‘Elle’ fica de fora do Oscar de Filme em Língua Estrangeira. E agora, Academia?

O representante alemão Toni Erdmann, de Maren Ade., agora favorito na categoria. Pic by moviepilot.de

O representante alemão Toni Erdmann, de Maren Ade, agora favorito na categoria. Pic by moviepilot.de

MAIS UMA VEZ, UM DOS FILMES FAVORITOS AO PRÊMIO FICA DE FORA

A Academia divulgou a pré-lista dos nove filmes em língua estrangeira que ainda concorrem às cinco indicações ao Oscar. Então, daqueles 85 filmes que representavam seus países, restaram apenas nove produções:

  • Tanna
    Dir: Martin Butler e Bentley Dean (Austrália)
  • Toni Erdmann
    Dir: Maren Ade (Alemanha)
  • É Apenas o Fim do Mundo (Just La Fin du Monde)
    Dir: Xavier Dolan (Canadá)
  • O Apartamento (Forushande)
    Dir: Asghar Farhadi (Irã)
  • Terra de Minas (Under Sandet)
    Dir: Martin Zandvliet (Dinamarca)
  • The King’s Choice (Kongens Nei)
    Dir: Eric Poppe (Noruega)
  • Paradise (Ray)
    Dir: Andrey Konchalovskiy (Rússia)
  • Um Homem Chamado Ove (En Man Som Heter Over)
    Dir: Hannes Holm (Suécia)
  • My Life as a Zucchini (Ma Vie de Courgette)
    Dir: Claude Barras (Suíça)

Pra quem não conhece o sistema atual, dos 85 filmes vistos pelo departamento de Filmes em Língua Estrangeira nos últimos dois meses, os seis mais bem votados se juntam a outros 3 selecionados por um comitê executivo especial, que foi criado para assegurar 3 votos para produções mais pertinentes.

Quando soube que o filme Elle, representante francês e favorito ao prêmio até então, ficou de fora logo na pré-lista do Oscar, confesso que tive uma mistura de sentimentos. No começo foi “Não acredito nisso” com um “Ah, eu já sabia… já tinha previsto no blog”, mas no geral fiquei chateado com a eliminação precoce de um filme ousado na abordagem do tema do estupro. Na verdade, desde que a França lançou o filme como representante em outubro, já torcia por ele, porque foi uma escolha igualmente ousada, afinal, todas as comissões internacionais sabem que os votantes da Academia que elegem os indicados e vencedores são em sua maioria senhores idosos brancos e judeus.  Por isso eles sempre estão selecionando produções com temática da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, porque sabem que terão maiores chances.

A ausência de Elle na corrida também significa a perda de uma ótima oportunidade de premiar seu diretor, o  holandês Paul Verhoeven, que rendeu muito dinheiro e prestígio à Hollywood nos anos 80 e 90, com as produções de RoboCop – O Policial do Futuro (1987), O Vingador do Futuro (1990), Instinto Selvagem (1992) e Tropas Estelares (1997). Graças a diretores como ele, não faltou coragem e ousadia nos filmes americanos nessas duas décadas, afastando o politicamente correto. Claro que o histórico de um artista não deveria influenciar numa escolha atual, mas nesse caso, o filme em si já justificaria sua indicação.

O diretor Paul Verhoeven dirige uma Isabelle Huppert estirada no chão no set de Elle. Pic by moviepilot.de

O diretor Paul Verhoeven dirige uma Isabelle Huppert estirada no chão no set de Elle. Pic by moviepilot.de

A aversão dos votantes a temas polêmicos também pode ter prejudicado bastante a campanha de Isabelle Huppert como Melhor Atriz. Ela vinha coletando uma série de prêmios importantes como o NYFCC, LAFCA e indicações para o Critics’ Choice e Globo de Ouro, mas depois de sua exclusão do SAG e agora de seu filme da categoria de Filme em Língua Estrangeira, sua primeira indicação ao Oscar pode não estar mais 100% garantida. Apesar dos reveses, ainda acredito em sua indicação, mas a vitória… ah, essa está difícil! Quem sabe se ela ganhar o BAFTA?

