LONGA DE ESTRÉIA DE DANIEL RIBEIRO BATE CINEASTAS EXPERIENTES
Nesta última quinta-feira, dia 18/09, o Ministério da Cultura (MinC) anunciou o representante do Brasil no Oscar 2015 na categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira. O primeiro longa-metragem do jovem Daniel Ribeiro, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, bateu outras 17 produções nacionais e tentará conquistar uma das cinco vagas finalistas a serem anunciadas no dia 15 de janeiro.
Vídeo extraído de canal ministeriodacultura do Youtube
A comissão especial responsável pela decisão era composta por Jefferson De (diretor, produtor e roteirista), Luis Erlanger (jornalista), Sylvia Regina Bahiense Naves (coordenadora-geral de Desenvolvimento Sustentável do Audiovisual da Secretaria do Audiovisual do MinC), Orlando de Salles Senna (presidente do conselho da Televisão América Latina) e George Torquato Firmeza (ministro do Departamento Cultural do Minstério das Relações Exteriores). Eles tiveram a tarefa de selecionar apenas um filme entre os seguintes:
A Grande Vitória, de Stefano Capuzzi
A Oeste do Fim do Mundo, de Paulo Nascimento
Amazônia, de Thierry Ragobert
Dominguinhos, de Eduardo Nazarian, Joaquim Castro e Mariana Aydar
Entre Nós, de Paulo Morelli
Exercício do Caos, de Frederico Caos
Getúlio, de João Jardim
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro
Jogo de Xadrez, de Luís Antônio Pereira
Minhocas, de Paolo Conti e Arthur Nunes
Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho, de Daniel Augusto
O Homem das Multidões, de Marcelo Gomes e Cao Guimarães
O Lobo atrás da Porta, de Fernambo Coimbra
O Menino e o Mundo, de Alê Abreu
O Menino no Espelho, de Guilherme Fiúza Zenha
Praia do Futuro, de Karim Aïnouz
Serra Pelada, de Heitor Dhalia
Tatuagem, de Hilton Lacerda
Confesso que estava receoso de que o MinC optaria por uma das produções da Globo Filmes (Getúlio, Minhocas, Entre Nós ou Serra Pelada) simplesmente pelo nome e poder de publicidade da produtora, mas felizmente, assim como ocorreu no ano passado, a comissão soube escolher com coerência. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho marcou presença no último Festival de Berlim, de onde conquistou o FIPRESCI award (concedido pela federação de crítica internacional) e o Teddy Bear, uma espécie de Urso de Ouro para filmes com temática LGBT. Vale destacar que também ganhou prêmios do público em festivais como o L.A. Outfest (EUA) e o Festival de Guadalajara (México).
O filme, que ganhou o título internacional The Way He Looks, acompanha o amadurecimento do jovem estudante cego Leonardo (Ghilherme Lobo) a partir da chegada de um novo colega de classe, Gabriel, enquanto tenta lidar com a superproteção dos pais. O diretor Daniel Ribeiro procura evitar cenas clichês sobre homossexualismo, deixando os sentimentos se desenvolverem naturalmente e sem pressa. Curiosamente, a produção se baseia no curta-metragem de título semelhante (Eu Não Quero Voltar Sozinho) do mesmo diretor e com os mesmos atores centrais nos mesmos papéis, lançado em 2010.

Da esquerda para a direita: os atores Fabio Audi, Tess Amorim e Ghilherme Lobo (photo by berlinda.org)
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, elogiou a escolha do júri e defendeu o selecionado: “… uma produção de linguagem universal, aberta à compreensão e a conexão com os mais diversos públicos”. Se no ano anterior, a aposta era na temática da insegurança em O Som ao Redor, este ano, a universalidade do tema homossexual na adolescência pode ser uma boa alternativa para que o Brasil consiga finalmente sua 5ª indicação na categoria. As demais foram: O Pagador de Promessas (em 1963), O Quatrilho (1996), O Que é Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999).

A Ministra da Cultura Marta Suplicy (aquela do “relaxa e goza!”) com membros da comissão durante anúncio do Oscar (photo by Thaís Mallon em http://www.cultura.gov.br)
SEXO E A POLÍTICA
Em tempos em que a política brasileira tenta intervir demais na sexualidade de jovens, nada mais propício que a sexóloga e ministra Marta Suplicy (PT) anuncie um filme de temática homossexual como vencedor. Sempre ligada aos eventos como a Parada Gay de São Paulo, ela defendeu o uso do “kit gay”, que contém material informativo sobre homossexualismo em vídeos e livros como “Homem Brinca de Boneca?”, de Marcos Ribeiro, para crianças de 6 anos em escolas públicas. Em 2012, a medida polêmica foi veementemente criticada por colegas de profissão como o deputado Jair Bolsonaro (PP), gerando um conflito sem solução.
