Vencedor em 2018, Guillermo del Toro entrega o DGA para seu conterrâneo e amigo, Alfonso Cuarón, comprovando hegemonia mexicana (pic by WSBT)
Dentre todos os prêmios de sindicatos, o mais certeiro em relação ao Oscar é o de diretores (DGA). Portanto, dá para praticamente cravar que Alfonso Cuarón levará seu segundo Oscar de Direção… ou ainda é muito cedo pra afirmar?
Como se tratam de apenas SETE divergências na história do DGA em relação ao Oscar, é sempre válido relembrá-las:
Em 1968: Anthony Harvey ganhou o DGA Award por O Leão no Inverno, enquanto Carol Reed levou o Oscar por Oliver!
Em 1972: Francis Ford Coppola por O Poderoso Chefão (DGA) e Bob Fosse por Cabaret (Oscar).
Em 1985: Steven Spielberg por A Cor Púrpura (DGA),e Sydney Pollack por Entre Dois Amores (Oscar).
Em 1995: Ron Howard por Apollo 13 (DGA), e Mel Gibson por Coração Valente (Oscar).
Em 2000: Ang Lee por O Tigre e o Dragão (DGA) e Steven Soderbergh por Traffic (Oscar).
Em 2002: Rob Marshall por Chicago (DGA) e Roman Polanski por O Pianista (Oscar).
Em 2013: Ben Affleck por Argo (DGA) e Ang Lee por As Aventuras de Pi (Oscar)
Em nenhum desses casos, o vencedor do DGA tinha conquistado duas vezes o prêmio como aconteceu com Cuarón, o que pode caracterizar ou embasar uma nova divergência entre DGA e a Academia, mas principalmente porque temos um coringa entre os diretores indicados: Spike Lee.
Recapitulando: Em 1990, havia uma forte pressão para que Spike Lee se tornasse o primeiro diretor negro indicado ao Oscar de Direção pelo marcante Faça a Coisa Certa, porém a Academia o reconheceu apenas pelo roteiro e sem vitória. Sua ausência na categoria de Diretores repercutiu tanto que a Academia se sentiu na obrigação de indicar um diretor negro dois anos depois, resultando na indicação de John Singleton por Os Donos da Rua.
De lá pra cá, outros diretores afro-descendentes foram indicados ao Oscar como Lee Daniels, Steve McQueen e Jordan Peele, mas só agora Spike Lee foi indicado para Direção por Infiltrado na Klan. Portanto, os votantes da Academia podem se sentir na obrigação de compensá-lo pelas injustiças do passado (sim, esse pessoal adora compensar depois, normalmente com filmes errados). Enfim, acredito que Spike Lee ainda tenha muitas chances no Oscar, mesmo que Alfonso Cuarón tenha levado o DGA.
Se os votantes da Academia pensarem que Cuarón já conquistou um Oscar por Gravidade há 5 anos, e pode levar uma nova estatueta pela categoria de Filme em Língua Estrangeira, as chances dos demais diretores aumentam, incluindo de Spike Lee.
Dos diretores indicados ao DGA e do Oscar, houve duas divergências. No primeiro, Bradley Cooper (Nasce uma Estrela) e Peter Farrelly (Green Book) concorriam. Já no segundo, eles foram substituídos por Pawel Pawlikowski (Guerra Fria) e Yorgos Lanthimos (A Favorita).
Falando em Bradley Cooper, ele tem sido o artista mais decadente da temporada. Não que ele não tenha sido reconhecido, mas pela campanha, esperava-se uma presença mais maciça, especialmente como diretor. Aqui no DGA, por exemplo, ele estava indicado em ambas as categorias de Diretor e Diretor Estreante. Além de haver dupla chance de vitória, muitos apontavam como certa sua vitória como Estreante, mas acabaram premiando Bo Burnham por Oitava Série.
Bo Burnham posa com seu DGA de Diretor Estreante por Oitava Série (pic by KATV)
Com boa experiência e colaboração com diretores de prestígio como Clint Eastwood e David O. Russell, Bradley conseguiu dar uma boa repaginada numa história batida de fama como a de Nasce uma Estrela, especialmente na primeira metade, porém, concordo que a melhor estréia na função foi de Bo Burnham. Com Oitava Série, ele conseguiu explorar as inseguranças da pré-adolescência ao mesmo tempo em que retratava como poucos a linguagem das redes sociais.
Pela categoria de documentário, para diversificar ainda mais, o vencedor foi Tim Wardle por Três Estranhos Idênticos, que não obteve indicação ao Oscar. E com o até então franco-favorito Won’t You Be My Neighbor fora do Oscar também, as cartas estão com Free Solo e RBG.
Pelas categorias de TV, curiosamente, os atores-diretores foram mais felizes. Ben Stiller venceu como Melhor Diretor de Filmes para TV ou Minissérie por Escape at Dannemora, enquanto Bill Hader levou pela direção de Série de Comédia por Barry. E Adam McKay, indicado pelo filme Vice, acabou levando por Série Dramática por Succession.
VENCEDORES DO 71º DGA AWARDS:
MELHOR DIRETOR Alfonso Cuarón (Roma)
MELHOR DIRETOR ESTREANTE Bo Burnham (Oitava Série)
MELHOR DIRETOR – DOCUMENTÁRIO Tim Wardle (Três Estranhos Idênticos)
MELHOR DIRETOR – SÉRIE DRAMÁTICA Adam McKay (Succession) Episódio: “Celebration”
MELHOR DIRETOR – SÉRIE DE COMÉDIA Bill Hader (Barry)
MELHOR DIRETOR – MINISSÉRIE OU FILME PARA TV Ben Stiller (Escape at Dannemora)
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A 91ª cerimônia do Oscar está marcada para o dia 24 de fevereiro.
Do alto, da esquerda para direita: Adam McKay, Ridley Scott, Tom McCarthy, Alejandro González Iñárritu e George Miller (photo montage by awardsdaily.com)
DIRETOR BRASILEIRO, FERNANDO COIMBRA, É RECONHECIDO POR NOVA CATEGORIA PARA ESTREANTES
Por se tratar de um dos melhores parâmetros para o Oscar (se não o melhor), o DGA é praticamente garantia de que o vencedor aqui leva o prêmio de direção da Academia em seguida. E quem estiver fora dessa lista, pode praticamente dar adeus a uma vitória no Oscar. Nesse caso, os excluídos Todd Haynes (Carol) e Steven Spielberg (Ponte dos Espiões) podem até conquistar uma indicação ao Oscar na quinta-feira, mas chances reais de vitória caem drasticamente.
Pra quem não se recorda, vale lembrar que em 67 anos de existência, o DGA só não coincidiu com o vencedor do Oscar de diretor em apenas 7 ocasiões:
Em 1968: Anthony Harvey ganhou o DGA Award por O Leão no Inverno, enquanto Carol Reed levou o Oscar por Oliver!
Em 1972: Francis Ford Coppola por O Poderoso Chefão (DGA) e Bob Fosse por Cabaret (Oscar).
Em 1985: Steven Spielberg por A Cor Púrpura (DGA),e Sydney Pollack por Entre Dois Amores (Oscar).
Em 1995: Ron Howard por Apollo 13 (DGA), e Mel Gibson por Coração Valente (Oscar).
Em 2000: Ang Lee por O Tigre e o Dragão (DGA) e Steven Soderbergh por Traffic (Oscar).
Em 2002: Rob Marshall por Chicago (DGA) e Roman Polanski por O Pianista (Oscar).
Em 2013: Ben Affleck por Argo (DGA) e Ang Lee por As Aventuras de Pi (Oscar).
Pra ser bem sincero, acredito que Adam McKay deve ceder sua vaga no Oscar para Haynes, o que fortaleceria suas chances de ganhar como roteirista por A Grande Aposta.
Enfim… as indicações ao DGA foram anunciadas hoje, dia 12, e o presidente do sindicato, Paris Barclay, aproveitou para elogiar os trabalhos de 2015: “O que faz com que este ano seja diferente é a ambição desenfreada dos indicados – no tema , na produção, na imaginação visual. O que faz com que este ano seja o mesmo é que os filmes foram todos escolhidos pelos colegas dos diretores, e é claro que nossos membros adoram quando as pessoas usam sua visão e habilidade para elevar os meios para novos patamares. Parabéns a todos os indicados por seu trabalho incrível.”
Pelo discurso, parecia que ele estava elogiando o trabalho ousado de George Miller em Mad Max: Estrada da Fúria, o que talvez soaria como um indicativo de que este pode ser o primeiro DGA de Miller, mas ele terá dura competição pela frente, com um imbatível Alejandro González Iñárritu, que acaba de levar o Globo de Ouro por O Regresso, e Ridley Scott por Perdido em Marte, que está com cara de que pode levar mais pelo conjunto de sua obra do que pelo filme em si.
Nesta 68ª edição, o DGA resolveu criar uma nova categoria destinada a diretores estreantes, tamanho o talento encontrado em novos diretores. Por se tratar de um prêmio novíssimo, não dá pra saber ainda se ele terá algum tipo de impacto no Oscar, mas definitivamente, trata-se de um reconhecimento merecido.
Além de figuras mais conhecidas como Alex Garland (que roteirizou Extermínio, Sunshine – Alerta Solar e Não me Abandone Jamais) e Joel Edgerton (ator de Reino Animal, Guerreiro e O Grande Gatsby), o diretor brasileiro Fernando Coimbra foi indicado por seu trabalho no bom e tenso thriller O Lobo Atrás da Porta, uma espécie de Atração Fatal carioca. Ele, que já vinha em ascensão com a direção de episódios da série Narcos e agora filmando Sand Castle, longa estrelado por Henry Cavill e Nicholas Hoult, passa a ter mais destaque no cenário internacional com esta indicação. Espero que ele prospere e siga a trajetória de sucesso de nossos diretores Walter Salles, Fernando Meirelles e José Padilha.
Em primeiro plano, Leandra Leal em cena de O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra (photo by cinemaorama.com.br)
Seguem os indicados a Diretor:
ALEJANDRO GONZÁLEZ IÑÁRRITU (O Regresso)
Vencedor do DGA de 2015 por Birdman, esta é sua terceira indicação. Perdeu em 2007 por Babel. Como cinéfilo e admirador do diretor desde seu primeiro longa Amores Brutos (2000), acredito que ele evoluiu bastante. Por um momento, temi que ele fosse se limitar à estrutura narrativa de histórias paralelas que se cruzam com uma tragédia, mas ele conseguiu se superar com Biutiful e Birdman, e promete ser um daqueles raros diretores que buscam inovações a cada novo trabalho. Com a colaboração inestimável de seu DP (diretor de fotografia) Emmanuel Lubezki, Iñárritu se mostra promissor e deve conquistar pelo menos mais uma estatueta do Oscar.
TOM McCARTHY (Spotlight – Segredos Revelados)
Foi atuando como ator que Tom McCarthy começou a observar o trabalho dos diretores. Por estar no elenco, viu de perto o modo de trabalho de Richard Donner em Teoria da Conspiração, George Clooney em Boa Noite e Boa Sorte e Clint Eastwood em A Conquista da Honra. Logo em seu primeiro filme como diretor, em O Agente da Estação, foi premiado pelo BAFTA, Independent Spirit e Sundance. Em seguida dirigiu dois bons trabalhos em O Visitante e Ganhar ou Ganhar – A Vida é um Jogo, mas em 2014, resolveu dirigir um filme bem ruinzinho estrelado por Adam Sandler, Trocando os Pés. Felizmente, voltou a um cinema mais consistente em Spotlight – Segredos Revelados. Esta é sua primeira indicação ao DGA.
ADAM McKAY (A Grande Aposta)
Se olharmos para a filmografia de Adam McKay, encontraremos exemplares das comédias estreladas por Will Ferrell como Ricky Bobby – A Toda Velocidade, Quase Irmãos e Os Outros Caras, filmes que dificilmente seriam reconhecidos no Oscar ou mesmo no DGA. Imagino que deve ter amadurecido seu feeling e timing cômico nessa trama sobre a crise econômica de A Grande Aposta. Espero. Esta é sua primeira indicação ao DGA.
GEORGE MILLER (Mad Max: Estrada da Fúria)
George Miller era daqueles diretores que eu pensava: “Por que esse cara nunca foi reconhecido pela Academia?” Ele dirigiu uma das melhores trilogias do cinema: Mad Max. E nada! Então, ele passou a ser mais sentimentalista (ou passou a se vender – dependendo do ponto de vista) dirigindo dramas como O Óleo de Lorenzo (1992) e dirigir filmes fofinhos como Babe – O Porquinho Atrapalhado na Cidade (1998) e animação Happy Feet: O Pingüim (2006) e sua continuação. Acho que só o fato de ele ter conseguido convencer o estúdio a lhe dar carta branca pra fazer esse insano e politicamente incorreto Mad Max: Estrada da Fúria em tempos de cinema careta já foi uma vitória incontestável. Esta é sua primeira indicação ao DGA.
RIDLEY SCOTT (Perdido em Marte)
Eu tinha uma grande admiração por Ridley Scott. Ele dirigiu duas das melhores ficções científicas da História do Cinema: Alien, o Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982), mas desde que o vi com aquela cara de mau perdedor no Oscar 2001, quando competia por Gladiador e perdeu para Steven Soderbergh (Traffic), fiquei com a expressão: “Esse mau perdedor aí é o diretor de Alien?”. Seu novo filme Perdido em Marte é uma boa ficção científica que tem como mérito ser otimista, algo muito raro no gênero. Acredito que tem grandes chances aqui e no Oscar, porém mais por sua filmografia que inclui o cult Thelma & Louise, Os Duelistas e Chuva Negra. Esta é sua quarta indicação ao DGA. Ele foi indicado antes por Thelma & Louise, Gladiador e Falcão Negro em Perigo.
Da esquerda pra direita: Clint Eastwood, Alejandro González Iñárritu, Richard Linklater, Wes Anderson e Mortem Tyldum são os indicados ao DGA 2015 (photo by variety.com)
O 67th Annual DGA Awards divulgou nesta terça, dia 13, seus cinco indicados a Melhor Diretor e os filmes Sniper Americano e O Jogo da Imitação têm motivos para comemorar. Não que os demais indicados Boyhood, Birdman e O Grande Hotel Budapeste não tenham, mas suas inclusões na lista foram as surpresas desta edição.
Sei que é muito fácil dizer isso agora, mas eu já previa uma nova indicação para Clint Eastwood. Para quem acompanhou a escalada relâmpago de Sniper Americano nos últimos prêmios (foi indicado para ADG, Eddie, PGA e WGA), já podia imaginar que essa crescente resultaria em algo maior. Aliás, espera-se o longa conquiste seu espaço entre as indicações ao Oscar, que serão anunciadas nesta quinta.
Já a presença do norueguês Morten Tyldum soa como uma espécie de estranho no ninho. Embora seu O Jogo da Imitação esteja presente em todos os prêmios, ele não vinha tendo quase nenhuma projeção como diretor. Nem no Critics’ Choice Awards que tem seis vagas na categoria ele conseguiu uma indicação! Contudo, o sindicato dos diretores, formado por mais de 15 mil votantes, enxergou qualidade em sua direção. Embora eu não tenha visto O Jogo da Imitação, vi seu filme anterior, Headhunters, que apresenta uma trama intricada envolvendo roubo de quadros, mas que tem na tensão do início ao fim resultado de uma paranóia crescente, que lembra A Conversação (1974), de Francis Ford Coppola, sua melhor qualidade como diretor.
Por mais que não tenham enviado cópias de Selma para os sindicatos, a exclusão mais comentada foi a de sua diretora Ava DuVernay, pois ela foi indicada ao Globo de Ouro e ao Critics’ Choice Awards. No início da temporada, havia uma expectativa de que poderia rolar uma competição inédita envolvendo duas diretoras: DuVernay e Angelina Jolie, por O Invencível, mas a última não tem sido uma unanimidade entre os críticos. Já Ava DuVernay ainda tem grandes chances de concorrer ao Oscar, por dois motivos básicos: 1º Os responsáveis pela campanha de Selma enviaram os screeners para a Academia (ao contrário dos sindicatos); e 2º a Academia adora fatos inéditos para sua gloriosa História. Se indicada, ela será a primeira diretora negra a competir na categoria de Direção, ou como eles gostam de chamar lá, afro-americana.
Entre os demais excluídos estão David Fincher (Garota Exemplar), Damien Chazelle (Whiplash: Em Busca da Perfeição), James Marsh (A Teoria de Tudo) e Dan Gilroy (O Abutre). Alguns fãs mais calorosos também argumentam a ausência de Christopher Nolan por Interestelar. Bom, como já vi o filme, posso dizer que concordo com a sua exclusão, pois apesar do estilo visual apurado dele, considero Nolan didático demais. Ele precisa explicar tudo pra fazer a história andar, por isso que seus filmes são tão longos e chatos…
Com as indicações, o DGA Awards praticamente confirma as indicações ao Oscar de Richard Linklater, Alejandro González Iñárritu e Wes Anderson. As outras duas vagas podem e devem mudar na quinta-feira no anúncio do Oscar.
Seguem os indicados ao 67º DGA Awards:
Wes Anderson
WES ANDERSON
O Grande Hotel Budapeste Conhecido por filmes alternativos e seu humor refinado, esta é a primeira indicação dele no DGA. Para quem acompanha seus filmes desde os anos 90 como Três é Demais, Os Excêntricos Tenenbaums, A Vida Marinha com Steve Zissou, O Fantástico Sr. Raposo e Moonrise Kingdom, é possível ver uma nítida evolução nesse O Grande Hotel Budapeste. Comparado a Tim Burton por sua forte identificação de estilo visual nos campos da Direção de Arte, Fotografia e Figurino, Wes Anderson passou a aprimorar sua direção nos roteiros de sua autoria, aliados à sua montagem seca que valoriza o humor. Esta indicação vem mais do que merecida.
Clint Eastwood
CLINT EASTWOOD
Sniper Americano Pupilo de mestres como Sergio Leone e Don Siegel, Clint Eastwood se tornou um novo mestre do cinema contemporâneo ao tratar de temas polêmicos como a pedofilia em Sobre Meninos e Lobos, a síndrome de Estocolmo em Um Mundo Perfeito e a eutanásia em Menina de Ouro. Ele retorna com um tratamento diferenciado do vício da guerra em Sniper Americano. Esta é sua quarta indicação no DGA. Ele venceu duas vezes: em 1993 por Os Imperdoáveis, e em 2005 por Menina de Ouro. Em 2006, foi homenageado pelo prêmio pelo conjunto da carreira.
Alejandro González Iñárritu
ALEJANDRO GONZÁLEZ IÑÁRRITU
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) O diretor mexicano ficou conhecido mundialmente por seu visceral Amores Brutos (2000) – o qual sou muito mais o título original ‘Amores Perros’ – e assim como incontáveis talentos estrangeiros, aproveitou a oportunidade de projeção internacional e embarcou em um projeto com atores hollywoodianos. O dele se chamada 21 Gramas, que tinha ninguém menos do que Sean Penn e a ascendente Naomi Watts e Benicio Del Toro. Com seu sucesso de crítica, avançou uma casa e realizou um projeto mais ambicioso intitulado Babel, com atores de várias nacionalidades como a japonesa Rinko Kikuchi e a mexicana Adriana Barraza, mas também contou com Brad Pitt e Cate Blanchett. Agora com Birdman, conseguiu reavivar a carreira do sumido Michael Keaton e até de Edward Norton, que estava meio apagado nos últimos anos. Esta é sua segunda indicação ao DGA. Ele foi indicado anteriormente por Babel em 2007.
