RETROSPECTIVA 2019: O Ano das Diretoras e da A24

RETROSPECTIVA 2019.jpg

Mais um ano se foi. Tradicionalmente, nessa época faço uma espécie de balanço sobre tudo relacionado a Cinema. Filmes vistos, amados e odiados, como foi o Oscar, o que mudou no cenário e as perdas que tivemos ao longo do ano. É um exercício bacana de ser feito, lido e relido para acompanhar as mudanças e adaptações que o Cinema sofre de tempos em tempos.

Sintam-se à vontade para postar nos comentários seus Tops 5 ou 10 dos melhores e piores. Se tem uma coisa bacana de listas é que eles sempre acrescentam novas opiniões e novas descobertas. Espero poder compartilhar um pouco disso tudo com vocês seguidores do blog, da página do Facebook e agora do nosso perfil no Instagram.

OSCAR 2019: ANO DOS BLOCKBUSTERS MAS SEM UM HOST!

Primeiramente, gosto da idéia de abrir a cerimônia com uma performance musical. Por mim, podia se tornar uma tradição, afinal, temos que ouvir as 5 canções indicadas de qualquer jeito, então por que não adiantar? Em 2017, Justin Timberlake logo cantou a canção de Trolls e logo animou o público.

Este ano, apesar de ter gostado de ver os integrantes do Queen ali no palco, não apreciei a performance vocal de Adam Lambert. E foi logo aí que senti falta de um host. Pra quem não se lembra do episódio, a Academia chamou Kevin Hart para ser o host, mas descobriram que ele não é uma figura politicamente correta, aí lançaram aquele ultimato ridículo do “Ou pede desculpas ou você cai fora!”. Felizmente Hart peitou a instituição e pediu demissão. Aí, vimos um cenário em Hollywood que ninguém estava disposto a ter a vida pessoal vasculhada para ocupar a vaga de Hart. Então, alguém da produção do evento teve a brilhante idéia: “Por que não fazer o show sem host? Vamos economizar uma hora!”. A verdade é que conseguiram eliminar alguns minutos do programa, mas o Oscar ficou sem graça. Se fosse só pra revelar os resultados, preferia um powerpoint.

Design sem nome (28).jpg

A cerimônia só melhorou depois de mais de uma hora com a apresentação de “Shallow” de Lady Gaga e Bradley Cooper. E teve o momento mais surpreendente e caloroso com a vitória de Olivia Colman para Melhor Atriz por A Favorita. A gente que é cinéfilo sente muito por mais uma derrota de Glenn Close, mas no fundo sabe que Colman entregou uma performance melhor e mais original.

Dentre as vitórias, também fiquei feliz por Ruth E. Carter, que venceu o Oscar de Figurino por Pantera Negra. Claro que a mídia a saudou como a primeira negra a ganhar o Oscar dessa categoria, o que é bastante válido para a história da premiação, mas o que me chama bastante a atenção é o capricho dela para que os figurinos revelem mais sobre a personalidade dos personagens. Embora seja baseado em material pré-existente dos quadrinhos da Marvel, toda a cultura afro ficou muito bem impressa e representada nos figurinos. E foi uma vitória diferenciada na categoria, que costuma premiar filmes de época praticamente todos os anos.

E pra fechar, a vitória de Homem-Aranha no Aranha-Verso pra mim foi um respiro pra fora da água dominada por Disney e Pixar. Não que eu morra de paixão pelo filme (considero a história relativamente fraca comparada à própria qualidade da animação e design), mas certamente foi uma grata surpresa da Sony, que explora bem a questão da diversidade na identidade do personagem. Aproveitando o assunto do Oscar de Longa de Animação, ficaria mais feliz se filmes mais alternativos ganhassem de vez em quando. Neste ano, por exemplo, Mirai e Ilha dos Cachorros eram trabalhos criativos que poderiam ter vencido também.

