‘NUNCA RARAMENTE ÀS VEZES SEMPRE’ LIDERA as INDICAÇÕES ao INDEPENDENT SPIRIT AWARDS

Os 5 filmes indicados a Melhor Filme: Nunca Raramente Às Vezes Sempre, A Voz Suprema do Blues, First Cow, Nomadland e Minari.

PRÊMIO DO CINEMA INDEPENDENTE AMERICANO APOSTA NA DIVERSIDADE

O anúncio foi feito ao vivo pelo canal do YouTube Film Independent e contou com a presença das atrizes Olivia Wilde e Laverne Cox, e do diretor Barry Jenkins, que divulgaram os indicados de todas as categorias. Confira o vídeo pelo link abaixo:

Nesta 36ª edição, o recordista de indicações foi o drama Nunca Raramente Às Vezes Sempre, que reforça os obstáculos que precisam ser superados para uma adolescente conseguir um aborto. O filme de Eliza Hittman acumulou sete indicações, incluindo Filme, Direção, Atriz, Atriz Coadjuvante e Roteiro. Logo em seguida, com seis indicações, surge a história de uma família sul-coreana imigrante de Minari, um filme que vem conquistando a crítica e o público desde sua exibição no Festival de Sundance de 2020, de onde saiu premiado com o Grande Prêmio do Júri.

Para competir com essas duas produções, outros três fortes concorrentes da temporada de premiações: A Voz Suprema do Blues e Nomadland, ambas empatadas com cinco indicações cada, e First Cow que obteve três. Coincidência ou não, assim como na categoria de Melhor Filme da premiação independente Gotham Awards, nenhum dos cinco filmes foram dirigidos por homens brancos. Já para Melhor Direção, esta é a primeira vez em que a categoria foi preenchida totalmente por diretoras mulheres e não-brancos: Lee Isaac Chung, Emerald Fennel, Eliza Hittman, Kelly Reichardt e Chloé Zhao.

Nos últimos anos, o Independent Spirit Awards vem buscando se distanciar do posto de mero precursor do Oscar no melhor esquema “Vamos deixar essa falta de personalidade para o Critics’ Choice Awards”. Houve uma época em que ambos os prêmios estavam bastante parelhos premiando O Artista, 12 Anos de Escravidão, Birdman, Spotlight e Moonlight, mas desde 2018 estão valorizando mais produções menores com menos poder de campanha publicitária, o que certamente enriquece a temporada de premiações.

Para aqueles que estão se perguntando onde estão Mank, Os 7 de Chicago ou Destacamento Blood, lembramos que apenas produções de orçamentos abaixo de 22,5 milhões de dólares são qualificadas para o Independent Spirit. Já no caso de One Night in Miami (disponível no Amazon Prime Video), como venceu o prêmio especial Robert Altman que reconhece o elenco como um todo, nenhum dos atores recebeu indicação individual nas categorias de atuação. Outra ausência sentida de orçamento qualificado foi Meu Pai, mas produções estrangeiras (no caso, britânica) só podem competir na categoria de Filme Internacional, portanto Anthony Hopkins e Olivia Colman não tiveram chances aqui como Ator e Atriz Coadjuvante.

Falando em atuações, gostaríamos de destacar a expansão da categoria de Melhor Atriz para seis indicadas! Felizmente, reconheceram produções menores como Miss Juneteenth pela performance de Nicole Beharie, assim como três fortes interpretações com chances claras de Oscar: Frances McDormand, Viola Davis e Carey Mulligan. Apesar do aumento de vagas, nomes em alta ficaram de fora da disputa como Vanessa Kirby por Pieces of a Woman, Michelle Pfeiffer por French Exit e Zendaya por Malcolm & Marie. Esperamos que essa riqueza na safra reflita na categoria do Oscar.

A partir deste ano, com o aumento de produções independentes de séries, o Independent Spirit decidiu abrir espaço para esse formato televisivo pela primeira vez em 36 anos de existência. Esse reconhecimento certamente ajudará a promover produções que não contam com a propaganda de grandes canais e empresas, mas cujo conteúdo merece atenção do público.

Da esquerda para a direita: Nicole Beharie (Miss Juneteenth), Viola Davis (A Voz Suprema do Blues), Julia Garner (A Assistente), Sidney Flanigan (Nunca Raramente Às Vezes Sempre), Frances McDormand (Nomadland) e Carey Mulligan (Bela Vingança)

CONFIRA TODOS OS INDICADOS DO INDEPENDENT SPIRIT AWARDS:

MELHOR FILME
First Cow
A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom)
Minari
Nunca Raramente Às Vezes Sempre (Never Rarely Sometimes Always)
Nomadland

MELHOR DIREÇÃO
Lee Isaac Chung (Minari)
Emerald Fennell (Bela Vingança)
Eliza Hittman (Nunca Raramente Às Vezes Sempre)
Kelly Reichardt (First Cow)
Chloé Zhao (Nomadland)

MELHOR FILME DE ESTRÉIA
I Carry You With Me
The 40-Year-Old Version
O Som do Silêncio (Sound of Metal)
Miss Juneteenth
Nine Days

MELHOR ATRIZ
Nicole Beharie (Miss Juneteenth)
Viola Davis (A Voz Suprema do Blues)
Sidney Flanigan (Nunca Raramente Às Vezes Sempre)
Julia Garner (A Assistente)
Frances McDormand (Nomadland)
Carey Mulligan (Bela Vingança)

MELHOR ATOR
Riz Ahmed (O Som do Silêncio)
Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues)
Rob Morgan (Bull)
Steven Yeun (Minari)
Adarsh Gourav (O Tigre Branco)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Alexis Chikaeze (Miss Juneteenth)
Yeri Han (Minari)
Valerie Mahaffey (French Exit)
Talia Ryder (Nunca Raramente Às Vezes Sempre)
Yuh-jung Youn (Minari)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Colmand Domingo (A Voz Suprema do Blues)
Orion Lee (First Cow)
Paul Raci (O Som do Silêncio)
Glynn Turman (A Voz Suprema do Blues)
Benedict Wong (Nine Days)

MELHOR ROTEIRO
Má Educação (Bad Education)
Minari
Você Nem Imagina (The Half of It)
Nunca Raramente Às Vezes Sempre (Never Rarely Sometimes Always)
Bela Vingança (Promising Young Woman)