Richard Linklater
RICHARD LINKLATER
Boyhood: Da Infância à Juventude Embora esta seja a primeira indicação de Richard Linklater, ele é bastante conhecido no circuito independente de cinema. Além da trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite, ele foi responsável por cults como Jovens, Loucos e Rebeldes e Waking Life. Costuma trabalhar sempre com os mesmos colaboradores como Ethan Hawke, Julie Delpy, Patricia Arquette e Keanu Reeves. Contudo, a grande ambição por trás de Boyhood deve lhe garantir o prêmio, pois desafiou o sistema de contratos longos ao estender suas filmagens por 12 anos e assim finalizar um projeto baseado em amor. E filmes sobre amadurecimento jamais serão os mesmos depois de Boyhood.
Morten Tyldum
MORTEN TYLDUM
O Jogo da Imitação Também estreante no DGA, o diretor norueguês Morten Tyldum teve trajetória semelhante ao de Alejandro González Iñárritu, pois depois do sucesso de seu filme Headhunters, todo falado em norueguês, ele recebeu convite para dirigir a adaptação de Graham Moore sobre a história vitoriosa do matemático Alan Turing, que quebrou os códigos alemães para acabar com a Segunda Guerra Mundial. Para esta adaptação, ele logo conseguiu juntar grandes talentos em ascensão como Benedict Cumberbatch, que já é almejado por vários diretores consagrados. Independente da indicação ao Oscar, deve ter caminho brilhante adiante.
“Num ano repleto de filmes excelentes, os membros do DGA indicaram um grupo estelar de cineastas apaixoandos. Inspiradores e artísticos, estes cinco diretores fizeram filmes que deixaram um impacto marcante não apenas em seus companheiros diretores e membros do time de diretores, mas no público mundo afora. Parabéns a todos os indicados por seu trabalho magnífico”, declarou o presidente do DGA Paris Barclay.
Vale sempre ressaltar que o vencedor do DGA está com a mão na taça, pois em toda sua história, apenas em sete casos o vencedor não coincidiu:
Em 1968: Anthony Harvey ganhou o DGA Award por O Leão no Inverno, enquanto Carol Reed levou o Oscar por Oliver!
Em 1972: Francis Ford Coppola por O Poderoso Chefão (DGA) e Bob Fosse por Cabaret (Oscar).
Em 1985: Steven Spielberg por A Cor Púrpura (DGA),e Sydney Pollack por Entre Dois Amores (Oscar).
Em 1995: Ron Howard por Apollo 13 (DGA), e Mel Gibson por Coração Valente (Oscar).
Em 2000: Ang Lee por O Tigre e o Dragão (DGA) e Steven Soderbergh por Traffic (Oscar).
Em 2002: Rob Marshall por Chicago (DGA) e Roman Polanski por O Pianista (Oscar).
Em 2013: Ben Affleck por Argo (DGA) e Ang Lee por As Aventuras de Pi (Oscar).
O vencedor do DGA 2015 será anunciado no dia 07 de fevereiro em cerimônia no Hyatt Regency Century Plaza.
Michelle Yeoh em cena de O Tigre e o Dragão 2 (photo by colider.com)
Neste início de outubro, o serviço de streaming da Netflix fez dois anúncios que devem ameaçar seriamente a indústria do cinema: lançará a sequência O Tigre e o Dragão 2 (Crouching Tiger, Hidden Dragon: The Green Legend) em sua plataforma e em algumas salas de cinema selecionadas em conjunto com a Weinstein Co. em Agosto de 2015; e em seguida, quatro filmes estrelados por Adam Sandler.
Depois de agitar o universo televisivo com séries de sua produção, House of Cards e Orange is the New Black, que conquistaram o público e algumas indicações ao Emmy, a Netflix pretende alçar vôos mais altos em Hollywood ao oferecer lançamentos diretamente pelo streaming, eliminando as etapas tradicionais: sala de projeção, Blu-ray e DVD, e serviços On Demand antes de pertencer aos catálogos de streaming.
“São anúncios muito importantes que mudam o jogo”, disse Chris McGurk, diretor-executivo da Cinedigm. “O público de hoje não liga para as regras antigas de estúdio e entretenimento. Eles querem ver filmes quando eles bem querem, como eles querem e em qualquer dispositivo que eles querem.” Há alguns anos, eu mesmo não imaginava pessoas assistindo a filmes em celulares e tablets, mas hoje é uma realidade.
Além dessa modernização do modo de assistir a um filme, hoje ir ao cinema é um programa caro. Confira comigo: ingressos a 30 reais, combo de pipoca e refrigerante a 20 reais, e estacionamento de shopping a 15 reais, totalizando 65 reais quando sozinho. Se for em casal, já salta pra casa dos 100 reais, sem contar a gasolina. Agora, substitua a locomoção toda por um Netflix (assinatura mensal a 16,90 reais), e a pipoca de ouro do Cinemark pela pipoca de microondas, e eis uma redução drástica de valor que estimula o programa caseiro.
Pra que encarar filas, pipocas caras e gente mal educada nas salas? Ligue a TV no Netflix (photo by adrenaline.uol.com.br)
Há algumas décadas, a indústria do cinema aplicava esse sistema direto ao espectador quando o filme era de baixo orçamento e pouco aguardado sendo lançado direto em vídeo, o chamado made-for-TV-movie. Há poucos anos, algumas produções modestas como Margin Call – O Dia Antes do Fim (2011) e A Negociação (2012) foram lançadas simultaneamente em cinemas e plataformas On Demand como uma espécie de experimento, pois os estúdios estavam receosos de perder dinheiro com produções maiores. Hoje, eles já pensam até em lançar grandes franquias como Star Wars, James Bond e os filmes da Marvel Studios.
Dependendo do sucesso da estratégia da Netflix, os grandes estúdios devem aderir gradativamente ao sistema do lançamento via streaming, podendo quebrar várias redes de cinema. Segundo a matéria da Variety, os donos das maiores redes de cinema americanas (AMC, Cinemark, Regal e Carmike) se recusarão a exibir O Tigre e o Dragão 2 em suas telas como uma forma de protesto. O fato é que o público que frequenta cinema vem caindo ao longo dos anos, e só não piorou porque recebeu uma sobrevida com o advento do filme 3D com o mega-sucesso Avatar (2009), pois ver filmes com óculos tridimensionais era um espetáculo à parte e até então exclusivo nas salas de projeção, mas daqui a pouco nem isso vai segurar o público nas salas.
Talvez a sequência do longa taiwanês O Tigre e o Dragão não seja parâmetro para indicar o sucesso da estratégia da Netflix, uma vez que não conta com o diretor Ang Lee, nem as estrelas Chow Yun-Fat e Zhang ZiYi, mas os filmes de Adam Sandler sempre estão entre os mais vistos nos EUA. E se esse sucesso comercial se repetir ou até superar os números das bilheterias, o cinema como conhecemos pode estar com seus dias contados.
Ao lado de Rosemarie DeWitt, Adam Sandler estrela novo filme de Jason Reitman: Homens, Mulheres e Filhos (photo by elfilm.com)
Embora goste da experiência de ir ao cinema, será inevitável que esse avanço represente economia ao público e estúdios. Só essa enxugada na verba relativa à exibição já proporcionará salários mais recheados para as estrelas de Hollywood, atraindo a nata dos atores famosos ao Netflix, que atualmente gasta cerca de 3 bilhões de dólares em suas produções. Claro que também significará inúmeras demissões e a decadência de uma cultura centenária, contudo, não acredito em extinção definitiva do formato. Podemos tomar como exemplo a digitalização da literatura através dos e-books. Enquanto os leitores modernos economizam na compra de obras, outros ainda preferem o contato físico e até o cheiro do papel dos livros. Ambos os formatos convivem atualmente em equilíbrio, o que deve acontecer entre cinemas e streaming nas próximas décadas.
Quem sabe com os lançamentos indo direto pra streaming, aqueles espectadores que conversam e atendem o celular durante a sessão não chateiam menos as pessoas ficando em casa? Esse público mal educado não merece esta Arte.
Celular, conversa, batidas constantes na poltrona definitivamente não combinam com uma sessão de cinema (photo by pt.wikinoticia.com)
Atores oscarizados: Daniel Day-Lewis, Jennifer Lawrence, Anne Hathaway e Christoph Waltz
Passado o Oscar, vale a pena dar uma olhada nos vencedores da principais categorias e fazer algumas projeções. No geral, a premiação desse ano foi bastante democrática, tanto que o filme com mais Oscars foi a produção As Aventuras de Pi, tanto que sequer levou Melhor Filme. Provavelmente se Ben Affleck tivesse sido indicado como Diretor, Argo seria também o recordista da noite com 4 Oscars. O grande perdedor da noite acabou sendo o drama histórico Lincoln que, apesar de ter levado dois prêmios (Ator e Direção de Arte), perdeu em outras 10 categorias.
Excetuando Anne Hathaway, havia ressalvas para as vitórias de todos os outros três atores premiados. Daniel Day-Lewis seria o primeiro ator a receber 3 Oscars de Melhor Ator? Jennifer Lawrence não seria jovem demais para bater a veterana Emmanuelle Riva? Christoph Waltz ganharia seu segundo Oscar no intervalo de três anos?
Já nas categorias de Roteiro, o iniciante Chris Terrio bateu veteranos ao explorar um fato verídico em que Hollywood salvou vidas no Irã, enquanto Tarantino recebe seu segundo Oscar mesmo após controvérsias politicamente corretas. O que muda depois do Oscar? A temida maldição do Oscar pode voltar a atacar?
FUTURO DOS ATORES
Daniel Day-Lewis em seus três auges no Oscar: 1990 (Meu Pé Esquerdo), 2013 (Lincoln)e 2008 (Sangue Negro) (photo by nydailynews.com)
Daniel Day-Lewis (Lincoln)
O que dizer do primeiro a ganhar três vezes o Oscar de Melhor Ator? O britânico Daniel Day-Lewis quebrou um recorde que atores consagrados como Sean Penn, Jack Nicholson e Tom Hanks vêm tentando há décadas. O que Day-Lewis tem que os outros não têm? Há duas grandes diferenças: 1. Escolha do projeto. Infelizmente, nem todo ator tem o privilégio de escolher apenas bons papéis em filmes menores, afinal, precisam do cachê para pagar as contas. Grandes atores já sucumbiram ao poder do dinheiro. Quem não se lembra de Marlon Brando naquele horrível A Ilha do Dr. Moreau (1996), ou mesmo aquele fato marcante do maior cachê da época por sua atuação de 10 minutos em Superman – O Filme (1978)? E como explicar Michael Caine em Tubarão 4 – A Vingança (1987)? Na filmografia de Daniel Day-Lewis, temos apenas 19 participações em filmes, um número pequeno para uma carreira que começou no início dos anos 80, mas não há uma bomba sequer a ser explorada pelos tablóides. Alguns até criticam esse exagero de seriedade na escolha de seus papéis, porque gostariam de vê-lo numa comédia ou num filme de terror, já outros buscam apenas algum defeito na figura imponente do ator.
2. Preparação e Método. Esse processo bastante exaustivo ganhou tanta fama nos bastidores que virou até piada para Seth MacFarlane no último Oscar. “E se você (ao interpretar Lincoln) visse um celular? Surtaria?”. Por isso que Daniel Day-Lewis se obriga a escolher bem seus projetos seguintes, pois ele exige demais de si mesmo numa extensa pesquisa sobre os costumes da época em que se passa o filme. Além disso, o ator reúne toda a informação para poder realmente vivenciar a experiência durante a filmagem. Dizem que enquanto filmava Gangues de Nova York, ele raramente saía do personagem Bill The Butcher e falava com sotaque nova-iorquino o dia todo, além de afiar as facas do personagem durante o almoço. Já em Lincoln, cientes dessa fama, todos no set o chamavam de “Mr. President”, inclusive o diretor Steven Spielberg, que pela primeira vez abdicou do tradicional boné para trajar terno do século XIX no set para manter o clima. Aliás, seu esforço valeu a pena. O 3º Oscar de Day-Lewis foi o primeiro de um ator sob a direção de Spielberg.
Independente dos meios, Daniel Day-Lewis consegue criar performances notáveis. Essa quebra de recorde da Academia não veio por acaso. Claro que o número de Oscars conquistados não necessariamente significa que ele é o melhor ator de todos os tempos, afinal existem profissionais renomados que nunca ganharam como Richard Burton, Cary Grant e Montogomery Clift, ou os que venceram uma vez como o grande Laurence Olivier.
Daniel Day-Lewis não tem nenhum projeto engatilhado. Ele deve repousar para abandonar a personagem, mas não deve ser fácil depois dessa declaração: “I never, ever felt that depth of love for another human being that I never met. And that’s, I think, probably the effect that Lincoln has on most people that take the time to discover him… I wish he had stayed [with me] forever. (Eu nunca na vida senti tamanha profundidade de amor por outro ser humano que nunca conheci. E isso, acredito que provavelmente seja o efeito que Lincoln causava na maioria das pessoas que levaram tempo para descobri-lo… Gostaria que ele continuasse [comigo] para sempre”.
Jean Dujardin ajuda Jennifer Lawrence com o vestido que lhe causou um tombo na escada para o palco do Oscar (photo by justjared.com)
Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida)
A pergunta que vem logo em seguida é: “Não seria cedo demais um Oscar para Jennifer Lawrence?” Não tanto pela idade (22 anos), afinal existem atores que começaram na infância, mas pela inexperiência. Seu primeiro papel num filme, Garden Party, foi lançado em 2008, quando ela tinha 18; são 4 anos de cinema e 1 Oscar. Nada mal.
Alguns cinéfilos também manifestaram protesto referente à sua vitória nas redes sociais, alegando que a francesa Emmanuelle Riva (86 anos) não deve ter outra chance de vencer o Oscar, enquanto Lawrence ainda teria muitas décadas a frente para conseguir o prêmio. Se analisarmos sob esse aspecto, realmente
Como muitos sabem, alguns atores mirins e jovens demais tomaram caminhos errados depois do sucesso invadir suas vidas (como nos infelizes casos de Macaulay Culkin e Edward Furlong). Felizmente, Lawrence parece ter o mesmo código genético de Jodie Foster, com quem trabalhou em Um Novo Despertar (2011), tornando-a uma jovem atriz prodígio focada em seus objetivos.
Sua grande sacada até o momento tem sido alternar projetos grandes como Jogos Vorazes com filmes independentes como Inverno da Alma e este O Lado Bom da Vida, criando uma diversidade de papéis num equilíbrio perfeito entre trabalho e diversão. Outro ator que abusa desse equilíbrio é o alemão Michael Fassbender, que fez o profundo Shame e o blockbuster Prometheus, mas atuando com a devida seriedade.
Se a atriz mantiver essa boa frequência, deve crescer bastante nos próximos anos. Jennifer Lawrence tem Serena, Jogos Vorazes: Em Chamas e um projeto sem título com o diretor David O. Russell a serem lançados este ano. Para 2014, ela já assinou contrato para reviver a mutante Mística na sequência X-Men: Dias de um Futuro Esquecido.
Christoph Waltz com seu segundo Oscar sob direção de Quentin Tarantino (photo by zimbio.com)
Christoph Waltz (Django Livre)
Esta descoberta austríaca feita por Quentin Tarantino recebeu seu segundo Oscar de coadjuvante e se junta aos atores Dianne Wiest e Jack Nicholson, que receberam dois Oscars sob o comando do mesmo diretor: Woody Allen e James L. Brooks, respectivamente. Particularmente, não acreditava que ele venceria por seu papel apresentar semelhanças com o Coronel Hans Landa de Bastardos Inglórios (o personagem Dr. Schultz seria a versão do bem), e principalmente por ter ganhado o mesmo Oscar de coadjuvante no curtíssimo período de 3 anos. Contudo, fico feliz que Waltz tenha vencido. Era a melhor atuação entre os concorrentes.
Seu personagem Dr. King Schultz, que anda numa carroça com um dente atado a uma mola, tem os diálogos mais bem humorados que, com a desenvoltura do ator, cresce absurdamente na tela. Waltz atua com uma naturalidade que impressiona e suas falas parecem cantadas como uma música. Infelizmente, a Academia não indicou Samuel L. Jackson pelo mesmo filme, porque poderia haver uma disputa mais acirrada ainda.
Depois que trabalhou com Tarantino pela primeira vez, Christoph topou participar de três filmes de cachê alto: Besouro Verde, Os Três Mosqueteiros e Água Para Elefantes, todos lançados em 2011, mas também estava em Deus da Carnificina sob a direção do brilhante Roman Polanski, que gerou um interessante embate entre atores como Jodie Foster e Kate Winslet. Como tarefa de casa para os próximos anos, ele deverá provar ao mundo que consegue atuações do mesmo nível ao colaborar com outros profissionais além de Quentin Tarantino, que escreve papéis sob medida para o ator.
Christoph Waltz empresta sua voz para a animação Epic, de Chris Wedge, e seu talento no drama The Zero Theorem, de Terry Gilliam para 2013. E preparem-se que Waltz interpretará o político russo Mikhail Gorbachev, contracenando com Michael Douglas como Ronald Reagan em Reykjavik, provável lançamento para 2014.
Anne Hathaway ostenta seu Oscar (photo by movies.yahoo.com)
Anne Hathaway (Os Miseráveis)
Num ano considerado fraco entre as atrizes coadjuvantes, a vitória de Anne Hathaway já estava prevista logo no começo de janeiro, quando ganhou o Globo de Ouro. A receita pode ser resumida em: a) Emagrecer mais de 10 quilos para o papel; b) Ter seu cabelo cortado em cena; c) Monólogo cantado dramaticamente em close-ups. Sua breve atuação como Fantine no musical Os Miseráveis poderia ter durado mais, pois oferece um respiro ao público que se cansa de cantorias que soam banais nos 160 minutos do filme.
Hathaway, que passou a chamar atenção através do filme da Disney, O Diário de uma Princesa (2001), teve uma virada na carreira a partir de 2005. Apesar de ter atuado num papel menor no drama O Segredo de Brokeback Mountain, ela conseguiu provar que tinha potencial a ser explorado, e logo no ano seguinte, ela estrelou o sucesso mundial O Diabo Veste Prada. Claro que ficou meio de canto por causa do brilho de Meryl Streep como a chefe Miranda Priestly, mas já deixava de ser uma aspirante a estrela de Hollywood. Seu talento foi finalmente reconhecido pela Academia em 2009, quando fora indicada pelo drama O Casamento de Rachel. O diretor Jonathan Demme conseguiu forte comprometimento da atriz, que pesquisou clínicas de reabilitação pra viver sua personagem Kym.
Para interpretar Fantine, Anne bateu inúmeras candidatas como Amy Adams, Jessica Biel, Kate Winslet e Marion Cotillard, ajudada pelo protagonista Hugh Jackman com quem cantou no monólogo do Oscar 2009 a sátira ao filme Frost/Nixon. O burburinho de uma possível premiação no Oscar começou quando espalharam a notícia de que logo em seu primeiro teste, ela já havia deixado todos aos prantos ao cantar “I Dreamed a Dream”. À princípio, ela não tem o perfil de quem será vítima da maldição do Oscar, contanto que saiba escolher bem seus próximos projetos.
Anne Hathaway atualmente está dublando novamente a voz de sua personagem Jewel na sequência da animação Rio 2 (2014), mas terá um filme lançado este ano: a comédia Don Jon’s Addiction, dirigida pelo ator Joseph Gordon-Levitt.