BALANÇO FEMININO

Depois dos movimentos feministas do Me Too e Time’s Up, Hollywood se sentiu acuada para se adaptar aos novos tempos. Felizmente, houve um crescimento considerável cerca de 33% de mulheres atrás das câmeras, tanto nas produções cinematográficas como nas televisivas. Claro que ainda há um longo caminho a percorrer, já que essas atividades eram exclusivamente predominadas por homens por mais de um século, mas os grandes estúdios estão enxergando essa mudança como benéfica, e não se limitar apenas a cumprir uma cota.

Uma das grandes mudanças foi que, antes, qualquer projeto poderia ser dirigido por homens. Hoje, existem alguns projetos, principalmente de temática feminina, que são praticamente impossíveis de contar com uma visão masculina. Por exemplo: a comédia Fora de Série (Booksmart), sobre duas meninas colegiais que buscam farrear antes da formatura, ou As Golpistas (Hustlers), que acompanham a volta por cima das strippers que perderam muito dinheiro por causa de Wall Street. Como em qualquer forma de arte, quanto maior o número de visões e perspectivas, melhor e mais completa fica a arte em si. Não deve se tratar apenas de porcentagens de mulheres empregadas, mas que suas vozes sejam trabalhadas em projetos que as façam ser ouvidas.

Dentre as diretoras de 2019, destacamos algumas mais relevantes:

  • Olivia Wilde (Fora de Série)
  • Mati Diop (Atlantique)
  • Céline Sciamma (Retrato de uma Jovem em Chamas)
  • Marielle Heller (Um Lindo Dia na Vizinhança)
  • Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres)
  • Lulu Wang (The Farewell)
  • Melina Matsoukas (Queen & Slim)
  • Lorene Scafaria (As Golpistas)
  • Alma Har’el (Honey Boy)
  • Kasi Lemmons (Harriet)
  • Elizabeth Banks (As Panteras)

Houve muita reclamação de cineastas sobre a exclusão de mulheres na categoria de Direção no Globo de Ouro 2020. Eles não indicam uma mulher desde 2015, quando Ava DuVernay foi reconhecida por Selma. Embora tenhamos maior número de mulheres nas cadeiras de direção, não significa necessariamente que as premiações precisam ou são obrigadas a indicar ou premiá-las. Calma! O reconhecimento vai vir, e muito em breve, mas ele tem de vir com o devido mérito para que entre na história. Esta é uma luta que precisa ser contínua para que possa colher os frutos, que certamente virão.

Greta Gerwig Little Women.jpg

Greta Gerwig dá orientações a Meryl Streep nas filmagens de Adoráveis Mulheres (pic by IMDb)

Honestamente, acredito que a Academia pode indicar uma diretora este ano, pois são milhares de membros votantes contra 90 jornalistas da HFPA. Contudo, mesmo que haja um esforço coletivo, não existe um consenso entre Greta Gerwig, Lulu Wang e Olivia Wilde. Se houvesse um foco como a própria Gerwig com Lady Bird há dois anos, seria mais fácil. Esse cenário pode e deve mudar com o anúncio do DGA, sindicato dos diretores, em 07 de Janeiro.

Falando em futuro, em 2020 estão previstos grandes projetos comandados por diretoras que prometem melhorar ainda mais o quadro feminino em Hollywood. Só para citar algumas: Niki Caro (Mulan), Chloé Zhao (Os Eternos), Cate Shortland (Viúva Negra), Patty Jenkins (Mulher-Maravilha 1984) e Lana Wachowski (Matrix 4).

MARTIN SCORSESE vs MARVEL STUDIOS

Já abordamos este assunto aqui antes, mas na área de cinema, foi um dos que mais repercutiu. E mal para Martin Scorsese. Apesar de entendermos o desabafo do cineasta ítalo-americano, a frase “Os filmes da Marvel não são cinema. São um parque temático” soou como  uma estratégia barata de desvalorizar o concorrente das bilheterias porque está morrendo de inveja, mas não pode demonstrar.

