RETROSPECTIVA 2021: CINEMA PÓS-PANDEMIA?

CINEMA BUSCA RECONSTRUÇÃO APÓS PANDEMIA, MAS TEME POR FUTURO COM VARIANTES

Olá a todos! Este ano, meu fim de ano está sendo bastante corrido, então meu post de retrospectiva será mais breve e resumido. Como as plataformas do Facebook e principalmente Instagram (como eu odeio aquele número de caracteres limitadíssimo!) não permitem um texto mais longo, faço questão de escrever um post aqui no WordPress, onde não há restrições.

Assim como o mundo tentou se recuperar em 2021 com a vacinação da COVID, o Cinema também se aproveitou das dificuldades impostas pela pandemia para tentar se reinventar com equipes de filmagem reduzidas, orçamentos ainda menores e temáticas que refletem esse momento delicado na sociedade. Em 2020, vimos como os serviços de streaming foram essenciais para manter nossa sanidade mental enquanto passamos a maior parte do tempo em casa isolados, e por isso mesmo passamos a recomendar filmes (na maior parte do tempo interligados por temáticas) todos os finais de semana como forma de entreter os seguidores cinéfilos.

Ainda não sabemos se a variante Ômicron e outras que possam vir causarão novos picos de casos e mortes pelo mundo, mas os governos (pelo menos boa parte) estão mais alertas e alguns já aplicam novos lockdowns. É triste só de pensar que podemos enfrentar uma onda igual ou maior, mas espero que a ciência possa continuar nos auxiliando nessa luta. Fico feliz que o público está voltando às salas de cinema, mas caso a pandemia persista, talvez seja necessário fechá-las novamente… pelo menos por um tempo.

OSCAR 2021: MUDANÇAS QUE NÃO SURTIRAM EFEITO

Por se tratar da primeira edição do Oscar após o início da pandemia, havia forte possibilidade de que a cerimônia fosse totalmente virtual como aconteceu com o Globo de Ouro, contudo o céu nublado começou a abrir quando o Grammy foi um evento bem-sucedido ao apostar no híbrido, com participações virtuais, poucos convidados no local e num ambiente aberto para driblar o contágio do vírus. Esse era o caminho a seguir para o Oscar dar certo presencialmente: mudar do Dolby Theater para a Union Station.

Sob essas condições limitadas, o ideal seria fazer o simples e o básico, e tentar reduzir o tempo da transmissão para melhorar a audiência decadente, mas Steven Soderbergh (eleito para dirigir a cerimônia), estava repleto de ideias e queria botar todas em prática. 1º Queria transformar o Oscar num filme e seguiu Regina King caminhando pelo tapete vermelho enquanto os créditos de abertura estampavam a tela; 2º Houve redução drástica de videoclipes com trechos dos filmes indicados substituídos por um roteiro de curiosidades sobre os indicados e não impôs limite de tempo para os discursos de agradecimento; 3º Alterou a ordem natural dos principais prêmios, apresentando Melhor Direção na primeira metade da cerimônia e fechou com Atriz e Ator, apostando um clímax estrelado por uma homenagem para o recém-falecido Chadwick Boseman, mas… faltou combinar com os votantes porque Anthony Hopkins, que estava dormindo em sua casa, foi o vencedor. E pra piorar, os números de audiência do Oscar foram os piores da história. Soderbergh não deve voltar tão cedo aos bastidores do Oscar…

Sobre os resultados, as vitórias de Anthony Hopkins, Frances McDormand, Yuh-jung Youn e Daniel Kaluuya foram justas pelas performances apresentadas. Quero dizer, não houve um prêmio servindo de compensação por uma derrota anterior, por exemplo. O terceiro Oscar para Frances McDormand a tornou a atriz mais premiada, atrás apenas da lendária Katharine Hepburn, que tem 4.

PANDEMIA: CINEMAS REABRINDO

Muita gente ainda não voltou às salas de cinema, mesmo com o avanço da vacinação. É super compreensível, afinal a sala de cinema ainda é um ambiente propício para um contágio (um monte de gente aglomerada sob o mesmo ar condicionado). Mas muitos já se arriscaram para voltar a ver um filme na tela grande, como eu.

Voltei para ver Invocação do Mal 3, depois fui ver os blockbusters Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, 007 Sem Tempo Para Morrer, Eternos, e por último, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (aliás, este último é o verdadeiro filme do retorno do público aos cinemas e foi bom estar numa sala com fãs reagindo positivamente ao filme). Gostaria de ter visto alguns filmes melhores e alternativos como Benedetta, Titane e Noite Passada no Soho, mas os cinemas do interior de SP são uma tristeza em termos de diversidade (e legenda em português!). Queria ter visto Ataque dos Cães da Netflix nos cinemas, mas foram raríssimas sessões somente na capital paulista.

Espero que essa variante Ômicron não represente uma ameaça tão grande a ponto de impedir os avanços da vacinação, pois a experiência de ver um filme no cinema é incomparável, ainda mais depois de tanto tempo vendo filmes em casa.