MELHOR PRIMEIRO ROTEIRO
Kitty Green (A Assistente)
Noah Hutton (Lapsis)
Channing Godfrey Peoples (Miss Juneteenth)
Andy Siara (Palm Springs)
James Sweeney (Straight Up)

MELHOR FOTOGRAFIA
Jay Keitel (She Dies Tomorrow)
Shabier Kirchner (Bull)
Michael Latham (A Assistente)
Hélène Louvart (Nunca Raramente Às Vezes Sempre)
Joshua James Richards (Nomadland)

MELHOR MONTAGEM
I Carry You With Me
O Homem Invisível
Residue
Nunca Raramente Às Vezes Sempre
Nomadland

PRÊMIO JOHN CASSAVETES (filmes com orçamentos abaixo de 500 mil dólares)
The Killing of Two Lovers
La Leyenda Negra
Lingua Franca
Residue
Saint Frances

PRÊMIO ROBERT ALTMAN
One Night in Miami

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Collective
Crip Camp
As Mortes de Dick Johnson (Dick Johnson Is Dead)
Time
O Agente Duplo (The Mole Agent)

MELHOR FILME INTERNACIONAL
Bacurau
The Disciple
Night of the Kings
Preparations to be Together for an Unknown Period of Time
Quo Vadis, Aida?

Piaget Producers Award
Kara Durrett
Lucas Joaquin
Gerry Kim

Someone to Watch Award
David Midell – Diretor de The Killing of Kenneth Chamberlain
Ekwa Msangi – Diretor de Farewell Amor
Annie Silverstein – Diretora de Bull

Truer Than Fiction Award
Cecilia Aldarondo – Diretor de Landfall
Elegance Bratton – Diretora de Pier Kids
Elizabeth Lo – Diretora de Stray

MELHOR SÉRIES NÃO-ROTEIRIZADAS OU DOCUMENTÁRIOS
Atlanta’s Missing and Murdered: The Lost Children
City So Real
Immigration Nation
Love Fraud
We’re Here

MELHORES SÉRIES ROTEIRIZADAS
I May Destroy You
Little America
Small Axe
A Teacher
Unorthodox

MELHOR ATRIZ
Elle Fanning (The Great)
Shira Haas (Unorthodox)
Abby McEnany (Work in Progress)
Maitreyi Ramakrishnan (Never Have I Ever)
Jordan Kristine Seamón (We Are Who We Are)

MELHOR ATOR
Conphidance (Little America)
Adam Ali (Little America)
Nicco Annan (P-Valley)
Amit Rahav (Unorthodox)
Harold Torre (Zero, Zero, Zero)

MELHOR ELENCO NUMA SÉRIE ROTEIRIZADA
I May Destroy You

A cerimônia do 36º Independent Spirit Awards está agendado para o dia 22 de Abril.

‘NOMADLAND’ VENCE o GOTHAM AWARDS

CERIMÔNIA HÍBRIDA CONSAGRA A DIRETORA CHLOÉ ZHAO

A 30ª cerimônia do Gotham Awards aconteceu nesta última segunda-feira e foi transmitida ao vivo pela página do Facebook da IFP (Independent Filmmaker Project). Primeira premiação de 2021, o evento foi um híbrido entre apresentadores no palco do teatro em Nova York e as lives diretamente da casa dos indicados. Apesar de alguns delays nítidos principalmente na hora da revelação dos vencedores das categorias, foi uma cerimônia rápida, light e que pôde nos dar uma idéia do que pode acontecer nos próximos prêmios televisionados. Há poucas semanas, a Academia havia anunciado que o Oscar ocorrerá normalmente no final de Abril, mas só vamos ter certeza com o progresso da vacinação nos EUA até lá.

Nos últimos anos, o Gotham Awards tem se tornado uma alternativa para o predomínio do Independent Spirit Awards, que até alguns anos atrás vinha estreitando laços demais com o Oscar. O objetivo do IFP é conseguir abrir a temporada de premiações com filmes e nomes pouco conhecidos para justamente promovê-los e valorizar assim o cinema mais independente americano. Para esta 30ª edição, o recado estava dado logo nas indicações: 5 filmes indicados a Melhor Filme dirigidos por mulheres. Após um 2020 repleto de exclusões na categoria de Direção como Greta Gerwig, Alma Har’el e Mati Diop, espera-se um 2021 com maior participação feminina, começando bem com os prêmios de Melhor Filme e Prêmio do Público para o road movie Nomadland, da chinesa Chloé Zhao. Curiosamente, ela já havia vencido o Gotham de Melhor Filme em 2018 com seu longa anterior Domando o Destino (The Rider).

Até o momento, Zhao tem sido praticamente uma unanimidade nos prêmios de Direção. Além do Gotham, ela já havia faturado os prestigiados LAFCA e NYFCC, e mais recentemente o National Society of Film Critics, sem contar o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Não querendo fazer previsões proféticas tão cedo, mas o caminho dela rumo ao Oscar (que seria o 2º para uma mulher e o 1º para uma asiática) parece bem tranquilo, uma vez que nomes como Aaron Sorkin, David Fincher e Spike Lee não vêm conquistando a crítica de forma tão unânime.

Nas categorias de atuação, a vitória de Kingsley Ben-Adir como Ator Revelação por One Night in Miami pode ajudá-lo na campanha de Ator Coadjuvante no Oscar, e por que não puxar todo o filme de Regina King ao tapete vermelho? Na categoria de Melhor Atriz, Nicole Beharie venceu por sua performance em Miss Juneteenth. Embora consideremos difícil uma indicação ao Oscar, esperamos que esta vitória consiga lhe proporcionar melhor papéis de protagonista, pois sua carreira tem sido marcada apenas por personagens secundários. Já na categoria de Melhor Ator, muitos esperavam o prêmio para Chadwick Boseman, mas ele ficou apenas com um prêmio especial de tributo recebido por sua esposa, e a vitória foi para outro forte concorrente na temporada: Riz Ahmed, como o baterista surdo de O Som do Silêncio.