Como um diretor renomado dos anos 70, Scorsese poderia ter se aposentado como o colega Francis Ford Coppola, porque depois de Taxi Driver, O Rei da Comédia e Touro Indomável, ele não precisava provar mais nada pra ninguém, mas admiro muito a vontade criativa dele. Foi um dos poucos de sua geração que ainda busca fazer filmes bons e inventivos como O Lobo de Wall Street, A Invenção de Hugo Cabret e o recente O Irlandês. Então pra que expôr uma opinião fútil como essa?

A Marvel Studios e o produtor Kevin Feige estão colhendo os merecidos frutos de um planejamento muito bem feito que se iniciou lá em 2008. Vingadores: Ultimato se tornou a maior bilheteria de todos os tempos, conseguindo superar os dois filmes de James Cameron: Titanic e Avatar. Você pode não gostar dos filmes, mas eles têm uma boa carga de entretenimento que muitos apreciam (taí os números pra confirmar essa paixão). E as adaptações de histórias em quadrinhos começou há pouco tempo. São décadas e mais décadas de HQs repletas de material para o cinema, então essa onda não vai acabar tão cedo, a menos que o público decida que termine antes.

Irishman Scorsese

Scorsese entre Al Pacino e Robert De Niro na premiere de O Irlandês da Netflix (pic by IMDb)

Quanto a Scorsese, felizmente ele se encaixou bem no sistema da Netflix, que se tornou um oásis para diretores autores como ele. Cada cinema tem seu próprio espaço. Não precisa desmerecer os outros trabalhos para valorizar o seu próprio.

O ANO DA A24

Fundado em 2012, o estúdio nova-iorquino (que era apenas uma distribuidora no início) já vinha se destacando pelos seus títulos e suas passagens vitoriosas em premiações nos últimos anos. Ex-Machina, O Quarto de Jack, Moonlight, A Bruxa, Lady Bird e Projeto Flórida, só para citar alguns.

Este ano, foi um dos grandes destaques ao lado da Netflix (aliás, falando na plataforma de streaming, a partir de 2020, os filmes da A24 serão exibidos apenas na plataforma da concorrente Apple Plus TV devido a um acordo firmado). Embora ainda não tenha produções muito bem-sucedidas nas bilheterias, estão chamando atenção pelas apostas mais arriscadas em originalidade como Midsommar, um filme de terror psicológico que se passa na Suécia e dispensa a escuridão para assustar.

Midsommar.jpg

Muita luz do sol e cores: Florence Pugh em Midsommar (pic by IMDb)

Essa filosofia do estúdio tem atraído vários cineastas que também estão cansados das mesmices dos lançamentos de cinema e estão buscando novas temas e novas vozes. Enquanto a Netflix tem abrigado os diretores renomados que perderam espaço nos cinemas como Martin Scorsese, Noah Baumbach, Fernando Meirelles e até o falecido Orson Welles, a A24 tem apostado em novos talentos ou diretores em início de carreira. Entre os novatos estão Robert Eggers, Ari Aster, Lulu Wang, David Robert Mitchell, Trey Edward Shults e os irmãos Benny e Josh Safdie. Todos são nomes que você pode apostar em originalidade e personalidade.

Eis alguns destaques do estúdio lançados em 2019:

  • Jóias Brutas (Uncut Gems)
  • O Farol (The Lighthouse)
  • Midsommar
  • The Farewell
  • The Last Black Man in San Francisco
  • Waves
  • The Souvenir
  • Gloria Bell
  • Under the Silver Lake
Uncut Gems Adam Sandler.jpg

Adam Sandler como o dono de joalheria Howard Ratner em Uncut Gems (pic by IMDb)

CRÍTICAS

Bom, apesar de não ter conseguido conferir trabalhos badalados como Jojo Rabbit, O EscândaloDois Papas, procurei assistir ao maior número possível de potenciais da temporada de premiações e futuros indicados ao Oscar como O Irlandês, História de um Casamento, The Farewell, Dor e Glória, Coringa, Atlantique e Bacurau. A lista provavelmente seria um pouco diferente se eu apenas privilegiasse a qualidade artística, mas procurei valorizar a questão da originalidade e perspectiva.