GLOBO DE OURO EM CRISE

Mesmo virtualmente, houve a cerimônia do Globo de Ouro com as hostesses Tina Fey e Amy Poehler, e havia motivo para celebração, pois pela primeira vez na história, três diretoras mulheres haviam sido indicadas na categoria: Chloé Zhao, Emerald Fennell e Regina King. Mas dois escândalos acabaram com a credibilidade do prêmio da HFPA num piscar de olhos: 1º Apesar de ser composto por menos de 90 jornalistas, não havia nenhum membro negro entre eles, e alguns membros sequer tinham publicações sobre cinema. 2º Havia fortes indícios que votantes da HFPA receberam diárias de hotéis na França em troca de votos para a série da Netflix, Emily in Paris.

Foi um desastre irreversível naquele momento. Dentre as consequências: a rede NBC decidiu que não iria transmitir a cerimônia de 2022; os principais estúdios anunciaram que não fariam campanha junto a HFPA até que as coisas estivessem melhores; e pra fechar com chave de ouro, Tom Cruise ficou tão cabreiro que quis devolver os três Globos de Ouro que ele ganhou na carreira (será que devolveu mesmo ou foi apenas uma ameaça publicitária?).

Nesses últimos 8 meses, a HFPA passou por algumas reformulações como a adesão de mais de 20 novos membros (sim, alguns são negros) e a mudança no regulamento que agora permite produções estrangeiras de competirem em categorias principais como Melhor Série e Melhor Filme. Nos últimos anos, produções de idiomas asiáticos não puderam competir como Parasita, A Despedida e Minari. Este ano, a série sul-coreana Round 6 (ou Squid Game) já concorre à Melhor Série – Drama.

Nitidamente, o Globo de Ouro parou no tempo e não deu um update no seu regulamento e precisava há tempos de uma varredura nesse clube elitista de membros, mas não se trata de qualquer prêmio para jogar no lixo quase 80 anos de história. Particularmente, acho de uma hipocrisia lastimável a postura desses estúdios, pois a maioria (se não todos) jogou por décadas esse jogo de compra de votos quando lhes conveio. Agora seria a hora de apoiar e sugerir mudanças na reforma, mas tudo se resumiu a abandono e descaso. Foi triste ver Snoop Dogg como a única celebridade a aceitar o convite da HFPA para anunciar os indicados de 2022.

AMAZON STUDIOS COMPRA A MGM

Não vou ser hipócrita de criticar o Capitalismo agora porque grandes estúdios estão comendo uns aos outros, pois é assim que o mundo gira, mas confesso que foi um pouco triste de ver a lendária MGM vendida pela “bagatela” de 8,45 bilhões de dólares no último mês de Maio. Embora estivesse em decadência financeira há alguns anos, o estúdio fez parte da nossa História com tantos filmes marcantes e qualidade como a mais longeva franquia de 007, a franquia de Rocky, RoboCop, A Pantera Cor-de-Rosa… Como elas serão continuadas sob nova direção?

Contudo, o que mais me preocupa é essa pasteurização, pois cada estúdio tinha uma ousadia singular que proporcionava uma diversidade de produções que fazia bem para o Cinema como forma de arte. É claro que não podemos ser meramente saudosistas e precisamos visualizar que os filmes mudam a cada década assim como a forma de fazê-los, mas existe sim um um pessimismo no futuro porque os estúdios estão sendo cada vez mais controlados por produtores mais interessados nos lucros das bilheterias e merchadising do que com a qualidade da história, sem contar com a falta de coragem de apostar em materiais originais e inovadores.

MORTE NO SET DE FILMAGENS

Em Outubro, durante as filmagens do filme Rust no Novo México, o ator e produtor Alec Baldwin acidentalmente atirou com uma arma de fogo real e matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins e feriu o diretor Joel Souza. Além de muito nova (42 anos), ela havia sido nomeada como uma “rising star” pela revista American Cinematographer em 2019, destacando a ascensão de uma mais uma mulher na função. A princípio, o disparo parecia meramente acidental, mas as investigações levantaram más condições de trabalho e o não cumprimento de leis trabalhistas e de segurança. Atualmente, a polícia está pedindo acesso ao celular do ator para maiores esclarecimentos.

Após esse incidente, muito se discutiu sobre o uso de armas de fogo reais em sets de filmagens, abrindo a possibilidade de utilizarem armas de brinquedo ou até feitas pela computação gráfica, reduzindo a zero as chances de um tiro acidental. Infelizmente, essa discussão já foi feita anteriormente e nada mudou de lá pra cá. Em 1994, durante filmagens de O Corvo, o ator Brandon Lee, filho de Bruce Lee, foi baleado por balas de verdade e acabou morrendo.