Mas parando de chorar sobre o leite derramado, a Academia pode pisar na bola muitas vezes, mas ela sempre busca reforçar a idéia de que os filmes selecionados podem surpreender o espectador. Aliás, muitos dos críticos que abominaram a ausência de Elle sequer viram todos os nove pré-indicados. Particularmente, eu nunca tinha ouvido falar do norueguês The King’s Choice ou o representante sueco Um Homem Chamado Ove, então como dá pra alegar se eles são menos merecedores de uma indicação, certo? Eu só fico receoso se o filme for sobre o Holocausto…

Cena do norueguês The King's Choice. Pic by cine.gr

Cena do norueguês The King’s Choice. Pic by cine.gr

Do histórico mais recente da categoria, a Academia surpreendeu, sim, ao indicar produções pouco conhecidas de países que não tem quase produção cinematográfica. Para citar alguns: O Lobo do Deserto (Jordânia), O Abraço da Serpente (Colômbia), Tangerinas (Estônia), Timbuktu (Mauritânia) e A Imagem que Falta (Camboja). Infelizmente, nenhum deles saiu vitorioso da cerimônia. Aliás, tá difícil de lembrar quando foi a última vez que a Academia surpreendeu no vencedor da categoria… o Oscar para o bósnio Terra de Ninguém em 2002 talvez?

Bom, quanto aos selecionados, à princípio, os favoritos são o alemão Toni Erdmann e o iraniano O Apartamento. Curiosamente, ambos estavam indicados à Palma de Ouro em Cannes em maio. O filme alemão de Maren Ade também foi indicado ao Independent Spirit, Globo de Ouro e levou o NYFCC. Já o iraiano de Asghar Farhadi, vencedor do Oscar em 2012 por A Separação, foi indicado ao Globo de Ouro, e levou o National Board of Review e os prêmios de Melhor Ator (Shahab Hosseini) e Roteiro (Farhadi) em Cannes.

Cena de O Apartamento, de Asghar Farhadi. Em cena: Shahab Hosseini e Taraneh Alidoosti. Pic by cine.gr

Cena do representante iraniano O Apartamento, de Asghar Farhadi. Em cena: Shahab Hosseini e Taraneh Alidoosti. Pic by cine.gr

O representante da Suíça tem uma curiosidade: pode ser indicado tanto como Filme em Língua Estrangeira quanto Longa de Animação. My Life as a Zucchini é uma delicada animação stop-motion sobre um menino que é levado para um orfanato depois que sua mãe morre. Da última vez que um filme esteve na mesma situação, Vidas ao Vento (2013), de Hayao Miyazaki, acabou indicado a Melhor Longa de Animação, mas perdeu para Frozen: Uma Aventura Congelante.

Cena da animação suíça My Life as a Zucchini, que também concorre como Longa de Animação. Pic by moviepilot.de

Cena da animação suíça My Life as a Zucchini, que também concorre como Longa de Animação. Pic by moviepilot.de

A pré-indicação de Terra de Minas consolida o cinema dinamarquês como um dos mais prolixos dos últimos anos. São 5 indicações nos últimos dez anos: Guerra em 2016, A Caça em 2014, O Amante da Rainha em 2013, Em um Mundo Melhor em 2011 (vencedor do Oscar) e Depois do Casamento em 2007. A produção dinamarquesa foi bastante influenciada pelo movimento Dogma 95, que tinha fundamentos como não usar iluminação artificial, tripé e roteiro, e tinha como seguidores Lars von Trier, Thomas Vinterberg e Susanne Bier. Hoje, o cinema da Dinamarca amadureceu, abandonou essas regras, mas mantém a importância da história como essência. Terra de Minas se trata de um grupo que tem a missão de cavar buracos para 2 milhões de minas terrestres.

Cena do representante dinamarquês, Terra de Minas. Pic by moviepilot.de

Cena do representante dinamarquês, Terra de Minas. Pic by moviepilot.de

Acredito que entre os três votados pelo comitê especial tenha sido o canadense É Apenas o Fim do Mundo. Não tanto pelo jovem diretor Xavier Dolan, que levou o Grande Prêmio do Júri em Cannes, mas mais pelo elenco francês composto por Marion Cotillard, Vincent Cassel, Nathalie Baye e Léa Seydoux, pois não é o tipo de filme que os votantes mais idosos apreciariam pelo ritmo mais frenético.

Cena de É Apenas o Fim do Mundo, de Xavier Dolan, com Marion Cotillard e Vincent Cassel. Pic by moviepilot.de

Cena do canadense É Apenas o Fim do Mundo, de Xavier Dolan, com Marion Cotillard e Vincent Cassel. Pic by moviepilot.de

Já o norueguês The King’s Choice e o russo Paradise apresentam essas tramas da Segunda Guerra. O primeiro tem o rei da Noruega precisando fazer uma importante decisão quando as máquinas alemãs chegam a Oslo em 1940, enquanto o segundo apresenta o cruzamento de três pessoas durante a guerra: uma russa, uma francesa e um oficial alemão. Já o sueco, Um Homem Chamado Ove, é uma comédia de humor negro em que o protagonista é um idoso reclamão (identificação com os votantes?) que decide abandonar sua cidade. Enquanto o australiano Tanna oferece uma interessante e bela releitura de uma briga entre duas tribos que habitam uma ilha no Pacífico. Se esses filmes são melhores do que Elle? Só conferindo todos pra poder analisar de fato.