Entre os prêmios concedidos, foram curiosos os DOIS empates nas categorias de Documentário e Roteiro. Na primeira, Time dividiu a honraria com A Thousand Cuts, enquanto na segunda, os roteiros de The Forty-Year-Old Version e Fourteen saíram vitoriosos. Particularmente, gostamos bastante da premiação de Diretor Revelação para Andrew Patterson por A Vastidão da Noite. Com um orçamento bastante apertado, ele consegue entregar uma bela ficção científica que tem um clima bem Twilight Zone, com direito a planos-sequência e sutilezas que faltam em grandes produções.

Além do tributo a Chadwick Boseman, a IFP fez outras homenagens que paralelamente reconheciam as obras atuais como para Viola Davis (A Voz Suprema do Blues), o diretor britânico Steve McQueen (os 5 filmes da série Small Axe), o criador de séries Ryan Murphy (que lançou Festa de Formatura na Netflix) e para todo o elenco de Os 7 de Chicago: Sacha Baron Cohen, Eddie Redmayne, Yahya Abdul-Mateen II, Jeremy Strong, Mark Rylance, Joseph Gordon-Levitt, Michael Keaton, Frank Langella e John Carroll Lynch, dando uma forcinha também para o diretor e roteirista Aaron Sorkin.

Estamos apenas no início de mais uma temporada de premiações, portanto se seu favorito ou aquele filme que você espera ser premiado ainda não deu as caras, não se preocupe que ainda tem muito chão até o dia 25 de Abril, quando o Oscar 2021 acontecer, seja presencialmente ou de forma híbrida com lives.

CONFIRA TODOS OS VENCEDORES DO 30º GOTHAM AWARDS:

MELHOR FILME

  • The Assistant
  • First Cow
  • Never Rarely Sometimes Always
  • Nomadland
  • Relic

MELHOR DOCUMENTÁRIO

  • 76 Days
  • City Hall
  • A Thousand Cuts
  • Time

MELHOR FILME INTERNACIONAL

  • Bacurau
  • Uma Mulher Alta (Beanpole)
  • Cuties (Mignonnes)
  • Identifying Features
  • Martin Eden
  • Wolfwalkers

PRÊMIO BINGHAM RAY DE DIRETOR REVELAÇÃO

  • Radha Blank, “The Forty-Year-Old Version”
  • Channing Godfrey Peoples, “Miss Juneteenth”
  • Alex Thompson, “Saint Frances”
  • Carlo Mirabella-Davis, “Swallow”
  • Andrew Patterson, “A Vastidão da Noite”

MELHOR ROTEIRO

  • Má Educação – Mike Makowsky
  • First Cow – Jon Raymond, Kelly Reichardt
  • The Forty-Year-Old Version – Radha Blank
  • Fourteen – Dan Sallitt
  • “A Vastidão da Noite” – James Montague, Craig Sanger

MELHOR ATOR

  • Riz Ahmed, “O Som do Silêncio”
  • Chadwick Boseman, “A Voz Suprema do Blues”
  • Jude Law, “The Nest”
  • John Magaro, “First Cow”
  • Jesse Plemons, “Estou Pensando em Acabar com Tudo”

MELHOR ATRIZ

  • Nicole Beharie, “Miss Juneteenth”
  • Jessie Buckley, “Estou Pensando em Acabar com Tudo”
  • Carrie Coon, “The Nest”
  • Frances McDormand, “Nomadland”
  • Yuh-Jung Youn, “Minari”

MELHOR ATOR OU ATRIZ REVELAÇÃO

  • Jasmine Batchelor, “The Surrogate”
  • Kingsley Ben-Adir, “One Night in Miami…”
  • Sidney Flanigan, “Never Rarely Sometimes Always”
  • Orion Lee, “First Cow”
  • Kelly O’Sullivan, “Saint Frances”

SÉRIE REVELAÇÃO – FORMATO LONGA (acima de 40 minutos)

  • The Great
  • Immigration Nation
  • P-Valley
  • Unorthodox
  • Watchmen

SÉRIE REVELAÇÃO – FORMATO CURTO (abaixo de 40 minutos)

  • Betty
  • Dave
  • I May Destroy You
  • Taste the Nation
  • Work in Progress

PRÊMIO DO PÚBLICO

  • “Nomadland” – Chloé Zhao, diretora; Frances McDormand, Peter Spears, Mollye Asher, Dan Janvey, Chloé Zhao, producers (Searchlight Pictures)

LAFCA ELEGE ‘SMALL AXE’ COMO MELHOR FILME

FILME DE STEVE MCQUEEN FOI CONCEBIDO COMO UMA MINISSÉRIE DA AMAZON PRIME VIDEO

Neste último domingo, dia 20, a Associação de Críticos de Los Angeles (LAFCA) divulgou seus filmes e performances favoritos de 2020. Seguindo outros grupos de críticos como os de Boston e Nova York, não houve prorrogação no calendário devido à pandemia, porém ela pode ter contribuído para a escolha do Melhor Filme.

Criado em 1975, o LAFCA se mostrou sempre relevante no início da temporada de premiações. Suas escolhas sempre colaboram para formar boas campanhas para as premiações televisionadas como Globo de Ouro, SAG e o Oscar. A última vez que um vencedor de Melhor Filme pelo LAFCA não foi indicado ao Oscar foi em 2008, quando WALL-E ficou limitado à categoria de Melhor Longa de Animação. Essa exceção pode voltar a acontecer este ano com a premiação de Small Axe.

O projeto foi concebido pelo diretor Steve McQueen, conhecido pelos filmes 12 Anos de Escravidão e As Viúvas, e pela Amazon Studios como uma minissérie composta por 5 episódios de durações distintas: ‘Mangrove’ (128 min), ‘Lovers Rock’ (71 min), ‘Red, White and Blue’ (81 min), ‘Alex Wheatle’ (67 min) e ‘Education’ (64 min). Dedicado a George Floyd e todas as vítimas de ataques racistas, Small Axe conta histórias da comunidade de West India em Londres entre os anos 60 e 80. Apesar de ter participado da seleção oficial do último Festival (virtual) de Cannes, Small Axe atualmente tem campanha da Amazon Studios como uma minissérie para as próximas edições do Globo de Ouro, SAG e Emmy Awards.

