‘OS MISERÁVEIS’ CONQUISTA MELHOR FILME no CÉSAR AWARDS. POLANSKI LEVA DIREÇÃO

Les Miserables

À direita, o diretor Ladj Ly agradece ao prêmio César de Melhor Filme para Les Misérables (pic by Teller Report)

EM ANO DE CONTROVÉRSIA, FILME SOBRE DESIGUALDADE SOCIAL QUASE FICA DE ESCANTEIO

Antes de começar a falar sobre o César Awards, o Oscar francês, gostaria de agradecer ao amigo Antonio Lopes Moraes, que nesta semana me questionou sobre os motivos de nunca ter escrito sobre o César. Como discutimos, a premiação francesa tem histórico de alguns problemas crônicos como o fato da própria mídia internacional não dar muita bola, a data no calendário não ajudar, o visual do próprio prêmio parecer uma obra de 15 artistas diferentes, e provavelmente o maior de todos: ao contrário das premiações televisionadas como o Oscar e o BAFTA, era quase impossível assistir aos filmes indicados antes de acompanhar o evento ao vivo.

Claro que ainda é difícil conferir todos os filmes, mas esse cenário mudou um pouco este ano com a presença de Retrato de uma Jovem em Chamas, Os Miseráveis e animação Perdi Meu Corpo, já que permearam a temporada de premiações e foram melhor divulgados em campanhas publicitárias nos últimos meses.

ACADEMIA FRANCESA EM CHAMAS

Há duas semanas, a diretoria da Academia Francesa havia renunciado por considerar que o sistema de votação era injusto e pouco transparente, o que contribuiu para as 12 indicações para o novo filme de Roman Polanski, O Oficial e o Espião, que se tornou o recordista desta 45ª edição do prêmio. “Para honrar os que fizeram filmes em 2019, para reconquistar serenidade e tornar o evento de cinema uma celebração, o conselho de diretores tomou uma decisão unânime de renunciar”, anunciaram em nota oficial.

Apesar da renúncia e de protestos feministas, o filme se tornou um sucesso de bilheteria na França, inclusive se tornando a maior estréia da carreira do diretor, e agora leva 3 prêmios Cesár: Figurino, Roteiro Adaptado e Direção para Polanski. Há dois dias, o diretor anunciou que não compareceria à festa pra evitar um possível linchamento. E toda a equipe do filme também não participou da festa, provavelmente em solidariedade ao seu diretor… ou com receio de uma retaliação colateral.

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A atriz Emmanuelle Bercot a diretora Claire Denis apresentam e recebem o prêmio de Direção em nome de Polanski no César Awards (pic by https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/02/roman-polanski-vence-premio-de-melhor-diretor-e-atrizes-se-retiram-da-cerimonia-em-protesto.shtml)

Após a revelação de Polanski como vencedor do César, várias pessoas abandonaram o teatro, sendo uma delas a atriz Adèle Haenel, de Retrato de uma Jovem em Chamas. Revoltada, ela teria declarado: “Premiar Polanski é o mesmo que cuspir na cara de todas as vítimas. Quer dizer que estuprar mulheres não é um problema”. Lembrando que Haenel participa ativamente do movimento #MeToo, e recentemente denunciou o diretor francês Christophe Ruggia, que teria abusado dela em 1991, quando ela tinha apenas 12 anos. Segue link de vídeo da atriz saindo do recinto logo após a premiação de Diretor e antes de Melhor Filme:

Se antes essa divisão entre pessoa e artista já era complicada, agora ficou ainda mais difícil. Você consegue assistir a um filme de Roman Polanski sem misturar o profissional do pessoal? Ou aquela pergunta hipotética: você compraria e penduraria um quadro na sua casa pintado por um criminoso condenado? A atriz Brigitte Bardot consegue sem qualquer problema, defendendo o diretor: “Deveríamos agradecer por Polanski estar vivo e salvando o cinema francês da mediocridade”.

O Ministro da Cultura da França, Franck Riester, chegou a comentar antes do César Awards que premiar Polanski passaria a mensagem errada para o mundo. Mas será que todos que supostamente votaram nele tinham intuito de passar a mensagem de que esse crime dele já prescreveu? Acreditamos que muitos votaram pelo trabalho de direção dele. Lembrando que o Festival de Veneza já havia concedido o Leão de Prata de Diretor para o filme em setembro passado.

Mesmo que haja reuniões futuras na Academia Francesa (são cerca de 4.300 membros atualmente), consideramos delicada a situação por haver inúmeros argumentos e pontos de vista que podem não levar a lugar algum, ainda mais se a discussão chegar ao nível de ética e moral. Mas pelo menos, nessa mesma reunião, poderiam decidir uma nova data no calendário, repensar na distribuição dos filmes fora da Europa, e claro, chamarem um único artista plástico pra remodelar esse prêmio.

César award

Dê sua opinião sincera sobre o design do prêmio César

E você achava que Hollywood e a Academia Americana já tinham problemas o suficiente com a ausência de mulheres na categoria de Direção…

PRÊMIOS DA NOITE

O grande vencedor da noite foi Os Miseráveis, filme de estréia do diretor Ladj Ly, que começou sua trajetória de sucesso no Festival de Cannes ocorrido em Maio de 2019, de onde saiu com o prêmio do Júri, dividido com o brasileiro Bacurau. Além de ter sido indicado ao Oscar de Filme Internacional este ano, Os Miseráveis venceu como Melhor Filme, Melhor Montagem e Melhor Revelação Masculina para o ator Alexis Manenti.

Filmado no estilo realista, o longa aborda a tensa relação de uma patrulha policial no subúrbio de Montfermeil com os habitantes da região durante uma prisão supostamente simples. Inspirado nos tumultos ocorridos em 2005, Ladj Ly buscou destacar o abismo social e racial enraizada na história e cultura da França.

Também com três prêmios, além de O Oficial e o Espião, tivemos o drama La Belle Époque, que conquistou os prêmios de Roteiro Original, Design de Produção e Atriz Coadjuvante para a veterana Fanny Ardant. A trama seria uma mistura de artifícios teatrais e reconstrução de época para os personagens reviverem a fase desejada de suas vidas. Infelizmente, ainda não há data de estréia aqui no Brasil, mas caso aconteça, Maio e Junho devem ser os meses mais propícios.

