APESAR DE CONTAR COM GRANDES NOMES COMO ALMODÓVAR E SORRENTINO, A CINEASTA FRANCESA SE CONSAGRA ATRAVÉS DE JÚRI PRESIDIDO POR BONG JOON HO
Apesar das apostas para a 78ª edição do festival italiano se concentrarem em diretores consagrados presentes como Pedro Almodóvar, Jane Campion e Paolo Sorrentino, foi a jovem e pouco conhecida diretora francesa de 41 anos Audrey Diwan que conquistou o prêmio máximo de Veneza com seu segundo longa Happening (L’évenement), que logo aborda um tema tão polêmico como o aborto clandestino nos anos 60 na França.
Baseado no romance homônimo de Annie Ernaux, o filme acompanha o calvário de uma estudante que engravida e busca uma forma de realizar um aborto ilegal sem poder contar com a ajuda de amigos, professores, médicos e o próprio namorado. O retrato realista dessa saga rendeu comparações inevitáveis com o longa romeno 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007), de Cristian Mungiu, e o recente Nunca Raramente Às Vezes Sempre (2020), de Eliza Hittman. E embora seja uma história que se passa há 60 anos, o tema continua muito atual.
A vitória de Audrey Diwan é apenas a 6ª de uma mulher (Margarethe Von Trotta (1981), Agnès Varda (1985), Mira Nair (2001), Sofia Coppola (2010) e Chloé Zhao (2020), a primeira consecutiva (logo após Chloé Zhao), e a primeira de um cineasta francês desde 1987 com Louis Malle. Vale lembrar que a francesa Julia Ducournau venceu a Palma de Ouro em Cannes este ano, concretizando uma ascensão feminina no cinema internacional.
Lembra dos diretores consagrados? Eles ficaram com os demais prêmios. Enquanto o Grande Prêmio do Júri foi para o diretor italiano Paolo Sorrentino por seu autobiográfico A Mão de Deus, numa clara referência aos tempos do jogador argentino Diego Maradona, o Prêmio de Direção foi para a neozelandesa Jane Campion por The Power of the Dog.
Almodóvar foi reconhecido através de sua atriz Penélope Cruz por Mães Paralelas, batendo a forte concorrência de Kristen Stewart (Spencer) e Olivia Colman (A Filha Perdida). Já o prêmio de interpretação masculina foi para o filipino John Arcilla por On the Job: The Missing 8. Esse reconhecimento de Cruz já vem elevando suas chances de conquistar uma 4ª indicação ao Oscar, ainda mais que existe cada vez menos preconceito com produções em língua estrangeira.
Falando em atriz, Maggie Gyllenhaal foi logo premiada pelo roteiro de seu primeiro filme, A Filha Perdida, adaptação do romance da italiana Elena Ferrante.
Confira todos os vencedores da 78ª edição do Festival de Veneza:
COMPETIÇÃO
LEÃO DE OURO
“Happening,” Audrey Diwan
GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
“The Hand of God,” Paolo Sorrentino
DIREÇÃO
“The Power of the Dog,” Jane Campion
ATRIZ
“Parallel Mothers,” Penélope Cruz
ATOR
“On the Job: The Missing 8,” John Arcilla
ROTEIRO
“The Lost Daughter,” Maggie Gyllenhaal
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
“Il Buco,” Michelangelo Frammartino
PRÊMIO MARCELLO MASTROIANNI
“The Hand of God,” Filippo Scotti
ORIZZONTI AWARDS
Melhor Filme
“Pilgrims,” Laurynas Bareisa
Melhor Diretor
“Full Time,” Eric Gravel
Prêmio Especial do Júri
“El Gran Movimiento,” Kiro Russo
Melhor Atriz
“Full Time,” Laure Calamy
Melhor Ator
“White Building,” Piseth Chhun
Melhor Roteiro
“107 Mothers,” Ivan Ostrochovský, Peter Kerekes
Melhor Curta-Metragem
“Los Huesos,” Cristóbal León, Joaquín Cociña
LUIGI DE LAURENTIIS AWARD
Melhor Filme de Estreante
“Imaculat,” Monica Stan, George Chiper-Lillemark
VENICE VR EXPANDED AWARDS
Grande Prêmio do Júri por Melhor Filme de RV
“Goliath: Playing With Reality,” Barry Gene Murphy, May Abdalla
Melhor Experiência RV
“Le Bal de Paris de Blanca Li,” Blanca Li
Melhor História RV
“End of Night,” David Adler
ORIZZONTI EXTRA
Armani Beauty Audience Award: “The Blind Man Who Did Not Want to See Titanic,” Teemu Nikki