fu Panda.

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Jackie Chan ao lado de Chris Tucker em cena de A Hora do Rush 2 (photo by New Line Cinema)

Além disso, acredito que o Oscar Honorário também tem esse propósito de premiar profissionais que dificilmente concorrerão ao Oscar competitivo. Claro que Jackie Chan pode interpretar um papel bem dramático e acabar ganhando a estatueta, mas as chances disso acontecer são mínimas. E vale lembrar aqui de Bruce Lee, outra lenda dos filmes de artes marciais. Tenho certeza de que se ele tivesse vivido por mais tempo, a Academia teria lhe reservado um Oscar Honorário.

Dos 4 homenageados, apenas Anne V. Coates foi indicada e venceu o Oscar. Sua vitória foi pelo clássico de David Lean, Lawrence da Arábia, de 1962. Ele foi indicada também por Becket – O Favorito do Rei, O Homem Elefante, Na Linha do Fogo e Irresistível Paixão. E, assim como todos os homenageados, ela continua trabalhando. Sua montagem mais recente foi pelo hit feminino Cinquenta Tons de Cinza.

A homenagem a Stalmaster pode e deve ter uma positiva repercussão no departamento de casting. Trata-se de uma profissão importantíssima para os filmes hollywoodianos, pois pesquisa e descobre os atores mais adequados para os mais diversos papéis. O fato de uma veterana ser devidamente reconhecida pode finalmente concretizar a categoria competitiva no Oscar. Lynn Stalmaster já foi responsável pela escalação de grandes atores em filmes como A Primeira Noite de um Homem, Um Violinista no Telhado, Amargo Pesadelo, Tootsie (alguém teria imaginado Dustin Hoffman como uma mulher?) e Os Eleitos.

Já Frederick Wiseman vem produzindo documentários com uma frequência inacreditável de um filme por ano desde 1967. Em busca de um olhar mais antropológico, ele se aventura em todos os tipos de temas, desde violência doméstica, cidades, hospitais psiquiátricos até cabarés.

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Cena do documentário In Jackson Heights, sobre uma das cidades mais diversificadas do mundo. (photo by hollywoodreporter.com)

Tendo uma cerimônia não-televisionada, o Governors Awards se mostrou um sucesso, já que permite homenagens com videoclipes, introduções caprichadas e discursos morosos que carreiras excepcionais necessitam, algo que seria inviável numa cerimônia ao vivo como a do Oscar.

Seguem os homenageados das últimas edições:

2009: Lauren Bacall, John Calley, Roger Corman, Gordon Willis

2010: Jean-Luc Godard, Kevin Brownlow, Francis Ford Coppola, Eli Wallach

2011: James Earl Jones, Dick Smith, Oprah Winfrey

2012: Jeffrey Katzenberg, Hal Needham, D.A. Pennebaker, George Stevens Jr.

2013: Angelina Jolie, Angela Lansbury, Steve Martin, Piero Tosi

2014: Harry Belafonte, Jean-Claude Carrière, Maureen O’Hara, Hayao Miyazaki

2015: Spike Lee, Debbie Reynolds e Gena Rowlands

Spike Lee, Debbie Reynolds e Gena Rowlands serão homenageados no Governors Awards

Spike Lee, Debbie Reynolds e Gena Rowlands serão os homenageados deste ano (photo by elperiodico.com.do)

Spike Lee, Debbie Reynolds e Gena Rowlands serão os homenageados deste ano (photo by elperiodico.com.do)

ACADEMIA HONRA TRÊS INDICADOS QUE NUNCA VENCERAM

Para quem assiste à cerimônia do Oscar e não é lá muito cinéfilo, algumas categorias técnicas e/ou menores tais como Efeitos Sonoros ou Curta-Metragem de Animação podem ser um tédio interminável, ainda mais quando o vencedor sobe ao palco achando que tem que agradecer todas as pessoas que conheceu na vida. Aliás, há uns dois anos, já ouço rumores de que os organizadores do evento estariam interessados em limar essas categorias justamente para dar mais ritmo ao show e atrair mais audiência televisiva, que vem caindo nos últimos anos. E há 7 anos, em 2009, a Academia tomou uma decisão sábia nesse sentido: retirou o Oscar Honorário da cerimônia.

Calma. Não me interpretem mal! Sou cinéfilo e adoro as homenagens, especialmente com profissionais tão talentosos e experientes como os que ganharam a honraria como Stanley Donen e Robert Altman, mas em termos práticos, digamos assim, foi uma decisão acertada, pois era nesses momentos nostálgicos que o telespectador comum trocava de canal ou ia pra cama mais cedo. Além disso, com a criação do Governors Awards, um evento paralelo ao Oscar que ocorre em novembro, é possível fazer a homenagem com o devido respaldo e tempo (sem precisar tocar musiquinha pra expulsar o veterano do palco). E ao contrário do Oscar Honorário, que costumava honrar apenas um por ano, o Governors emplaca pelo menos três de uma vez! E com a festa separada, cada homenageado tem seu devido tempo com seu apresentador exclusivo.