Ainda há tempo hábil para o estúdio inscrever Small Axe no Oscar pelo serviço de streaming da Academia para apreciação dos membros votantes, mas pelo regulamento, seriam cinco filmes inscritos, o que dificultaria bastante para McQueen, pois competiria consigo mesmo. É importante também ressaltar que, apesar da importante e histórica vitória de Melhor Filme no LAFCA, se optar pela categoria de filme, Small Axe perderá grandes chances de se tornar um recordista de indicações no Emmy, com possibilidades altas de reconhecimento para todos os departamentos envolvidos, enquanto no Oscar, se aceitos como filmes, ainda precisará contar com a compreensão dos votantes.

Alguns especialistas já chegaram a escrever textos defendendo uma relevância maior para o conteúdo em relação ao formato, ainda mais num ano bem atípico da pandemia, quando as salas de cinema foram fechadas. Claro que isso deve ser levado em consideração, mas a avaliação de uma obra começa justamente com a escolha de seu formato. Por exemplo, há filmes que ficariam melhores se fossem uma série, e há séries que seriam mais sucintas se fossem apenas um filme. Se o próprio Steve McQueen, criador do projeto, defende Small Axe como uma minissérie, deveria concorrer como uma, considerando assim, o LAFCA apenas como um belo reconhecimento fora da curva.

Voltando aos premiados do LAFCA, Chloé Zhao novamente vence o prêmio de Direção por Nomadland logo após vitória no NYFCC. Caso também vença o National Board of Review, que acontece no próximo dia 26 de Janeiro, ela se tornará a primeira mulher a vencer os 3 prêmios da crítica americana ao lado de Quentin Tarantino (Pulp Fiction), Curtis Hanson (Los Angeles: Cidade Proibida), Ang Lee (O Segredo de Brokeback Mountain), David Fincher (A Rede Social) e Barry Jenkins (Moonlight). Apesar disso não garantir uma estatueta do Oscar, afinal apenas Ang Lee ganhou desse pequeno grupo, certamente aumentará suas chances de vitória se sua indicação for confirmada.

Pelas categorias de atuação, Chadwick Boseman segue firme com seu favoritismo para Melhor Ator por A Voz Suprema do Blues. A grande surpresa atende pelo nome de Glynn Turman, que ganhou como Melhor Ator Coadjuvante ao interpretar o pianista Toledo no mesmo filme. O ator participou de inúmeros filmes como Bumblebee e Super 8, e séries como How to Get Away with Murder, mas também ficou conhecido por ter sido ex-marido da cantora Aretha Franklin nos anos 70 e 80.

Já na ala feminina, a promissora campanha de Carey Mulligan parece decolar com o prêmio de Melhor Atriz por Bela Vingança, título em português do ousado original Promising Young Woman, que também levou o prêmio de Roteiro. Como Coadjuvante, a sul-coreana Yuh-jung Youn tem um ótimo início de campanha por Minari, embora o LAFCA tenha uma preferência por atores de língua estrangeira. Hye-ja Kim (Mother) e Jeong-hie Yun (Poesia) e Song- Kang-Ho (Parasita) foram outros atores coreanos prestigiados nos últimos anos.

Destacamos também o prêmio de Longa de Animação para Wolfwalkers, que já havia vencido o mesmo prêmio no NYFCC. Felizmente, como a categoria de Animação do Oscar adora filmes de outras nacionalidades, a animação irlandesa deve figurar entre os indicados. Resta saber se terá fôlego o suficiente para derrotar a dominante Pixar/Disney, que concorre com Soul.

CONFIRA VENCEDORES DO LOS ANGELES FILM CRITICS ASSOCIATION:

MELHOR FILME: Small Axe (Prime Video)
2º Lugar: Nomadland (Searchlight Pictures)

MELHOR DIREÇÃO: Chloé Zhao, Nomadland (Searchlight Pictures)
2º Lugar: Steve McQueen, Small Axe (Prime Video)

MELHOR ATOR: Chadwick Boseman, A Voz Suprema do Blues (Netflix)
2º Lugar: Riz Ahmed, O Som do Silêncio (Amazon Studios)

MELHOR ATRIZ: Carey Mulligan, Bela Vingança (Focus Features)
2º Lugar: Viola Davis, A Voz Suprema do Blues (Netflix)

MELHOR ATOR COADJUVANTE: Glynn Turman, A Voz Suprema do Blues (Netflix)
2º Lugar: Paul Raci, O Som do Silêncio (Amazon Studios)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Yuh-jung Youn, Minari (A24)
2º Lugar: Amanda Seyfried, Mank (Netflix)

MELHOR LONGA DE ANIMAÇÃO: Wolfwalkers (Apple TV Plus/GKIDS)
2º Lugar: Soul (Pixar)

MELHOR DOCUMENTÁRIO/ NÃO-FICÇÃO: Time (Amazon Studios)
2º Lugar: Collective (Magnolia Pictures and Participant)

MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA: Uma Mulher Alta (Kino Lorber)
2º Lugar: Martin Eden (Kino Lorber)

MELHOR ROTEIRO: Promising Young Woman (Focus Features) – Emerald Fennell
2º Lugar: Nunca Raramente Às Vezes Sempre (Focus Features) – Eliza Hittman

MELHOR FOTOGRAFIA: Small Axe (Prime Video) – Shabier Kirchner
2º Lugar: Nomadland (Searchlight Pictures) – Joshua James Richards

MELHOR MONTAGEM: The Father (Sony Pictures Classics) – Yorgos Lamprinos
2º Lugar: Time (Amazon Studios) – Gabriel Rhodes

MELHOR TRILHA: Soul (Pixar) – Trent Reznor, Atticus Ross
2º Lugar: Lovers Rock (Prime Video) – Mica Levi

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Mank (Netflix) – Donald Graham Burt
2º Lugar: Uma Mulher Alta (Kino Lorber) – Sergey Ivanov

PRÊMIO DA NOVA GERAÇÃO: The Forty-Year-Old Version, de Radha Blank (Netflix)

Prêmio Douglas Edwards para Filme Experimental: John Gianvito’s “Her Socialist Smile”

Conjunto da Obra: Hou Hsiao-Hsien e Harry Belafonte

Prêmio do Legado: Norman Lloyd

‘FIRST COW’ É ELEITO o MELHOR FILME pelo NYFCC 2020

FILME DE KELLY REICHARDT CONQUISTA OUTRO PRÊMIO APÓS INDICAÇÕES AO GOTHAM AWARDS

O Círculo de Críticos de Nova York (NYFCC) havia anunciado que não iria prorrogar sua premiação devido à pandemia, mantendo assim seu calendário tradicional de eleger seus melhores do Cinema em Dezembro. Essa decisão tem repercussões positivas e negativas.