Indicado a 10 Césars, Retrato de uma Jovem em Chamas saiu apenas com o prêmio de Fotografia para Claire Mathon. Muitos reclamaram da injustiça na categoria de Atriz, mas a derrota foi compreensível, já que as duas atrizes do filme competiram juntas, o que certamente dividiu os votos. Acredito que se Céline Sciamma tivesse sido premiada como Diretora, a revolta seria beeem menor. Mas no final, sem querer soar como teoria conspiratória, até parece que foi manipulação da Academia Francesa premiar Polanski justamente para causar burburinho na mídia e chamar atenção de todos.

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Vencedora de Melhor Atriz, Anaïs Demoustier por Alice and The Mayor (pic by https://world.smiilee.com/)

E por último, vale ressaltar os dois prêmios conquistados pela bela animação Perdi Meu Corpo: Melhor Longa de Animação e Melhor Trilha Original para Dan Levy. Disponível na Netflix, este singelo trabalho merecia ser reconhecido na temporada, já que o centro das atenções foi o embate entre Klaus e Toy Story 4. E a trilha merecia ter sido indicada ao Oscar…

E, claro, na categoria de Filme Estrangeiro, deu Parasita novamente. O elenco e o diretor Bong Joon Ho não estavam presentes, mas enviaram um vídeo de agradecimento em volta de uma mesa brindando e bebendo. Essa ressaca vai durar até 2021… rs

Seguem os vencedores do 45º César Awards:

MELHOR FILME
LA BELLE ÉPOQUE (La Belle Époque), de Nicolas Bedos
GRAÇAS A DEUS (Grâce à Dieu), de François Ozon
THE SPECIALS (Hors Normes), de Eric Toledano, Olivier Nakache
O OFICIAL E O ESPIÃO (J’Accuse), de Roman Polanski
OS MISERÁVEIS (Les Miserables) Ladj Ly
RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS (Portrait de la Jeune Fille en feu), de Céline Sciamma
OH MERCY! (Roubaix, une Lumière), de Arnaud Desplechin

MELHOR DIREÇÃO
Nicolas Bedos (La Belle Époque)
François Ozon (Graças a Deus)
Eric Toledano, Olivier Nakache (The Specials)
Roman Polanski (O Oficial e o Espião)
Ladj Ly (Os Miseráveis)
Céline Sciamma (Retrato de uma Jovem em Chamas)
Arnaud Desplechin (Oh Mercy!)

MELHOR ATRIZ
Anaïs Demoustier (Alice and The Mayor)
Eva Green (Proxima)
Adele Haenel (Retrato de uma Jovem em Chamas)
Chiara Mastroianni (Quarto 212)
Noémie Merlant (Retrato de uma Jovem em Chamas)
Doria Tillier (La Belle Époque)
Karin Viard (The Perfect Nanny)

MELHOR ATOR
Daniel Auteuil (La Belle Époque)
Damien Bonnard (Os Miseráveis)
Vincent Cassel (The Specials)
Jean Dujardin (O Oficial e o Espião)
Reda Kateb (The Specials)
Melvil Poupaud (Graças a Deus)
Roschdy Zem (Oh Mercy!)

Roschdy Zem

Vencedor de Melhor Ator: Roschdy Zem por Oh Mercy! (pic by https://www.moustique.be/)

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Dor e Glória, de Pedro Almodovar
O Jovem Ahmed, de Jean-Pierre e Luc Dardenne
Coringa, de Todd Phillips
Lola vers la mer, de Laurent Micheli
Era Uma Vez em… Hollywood, de Quentin Tarantino
Parasita, de Bong Joon-Ho
O Traidor, de Marco Bellocchio

MELHOR FILME DE ESTRÉIA
Atlantique, de Mati Diop
In the Name of the Land, de Edouard Bergeon
Alerta Lobo, de Antonin Baudry
Os Miseráveis, de Ladj Ly
Papicha, de Mounia Meddour

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Nicolas Bedos (La Belle Époque)
François Ozon (Graças a Deus)
Eric Toledano, Olivier Nakache (The Specials)
Ladj Ly, Giordano Gederlini, Alexis Manenti (Os Miseráveis)
Céline Sciamma (Retrato de uma Jovem em Chamas)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Costa-Gavras (Adults in the Room)
Roman Polanski, Robert Harris (O Oficial e o Espião)
Jeremy Clapin, Guillaume Laurent (Perdi Meu Corpo)
Arnaud Desplechin, Lea Mysius (Oh Mercy!)
Dominik Moll, Gilles Marchand (Only the Animals)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Fanny Ardant (La Belle Époque)
Josiane Balasko (Graças a Deus)
Laure Calamy (Only the Animals)
Sara Forestier (Oh Mercy!)
Hélène Vincent (The Specials)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Swann Arlaud (Graças a Deus)
Grégory Gadebois (O Oficial e o Espião)
Louis Garrel (O Oficial e o Espião)
Benjamin Lavernhe (Amor à Segunda Vista)
Denis Ménochet (Graças a Deus)

MELHOR REVELAÇÃO FEMININA
Luàna Bajrami (Retrato de uma Jovem em Chamas)
Céleste Brunnquell (The Dazzled)
Lyna Khoudri (Papicha)
Nina Meurisse (Camille)
Mama Sané (Atlantique)

MELHOR REVELAÇÃO MASCULINA
Anthony Bajon (In the Name of the Land)
Benjamin Lesieur (The Specials)
Alexis Manenti (Os Miseráveis)
Liam Pierron (School Life)
Djebril Zonga (Os Miseráveis)

MELHOR LONGA DE ANIMAÇÃO
The Bears’ Famous Invasion of Sicily, de Lorenzo Mattotti
Os Olhos de Cabul, de Zabou Breitman
Perdi Meu Corpo, de Jérémy Clapin

MELHOR MONTAGEM
Anna Danché, Florent Vassault (La Belle Époque)
Laure Gardette (Graças a Deus)
Dorian Rigal-Ansous (The Specials)
Hervé de Luze (O Oficial e o Espião)
Flora Volpelière (Os Miseráveis)

MELHOR FOTOGRAFIA
Nicolas Bolduc (La Belle Époque)
Pawel Edelman (O Oficial e o Espião)
Julien Poupard (Os Miseráveis)
Claire Mathon (Retrato de uma Jovem em Chamas)
Irina Lubtchansky (Oh Mercy!)