Dentre alguns trabalhos que não estão na lista, destaco Atlantique e Bacurau. Ambos trabalham com elementos do cinema de gênero com a finalidade de reforçar uma mensagem sócio-econômica, embora suas metáforas ainda estejam aquém do nível de um John Carpenter, por exemplo. Fora de Série da diretora estreante Olivia Wilde também vale a citação. Não que seja um primor como filme, mas por ela conseguir fazer uma versão feminina daqueles típicos filmes de adolescente americano que pipocaram nos anos 80 e 90 imprimindo sua personalidade logo em seu primeiro filme.

Já o novo filme de Tarantino, Era uma Vez em… Hollywood, tem seus méritos principalmente no quesito da paixão que o diretor nutre pelo cinema como um escape da realidade cruel dos anos 70. Ele faz do filme uma espécie de carta de amor à poesia da arte. Como roteiro, deixou um pouco a desejar, principalmente por personagens secundários e por repetir a fórmula de mudar o curso da História como fez em Bastardos Inglórios com os nazistas, e Django Livre com os escravistas.

META 2019

Não tive exatamente uma meta estipulada em números, mas acho vergonhoso da minha parte assistir a menos de 100 filmes em um ano. Em 2019, consegui fazer as pazes com o tempo e consegui me dedicar mais aos filmes, resultando em 234 longas e 26 curtas até a presente data. Talvez ainda consiga ver mais um ou outro antes da virada do ano.

Além dos lançamentos, procurei assistir a alguns filmes que estavam na minha watchlist há um bom tempo como os clássicos A Montanha dos Sete Abutres (1951), Anatomia de um Crime (1959), Cléo das 5 às 7 (1962) e voltar a ter contato com os mestres Akira Kurosawa em Trono Manchado de Sangue (1957), Vittorio De Sica em Vítimas da Tormenta (1946), Jean Renoir em A Regra do Jogo (1939) e John Cassavettes em Amantes (1984), enquanto descobria filmes excepcionais como A Longa Caminhada (1971), O Espírito da Colméia (1973), Alambrista! (1977), El Norte (1983) e Tudo por Dinheiro (1982).

PIORES DO ANO

Não sei quanto a vocês, mas apesar de gostar de assistir de tudo, se possível prefiro economizar meu tempo e dinheiro com filmes que estão destinados a serem ruins, de gosto duvidoso ou com complicações na produção. Então, dificilmente assistirei a Playmobil: O Filme, por exemplo. Já há casos que até me interessei pelos diretores envolvidos, mas após conferir os trailers e ler as críticas, acabei desanimando como aconteceu com Projeto Gemini (Ang Lee), Hellboy (Neil Marshall) e Cadê Você, Bernadette? (Richard Linklater). Provavelmente vou conferir esses últimos filmes, mas quem sabe depois do Oscar?

TOP 5 PIORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. DORA E A CIDADE PERDIDA (Dora and the Lost City of Gold)
Dir: James Bobin
Apesar de ser destinado a um público infantil, trata-se de uma adaptação com zero de imaginação, péssimos diálogos e personagens. E que ainda não dá pra ser sustentado por um carisma ainda meio verde de Isabela Moner. Se fosse lançado direto para home video, ainda estaria sendo privilegiado.