CRÍTICAS

META 2021

Ao contrário dos últimos dois anos, não tive tanto tempo disponível para ver filmes, mas na medida do possível, consegui assistir a 156 filmes até o momento. Dentre os títulos que finalmente conferi, destaco Uma Equipe Muito Especial (achava que era apenas um filme bobo de baseball, mas tem muito a dizer sobre a força feminina no cinema), A Hora da Zona Morta (ótima e curiosa colaboração entre Stephen King e David Cronenberg), A Fantástica Fábrica de Chocolate (todo mundo já viu na Sessão da Tarde! Adorei o humor negro que não se faz mais hoje), Era uma Vez na América (embora seja fã do diretor Sergio Leone, tenho certa aversão a filmes muito longos, mas esse épico realmente valeu a pena), e O Estranho Mundo de Jack (realmente filmes natalinos não são meu forte).

Em 2022, quero finalmente ver alguns filmes do Akira Kurosawa que estão na minha lista há tempos como Yojimbo, Ikiru e Ran, outros do Jean-Luc Godard como Masculino-Feminino, e de Federico Fellini como A Doce Vida. E vocês? Tem aqueles filmes que estão mofando na sua watchlist há vários anos? Comente no final do post.

PIORES DO ANO

TOP 5 PIORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. ESTADOS UNIDOS VS. BILLIE HOLIDAY (The United States vs. Billie Holiday, 2020). Dir: Lee Daniels

4. ERA UMA VEZ UM SONHO (Hilbilly Elegy, 2020). Dir: Ron Howard

3. EMMA. (Emma., 2020). Dir: Autumn de Wilde

2. UM PRÍNCIPE EM NOVA YORK 2 (Coming 2 America, 2021). Dir: Craig Brewer

1.MORTAL KOMBAT (Mortal Kombat, 2021). Dir: Simon McQuoid

Resolvi assistir logo após a loucura que foi a temporada de premiações, pois precisava de algo urgente que não precisasse usar o cérebro, mas não achei que Mortal Kombat chegasse a ferir meus neurônios. Pelo visual e design do trailer, parecia algo um pouco mais promissor, mas foi uma maçaroca detestável e ainda com ambições de criar um universo como a Marvel em um único filme. Muita pretensão!

MELHORES DO ANO

Como revelei acima, só consegui assistir a cinco filmes nas salas de cinema este ano, portanto a seleção de melhores do ano será composta de lançamentos de 2020 e 2021.

5. MINARI: EM BUSCA DA FELICIDADE (Minari). Dir: Lee Isaac Chung

4.NOMADLAND (Nomadland). Dir: Chloé Zhao

3. ATAQUE DOS CÃES (The Power of the Dog). Dir: Jane Campion

2. MEU PAI (The Father). Dir: Florian Zeller

1. FLEE. Dir: Jonas Poher Rasmussen

A essa altura do campeonato, muitos já conhecem o filme dinamarquês que mistura animação e documentário. Não apresenta algo realmente inovador, mas possui muita alma no relato do refugiado Amin, que passou por inúmeras situações desumanas. Não sei se vai ganhar algum Oscar, mas merece destaque na temporada.

TOP 5 MELHORES em MÍDIA DIGITAL OU STREAMING

5. CONFRONTO NO PAVILHÃO 99 (Brawl in Cell Block 99, 2017) & JUSTIÇA BRUTAL (Dragged Across Concrete, 2018). Dir: S. Craig Zahler

4. SORRIA (Smile, 1975). Dir: Michael Ritchie (Obrigado pela recomendação, Carlos!)

3. UMA EQUIPE MUITO ESPECIAL (A Legue of Their Own, 1992). Dir: Penny Marshall

2. CABRA MARCADO PARA A MORTE (1984). Dir: Eduardo Coutinho

1. OS SAPATINHOS VERMELHOS (The Red Shoes, 1948). Dir: Michael Powell e Emeric Pressburger

Há muito tempo estava na minha lista, mas só agora consegui conferir este clássico sobre música e dança da dupla britânica Powell e Pressburger. Teria sido lindo se fosse numa sala de cinema, pois é um espetáculo inquestionável, mas saí muito feliz da sessão do streaming do Belas Artes a la Carte.

IN MEMORIAM

2021 já começou com tristes despedidas dos atores Cloris Leachman, Cicely Tyson, Hal Holbrook e Christopher Plummer só nos primeiros dois meses. Depois perdemos outros atores como Yaphet Kotto, Olympia Dukakis, Ned Beatty, Dean Stockwell, Jean-Paul Belmondo e os brasileiros Tarcísio Meira e o impagável Paulo Gustavo.

Entre os diretores, demos adeus à primeira diretora indicada ao Oscar de Direção, a italiana Lina Wertmuller, que felizmente recebeu o Oscar Honorário há um ano. Também perdemos Richard Donner, responsável por clássicos dos anos 70 e 80 como Superman: O Filme, Os Goonies, O Feitiço de Áquila, Máquina Mortífera e A Profecia, mas que infelizmente não teve a mesma homenagem da Academia…

VOTOS PARA 2022

Primeiramente, agradecer aos inúmeros voluntários e colaboradores da saúde que possibilitaram o avanço da campanha de vacinação no Brasil, apesar das inúmeras dificuldades e o combate a tantas fake news. Vamos torcer para que a ciência possa nos prover imunizantes seguros para essa e outras variantes que possam vir e se alastrar. E claro, desejo muita saúde a todos!