O ÚNICO DIRETOR ASIÁTICO AGORA COM 2 OSCARS E UM SANDUÍCHE
Já tentou comer um lanche com uma mão? Ang Lee consegue essa proeza sem se desgrudar do seu Oscar (photo by inquisitr.com)
Ang Lee (As Aventuras de Pi)
Apesar de ter uma boa filmografia de Taiwan como Banquete de Casamento (1993), Ang Lee passou a trabalhar nos EUA a partir da adaptação de Jane Austen, Razão e Sensibilidade (1995), com o qual venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme – Drama, o Urso de Ouro em Berlim e o National Board of Review. Com isso, dirigiu mais duas produções americanas: Tempestade de Gelo (1997) e Cavalgada com o Diabo (1999), mas preferiu voltar à sua terra natal para filmar O Tigre e o Dragão (2000), que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar de direção e ainda levou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. Resultado: foi convidado a dirigir a adaptação da HQ do personagem verde da Marvel Comics.
Como Hulk (2003) foi considerado um fracasso principalmente pelo roteiro, Ang Lee pensou em se aposentar por acreditar que não tinha mais nada a acrescentar como artista. Ledo engano. Dois anos depois, quem diria que ele reencontraria o bom cinema numa história de homossexualismo no cenário americano de O Segredo de Brokeback Mountain? Primeiro Oscar de direção para um asiático. Mas desta vez, ele não caiu na mesma armadilha e logo retornou a Taiwan, onde filmou o drama de espionagem Desejo e Perigo, que venceu o Leão de Ouro em Veneza.
Quando o projeto de adaptar o romance Life of Pi, de Yann Martel foi considerado “infilmável” pelas recusas dos diretores M. Night Shyamalan, Jean-Pierre Jeunet e Alfonso Cuarón, o nome de Ang Lee surgiu por se tratar de um diretor que gosta de desafios. Trabalhando diretamente com efeitos de computação gráfica, as filmagens de As Aventuras de Pi se passaram muito em estúdios com green screen. O filme prima pelo aspecto técnico, que envolve desde os efeitos até a fotografia de Claudio Miranda, rendendo muitos elogios da crítica e finalizando com 11 indicações ao Oscar.
Com o deslize da Academia em ignorar Ben Affleck e Kathryn Bigelow na categoria de direção, Ang Lee acabou sendo o grande beneficiado, batendo o favoritismo de Steven Spielberg. O diretor que tem em seu currículo: 2 Globos de Ouro, 2 Ursos de Ouro (Festival de Berlim), 2 Leões de Ouro (Festival de Veneza) e agora, 2 Oscars. Fica faltando apenas a Palma de Ouro de Cannes entre os principais prêmios do cinema internacional.
Por enquanto, Ang Lee não está anexado a nenhum projeto, mas eu sugeriria um filme de terror ou filme de prisão que ainda faltam em sua carreira eclética.
ARGO FUCK YOURSELF!
Os produtores galãs de Argo (da esquerda para a direita): George Clooney (finjam que não conheçam), Ben Affeck e Grant Heslov (photo thefilmspy.tumblr.com)
George Clooney, Ben Affleck e Grant Heslov (Argo)
Depois de ser esnobado na categoria de direção, eu tinha certeza de que a Academia o compensaria com o prêmio de Melhor Filme, justamente por Ben Affleck também ter crédito como produtor ao lado de George Clooney e Grant Heslov. Nesse Oscar 2013, o nome mais comentado foi o de Ben Affleck. Como ignorar o diretor do filme mais premiado do ano? Ele também havia vencido o DGA (Directors Guild of America), que é o melhor parâmetro para o Oscar, com apenas sete divergências de vencedores. Mas já era tarde: Ben Affleck ficou de fora da disputa de direção, que ficou com Ang Lee.
Além de premiar o diretor de outra maneira, a Academia também reconhece a reviravolta vitoriosa dele. De roteirista premiado com o Oscar por Gênio Indomável em 1998 para ator-protagonista de filmes pouco expressivos nos anos seguintes até a consagração como diretor a partir do bom drama Medo da Verdade (2007). Apesar de ter desapontado como intérprete, Affleck estava aprendendo o ofício com diretores renomados como John Frankenheimer, Gus Van Sant e Kevin Smith. Recentemente, ele continuou sua aprendizado ao atuar sob o comando do veterano Terrence Malick em To the Wonder, que deve ser lançado este ano depois de passar em Veneza. Também atua no drama Runner, Runner, mas até o momento, sem projetos como diretor.
Quanto à dupla George Clooney e Grant Heslov, que começou a parceria de sucesso em 2005 com Boa Noite e Boa Sorte, está se especializando em projetos de cunho político. Em 2011, produziram Tudo Pelo Poder, sobre os bastidores de uma campanha política para presidente dos EUA, e agora com Argo, sobre o resgate de diplomatas políticos no Irã. George Clooney ainda atua este ano na ficção científica Gravidade e em seu drama sob sua direção, The Monuments Men. Ambos também produzem August: Osage County, que conta com Meryl Streep, Julia Roberts, Chris Cooper, Abigail Breslin e Benedict Cumberbatch.
INICIANTES E VETERANOS
Chris Terrio (Argo)
A vida de roteiristas já é mais complicada. Às vezes, um roteiro pode demorar mais de três anos por causa de pesquisas. O iniciante Chris Terrio acertou em cheio na escolha do projeto Argo, baseado num artigo da revista Wired. Ele pode não ter a mesma sorte no próximo roteiro, mas já demonstrou que pode transformar boas histórias em idéias que funcionam no universo mais visual do cinema. Numa das brigas mais acirradas da noite, Chris Terrio saiu vitorioso entre David O. Russell (O Lado Bom da Vida) e o dramaturgo Tony Kushner (Lincoln).
Chris Terrio segurando seu bebê (photo by theurbandaily.com)
Quentin Tarantino (Django Livre)
Conhecido por seus personagens incomuns e diálogos brilhantes, Quentin Tarantino sai fortalecido com seu segundo Oscar por Django Livre, superando ainda uma controvérsia boba originada pelo diretor Spike Lee, que criticou o uso do termo “nigger” (crioulo). O cinema americano deve muito à criatividade de Tarantino, especialmente na reciclagem que faz do mundo da cultura pop. Django Livre poderia ser um ótimo final para a segunda fase de sua carreira, que começou com os dois volumes de Kill Bill, passando por À Prova de Morte (2007) e Bastardos Inglórios (2009), que exalta o intenso elemento da vingança. Mas talvez ele retorne desnecessariamente ao universo da Noiva (Beatrix Kiddo) em Kill Bill: Vol. 3. Não sei se trata de uma pressão do produtor ou do estúdio, mas acredito que não haja nada a acrescentar à história de vingança contra Bill. Mas como já queimei a língua ao ter o mesmo argumento quando retomaram Toy Story 3 onze anos depois de Toy Story 2, podemos esperar tudo de Tarantino…
Quentin Tarantino com seu segundo Oscar. O primeiro foi em 1995 por Pulp Fiction – Tempo de Violência (photo by womanandhome.com)
MALDIÇÃO DUPLA
Adele (007 – Operação Skyfall)
Tenho uma teoria de que compôr a canção-tema de um filme da série de James Bond não é um bom negócio. Afinal, todos os cantores e bandas que contribuíram para os filmes acabaram no limbo, exceto os já consagrados Paul McCartney e Madonna.
Veja alguns exemplos de artistas que decaíram depois de 007: Carly Simon, Sheena Easton, Duran Duran, A-Ha, Tina Turner, Sheryl Crow, Garbage, Chris Cornell e apesar de ainda ser um pouco cedo pra declarar o limbo: Alicia Keys e Jack White, responsáveis pelo penúltimo filme 007 – Quantum of Solace.
Do outro lado, existe sempre a temerosa maldição do Oscar. Existem alguns vencedores que nunca mais fizeram nada de relevante, provavelmente por acreditarem que atingiram o ápice com o prêmio da Academia. Ainda na categoria de Canção Original, temos alguns nomes mais recentes que não vingaram mais depois do Oscar: Jorge Drexler, Annie Lennox, Eminem e Phil Collins.
Como a cantora Adele venceu finalmente o primeiro Oscar por uma canção de James Bond, a questão que fica é: uma maldição anularia a outra? Espero que resulte numa mistura positiva.
Adele foi a primeira a vencer um Oscar com uma canção-tema de James Bond (photo by gloss.abril.com.br)
Pôster oficial do Oscar 2013 no tradicional preto e dourado (art by oscars.org)
O Oscar 2013 pode entrar para a História. Como todos sabem, o mais importante prêmio da indústria cinematográfica tem sido cada vez mais tachado de previsível. Criado no final dos anos 20, o Oscar foi o primeiro a reconhecer talentos da Sétima Arte, criando uma competição saudável como pretexto para atrair mais público e novos artistas. No entanto, novos prêmios foram criados na década de 40 como o Globo de Ouro, concedido pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, e o BAFTA, outorgado pela Academia Britânica de Filmes e TV, acabando com o reinado supremo do Oscar.
Cientes da importância da estatueta da Academia, os prêmios criados posteriormente foram praticamente obrigados a divulgarem seus resultados antes, pois corriam sério risco de ficarem obsoletos. No cenário atual, como existem incontáveis prêmios e todos se apertam no calendário entre os meses de janeiro e fevereiro, quando chega a vez do Oscar, os vencedores já se tornaram previsíveis. Esse panorama claramente prejudicava o interesse do público em relação ao Oscar, fazendo com que os organizadores da Academia resolvessem adotar uma nova estratégia a partir deste ano.
Primeiramente, adeus aos votos impressos em papel. Além de ser ecologicamente melhor aceito e eliminar custos de envio, a votação por meio da internet possibilitaria adiantar a cerimônia do Oscar para mais cedo. Seguindo essa estratégia, conseguiram adiantar em três dias o anúncio dos indicações em relação à entrega dos Globos de Ouro, que era visto como parâmetro na escolha dos indicados. Se formos pensar em surpresa como objetivo, pode-se afirmar que o plano da Academia funcionou, pois além do vencedor do Globo de Ouro de direção Ben Affleck sequer ter sido indicado, apenas 14 dos 20 atores nomeados do SAG Awards (Screen Actors Guild) e apenas 2 dos 5 indicados ao DGA Awards (Directors Guild) passaram para a lista final do Oscar, contrariando as médias de 18 e 4 respectivamente.
Está vendo esses felizes funcionários? Estão todos no olho da rua (photo by npr.org)
Por outro lado, a ausência de alguns nomes consagrados de 2012 causaram enorme estardalhaço na mídia e entre cinéfilos revoltados ao redor do mundo. No topo, o fato de Ben Affleck ter ficado de fora da competição de diretores foi considerado um erro gritante. Alguns especialistas tentaram justificar sua exclusão por considerarem Affleck ainda muito imaturo para o cargo (Argo é seu terceiro filme na direção), já outros mais radicais acreditam que a ala conservadora da Academia estaria aplicando um castigo por erros passados como ator, especialmente em 2003 pelos fracassos de Demolidor – O Homem Sem Medo e Conduta de Risco. Por mais que a primeira dedução seja a mais plausível, o que dizer então da indicação do estreante Benh Zeitlin, de Indomável Sonhadora? Incoerência?
Ben Affleck dirigindo cena de Argo (photo by BeyondHollywood.com)
A categoria de direção foi o grande alvo de controvérsias. Havia três diretores praticamente garantidos na corrida: Kathryn Bigelow (A Hora Mais Escura), Tom Hooper (Os Miseráveis) e Affleck por terem sido indicados ao DGA (Directors Guild of America, o melhor parâmetro do Oscar, com apenas seis divergências de vencedor desde 1949), mas foram ignorados e substituídos por nomes menos comentados e premiados: David O. Russell (O Lado Bom da Vida), Michael Haneke (Amor) e Benh Zeitlin (Indomável Sonhadora). Assim como Ben Affleck, seu filme Argo também conquistou inúmeros prêmios da temporada, inclusive o PGA (Producers Guild of America), mas com a exclusão de seu diretor, as chances de vitória como Melhor Filme reduziram drasticamente, uma vez que a última produção a vencer o Oscar sem ter seu diretor indicado foi há 23 anos, quando Conduzindo Miss Daisy ganhou.
Nesse cenário polêmico, estariam os organizadores da Academia satisfeitos ou completamente arrependidos? Se realmente buscavam agitar os resultados e se desprenderem dos demais prêmios, a estratégia funcionou tão bem que pode se repetir nos anos seguintes, especialmente se esse burburinho refletir na audiência da cerimônia na TV, no dia 24 de fevereiro.
Particularmente, acredito que parte dos votantes da Academia vão tentar compensar essa mancada e eleger Argo como Melhor Filme, ainda mais que Ben Affleck receberia seu Oscar, mas como produtor do longa ao lado de George Clooney e Grant Heslov. Mas para isso acontecer, o filme precisa ganhar pelo menos mais dois prêmios, pois o último Melhor Filme com dois Oscars foi O Maior Espetáculo da Terra, de 1952. Montagem e Roteiro Adaptado são as melhores possibilidades para Argo.
Depois de se encantar com a história do rei britânico gago de O Discurso do Rei e de um ator fadado ao fracasso da era muda de Hollywood em O Artista, o Oscar volta a centrar suas atenções às sagas políticas americanas. Liderando com 12 indicações, o drama histórico sobre o presidente que aboliu a escravidão de Lincoln, junta-se ao resgate dos diplomatas americanos no Irã em 1980 de Argo e a busca por vingança pelos ataques terroristas do 11 de setembro de A Hora Mais Escura. Tematicamente, temos ligeira vantagem para Argo por mostrar Hollywood salvando vidas.
A Hora Mais Escura retrata a incansável caça ao líder terrorista Bin Laden (photo by BeyondHollywood.com)
Além do aspecto da votação eletrônica inédita e da mudança de calendário, este Oscar 2013 apresenta dois novos recordes curiosamente na mesma categoria: Melhor Atriz. Enquanto a francesa Emmanuelle Riva (Amor) se torna a mais velha indicada aos 85 anos, a americana estreante Quvenzhané Wallis (Indomável Sonhadora) se torna a mais jovem aos 9.
Vale ressaltar a força do lobby da distribuidora Weinstein Company. Seu fundador, Harvey Weinstein, que já liderou a Miramax, foi responsável por vitórias recentes do Oscar de Melhor Filme: Chicago (2002), Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), O Discurso do Rei (2010) e O Artista (2011), sem contar com o escandaloso ano em que Shakespeare Apaixonado bateu o favorito O Resgate do Soldado Ryan, e Roberto Benigni levou Melhor Ator por A Vida é Bela.
O produtor Thomas Langmann beija Harvey Weinstein por ter feito impecável lobby na vitória de O Artista no Oscar: Filme, Diretor, Ator, Trilha Musical Original e Figurino (photo by Getty Images in http://blogs.forward.com/)
Este ano, a Weinstein Company soma 17 indicações através de O Lado Bom da Vida, Django Livre, O Mestre e o norueguês Expedição Kon-Tiki. Seu lobby funcionou tão bem para a comédia O Lado Bom da Vida, que catapultou a produção como uma das favoritas ao lado de Argo e Lincoln, podendo surpreender nas categorias de direção e ator coadjuvante.
Em relação à cerimônia em si, esta será a primeira vez de Seth MacFarlane como host. Criador da série animada Uma Família da Pesada e American Dad!, ele enfrentará um grande desafio na carreira de qualquer comediante: apresentar um evento ao vivo transmitido para vários países. Sua escolha foi considerada uma surpresa, pois não tem experiência nesse tipo de programa (talvez sua maior tenha sido o Saturday Night Live pela rede de TV americana) e sua marca registrada, a boca suja, não teria lugar no comedido Oscar. Apesar de torcer por MacFarlane, existe a forte possibilidade de frustrar seu público fiel por motivos de censura e, ao mesmo tempo, não ter o tipo de humor que a platéia da cerimônia espera. Vale lembrar que o comediante pode subir ao palco também para receber o Oscar de Melhor Canção Original por “Everybody Needs a Best Friend” de Ted, interpretada por Norah Jones.
Seth MacFarlane em foto promocional do Oscar 2013. Ele também concorre em Melhor Canção Original (photo by filmequals.com)
Apesar de favoritismos e zebras, as apostas para o Oscar costumam criar momentos imprevisíveis, mas que vençam os melhores!
MELHOR FILME
Indicados:
– Amor (Amour)
– Argo (Argo)
– As Aventuras de Pi (Life of Pi)
– Django Livre (Django Unchained)
– A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty)
– Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild)
– O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook)
– Lincoln (Lincoln)
– Os Miseráveis (Les Misérables)
DEVE GANHAR:Argo DEVERIA GANHAR:A Hora Mais Escura ZEBRA:Amor
INJUSTIÇADOS:O Mestre e Moonrise Kingdom
Argo, de Ben Affleck
Amor
5 indicações: Filme, Diretor, Atriz (Emmanuelle Riva), Roteiro Original e Filme Estrangeiro
Amor, de Michael Haneke
Desde que venceu a Palma de Ouro em Cannes, Amor, uma co-produção entre França, Alemanha e Áustria, foi conquistando toda uma legião de críticos internacionais e acabou surpreendendo ao receber cinco indicações ao Oscar, inclusive para Filme e Diretor. O filme acompanha o casal de professores de música octagenários, cujos laços são postos à prova quando a mulher sofre um derrame. Trata-se de um belo porém doloroso retrato do amor no fim da vida. A veterana Emmanuelle Riva recebeu sua primeira indicação, tornando-se a atriz mais velha a concorrer aos 85 anos, porém a melhor aposta seria como Melhor Filme Estrangeiro por também disputar como Melhor Filme.
Argo
7 indicações: Filme, Ator Coadjuvante (Alan Arkin), Roteiro Adaptado, Montagem, Trilha Musical Original, Som e Efeitos Sonoros
Argo, de Ben Affleck
O terceiro longa dirigido pelo ator Ben Affleck se beneficiou da escolha de uma ótima história verídica. Quando seis diplomatas americanos ficam presos no Irã em plena revolução, um agente da CIA bola um plano que envolve a criação de um filme hollywoodiano falso para resgatá-los como uma equipe de filmagem. A grande credibilidade do trabalho de direção de Ben Affleck é a passagem imperceptível de gêneros. Começamos com um filme político, passando por uma comédia satírica, terminando com um thriller. Argo recebeu todos os prêmios possíveis da indústria cinematográfica: Globo de Ouro, SAG (Screen Actors Guild), PGA (Producers Guild), DGA (Directors Guild) e o BAFTA. Contudo, a Academia resolveu deixar Affleck de lado na categoria de direção, o que comprometeria suas chances como Melhor Filme, afinal, a última produção premiada sem ter seu diretor sequer indicado foi Conduzindo Miss Daisy em 1990.
As Aventuras de Pi
11 indicações: Filme, Diretor, Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Direção de Arte, Trilha Musical Original, Canção Original, Som, Efeitos Visuais e Efeitos Sonoros
As Aventuras de Pi, de Ang Lee
A adaptação do livro de Yann Martel era considerada “infilmável” por muitos realizadores, mas felizmente, o diretor Ang Lee adora um bom desafio. As Aventuras de Pi narra a história de um rapaz indiano que perde toda sua família num naufrágio e se vê obrigado a dividir o bote salva-vidas com um tigre de bengala chamado Richard Parker. Visualmente, Ang Lee entrega um filme muito bonito, que se apoia em efeitos de computação gráfica imperceptíveis. E procura se aprofundar em questões filosóficas aproveitando-se de que o protagonista segue três religiões: hinduísta, católica e muçulmana. Contudo, o filme suaviza a importância da religião em relação à obra original de Martel, provavelmente, visando uma censura bem mais light: PG (a partir de 10 anos). Embora não tenha estatísticas de favorito, o filme conseguiu 11 indicações, ficando atrás apenas de Lincoln. A produção deve faturar alguns prêmios técnicos como Efeitos Visuais.