MELHOR FIGURINO
Emmanuelle Youchnovski (La Belle Époque)
Thierry Delettre (Cyrano Mon Amour)
Pascaline Chavanne (O Oficial e o Espião)
Alexandra Charles (Joan of Arc)
Dorothée Guiraud (Retrato de uma Jovem em Chamas)

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
Stéphane Rozenbaum (La Belle Époque)

Benoît Barouh (Alerta Lobo)
Franck Schwarz (Cyrano mon Amour)
Jean Rabasse (O Oficial e o Espião)
Thomas Grézaud (Retrato de uma Jovem em Chamas)

MELHOR TRILHA MUSICAL ORIGINAL
Fatima Al Qadiri (Atlantique)
Alexandre Desplat (O Oficial e o Espião)
Dan Levy (Perdi Meu Corpo)
Marco Casanova, Kim Chapiron (Os Miseráveis)
Grégoire Hetzel (Oh, Mercy!)

MELHOR SOM
Rémi Daru, Séverin Favriau, Jean-Paul Hurier (La Belle Époque)
Nicolas Cantin, Thomas Desjonquères, Raphael Mouterde, Olivier Goinard, Randy Thom  (Alerta Lobo)
Lucien Balibar, Aymeric Devoldère, Cyril Holtz, Niels Barletta (O Oficial e o Espião)
Arnaud Lavaleix, Jérôme Gonthier, Marco Casanova (Os Miseráveis)
Julien Sicart, Valérie de Loof, Daniel Sobrino (Retrato de uma Jovem em Chamas)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
68, mon père et les clous, de Samuel Bigiaoui
La cordillère des songes, de Patricio Guzman
Lourdes, de Thierry Demaizière, Alain Teurlai
M, de Yolande Zauberman
Wonder Boy Olivier Rousteing, né sous X, de Anissa Bonnefont

MELHOR CURTA-METRAGEM
Beautiful Loser
Chien Bleu
Le Chant d’Ahmed
Nefta Futebol Clube
Pile Poil

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
This Magnificent Cake!
Je Sors Acheter des Cigarettes
La Nuit des sacs Plastiques
Make it Soul

 

‘A FAVORITA’ CONQUISTA 4 EUROPEAN FILM AWARDS

 

The Favourite 2

Rachel Weisz e Olivia Colman em cena de A Favorita (pic by IMDb)

FILME DE YORGOS LANTHIMOS AINDA TEM GÁS PARA ESTA TEMPORADA

Como de costume, a premiação européia elegeu com antecedência os vencedores das categorias mais técnicas como Fotografia e Montagem. Os vencedores dos principais prêmios como Filme, Direção e atuações serão revelados apenas no dia 07 de Dezembro em Berlim.

Indicado a 10 Oscars e vencedor do prêmio de Melhor Atriz deste ano para Olivia Colman, A Favorita não se encaixou no prazo do calendário de 2018 do European Film Awards (que fecha meses antes do fim do ano), mas mesmo disputando a edição seguinte, já saiu vitorioso em quatro categorias: Fotografia (Robbie Ryan), Montagem (Yorgos Mavropsaridis), Figurino (Sandy Powell) e Maquiagem (Nadia Stacey).

Pelas demais categorias anunciadas, o filme espanhol Dor e Glória conquistou o prêmio de Design de Produção (Antxon Gómez), enquanto o filme alemão System Crasher levou Trilha Musical (John Gürtler). Curiosamente, ambas as produções foram selecionadas por seus comitês para disputar o Oscar de Melhor Filme Internacional (ex-Melhor Filme em Língua Estrangeira) pela Espanha e Alemanha, respectivamente.

Dolor y Gloria

Asier Etxeandia e Leonardo Sbaraglia em cena de Dor e Glória (pic by IMDb)

A co-produção entre Uruguai, Espanha, Argentina, França e Alemanha, Uma Noite de 12 Anos, que acompanha os 12 anos de tortura sofridos por três prisioneiros no Uruguai tomado pela ditadura, levou o prêmio de design de Som, destacando sua importância nas cenas de escuridão na solitária.

Twelve year Night

Antonio de la Torre em cena de Uma Noite de 12 Anos (pic by IMDb)

Já o prêmio de Efeitos Visuais ficou com o sueco About Endlessness por apresentar imagens oníricas e filosóficas. Em sua passagem pelo último Festival de Veneza, saiu com o prêmio de Direção para o veterano Roy Andersson.

PRINCIPAIS CATEGORIAS DO EFA

Pelas categorias competitivas, cinco produções lideram as indicações: An Officer and a Spy, de Roman Polanski, O Traidor, de Marco Bellocchio, e os já citados Dor e GlóriaSystem Crasher e A Favorita, cada um com quatro indicações.

An Officer and a Spy

Jean Dujardin em cena de An Officer and a Spy (pic by IMDb)

Recentemente, o sindicato de diretores, roteiristas e produtores da França lançou uma proposta de novas regras para membros sob investigação criminal, o que levaria à suspensão do diretor polonês Roman Polanski, que sofreu uma nova acusação de estupro pela atriz Valentine Monnier que teria ocorrido em 1975. O diretor nega as acusações, enquanto seu novo filme levou mais de 380 mil pessoas aos cinemas na França.

Dentre as indicações, vale ressaltar o elogiadíssimo Retrato de uma Jovem em Chamas, que teve ótima passagem no Festival de Cannes, levando o prêmio de Roteiro. Céline Sciamma disputa o prêmio como diretora e roteirista, e suas duas atrizes Adèle Haenel e Noémie Merlant foram reconhecidas em uma única indicação para Melhor Atriz.