Filme preto-e-branco sobre personagens da Segunda Guerra Mundial no russo Paradise. Pic by moviepilot.de

Filme preto-e-branco sobre personagens da Segunda Guerra Mundial no russo Paradise. Pic by moviepilot.de

Rolfe Lassgard como Ove em Um Homem Chamado Ove, representante sueco. Pic by moviepilot.de

Rolfe Lassgard como Ove em Um Homem Chamado Ove, representante sueco. Pic by moviepilot.de

Cena de Tanna, representante austraiano. Pic by cine.gr

Cena de Tanna, representante australiano. Pic by cine.gr

 

OPORTUNIDADES PERDIDAS

Como Aquarius não foi selecionado pela comissão brasileira (via Michel Temer), o representante Pequeno Segredo ficou de fora. Era óbvio que o dramalhão familiar não avançaria, por mais que seu diretor David Schurmann jurasse de pé junto que seu filme tinha um tema universal que conquistaria a Academia. Aquarius foi sabotado, sim. Assim como Boi Neon, de Gabriel Mascaro. E é uma pena, pois havia grandes chances do Brasil voltar a concorrer ao Oscar após 17 anos depois de Central do Brasil.

O mesmo aconteceu com o representante da Coréia do Sul, país asiático que nunca foi indicado ao Oscar. Seu filme mais forte do ano é The Handmaiden, de Park Chan-wook, mas devido a conflitos políticos com a então presidente Park Geun-hye (hoje fora do governo por processo de impeachment), o filme não foi selecionado. O escolhido The Age of Shadows também ficou de fora. E mais uma ótima oportunidade foi desperdiçada. Por apresentar intensas cenas de sexo, The Handmaiden provavelmente teria que ser salvo pelo comitê especial, mas de qualquer forma, o filme pode concorrer em categorias técnicas como Fotografia, Direção de Arte e Figurino.

Sônia Braga em cena de Aquarius, preterido pela comissão brasileira para o Oscar. Pic by moviepilot.de

Sônia Braga em cena de Aquarius, preterido pela comissão brasileira para o Oscar. Pic by moviepilot.de

Entre os excluídos mais famosos estão o espanhol Julieta, de Pedro Almodóvar, e o chileno Neruda, de Pablo Larraín, que pode concorrer como diretor por Jackie, estrelado por Natalie Portman.

ROLA UMA REFORMA?

Por mais que descubramos produções interessantes através das indicações da Academia, uma reforma no sistema de votação ainda precisa ser implantada. Já citei aqui anteriormente uma solução que agradaria gregos e troianos: aumentar para 10 indicados a Melhor Filme em Língua Estrangeira! Ou pelo menos algo maleável como a categoria de Melhor Filme hoje, que varia de 5 a 10 indicados. Seria algo mais justo, já que são 85 países disputando 5 vagas. E a divisão de votos entre o departamento e a comissão especial ser alterada para 50% a 50%.  Hoje são 2/3 para o departamento e 1/3 para a comissão. Seria algo tão impossível assim para o conservadorismo da Academia?

***

As indicações ao Oscar 2017 serão anunciadas no dia 24 de janeiro.

85 produções concorrem às 5 indicações do Oscar de Filme em Língua Estrangeira em 2017

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O vencedor do último Oscar de Filme em Língua Estrangeira, Lászlò Nemes, por seu drama O Filho de Saul (photo by washington.kormany.hu)

RECORDE NOS NÚMEROS EVIDENCIA CRESCIMENTO DE PRODUÇÕES INTERNACIONAIS EM BUSCA DE RECONHECIMENTO

Todos os países podem discordar das escolhas da Academia, mas é crescente o número de produções internacionais que se inscrevem na categoria de Filme em Língua Estrangeira. Este ano, temos o novo recorde de filmes: 85, superando o recorde anterior de 83 em 2014.

Particularmente, agrada-me essa elevação, pois proporciona a chance real de espectadores comuns conhecerem visões cinematográficas de outras nações menos famosas. Só pra exemplificar, nos últimos anos, a Academia indicou o filme da Mauritânia, Timbuktu, e da Camboja, A Imagem que Falta. Tudo bem que nenhum deles venceu, mas só o fato de estarem disputando o prêmio, já gera interesse por parte de cinéfilos do mundo todo, e cria uma referência daquele país. Este ano, o Iêmen inscreveu seu primeiro candidato: I Am Nojoom, Age 10 and Divorced, da diretora Khadija Al-Salami.