Ao lado de A Hora Mais Escura, Django Livre é um dos filmes mais comentados pelas polêmicas. O cineasta Spike Lee, muito conhecido por realizar filmes com tema ético e étnico, criticou diretamente Quentin Tarantino por usar o “termo racista” nigger (crioulo), o que estaria desrespeitando seus antepassados de escravos provindos do continente africano. O mais inacreditável dessa crítica é que Spike Lee nem se deu ao trabalho de ver Django Livre! Como fazer um filme sobre esse período sem utilizar o “termo racista” utilizado pelos senhores para se referirem a seus escravos? A sociedade americana atual, mergulhada no sistema politicamente correto, ignora o fato de que cinema de ficção não precisa se apoiar em valores éticos e na veracidade dos fatos históricos. Se nem alguns documentários ficam presos a essa meta, por que deveriam as ficções? Além disso, Django Livre repete o mesmo feito de Bastardos Inglórios, ao dar uma chance às vítimas do passado se vingarem de seus carrascos. Porém, quando se tratam de judeus castigando os nazistas, aí não tem problema nenhum. Falta de critério também pesa nessa polêmica. Infelizmente, Quentin Tarantino também não foi indicado como Melhor Diretor, mas tem boas chances como Melhor Roteiro Original.
A Hora Mais Escura
5 indicações: Filme, Roteiro Original, Montagem, Som e Efeitos Sonoros
A Hora Mais Escura, de Kathryn Bigelow
O novo filme de Kathryn Bigelow sobre a caça a Bin Laden começou bem a temporada de premiações, vencendo o National Board of Review e o New York Film Critics Circle, mas então começou a controvérsia da tortura. Um membro da Academia chamado David Clennon alegou em carta aberta que não votaria no filme porque faz apologia à tortura, em seguida, foi a vez dos senadores John McCain e Dianne Feinstein apoiarem a mesma causa. Com receio de que esses boatos pudessem acarretar em desentendimentos e processos, Bigelow e o roteirista Mark Boal contestaram pela mídia, sustentando que a tortura fez parte da busca e que não poderia ser ignorada no filme. O documentarista Michael Moore defendeu o filme ao dizer que causa justamente o efeito contrário: “faz você odiar a tortura”. Toda essa controvérsia talvez tenha explicação: o acesso exclusivo e “supostamente proibido” aos arquivos da operação da CIA da caça a Bin Laden revoltou o partido Republicano, que também acreditava em conspiração devido a estréia do filme coincidir com as eleições americanas em novembro, servindo como propaganda dos adversários Democratas. Por causa dessa briga, o lançamento teve de ser adiado para dezembro. Definitivamente, A Hora Mais Escura não é para o público comum, porque cuida de verdades que não são fáceis de digerir, especialmente para americanos republicanos e patriotas. Obviamente, a tortura aplicada por autoridades americanas foi varrida para debaixo do tapete, afinal qual governo se orgulharia disso? E como a Academia costuma fugir de polêmicas (lembrando aqui o apelativo Crash – No Limite batendo o franco-favorito O Segredo de Brokeback Mountain sobre cowboys homossexuais), A Hora Mais Escura deve permanecer no escuro.
Indomável Sonhadora
4 indicações: Filme, Diretor, Atriz (Quvenzhané Wallis) e Roteiro Adaptado
Indomável Sonhadora, de Benh Zeitlin
Que trajetória fenomenal de Indomável Sonhadora! Um filme com baixíssimo orçamento, mesmo para uma produção independente, conquista o prêmio máximo do Festival de Sundance e o Camera d’Or (reconhecimento técnico de Cannes) e termina com quatro indicações ao Oscar. Para criar o universo de seu filme, o jovem diretor Benh Zeitlin tomou a cidade de New Orleans como cenário depois que o furacão Katrina devastou o local. A pequena Quvenzhané Wallis, descoberta entre mais de quatro mil candidatas, dá vida à protagonista Hushpuppy como uma força da natureza. Coerente com a humildade do projeto, escalaram Dwight Henry para interpretar seu pai Wink. Ele fora descoberto por ser dono de uma padaria próxima às locações, entretanto, como não tinha nenhuma ambição em atuar, só aceitou depois que o diretor se comprometeu a realizar os ensaios nos horários de madrugada enquanto fazia os pães. Indomável Sonhadora explora a imaginação fértil de uma criança para encarar a dura realidade e a ausência da mãe. Embora seja muito nova, Wallis pode ser uma grande surpresa se os votos se dividirem na categoria.
Após o sucesso de crítica de O Vencedor (2010), David O. Russell decidiu adaptar o livro homônimo de Matthew Quick na tentativa de mostrar a seu filho, que sofre de transtorno bipolar como o protagonista Pat, que a doença não o torna menos humano. Muito semelhante à estrutura de uma comédia romântica, a história chega a ser igualmente previsível, mas a direção leve de Russell guia tão bem seus atores que a trama quase fica irrelevante. Para isso, começou usando outro de seus dons: escalar bem seu elenco. Apostou em Bradley Cooper para viver o personagem bipolar, Jennifer Lawrence para a viúva Tiffany, e resgatou Robert De Niro de sua zona de conforto. Com o poder do lobby da distribuidora Weinstein Company, o filme pode surpreender bastante, minando as chances de Lincoln e Argo. Vencedora do SAG, Jennifer Lawrence é a franco-favorita por sua versatilidade aos 22 anos.
Lincoln
12 indicações: Filme, Diretor, Ator (Daniel Day-Lewis), Ator Coadjuvante (Tommy Lee Jones), Atriz Coadjuvante (Sally Field), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Direção de Arte, Figurino, Trilha Musical Original e Som
Lincoln, de Steven Spielberg
Lincoln é uma aula de História americana, mas lecionada por um professor com pouca didática. Apesar de bem escrito, o roteiro de Tony Kushner presume que seu público conheça o histórico de todos os personagens e a importância de cada um na votação da 13ª emenda contra a escravidão. Spielberg também peca por levar o assunto de forma extremamente séria (apenas o personagem de Tommy Lee Jones consegue extrair um pouco de humor) e limitar o filme tecnicamente a planos e contra-planos infindáveis de diálogos. O trabalho de direção de Spielberg ficou pesado, faltando equilíbrio para relatar esse importante momento da História e, por isso, seu terceiro Oscar talvez fique para uma próxima oportunidade. Para quem gosta e conhece a filmografia do diretor, sofre sério risco de desapontamento. Provavelmente, a melhor e única chance esteja nas mãos do ator Daniel Day-Lewis que, como sempre, impressiona por viver a figura imponente do político Abraham Lincoln. Se ganhar, será o terceiro Oscar do ator e a primeira atuação oscarizada sob direção de Spielberg.
Os Miseráveis
8 indicações: Filme, Ator (Hugh Jackman), Atriz Coadjuvante (Anne Hathaway), Direção de Arte, Figurino, Maquiagem, Canção Original e Som
Os Miseráveis, de Tom Hooper
O romance de Victor Hugo é um clássico da Literatura. E as adaptações musicais vem conquistando o público desde os anos 80. Mas apesar de todo esse sucesso, essa adaptação ficou muito aquém do esperado. Só o fato do filme ser um musical não significa que todo e qualquer diálogo deva ser musicado. O tão importante elemento da música deveria elevar a cena, mas acaba se tornando num mero artifício banal utilizado à exaustão. Muito popular nos anos 50 e 60, o gênero musical ficou ultrapassado nas décadas seguintes, contudo, com a coragem de alguns cineastas como Baz Luhrmann, Lars von Trier e Rob Marshall, voltou a encantar platéias no início dos anos 2000. Felizmente, o filme de Tom Hooper tem Victor Hugo e as canções clássicas por trás, caso contrário, poderia ser um fracasso gritante. Do elenco, Hugh Jackman (Jean Valjean), Samantha Barks (Eponine), Daniel Huttlestone (Gavroche) e claro, Anne Hathaway (Fantine) se destacam através de suas cordas vocais. Hathaway cantou “I Dreamed a Dream” com o coração na mão e deve levar seu primeiro Oscar.
MELHOR DIRETOR
Indicados:
– Michael Haneke (Amor)
– Benh Zeitlin (Indomável Sonhadora)
– Ang Lee (As Aventuras de Pi)
– Steven Spielberg (Lincoln)
– David O. Russell (O Lado Bom da Vida)
DEVE GANHAR: David O. Russell (O Lado Bom da Vida) DEVERIA GANHAR: Ang Lee (As Aventuras de Pi) ZEBRA: Benh Zeitlin (Indomável Sonhadora)
INJUSTIÇADOS: Ben Affleck (Argo) e Kathryn Bigelow (A Hora Mais Escura)
David O. Russell (centro) dirige a cena de O Lado Bom da Vida na lanchonete (photo by indiewire.com)
Este ano, a categoria de Direção foi a mais discutida desde que foram anunciadas as indicações. Dois dos diretores mais premiados da temporada sequer figuraram na lista: Ben Affleck (Argo) e Kathryn Bigelow (A Hora Mais Escura). Ambos foram indicados pelo Directors Guild of America (Affleck ganhou), mas foram substituídos por Michael Haneke (Amor) e Benh Zeitlin (Indomável Sonhadora).
Com suas exclusões dos favoritos, tudo indica que há uma espécie de complô para o terceiro Oscar para Spielberg. No papel, o retorno à glória do diretor soa muito bem, especialmente por se tratar de um filme sobre um dos presidentes mais queridos dos EUA, mas para quem viu Lincoln, sabe que não se trata de um dos seus melhores trabalhos. Temos uma série de discursos, reuniões e audiências em fóruns, mas sem o brilho de um Sidney Lumet de 12 Homens e uma Sentença, tanto que Spielberg sequer foi indicado ao BAFTA, prêmio da Academia Britânica. E como ele já tem dois Oscars na carreira (por A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan), David O. Russell passa a ganhar força na campanha em sua segunda indicação.
Em O Lado Bom da Vida, ele consegue extrair boa atuação de Bradley Cooper, acredita na jovem Jennifer Lawrence para viver uma viúva, resgata um pouco do talento esquecido de Robert De Niro e explora o pouco tempo de tela de Jacki Weaver, tornando-se o primeiro filme depois de Reds (1981), de Warren Beatty, a ter seus atores indicados em todas as categorias de atuação. Seu filme anterior, O Vencedor, rendeu dois Oscars para Christian Bale e Melissa Leo, ambos coadjuvantes.
Com as ausências de Affleck e Bigelow, alguns especialistas não descartam um improvável triunfo do taiwanês Ang Lee. Primeiro diretor asiático a vencer o Oscar de direção por O Segredo de Brokeback Mountain, Lee também tem em seu currículo laureado um Urso de Ouro, dois Leões de Ouro, dois DGAs e dois Globos de Ouro. Tem como uma das grandes qualidades a versatilidade de temas: culinária, história em quadrinhos, kung fu, espionagem, western, Woodstock, famílias suburbanas entre outros. Seu grande mérito aqui é concretizar um projeto difícil que foi recusado por M. Night Shyamalan, Alfonso Cuarón e Jean-Pierre Jeunet, criando um visual arrebatador.
MELHOR ATOR
Indicados:
– Bradley Cooper (O Lado Bom da Vida)
– Daniel Day-Lewis (Lincoln)
– Hugh Jackman (Os Miseráveis)
– Joaquin Phoenix (O Mestre)
– Denzel Washington (O Vôo)
DEVE GANHAR: Daniel Day-Lewis (Lincoln) DEVERIA GANHAR: Joaquin Phoenix (O Mestre) ZEBRA: Bradley Cooper (O Lado Bom da Vida)
INJUSTIÇADOS: John Hawkes (As Sessões) e Denis Lavant (Holy Motors)
Daniel Day-Lewis em Lincoln (photo by theartsdesk.com)
95% da população cinéfila deve votar em Daniel Day-Lewis, afinal, é um dos melhores atores de sua geração e venceu o SAG por incorporar o presidente Abraham Lincoln num momento crucial da História americana. Seus métodos de interpretação são tão profundos e rigorosos que ele permanece no personagem entre um take e outro. No set de Lincoln, era chamado de “Mr. President”. Quais as chances de ele não ganhar?
Bem, se Day-Lewis confirmar seu favoritismo, este será seu terceiro Oscar de Melhor Ator (principal). E NENHUM ator conseguiu tamanha proeza. Só para citar profissionais mais recentes: Tom Hanks, Jack Nicholson e Sean Penn têm dois. E para a Academia quebrar um novo recorde, seria necessário um milagre.
O único que pode realmente derrubar o favoritismo de Daniel Day-Lewis é Joaquin Phoenix. Sim, o mesmo ator que anunciara aposentadoria em 2008 para se tornar um rapper! Felizmente, mudou de idéia e construiu esse ótimo personagem veterano de guerra, alcóolatra e de comportamento explosivo de O Mestre. Sua performance impressiona pelo esforço físico e uma sensação de completa desordem, fazendo com que seja o oposto necessário para contrabalancear a serenidade do líder da Cientologia, vivido por Philip Seymour Hoffman. Sua vitória seria uma grata surpresa, ainda mais porque Phoenix teve um momento de rebeldia à la Marlon Brando e George C. Scott ao dizer para a mídia: “O Oscar é uma besteira. Nunca mais quero passar por aquela experiência de novo”. A tática já funcionou antes: tanto Brando como Scott ganharam o Oscar sem marcarem presença na cerimônia.
Apesar da competição estar acirrada, John Hawkes poderia ser um dos indicados. Ele interpreta um homem com seus dias contados e que busca perder sua virgindade com uma terapeuta do sexo (Helen Hunt) em As Sessões. Praticamente se valendo apenas das expressões faciais, ele consegue demonstrar extrema fragilidade física, inclusive pela voz mais quebradiça. Infelizmente, os votantes da ala conservadora da Academia não apoiaram o sexo casual que o filme levanta, assim como a cota de atores franceses ser superior a um (Emmanuelle Riva), pois Denis Lavant merecia reconhecimento pelo ótimo Holy Motors. No filme de Leos Carax, que esteve presente em Cannes, ele interpreta nada menos que onze personagens diferentes em situações que beiram o absurdo, mas com muita propriedade e criatividade.
MELHOR ATRIZ
Indicadas:
– Jessica Chastain (A Hora Mais Escura)
– Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida)
– Emmanuelle Riva (Amor)
– Quvenzhané Wallis (Indomável Sonhadora)
– Naomi Watts (O Impossível)
DEVE GANHAR: Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida) DEVERIA GANHAR: Jessica Chastain (A Hora Mais Escura) ZEBRA: Naomi Watts (O Impossível)
INJUSTIÇADA: Marion Cottilard (Ferrugem e Osso)
Jennifer Lawrence em O Lado Bom da Vida (photo by CineMagia.ro)
Nesta categoria, temos duas atrizes americanas em extrema ascensão. Jennifer Lawrence ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz – Musical ou Comédia e o SAG Award, enquanto Jessica Chastain levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz – Drama. Ambas estão em sua segunda indicação ao Oscar e têm grandes chances de vitória. Porém Lawrence tem ligeira vantagem por seu papel em O Lado Bom da Vida ser bem cativante. Tiffany, a personagem que ela defende, tem forte personalidade e ganha ares excêntricos por seu passado recente com medicamentos de depressão por causa da morte do marido. Provavelmente, a maioria dos diretores não conseguiriam enxergar a jovem atriz como uma viúva, mas ela convence com bastante naturalidade. Além disso, Jennifer Lawrence estrela a nova franquia de sucesso Jogos Vorazes, tornando-se uma figura muito querida pela indústria e fãs da série.
Justamente o oposto, Jessica Chastain interpreta uma personagem cujas emoções precisam ser escondidas por ser uma agente de operações da CIA em A Hora Mais Escura. Sua personagem Maya sente-se predestinada a encontrar Bin Laden nos mais de 10 anos de busca incansável, o que lhe traz muito sofrimento ao testemunhar sessões de tortura e muita solidão por excesso de trabalho. Esse papel poderia ser facilmente masculinizado, mas Chastain consegue dar um toque de feminilidade sem perder a compostura da agente.
Com tamanha competitividade, os votos podem se dividir, permitindo que uma terceira candidata chegue atropelando. Esta poderia ser a atriz mais velha a ser indicada, a veterana francesa Emmanuelle Riva (Amor), seguida de perto pela mais jovem, a pequena Quvenzhané Wallis (Indomável Sonhadora). Recentemente, Riva ganhou o prêmio BAFTA, enquanto Wallis recebeu incontáveis prêmios de Revelação, podendo ser o único Oscar do filme independente.
Com a presença de Emmanuelle Riva na categoria, a conterrânea Marion Cottilard perdeu espaço. Sua performance dramática em Ferrugem e Osso vinha sendo bem recebida desde Cannes, mas preferiram a fraca atuação de Naomi Watts em O Impossível.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Indicados:
– Alan Arkin (Argo)
– Robert De Niro (O Lado Bom da Vida)
– Philip Seymour Hoffman (O Mestre)
– Tommy Lee Jones (Lincoln)
– Christoph Waltz (Django Livre)
DEVE GANHAR: Robert De Niro (O Lado Bom da Vida) DEVERIA GANHAR: Christoph Waltz (Django Livre) ZEBRA: Alan Arkin (Argo)
INJUSTIÇADO: Samuel L. Jackson (Django Livre)
Robert De Niro (centro) em O Lado Bom da Vida (photo by CineMagia.ro)
Fato número 1: Todos os cinco indicados desta categoria já ganharam o Oscar anteriormente. Nesse sentido, o ator que mais leva desvantagem é o austríaco Christoph Waltz (Django Livre), pois vencera há três anos por Bastardos Inglórios. E, discordem ou não, apesar de sua performance ser excelente, lembra o jeito culto e a excelente dicção do Coronel Hans Landa. Waltz levou o Globo de Ouro em janeiro, mas foi Tommy Lee Jones quem levou o SAG por Lincoln. Seu personagem serve como ótimo alívio cômico para os 160 minutos de pura politicagem burocrática do filme de Steven Spielberg.
Contudo, como Hollywood adora resgatar grandes nomes do passado e Robert De Niro não recebe uma indicação há 20 anos, ele pode se tornar a grande surpresa da noite. Em O Lado Bom da Vida, ele interpreta Pat Sr., que é viciado em jogos, prende-se demais às superstições e se arrepende por ter deixado seu filho mais novo de lado. Existe uma cena, que deve passar como clipe de sua atuação, em que seu personagem chora umas lágrimas de forma tímida. E isso deve bastar para a Academia lhe conceder seu terceiro Oscar (coadjuvante por O Poderoso Chefão – Parte II em 1975, e ator por Touro Indomável em 1981) a fim de incentivá-lo a buscar projetos mais ambiciosos como ator. Por muito tempo, De Niro ficou preso e limitado a caricaturas de si mesmo como na trilogia Entrando Numa Fria. Vale lembrar que a categoria costuma render prêmios para atores consagrados como James Coburn, Michael Caine e Christopher Plummer.
Se não vivêssemos em tempos tão politicamente corretos, Samuel L. Jackson estaria indicado por Django Livre e com as melhores chances de ganhar, mas seu personagem é um negro extremamente racista com os demais negros na era escravista dos EUA. Talvez seja sua melhor interpretação da carreira, mas as questões “éticas” atrapalharam sua campanha para o Oscar.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Indicadas:
– Amy Adams (O Mestre)
– Sally Field (Lincoln)
– Anne Hathaway (Os Miseráveis)
– Helen Hunt (As Sessões)
– Jacki Weaver (O Lado Bom da Vida)
DEVE GANHAR: Anne Hathaway (Os Miseráveis) DEVERIA GANHAR: Anne Hathaway (Os Miseráveis) ZEBRA: Helen Hunt (As Sessões)
INJUSTIÇADA: Ann Dowd (Compliance)
Anne Hathaway em Os Miseráveis (photo by BeyondHollywood.com)
Logo depois que as indicações foram anunciadas, parecia que o duelo final seria entre Anne Hathaway e Sally Field. Mas Hathaway se tornou uma unanimidade na temporada: vencedora do Globo de Ouro, SAG e BAFTA. Mesmo com pouco tempo de tela, sua performance como Fantine praticamente se resume à cena em que canta aos prantos “I Dreamed a Dream”, conseguindo comover o público.