Por um lado, os filmes que estrearão em Janeiro e Fevereiro, que serão elegíveis ao Oscar, que acontece dia 25 de Abril, perderão essa ótima oportunidade de alavancar suas campanhas publicitárias com uma premiação tão tradicional como a NYFCC. Pelo outro, existem maiores chances de premiar filmes e profissionais diferentes na temporada de premiações, ampliando o leque de opções de reconhecimento artístico.

Composto por um grupo de aproximadamente 50 críticos e jornalistas, o NYFCC premiou como Melhor Filme na temporada anterior O Irlandês, que apesar de ter conquistado 10 indicações ao Oscar, não levou nenhuma estatueta pra casa. Na última década, dentre os filmes vencedores do prêmio principal, apenas Carol, de Todd Haynes, não conseguiu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme. Os críticos nova-iorquinos também já fizeram escolhas ousadas nos últimos anos como Melhor Direção para Josh e Benny Safdie por Joias Brutas, Melhor Atriz para Regina Hall por Support the Girls, e Atriz Coadjuvante para Tiffany Haddish por Viagem das Garotas e Kirsten Stewart por Acima das Nuvens.

Nesta edição, é importante destacar a presença de cineastas e profissionais do sexo feminino. Além de First Cow, de Kelly Reichardt, ter levado o prêmio de Melhor Filme, a chinesa Chloé Zhao ficou com o prêmio de Direção por Nomadland. Vale ressaltar também que o filme Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre, que proporcionou o prêmio de Melhor Atriz para Sidney Flanigan, foi dirigido por Eliza Hittman, que levou o prêmio de Roteiro sobre um filme centrado no trauma do aborto.

Nas categorias de atuação, o filme de Spike Lee, disponível na Netflix, levou os prêmios de Ator para Delroy Lindo e um póstumo de Ator Coadjuvante para Chadwick Boseman por Destacamento Blood. Já na categoria de Atriz Coadjuvante, a atriz búlgara Maria Bakalova levou o prêmio por interpretar a filha do repórter cazaque Borat na sequência Borat: Fita de Cinema Seguinte, disponível na Prime Video.

A boa notícia para o Cinema Brasileiro foi a premiação de Bacurau como Melhor Filme em Língua Estrangeira. O western com ficção científica da dupla Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles tem conquistado espaço em algumas listas de Melhor Filme de 2020, e este prêmio possibilita uma campanha mais consistente rumo ao Oscar. Infelizmente, o filme não pode mais concorrer como Filme Internacional, pois já concorreu na seleção brasileira de 2019, mas pode conquistar indicações em outras categorias como Roteiro Original, por exemplo.

Apesar de se tratar de uma premiação atípica em ano de pandemia, essas vitórias certamente valorizarão as campanhas dos filmes entre outros prêmios da crítica até o Globo de Ouro, que ocorre em 28 de Fevereiro.

SEGUEM OS VENCEDORES DO NYFCC 2020:

FILME
First Cow
Dir: Kelly Reichardt

DIREÇÃO
Chloé Zhao (Nomadland)

ATOR
Delroy Lindo (Destacamento Blood)

ATRIZ
Sidney Flanigan (Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre)

ATOR COADJUVANTE
Chadwick Boseman (Destacamento Blood)

ATRIZ COADJUVANTE
Maria Bakalova (Borat: Fita de Cinema Seguinte)

ROTEIRO
Eliza Hittman (Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre)

FOTOGRAFIA
Small Axe (todos os filmes)

FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRO
Bacurau
Dir: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

FILME DE NÃO-FICÇÃO
Time

LONGA DE ANIMAÇÃO
Wolfwalkers
Dir: Tomm Moore, Ross Stewart

FILME DE ESTREIA
The Forty-Tear-Old Version
Dir: Radha Blank

‘FIRST COW’ LIDERA INDICAÇÕES ao GOTHAM AWARDS 2020

Cena de First Cow, de Kelly Reichardt

HISTÓRIA DE PARCERIA DE NEGÓCIOS NO OESTE AMERICANO CONQUISTA 4 INDICAÇÕES. ‘BACURAU’ É RECONHECIDO NA CATEGORIA DE FILME INTERNACIONAL

A Independent Filmmaker Project (IFP) anunciou na manhã desta quinta, dia 12, as indicações para sua 30ª cerimônia de premiações do Gotham Awards, marcada para o dia 11 de Janeiro, que seguirá um formato híbrido entre host no estúdio e lives com os artistas, respeitando assim as normas sanitárias da pandemia.

Pra quem não conhece ou se recorda, o Gotham tem se tornado um novo reduto de produções independentes nos últimos anos, chegando a premiar filmes que seriam consagrados com o Oscar meses depois como Spotlight e Moonlight. Apesar de não haver categorias de Melhor Direção e Ator e Atriz Coadjuvantes, existem as categorias de Diretor Revelação e Ator ou Atriz Revelação, que conseguem valorizar e dar uma força maior para quem está começando em filmes menores. E vale lembrar que nas últimas 5 edições, o Gotham premiou atores que seriam indicados ao Oscar: Adam Driver (História de um Casamento), Saoirse Ronan (Lady Bird), Casey Affleck (Manchester à Beira-Mar) e Isabelle Huppert (Elle).

Direto de Nova York, o diretor Jeffrey Sharp iniciou a live, revelando que houve recorde de filmes inscritos. Percebemos que, assim como houve recentemente com o Independent Spirit Awards, o Gotham não estava interessado em se tornar um mero precursor do Oscar, objetivando apenas o acerto como faz o Critics’ Choice Awards, mas buscou reconhecimento mais expansivo para filmes e artistas que teriam poucas chances e visibilidade na temporada. Dessa forma, é possível verificar algumas “incoerências” como The Assistant ser indicado a Melhor Filme apenas, deixando sua protagonista Julie Garner de fora de Melhor Atriz.