Claro que ainda tem países que nunca receberam uma indicação como a Coréia do Sul, e seu cinema intenso e violento (que costuma não ser popular entre os votantes mais idosos da Academia), mas acredito que seja mera questão de tempo com inserções de membros jovens e novos da Academia feitas pela presidente Cheryl Boone Isaacs no primeiro semestre.

E O BRASIL?

O filme selecionado pela comissão da Cultura este ano gerou uma grande polêmica de cunho político. Com o processo de impeachment questionado, a equipe do filme Aquarius, do diretor Kléber Mendonça Filho, fez um protesto em pleno tapete vermelho em Cannes, já que concorria à Palma de Ouro. Os cartazes de protesto levados diziam que “O Brasil está sob um golpe”.

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Equipe do filme ‘Aquarius’ no tapete vermelho de Cannes. No centro, a atriz Sônia Braga e à direita, o diretor Kléber Mendonça Filho (photo by elpais.com)

Cada um tem o direito de protestar sobre o que bem entender, claro, mas depois da saída da ex-presidente Dilma Roussef, o governo de Michel Temer não deve ter gostado nada e teria sabotado a campanha do filme como representante do Brasil no Oscar.

Particularmente, acredito que ninguém está certo. Se o filme recebeu verba do governo brasileiro para ser feito, o protesto é de certa forma incoerente, uma vez que estaria “cuspindo no prato que comeu”. Mas de qualquer forma, defendo a liberdade de expressão, e aliás, acredito que os artistas devem se expressar através de suas obras, e não cartazes mal feitos. Sou só eu que vejo a personagem de Sônia Braga como a Dilma Rousseff sendo expulsa? Já o governo Temer, se realmente criou esse imbróglio, errou ao confundir à obra com a opinião política de seus realizadores. O que vai concorrer ao Oscar? O filme ou a posição política do diretor? Se fosse assim, Clint Eastwood jamais teria ganhado um Oscar sequer, já que apóia veemente o extremista candidato republicano Donald Trump.

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Sônia Braga em cena de Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. (photo by abrilveja.com.br)

Enfim, o filme selecionado foi o drama Pequeno Segredo, de David Schurmann. O diretor deu uma entrevista defendendo a escolha de filme ao Oscar, pois teria os “ingredientes dramáticos que a Academia adora”. Realmente, o tema de adoção é internacional, mas obviamente, ele apenas tentou maquiar o escândalo de Aquarius preterido. Obviamente que o filme de Kléber Mendonça Filho teria mais chances de concorrer ao Oscar por sua projeção em Cannes, e ainda mais que conta com Sônia Braga, atriz de porte internacional, mas essa “briguinha” ridícula faz o cinema brasileiro perder essa boa oportunidade.

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Cena com Julia Lemmertz (à direita) em Pequeno Segredo (photo by AdoroCinema)

CANDIDATOS

Como vocês sabem, essa lista de 85 filmes será reduzida a uma pré-seleção de nove produções em dezembro, para então se consolidarem aos 5 indicados em janeiro, mais precisamente no dia 24, quando haverá o anúncio ao vivo das indicações.

Apesar do crescimento de produções de países menos conhecidos, os autores de outros países largam na frente como é o caso do espanhol Pedro Almodóvar. Ele já faturou o prêmio em 2000 pelo poderoso Tudo Sobre Minha Mãe e ainda levou o Oscar de Roteiro Original em 2003 por Fale com Ela. Nesse quesito, o bósnio Danis Tanovic também leva vantagem por já ter vencido em 2002 com Terra de Ninguém, e o iraniano Asghar Farhadi, que levou o Oscar em 2012 com A Separação. Vale lembrar também que a Polônia apresentou o último filme de Andrzej Wajda, Afterimage, como representante. O filme retrata a luta de um artista polonês contra o Stalinismo e seus ideais. Wajda, que faleceu nesta última semana, recebeu o Oscar Honorário em 2000. Pode ser a última chance da Academia conceder um Oscar póstumo pra um dos maiores diretores europeus.

Cena do filme polonês Afterimage, de Andrzej Wajda (photo by cine.gr)

Cena do filme polonês Afterimage, de Andrzej Wajda (photo by cine.gr)

Outro termômetro para quem larga na frente são os festivais. Muitos países preferem lançar representantes que já participaram em grandes festivais internacionais como Cannes e até conquistaram prêmios para ter mais chances com a Academia. Exemplos dessa estratégia são o alemão Toni Erdmann (indicado à Palma de Ouro), o argentino The Distinguished Citizen (prêmio de Ator em Veneza), o canadense It’s Only the End of the World (Grande Prêmio do Júri em Cannes), o filipino Ma’Rosa (Prêmio de Atriz em Cannes), o documentário italiano Fire at Sea (Urso de Ouro em Berlim) e o venezuelano De Longe te Observo (o primeiro filme latino a vencer o Leão de Ouro em Veneza).