Aproveito para desejar um Feliz Natal e Próspero Ano Novo a todos os seguidores, independente das plataformas, seja comentando, curtindo ou simplesmente visualizando nossas postagens. Espero que consiga cobrir as notícias desta próxima temporada de premiação e compartilhar opiniões sobre as produções, sempre com muito respeito e dedicação.

O CINEMA PÓS-CORONAVÍRUS: Um Breve Panorama

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Sala de cinema da rede UCI vazia (pic by Revista Veja)

DISTRIBUIÇÃO DE FILMES É AFETADA DIRETAMENTE. QUAIS AS MEDIDAS A TOMAR AGORA?

Desde que o Coronavírus causou uma paralisação na China, que inclusive cancelou o seu Ano Novo Chinês, as salas de cinemas passaram a fechar gradativamente, barrando os filmes de todos os lugares, especialmente de Hollywood, que depende cada vez mais do mercado chinês.

Os lançamentos de filmes como Sonic, Jojo Rabbit e Dolittle foram adiados indefinidamente por lá. E agora? Se forem lançados depois de algumas semanas, a pirataria certamente já terá prejudicado as bilheterias, restando a opção de disponibilizar esses filmes diretamente para plataformas de streaming como Netflix e Amazon Prime. Independente da escolha, apenas uma margem do lucro será afetada, já que se tratam de produções já lançadas anteriormente.

Em se tratando de futuros lançamentos, os grandes estúdios como a Disney, que tem a possibilidade de adiar os lançamentos, não pensaram muito e logo adiaram estréias grandiosas e promissoras como o live action de Mulan, que estava previsto para o final de Março, e agora segue sem data definida. Em seguida, a MGM e a Universal adiaram o 25º filme de James Bond, 007 Sem Tempo Para Morrer, de Abril para Novembro. Embora a justificativa oficial dos estúdios tenha sido a preocupação com a saúde pública, todos sabemos que o verdadeiro motivo são as prováveis perdas nas bilheterias ao redor do mundo. Inclusive, no caso do filme de Bond, alguns chegaram a especular uma teoria da conspiração de que o filme teria sido mal recebido em sessões testes com público, e por isso teriam que refazer ou até mesmo refilmar algumas cenas.

Mulan

Mulan: antes previsto para 27 de Março, agora adiado indefinidamente pela Disney (pic by IMDb)

Recentemente, enquanto a Paramount adiou o lançamento de Um Lugar Silencioso: Parte II, e a Disney e a Marvel Studios adiaram indefinidamente o lançamento de Viúva Negra, que estava previsto para 1º de Maio, a Universal quebrará a janela de lançamentos e disponibilizará a animação Trolls 2 diretamente para locação on demand. Embora a sequência de Trolls não seja um filme super aguardado, esta decisão pode causar atritos com as redes de cinema.

Trolls 2

Universal Studios: Trolls 2 ficará disponível para Video on Demand Premium (pic by IMDb)

Falando em salas de cinema, elas foram fechando em efeito dominó em inúmeros países, pois a transmissão do vírus seria mais fácil em aglomerações e em recintos fechados. Na verdade, a cultura mundial foi bastante abalada, pois as peças de teatro também foram canceladas ou adiadas, encontros literários, eventos como o SXSW (South by Southwest) nos EUA, campeonatos esportivos de todos os tipos e tamanhos, chegando a reuniões de negócios e podendo ainda afetar o Festival de Cannes, que ainda segue com a data prevista para Maio. Embora cause prejuízos aos filmes e ao mercado francês, estamos quase certos de que o festival também será adiado. Imaginamos que o presidente do júri deste ano, Spike Lee, já esteja mexendo os pauzinhos pra que isso aconteça.

E o que fazer diante desse cenário pós-apocalíptico? Seguindo as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), as pessoas estão ficando em casa, fazendo home office, evitando transporte público, ou em caso de sintomas, de quarentena. Embora compreendamos a real necessidade dessas mudanças drásticas em nossas rotinas, ficamos aqui preocupadíssimos com os impactos globais nas economias, como já vimos nas bolsas e a alta do dólar, até o comércio em geral. Vai chegar um momento em que o comerciante precisará fechar seu estabelecimento, não apenas por motivos de saúde, mas pela falta de consumidores como em shoppings e em ruas do centro. Contudo, as contas nunca param de chegar: aluguel, condomínio, energia elétrica, água, gás, internet, o salário do seu funcionário, alimentação! Quem vai cobrir esse rombo enorme sem entrada de renda?

Por enquanto, a previsão de retorno à “normalidade” está prevista para daqui a duas semanas a um mês, mas e se a pandemia durar mais tempo do que o previsto? Enfim, apesar de noticiarmos matérias relacionadas a Cinema e cultura em geral, ficamos extremamente apreensivos com o aumento de casos no Brasil, enquanto nosso presidente mantém seu discurso alinhado com Donald Trump de que tudo não passa de exagero da mídia. Se até os próprios colegas políticos de Bolsonaro estão contaminados com o vírus, como o General Mourão, que choque de realidade seria necessário para mudar o discurso e providenciar medidas de contenção pelo país?