Além de demonstrar talento através de suas cordas vocais, Anne Hathaway perdeu mais de dez quilos para o papel. Sem contar que cortaram seu cabelo em cena, pois sua personagem vende seu cabelo. Tamanho esforço para um papel menor que valorizou bastante sua participação deve lhe render uma estatueta do Oscar. Outro fator curioso que colabora para sua vitória é que sua mãe interpretou a mesma Fantine no musical da Broadway.
E o retorno de Helen Hunt pode ser interpretado como uma segunda chance na carreira. Depois de ganhar como Melhor Atriz em 1998 por Melhor é Impossível, nunca mais escolheu projetos que pudessem mantê-la em destaque. Em As Sessões, ela interpreta uma terapeuta do sexo e aparece nua, coragem que pode já ter sido recompensada pela indicação, mas que pode ter maquiado a real intenção da Academia de desfazer outra maldição do Oscar.
Uma reclamação muito pertinente neste Oscar é a falta de atores mais desconhecidos. Tradicionalmente, a Academia “planta” um candidato que não esteve presente nas listas das demais premiações como a própria Jacki Weaver em 2011. Este ano, essa vaga poderia ter sido preenchida por Ann Dowd por sua ótima performance no independente Compliance, no qual faz uma gerente de fast-food que se vê obrigada a interrogar uma de suas funcionárias devido a uma denúncia anônima.
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Indicados:
– Michael Haneke (Amor)
– Quentin Tarantino (Django Livre)
– John Gatlins (O Vôo)
– Wes Anderson, Roman Coppola (Moonrise Kingdom)
– Mark Boal (A Hora Mais Escura)
DEVE GANHAR: Quentin Tarantino (Django Livre) DEVERIA GANHAR: Mark Boal (A Hora Mais Escura) ZEBRA: Wes Anderson e Roman Coppola (Moonrise Kingdom)
INJUSTIÇADO: Rian Johnson (Looper: Assassinos do Futuro)
Quentin Tarantino no set de Django Livre (photo by filmstage.com)
Embora tenha sido alvo dos comentários de preconceito racial do diretor Spike Lee, o roteiro de Quentin Tarantino consegue extrair excelente humor negro (sem trocadilhos) da época escravista dos EUA como a sequência hilária da Ku Klux Klan. Como de costume, seus personagens possuem diálogos memoráveis e em situações inusitadas. Como tem poucas chances de levar Melhor Filme, Tarantino deve levar o Oscar de Roteiro Original, o segundo de sua carreira.
Trancado a sete chaves, o roteiro de A Hora Mais Escura sofreu alterações drásticas, pois o objetivo inicial era questionar o sumiço do líder terrorista Bin Laden, mas depois que ele foi encontrado e eliminado, o roteirista Mark Boal reescreveu praticamente outro filme com novos questionamentos. Valendo-se também de consulta dos arquivos secretos da CIA sobre a operação, o filme sofreu duras críticas de americanos politicamente corretos por expôr a tortura para conseguir pistas sobre o paradeiro de Bin Laden. Como a Academia evita esse tipo de polêmica mais dura e Mark Boal ganhou recentemente por Guerra ao Terror, suas chances caem um pouco.
Infelizmente, o romance Moonrise Kingdom ficou limitado a essa única categoria. Poderia ter sido reconhecido também em Direção de Arte, Figurino, Trilha Musical, Montagem e Filme. Porém o filme tem grandes chances no Independent Spirit Awards, que premia filmes independentes. E embora o roteiro de Looper: Assassinos do Futuro tenha vencido o National Board of Review, o gênero de ficção científica que envolve viagens no tempo não costuma ser unanimidade nesta categoria.
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Indicados:
– Chris Terrio (Argo)
– Benh Zeitlin, Lucy Alibar (Indomável Sonhadora)
– David Magee (As Aventuras de Pi)
– Tony Kushner (Lincoln)
– David O. Russell (O Lado Bom da Vida)
DEVE GANHAR: Chris Terrio (Argo) DEVERIA GANHAR: Chris Terrio (Argo) ZEBRA: David Magee (As Aventuras de Pi)
INJUSTIÇADO: Stephen Chbosky (As Vantagens de ser Invisível)
Chris Terrio em lançamento de Argo (photo by zimbio.com)
Como a briga de Roteiro Adaptado inclui os principais concorrentes do Oscar, o vencedor daqui pode definir o Melhor Filme do ano. À princípio, o dramaturgo Tony Kushner levaria vantagem por concorrer pelo drama histórico Lincoln e ser um prestigioso vencedor do prêmio Pulitzer pela peça Angels in America que foi adaptada para a TV em 2003, afinal o Oscar premiaria um consagrado autor. Contudo, nessa reta final, um democrata americano expôs um erro histórico em seu roteiro. No filme, dois representantes de seu Estado, Connecticut, votam contra a abolição da escravidão em 1865, sendo que foram à favor da emenda. Apesar de Kushner admitir o erro e pedir desculpas publicamente, esse erro pode ter minado suas chances, ainda mais agora que o filme de Spielberg está em queda.
Assim, a vitória do estreante Chris Terrio pode ajudar Argo a ter mais sustentação como Melhor Filme (já que seu diretor sequer foi indicado), ao lado do prêmio de Montagem. Contudo, se Spielberg levar Melhor Diretor, David O. Russell deve levar o Oscar de consolação por O Lado Bom da Vida.
Muito elogiado pela crítica, o drama juvenil sobre um universitário acolhido por dois veteranos de As Vantagens de ser Invisível só ficou de fora porque a categoria estava sobrecarregada de fortes concorrentes.
MELHOR FOTOGRAFIA
Indicados:
– Seamus McGarvey (Anna Karenina)
– Robert Richardson (Django Livre)
– Claudio Miranda (As Aventuras de Pi)
– Janusz Kaminski (Lincoln)
– Roger Deakins (007 – Operação Skyfall)
DEVE GANHAR: Claudio Miranda (As Aventuras de Pi) DEVERIA GANHAR: Roger Deakins (007 – Operação Skyfall) ZEBRA: Seamus McGarvey (Anna Karenina)
INJUSTIÇADO: Mihai Malaimare Jr. (O Mestre)
Visual exuberante de As Aventuras de Pi gerado pela fotografia de Claudio Miranda com CG (photo by cinemagia.ro)
O diretor de fotografia Claudio Miranda (photo by arri.com)
Apesar do chileno Claudio Miranda ser relativamente novo na indústria do cinema (passou a trabalhar com cinema desde 2005), sua fotografia ficou marcada pelo equilíbrio do bom uso de efeitos de computação gráfica em O Curioso Caso de Benjamin Button e Tron: O Legado. Em As Aventuras de Pi, essa característica de seu trabalho atinge seu ápice, pois cerca de 70% do filme é filmado em green screen (fundo verde a serem inseridos os efeitos em pós-produção). Casos mais recentes que continham muitos efeitos e que ganharam o Oscar, A Origem e Avatar, sustentam seu favoritismo.
A fotografia de Robert Richardson também imprime visual exuberante ao western Django Livre, porém como já tem três Oscars e o último ganhou no ano anterior por A Invenção de Hugo Cabret, suas chances reduzem bastante. Do outro lado, o inglês Roger Deakins já foi indicado 10 vezes e nunca ganhou. Seu trabalho em 007 – Operação Skyfall eleva o filme de ação a um nível artístico. A beleza das cenas do cassino de Shangai e da mansão da Escócia em chamas já valem o ingresso.
Incluiria a fotografia de Mihai Malaimare Jr. de O Mestre na competição. Utilizando-se de filme 65mm, ele consegue passar uma sensação de irreal pertinente ao mundo fora de controle de Freddie Quell, assim como as idéias surreais de Lancaster Dodd. Mihai tem sido o braço direito dos últimos filmes de Francis Ford Coppola como Tetro.
MELHOR MONTAGEM
Indicados:
– William Goldenberg (Argo)
– Tim Squyres (As Aventuras de Pi)
– Michael Khan (Lincoln)
– Jay Cassidy, Crispin Struthers (O Lado Bom da Vida)
– William Goldenberg, Dylan Tichenor (A Hora Mais Escura)
DEVE GANHAR: William Goldenberg (Argo) DEVERIA GANHAR: William Goldenberg (Argo) ZEBRA: Jay Cassidy, Crispin Struthers (O Lado Bom da Vida)
INJUSTIÇADO: Andrew Weisblum (Moonrise Kingdom)
Momento de tensão em Argo (photo by BeyondHollywood.com)
William Goldenberg, recebendo seu BAFTA por Argo (photo by latinospost.com)
Normalmente, o prêmio de montagem é concedido a filmes de ação como Bullitt, Rocky – Um Lutador e o recente O Ultimato Bourne por conseguirem criar tensão no uso eficiente de cortes. Em outros casos, a montagem premiada vem de histórias interligadas que criam um senso de unidade como em Traffic e Crash – No Limite. Em Argo, temos bons exemplos das duas situações, pois lida com vários personagens, costurando suas cenas e oferecendo tensão na parte final do longa. Além disso, William Goldenberg também concorre por A Hora Mais Escura, o que poderia ser interpretado como um prêmio para dois filmes.
Muito do humor ácido de Wes Anderson provém da montagem de Andrew Weisblum em Moonrise Kingdom. Seus cortes secos chegam em ótimo timing e ditam o tom desta fábula sobre duas crianças apaixonadas. Se fosse para optar por uma comédia, poderiam incluir esta montagem e deixar O Lado Bom da Vida de lado.
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
Indicados:
– Sarah Greenwood, Katie Spencer (Anna Karenina)
–Dan Hennah, Ra Vincent, Simon Bright (O Hobbit: Uma Jornada Inesperada)
– Eve Stewart, Anna Lynch-Robinson (Os Miseráveis)
– David Gropman, Anna Pinnock (As Aventuras de Pi)
– Rick Carter, Jim Erickson (Lincoln)
DEVE GANHAR: Sarah Greenwood, Kate Spencer (Anna Karenina) DEVERIA GANHAR: Sarah Greenwood, Kate Spencer (Anna Karenina) ZEBRA: Dan Hennah, Ra Vincent, Simon Bright (O Hobbit: Uma Jornada Inesperada)
INJUSTIÇADO: Hugh Bateup, Uli Hanisch (A Viagem)
A direção de arte de Anna Karenina recria a Rússia do século XIX: precisão nas paredes e chão (photo by cinemagia.ro)
Sarah Greenwood no set de Anna Karenina (photo by btlnews.com)
Nos últimos anos, o prêmio de Direção de Arte tem destoado do vencedor do Melhor Filme e costuma valorizar filmes de temática fantasiosa como Avatar e Alice no País das Maravilhas. Entretanto, como a direção de arte do representante de fantasia O Hobbit: Uma Jornada Inesperada praticamente recicla o design da trilogia de O Senhor dos Anéis, o Oscar pode recompensar o belo trabalho de recriação da Rússia do século XIX de Anna Karenina. Trata-se da quinta colaboração de Sarah Greenwood com o diretor Joe Wright, desde Orgulho & Preconceito (2005), e sua quarta indicação ao Oscar sem vitórias até o momento.
Negligenciado em excesso pela crítica americana, a ficção científica A Viagem que busca algum sentido para a vida acabou excluída de quase todas as premiações, contudo o design de produção chama a atenção por conseguir cobrir passado, presente e futuro com cenários convincentes e inovadores. Mesmo com chances quase nulas de vitória, já serviria como um sopro de criatividade nesta categoria de muitas recriações e reformulações.
MELHOR FIGURINO
Indicados:
– Jacqueline Durran (Anna Karenina)
– Paco Delgado (Os Miseráveis)
– Joanna Johnston (Lincoln)
– Eiko Ishioka (Espelho, Espelho Meu)
– Colleen Atwood (Branca de Neve e o Caçador)
INJUSTIÇADO: Kym Barrett, Pierre-Yves Gayraud (A Viagem)
Um dos belos figurinos de Anna Karenina (photo by cinemagia.ro)
A figurinista Jacqueline Durran (à dir) ao lado da atriz Keira Knightley com figurino de Anna Karenina (photo by elle.com)
Muitas vezes, a categoria de figurino se tornou apenas uma contribuição no número de Oscars do Melhor Filme do ano, o que beneficiaria Joanna Johnston por Lincoln, mas como a competição está bem acirrada, a qualidade deve falar mais alto. Assim, Jacqueline Durran tem leve vantagem também por ter sido indicada em outras duas oportunidades por colaborações com o diretor Joe Wright em Orgulho & Preconceito e Desejo e Reparação, mas nunca ter levado.
Contudo, não será surpresa se Eiko Ishioka for anunciada vencedora, pois seus figurinos brilham muito mais do que os atores na adaptação dos Irmãos Grimm de Branca de Neve e os Sete Anões, o fraco Espelho, Espelho Meu, e este seria seu segundo e último Oscar, pois morreu em janeiro desse ano. Ela venceu em 1993 por Drácula de Bram Stoker.
Abrangendo figurinos de eras diferentes e criando roupas inovadoras futurísticas, o trabalho dos figurinistas Kym Barrett e Pierre-Yves Gayraud em A Viagem poderiam preencher a vaga do razoável figurino de Lincoln.
MELHOR MAQUIAGEM
Indicados:
– Howard Berger, Peter Montagna, Martin Samuel (Hitchcock)
– Peter King, Rick Findlater, Tami Lane (O Hobbit: Uma Jornada Inesperada)
– Lisa Westcott, Julie Dartnell (Os Miseráveis)
DEVE GANHAR:O Hobbit: Uma Jornada Inesperada DEVERIA GANHAR:O Hobbit: Uma Jornada Inesperada ZEBRA:Hitchcock
INJUSTIÇADO:Homens de Preto 3
Novos personagens do universo de J.R.R. Tolkien permitiram trabalho novo de maquiagem (photo by cinemagia.ro)
Um dos milhares trabalhos de maquiagem de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (photo by digititles.com)
Sem a presença do mestre Rick Baker, responsável por criações como Um Lobisomem Americano em Londres e O Grinch, a competição perde muito de seu prestígio. Com uma penca de anões para colocar barbas, bigodes e narigões, o trabalho de maquiagem de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada claramente é o melhor e mais trabalhoso dos três indicados. Talvez o pobre trabalho de maquiagem de Os Miseráveis ganhe para elevar o número de Oscars, mas não por méritos próprios.
Provavelmente por se tratar de uma sequência com poucas chances de vitória, o terceiro filme sobre os Homens de Preto acabou sendo ignorado pela comissão. Só a criação do vilão grotesco Boris the Animal já valeria uma indicação na categoria.
MELHOR TRILHA MUSICAL ORIGINAL
Indicados:
– Dario Marianelli (Anna Karenina)
– Alexandre Desplat (Argo)
– Mychael Danna (As Aventuras de Pi)
– John Williams (Lincoln)
– Thomas Newman (007 – Operação Skyfall)
DEVE GANHAR: Mychael Danna (As Aventuras de Pi) DEVERIA GANHAR: Mychael Danna (As Aventuras de Pi) ZEBRA: Dario Marianelli (Anna Karenina)
INJUSTIÇADO: Jonny Greenwood (O Mestre)
Mychael Danna trabalhando na trilha de As Aventuras de Pi com o diretor Ang Lee (photo by deadline.com)
Nos últimos anos, os vencedores desta categoria trabalharam com algum instrumento diferente ou inusitado. Por exemplo, o compositor A. R. Rahman utilizou a cítara indiana para criar a trilha romântica de Quem Quer Ser um Milionário?, e Dario Marianelli explorou pertinentemente o som das teclas de uma máquina escrever para formar o ritmo agitado de Desejo e Reparação. Este ano, a trilha mais inusitada entre os indicados pertence a Mychael Danna. Ele explora alguns instrumentos indianos como o Santoor de 108 cordas e o Sarangi, que originou o violino, além de acordões franceses e mandolins para contar essa jornada fantástica de Pi.
Não que a música erudita de Anna Karenina seja inferior – muito pelo contrário! – mas como o compositor ganhou recentemente, suas chances devem ser mínimas. Seguindo esta lógica, se a Academia quiser terminar o jejum de vitórias, Alexandre Desplat (Argo) acumula 5 indicações e Thomas Newman (007 – Operação Skyfall) está em sua 11ª indicação sem nunca ter ganhado.
E esta é a segunda vez que Jonny Greenwood acaba ignorado pela Academia. Em O Mestre, sua segunda colaboração com o diretor Paul Thomas Anderson, ele cria uma trilha estranha que dita o tom do filme. Sua música parece dizer ao espectador que nada daquilo que estamos vendo é, de fato, real, sensação reforçada pela alternância de filmes 35mm para 65mm que o diretor aplica.
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Indicados:
– “Before My Time”, de J. Ralph (Chasing Ice)
– “Suddenly”, de Alain Boublil, Claude-Michel Schönberg e Herbert Kretzmer (Os Miseráveis)
– “Pi’s Lullaby”, de Mychael Danna e Bombay Jayshri (As Aventuras de Pi)
– “Everybody Needs a Best Friend”, de Walter Murphy e Seth MacFarlane (Ted)
– “Skyfall”, de Adele Adkins e Paul Epworth (007 – Operação Skyfall)
DEVE GANHAR: “Skyfall”, de Adele Adkins e Paul Epworth (007 – Operação Skyfall) DEVERIA GANHAR: “Skyfall”, de Adele Adkins e Paul Epworth (007 – Operação Skyfall) ZEBRA: “Before my Time”, de J. Ralph (Chasing Ice)
INJUSTIÇADO: “Dull Tool”, de Fiona Apple (Bem-vindo aos 40)
Adele e 007 – Operação Skyfall: grandes chances de premiação (foto por twentyfourbit.com)
Se a canção de Adele já era favorita antes, agora com o anúncio de que haverá uma homenagem aos 50 anos de James Bond e que Shirley Bassey, a diva que cantou três temas de Bond: “Goldfinger”, “Diamonds Are Forever” e “Moonraker” se apresentará no palco pela primeira vez, então pode-se considerar certo este Oscar para 007 – Operação Skyfall. Existiria uma ligeira possibilidade da música de Ted, “Everybody Needs a Best Friend”, ganhar por ser interpretada pela talentosa Norah Jones, mas após ganhar todos os prêmios da categoria, incluindo o Globo de Ouro, ninguém tira o reconhecimento merecido de Adele. Esta é apenas a quarta canção indicada ao Oscar de toda a franquia de sucesso de 007. As anteriores foram “Live and Let Die”, por Paul McCartney (007 – Viva e Deixe Morrer), “Nobody Does it Better”, por Carly Simon (007 – O Espião que me Amava), e “For Your Eyes Only”, por Sheena Easton (007 – Somente Para Seus Olhos).
Com uma canção que destrincha os problemas de um relacionamento através da letra, mas mantendo o estilo musical de Fiona Apple, a canção “Dull Tool” da comédia Bem-vindo aos 40 seria uma boa pedida para incluir um nome de peso à lista de apresentações, mas a palavra “fuck” usada na canção seria um empecilho na transmissão ao vivo.
