
Alfonso Cuarón, com as três estatuetas que ganhou com Roma, incluindo o último Oscar de Filme em Língua Estrangeira
CATEGORIA QUE MUDOU DE NOME RECEBEU O TOTAL DE 94 INSCRIÇÕES
Sim, a categoria Filme em Língua Estrangeira, criada oficialmente na década de 50, foi rebatizada para Melhor Filme Internacional no último mês de Abril, pois consideraram o termo “Estrangeiro” ultrapassado. Outras mudanças significativas foram da pré-lista de dezembro, que pula de nove para dez filmes pré-selecionados, e pela primeira vez, os votantes poderão assistir aos dez filmes online, sem precisar comparecer às salas de Los Angeles, Nova York ou Londres.
Dos 94 filmes inscritos, logo de cara já houve uma desqualificação do Afeganistão. Havia questionamento de legitimidade do comitê que elegeu o representante do país, portanto foi descartado antes mesmo do anúncio dos oficialmente inscritos.
Em seguida, no dia 04 de Novembro, a Academia anunciou a desqualificação da Nigéria, que havia inscrito um filme na competição pela primeira vez com Lionheart. Segundo o departamento responsável que viu a película, houve uma infração do regulamento que exige língua não-inglesa predominante. Foi constatado que o filme continha apenas onze minutos no idioma estrangeiro. Essa ilegalidade causou revolta na Nigéria e conquistou apoio da cineasta Ava DuVernay.
Em sua conta do Twitter, a diretora de Selma esbravejou:
“Para a Academia, Vocês desqualificaram a primeiríssima inscrição da Nigéria para Melhor Filme Internacional porque está em Inglês. Mas Inglês é a língua oficial da Nigéria. Vocês estão barrando este país para que nunca dispute um Oscar em sua língua oficial?…”
Há duas formas de enxergar a situação. Pelo lado da Academia, regras são regras. Essa que exige predominância de língua não-inglesa existe há décadas. Faltou atenção ao comitê nigeriano ao regulamento da categoria. Já pelo lado da Nigéria, da modernização e do bom senso, a Academia não poderia ter sido mais flexível nessa questão do idioma ao modernizar o nome do prêmio de Filme em Língua Estrangeira para Filme Internacional? Quer dizer, todas as nações que foram colonizadas no passado jamais poderão disputar esse Oscar? Além disso, há algum tempo, é uma raridade vermos produções de um único país. Atualmente, o normal é a realização de co-produções em conjunto com dois ou mais países. Hoje, se um filme co-produzido por três países, apenas um pode selecioná-lo como representante no Oscar.
Não acreditamos que a Academia vá voltar atrás agora nessas questões, contudo os responsáveis do departamento podem estudar o caso para uma próxima cerimônia. Desta forma, permanecerão 92 filmes inscritos, número que mesmo assim iguala o recorde anterior de 2017. Ainda sobre números, mesmo com a queda da Nigéria, temos 28 diretoras mulheres nessa disputa, um recorde na história da premiação.
COMO ESTÁ A DISPUTA ATÉ O MOMENTO?
PARASITA (Coréia do Sul) Dir: Bong Joon-ho
Vamos resumir assim: o filme sul-coreano Parasita está trilhando o mesmo caminho de Roma, de Alfonso Cuarón. Além de ter faturado prêmios importantes como a Palma de Ouro em Cannes, vem conquistando toda a crítica e o público de forma unânime, o que leva o filme a ser considerado inclusive para outras categorias como Melhor Filme, Direção, Roteiro Original, Fotografia, Direção de Arte e Ator Coadjuvante. Curiosamente, se concretizada, seria a primeira indicação do país na história do Oscar. Particularmente, sentimos que o Cinema Sul-coreano tem sido injustiçado há duas décadas pelo Oscar. Só para citar alguns filmes que mereciam uma indicação estão Oldboy (2002), Oasis (2002), Memórias de um Assassino (2003), Casa Vazia (2004), Secret Sunshine (2007), Poesia (2010), A Criada (2016) e Em Chamas (2018).