Voltando ao Cinema, alguns estúdios já estão remediando a situação para evitar perdas maiores. Então filmes como O Homem InvisívelThe Hunt, que já haviam sido lançados nos cinemas, passaram a ficar disponíveis em VOD (Video on Demand) nos EUA por aproximadamente 20 dólares em plataformas de streaming. Obviamente, essas medidas alternativas revoltaram alguns exibidores, mas ao mesmo tempo, eles entendem que foram necessárias. Aqui, de mãos atadas, a rede Cinemark já anunciou uma política de demissão voluntária, por exemplo.

Invisible Man

O Homem Invisível já disponível para locação online por 20 dólares (pic by IMDb)

O curioso desse cenário é que o streaming, tão odiado por vários conservadores no ramo, está se tornando a salvação dos lançamentos de cinema. Tudo bem, à princípio, não acreditamos que o Mulan ou o filme do 007 serão lançados diretamente via streaming, mas não sabemos como a contenção do vírus estará daqui a alguns meses.

Se o Cinema já vinha lutando para atrair o público às salas de exibição, agora vai ficar cada vez mais difícil. Essa mudança obrigatória na distribuição de filmes deve acelerar a conversa sobre o tabu que é streaming. A tão criticada Netflix por puristas pode ser uma salvação para quem quiser assistir aos lançamentos nessas primeiras semanas, mas se a pandemia persistir por mais tempo, o comportamento cultural pode se tornar rotina e as salas de cinema podem se tornar um nicho para amantes do cinema, assim como prevíamos que aconteceria, mas daqui a uma década ou mais.

A boa notícia é de que supostamente a primeira sala de cinema na China foi reaberta nesta semana. Na Coréia do Sul, onde foi reportado o maior número de casos confirmados, os recuperados da doença estariam ultrapassando o número de novos casos. Se a Ásia está começando a melhorar a situação, tudo indica que a Europa deve acompanhar a redução de casos em breve, e depois as Américas. Tudo vai depender da política de contenção dos países e claro, da colaboração das pessoas ao lavar bem as mãos, alimentar-se bem para elevar a imunidade, e evitar aglomerações.

E uma curiosidade extra é que filmes com temática apocalíptica voltaram ao topo das listas, sendo encabeçadas por Contágio (2011), de Steven Soderbergh, que vem sendo chamado de profeta! No filme, uma mulher retorna de viagem de Hong Kong com uma doença semelhante a uma gripe e morre. No mesmo dia, seu filho também morre. E em pouco tempo, o vírus se espalha pelo mundo e causa uma pandemia, exatamente como está acontecendo agora. Nove anos depois de ser lançado, o filme de Soderbergh foi o mais baixado no iTunes.

Contagion

Gwyneth Paltrow em Contágio, onde interpreta a primeira vítima do novo vírus de Hong Kong (pic by IMDb)

Entre outros filmes mais procurados no momento estão Epidemia (1995), O Enigma de Andrômeda (1971), O Iluminado (1980), Os 12 Macacos (1995), Filhos da Esperança (2006), Eu Sou a Lenda (2007), O Nevoeiro (2007), Ensaio Sobre a Cegueira (2008), Vírus (2009), Sentidos do Amor (2011), e inúmeros de temática zumbi como Extermínio (2002), Extermínio 2 (2007), Madrugada dos Mortos (2004). Quase todos são ótimos filmes que revelam a verdadeira natureza humana diante de uma situação de calamidade pública. Recomendamos também Pânico nas Ruas (1950), de Elia Kazan, que foi todo filmado em locação em New Orleans para conferir uma estética documental.

Além da curiosidade de analisarmos as previsões certeiras dos filmes, podemos esperar que esta fase virulenta e altamente contagiosa inspirará inúmeros novos filmes. Por enquanto, estamos aqui na torcida para que tudo volte ao normal o mais breve possível para que não haja mais mortes. Cuidem-se bem e respeite a saúde do próximo!

007 – Operação Skyfall (Skyfall), de Sam Mendes (2012)

007 – Operação Skyfall

Após um longo hiato de quatro anos, finalmente a franquia mais lucrativa do cinema retorna às telas do cinema. 007 – Operação Skyfall acabou sofrendo esse atraso devido ao processo de falência do estúdio MGM (Metro Goldwyn Meyer), mas agora os produtores asseguraram que esse equívoco não voltará a acontecer, lembrando que Daniel Craig já assinou novo contrato para mais dois filmes com lançamento previsto para 2014 e 2016, com produção e filmagens acontecendo simultaneamente, dando a entender que se tratam de filmes sequenciais.