É triste ver que a sexualidade se tornou apenas uma pauta dos programas de governo de candidatos. Marina Silva, do PSB, por exemplo, vinha defendendo o casamento gay, mas para obter apoio da Igreja Evangélica, teve que recuar e dizer “Casamento é entre pessoas de sexo diferente”. Além disso, retirou uma proposta que criminalizaria a homofobia no Brasil. Tal mudança foi elogiada pelo pastor Silas Malafaia, da Assembléia de Deus: “O ativismo gay está irado com Marina! Começo a ficar satisfeito! Valeu a pressão de todos. Não estamos aqui pra engolir agenda gay.”
A política retrógrada brasileira busca rotular por gênero, sexo e cor simplesmente para obter votos. Uma das piores medidas do governo petista foi a criação das cotas raciais para universidades, o que apenas atesta que para eles o negro não tem capacidade de conquistar sua própria vaga nas universidades.
CONCORRÊNCIA NO OSCAR 2015
Havia uma expectativa de que o representante brasileiro pudesse concorrer com outro filme LGBT: o francês Azul é a Cor Mais Quente, de Abdellatif Kechiche. Fora da disputa no Oscar deste ano por ter sido lançado na França fora do prazo estipulado, o filme que aborda o relacionamento lésbico entre duas jovens foi recentemente abandonado pela comissão francesa, que preferiu lançar Saint Laurent, de Bertrand Bonello. Curiosamente, a produção que centra no universo da moda e na vida do estilista Yves Saint Laurent, também tem Léa Seydoux no elenco.
Até o momento, a lista de representantes estrangeiros no Oscar 2015 está assim:
- AFEGANISTÃO: A Few Cubic Meters of Love
Dir: Jamshid Mahmoudi - ALEMANHA: Beloved Sisters
Dir: Dominik Graf - ARGENTINA: Relatos Selvagens (Relatos Salvajes)
Dir: Damián Szifrón - AUSTRÁLIA: Charlie’s Country
Dir: Rolf de Heer - ÁUSTRIA: The Dark Valley
Dir: Andreas Prochaska - AZERBAIJÃO: Nabat
Dir: Elchin Musaoglu - BANGLADESH: Glow of the Firefly
Dir: Khlaid Mahmood Mithu - BÉLGICA: Two Days, One Night
Dir: Jean-Pierre e Luc Dardenne - BOLÍVIA: Forgotten
Dir: Carlos Bolado - BÓSNIA HERZEGOVINA: With Mom
Dir: Faruk Loncarevic - BRASIL: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
Dir: Daniel Ribeiro - BULGÁRIA: Bulgarian Rhapsody
Dir: Ivan Nitchev - CANADÁ: Mommy
Dir: Xavier Dolan - CHILE: Matar um Homem
Dir: Alejandro Fernández Almendras - CHINA: The Nightingale
Dir: Philippe Muyl - COLÔMBIA: Mateo
Dir: Maria Gamboa - CORÉIA DO SUL: Sea Fog
Dir: Sung Bo Shim - COSTA RICA: Red Princesses
Dir: Laura Astorga - CROÁCIA: Cowboys
Dir: Tomislav Mrsic - CUBA: Conducta
Dir: Ernesto Daranas - DINAMARCA: Sorrow and Joy
Dir: Nils Malmros - EQUADOR: Silence in Dreamland
Dir: Tito Molina - ESLOVÁQUIA: A Step Into the Dark
Dir: Miloslav Luther - ESLOVÊNIA: Seduce Me
Dir: Marko Santic - ESPANHA: Living is Easy with Eyes Closed
Dir: David Trueba - ESTÔNIA: Tangerines
Dir: Zaza Urushadze - ETIÓPIA: Difret
Dir: Zeresenay Berhane Mehari - FILIPINAS: Norte, the End of History
Dir: Lav Diaz - FINLÂNDIA: Concrete Night
Dir: Pirjo Honkasalo - FRANÇA: Saint Laurent
Dir: Bertrand Bonello - GEORGIA: Corn Island
Dir: Giorgi Ovashvili - GRÉCIA: Little England
Dir: Pantelis Voulgaris - HOLANDA: Accused
Dir: Paula van der Oest - HONG KONG: The Golden Era
Dir: Ann Hui - HUNGRIA: White God
Dir: Kornél Mundruczó - ÍNDIA: Liar’s Dice
Dir: Gheetu Mohandas - INDONÉSIA: Soekarno
Dir: Hanung Bramantyo - IRÃ: Today
Dir: Reza Mir-Karimi - IRAQUE: Mardan
Dir: Batin Ghobadi - IRLANDA: The Gift
Dir: Tommy Collins - ISLÂNDIA: Life in a Fishbowl
Dir: Baldvin Zophoníasson - ISRAEL: Gett: The Trial of Viviane Amsalem
Dir: Ronit Elkabetz, Shlomi Elkabetz - ITÁLIA: Human Capital
Dir: Paolo Virzi - JAPÃO: The Light Shines Only There
Dir: Mipo Oh - KOSOVO: Three Windows and a Hanging
Dir: Isa Qosja - MACEDÔNIA: To the Hilt
Dir: Stole Popov - LETÔNIA: Rocks in My Pockets
Dir: Signe Baumane - LÍBANO: Ghadi
Dir: Amin Dora - LITUÂNIA: The Gambler
Dir: Ignas Jonynas - LUXEMBURGO: Never Die Young
Dir: Pol Cruchten - MARROCOS: The Red Moon