Portrait of a Lady on Fire 2

Noémie Merlant e Adèle Haenel em cena de Retrato de uma Jovem em Chamas (pic by IMDb)

Ainda sobre a disputa de Melhor Atriz, Olivia Colman pode ser novamente reconhecida por A Favorita. Já na categoria de Melhor Ator, vale destacar a indicação de Jean Dujardin por An Officer and a Spy. Sim, aquele ator francês que levou o Oscar de Ator em 2012 por O Artista, que você achava que nunca mais ia deslanchar.

RELEVÂNCIA COM O OSCAR

Por defender um calendário diferente das demais premiações, inclusive o Oscar e Globo de Ouro, o European Film Awards já se torna um ponto fora da curva na temporada. Contudo, alguns de seus filmes indicados costumam aparecer nas principais listas, o que pode ajudar as campanhas de Dor e Glória, Les Miserábles, O Traidor, System Crasher, Honeyland e outros trabalhos como de animação que estão na briga pelo Oscar 2020.

Nos últimos cinco anos, por exemplo, tivemos alguns vencedores do EFA que chegaram ao tapete vermelho do Oscar como Guerra Fria, The Square, As Faces de Toni Erdmann, 45 Anos, O Lagosta, Sr. Turner e Ida.

MELHOR FILME
• Les Misérables, de Ladj Ly
• An Officer and a Spy, de Roman Polanski
• Dor e Glória, de Pedro Almodóvar
• System Crasher, de Nora Fingscheidt
• A Favorita, de Yorgos Lanthimos
• O Traidor, de Marco Bellocchio

MELHOR DIREÇÃO
Pedro Almodóvar (Dor e Glória)
Marco Bellocchio (O Traidor)
Yorgos Lanthimos (A Favorita)
Roman Polanski (An Officer and a Spy)
Céline Sciamma (Retrato de uma Jovem em Chamas)

MELHOR ATRIZ
Olivia Colman (A Favorita)
Trine Dyrholm (Rainha de Copas)
Noémie Merlant e Adèle Haenel (Retrato de uma Jovem em Chamas)
Viktoria Miroshnichenko (Uma Mulher Alta)
Helena Zengel (System Crasher)

MELHOR ATOR
Antonio Banderas (Dor e Glória)
Jean Dujardin (An Officer and a Spy)
Pierfrancesco Favino (O Traidor)
Levan Gelbakhiani (And Then We Danced)
Alexander Scheer (Gundermann)
Ingvar E. Sigurðsson (A White, White Day)

MELHOR ROTEIRO
Pedro Almodóvar (Dor e Glória)
Marco Bellocchio, Ludovica Rampoldi, Valia Santella, Francesco Piccolo (O Traidor)
Ladj Ly, Giordano Gederlini, Alexis Manenti (Les Misérables)
Robert Harris, Roman Polanski (An Officer and a Spy)
Céline Sciamma (Retrato de uma Jovem em Chamas)

MELHOR COMÉDIA
• Ditte & Louise, de Niclas Bendixen
• Tel Aviv Em Chamas, de Sameh Zoabi
• A Favorita, de Yorgos Lanthimos

MELHOR ANIMAÇÃO
• Buñuel In The Labyrinth Of The Tur­tles, de Salvador Simó
• Perdi Meu Corpo (J’ai Perdu Mon Corps), de Jérémy Clapin
• L’ex­tra­or­di­naire Voy­age de Marona, de Anca Damian
• Les Hi­ron­delles de Kaboul, de Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mévellec

MELHOR DOCUMENTÁRIO
• For Sama, de Waad Al-kateab & Edward Watts
• Honeyland, de Ljubomir Stefanov & Tamara Kotevska
• Putin’s Witnesses, de Vitaly Mansky
• Selfie, de Agostino Ferrente
• The Disappearance Of My Mother, de Beniamino Barrese

DESCOBERTA EUROPÉIA
• Aniara, de Pella Kagerman, Hugo Lilja
• Atlantique
, de Mati Diop
• Blindsone, de Tuva Novotny
• Irina
, de Nadejda Koseva
• Les Miserábles
, de Ladj Ly
• Ray & Liz
, de Richard Billingham

MELHOR CURTA-METRAGEM
• Cães que Ladram aos Pássaros
• Rekon­strukce
• The Christ­mas Gift
• Les Ex­tra­or­di­naires Mésaven­tures de la Jeune Fille de Pierre
• Watermelon Juice

System Crasher

Helena Zengel em cena de System Crasher, que estava na programação da Mostra Internacional de SP (pic by IMDb)

***

A 32ª cerimônia do European Film Awards acontece no dia 07 de Dezembro.

93 PRODUÇÕES DISPUTAM O OSCAR DE FILME INTERNACIONAL

Alfonso Cuarón, com as três estatuetas que ganhou com Roma, incluindo o último Oscar de Filme em Língua Estrangeira

CATEGORIA QUE MUDOU DE NOME RECEBEU O TOTAL DE 94 INSCRIÇÕES

Sim, a categoria Filme em Língua Estrangeira, criada oficialmente na década de 50, foi rebatizada para Melhor Filme Internacional no último mês de Abril, pois consideraram o termo “Estrangeiro” ultrapassado. Outras mudanças significativas foram da pré-lista de dezembro, que pula de nove para dez filmes pré-selecionados, e pela primeira vez, os votantes poderão assistir aos dez filmes online, sem precisar comparecer às salas de Los Angeles, Nova York ou Londres.

Dos 94 filmes inscritos, logo de cara já houve uma desqualificação do Afeganistão. Havia questionamento de legitimidade do comitê que elegeu o representante do país, portanto foi descartado antes mesmo do anúncio dos oficialmente inscritos.

Em seguida, no dia 04 de Novembro, a Academia anunciou a desqualificação da Nigéria, que havia inscrito um filme na competição pela primeira vez com Lionheart. Segundo o departamento responsável que viu a película, houve uma infração do regulamento que exige língua não-inglesa predominante. Foi constatado que o filme continha apenas onze minutos no idioma estrangeiro. Essa ilegalidade causou revolta na Nigéria e conquistou apoio da cineasta Ava DuVernay.