Com a aproximação da data comemorativa de 50 anos de James Bond, os produtores da série Barbara Broccoli e Michael G. Wilson buscavam algo grandioso que causasse uma reformulação. Para isso, chamaram o vencedor do Oscar de direção por Beleza Americana, Sam Mendes, para comandar o show. Em entrevista, Mendes revela que só passou a aceitar a idéia de dirigir um filme de Bond depois que o diretor Marc Forster foi convocado para assumir 007 – Quantum of Solace (2008), uma vez que Forster tem raízes mais autorais com uma filmografia que inclui o forte drama A Última Ceia (que rendeu o Oscar de melhor atriz para Halle Berry) e o drama O Caçador de Pipas, baseado no best-seller de Khaled Hosseini.

Sam Mendes (a esq.) dirigindo Daniel Craig na sequência inicial

Essa preocupação de Sam Mendes se mostra bastante pertinente, pois os diretores que assumem os filmes costumam ter esse rótulo de marionete dos produtores, não tendo qualquer poder e palavra final, algo considerado um terror pra diretores autorais como Mendes. Além desse aspecto, ele declarou numa entrevista ao site The Playlist que antes de aceitar a proposta, não considerava um desafio atraente. “Eu nunca fui interessado e não acho que vi todos os filmes com o Pierce Brosnan. Mas quando Daniel Craig foi escalado em 007 – Cassino Royale (2006), passei a me interessar porque ele era um amigo com quem trabalhei em Estrada Para a Perdição (2001). Inicialmente não considerei uma boa escolha, mas aí eu vi o filme e mudei de idéia, e até fiquei ansioso para ver o próximo. Fiquei levemente desapontado com 007 – Quantum of Solace, contudo acho que existem coisas boas numa boa olhada. Mas quando encontrei Daniel e ele me perguntou se eu estava interessado ou não, fui pego de surpresa dizendo sim de forma rápida. Foi apenas um bom timing.”

Com a contratação do diretor acertada, seus colaboradores assíduos tomaram as posições em seus respectivos departamentos. Assim, a série ganhou muito em qualidade, especialmente na trilha musical, com Thomas Newman substituindo David Arnold, e a fotografia belíssima de Roger Deakins, indicado nove vezes ao Oscar, mas sem nenhuma vitória. Aliás, não é exagero algum afirmar com certeza que o trabalho de fotografia de Deakins é o melhor de toda a série (23 filmes). Todas as sequências são imageticamente deslumbrantes, em especial ao clímax que se passa na Escócia, quando o vilão Silva destrói um casarão com granadas (foto abaixo).

O vilão Silva num belíssimo contra-luz do diretor de fotografia Roger Deakins

Para o roteiro, os frequentes Neal Purvis e Robert Wade, que trabalham em conjunto desde 007 – O Mundo Não é o Bastante (1999), receberam suporte final do competente John Logan, indicado ao Oscar três vezes por Gladiador (2000), O Aviador (2004) e o recente A Invenção de Hugo Cabret (2011). Seu trabalho deu muito mais consistência ao trabalho da dupla, além de diálogos marcantes entre Bond e seu algoz, mas vale ressaltar que algumas idéias principais foram copiadas de Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan, principalmente no fato do vilão Raoul Silva ser um anarquista cibernético e em seguida se deixar ser preso de forma planejada para que pudesse fazer mais estrago e atingir seu objetivo como fez o Coringa de Heath Ledger.

Para acompanhar a influência de Nolan, o diretor Sam Mendes confirmou a importância que o segundo filme da trilogia de Batman para a realização de 007 – Operação Skyfall. “Estamos agora numa indústria onde os filmes são muito pequenos ou muito grandes e não há quase nada no meio. E seria uma tragédia se todos os filmes sérios fossem muito pequenos e todos os filmes pipoca fossem muito grandes e não tivessem nada a dizer. E o que Nolan provou é que você pode fazer um filme enorme que seja emocionante e divertido, e ao mesmo tempo, ter um monte de coisas a dizer sobre o mundo em que vivemos. E olha que Batman – O Cavaleiro das Trevas nem se passa em nosso mundo! Parecia que o filme era sobre o nosso mundo pós-11 de setembro, discutindo sobre nossos medos e por que eles existiam e achei que aquilo era incrivelmente corajoso e interessante. Isso ajudou a me dar a confiança para assumir este filme em direções que, sem Batman, não poderia ter sido possível. E não seria necessário temer uma reação negativa do público, pois dá pra se apoiar no tom negro do filme de Nolan que faturou zilhões de dólares nas bilheterias. Quer dizer, é possível fazer um filme mais obscuro que as pessoas querem ver.”

Além da base anarquista e a obsessão por destruição do Coringa, o vilão Raoul Silva apresenta como base outra personalidade contemporânea fortíssima: Julian Assange, o porta-voz do site WikiLeaks. Em 2006, o jornalista australiano e ciberativista se tornou o editor-chefe da WikiLeaks, um site de denúncias e vazamentos, responsável pela publicação de documentos secretos do governo do Quênia, de resíduos tóxicos na África, e a forte denúncia sobre o tratamento dado aos prisioneiros da Prisão de Guantánamo, que ele obtém como hacker de sites de algumas nações. Com ninguém satisfeito com a invasão de Assange, ele perdeu a cidadania sueca e desde junho desse ano, foi obrigado a se refugiar na embaixada do Equador em Londres, onde vive até hoje sob fortes ameaças. O vilão de Bond pegou emprestado o visual loiro e sua estratégia de vazar a identidade secreta de agentes britânicos infiltrados em facções terroristas no Youtube.

