
CINEMA ASIÁTICO SAI FORTALECIDO PARA A PRÓXIMA TEMPORADA DE PREMIAÇÕES
Apesar de todo o foco em cima do novo filme de Quentin Tarantino, Era Uma Vez em Hollywood, que ingressou na competição na segunda chamada e trouxe os astros Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Margot Robbie, o júri presidido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu concedeu a Palma de Ouro para Parasite, a primeira Palma de Ouro para o cinema da Coréia do Sul.
O novo trabalho do diretor de instigantes filmes como Memórias de um Assassino (2003), O Hospedeiro (2006), Mother (2009) e O Expresso do Amanhã (2014) contém elementos de crítica social. Uma família coreana de baixa classe toda desempregada tenta melhorar seu status ao se infiltrar numa casa de ricos. Após a sessão no festival, foi reportado uma salva de palmas de pé por mais de cinco minutos, e sua consagração teria sido decidida de forma unânime.

Esse reconhecimento acaba colocando no mapa não apenas o diretor, mas toda a filmografia do cinema sul-coreano recente, que vem pedindo passagem desde o início dos anos 2000, com diretores aclamados como Park Chan-wook, Lee Chang-dong, Kim Ki-duk e Kim Ji-woon. Oldboy (2003), Em Chamas (2018), Casa Vazia (2004) e Eu Vi o Diabo (2010) são alguns exemplos desse cinema asiático recente, que nunca recebeu uma mísera indicação ao Oscar, provavelmente pelo contexto violento e/ou sexual, mas que com essa Palma de Ouro, pode finalmente entrar na categoria de Filme em Língua Estrangeira da Academia.
O cinema brasileiro também saiu vitorioso do evento. Na verdade, duplamente vitorioso. Além do prêmio Un Certain Regard para A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Karim Aïnouz, Bacurau saiu com o prêmio do júri, compartilhado com Les Misérables. Em sua segunda competição oficial, o diretor pernambucano Kléber Mendonça Filho conquista uma espécie de terceiro lugar do festival. Agora a seleção do Brasil para o Oscar ficou difícil, hein? Vamos ver qual consegue melhor campanha até o mês de outubro, quando deve haver a votação da comissão.

O Grande Prêmio do Júri ficou com Atlantique, filme da diretora franco-senegalesa estreante Mati Diop. Ela narra a história de uma jovem prometida para casamento que se apaixona por um homem que sonha migrar ilegalmente para a Europa. Diop já havia quebrado o tabu ao ser a primeira negra na competição, e agora a primeira premiada.

Outra cineasta mulher premiada foi a francesa Céline Sciamma por seu roteiro de Portrait of a Lady on Fire. A história da relação entre uma pintora e a modelo de seu retrato foi bastante elogiada em Cannes, mas acabou ficando apenas com o prêmio de Roteiro.
Já premiados duas vezes com a Palma de Ouro nas décadas passadas, os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne marcaram presença na premiação ao levarem Melhor Direção por O Jovem Ahmed, sobre um jovem árabe que ingressa a radicalização islâmica, e planeja matar seu professor.

Os prêmios de atuação ficaram com a britânica Emily Beecham por Little Joe, uma espécie de ficção científica com atmosfera de thriller, e com o espanhol Antonio Banderas por interpretar o alter-ego do diretor Pedro Almodóvar em Dor e Glória.


Iñárritu foi o primeiro latino a presidir o júri de Cannes. Nesta edição, ele contou com a colaboração dos diretores franceses Enki Bilal e Robin Campillo, a atriz americana Elle Fanning, a atriz e diretora senegalesa Maimouna N’Diaye, o diretor grego Yorgos Lanthimos, diretor polonês Paweł Pawlikowski (ambos indicados ao Oscar deste ano), a diretora americana Kelly Reichardt, e a diretora italiana Alice Rohrwacher.
Segue lista completa dos vencedores desta 72a edição:
COMPETIÇÃO
Palma de Ouro: “Parasite,” de Bong Joon-ho
Grande Prêmio do Júri: “Atlantics,” Mati Diop
Direção: Jean-Pierre e Luc Dardenne, “Young Ahmed”
Ator: Antonio Banderas, “Pain and Glory”
Atriz: Emily Beecham, “Little Joe”
Prêmio do Júri — EMPATE: “Les Misérables,” Ladj Ly; “Bacurau,” Kléber Mendonça Filho
Roteiro: Céline Sciamma, “Portrait of a Lady on Fire”
Menção Especial: Elia Suleiman, “It Must Be Heaven”
OUTROS PRÊMIOS
Camera d’Or: “Our Mothers,” Cesar Diaz
Palma de Ouro de Melhor Curta: “The Distance Between the Sky and Us,” Vasilis Kekatos
Menção Especial para Curta: “Monster God,” Agustina San Martin
Prêmio Golden Eye de Documentário: “For Sama”
Prêmio do Júri Ecumênico: “Hidden Life,” Terrence Malick
Queer Palm: “Portrait of a Lady on Fire,” Céline Sciamma
UN CERTAIN REGARD
Un Certain Regard Award: “The Invisible Life of Eurídice Gusmão,” Karim Aïnouz
Prêmio do Júri: “Fire Will Come,” Oliver Laxe
Direção: Kantemir Balagov, “Beanpole”
Atuação: Chiara Mastroianni, “On a Magical Night”
Roteiro: Meryem Benm’Barek, “Sofia”
Prêmio Especial do Júri: Albert Serra, “Liberté”
Menção Especial do Júri: “Joan of Arc,” Bruno Dumont
Coup de Coeur Award: “A Brother’s Love,” Monia Chokri; “The Climb,” Michael Angelo Covino
DIRECTORS’ FORTNIGHT
Society of Dramatic Authors and Composers Prize: “An Easy Girl,” Rebecca Zlotowski
Europa Cinemas Label: “Alice and the Mayor,” Nicolas Parisier
Illy Short Film Award: “Skip Day” (Patrick Bresnan, Ivete Lucas)
CRITICS’ WEEK
Nespresso Grand Prize: “I Lost My Body,” Jérémy Clapin
Society of Dramatic Authors and Composers Prize: César Díaz, “Our Mothers”
GAN Foundation Award for Distribution: The Jokers Films, French distributor for “Vivarium” by Lorcan Finnegan
Louis Roederer Foundation Rising Star Award: Ingvar E. Sigurðsson, “A White, White Day”
Leitz Cine Discovery Prize for Short Film: “She Runs,” Qiu Yang
Canal Plus Award for Short Film: “Ikki Illa Meint,” Andrias Høgenni
FIPRESCI
Competition: “It Must Be Heaven” (Elia Suleiman)
Un Certain Regard: “Beanpole” (Kantemir Balagov)
Directors’ Fortnight/Critics’ Week: “The Lighthouse” (Robert Eggers)
CINÉFONDATION
First Prize: “Mano a Mano,” Louise Courvoisier
Second Prize: “Hiéu,” Richard Van
Third Prize — TIE: “Ambience,” Wisam Al Jafari; “Duszyczka” (The Little Soul), Barbara Rupik