DOR E GLÓRIA (Espanha) Dir: Pedro Almodóvar
Quando o filme estava entre os indicados à Palma de Ouro deste ano, havia uma forte especulação de que Pedro Almodóvar ganharia pelo menos o prêmio de Direção ou o Grande Prêmio do Júri, mas acabou ficando apenas com o prêmio de interpretação masculina para Antonio Banderas, que vive o alter-ego do diretor espanhol. Muito querido entre os membros da Academia, o diretor já ganhou duas estatuetas: Filme em Língua Estrangeira por Tudo Sobre Minha Mãe em 2000, e Melhor Roteiro Original por Fale com Ela em 2003. Ao lado do representante sul-coreano, este espanhol está praticamente garantido entre os cinco indicados.
LES MISÉRABLES (França) Dir: Ladj Ly
Havia uma forte expectativa para que Retrato de uma Jovem em Chamas fosse o representante da França para o Oscar, mas talvez por motivos homofóbicos, o filme cedeu lugar a Les Misérables. Apesar de compartilhar o mesmo título da obra de Victor Hugo e o musical homônimo de 2012, o primeiro filme de Ladj Ly aborda a violência e o preconceito vivido por habitantes dos subúrbios franceses. A produção faturou o mesmo Prêmio do Júri ao lado do brasileiro Bacurau, o que pode facilitar um pouco sua campanha. Ladj Ly é o primeiro diretor negro que representa a França.
MONOS (Colômbia) Dir: Alejandro Landes
Para quem acompanha o Oscar, sabe que o cinema colombiano tem se destacado recentemente na premiação como o indicado O Abraço da Serpente (2015) e Pássaros de Verão (2018), que estava na última pré-lista. E pra elevar a ainda mais a campanha de Monos, os diretores mexicanos Alejandro González Iñárritu e Guillermo del Toro esbanjaram rasgaram elogios publicamente ao filme, o que certamente chamará a atenção de outros votantes, especialmente os latinos. Monos, que estava na Mostra Internacional de São Paulo, acompanha oito jovens militantes em um acampamento no alto da montanha. Eles precisam manter uma refém americana (Julianne Nicholson), mas os planos mudam quando eles matam acidentalmente uma vaca que os mantinha no local. Vale ressaltar que o diretor Alejandro Landes é brasileiro, filho de mãe colombiana.
ATLANTICS (Senegal) Dir: Mati Diop
A carreira do filme senegalês começou com sua indicação à Palma de Ouro em Cannes. Mati Diop se tornou a primeira mulher negra na competição oficial. Produção da Netflix, o filme aborda uma história de amor com a imigração ilegal como pano de fundo. Trata-se da segunda inscrição do país africano no Oscar, sendo que a primeira, Félicité, esteve entre os nove filmes pré-selecionados de 2018. Seria um reconhecimento para coroar o crescimento do cinema do continente africano, e dar um equilíbrio entre as produções indicadas, que costumam ficar restritas à Europa.
OUTROS EM DESTAQUE

Da esquerda para a direita: Honeyland, Papicha, O Paraíso Deve Ser Aqui, O Menino que Descobriu o Vento, e O Traidor
Honeyland (Macedônia do Norte): Elogiada produção de ficção que se assemelha a um documentário ao narrar a história de uma apicultora tradicional considerada a última da região.
Papicha (Argélia): Passado nos anos 90, acompanha a opressão sofrida por todas as mulheres por terroristas islâmicos, buscando alterar de forma conservadora seus hábitos, suas vestimentas e seus espaços públicos.
O Paraíso Deve Ser Aqui (Palestina): Trata-se de uma comédia autobiográfica do diretor Elia Suleiman que, ao viajar para fora de seu país para encontrar paz, acaba se deparando com os mesmos problemas de racismo e dificuldades sociais nas terras consideradas paraísos como EUA e França.
O Menino que Descobriu o Vento (Reino Unido): Embora tenha poucas chances no Oscar, pode surpreender por dirigido e atuado pelo ator indicado ao Oscar Chiwetel Ejiofor (de 12 Anos de Escravidão) e estar disponível na plataforma da Netflix. O filme narra a história de um menino no Malawi que desenvolve uma turbina de vento em seu vilarejo.