Cena estranha de Toni Erdmann, representante alemão no Oscar. (photo by critic.de)

Cena estranha de Toni Erdmann, representante alemão no Oscar. (photo by critic.de)

E minha torcida vai para o representante francês, Elle, por se tratar de um dos meus diretores favoritos Paul Verhoeven (diretor de RoboCop e Instinto Selvagem). E também pelo tema polêmico, já que a protagonista vivida pela Isabelle Huppert tem fantasias com seu estuprador. Admiro a ousadia francesa em lançar este filme para votantes conservadores da Academia analisarem. Adoraria ver filmes mais ousados na lista de indicações, pois estou farto de filmes de Segunda Guerra Mundial e o Holocausto.

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Isabelle Huppert em cena de Elle, de Paul Verhoeven (photo by TelaTela)

Segue a lista dos 85 candidatos oficiais ao Oscar 2017 de Melhor Filme em Língua Estrangeira:

ALBÂNIA
Chromium
Dir: Bujar Alimani

ALEMANHA
Toni Erdmann
Dir: Maren Ade

ARÁBIA SAUDITA
Barakah Meets Barakah
Dir: Mahmoud Sabbagh

ARGÉLIA
The Well
Dir: Lotfi Bouchouchi

ARGENTINA
The Distinguished Citizen
Dir: Mariano Cohn, Gastón Duprat

AUSTRÁLIA
Tanna
Dir: Bentley Dean, Martin Butler

ÁUSTRIA
Stefan Zweig: Farewell to Europe
Dir: Maria Schrader

BANGLADESH
The Unnamed
Dir: Tauquir Ahmed

BÉLGICA
The Ardennes
Dir: Robin Pront

BOLÍVIA
Sealed Cargo
Dir: Julia Vargas Weise

BÓSNIA HERZEGOVINA
Death in Sarajevo
Dir: Danis Tanovic

BRASIL
Pequeno Segredo
Dir: David Schurmann

BULGÁRIA
Losers
Dir: Ivaylo Hristov

CAMBOJA
Before the Fall
Dir: Ian White

CANADÁ
It’s Only the End of the World
Dir: Xavier Dolan

Cena do filme canadense It's Only the End of the World. O jovem cineasta Xavier Dolan não parece ser unanimidade entre os votantes da Academia, mas a presença de atrizes como Marion Cotillard e Léa Seydoux podem ajudar na campanha. (photo by critic.de)

Cena do filme canadense It’s Only the End of the World. O jovem cineasta Xavier Dolan não parece ser unanimidade entre os votantes da Academia, mas a presença de atrizes como Marion Cotillard e Léa Seydoux podem ajudar na campanha. (photo by critic.de)

CAZAQUISTÃO
Amanat
Dir: Satybaldy Narymbetov

CHILE
Neruda
Dir: Pablo Larraín

Cena do filme biográfico Neruda, sobre poeta chileno. A vantagem aqui é o diretor Pablo Larraín, que além de já ter sido indicado ao Oscar por No, tem o filme Jackie com Natalie Portman nas categorias principais (photo by cine.gr)

Cena do filme biográfico Neruda, sobre poeta chileno. A vantagem aqui é o diretor Pablo Larraín, que além de já ter sido indicado ao Oscar por No, tem o filme Jackie com Natalie Portman nas categorias principais (photo by cine.gr)