Em sua conta do Twitter, a diretora de Selma esbravejou:
“Para a Academia, Vocês desqualificaram a primeiríssima inscrição da Nigéria para Melhor Filme Internacional porque está em Inglês. Mas Inglês é a língua oficial da Nigéria. Vocês estão barrando este país para que nunca dispute um Oscar em sua língua oficial?…”

Há duas formas de enxergar a situação. Pelo lado da Academia, regras são regras. Essa que exige predominância de língua não-inglesa existe há décadas. Faltou atenção ao comitê nigeriano ao regulamento da categoria. Já pelo lado da Nigéria, da modernização e do bom senso, a Academia não poderia ter sido mais flexível nessa questão do idioma ao modernizar o nome do prêmio de Filme em Língua Estrangeira para Filme Internacional? Quer dizer, todas as nações que foram colonizadas no passado jamais poderão disputar esse Oscar? Além disso, há algum tempo, é uma raridade vermos produções de um único país. Atualmente, o normal é a realização de co-produções em conjunto com dois ou mais países. Hoje, se um filme co-produzido por três países, apenas um pode selecioná-lo como representante no Oscar.

Não acreditamos que a Academia vá voltar atrás agora nessas questões, contudo os responsáveis do departamento podem estudar o caso para uma próxima cerimônia. Desta forma, permanecerão 92 filmes inscritos, número que mesmo assim iguala o recorde anterior de 2017.  Ainda sobre números, mesmo com a queda da Nigéria, temos 28 diretoras mulheres nessa disputa, um recorde na história da premiação.

COMO ESTÁ A DISPUTA ATÉ O MOMENTO?

Parasita, de Bong Joon-ho

PARASITA (Coréia do Sul) Dir: Bong Joon-ho
Vamos resumir assim: o filme sul-coreano Parasita está trilhando o mesmo caminho de Roma, de Alfonso Cuarón. Além de ter faturado prêmios importantes como a Palma de Ouro em Cannes, vem conquistando toda a crítica e o público de forma unânime, o que leva o filme a ser considerado inclusive para outras categorias como Melhor Filme, Direção, Roteiro Original, Fotografia, Direção de Arte e Ator Coadjuvante. Curiosamente, se concretizada, seria a primeira indicação do país na história do Oscar. Particularmente, sentimos que o Cinema Sul-coreano tem sido injustiçado há duas décadas pelo Oscar. Só para citar alguns filmes que mereciam uma indicação estão Oldboy (2002), Oasis (2002), Memórias de um Assassino (2003), Casa Vazia (2004), Secret Sunshine (2007), Poesia (2010), A Criada (2016) e Em Chamas (2018).

Dor e Glória, de Pedro Almodóvar

DOR E GLÓRIA (Espanha) Dir: Pedro Almodóvar
Quando o filme estava entre os indicados à Palma de Ouro deste ano, havia uma forte especulação de que Pedro Almodóvar ganharia pelo menos o prêmio de Direção ou o Grande Prêmio do Júri, mas acabou ficando apenas com o prêmio de interpretação masculina para Antonio Banderas, que vive o alter-ego do diretor espanhol. Muito querido entre os membros da Academia, o diretor já ganhou duas estatuetas: Filme em Língua Estrangeira por Tudo Sobre Minha Mãe em 2000, e Melhor Roteiro Original por Fale com Ela em 2003. Ao lado do representante sul-coreano, este espanhol está praticamente garantido entre os cinco indicados.

Les Misérables, de Ladj Ly

LES MISÉRABLES (França) Dir: Ladj Ly
Havia uma forte expectativa para que Retrato de uma Jovem em Chamas fosse o representante da França para o Oscar, mas talvez por motivos homofóbicos, o filme cedeu lugar a Les Misérables. Apesar de compartilhar o mesmo título da obra de Victor Hugo e o musical homônimo de 2012, o primeiro filme de Ladj Ly aborda a violência e o preconceito vivido por habitantes dos subúrbios franceses. A produção faturou o mesmo Prêmio do Júri ao lado do brasileiro Bacurau, o que pode facilitar um pouco sua campanha. Ladj Ly é o primeiro diretor negro que representa a França.

Monos, de Alejandro Landes

MONOS (Colômbia) Dir: Alejandro Landes
Para quem acompanha o Oscar, sabe que o cinema colombiano tem se destacado recentemente na premiação como o indicado O Abraço da Serpente (2015) e Pássaros de Verão (2018), que estava na última pré-lista. E pra elevar a ainda mais a campanha de Monos, os diretores mexicanos Alejandro González Iñárritu e Guillermo del Toro esbanjaram rasgaram elogios publicamente ao filme, o que certamente chamará a atenção de outros votantes, especialmente os latinos. Monos, que estava na Mostra Internacional de São Paulo, acompanha oito jovens militantes em um acampamento no alto da montanha. Eles precisam manter uma refém americana (Julianne Nicholson), mas os planos mudam quando eles matam acidentalmente uma vaca que os mantinha no local. Vale ressaltar que o diretor Alejandro Landes é brasileiro, filho de mãe colombiana.

Atlantics, de Mati Diop

ATLANTICS (Senegal) Dir: Mati Diop
A carreira do filme senegalês começou com sua indicação à Palma de Ouro em Cannes. Mati Diop se tornou a primeira mulher negra na competição oficial. Produção da Netflix, o filme aborda uma história de amor com a imigração ilegal como pano de fundo. Trata-se da segunda inscrição do país africano no Oscar, sendo que a primeira, Félicité, esteve entre os nove filmes pré-selecionados de 2018. Seria um reconhecimento para coroar o crescimento do cinema do continente africano, e dar um equilíbrio entre as produções indicadas, que costumam ficar restritas à Europa.

OUTROS EM DESTAQUE

Da esquerda para a direita: Honeyland, Papicha, O Paraíso Deve Ser Aqui, O Menino que Descobriu o Vento, e O Traidor

Honeyland (Macedônia do Norte): Elogiada produção de ficção que se assemelha a um documentário ao narrar a história de uma apicultora tradicional considerada a última da região.

Papicha (Argélia): Passado nos anos 90, acompanha a opressão sofrida por todas as mulheres por terroristas islâmicos, buscando alterar de forma conservadora seus hábitos, suas vestimentas e seus espaços públicos.