Apesar dessa estratégia de reconhecimento, algumas ausências foram mais sentidas se levarmos em conta o burburinho dos últimos meses. São os casos de Regina King fora de Diretor Revelação por One Night in Miami, Steven Yeun fora de Melhor Ator por Minari, Vanessa Kirby fora de Melhor Atriz por Pieces of a Woman ou Carey Mulligan fora também por Bela Vingança.

Riz Ahmed em Sound of Metal

Já dentre as surpresas, estão as indicações de Riz Ahmed por Sound of Metal, no qual ele interpreta um baterista com problemas de audição; de Yuh-Jung Youn em Minari, na qual dá vida à vózinha da família sul-coreana imigrante; as indicações de Diretor Revelação e Roteiro para a modesta ficção científica A Vastidão da Noite (disponível na Prime Video); e claro, a indicação para Bacurau, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles na categoria de Filme Internacional. Infelizmente, o filme brasileiro não tem mais chances no Oscar de Filme Internacional por já ter participado da seleção de 2019, mas dependendo do desempenho da campanha nos EUA, pode abocanhar indicações em outras categorias como Roteiro Original.

Cena de A Vastidão da Noite, disponível na Prime Video

É importante ressaltar que os 5 filmes indicados a Melhor Filme foram dirigidos por mulheres. Coincidência ou não, trata-se de um avanço numa indústria que está se adaptando aos novos tempos. Kitty Green dirigiu The Assistant, Kelly Reichardt dirigiu First Cow, Eliza Hittman foi responsável por Never Rarely Sometimes Always, Chloé Zhao comandou o road movie Nomadland e Natalie Erika James assumiu o terror Relic.

Confira todas as indicações ao 30º Gotham Awards:

MELHOR FILME
– The Assistant (Bleeker Street)
– First Cow (A24)
– Never Rarely Sometimes Always (Focus Features)
– Nomadland (Searchlight Pictures)
– Relic (IFC Midnight)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
– 76 Days
– City Hall
– Our Time Machine
– A Thousand Cuts
– Time

MELHOR ATOR
– John Magaro (First Cow)
– Jesse Plemons (Estou Pensando em Acabar com Tudo)
– Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues)
– Jude Law (The Nest)
– Riz Ahmed (Sound of Metal)

MELHOR ATRIZ
– Jessie Buckley (Estou Pensando em Acabar com Tudo)
– Yuh-Jung Youn (Minari)
– Nicole Beharie (Miss Juneteenth)
– Carrie Coon (The Nest)
– Frances McDormand (Nomadland)

MELHOR ATOR/ATRIZ REVELAÇÃO
– Orion Lee (First Cow)
– Sidney Flanigan (Never Rarely Sometimes Always)
– Kingsley Ben-Adir (One Night in Miami)
– Kelly O’Sullivan (Saint Frances)
– Jasmine Batchelor (The Surrogate)

PRÊMIO BINGHAM RAY de DIRETOR REVELAÇÃO
– Radha Blank (The Forty-Year-Old Version)
– Channing Godfrey Peoples (Miss Juneteenth)
– Alex Thompson (Saint Frances)
– Carlo Mirabella-Davis (Swallow)
– Andrew Patterson (A Vastidão da Noite)

MELHOR ROTEIRO
– Mike Makowsky (Má Educação)
– Jon Raymond, Kelly Reichardt (First Cow)
– Radha Blank (The Forty-Year-Old-Version)
– Dan Sallitt (Fourteen)
– James Montague, Craig Sanger (A Vastidão da Noite)

MELHOR FILME INTERNACIONAL
– Bacurau. Dir: Kléber Mendonça Filho, Juliano Dornelles (Brasil/França)
– Uma Mulher Alta. Dir: Kantemir Balagov (Rússia)
– Lindinhas. Dir: Maïmouna Doucouré, Denny Shoopman (França)
– Identifying Features. Dir: Fernanda Valadez (México/Espanha)
– Martin Eden. Dir: Pietro Marcello (Itália/França/Alemanha)
– Wolfwalkers. Dir: Tomm Moore, Ross Stewart (Irlanda/Luxemburgo/França)

SÉRIE REVELAÇÃO COM EPISÓDIOS ABAIXO DE 40 MINUTOS
– Betty (HBO)
– Dave (FX)
– I May Destroy You (HBO)
– Taste the Nation (Hulu)
– Work in Progress (Showtime)

SÉRIES DE EPISÓDIOS COM EPISÓDIOS ACIMA DE 40 MINUTOS
– The Great (Hulu)
– Immigration Nation (Netflix)
– P-Valley (Stars)
– Unorthodox (Netflix)
– Watchmen (HBO)

A cerimônia do 30º Gotham Awards acontecerá no dia 11 de Janeiro de 2021.

IRANIANO ‘THERE IS NO EVIL’ GANHA o URSO DE OURO em BERLIM

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Equipe de There is No Evil segura coletivamente o Urso de Ouro em homenagem ao diretor Mohammad Rasoulof, impossibilitado de comparecer ao festival (pic by Teller Report)

FILME QUE CRITICA A PENA DE MORTE NO IRÃ É O GRANDE VENCEDOR

Neste sábado, dia 29/02, o presidente do júri Jeremy Irons revelou os vencedores da 70ª edição do festival alemão, anunciando a vitória do longa iraniano. There is no Evil, que apresenta quatro histórias, busca questionar a morte como forma de punição no país da Ásia. Curiosamente, o diretor Mohammad Rasoulof não pôde comparecer ao festival, pois seu passaporte fora confiscado pelas autoridades iranianas, que alega que o cineasta fazia propaganda contra o atual governo. Em 2017, seu filme A Man of Integrity (Um Homem de Integridade), que venceu o prêmio Un Certain Regard, criticava o sistema corrupto e injusto do Irã, já havia ocasionado um ano de detenção para o diretor.

Assim, a equipe e os atores do filme, incluindo a filha do diretor, Baran Rasoulof, subiram ao palco para receber o prêmio. “Obviamente estou muito feliz, mas ao mesmo tempo estou muito triste, porque este prêmio é para um diretor que não pôde estar aqui. E em nome da equipe, digo que isso (o prêmio) é dele”, disse a emocionada filha do diretor, que logo depois fez uma breve live com o pai pelo celular para que ele pudesse testemunhar à distância o público aplaudindo sua vitória.