CHINA
Xuan Zang
Dir: Huo Jianqi

COLÔMBIA
Alias Maria
Dir: José Luis Rugeles

CORÉIA DO SUL
The Age of Shadows
Dir: Kim Jee-woon

COSTA RICA
About Us
Dir: Hernán Jiménez

CROÁCIA
On the Other Side
Dir: Zrinko Ogresta

CUBA
The Companion
Dir: Pavel Giroud

DINAMARCA
Land of Mine
Dir: Martin Zandvliet

EGITO
Clash
Dir: Mohamed Diab

EQUADOR
Such Is Life in the Tropics
Dir: Sebastián Cordero

ESLOVÁQUIA
Eva Nová
Dir: Marko Skop

ESLOVÊNIA
Houston, We Have a Problem!
Dir: Žiga Virc

ESPANHA
Julieta
Dir: Pedro Almodóvar

ESTÔNIA
Mother
Dir: Kadri Kõusaar

FILIPINAS
Ma’ Rosa

Dir: Brillante Ma Mendoza

FINLÂNDIA
The Happiest Day in the Life of Olli Mäki
Dir: Juho Kuosmanen

FRANÇA
Elle
Dir: Paul Verhoeven

GEORGIA
House of Others
Dir: Rusudan Glurjidze

GRÉCIA
Chevalier
Dir: Athina Rachel Tsangari

HOLANDA
Tonio
Dir: Paula van der Oest

HONG KONG
Port of Call
Dir: Philip Yung

HUNGRIA
Kills on Wheels
Dir: Attila Till

IÊMEN
I Am Nojoom, Age 10 and Divorced
Dir: Khadija Al-Salami

ISLÂNDIA
Sparrows
Dir: Rúnar Rúnarsson

ÍNDIA
Interrogation
Dir: Vetri Maaran

INDONÉSIA
Letters from Prague
Dir: Angga Dwimas Sasongko

IRÃ
The Salesman
Dir: Asghar Farhadi

Cena do iraniano The Salesman, que dialoga com a obra literária de Arthur Miller. Com o histórico de vitória no Oscar, Asghar Farhadi praticamente garante sua presença no Oscar 2017, na opinião deste humilde blogueiro. (photo by cine.gr)

Cena do iraniano The Salesman, que dialoga com a obra literária de Arthur Miller. Com o histórico de vitória no Oscar, Asghar Farhadi praticamente garante sua presença no Oscar 2017, na opinião deste humilde blogueiro. (photo by cine.gr)

IRAQUE
El Clásico
Dir: Halkawt Mustafa

ISRAEL
Sand Storm
Dir: Elite Zexer

ITÁLIA
Fire at Sea
Dir: Gianfranco Rosi

JAPÃO
Nagasaki: Memories of My Son
Dir: Yoji Yamada

JORDÂNIA
3000 Nights
Dir: Mai Masri

KOSOVO
Home Sweet Home
Dir: Faton Bajraktari

LETÔNIA
Dawn
Dir: Laila Pakalnina

LÍBANO
Very Big Shot
Dir: Mir-Jean Bou Chaaya

LITUÂNIA
Seneca’s Day
Dir: Kristijonas Vildziunas

LUXEMBURGO
Voices from Chernobyl
Dir: Pol Cruchten

MACEDÔNIA
The Liberation of Skopje
Dir: Rade Šerbedžija, Danilo Šerbedžija

MALÁSIA
Beautiful Pain
Dir: Tunku Mona Riza

MARROCOS
A Mile in My Shoes
Dir: Said Khallaf

MÉXICO
Desierto
Dir: Jonás Cuarón

Jeffrey Dean Morgan faz um cidadão americano que protege a fronteira americana contra os mexicanos por seus próprios termos. Além do tema polêmico, tem Jonás Cuarón, irmão de Alfonso, vencedor do Oscar por Gravidade. (photo by cine.gr)

Jeffrey Dean Morgan faz um cidadão americano que protege a fronteira americana contra os mexicanos por seus próprios termos. Além do tema polêmico, tem Jonás Cuarón, irmão de Alfonso, vencedor do Oscar por Gravidade. (photo by cine.gr)