MELHOR SOM
Indicados:
– John T. Reitz, Gregg Rudloff, José Antonio García (Argo)
– Andy Nelson, Mark Paterson, Simon Hayes (Os Miseráveis)
– Ron Bartlett, Doug Hemphill, Drew Kunin (As Aventuras de Pi)
– Andy Nelson, Gary Rydstrom, Ron Judkins (Lincoln)
– Scott Millan, Greg P. Russell, Stuart Wilson (007 – Operação Skyfall)
DEVE GANHAR:Os Miseráveis DEVERIA GANHAR:007 – Operação Skyfall ZEBRA:Lincoln
INJUSTIÇADO:A Hora Mais Escura
Além do som das armas e canhões, o som de Os Miseráveis se vale pela captação da cantoria do elenco no set de filmagem (photo by BeyondHollywood.com)
A inédita técnica de gravação de som para musicais de Os Miseráveis deve ser recompensada. Contrariando o sistema de playback, toda a cantoria dos atores foi gravada em set de filmagem e mesmo vulnerável a ruídos externos de cenários e locações, o resultado ficou muito bom. Claro que se a voz de Russell Crowe colaborasse, o som seria mais agradável aos ouvidos.
Normalmente, o que dita a regra desta categoria é saber qual o filme mais barulhento do ano. Pela obviedade, 007 – Operação Skyfall seria o eleito, e o trabalho de mixagem de som de A Hora Mais Escura certamente estaria indicado.
MELHORES EFEITOS SONOROS
Indicados:
– Erik Aadahl, Ethan Van der Ryn (Argo)
– Wylie Stateman (Django Livre)
– Eugene Gearty, Philip Stockton (As Aventuras de Pi)
– Per Hallberg, Karen M. Baker (007 – Operação Skyfall)
– Paul N.J. Ottosson (A Hora Mais Escura)
DEVE GANHAR:A Hora Mais Escura DEVERIA GANHAR:007 – Operação Skyfall ZEBRA:Argo
INJUSTIÇADO:Os Vingadores
Efeitos sonoros de A Hora Mais Escura são compostos de tiros, explosões e queda de helicóptero (photo by BeyondHollywood.com)
Só a sequência da destruição da mansão Skyfall de 007 – Operação Skyfall com granadas já deveria render um Oscar de efeitos sonoros, mas talvez a Academia se sinta na obrigação de compensar A Hora Mais Escura. Em 2007, o filme de Clint Eastwood, Cartas de Iwo Jima, estava indicado a Melhor Filme e Diretor, mas acabou levando apenas Efeitos Sonoros. Acontece.
Na questão de criação de sons, o blockbuster Os Vingadores já seria candidato pela sequência de destruição de Nova York pela invasão alienígena. Pelo visto, o sucesso nas bilheterias não assegurou mais de uma indicação ao filme.
MELHORES EFEITOS VISUAIS
Indicados:
– Janek Sirrs, Jeff White, Guy Williams, Daniel Sudick (Os Vingadores)
– Joe Letteri, Eric Saindon, David Clayton, R. Christopher White (O Hobbit: Uma Jornada Inesperada)
– Bill Westenhofer, Guillaume Rocheron, Erik De Boer, Donald Elliott (As Aventuras de Pi)
– Richard Stammers, Trevor Wood, Charley Henley, Martin Hill (Prometheus)
– Cedric Nicolas-Troyan, Phil Brennan, Neil Corbould, Michael Dawson (Branca de Neve e o Caçador)
DEVE GANHAR:As Aventuras de Pi DEVERIA GANHAR:As Aventuras de Pi ZEBRA:Prometheus
INJUSTIÇADO:John Carter – Entre Dois Mundos
O tigre de bengala Richard Parker de As Aventuras de Pi é um dos feitos por computação gráfica (photo by OutNow.CH)
Antes rotulado como “infilmável”, os efeitos visuais possibilitaram a própria existência de As Aventuras de Pi. Além de boa parte do roteiro se passar num bote salva-vidas, temos animais que alternam entre reais e feitos por computação gráfica. O tigre de bengala Richard Parker impressiona pelos movimentos e o brilho dos olhos do animal.
O fracasso nas bilheterias e com a crítica esgotou qualquer possibilidade dos efeitos visuais de John Carter – Entre Dois Mundos figurar nessa lista. Por outro lado, os cinco finalistas representam bem os melhores efeitos de 2012.
MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Indicados:
– Amor, de Michael Haneke (Áustria)
– War Witch, de Kim Nguyen (Canadá)
– No, de Pablo Larraín (Chile)
– O Amante da Rainha, de Nikolaj Arcel (Dinamarca)
– ExpediçãoKon-Tiki, de Joachim Rønning e Espen Sandberg (Noruega)
DEVE GANHAR:Amor, de Michael Haneke (Áustria) DEVERIA GANHAR:Amor, de Michael Haneke (Áustria) ZEBRA:Expedição Kon-Tiki, de Joachim Rønning, Espen Sandberg (Noruega)
INJUSTIÇADO:Holy Motors, de Leos Carax (França)
Michael Haneke dirige lendas do cinema francês em Amor (photo by OutNow.CH)
Depois que o sucesso francês Intocáveis caiu fora da disputa, ficou muito mais fácil o representante austríaco Amor levar o prêmio. Além disso, tem se tornado uma regra constante o filme estrangeiro que for indicado a Melhor Filme acabar levando Melhor Filme Estrangeiro. Aconteceu com A Vida é Bela e O Tigre e o Dragão. Embora a categoria seja imprevisível às vezes, Amor não deve perder esse prêmio.
Infelizmente, a França optou por Intocáveis. Se tivesse escolhido Holy Motors para ser o filme representante, a crítica americana poderia apoiar sua indicação. Por se tratar de um filme inovador que abusa do non-sense, suas chances de vitória seriam baixas, mas a imprevisibilidade da categoria poderia atuar novamente a seu favor.
MELHOR ANIMAÇÃO
Indicados:
– Valente (Brave)
– Frankenweenie (Frankenweenie)
– ParaNorman (ParaNorman)
– Piratas Pirados! (The Pirates! In an Adventure with Scientists!)
–Detona Ralph (Wreck-it Ralph)
DEVE GANHAR:Frankenweenie DEVERIA GANHAR:Frankenweenie ZEBRA:Piratas Pirados!
INJUSTIÇADO: The Painting (Le Tableau)
Como a criatura Frankenstein, a animação Frankenweenie é um bom misto de homenagens a filmes clássicos (photo by OutNow.CH)
Se formos levantar a contagem de prêmios da categoria, Detona Ralph sai na frente com sua história metalinguística sobre personagens de video-game, mas como não se trata de uma unanimidade, o nome de Tim Burton pode dar a vitória para Frankenweenie. A animação em preto-e-branco revisita o passado do diretor ao retomar o roteiro de um curta-metragem de mesmo nome de 1984, produzido pela mesma produtora Disney. Burton concorre pela segunda vez como Melhor Animação. Em 2006, foi indicado por A Noiva Cadáver, mas perdeu para Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais. Esta pode ser sua chance de ouro para ser aplaudido e ovacionado por vários colaboradores presentes na cerimônia.
Ao contrário dos outros anos, as animações européias (excluindo o Reino Unido) e asiáticas ficaram de fora. O francês The Painting tem um visual magnífico com bela palheta de cores, que traria um frescor artístico à predominância de animações da Disney e Pixar.
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Indicados:
– 5 Broken Cameras
– The Gatekeepers
– How to Survive a Plague
– The Invisible War
– Searching for Sugar Man
DEVE GANHAR:Searching for Sugar Man DEVERIA GANHAR:The Gatekeepers ZEBRA:The Invisible War
INJUSTIÇADO:Central Park Five
Documentário sobre o músico Rodriguez, Searching for Sugar Man (photo by OutNow.CH)
O documentário Searching for Sugar Man levou os principais prêmios da temporada e não deve ficar sem o Oscar, já que aborda um tema tocante e simples. No filme, dois fãs da música dos anos 70 procuram saber o paradeiro do artista musical Rodriguez na África do Sul. Foi premiado com o BAFTA, National Board of Review, DGA e PGA, e recentemente levou o WGA e o Eddie award, reconhecimentos de roteiro e montagem, respectivamente.
Já o polêmico The Invisible War vai na direção oposta ao tocar num assunto tabu: o estupro de militares femininas por seus colegas de profissão. Igualmente controverso, o também investigativo documentário Central Park Five seria um importante indicado nesta competição. O caso verídico aconteceu em 1989, quando cinco jovens (negros e latinos) foram condenados pelo estupro de uma mulher branca no Central Park. Depois de passarem de 6 a 13 anos na prisão, um estuprador em série confessou o crime, confirmando que a sentença se mostrou uma combinação trágica entre tensão racial, a polícia querendo mostrar serviço e a cobertura sensacionalista da mídia.
MELHOR CURTA-DOCUMENTÁRIO
Indicados:
– Inocente
– Kings Point
– Mondays at Racine
– Open Heart
– Redemption
DEVE GANHAR:Mondays at Racine DEVERIA GANHAR:Mondays at Racine ZEBRA:Inocente
Mondays at Racine: comovente história sobre câncer (photo by andsoitbeginsfilms.com)
O premiado curta Mondays at Racine já conquista pelo tema: Toda terceira segunda-feira do mês, duas irmãs carecas abrem seu salão para atenderem vítimas diagnosticadas com câncer.
MELHOR CURTA-METRAGEM
Indicados:
– Asad
– Buzkashi Boys
– Curfew
– Dood van een Schaduw
– Henry
DEVE GANHAR:Curfew DEVERIA GANHAR: Curfew ZEBRA:Henry
Curfew: curta premiado com história de descobertas
Entre os indicados, Curfew é o mais premiado até o momento. Num momento muito delicado de sua vida, Richie recebe uma ligação da irmã para cuidar de sua sobrinha por algumas horas.
MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
Indicados:
– Adam and Dog
– Fresh Guacamole
– Head Over Heels
– Paperman
– The Simpsons: The Longest Daycare
DEVE GANHAR:Paperman DEVERIA GANHAR:Fresh Guacamole ZEBRA TOTAL:The Simpsons: The Logest Daycare
Paperman: uma bela e mágica história de amor à primeira vista (photo by cineol.net)
Paperman tem todos os méritos de ganhar o Oscar, pois oferece uma história muito simples e ingênua sobre amor à primeira vista. Além disso, por ter sido produzido pela Disney, o curta teve muito mais exposição ao público por ter sido exibido antes da animação Detona Ralph nos cinemas. Já Fresh Guacamole ensina a receita do típico prato mexicano através da técnica do stop-motion de forma muito criativa. Vale a pena conferir todos os cinco indicados nessa categoria pelo link abaixo:
Acompanhe o artigo também pelo site da Revista O Grito! nos links abaixo
* Em convite especial, este artigo foi escrito juntamente para o site Revista O Grito!, parceiro do UOL e o portal NE10. Agradecimentos especiais a Paulo Floro. Confira nos links abaixo:
Ben Affleck ostenta seu prêmio do DGA por Argo (photo by deccanchronicle.com)
Um grande e temido pesadelo aconteceu para a Academia: Ben Affleck levou o DGA award (Directors Guild of America) por Argo. O terceiro longa dirigido pelo ator Ben Affleck arrebatou todos os prêmios que podia: Globo de Ouro (Filme – Drama e Diretor), Critic’s Choice Award (Filme e Diretor), SAG award (Melhor Elenco – crédito para o diretor), o PGA award (Melhor Filme) e agora o DGA, que tem as melhores estatísticas de vitória garantida no Oscar. Bom, não desta vez…
Com essa vitória de Affleck, será o sétimo raríssimo caso em que o diretor vencedor do DGA não levará o Oscar, uma vez que nem foi indicado. Segue abaixo a ilustre lista dos seis casos anteriores:
Em 1968: Anthony Harvey ganhou o DGA Award por O Leão no Inverno, enquanto Carol Reed levou o Oscar por Oliver!
Em 1972: Francis Ford Coppola por O Poderoso Chefão (DGA) e Bob Fosse por Cabaret (Oscar).
Em 1985: Steven Spielberg por A Cor Púrpura (DGA),e Sydney Pollack por Entre Dois Amores (Oscar).
Em 1995: Ron Howard por Apollo 13 (DGA), e Mel Gibson por Coração Valente (Oscar).
Em 2000: Ang Lee por O Tigre e o Dragão (DGA) e Steven Soderbergh por Traffic (Oscar).
Em 2002: Rob Marshall por Chicago (DGA) e Roman Polanski por O Pianista (Oscar).
O fato de Ben Affleck não ter sido sequer indicado tem causado forte burburinho na mídia especializada e entre incontáveis cinéfilos que gostaram de Argo. Alguns mais radicais acreditam que a Academia, em seu grande conservadorismo, resolveu ignorar o diretor pelo seu passado nebuloso como ator. Como vocês sabem, Affleck nunca soube escolher bem seus projetos como ator, principalmente em 2003, quando naufragou em Demolidor – O Homem Sem Medo e Contato de Risco, ao lado da então esposa, Jennifer Lopez. Outros acreditam em lambança mesmo. Essa estratégia mal formulada de querer surpreender a todos foi um tiro no próprio pé da Academia.
O vencedor de 2012, Michel Hazanavicius (O Artista), entrega o prêmio a Ben Affleck (photo by metro.co.uk)
Essa segunda teoria fica mais sólida com as ausências absurdas de mais dois indicados ao DGA: Kathryn Bigelow (A Hora Mais Escura) e Tom Hooper (Os Miseráveis). Ok, nada contra os substitutos David O. Russell, Michael Haneke e Benh Zeitlin. Todos têm seus devidos créditos, mas algo deu errado nas contas finais. Ou talvez não. Se a Academia estiver disposta a desvencilhar sua imagem de previsível de uma vez por todas, 2013 pode ser o ano um. É bem possível que as surpresas do Oscar não parem nos indicados, mas também nos vencedores. Você, que aposta em bolões e promoções, fique atento às surpresas. Alguns nomes considerados garantidos como Daniel Day-Lewis e Anne Hathaway podem cair do cavalo. Mas enfim, são apenas suposições.
Os indicados a Melhor Diretor no DGA da esquerda para a direita: Tom Hooper, Ben Affleck, Kathryn Bigelow, Ang Lee e Steven Spielberg (photo by metro.co.uk)
Se Ben Affleck tivesse sido indicado ao Oscar, mas não levasse, não seria uma anormalidade, pois Argo é apenas seu terceiro filme. Talvez algumas pessoas que não votaram em Affleck tivessem boas intenções no sentido de não querer atrapalhar a ascensão dele com uma maldição do Oscar. Apesar do bom trabalho da mistura de gêneros que Argo foi, Ben Affleck ainda tem um extenso campo para amadurecer e entregar novos filmes excepcionais. Existem muitos artistas (diretores, atores e roteiristas) que interrompem sua escalada de sucesso porque acreditam que o Oscar foi seu ápice profissional, e que nada que façam em seguida pode ser melhor. Como cinéfilo, espero que essa dedução a respeito de Affleck se torne válida para que ele consiga dar a volta por cima.
Milos Forman (photo by HollywoodReporter.com)
O DGA awards escolheu Milos Forman como vencedor do Conjunto da Obra. Trabalhando como diretor desde os anos 60, o tcheco Forman criou obras polêmicas que entraram para a história do Cinema. O musical hippie Hair (1979), o drama de época Na Época do Ragtime (1981) que relata os conflitos raciais de Nova York no início do século XX, e a biografia do controverso Larry Flynt, que acreditava em liberdade de expressão ao publicar pornografia em O Povo Contra Larry Flynt (1996). Levou dois merecidos Oscars de Direção com os clássicos Um Estranho no Ninho (1975) e Amadeus (1984). Já no final da carreira, retornou ao seu país de origem e dirigiu outro musical: Dobre placená procházka (2009).
Segue lista completa dos vencedores:
Feature Film: Ben Affleck (Argo) Documentary Feature: Malik Bendjelloul (Searching for Sugar Man) Dramatic Series: Rian Johnson (Breaking Bad: Fifty-One) Comedy Series: Lena Dunham (Girls – piloto) Movie for Television or Mini-Series: Jay Roach (Virada no Jogo) Musical Variety Program: Glenn Weiss (66th Annual Tony Awards) Reality Program: Brian Smith (Master Chef – episódio #305) Children’s Program: Paul Hoen (Let It Shine) Daytime Serial: Jill Mitwell (One Life to Life: Between Heaven and Hell) Commercial: Alejandro González Iñárritu (Best Job)
Malik Bendjelloul recebendo o DGA de documentarista por Searching for Sugar Man do vocalista do Foo Fighters, Dave Grohl (photo by http://www.rte.ie)
As cartas do Oscar 2013 já começam a se posicionar
Para alguns, talvez seja cedo demais para falar de favoritos ao Oscar 2013, afinal as indicações só saem no dia 15 de janeiro, duas semanas depois daquela ressaca descomunal de fim de ano. Mas com as previsões de estréia acertadas, muitos filmes já lançaram seus trailers e chamam a atenção por se encaixarem nas preferências da Academia.
Na maior parte dos casos, os diretores são os grandes responsáveis por elevar os filmes ao patamar de “material de Oscar”. Só de ouvir o nome de Steven Spielberg ou Peter Jackson, muitos especialistas no assunto já os colocam na corrida antes mesmo de verem seus filmes. Em 2013, além de ambos poderem puxar várias indicações com suas mega-produções Lincoln e O Hobbit – Uma Jornada Inesperada, podem ser concorrentes na categoria de Melhor Diretor, ao lado de outros nomes consagrados como Paul Thomas Anderson, Ang Lee e Quentin Tarantino. À primeira vista, a safra de produções parece bem promissora, e como o número de indicados a Melhor Filme expandiu desde 2010, a Academia tem ótimas condições de agradar os cinéfilos ao reconhecê-los.
A lista de filmes de 2012 poderia ser ainda maior, mas a Warner Bros. resolveu adiar dois fortes candidatos para o ano seguinte: a adaptação do romance de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann, e Caça aos Gângsteres, de Ruben Fleischer. No primeiro caso, os chefões do estúdio acharam que o novo filme de Luhrmann, que conta com o trio Leonardo Di Caprio, Carey Mulligan e Tobey Maguire, tinha potencial maior para atingir o público juvenil do verão americano (que ocorre a partir de maio), então pretendem aguardar para arrecadar mais nas bilheterias. Já o segundo, apresentava uma sequência em que quatro gângsteres abrem fogo dentro de uma sala de cinema, remetendo ao recente massacre no cinema de Colorado durante sessão de estréia de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. https://cinemaoscareafins.wordpress.com/2012/07/21/12-mortos-em-sessao-de-batman-o-cavaleiro-das-trevas-ressurge/Resultado: o trailer foi retirado do ar, o lançamento foi reagendado para 2013 e o filme teve de ser reescrito para eliminar a sequência agora perturbadora.
Banner de Caça aos Gângsteres com a data original de lançamento. Fica para 2013.
Apesar dessas baixas, o Oscar 2013 promete. Temos também a aguardada adaptação musical do clássico literário de Victor Hugo, Les Miserables (Os Miseráveis), dirigido por Tom Hooper (vencedor do Oscar por O Discurso do Rei); o novo filme de época de Joe Wright (Desejo e Reparação) trazendo novamente o romance de Leo Tolstoy, Anna Karenina, estrelado por Keira Knightley (pra variar); e a polêmica caça ao Bin Laden trazida às telas por Kathryn Bigelow (vencedora do Oscar por Guerra ao Terror) em Zero Dark Thirty.