O vilão Raoul Silva (Javier Bardem). No detalhe, Julian Assange.

Com esse perfil cibernético, o personagem de Silva poderia facilmente ser um homem mais franzino, mas como os fãs da série preferem vilões que Bond possa ter uma luta corpo-a-corpo equilibrada, chamaram o encorpado Javier Bardem, que certamente ganhou o papel depois de assustar a todos com seu personagem Anton Chigurh de Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), dos irmãos Coen. Curiosamente, Bardem é o primeiro ator espanhol a interpretar o vilão principal do agente 007 e ele o fez com maestria. Seu Raoul Silva aparece na tela a partir da segunda metade do filme e mesmo assim consegue aparentar uma constante ameaça. Pelas qualidades citadas acima, já entraria para a galeria dos vilões de Bond mais memoráveis, mas existe uma outra vertente que o torna ainda mais interessante: seu lado homo-erótico. Sim, James Bond tem um antagonista homossexual! Obviamente, essa opção sexual do vilão fica apenas sugerida e nunca explícita por se tratar de um filme altamente comercial, no entanto, em sua primeira aparição, Silva senta em frente a Bond amarrado numa cadeira e abre sua camisa para checar seus ferimentos (foto abaixo), enquanto profere palavras de duplo sentido.

James Bond encara Raoul Silva pela primeira vez com um diálogo picante

Para este fã de James Bond, o fato do vilão ter tendências homossexuais não impressiona. Aliás, até torna as coisas mais interessantes! Mas a resposta que James dá a uma indireta de Silva causou certo furor na minha sessão, repleta de fanáticos pelo agente secreto. (Para quem não viu o filme e não quer saber, não leia o fim deste parágrafo). Quando Silva sugere que Bond experimente uma nova experiência sexual, ele retruca um inesperado “e quem disse que é a minha primeira vez?”, deduzindo que o agente secreto mais mulherengo da história do cinema seria bissexual! 50 anos de Bond e os roteiristas entregam uma faceta totalmente inédita do personagem de Ian Fleming. Aliás, estaria ele rolando em seu caixão depois dessa? Com certeza, muitos fãs machistas adoradores da masculinidade extrema de Connery ficaram pasmos e irritados.

Apenas uma curiosidade em relação ao homossexualismo de Silva, apesar de muitos acreditarem que se trata do primeiro vilão gay da série, os assassinos mercenários Mr. Kidd e Mr. Wint foram os primeiros em 007 – Os Diamantes São Eternos (1971), estrelado por Sean Connery. Contudo, o homossexualismo da dupla se mostra mais uma amizade colorida e inofensiva. Em defesa de seu personagem, Javier Bardem comentou que o sexualismo exposto demonstraria poder diante de um oponente forte como Bond: “A cena era mais sobre colocar outra pessoa em uma situação muito desconfortável, tanto que até James Bond não saberia como resolver”.

Há muito tempo não víamos um vilão de Bond com fortes características sexuais. O último foi a sádica Xenia Onnatop, interpretada por Famke Janssen em 007 Contra GoldenEye (1995). Ela tinha orgasmos múltiplos ao matar pessoas e tinha como golpe favorito torcer suas pernas em volta do abdômen da vítima e asfixiá-la. Com tamanhas qualidades, ficou marcada na história de Bond como uma das melhores vilãs.

Seguindo com as comemorações dos 50 anos, existem algumas boas referências dos filmes anteriores como o automóvel Aston Martin DB5, com assento do passageiro ejetável, utilizado em 007 Contra Goldfinger, e principalmente na reformulação das personagens clássicas e fixas da série como o chefe de Bond, M, sua secretária Miss Moneypenny, e o que a maioria dos fãs estavam aguardando: o retorno do mestre-quarteleiro Q.

Na cena de introdução de Q, Ben Wishaw e Daniel Craig têm um diálogo bastante esclarecedor a respeito dos novos tempos tecnológicos, defendendo muito bem o motivo do personagem reaparecer tão jovem (o ator que viveu Q, Desmond Llewelyn estreou em Moscou Contra 007 (1963) com quase 50 anos de idade). Assim que Q se apresenta com aquele look nerd (óculos, penteado meio emo e aparência franzina), 007 não se aguenta e responde: “Você deve estar brincando.”

Apesar do diálogo esclarecedor, por se tratar de uma série antiga, houve críticas à juventude de um personagem conhecido como um senhor mais experiente e conservador. Contudo, como mostrado em A Rede Social, a nova geração de nerds realmente se mostra muito poderosa no mundo de hoje.

Ben Wishaw como o novo Q, armeiro do MI6. Começando com uma Walther PPK e um rádio transmissor.