O Paraíso Deve Ser Aqui (Palestina): Trata-se de uma comédia autobiográfica do diretor Elia Suleiman que, ao viajar para fora de seu país para encontrar paz, acaba se deparando com os mesmos problemas de racismo e dificuldades sociais nas terras consideradas paraísos como EUA e França.

O Menino que Descobriu o Vento (Reino Unido): Embora tenha poucas chances no Oscar, pode surpreender por dirigido e atuado pelo ator indicado ao Oscar Chiwetel Ejiofor (de 12 Anos de Escravidão) e estar disponível na plataforma da Netflix. O filme narra a história de um menino no Malawi que desenvolve uma turbina de vento em seu vilarejo.

O Traidor (Itália): Além do renome do diretor Marco Bellocchio, o país europeu aposta na fama do mafioso Tommaso Buscetta, que fugiu para o Brasil e para os EUA e delatou a máfia italiana Costa Nostra. A atriz brasileira Maria Fernanda Cândido faz parte do elenco.

E O BRASIL?

A Academia de Cinema Brasileiro enfrentou um duro dilema este ano. Bacurau ou A Vida Invisível? Ambos os filmes haviam sido bem recebidos e premiados no Festival de Cannes. Enquanto o primeiro faturou o Prêmio do Júri (uma espécie de terceiro lugar), o segundo levou o cobiçado prêmio Un Certain Regard. Uma coisa era certa: o representante brasileiro tinha que ser um dos dois, mas qual?

A Vida Invisível, de Karim Ainouz

A presidente da comissão Anna Muylaert acabou desempatando a briga. Cinco votos para A Vida Invisível e quatro para Bacurau. Dentre as justificativas para a escolha, teria pesado a presença de Fernanda Montenegro no elenco, uma vez que ela já foi indicada ao Oscar por Central do Brasil. Além disso, Bacurau pode ser interpretado como uma afronta para o público norte-americano, pois eles são os vilões do filme de Kleber Mendonça Filho que se passa no sertão de Pernambuco. Já A Vida Invisível busca exaltar a força feminina através de suas protagonistas irmãs, algo em voga nas premiações.

Alguns alegam que Bacurau teria sido uma escolha mais ousada e por isso, teria mais chances de ser notado entre os votantes da Academia. Será? Claro que depende muito da campanha de publicidade rumo ao Oscar, que acontece em Fevereiro. Vamos torcer para que Vida Invisível se torne a 5ª indicação do Brasil após a última de Central do Brasil em 1999.

SEGUE LISTA COMPLETA DAS PRODUÇÕES INSCRITAS PARA O OSCAR 2020:

PAÍS FILME DIRETOR(A)(ES)
África do Sul Knuckle City Jahmil X.T. Qubeka
Albânia The Delegation Bujar Alimani
Alemanha System Crasher Nora Fingscheidt
Arábia Saudita The Perfect Candidate Haifaa al-Mansour
Argélia Papicha Mounia Meddour
Argentina Heroic Losers Sebastián Borensztein
Armênia Lengthy Night Edgar Baghdasaryan
Austrália Buoyancy Rodd Rathjen
Áustria Joy Sudabeh Mortezai
Bangladesh Alpha Nasiruddin Yousuff
Bélgica Our Mothers César Díaz
Bielorrússia Debut Anastasiya Miroshnichenko
Bolívia I Miss You Rodrigo Bellott
Bósnia Herzegovina The Son Ines Tanovic
Brasil A Vida Invisível Karim Aïnouz
Bulgária Ága Milko Lazarov
Camboja In the Life of Music Caylee So, Sok Visal
Canadá Antigone Sophie Deraspe
Cazaquistão Kazakh Khanate – Golden Throne Rustem Abdrashev
Chile Spider Andrés Wood
China Ne Zha Jiaozi
Colômbia Monos Alejandro Landes
Coréia do Sul Parasita Bong Joon-ho
Costa Rica The Awakening of the Ants Antonella Sudasassi
Croácia Mali Antonio Nuic
Cuba A Translator Rodrigo Barriuso, Sebastián Barriuso
Dinamarca Queen of Hearts May el-Toukhy
Egito Poisonous Roses Fawzi Saleh
Equador The Longest Night Gabriela Calvache
Eslováquia Let There Be Light Marko Skop
Eslovênia History of Love Sonja Prosenc
Espanha Dor e Glória Pedro Almodóvar
Estônia Truth and Justice Tanel Toom
Etiópia Running Against the Wind Jan Philipp Weyl
Filipinas Verdict Raymund Ribay Gutierrez
Finlândia Stupid Young Heart Selma Vilhunen
França Les Misérables Ladj Ly
Gana Azali Kwabena Gyansah
Geórgia Shindisi Dito Tsintsadze
Grécia When Tomatoes Met Wagner Marianna Economou
Holanda Instinct Halina Reijn
Honduras Blood, Passion and Coffee Carlos Membreño
Hong Kong The White Storm 2 – Drug Lords Herman Yau
Hungria Those Who Remained Barnabás Tóth
Índia Gully Boy Zoya Akhtar
Indonésia Memories of my Body Garin Nugroho
Irã Finding Fariden Kourosh Ataee, Azadeh Moussavi
Irlanda Gaza Garry Keane, Andrew McConnell
Islândia A White, White Day Hlynur Pálmason
Israel Incitement Yaron Zilberman
Itália O Traidor Marco Bellocchio
Japão Weathering With You Makoto Shinkai
Kosovo Zana Antoneta Kastrati
Látvia The Mover Davis Simanis
Líbano 1982 Oualid Mouaness
Lituânia Bridges of Time Kristine Briede, Audrius Stonys
Luxemburgo Tel Aviv on Fire Sameh Zoabi
Macedônia do Norte Honeyland Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov
Malásia M for Malaysia Dian Lee, Ineza Roussille
Marrocos Adam Maryam Touzani
México The Chambermaid Lila Avilés
Mongólia The Steed Erdenebileg Ganbold
Montenegro Neverending Past Andro Martinovic
Nepal Bulbul Binod Paudel
Nigéria Lionheart Genevieve Nnaji
Noruega Out Stealing Horses Hans Petter Moland
Palestina It Must Be Heaven Elia Suleiman
Panamá Everybody Changes Arturo Montenegro
Paquistão Laal Kabootar Kamal Khan
Peru Retablo Alvaro Delgado-Aparicio
Polônia Corpus Christi Jan Komasa
Portugal The Domain Tiago Guedes
Quênia Subira Ravneet Sippy Chadha
Quirguistão Aurora Bekzat Pirmatov
Reino Unido O Menino que Descobriu o Vento Chiwetel Ejiofor
Rep Dominicana The Projectionist José María Cabral
Rep Tcheca The Painted Bird Václav Marhoul
Romênia The Whistlers Corneliu Porumboiu
Rússia Beanpole Kantemir Balagov
Senegal Atlantics Mati Diop
Sérvia King Petar of Serbia Petar Ristovski
Singapura A Land Imagined Yeo Siew Hua
Suécia And Then We Danced Levan Akin
Suíça Wolkenbruch’s Wondrous Journey Into the Arms of a Shiksa Michael Steiner
Tailândia Krasue: Inhuman Kiss Sitisiri Mongkolsiri
Taiwan Dear Ex Mag Hsu, Hsu Chih-yen
Tunísia Dear Son Mohamed Ben Attia
Turquia Commitment Semih Kaplanoglu
Ucrânia Homeward Nariman Aliev
Uruguai The Moneychanger Federico Veiroj
Uzbequistão Hot Bread Umid Khamdamov
Venezuela Being Impossible Patricia Ortega
Vietnã Furie Lê Van Kiêt