Seguem alguns fortes candidatos para Melhor Filme no Oscar 2013 (em ordem alfabética):
ANNA KARENINA
Dir: Joe Wright
Anna Karenina: Esse casaco diz “Quero um Oscar de Figurino”
A Academia adora filmes de época. E vale lembrar que Direção de Arte e Figurino são dois prêmios que esses filmes costumam abocanhar na cerimônia. Sarah Greenwood e Jacqueline Durran, responsáveis por esses departamentos respectivamente, têm 90% de chance de serem indicadas. Embora o diretor Joe Wright não tenha sido reconhecido, seu filme Desejo e Reparação (2007) foi indicado a 7 Oscars, incluindo Melhor Filme. Suas chances este ano aumentam por contar com o grande dramaturgo e roteirista Tom Stoppard, oscarizado por Shakespeare Apaixonado (1998) e seu elenco, que tem nomes em alta como Keira Knightley, Jude Law, Olivia Williams, Emily Watson e Kelly Macdonald.
Apesar da obra de Leo Tolstoy, Anna Karenina, já ter sido adaptada várias vezes para o cinema, nunca chegou ao Oscar com força. Talvez esta seja uma oportunidade de ouro (com o perdão do trocadilho), mas devo ressaltar que na categoria de atuação, se Greta Garbo e Vivien Leigh, que já deram vida à protagonista não foram sequer indicadas, quais as chances de Knightley? Particularmente, gostaria de ver Olivia Williams indicada, pois já merecia pela ótima performance em O Escritor Fantasma (2010). Além desse trabalho, ela tem outro trabalho chamativo este ano: Hyde Park on Hudson, no qual interpreta Eleanor Roosevelt.
ARGO (Argo)
Di: Ben Affleck
Argo: Ben Affleck trabalha em cena de atores
Quem diria que Ben Affleck, aquele ator abaixo da média que protagonizou aquela bomba chamada Contato de Risco (2003) com Jennifer Lopez, iria se tornar um bom diretor? Já calou a boca de muita gente ao dirigir dois bons dramas: Medo da Verdade (Gone Baby Gone, 2007) e Atração Perigosa (The Town, 2010). Felizmente, assim como Clint Eastwood e Robert Redford (atores que se tornaram diretores), ele aprendeu o ofício com bons profissionais do ramo: Gus van Sant, Kevin Smith e John Frankenheimer. Depois de seu sucesso, Affleck recebeu várias propostas para comandar projetos de estúdio, mas recusou todas e isso tem se tornado sua maior virtude: focar em projetos de qualidade. Desta vez, optou em contar uma história mais política, sobre o resgate de refugiados americanos no Irã.
Como Affleck já dirigiu duas performances indicadas ao Oscar (Amy Ryan e Jeremy Renner), escalar um bom elenco não tem sido nenhuma dificuldade. Para Argo, ele reuniu uma trupe talentosa: Bryan Cranston (da série de TV Breaking Bad), John Goodman, o vencedor do Oscar Alan Arkin e Kyle Chandler, podendo resultar em novas indicações. E por trás das câmeras, mais nomes conhecidos pela Academia, começando por George Clooney como produtor, o compositor Alexandre Desplat (já indicado 4 vezes), o fotógrafo Rodrigo Prieto (uma indicação), o montador William Goldenberg (2 indicações) e até a figurinista Jacqueline West (2 indicações). Continuando nesse caminho, uma indicação para Melhor Diretor para Ben Affleck seria mera questão de tempo.
AS AVENTURAS DE PI (The Life of Pi)
Dir: Ang Lee
As Aventuras de Pi: Fantasia baseada em best-seller que conta com a credibilidade de Ang Lee
Depois de conquistar seu Oscar de Melhor Diretor por O Segredo de Brokeback Mountain, o taiwanês Ang Lee dirigiu 2 filmes: Desejo e Perigo (2007), um ótimo romance na China da 2ª Guerra Mundial, que arrebatou o Leão de Ouro em Veneza, e Aconteceu em Woodstock (2009), um drama mais modesto que chegou a ser indicado à Palma de Ouro. O que fazer quando um cineasta atinge seu ápice? Aposta em projetos mais pessoais. Ang Lee se identificou com a obra de Yann Martel, sobre um rapaz indiano, Pi, que sobrevive a um naufrágio e divide um bote com animais selvagens: uma hiena, um orangotango, uma zebra e um tigre de bengala.
Como se trata de uma fantasia, suas chances em categorias técnicas são boas, principalmente em Fotografia (Claudio Miranda, diretor de fotografia de O Curioso Caso de Benjamin Button), Direção de Arte (David Gropman, de As Regras da Vida), Montagem (Tim Squyres, de O Tigre e o Dragão) e dá pra incluir também Roteiro Adaptado (David Magee, de Em Busca da Terra do Nunca), além, claro, de uma nova indicação a Ang Lee, que seria sua terceira como Melhor Diretor. Resta saber se o filme receberá impulso das bilheterias.
BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE (The Dark Knight Rises)
Dir: Christopher Nolan
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge: bilheteria astronômica, mas não garante destaque no Oscar
Eu, Winston, não indicaria Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge para Melhor Filme do Oscar. MAS, como a segunda parte da trilogia, Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008) foi o grande responsável pelo aumento de número dos indicados na categoria, não duvido nada a Academia premiar (leia-se compensar) este novo filme de Christopher Nolan. Pra quem não se recorda, em 2009, apesar de ter o total de 8 indicações, o filme ficou de fora nas principais categorias: Melhor Diretor e Melhor Filme, fato que muitos atribuem a culpa ao filme sobre nazismo (sempre ele) O Leitor, de Stephen Daldry.
Embora essa legislação do Oscar tenha mudado por motivos comerciais, a ausência do filme de Nolan na época repercutiu muito mal e fez com que a Academia temesse uma drástica redução na audiência da cerimônia. Tentaram remediar com a vitória póstuma de Heath Ledger como ator coadjuvante, mas essa ferida ainda ecoa entre os fãs do herói e dos filmes. Este já seria um motivo para que esta terceira parte figurasse entre os indicados a Melhor Filme, mas e como o Oscar se posicionaria em relação àquela sessão de Colorado, que culminou na morte de 12 espectadores?
Indicar o filme como homenagem também ou isso seria um desrespeito? Na teoria, Batman não tem nada a ver com o incidente. Aliás, até o ator Christian Bale foi lá visitar os sobreviventes no hospital. Mas na prática, essa paranóia pode influenciar nos resultados.
Ademais, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge tem todas as condições para conquistar vagas em categorias mais técnicas como fotografia, direção de arte, montagem, som, efeitos sonoros e efeitos visuais. Christopher Nolan pode concorrer como Diretor e Roteiro adaptado, mas acho pouco provável pela repercussão das críticas.
INDOMÁVEL SONHADORA (Beasts of the Southern Wild)
Dir: Benh Zeitlin
Beasts of the Southern Wild: Apesar de azarão, tem chances com a fotografia e atriz-mirim Quvenzhané Wallis de apenas 6 aninhos
A pequena produção americana com orçamento estimado em 1 milhão e 800 mil dólares começou sua jornada de reconhecimento no último Festival de Sundance, onde conquistou o Grande Prêmio do Júri – Drama e o prêmio de Fotografia, e em seguida no Festival de Cannes, de onde saiu com os prêmios Un Certain Regard e Golden Camera, que prestigiam uma visão ímpar e a qualidade técnica de um filme, respectivamente.
Agora, comprado pela Fox Searchlight por míseros US$ 2 milhões, deverá ser distribuído pelos EUA com o devido lobby por indicações ao Oscar. Apesar de Quvenzhané Wallis ter apenas 6 anos, a Academia adora indicar novos prodígios como os recentes casos de Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine), Keisha Castle-Hughes (A Encantadora de Baleias) e Haley Joel Osment (O Sexto Sentido).
Também conta a favor da trama ser uma mistura de realidade dura com fantasia. Em 2010, essa mesma ambientação saiu premiada com o Oscar de Roteiro Adaptado e Atriz Coadjuvante para Mo’Nique em Preciosa – Uma História de Esperança. O feito poderia se repetir em 2013.
DJANGO LIVRE (Django Unchained)
Dir: Quentin Tarantino
Django Livre: O escravo contra o mestre. Tarantino promete um western inovador.
Tarantino já ganhou o Oscar de roteiro original em 1995 por Pulp Fiction – Tempo de Violência, mas de lá pra cá, já se aventurou em produções que não têm a cara da Academia: os dois volumes de Kill Bill e À Prova de Morte. Em 2010, seu Bastardos Inglórios foi um forte candidato e levou o Oscar de coadjuvante para a majestosa performance de Christoph Waltz.
Agora, com o western Django Livre, estrelado por Jamie Foxx, Christoph Waltz e Leonardo Di Caprio, Tarantino terá uma nova oportunidade de levar outro Oscar e mostrar que é fã nº1 do western spaghetti Três Homens em Conflito (The Good, The Bad and the Ugly, 1966), de Sergio Leone.
Como se trata de um filme ambientado no velho oeste, tem boas chances nas categorias de Direção de Arte (J. Michael Riva), Figurino (Sharen Davis), Fotografia (Robert Richardson), Som, Roteiro Original e Montagem (o assistente de edição Fred Raskin assumiu o cargo depois que a colaboradora de longa data Sally Menke faleceu em 2010). O burburinho do Oscar também atinge os atores. Jamie Foxx, que já ganhou Melhor Ator por Ray, e Leonardo Di Caprio, já indicado 3 vezes, são possíveis nomes para Ator e Ator Coadjuvante, respectivamente.
Se Tarantino não inseriu elementos pop demais em Django Livre, a Academia pode alavancar ainda mais sua bilheteria com indicações, mas o cinema praticado pelo diretor ainda sofre preconceitos por boa parte dos votantes judeus, mesmo que os tenha “defendido” na versão heróica da 2ª Guerra Mundial em Bastardos Inglórios.
O HOBBIT – UMA JORNADA INESPERADA (The Hobbit: An Unexpected Journey)
Dir: Peter Jackson
O Hobbit: Deu lucro? Volta pra Middle Earth.
Não sou fã da trilogia do Senhor dos Anéis, especialmente o último filme que tem 11 finais, mas seria ignorância da minha parte se não reconhecesse todo o trabalho de Peter Jackson para adaptar J.R.R. Tolkien para o cinema. Jackson elevou o gênero da fantasia a um novo patamar, uma vez que muitos consideravam os livros obras “infilmáveis”. Com o estrondoso sucesso de crítica e público, era apenas questão de tempo para o livro que antecedeu a trilogia, O Hobbit, passasse a ser cogitado como futuro projeto de Peter Jackson. Mas acabou parando nas mãos de outro talentoso diretor de fantasias: Guillermo del Toro.
À princípio, achei que ele não queria mais ver elfos e hobbits pela frente, porém foi uma cirurgia de úlcera que acabou tirando-o da cadeira de diretor. Guillermo, famoso diretor dos filmes de Hellboy e do premiado O Labirinto do Fauno, assumiu o projeto e respirou J.R.R. Tolkien por 2 anos e não aguentou a pressão dos estúdios e prazos de filmagem e lançamento. Sinceramente, achava que del Toro iria conseguir finalizar o filme, mas se você é daquelas pessoas que assiste aos making ofs nos DVDs e blu-rays, sabe que diretor de grandes produções sofre bastante. Entra feliz e animado e sai com expressão de cansaço total e cabelos brancos. Além disso, Guillermo tinha uma sombra muito forte por trás: o próprio Peter Jackson.
Incontáveis fãs nerds que frequentam as conferências de San Diego pediam a cabeça de Guillermo del Toro. Resultado: a voz do consumidor é a voz de Deus! Peter Jackson voltou! Bilionário, com um estômago bem menor, com corpinho mais esbelto e com 3 estatuetas do Oscar em casa. O estúdio ficou tão feliz com seu retorno à série que resolveram comemorar transformando O Hobbit em uma trilogia. Por que lucrar uma vez se você pode lucrar 3 vezes mais? Então aí está: aguente mais 3 anos de hobbits, elfos, gollums, finais melosos e incontáveis indicações ao Oscar.
INSIDE LLWELYN DAVIS
Dir: Ethan Coen e Joel Coen
Inside Llewlyn Davis: Ainda sem fotos do filme, vemos os irmãos Coen no set de filmagem que conta com Carey Mulligan nos anos 60.
Depois que os irmãos Coen ganharam o Oscar de Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado pelo ótimo Onde os Fracos Não têm Vez em 2008, qualquer filme deles automaticamente se torna um forte candidato ao Oscar. Como cinéfilo e fã da filmografia bem criativa dos irmãos, considero esse reconhecimento tardio mas justo. Até um filme despretensioso como Um Homem Sério (2009) se mostrou uma ótima comédia que foi indicada a Melhor Roteiro Original e Melhor Filme, sem contar as 10 indicações que a refilmagem de Bravura Indômita conseguiu em 2011. Neste Inside Llewlyn Davis, os diretores contam com duas armas para repetir o triunfo no Oscar: filme que se passa nos anos 60, e Carey Mulligan.
Se a jovem atriz britânica não pode mais contar com O Grande Gatsby, ela pode conseguir sua segunda indicação com esta performance. Só esperamos que Justin Timberlake, que contracena com ela, não a atrapalhe. Aliás, será que os Coen conseguem realizar um milagre e fazer Timberlake atuar decentemente? Só isso já merece um Oscar, não?
Além de Mulligan e os irmãos Coen, o filme conta com o produtor Scott Rudin, que desde 2003, já foi indicado 5 vezes ao Oscar (vencendo justamente com o filme dos Coen), e o reconhecido diretor de fotografia Bruno Delbonnel, responsável pelo visual fantástico de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001).
LES MISÉRABLES
Dir: Tom Hooper
Les Miserables: musical com Hugh Jackman.
Parece que depois de Moulin Rouge – Amor em Vermelho (2001), Chicago (2002) e Mamma Mia! (2008), o gênero musical tem voltado ao cenário de Hollywood. E agora, ele volta com pedigree literário. O clássico Les Miserábles de Victor Hugo foi adaptado pelo roteirista indicado ao Oscar de Gladiador, William Nicholson, e regido por Tom Hooper, mais conhecido por seu sucesso O Discurso do Rei.
Apesar de bem comentado e com altas expectativas, devemos considerar que Tom Hooper não tem experiência com musicais. É claro que pode ser um dos filmes mais premiados da temporada, mas pode amargurar no esquecimento devido ao risco. Por outro lado, se depender do elenco, o filme pode alavancar algumas indicações ao Oscar: Hugh Jackman, Russell Crowe e Anne Hathaway protagonizam a adaptação e são boas apostas, especialmente Jackman e Hathaway, pois ambos têm talento musical comprovados (sim, eu sei que Russell Crowe tem uma bandinha…), e já têm uma história de cantar juntos na cerimônia do Oscar. Também existe uma história de que Anne Hathaway cantou I Dreamed a Dream no teste de atores e fez todos chorarem.
Musicais são como boa publicidade. É muito fácil fazer uma mediocridade, mas quando se acerta o tom, podem surgir obras-primas como Cantando na Chuva. Vamos esperar que Tom Hooper acerte em cheio.
MOONRISE KINGDOM (Moonrise Kingdom)
Dir: Wes Anderson
Moonrise Kingdom: Atores já valem o ingresso
Os filmes de Wes Anderson estão um pouco longe de ser uma unanimidade entre os votantes da Academia, pois… digamos que ele tem um humor bastante peculiar. Três é Demais (1998), Os Excêntricos Tenenbauns (2001), A Vida Aquática de Steve Zissou (2004) e Viagem a Darjeeling (2007) são obras singulares, mas a Academia não estava preparada para recebê-las, ainda mais se lembrarmos que comédia nunca foi um gênero forte na premiação. Contudo, o cineasta começa a atingir maturidade e seu nome a se associar aos melhores filmes do ano. Já foi indicado ao Oscar duas vezes: pelo Roteiro Original de Os Excêntricos Tenenbauns e pela ótima animação O Fantástico Sr. Raposo (2009).
Com este novo trabalho, Moonrise Kingdom, ele volta a reunir seus colaboradores habituais Bill Murray e Jason Schwartzman, reunindo mais atores consagrados como Tilda Swinton, Frances McDormand, Edward Norton e Bruce Willis, o que sempre aumenta a atenção dos críticos. O filme fala sobre a paixão de um escoteiro por uma garota, e quando decidem fugir juntos, a cidade inteira se mobiliza para procurá-los. Embora seja uma aposta incerta para o Oscar, tem chances em algumas categorias como Roteiro Original, Trilha Musical (Alexandre Desplat), Figurino, Montagem (Andrew Weisblum) e talvez alguma de atuação.
LINCOLN
Dir: Steven Spielberg
Lincoln: pôster simples, mas que já tem cara de Oscar
Steven Spielberg. Daniel Day-Lewis. Filme sobre presidente. Desses 3 elementos, já podemos tirar uns Oscars da cartola. Lincoln tem tudo para ser um daqueles candidatos recordistas em indicações: Filme, Diretor, Ator, Ator Coadjuvante (que tem vários possíveis nomes como Tommy Lee Jones, Jackie Earle Haley, David Strathairn, John Hawkes, Hal Holbrook), Atriz Coadjuvante (Sally Field), Roteiro Adaptado, Fotografia, Trilha Musical, Montagem, Direção de Arte, Figurino, Som e Maquiagem. Total de 13, tá bom pra você, Spielberg? Depois de sair com as mãos abanando com seu Cavalo de Guerra, a Academia pode se sentir na obrigação de compensá-lo, a menos que o filme seja uma draga… Isso sem contar se não tiver uma canção original na manga. No papel, o status do filme é de vencedor de Melhor Filme, mas como todos os especialistas dizem: o Oscar é imprevisível.
Fui assistir a Cavalo de Guerra com um pé atrás, porque achava que o diretor andava meio enferrujado, e todo aquele episódio de retocar o filme E.T. o Extraterrestre (1982) ainda não me caiu bem. Mas Spielberg não desaprendeu a fazer cinema e com o filme, comprovou que ainda manda bem na catarse. E Lincoln tem todos os ingredientes épicos para fazer os votantes da Academia chorarem nos créditos finais, afinal, o presidente, considerado um dos heróis da nação, foi assassinado friamente, como outro político querido: Kennedy.
Recentemente, escrevi um post sobre os atores dirigidos por Spielberg e o fato curioso de que nenhum deles ganhou o Oscar. Agora, o diretor tem Daniel Day-Lewis em seu filme, um dos melhores profissionais de sua geração, assumindo um papel almejado por incontáveis atores de Hollywood. Lincoln seria a melhor chance do diretor depois de A Lista de Schindler. Será que é desta vez, Spielberg?
THE MASTER
Direção: Paul Thomas Anderson
The Master: Amy Adams (à esq) e Philip Seymour Hoffman (centro) são apostas certeiras com Joaquin Phoenix.
Apesar de Paul Thomas Anderson ter um gosto meio alternativo, seus filmes costumam levar algumas indicações. Foi assim com Boogie Nights – Prazer Sem Limites, Magnólia e Sangue Negro; todos receberam indicações de atuação e Daniel Day-Lewis ganhou seu segundo Oscar pelo último. A única exceção foi Embriagado de Amor, que passou desapercebido pela premiação, porque Adam Sandler não é bem uma unanimidade entre os críticos (particularmente, acho seu melhor trabalho como ator).
The Master se destaca por se tratar de um filme sobre os primórdios da cientologia. Sim, aquela polêmica religião criada pelo autor de ficção científica L. Ron Hubbard, que tem adeptos ilustres como Tom Cruise e John Travolta. Para contar essa interessante história, Anderson convocou um nome igualmente polêmico: Joaquin Phoenix, que parece ter perdido uns parafusos quando anunciou na TV, todo barbudo e de óculos escuros, a aposentadoria da carreira de ator. Juntamente com Philip Seymour Hoffman (Oscar de Ator por Capote) e Amy Adams (3 indicações), forma uma trinca poderosa na corrida ao Oscar. O favoritismo de Phoenix e Hoffman cresceu ainda mais depois que receberam o prêmio Volpi Cup no Festival de Veneza, de onde o diretor também saiu laureado com o Leão de Prata.