Além da forte presença de M (Judi Dench), 007 – Operação Skyfall faz bonito na escalação das Bond girls. Ao contrário da época de Sean Connery e Roger Moore, as mulheres deixaram há muito de serem figuras frágeis e dóceis. Nesta produção, duas personagens femininas tridimensionais integram o hall das Bond girls como uma das melhores duplas dos últimos anos. A atriz francesa Bérénice Marlohe vive a misteriosa Sévérine, que presencia um assassinato e se torna peça chave no quebra-cabeça que James Bond deve seguir. Com um olhar bastante forte e sensual, Marlohe demonstra a fragilidade necessária para atrair Bond, deixando sua marca no filme, mesmo que em poucas cenas.

Bérénice Marlohe como a misteriosa Sévérine

Por este lado da lei, temos outra Bond girl excepcional, a britânica Naomie Harris. Ela teve seu primeiro papel de destaque no terror de zumbis moderno de Extermínio (2002), de Danny Boyle, e nos anos seguintes, atuou em alguns filmes de ação em destaque como Piratas do Caribe: O Baú da Morte (2006), Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (2007), Miami Vice (2006) e curiosamente em O Ladrão de Diamantes (2004), estrelado pelo então James Bond, Pierce Brosnan. Com maior experiência em ação, Harris foi escalada para viver a agente novata Eve, que tem participação fundamental na sequência inicial.

Naomie Harris como Eve

Como se trata de um personagem altamente sexual, vale ressaltar aqui que em 007 – Operação Skyfall, James Bond tem relações com três mulheres, algo que nunca aconteceu desde que Daniel Craig assumiu o smoking. Seria um sinal de retomada até nesse quesito? Felizmente, os produtores souberam escolher belíssimas atrizes. Bérénice Marlohe, Naomie Harris e Tonia Sotiropoulou formam a grande beleza do filme.

Aliás, ainda no assunto da presença feminina, a cantora de sucesso Adele compôs a música-tema homônima Skyfall, que foi lançada na internet no dia 05 de outubro, quando Bond completava 50 anos. Além de já ter alavancado um grande sucesso nas paradas, sendo uma das mais compradas no iTunes, a canção remete ao tom mais clássico das músicas de 007, especialmente Shirley Bassey e sua majestosa Goldfinger. Pelo sucesso da canção, da intérprete Adele e do filme nas bilheterias, existe uma forte possibilidade de ser indicada a Melhor Canção Original no Oscar 2013, fato que não acontece desde 1982, quando For Your Eyes Only de Sheena Easton (007 – Somente Para Seus Olhos) foi indicada ao Oscar. Segue vídeo com a música de Adele abaixo:

Contudo, a figura feminina mais importante certamente é M. Sua personagem se encontra sob forte pressão neste filme e representa as mudanças necessárias para entender o mundo de hoje do pós-11 de setembro sob o olhar da segurança da sociedade.

Judi Dench como a chefe operacional M

Após o atentado, muitos se questionam se as autoridades estão realmente preparadas para esse novo tipo de ameaça. Esse constante e contínuo medo assola toda a população, que teme novos atentados pelo mundo todo. E este novo filme de 007 traz essa questão à tona, colocando uma ultrapassada porém experiente M numa audição com uma jovem Ministra de Defesa, respondendo à pergunta: “Qual o papel de agentes secretos no século XXI?”. Devido aos recentes erros que M cometeu, dá a entender que ela está defasada para o cargo, porém, ela defende a importância e o valor de seus espiões subordinados diante da invisibilidade do inimigo de hoje, pois não tem nação ou bandeira para identificá-lo. Esse cenário repleto de paranóia e racismo é o pano de fundo dos últimos filmes de James Bond, que sempre primaram em refletir características da sociedade de sua época. 007 – Operação Skyfall adiciona mais um importante capítulo deste início do século XXI.

O 23º filme de Bond vale por tudo isso, mas o fato de alguns elementos principais terem sido quase um plágio de Batman – O Cavaleiro das Trevas me incomodou um pouco. Além disso, pecou pela quebra de ritmo no meio do filme (cabiam mais umas duas sequências de ação) e a sequência final com o vilão Silva se tornou morosa e desgastante pra pouca novidade. Também acrescento que a personagem de Albert Finney, o velho Kincade, ficou mal aproveitado.

Skyfall deu um passo importante na série. Os produtores provaram que estão dispostos a largar o conservadorismo de vez e inserir James Bond em seu devido lugar no século XXI. Esperamos que o nível de qualidade do diretor escolhido para a próxima aventura esteja do mesmo nível de Sam Mendes, assim como os atores principais. Valeu também pela inclusão de Ralph Fiennes, pois os filmes ganham uma credibilidade notória com sua presença.

Avaliação: BOM

A equipe principal responsável por 007 – Operação Skyfall. Da esquerda para a direita: Javier Bardem, Bérénice Marlohe, Sam Mendes, Judi Dench, Daniel Craig, Naomie Harris e os produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson (photo by Sony Pictures realeasing)

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