A pré-lista com os dez filmes será divulgada no dia 16 de dezembro. O anúncio das indicações ao Oscar estão marcadas para o dia 13 de janeiro.

69º Festival de Veneza (2012) – Venice Film Festival

69º Festival de Veneza

Enquanto o vencedor do Leão de Ouro 2011, Fausto, de Aleksandr Sokurov, está atualmente em cartaz em São Paulo, o Festival de Veneza anuncia os indicados para esta 69ª edição, que ocorrerá entre os dias 29 de agosto a 8 de setembro.

Como em toda edição, a imprensa já destacou os considerados “favoritos”. A lista é encabeçada pelo polêmico diretor americano Terrence Malick, uma vez que ganhou a Palma de Ouro em Cannes 2011 com A Árvore da Vida. Seu mais novo filme, To the Wonder, oferece um romance estrelado por Ben Affleck, Rachel Weisz e Rachel McAdams. Talvez pela presença de atores com cara e jeito de comédia romântica boba, o filme não seja levado tão à sério, mas para quem conhece a filmografia de Malick, sabe que ele tem olho clínico para sentimentos com um pano de fundo caótico como Terra de Ninguém (1973), Dias de Paraíso (1978) e O Novo Mundo (2005). O fato do filme de Malick ter sua estréia em Veneza é dado como uma vitória para a direção do evento, pois tem buscado resgatar a importância do festival no cenário internacional.

Ben Affleck e Rachel McAdams em To the Wonder, de Terrence Malick

Na lista de competição oficial, outro norte-americano figura entre os favoritos. The Master, de Paul Thomas Anderson, ganha destaque ao tratar dos primórdios da polêmica religião da Cientologia, cujos adeptos incluem Tom Cruise e John Travolta. Além do tema e do diretor, o filme tem boas chances na conquista do Volpi Cup de Melhor Ator para Philip Seymour Hoffman ou Joaquin Phoenix, ou ambos, o que acredito que vai acontecer. Ganhando ou não um prêmio em Veneza, The Master já caminha como favorito também para o Oscar 2013.

Representando a prata da casa, o conterrâneo Marco Bellocchio também figura nessa lista. Já fora indicado duas vezes para o Leão de Ouro e ano passado, foi homenageado com o Career Golden Lion pelo conjunto da obra. Teve seis oportunidades para vencer a Palma de Ouro em Cannes, mas nunca levou. Um de seus últimos filmes, Vincere (2009), foi bastante ovacionado e conquistou inúmeros prêmios internacionais. Sua mais nova empreitada, Bella Addormentata (Bela Adormecida, em tradução livre para o português), conta com a experiência da atriz Isabelle Huppert para contar uma história verídica e e considerada forte tabu em terras católicas: a eutanásia. Independente da recepção do público e mídia, certamente deverá provocar intensas discussões, aumentando suas chances de sair premiado.

Um dos nomes que despertou a curiosidade do público foi o americano Brian De Palma que, em 2007, ganhou o Leão de Prata de melhor diretor com o drama bélico Guerra Sem Cortes, inédito nos cinemas brasileiros. Ele retorna ao festival cinco anos depois com Passion, uma história de suspense com pitadas de homossexualismo. Apesar do diretor já ter trabalhado com esses temperos em Femme Fatale (2002) e Dália Negra (2006), o sexo aliado à tensão sempre esteve presente em sua filmografia, tendo como ponto alto Dublê de Corpo (1984) e Vestida Para Matar (1980). Em Passion, Brian De Palma conta com uma estrela sueca em ascensão: Noomi Rapace, que protagonizou a trilogia Millennium, baseada na obra de Stieg Larsson e recentemente trabalhou com Ridley Scott em Prometheus.

Rachel McAdams e Noomi Rapace num momento tórrido em Passion, de Brian De Palma

Tornando o caldo cultural mais consistente, a presença do cineasta ascendente francês Olivier Assayas contribui bastante para uma competição mais acirrada. Depois de se aventurar no universo da minissérie televisiva com o aclamado Carlos, sobre o revolucionário venezuelano Ilich Ramírez Sánchez que fundou uma organização terrorista internacional, o diretor resolveu trabalhar num drama sobre uma jovem reagindo às mudanças sociais na década de 60 na Europa em Après mai (Something in the Air). As expectativas para o novo trabalho de Assayas são altas pela sua visão mais crua e fria da França (como no ótimo drama familiar Horas de Verão (2008)).