Pra quem não conhece muito a história do festival alemão, Berlim tem uma tradição de premiar filmes mais controversos de cunho sócio-político. E nesse aspecto, podemos dizer que o júri acertou em cheio. Além do filme polêmico iraniano, o Grande Prêmio do Júri foi para o filme americano sobre aborto Never Rarely Sometimes Always. Com uma passagem marcante pelo último Festival de Sundance, o filme acompanha duas jovens amigas que juntam uma grana pra viajar para Nova York e realizar o aborto de uma delas. No palco, a diretora Eliza Hittman agradeceu aos médicos e às clínicas de aborto legalizadas nos EUA, que possibilitam essa liberdade feminina.

Para Direção, o júri selecionou o sul-coreano Hong Sang Soo por The Woman Who Ran. Pra quem conhece seus filmes, Soo costuma filmar suas personagens conversando sobre vários temas enquanto caminham, passando do trivial ao filosófico e ético. Mais uma vez, ele contou com sua atriz favorita Min-Hee Kim, que interpreta uma mulher casada há 5 anos que tem uma rara oportunidade de ficar desacompanhada e poder fazer uma avaliação de seu relacionamento com amigas.

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O diretor Hong Sang-Soo que venceu por The Woman Who Ran (pic by eldiario.es)

Pelas categorias de atuação, o italiano Elio Germano conquistou o prêmio de Melhor Ator por interpretar o pintor suíço Antonio Ligabue, que mesmo tendo passado boa parte da vida na Itália, sofrendo com problemas físicos e mentais, e internado em manicômios, almejava uma vida mais normal. A transformação do ator no filme Hidden Away (Volevo Nascondermi) conquistou o júri de forma unânime. Já a alemã Paula Beer levou Melhor Atriz por Undine, no qual sua personagem passional tem uma interação com uma entidade mitológica vingativa chamada Ondina.

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Elio Germano no papel e recebendo o Urso de Prata

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Paula Beer no filme Undine e com o Urso de Prata

Para Roteiro, os vencedores foram os irmãos italianos Fabio e Damiano D’Innocenzo, que em Favolacce, acompanham famílias dos subúrbios de Roma com uma pegada de fábula. Talvez tenha sido o prêmio mais questionado pela mídia internacional.

Este ano, o prêmio Alfred Bauer, que costuma reconhecer trabalhos mais inovadores, teve seu nome alterado para Prêmio da 70ª Edição de Berlim, pois recentemente descobriram que Bauer era um cineasta afiliado ao partido nazista! Sob o novo nome, o filme vencedor foi a comédia francesa Delete History, sobre uma família que busca se desvencilhar do vício das mídias sociais.

E o prêmio de contribuição artística foi para o diretor de fotografia Jürgen Jürges por DAU. Natasha, que é um projeto ousado que recria a União Soviética na era de Stalin em estúdio para que atores encenem a vida daquela época. Embora tenha sido premiado pela fotografia, o filme chama a atenção pelo sexo explícito e pela violência não-encenada. A mensagem do filme seria justamente criticar o excesso de autoridade de um diretor em um set de filmagem. Hello, Abdelatif Kechiche?

Embora o filme brasileiro Todos os Mortos não tenha levado nenhum prêmio, o Brasil esteve representado em co-produções vitoriosas como o colombiano Los Conductos, de Camilo Restrepo, que venceu o prêmio de Melhor Filme de Estreante.

Dentre as produções que saíram de mãos vazias está o novo trabalho de Kelly Reichardt, First Cow, assim como do ditetor malaio Tsai Ming-Liang, Days, que chegou a figurar como um dos favoritos a levar o Urso de Ouro até a reta final do festival.

Seguem os vencedores da 70ª edição do Festival de Berlim:

URSO DE OURO
There Is No Evil 
Dir: Mohammad Rasoulof

URSO DE PRATA GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
Never Rarely Sometimes Always

Dir: Eliza Hittman

URSO DE PRATA DE MELHOR DIRETOR
Hong Sang Soo (The Woman Who Ran)

URSO DE PRATA DE MELHOR ATRIZ
Paula Beer (Undine)

URSO DE PRATA DE MELHOR ATOR
Elio Germano (Hidden Away)

URSO DE PRATA DE MELHOR ROTEIRO
Bad Tales (Favolacce)
Dir: irmãos D’Innocenzo

URSO DE PRATA DA 70ª BERLINALE
Delete History

Dir: Benoît Delépine e Gustave Kervern

URSO DE PRATA DE CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA, FIGURINO OU DESIGN DE PRODUÇÃO
Jürgen Jürges (DAU. Natasha)

PRÊMIO DE DOCUMENTÁRIO
Irradiated

Dir: Rithy Panh

MELHOR FILME DE ESTREANTE
Los Conductos
Dir: Camilo Restrepo

URSO DE OURO DE MELHOR CURTA
T
Dir: Keisha Rae Witherspoon

URSO DE PRATA DE MELHOR CURTA PRÊMIO DO JÚRI
Filipiñana

Dir: Rafael Manuel

PRÊMIO AUDI DE CURTA
Genius Loci

Dir: Adrien Mérigeau

SEIS DIRETORAS DISPUTAM O URSO DE OURO no FESTIVAL DE BERLIM

First Cow

John Magaro em cena de First Cow, de Kelly Reichardt (pic by IMDb)

FESTIVAL QUE TEM HISTÓRICO SÓCIO-POLÍTICO APRESENTA MOMENTOS DE TENSÃO

A 70ª edição do Festival Internacional de Berlim começou no último dia 20 de Fevereiro sob inúmeros temas políticos, a começar pela substituição no comando do evento. Após quase 20 anos, o alemão Dieter Kosslick cedeu seu posto de diretor artístico do festival para o italiano Carlo Chatrian, enquanto a holandesa Mariette Rissenbeek se tornou a diretora executiva. Com essa alteração, já foi possível perceber um aumento de diretores desconhecidos, assim como de diretoras na disputa principal pelo Urso de Ouro.

Dos 18 filmes indicados, seis são dirigidos por mulheres: Sally Potter, Eliza Hittman, Kelly Reichardt, Natalia Meta, Stéphanie Chuat e Véronique Reymond (que dirigiram Schwesterlein), e  Jekaterina Oertel, que co-dirigiu DAU.Natasha.