O Traidor (Itália): Além do renome do diretor Marco Bellocchio, o país europeu aposta na fama do mafioso Tommaso Buscetta, que fugiu para o Brasil e para os EUA e delatou a máfia italiana Costa Nostra. A atriz brasileira Maria Fernanda Cândido faz parte do elenco.
E O BRASIL?
A Academia de Cinema Brasileiro enfrentou um duro dilema este ano. Bacurau ou A Vida Invisível? Ambos os filmes haviam sido bem recebidos e premiados no Festival de Cannes. Enquanto o primeiro faturou o Prêmio do Júri (uma espécie de terceiro lugar), o segundo levou o cobiçado prêmio Un Certain Regard. Uma coisa era certa: o representante brasileiro tinha que ser um dos dois, mas qual?
A presidente da comissão Anna Muylaert acabou desempatando a briga. Cinco votos para A Vida Invisível e quatro para Bacurau. Dentre as justificativas para a escolha, teria pesado a presença de Fernanda Montenegro no elenco, uma vez que ela já foi indicada ao Oscar por Central do Brasil. Além disso, Bacurau pode ser interpretado como uma afronta para o público norte-americano, pois eles são os vilões do filme de Kleber Mendonça Filho que se passa no sertão de Pernambuco. Já A Vida Invisível busca exaltar a força feminina através de suas protagonistas irmãs, algo em voga nas premiações.
Alguns alegam que Bacurau teria sido uma escolha mais ousada e por isso, teria mais chances de ser notado entre os votantes da Academia. Será? Claro que depende muito da campanha de publicidade rumo ao Oscar, que acontece em Fevereiro. Vamos torcer para que Vida Invisível se torne a 5ª indicação do Brasil após a última de Central do Brasil em 1999.
SEGUE LISTA COMPLETA DAS PRODUÇÕES INSCRITAS PARA O OSCAR 2020:
PAÍS | FILME | DIRETOR(A)(ES) |
África do Sul | Knuckle City | Jahmil X.T. Qubeka |
Albânia | The Delegation | Bujar Alimani |
Alemanha | System Crasher | Nora Fingscheidt |
Arábia Saudita | The Perfect Candidate | Haifaa al-Mansour |
Argélia | Papicha | Mounia Meddour |
Argentina | Heroic Losers | Sebastián Borensztein |
Armênia | Lengthy Night | Edgar Baghdasaryan |
Austrália | Buoyancy | Rodd Rathjen |
Áustria | Joy | Sudabeh Mortezai |
Bangladesh | Alpha | Nasiruddin Yousuff |
Bélgica | Our Mothers | César Díaz |
Bielorrússia | Debut | Anastasiya Miroshnichenko |
Bolívia | I Miss You | Rodrigo Bellott |
Bósnia Herzegovina | The Son | Ines Tanovic |
Brasil | A Vida Invisível | Karim Aïnouz |
Bulgária | Ága | Milko Lazarov |
Camboja | In the Life of Music | Caylee So, Sok Visal |
Canadá | Antigone | Sophie Deraspe |
Cazaquistão | Kazakh Khanate – Golden Throne | Rustem Abdrashev |
Chile | Spider | Andrés Wood |
China | Ne Zha | Jiaozi |
Colômbia | Monos | Alejandro Landes |
Coréia do Sul | Parasita | Bong Joon-ho |
Costa Rica | The Awakening of the Ants | Antonella Sudasassi |
Croácia | Mali | Antonio Nuic |
Cuba | A Translator | Rodrigo Barriuso, Sebastián Barriuso |
Dinamarca | Queen of Hearts | May el-Toukhy |
Egito | Poisonous Roses | Fawzi Saleh |
Equador | The Longest Night | Gabriela Calvache |
Eslováquia | Let There Be Light | Marko Skop |