Something in the Air, novo filme de Olivier Assayas

Também vale a pena ressaltar a presença de dois asiáticos, considerados figurinhas carimbadas em festivais: o japonês Takeshi Kitano e o sul-coreano Kim Ki-Duk. Enquanto o primeiro, caracterizado pela violência extrema de seus filmes, traz Outrage Beyond sobre a máfia Yakuza, o segundo, que busca espiritualidade em seus personagens e sua história, vem à Veneza com Pietà. O filme coreano acompanha a vida de um jovem que trabalha ameaçando devedores. Sem parentes vivos, um dia, ele recebe a visita de uma mulher de meia-idade que se diz sua mãe. Takeshi Kitano já levou o Leão de Ouro em 2003 por Zatoichi, e Kim Ki-Duk levou o prêmio de direção por Casa Vazia em 2004.

Pieta, de Kim Ki-Duk. Se depender do cartaz, sai premiado de Veneza.

O diretor filipino Brillante Mendoza no Festival de Veneza de 2009, quando concorria por Lola.

Apesar de pouco conhecido do grande público, não devemos esquecer do filipino Brillante Mendoza, que conquistou melhor diretor em Cannes por Kinatay (2009). Curiosamente, seu novo filme, Thy Womb, que fala sobre infertilidade e pobreza, falhou na tentativa de entrar no festival de Metro Manila Film Festival (nas Filipinas), mas foi selecionado pela comissão de Veneza. Depois disso, Mendoza com certeza nem se importou com a não-inclusão de seu filme no evento filipino. Em alta no cenário internacional, Brillante Mendoza adotou como linguagem um estilo documental que lembra o Neo-realismo italiano do pós-Guerra, utilizando atores não-profissionais também, mas com toques violentos típicos de sua terra natal.

Mesmo que estejam fora de competição, existem produções assinadas por diretores consagrados como Michael Mann, Mira Nair, Susanne Bier, Jonathan Demme, Spike Lee, Robert Redford e o promissor Kyoshi Kurosawa.

Spike Lee e seu documentário sobre os 25 anos do lançamento do álbum Bad, de Michael Jackson. Está na seleção Fora de Competição de Veneza.

Infelizmente, não há nenhuma produção brasileira em Veneza. A minha atual impressão é de que o cinema nacional deu uma estagnada ao ficar mais preocupado com os números da bilheteria, predominando comédias de humor escrachado típicos da Globo Filmes. Tem horas que nem Walter Salles e Fernando Meirelles resolvem a parada.

Seguem a lista de indicados ao Leão de Ouro 2012; dos filmes que serão exibidos fora de competição; e da Mostra Orizzonti, que busca novas tendências internacionais.

INDICADOS AO LEÃO DE OURO

The Master, de Paul Thomas Anderson – EUA
Après Mai (“Something in the Air”), de Olivier Assayas – França
At Any Price, de Ramin Bahrani – EUA/Reino Unido
Bella Addormentata, de Marco Bellocchio – Itália/França
La cinquième saison, de Peter Brosens and Jessica Woodworth – Bélgica/Holanda/França
Lemale Et Ha’Chalal (Fill the Void), de Rama Burshtein – Israel
È stato il figlio, de Daniele Ciprì – Itália
Un Giorno Speciale, de Francesca Comencini – Itália
Passion, de Brian De Palma – França/Alemanha
Superstar, de Xavier Giannoli – Bélgica/França
Pieta, de Ki-Duk Kim – Coréia do Sul
Outrage Beyond, de Takeshi Kitano – Japão
Spring Breakers, de Harmony Korine – EUA
To The Wonder, de Terrence Malick – EUA
Sinapupunan (Thy Womb), de Brillante Mendoza – Filipinas
Linhas De Wellington, deValeria Sarmiento – França/Portugal
Paradise: Faith, de Ulrich Seidl – Alemanha/ Áustria/ França
Betrayal, de Kirill Serebrennikov – Rússia

FORA DE COMPETIÇÃO

L’Homme Qui Rit, de Jean-Pierre Ameris

Na seleção Fora de Competição: Pôster dinamarquês de Love is All you Need, de Susanne Bier, estrelado por Pierce Brosnan.

Anton’s Right Here, de Lyubov Arkus
Love Is All You Need, de Susanne Bier
Cherchez Hortense, de Pascal Bonitzer
It Was Better Tomorrow, de Hinde Boujemaa
Sur Un Fil…, de Simon Brook
Clarisse, de Liliana Cavani
Enzo Avitable Music Life, de Jonathan Demme
Tai Chi 0, de Stephen Fung
Sfiorando Il Muro, de Silvia Giralucci and Luca Ricciardi
Carmel, de Amos Gitai
Lullaby To My Father, de Amos Gitai
El Imenetrable, de Daniele Incalcaterra and Fausta Quattrini
Penance, de Kiyoshi Kurosawa
Bad 25, de Spike Lee
Witness: Libya, de Michael Mann
Medici Con L’Africa, de Carlo Mazzacurati
The Reluctant Fundamentalist, de Mira Nair
O Gebo E A Sombra, de Manoel De Oliveria
The Company You Keep, de Robert Redford
Shark (Bait 3D), de Kimble Rendall
Disconnect, de Henry-Alex Rubin
La Nave Dolce, de Daniele Vicari
The Iceman, de Ariel Vromen

MOSTRA ORIZZONTI
Wadjda, de Haifaa Al Mansour
Khaneh Pedari (The Paternal House), de Kianoosh Ayari
Ja Tozhe Mochu (I Also Want It), de Alexey Balabanov
Gli Equilibristi, de Ivano De Matteo
L’Intervallo, de Leonardo Di Costanzo
El Sheita Elli Fat (Winter of Discontent), de Ibrahim El Batout
Tango Libre, de Frederic Fonteyne
Menatek Ha-Maim (The Cutoff Man), de Idan Hubel
Gaosu Tamen, Wo Cheng Baihe Qu Le (Fly With the Crane), de Ruijun Li
Kapringen (A Hijacking), de Tobias Lindholm
Leones, de Jazmin Lopez
Bellas Mariposas, de Salvatore Mereu
Low Tide, de Roberto Minervini
Boxing Day, de Bernard Rose
Yema, de Djamila Sahraoui
Araf (Araf, Somewhere in Between), de Yesim Ustaoglu
Sennen No Yuraku (The Millennial Rapture), de Koji Makamatsu
Zan Zi Mei (Three Sisters), de Bing Wang

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