Pra quem não conhece, veja o vídeo da homenagem ao mestre da animação Hayao Miyazaki no Governors Awards 2014, feito por John Lasseter, e em seguida, o discurso de Miyazaki:

Não existe uma regra específica para quem pode ser homenageado como o fato de nunca ter ganhado o Oscar. Prova disso foi o próprio diretor Hayao Miyazaki, que em 2002, mesmo ausente da cerimônia, venceu o Oscar de Melhor Longa de Animação por A Viagem de Chihiro. Mas, coincidência ou não, este ano, todos os artistas saudados nunca ganharam uma estatueta. Eles são: Spike Lee, Debbie Reynolds e Gena Rowlands. Eles foram os mais bem votados entre os membros da Academia na eleição que ocorreu no último dia 25. Não haverão receptores para os prêmios especiais Jean Hersholt Humanitarian Award e Irving G. Thalberg, destino a produtores.

DEBBIE REYNOLDS

Debbie Reynolds com Gene Kelly no filme Cantando na Chuva (photo by thetimes.co.uk)

Debbie Reynolds com Gene Kelly no filme Cantando na Chuva (photo by thetimes.co.uk)

Para o público cinéfilo, Debbie Reynolds será eternizada por sua performance como a atriz Kathy Selden no clássico musical Cantando na Chuva (1952). Além de seu talento como atriz, ela demonstrou habilidade na dança que muitos duvidaram. Afinal, não era qualquer uma que conseguiria acompanhar os passos de Gene Kelly e Donald O’Connor. Já para o público nerd, ela será sempre a mãe da Princesa Leia, a atriz Carrie Fisher, da cinessérie Star Wars, que terá a franquia reativada este ano com Star Wars: Episódio VII: O Despertar da Força.

Foi indicada uma vez para Melhor Atriz em 1965 por A Inconquistável Molly, mas perdeu para Julie Andrews (Mary Poppins). Curiosamente, recebeu o Lifetime Achievement Award no SAG este ano.

SPIKE LEE

Spike Lee em cena de Faça a Coisa Certa, escrito e dirigido por ele (photo by theodysseyonline.com)

Spike Lee em cena de Faça a Coisa Certa, escrito e dirigido por ele (photo by theodysseyonline.com)

Um dos primeiros filmes que assisti de Spike Lee foi Faça a Coisa Certa (1989). O que era aquele filme? Aquela obra transpirava criatividade e tinha uma voz única que pouco vi no cinema. Merecia o Oscar de Melhor Filme, que acabou indo para outro longa sobre racismo (Conduzindo Miss Daisy), mas beeeem mais light e conservador. Spike Lee, norte-americano negro, é um artista que trouxe orgulho à comunidade negra por sua defesa e retrato de personagens de seus filmes, sejam eles ficcionais ou verídicos como o lendário Malcolm X, impecavelmente interpretado por Denzel Washington. Porém, nos últimos anos, talvez exceto pelo bom O Plano Perfeito (2006), suas produções se tornaram menos relevantes. E pra piorar, caiu no meu conceito quando comprou briga com o diretor Quentin Tarantino por ele ter usado o termo “nigger” (crioulo) – muito comum na Mississipi racista – no filme Django Livre (2012). Parecia atitude de ex-Big Brother querendo causar pra aparecer na mídia… Uma pena.

Foi indicado ao Oscar duas vezes. Em 1990, pelo Roteiro Original de Faça a Coisa Certa. E em 1998, pelo Documentário 4 Little Girls.

GENA ROWLANDS

Gena Rowlands em cena de Uma Mulher Sob Influência (photo by crimsonkimono.com)

Gena Rowlands em cena de Uma Mulher Sob Influência (photo by crimsonkimono.com)

Quando se vê o conjunto de trabalho de Gena Rowlands, é de se espantar como ela não ganhou seu merecido Oscar. Tudo bem que a maioria de suas performances estão em produções independentes que, nos anos 70 e 80 eram menos vistos do que hoje, mas felizmente a Academia está tentando reparar essa enorme injustiça ao lhe fazer esta bela homenagem. Para o público de hoje, ela é mais conhecida como a versão idosa da protagonista do romance Diário de uma Paixão (2004) ou do filme de terror A Chave Mestra (2005), mas houve um tempo em que ela era a rainha dos filmes independentes ao lado do marido e diretor John Cassavetes.

Aliás, Cassavetes é considerado por muitos o pai do cinema independente americano, inclusive tendo um prêmio em seu nome no prestigiado Independent Spirit Awards. O casal fez ao todo dez filmes juntos, tendo como highlights justamente aqueles por qual ela recebeu indicação ao Oscar: Uma Mulher Sob Influência em 1975 e Gloria em 1981. Rowlands tornou suas personagens fortes em mulheres fortes, porém com uma sensibilidade que pouco se via.

Seguem os vencedores do Governors Awards desde sua criação em 2009:

2009: Lauren Bacall, John Calley, Roger Corman, Gordon Willis

2010: Jean-Luc Godard, Kevin Brownlow, Francis Coppola, Eli Wallach

2011: James Earl Jones, Dick Smith, Oprah Winfrey

2012: Jeffrey Katzenberg, Hal Needham, D.A. Pennebaker, George Stevens Jr.

2013: Angelina Jolie, Angela Lansbury, Steve Martin, Piero Tosi

2014: Harry Belafonte, Jean-Claude Carrière, Maureen O’Hara, Hayao Miyazaki

A cerimônia do 7º Governors Awards será no dia 14 de novembro.

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