A produção também tem boas chances em Melhor Roteiro Original (o próprio Paul Thomas Anderson), Trilha Musical (Jonny Greenwood), Direção de Arte (Jack Fisk e David Crank), Figurino (Mark Bridges, ganhador do Oscar este ano com O Artista)e Montagem. Talvez seja o único capaz de bater Spielberg e Peter Jackson.
SILVER LININGS PLAYBOOK
Direção: David O. Russell
Silver Linings Playbook, de David O. Russell
David O. Russell era considerado um diretor alternativo, assim como Wes Anderson. Mas com o amadurecimento de seus trabalhos, Russell conseguiu destaque e indicações para seu filme O Vencedor (The Fighter, 2010). Não apenas obteve sua primeira indicação ao Oscar como Melhor Diretor, mas seus atores coadjuvantes, Christian Bale e Melissa Leo, saíram premiados daquela cerimônia. Agora, com este Silver Linings Playbook, ele volta a chamar a atenção, mas não somente dos críticos, mas do público, pois ganhou o People’s Choice Awards no último Festival de Toronto, reconhecimento também dado ao vencedor do Oscar O Discurso do Rei.
Baseado no romance de Matthew Quick, o filme acompanha o retorno de Pat Solitano (Bradley Cooper) à casa dos pais depois de ficar internado oito meses numa instituição mental. Ele busca reconstruir sua vida e reconciliação com a ex-mulher que o traiu. No caminho, ele conhece uma jovem chamada Tiffany (Jennifer Lawrence) que se oferece para ajudá-lo em troca de um favor importante para ela. Trata-se de uma história bastante simples, mas pelos comentários e críticas que ouvi, também apresenta elementos bastante humanos que, com a ajuda dos atores em forma, conquistaram o público por onde passou.
Tem se tornado a produção que mais cresceu nessa fase da corrida para o Oscar 2013, ao lado do filme de Ben Affleck, Argo. Além disso, tem boas chances de emplacar indicações para os quatro atores: Bradley Cooper (sim, aparentemente ele é mais do que um candidato a galã de Se Beber, Não Case!), Jennifer Lawrence (a Academia não perderia a oportunidade de ouro de indicá-la como Melhor Atriz com o sucesso de Jogos Vorazes), Jacki Weaver (seria sua segunda indicação depois de Reino Animal) e Robert De Niro (com seu retorno trinufal depois de 20 anos sem indicações ao Oscar).
Claro que o diretor David O. Russell deve voltar a concorrer como Melhor Diretor, mas como a competição está bem acirrada, talvez ele seja “compensado” com o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado.
ZERO DARK THIRTY
Direção: Kathryn Bigelow
Zero Dark Thirty: Parece uma imagem da trilogia Bourne, mas ao invés de caçarem o agente, estão atrás de Bin Laden
Depois que Kathryn Bigelow se consagrou com a primeira mulher a ganhar o Oscar de Melhor Diretor, ela teve muitas propostas. Acabou repetindo sua parceria com o roteirista Mark Boal do mesmo Guerra ao Terror (2008) e deram vida ao filme que trata da caça ao líder terrrorista do Al-Qaeda, Osama Bin Laden. A produção já vinha sendo bastante comentada porque recebeu com exclusividade acesso aos arquivos da operação de captura da CIA. Recentemente, os noticiários da TV anunciaram que a estréia do filme foi adiada para depois das eleições presidenciais em novembro por causa de protestos de republicanos, que temem queda nas intenções de voto de Mitt Romney.
Importância história o filme já tem. A fama já o precede. Mas e o filme? Tem toda essa chance no Oscar como teve Guerra ao Terror? Diretor, Roteiro Original, Montagem, Som e Efeitos Sonoros são possibilidades reais, assim, por que não Melhor Filme também? Não deve sair tão vitorioso por se tratar de um filme polêmico desde seu nascimento, mas deve figurar entre os indicados.
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Claro que a lista pode mudar nos próximos meses até o dia 10 de janeiro, quando as indicações ao Oscar serão anunciadas ao vivo. Existem algumas produções que ainda tem uma porcentagem pequena de figurarem entre os possíveis dez indicados a Melhor Filme. Lembrando que nessa categoria, podem haver de 5 a 10 filmes indicados, dependendo da votação de cada um. Eis alguns filmes que podem ganhar algum fôlego na reta final e um ou outro motivo de não estar na lista definitiva:
– Amour, de Michael Haneke. O filme levou a Palma de Ouro em Cannes e tem boas chances de ver seus atores centrais indicados, mas o fato de ser falado em francês deve direcionar suas chances para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro, uma vez que é o representante da Áustria.
– O Exótico Hotel Marigold, de John Madden. Através da força de seu elenco experiente encabeçado por Judi Dench, este simpático drama senil passado na Índia pode ganhar força entre os votantes mais velhos, ainda mais se suas atrizes foram indicadas. Mas o filme tem cara de que não deve passar da lista de indicados a Melhor Filme – Comédia ou Musical no Globo de Ouro.
– O Impossível, de Juan Antonio Bayona. Apesar do lado trágico que pode levar os espectadores às lágrimas, este drama familiar tem sua forte base apoiada nos atores. Naomi Watts tem grandes chances de sua segunda indicação, e Ewan McGregor pode surpreender. Mas como filme, não tem chamado tanta atenção.
– The Sessions, de Ben Lewin. Este drama independente também está aqui por causa dos atores, especialmente o protagonista John Hawkes. A história do paciente diagnosticado com pouco tempo de vida e quer perder a virgindade antes de morrer só é comprada por causa de Hawkes. Claro que o elenco também conta com Helen Hunt e William H. Macy, que podem dar uma forcinha no número de indicações.
– 007 – Operação Skyfall, de Sam Mendes. Eu sei. Como a Academia vai indicar um filme de James Bond? Embora eu seja fã, concordo que esta não seria uma categoria mais propícia ao 23º filme da franquia, mas com os recordes de bilheteria, as críticas positivas, a equipe oscarizada chefiada pelo diretor Sam Mendes e o fato de Bond comemorar 50 anos este ano podem colaborar para a primeira inclusão de um filme de Bond como Melhor Filme. Só para matar sua curiosidade, a franquia de 007 já foi premiada com dois Oscars: Em 1965 pelo Efeitos Sonoros de 007 Contra Goldfinger, e em 1966, pelos Efeitos Visuais de 007 Contra a Chantagem Atômica.
Para aqueles que aguardavam ansiosamente uma indicação para Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, sinto em informar que a Academia apagou a luz no fim desse túnel. Foi divulgada a lista com os 9 finalistas (feito conquistado pelo drama O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger em 2007) que se tornarão apenas 5 no dia 24 de janeiro, dia do anúncio das indicações ao Oscar. Segue a lista:
Bullhead, de Michael R. Roskam (Bélgica)
Footnote, de Joseph Cedar (Israel)
In Darkness, de Agnieszka Holland (Polônia)
Monsieur Lazhar, de Philippe Falardeau (Canadá)
Omar Killed Me, de Roschdy Zem (Marrocos)
Pina, de Wim Wenders (Alemanha)
A Separação, de Asghar Farhadi (Irã)
Superclásico, de Ole Christian Madsen (Dinamarca)
Warriors of the Rainbow: Seediq Bale, de Te-Sheng Wei (Taiwan)
Mas o tom negativo do post não se limita apenas à exclusão do filme de José Padilha. Infelizmente, a categoria de Melhor Filme Estrangeiro ainda apresenta algumas regras muito arcaicas que impossibilitam muitos filmes de qualidade de sequer competir.
O Tigre e o Dragão, de Ang Lee. Melhor Filme Estrangeiro de 2000.
Se tais regras fossem quebradas, certamente mais filmes poderiam competir e conquistar o público internacional como fizeram o taiwanês O Tigre e o Dragão e o alemão A Vida dos Outros, ambos vencedores do Oscar de Filme Estrangeiro e donos de uma arrecadação que ultrapassa os 100 milhões de dólares.
A Vida dos Outros, de Florian Henckel. Melhor Filme Estrangeiro de 2006.
Existe uma regra da Academia que obriga cada país participante a escolher apenas UM filme. Então, assim como é feito no Brasil, membros de uma comissão como o MinC (Ministério da Cultura) votam entre os filmes lançados em cada ano, o que nem sempre corresponde ao melhor filme do ano. Em 2002, por exemplo, Fale com Ela, de Pedro Almodóvar não foi selecionado pela comissão de seu país e a Espanha sequer figurou entre os indicados. Felizmente, como muitos artistas em Hollywood apreciam a obra do diretor, ele levou o Oscar de Roteiro Original naquela edição. Este ano, o esnobado pelo próprio país foi o francês O Artista, filme que já levou o Globo de Ouro e vários prêmios da crítica americana. Por esse motivo, não poderá concorrer a Melhor Filme Estrangeiro.
Outra regra ultrapassada que não corresponde ao cinema globalizado de hoje consiste na obrigação de empregar atores nascidos no país da origem do filme em papéis-chaves na trama (além de ter que falar o idioma local). Pela Albânia, o filme de Joshua Marston (diretor de Maria Cheia de Graça, 2004), Forgiveness foi desqualificado por não cumprir essa regra. Enquanto que o filme de Angelina Jolie, In the Land of Blood and Honey, não pôde concorrer por se tratar de uma produção americana, mesmo tendo empregrado atores da hoje extinta Iugoslávia.
Ainda falta outro grande absurdo. Ok, foram selecionados os 63 filmes do mundo este ano para tentar conquistar uma famigerada vaga na categoria. E agora? Quem vai poder votar nesses filmes e eliminar 58 trabalhos? Existe algo chamado Academy’s foreign-language selection committee (Comitê de Seleção de Filme Estrangeiro da Academia), composta por membros preparados para ficar com o traseiro quadrado de tanto assistir filmes. Eles são divididos em grupos de 4 cores e cada membro deve ver pelo menos 80% dos filmes de seu grupo. Mas, como todos sabem, quem consegue tempo pra assistir a tantos filmes? Sim, chamem membros já no conforto da aposentadoria que não querem mais ficar em casa vendo a mulher reclamar! A lotação dessas sessões de filmes estrangeiros deve se assemelhar àquelas que ocorrem em asilos em que as enfermeiras ligam pra sossegar os agitados. Cerca de 300 (heróicos) membros conseguem assistir a todos os filmes e votar numa escala de 7 a 10, criando uma média para a seleção, o que significa que se 10 ou 100 pessoas virem um filme, é a média desses 300 membros que conta.
“Hooray! Vou eliminar 58 filmes!”. Perdoem-me se imagino 300 Srs. Fredericksens na sala de cinema.
Resultado? Os finalistas sempre têm temas mais antigos. Eles adoram filmes que se passam na 2ª Guerra Mundial, com judeus sofrendo e nazistas cumprindo seus papéis de malvados, sem esquecer dos soldados americanos que sempre chegam pra salvar o dia. O segundo tema mais querido pelos membros velhinhos de Hollywood é a questão do racismo. Se seu filme tem conflitos raciais e se passa na Segunda Guerra, coloca pra competir! Mas lembre-se que não pode haver violência excessiva. Isso assusta os membros e pode causar uma taquicardia. Você acha que foi fácil um pobre membro assistir a Tropa de Elite 2? E Cidade de Deus com aquele lance de “você prefere um tiro no pé ou na mão?”? Cinema violento não tem lugar na categoria de Filme Estrangeiro. Por isso mesmo que o cinema sul-coreano nunca teve uma chance sequer, pois tem como característica muito marcante a violência e o sexo. Ah sim, o sexo é algo obsceno demais. Os membros cobrem seus olhos nas cenas mais picantes.
Mas voltando ao processo de eliminação de filmes, as 6 obras mais votadas pelos membros que assistiram aos filmes passam para uma shortlist, que inclui ainda mais 3 filmes selecionados por um comitê executivo de 20 pessoas. Atualmente, nesse super-comitê constam nomes consagrados do Cinema como o diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck, diretor de fotografia polonês do Spielberg, Janusz Kaminski, e o roteirista de O Jogador (1992), Michael Tolkin. Esse comitê pode não desfazer todas as injustiças da seleção dos membros idosos, mas evita maiores catástrofes.
Divulgada a lista de 9 finalistas, os filmes são projetados num final de semana para 20 votantes de Los Angeles e 10 de Nova York. Esses votantes são escolhidos pelo presidente do super-comitê, que visa uma votação mais completa pois procura por membros veteranos em diversas áreas do Cinema. No final, eles cortam 4 filmes, elegendo então os 5 indicados. E, para completar a burocracia: Só membros que comprovem que viram os 5 indicados no cinema (não, não pode ser em DVD e Blu-ray – tem que mostrar o ingresso!) podem votar no vencedor, ou seja, voltam os membros idosos que selecionaram anteriormente com suas escolhas arcaicas.
O Segredo de seus Olhos, de J.J. Campanella. Segundo e Merecido Oscar para Argentina.
Contudo, apesar de todos os problemas e a falta dessa reforma na legislação da Academia, não dá pra sair reclamando de tudo. Por incrível que pareça, o Oscar foi para alguns ótimos filmes nessa última década que me surpreenderam muito positivamente. Foram os casos das vitórias do belo argentino O Segredo de Seus Olhos, de Juan José Campanella, do instigante alemão A Vida dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck, e do tocante japonês A Partida, de Yôjirô Takita.
Quanto ao Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, houve alguns contratempos que atrapalharam um alcance maior na temporada de premiações, sendo uma delas a ausência no Globo de Ouro. Como o filme estreou no Brasil em outubro de 2011, não pôde concorrer porque as regras da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood exige que o filme tenha sua estréia a partir de novembro. Mas mesmo sem os grandes prêmios, o filme de José Padilha confirma o amadurecimento do nosso Cinema. A sequência apresenta um roteiro muito mais consistente e personagens mais fortes. A trama em si é muito corajosa por bater de frente com o velho problema da política no Brasil. Quem não queria estar na pele do Capitão Nascimento ao esbofetear um político corrupto?
Agora, com José Padilha assumindo o projeto de refilmagem do filme RoboCop, o Brasil fica órfão de mais um diretor competente pra tentar buscar a cobiçada estatueta do Oscar. Gostaria que Walter Salles e Fernando Meirelles, cujas carreiras internacionais não conseguiram deslanchar de vez, voltassem e fizessem um filme aqui pra manter essa frequência de qualidade anual.
No dia 8 de dezembro de 2011, Tropa de Elite 2 se tornou o filme mais visto da História do Cinema Brasileiro, quando atingiu a marca de 10.736.995 espectadores após nove semanas de exibição, ultrapassando a marca histórica de 1976, de Dona Flor e seus dois maridos, de Bruno Barreto.
Kathryn Bigelow entrega o DGA a Tom Hooper, vencedor de 2010 por O Discurso do Rei
Se o Screen Actors Guild e o Globo de Ouro são uma prévia do Oscar, o DGA (Directors Guild of America) pode ser considerado uma bola de cristal, pois em 63 prêmios concedidos ao Melhor Diretor do ano, apenas em 6 raríssimas ocasiões o vencedor do DGA não levou o Oscar pra casa:
Em 1968: Anthony Harvey ganhou o DGA Award por O Leão no Inverno, enquanto Carol Reed levou o Oscar por Oliver!
Em 1972: Francis Ford Coppola por O Poderoso Chefão (DGA) e Bob Fosse por Cabaret (Oscar).
Em 1985: Steven Spielberg por A Cor Púrpura (DGA),e Sydney Pollack por Entre Dois Amores (Oscar).
Em 1995: Ron Howard por Apollo 13 (DGA), e Mel Gibson por Coração Valente (Oscar).
Em 2000: Ang Lee por O Tigre e o Dragão (DGA) e Steven Soderbergh por Traffic (Oscar).
Em 2002: Rob Marshall por Chicago (DGA) e Roman Polanski por O Pianista (Oscar).
Ou seja, desde 2003, todos os melhores diretores coincidiram. Por esse motivo, os indicados este ano têm chances bastante reais de ganhar o Oscar:
Woody Allen (Meia-Noite em Paris)
* Woody Allen por Meia-Noite em Paris
Em sua 5ª indicação após um hiato de 12 anos, Woody Allen prova que a sua busca por novos ares (desta vez, a França) está solidificando uma nova fase de sua carreira. Venceu o DGA em 1978 por Noivo Neurótico, Noiva Nervosa.
David Fincher (Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres)
* David Fincher por Millenium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres
Apesar de seu currículo (esta é sua 3ª indicação), Fincher foi considerado uma surpresa, pois nomes de peso como Spielberg e Malick não figuraram. Taxado como especialista de filmes de serial killers, Fincher está em plena ascensão após a fábula O Curioso Caso de Benjamin Button e o drama moderno A Rede Social. Amadureceu bastante sua direção de atores em seus últimos trabalhos.
Michel Hazanavicius (The Artist)
* Michel Hazanavicius por The Artist
Antes de The Artist, Michel Hazanavicius tinha como destaque em seu currículo uma espécie de sátira de James Bond chamada Agente 117, curiosamente estrelada por Jean Dujardin e Bérénice Bejo, astros de The Artist. Mesmo sendo sua primeira indicação ao DGA, tem grandes chances de levar pelo aspecto artístico de seu filme.
Alexander Payne (Os Descendentes)
* Alexander Payne por Os Descendentes
Sou meio suspeito para falar sobre Alexander Payne. Sou viciado em Sideways – Entre Umas e Outras e Eleição. Apesar de ter poucos filmes na bagagem, é possível enxergar um ótimo diretor de atores, um excelente roteirista e daqueles diretores que buscam harmonia no set de filmagem (vide os making ofs). Talvez não leve o prêmio, mas aposto 100% que um dia terá seu Oscar de direção.
Martin Scorsese (A Invenção de Hugo Cabret)
* Martin Scorsese por A Invenção de Hugo Cabret
Scorsese ficou muito marcado por um cinema violento que tem como ápice Os Bons Companheiros e Taxi Driver. Esta é sua 9ª indicação, tendo levado em 2007 por Os Infiltrados. Depois de finalmente ganhar seu Oscar, resolveu se aventurar em novos gêneros como terror psicológico (A Ilha do Medo) e nesta fábula A Invenção de Hugo Cabret.
Dos trabalhos selecionados, conferi apenas Meia-Noite em Paris (já disponível em DVD e Blu-ray). Apesar de muitos já terem “enterrado” o pobre Woody Allen com diversos prêmios pelo conjunto da obra, incluindo o DGA que o honrou em 1996, ele prova mais uma vez que continua sendo um dos melhores diretores em atividade.
Ele pode ter feito alguns trabalhos mais limitados, como O Escorpião de Jade (2001), Igual a Tudo na Vida (2003) e Melinda e Melinda (2004), mas, como muitos cinéfilos já diziam: “O pior filme de Woody Allen é melhor do que a média dos filmes em cartaz”. De fato, mesmo um Woody não tão inspirado consegue transformar em pó e estrume a maioria dos filmes de hoje. E, por mais que não pareça, digo isso com extremo pesar.
A cerimônia do DGA Awards ocorrerá no dia 28 de janeiro e terá o ator Kelsey Grammer como host.
Para quem quiser acompanhar os filmes dos diretores indicados, confira (previsão para a cidade de SP):
– Meia-Noite em Paris: já disponível em DVD e Blu-Ray
– Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres: Estréia em 27/01/12
– O Artista: Sem previsão de estréia (eu sei, um absurdo)