Eslovênia | History of Love | Sonja Prosenc |
Espanha | Dor e Glória | Pedro Almodóvar |
Estônia | Truth and Justice | Tanel Toom |
Etiópia | Running Against the Wind | Jan Philipp Weyl |
Filipinas | Verdict | Raymund Ribay Gutierrez |
Finlândia | Stupid Young Heart | Selma Vilhunen |
França | Les Misérables | Ladj Ly |
Gana | Azali | Kwabena Gyansah |
Geórgia | Shindisi | Dito Tsintsadze |
Grécia | When Tomatoes Met Wagner | Marianna Economou |
Holanda | Instinct | Halina Reijn |
Honduras | Blood, Passion and Coffee | Carlos Membreño |
Hong Kong | The White Storm 2 – Drug Lords | Herman Yau |
Hungria | Those Who Remained | Barnabás Tóth |
Índia | Gully Boy | Zoya Akhtar |
Indonésia | Memories of my Body | Garin Nugroho |
Irã | Finding Fariden | Kourosh Ataee, Azadeh Moussavi |
Irlanda | Gaza | Garry Keane, Andrew McConnell |
Islândia | A White, White Day | Hlynur Pálmason |
Israel | Incitement | Yaron Zilberman |
Itália | O Traidor | Marco Bellocchio |
Japão | Weathering With You | Makoto Shinkai |
Kosovo | Zana | Antoneta Kastrati |
Látvia | The Mover | Davis Simanis |
Líbano | 1982 | Oualid Mouaness |
Lituânia | Bridges of Time | Kristine Briede, Audrius Stonys |
Luxemburgo | Tel Aviv on Fire | Sameh Zoabi |
Macedônia do Norte | Honeyland | Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov |
Malásia | M for Malaysia | Dian Lee, Ineza Roussille |
Marrocos | Adam | Maryam Touzani |
México | The Chambermaid | Lila Avilés |
Mongólia | The Steed | Erdenebileg Ganbold |
Montenegro | Neverending Past | Andro Martinovic |
Nepal | Bulbul | Binod Paudel |
Nigéria | Lionheart | Genevieve Nnaji |
Noruega | Out Stealing Horses | Hans Petter Moland |
Palestina | It Must Be Heaven | Elia Suleiman |
Panamá | Everybody Changes | Arturo Montenegro |
Paquistão | Laal Kabootar | Kamal Khan |
Peru | Retablo | Alvaro Delgado-Aparicio |
Polônia | Corpus Christi | Jan Komasa |
Portugal | The Domain | Tiago Guedes |
Quênia | Subira | Ravneet Sippy Chadha |
Quirguistão | Aurora | Bekzat Pirmatov |
Reino Unido | O Menino que Descobriu o Vento | Chiwetel Ejiofor |
Rep Dominicana | The Projectionist | José María Cabral |
Rep Tcheca | The Painted Bird | Václav Marhoul |
Romênia | The Whistlers | Corneliu Porumboiu |
Rússia | Beanpole | Kantemir Balagov |
Senegal | Atlantics | Mati Diop |
Sérvia | King Petar of Serbia | Petar Ristovski |
Singapura | A Land Imagined | Yeo Siew Hua |
Suécia | And Then We Danced | Levan Akin |
Suíça | Wolkenbruch’s Wondrous Journey Into the Arms of a Shiksa | Michael Steiner |
Tailândia | Krasue: Inhuman Kiss | Sitisiri Mongkolsiri |
Taiwan | Dear Ex | Mag Hsu, Hsu Chih-yen |
Tunísia | Dear Son | Mohamed Ben Attia |
Turquia | Commitment | Semih Kaplanoglu |
Ucrânia | Homeward | Nariman Aliev |
Uruguai | The Moneychanger | Federico Veiroj |
Uzbequistão | Hot Bread | Umid Khamdamov |
Venezuela | Being Impossible | Patricia Ortega |
Vietnã | Furie | Lê Van Kiêt |
A pré-lista com os dez filmes será divulgada no dia 16 de dezembro. O anúncio das indicações ao Oscar estão marcadas para o dia 13 de janeiro.