MONTENEGRO
The Black Pin
Dir: Ivan Marinović

NEPAL
The Black Hen
Dir: Min Bahadur Bham

NORUEGA
The King’s Choice
Dir: Erik Poppe

NOVA ZELÂNDIA
A Flickering Truth
Dir: Pietra Brettkelly

PALESTINA
The Idol
Dir: Hany Abu-Assad

PANAMÁ
Salsipuedes
Dir: Ricardo Aguilar Navarro, Manolito Rodríguez

PAQUISTÃO
Mah-e-Mir
Dir: Anjum Shahzad

PERU
Videophilia (and Other Viral Syndromes)
Dir: Juan Daniel F. Molero

POLÔNIA
Afterimage
Dir: Andrzej Wajda

PORTUGAL
Letters from War
Dir: Ivo M. Ferreira

QUIRGUISTÃO
A Father’s Will
Dir: Bakyt Mukul, Dastan Zhapar Uulu

REINO UNIDO
Under the Shadow

Dir: Babak Anvari

REPÚBLICA DOMINICANA
Sugar Fields

Dir: Fernando Báez

REPÚBLICA TCHECA
Lost in Munich
Dir: Petr Zelenka

ROMÊNIA
Sieranevada
Dir: Cristi Puiu

RÚSSIA
Paradise
Dir: Andrei Konchalovsky

SÉRVIA
Diário de um Maquinista (Train Driver’s Diary)
Dir: Milos Radovic

SINGAPURA
Apprentice
Dir: Boo Junfeng

SUÉCIA
A Man Called Ove
Dir: Hannes Holm

SUÍÇA
My Life as a Zucchini
Dir: Claude Barras

TAILÂNDIA
Karma
Dir: Kanittha Kwunyoo

TAIWAN
Hang in There, Kids!
Dir: Laha Mebow

TURQUIA
Cold of Kalandar
Dir: Mustafa Kara

UCRÂNIA
Ukrainian Sheriffs
Dir: Roman Bondarchuk

URUGUAI
Breadcrumbs
Dir: Manane Rodríguez

VENEZUELA
De Longe te Observo (Desde Allah)
Dir: Lorenzo Vigas

Cena do filme venezuelano De Longe te Observo, de Lorenzo Vigas. Trata-se de um bom drama, mas a temática homossexual pode enfraquecer sua campanha (photo by cine.gr)

Cena do filme venezuelano De Longe te Observo, de Lorenzo Vigas. Trata-se de um bom drama, mas a temática homossexual pode enfraquecer sua campanha (photo by cine.gr)

VIETNÃ
Yellow Flowers on the Green Grass
Dir: Victor Vu

A 89ª cerimônia do Oscar será no dia 26 de fevereiro.

Americanos dominam Veneza, mas filme filipino ‘The Woman Who Left’ leva o Leão de Ouro

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Cena de “The Woman Who Left”, de Lav Diaz (photo by Venice Cortesy through Variety)

DIANTE DE VÁRIAS OPÇÕES INTERESSANTES,
SAM MENDES CONSEGUIU BOM EQUILÍBRIO NA PREMIAÇÃO ITALIANA

Deve ser difícil ser o presidente do júri de um grande festival como Veneza. Primeiramente, tem que assistir a uma série de filmes bons e instigantes que muitas vezes exigem uma preparação do espectador. Depois, precisa analisar e selecionar aqueles que considera melhores num âmbito artístico em que, teoricamente, não há melhores ou piores. E após a divulgação dos resultados, pode ser severamente criticado por suas escolhas, ou acusado de patriotismo, coleguismo ou nepotismo.

Levando tudo isso em consideração, o diretor americano Sam Mendes, aquele mesmo prodígio de Beleza Americana, teve a audácia de assumir essa responsabilidade. Premiou quatro filmes americanos nas categorias principais, mas deixou o prêmio máximo para uma produção filipina de 4 horas de duração.

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O diretor filipino Lav Diaz e seu Leão de Ouro (photo by qz.com)

Alguns podem  se questionar: “Será que ele quis impressionar através de um alto cunho artístico? Ou simplesmente escolheu aquele longa que mais mexeu com ele?”. Particularmente, acredito que a última opção foi o que aconteceu, mas de qualquer forma, o presidente fica muito suscetível a questionamentos.

O fato é que o diretor filipino Lav Diaz possui uma filmografia bastante densa. Seus filmes costumam ter alta duração e tópicos profundos. E The Woman Who Left, um drama de vingança sobre uma professora presa por 30 anos acusada erroneamente, deve ser mais uma gema para sua coleção. Filmado em preto-e-branco, o filme foi altamente recomendado por críticos, que ressaltaram o estudo que faz da moral.

Voltando à questão do júri e de suas escolhas, acho interessante esse papel dos festivais de instigar diretores autorais através de premiações a se reinventarem ou jogar uma luz onde não havia, pois isso que alimenta o Cinema como Arte. Em seu discurso de agradecimento, Lav Diaz declarou: “Isto é para meu país, para o povo filipino, por nossa luta da humanidade”.

Quanto aos filmes norte-americanos, havia realmente um apanhado de boas produções selecionadas que podem, e devem figurar na temporada de premiações de 2017, e talvez por isso mesmo, Sam Mendes não tenha se esforçado tanto para conceder o Leão de Ouro a uma dessas produções com lugar cativo no Oscar. Vale ressaltar que Gravidade e Birdman são exemplos recentes de produções que se destacaram em Veneza e acumularam estatuetas do Oscar na sequência.

Em apenas seu segundo trabalho como diretor, o estilista mundialmente reconhecido da Gucci, Tom Ford, retorna à Veneza após o ótimo drama Direito de Amar (2009) para apresentar outro drama contundente intitulado Nocturnal Animals. Também se trata de uma história de vingança que dialoga com o mundo artístico de Los Angeles e com o mundo do crime do Texas. Ford contou com a colaboração de atores em alta em Hollywood como Amy Adams, Jake Gyllenhaal e Michael Shannon. Já podemos arriscar suas indicações ao Oscar 2017?