The Roads not Taken

Javier Bardem e Elle Fanning em cena de The Roads Not Taken, de Sally Potter (pic by OutNow.CH)

Contudo, elas serão avaliadas por um júri presidido pelo ator britânico Jeremy Irons, que logo no início decidiu se explicar sobre seus comentários antigos de conteúdo machista e homofóbico resgatados em redes sociais. O ator disse ser a favor dos direitos femininos, que aprova casamento do mesmo sexo (desde que aprovado nas leis do país), e que seria a favor do aborto (se for a decisão da mulher). Não querendo ser advogado do diabo aqui, mas todos têm direito de errar e de se redimir, ainda mais por declarações antigas (vide as polêmicas de Twitter), já que todos amadurecemos, mas esperamos que suas opiniões pessoais não interfiram em suas decisões, apenas seu critério fílmico.

Jeremy Irons

O presidente do júri, o ator britânico Jeremy Irons, pronuncia-se sobre os temas polêmicos e pessoais (pic by Deadline)

Ainda sobre o júri, um dos integrantes é o cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho, diretor de Aquarius e Bacurau.  Na coletiva de imprensa, ele se demonstrou bastante preocupado com a situação delicada do Cinema Brasileiro. “Temos cerca de 600 projetos que estão atualmente congelados por causa da burocracia (do governo)”, disse Kleber.

Kleber

Em coletiva de imprensa, o diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho expressa preocupação com o futuro do Cinema Brasileiro (pic by Folha de S. Paulo)

Da mesma forma preocupada, a produtora brasileira Sara Silveira, que estava na coletiva de imprensa do único filme brasileiro indicado ao Urso de Ouro, Todos os Mortos, dos diretores Marco Dutra e Caetano Gotardo, fez uma declaração sobre a censura do governo: “Eu não preciso de armas, eu preciso de força, de amor, de coragem e de momentos heróicos para suportar o que nós estamos vivendo. Mas aguardem, nós vamos resistir! Nós vamos vencer! Nós, todas as raças, todos os gêneros, os artistas, estamos juntos, todos estamos aqui gritando por liberdade, democracia, contra a censura e resistência!”. 

Infelizmente, com a ideologia do governo Bolsonaro, os cineastas brasileiros terão de ser ainda mais criativos para driblar os obstáculos para continuar fazendo filmes no país. Com a Ancine congelada, e o presidente nomeando uma pastora (!) para comandar a instituição da cultura, o Cinema Nacional corre sérios riscos de voltar aos anos 80.

Já sobre o filme Todos os Mortos, a estréia foi vista com frieza, inclusive com jornalistas abandonando a sessão. Embora filme se passe em 1899, dez anos após a abolição da escravidão, os personagens vivem na cidade de São Paulo atual, com intenção de demonstrar ao público que o comportamento racial de mais de 100 anos atrás persiste nos dias atuais. A perspectiva altamente brasileira porém não agradou o público internacional, e o jornalista Bruno Ghetti da Folha de S. Paulo cogitou como origem da recepção fraca o fato do foco narrativo pertencer aos personagens brancos, além dos dois diretores do filme serem brancos de classe média.

Mas voltando ao Festival de Berlim, logo no primeiro dia, houve um minuto de silêncio em homenagem às nove vítimas fatais de um atentado de cunho racista em Hanau, cidade bem próxima de Frankfurt.

Silence Minute

Da esquerda para a direita: o ator e host Samuel Finzi, a diretora executiva Mariette Rissenbeek e o diretor artístico Carlo Chatrian prestam homenagens às vítimas do atentado no primeiro dia do 70º Festival de Berlim (pic by china.org.ch)

Dentre os destaques deste ano, estão os novos filmes de: Abel Ferrara, Siberia, que seria descrito como uma exploração da linguagem dos sonhos; de Christian Petzold, Undine, uma história de amor e traição; e de Kelly Reichardt, First Cow, acompanha histórias de descobertas do oeste americano envolvendo a primeira vaca para contar sobre a origem do sonho Americano.

Vale destacar também a estréia internacional do drama Never Rarely Sometimes Always, que acompanha duas amigas da Pennsylvania que partem para Nova York em busca de ajuda médica para um aborto. No último festival de Sundance, o filme foi um dos maiores sucessos e ganhou um prêmio especial do júri.

Never Rarely

Sidney Flanigan em cena de Never Rarely Sometimes Always, de Eliza Hittman, que trata sobre o aborto nos EUA (pic by OutNow.CH)

O 70º Festival de Berlim termina no dia 1º de Março, quando os vencedores serão anunciados. Confira todos os 18 indicados ao Urso de Ouro, que já foi conquistado pelo Brasil em duas ocasiões: em 1998, com Central do Brasil, e em 2008, com Tropa de Elite.

INDICADOS AO URSO DE OURO 2020:

Berlin Alexanderplatz
Dir: Burhan Qurbani

DAU. Natasha
Dir: Ilya Khrzhanovskiy, Jekaterina Oertel

The Woman Who (Ran Domangchin yeoja)
Dir: Hong Sang-soo

Delete History (Effacer l’historique)
Dir: Benoît Delépine, Gustave Kervern

The Intruder (El prófugo)
Dir: Natalia Meta

Bad Tales (Favolacce)
Dir: Damiano & Fabio D’’Innocenzo

First Cow
Dir: Kelly Reichardt

Irradiated (Irradiés)
Dir: Rithy Panh

The Salt of Tears (Le sel des larmes)
Dir: Philippe Garrel

Never Rarely Sometimes Always
Dir: Eliza Hittman

Days (Rizi)
Dir: Tsai Ming-Liang

The Roads Not Taken
Dir: Sally Potter

My Little Sister (Schwesterlein)
Dir: Stéphanie Chuat, Véronique Reymond

There Is No Evil (Sheytan vojud nadarad)
Dir: Mohammad Rasoulof

Siberia
Dir: Abel Ferrara

All the Dead Ones (Todos os mortos)
Dir: Caetano Gotardo, Marco Dutra

Undine
Dir: Christian Petzold

Hidden Away (Volevo nascondermi)
Dir: Giorgio Diritti

 

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