Dir: Hassan Benjelloun - MAURITÂNIA: Timbuktu
Dir: Abderrahmane Sissako - MÉXICO: Cantinflas
Dir: Sebastian del Amo - MOLDÁVIA: The Unsaved
Dir: Igor Cobileanski - MONTENEGRO: The Boys from Marx and Engels Street
Dir: Nikoa Vukcevic - NEPAL: Jhola
Dir: Yadavkumar Bhattarai - NORUEGA: 1001 grams
Dir: Bent Hamer - NOVA ZELÂNDIA: The Dead Lands
Dir: Toa Fraser - PALESTINA: Eyes of a Thief
Dir: Najwa Najjar - PANAMÁ: Invasion
Dir: Abner Benaim - PAQUISTÃO: Dukhtar
Dir: Afia Nathaniel - PERU: The Gospel of the Flesh
Dir: Eduardo Mendoza de Echave - POLÔNIA: Ida
Dir: Pawel Pawlikowski - PORTUGAL: E Agora? Lembra-me
Dir: Joaquim Pinto - QUIRGUISTÃO: Kurmanjan Datka: Queen of the Mountains
Dir: Sadyk Sher-Niyaz - REINO UNIDO: Little Happiness
Dir: Nihat Seven - REPÚBLICA DOMINICANA: Cristo Rey
Dir: Leticia Tonos - REPÚBLICA TCHECA: Fair Play
Dir: Andrea Sedlackova - ROMÊNIA: The Japanese Dog
Dir: Tudor Cristian Jurgiu - RÚSSIA: Leviatã (Leviathan)
Dir: Andrey Zvyagintsev - SÉRVIA: See You in Montevideo
Dir: Dragan Bjelogrlic - SINGAPURA: My Beloved Dearest
Dir: Sanif Olek - SUÉCIA: Força Maior (Force Majeure)
Dir: Ruben Ostlund - SUÍÇA: The Circle
Dir: Stefan Haupt - TAILÂNDIA: Teacher’s Diary
Dir: Nithiwat Tharathorn - TAIWAN: Ice Poison
Dir: Midi Z - TURQUIA: Winter Sleep
Dir: Nuri Bilge Ceylan - UCRÂNIA: The Guide
Dir: Oles Sanin - URUGUAI: Mr. Kaplan
Dir: Álvaro Brechner - VENEZUELA: Libertador
Dir: Alberto Arvelo

Um dos favoritos até o momento: o turco Winter Sleep, que venceu a Palma de Ouro 2014 (photo by outnow.ch)
Por enquanto, o turco Winter Sleep, que venceu a Palma de Ouro em Cannes este ano, larga na frente. Logo atrás, o canadense Mommy, que estava entre os indicados de Cannes, ganha notoriedade por seu jovem diretor Xavier Dolan, de 25 anos. Embora contenha elementos que afastam os votantes idosos da Academia como trilha musical bem pop com Dido e Counting Crows, a profundidade emocional extraída de seus atores pode ser um diferencial nesta disputa tão acirrada por uma vaga no Oscar. Existe ainda a possibilidade (mesmo que remota) da atriz de Mommy, Anne Dorval, participar de um burburinho na categoria de atriz. Também não é possível esquecer os irmãos belgas Dardenne. Embora Two Days, One Night não tenha conquistado prêmio algum em Cannes, ainda tem o poder de emocionar os votantes.
Entretanto, para alguns especialistas no gosto dos votantes do Oscar, o representante polonês tem ampla vantagem. Protagonizado por uma freira judia, Ida desenterra segredos do passado dela durante o Holocausto. Imagina se a maioria votante composta por judeus vai gostar?! Tudo que estiver relacionado à 2ª Guerra Mundial e/ou envolver judeus já contará com algum favoritismo. Prova disso é o último filme do Brasil a alcançar à semi-final: O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, que apresenta personagens da comunidade judaica em São Paulo. Sempre fui contra as regras da Academia em relação à esta categoria, pois praticamente limita os votos para idosos judeus, os únicos que conseguem assistir a todos os concorrentes em sessões vespertinas. Quando teremos um presidente da Academia que reformule tais regras arcaicas? Enfim, a Polônia tem sua chance de ouro, pois já foi indicada oito vezes ao Oscar de Filme Estrangeiro e nunca levou.
Outra nação que vive batendo na trave é o México, com as mesmas oito indicações. A última vez que concorreu foi em 2011 com Biutiful, de Alejandro González Iñárritu, que também já disputara com Amores Brutos em 2001. Este ano, o representante Cantiflas, de Sebastian del Amo, conta com o apoio da ótima bilheteria em solo americano de 6 milhões de dólares e por se tratar da vida do ator mexicano homônimo, que trabalhou ao lado de David Niven no clássico A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, que faturou o Oscar de Melhor Filme em 1957.
Antes das indicações ao Oscar, haverá um corte para 9 semi-finalistas em janeiro. A 87ª cerimônia do Oscar acontecerá no dia 22 de fevereiro de 2015.