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Jake Gylenhaal (centro) e Michael Shannon (à direita) em cena de Nocturnal Animals (photo by independent.co.uk)

Os outros dois filmes mais falados em Veneza também são americanos: o musical La La Land, e o drama Jackie. O primeiro é o musical dirigido pelo talentoso Damien Chazelle de Whiplash: Em Busca da Perfeição. Para quem viu o trailer, dá pra se ter altas expectativas pelo visual e por se tratar de um musical mais jazz e inusitado. Por sua performance, Emma Stone levou o Volpi Cup de Melhor Atriz. Infelizmente, ela não estava presente na cerimônia, pois seria uma surpresa e tanto!

Trailer oficial de La La Land, de Damien Chazelle (Lions Gate Movies)

A vitória de Stone surpreendeu um pouco porque Natalie Portman como a primeira-dama Jacqueline Kennedy em Jackie estava no topo das casas de apostas. O drama dirigido pelo chileno Pablo Larraín concentra sua trama no pós-assassinato do presidente Kennedy, quando Jackie estava de luto, precisava consolar seus filhos e tomar as rédeas para honrar o legado de seu marido. Se Portman saiu de mãos abanando, pelo menos o roteiro de Noah Oppenheim saiu reconhecido.

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Natalie Portman como a ex-Primeira Dama, Jacqueline Kennedy, em Jackie (photo by vogue.com)

E a última produção americana premiada foi The Bad Batch, de Ana Lily Amirpour. Conhecida pelo inovador filme iraniano de vampiros falado em persa, Garota Sombria Caminha Pela Noite, a jovem diretora trouxe outro filme com “peculiaridades”: uma história de amor que se passa num Texas à la western com comunidade de canibais. Particularmente, fiquei curioso pra saber como estão as performances de dois atores bastante rotulados: Jim Carrey e Keanu Reeves.

Falando em atores, o prêmio Volpi Cup de Ator foi para o argentino Oscar Martinez na dramédia The Distinguished Citizen, no qual interpreta um vencedor de prêmio Nobel de Literatura que retorna à sua cidade natal em busca de inspiração. Como todo bom filme argentino, apresenta críticas contemporâneas como a fama, ao mesmo tempo em que nos diverte com diálogos perfeitos e atuações sucintas.

Actor Oscar Martinez holds the Volpi Cup prize for best actor for the movie "The Distinguished Citizen" during the awards ceremony at the 73rd Venice Film Festival in Venice

Oscar Martinez segura seu Volpi Cup de Melhor Ator por “The Distinguished Citizen” Photo by REUTERS/Alessandro Bianchi

E o único empate desta edição ficou na categoria de Direção, dividido entre o mexicano Amat Escalante por The Untamed, e o russo Andrei Konchalovsky, que trouxe o drama do Holocausto, Paradise.

 

VENCEDORES DA 73ª EDIÇÃO DE VENEZA

LEÃO DE OURO
“The Woman Who Left,” de Lav Diaz

LEÃO DE PRATA DE MELHOR DIRETOR (EMPATE)
“Paradise,” Andrei Konchalovsky
“The Untamed,” Amat Escalante

GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
“Nocturnal Animals,” Tom Ford

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O elegante Tom Ford posando com seu Grande Prêmio do Júri pelo drama “Nocturnal Animals” (photo by hollywoodreporter.com)

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
“The Bad Batch,” Ana Lily Amirpour

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A jovem diretora Ana Lily Amirpour com seu Prêmio do Júri por ‘The Bad Batch’ (photo by Getty Images through BBC.com)

ATOR
Oscar Martinez (“The Distinguished Citizen”)

ATRIZ
Emma Stone (“La La Land”)

PRÊMIO MARCELLO MASTROIANNI PARA JOVENS ATORES
Paula Beer (“Frantz”)

MELHOR ROTEIRO
Noah Oppenheim  (“Jackie”)

PRÊMIO LUIGI DE LAURENTIIS
“The Last of Us,” Ala Eddine Slim

MOSTRA HORIZONTES

MELHOR FILME
“Liberami,” Federica di Giacomo

MELHOR DIRETOR
“Home,” Fien Troch

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
“Big Big World,” Reha Erdam

PRÊMIO ESPECIAL PARA MELHOR ATOR
Nuno Lopes (“São Jorge”)

PRÊMIO ESPECIAL PARA MELHOR ATRIZ
Ruth Diaz (“The Fury of a Patient Man”)

MELHOR ROTEIRO
Wang Bing (“Bitter Money”)

MELHOR CURTA-METRAGEM
“La Voz Perdida,” Marcelo Mantinessi, Paraguay

VENICE CLASSICS AWARDS

MELHOR DOCUMENTÁRIO
“Le Councours,” Claire Simon

MELHOR FILME RESTAURADO
“Break-Up — L’uomo dei cinque palloni,” Marco Ferreri

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