4. X:MEN: FÊNIX NEGRA (Dark Phoenix)
Dir: Simon Kinberg
Tudo bem que a Fox estava praticamente vendida para a Disney, mas quem teve a brilhante idéia de contratar um diretor estreante que ficou conhecido por ser produtor de algumas pérolas como X-Men: O Confronto Final, Jumper e Quarteto Fantástico (2015)? Desgastou uma das maiores sagas dos quadrinhos dos X-Men… mais uma vez.

3. A LAVANDERIA (The Laundromat)
Dir: Steven Soderbergh
É difícil acreditar que um cineasta criativo como Soderbergh, que já realizou Sexo, Mentiras e Videotape (1989) e Irresistível Paixão (1998) se tornou um Adam McKay genérico. Ele quis imitar o filme da crise econômica A Grande Aposta (2015), e acabou fazendo um vídeo institucional de 1 hora e meia.

2. O PINTASSILGO (The Goldfinch)
Dir: John Crowley
Esse filme é uma verdadeira aula de como NÃO adaptar um livro, ainda mais vencedor do Pulitzer, para o cinema. As cenas não têm carga emocional, e o péssimo trabalho de montagem só piora o material. O que mais dói é que Crowley tinha Roger Deakins como diretor de fotografia (não sabia que era possível fazer filme ruim com ele na câmera) e Nicole Kidman e Sarah Paulson no elenco. Um erro em todos os departamentos.

1. O REI LEÃO (The Lion King)
Dir: Jon Favreau
Pra quem acompanha o blog, sabe que sou contra essa onda de Live-Actions da Disney. Claro que eles estão na deles de querer lucrar com um material conhecido, mas essa falta de criatividade e falta de propósito nos remakes me assombra como cinema. E acredito (e espero) que este filme seja o ápice do vazio desses live-actions. Não se trata apenas de animais sem expressão humanizada, mas de uma história clássica recontada de forma praticamente idêntica, porém sem alma. Alguém lembra da versão colorida de Psicose de Gus Van Sant? Os atores que dublaram, com exceção óbvia de James Earl Jones, são infinitamente piores do que aqueles de 1994, o que elimina qualquer rastro de humanidade num filme que mais precisava dele. Os efeitos visuais são ótimos e merecem o Oscar da categoria, mas se quer reviver o Hamlet da Disney, reveja a animação.

The Lion King.jpg

Cena do live action O Rei Leão (pic by IMDb)

MELHORES DO ANO

TOP 5 MELHORES LANÇAMENTOS DO ANO

5. O FAROL (The Lighthouse/ 2019)
Dir: Robert Eggers
Talvez a decisão mais difícil neste top 5. Havia colocado O Irlandês aqui, mas algumas coisas pesaram a favor de O Farol, começando pela incrível estética. Robert Eggers foi extremamente ousado ao decidir filmar em 35mm, em preto-e-branco e numa real locação, onde ficaram expostos a inúmeros contratempos. A fotografia de Jarin Blaschkin é primorosa, pois além do aspecto expressionista repleto de sombras, sua granulação permite uma vibe tátil e é quase possível sentir o cheiro do mar. Ótimas atuações, especialmente de Willem Dafoe, um ator versátil como poucos. Diria que é um filme perturbador pelo aspecto de isolamento.

4. LUCE (Luce/2019)
Dir: Julius Onah
Fui atrás desse filme depois das indicações ao Independent Spirit e me surpreendi pela evolução na temática racista. É como se o cinema já estivesse saturado da superficialidade da questão racial e decidisse se aprofundar com uma trama diferente com personagens mais densos e com backgrounds alternativos. O protagonista Luce é um aluno prodígio no colégio, mas com idéias um tanto radicais que podem ter explicação em seu passado. Grandes atuações, especialmente de Kelvin Harrison Jr. e Octavia Spencer.

3. NÓS (Us/ 2019)
Dir: Jordan Peele
No papel, é um filme inferior a Corra!, mas Jordan Peele fez o que se esperava dele: foi mais ambicioso, tanto na questão racial quanto na questão filosófica.  A primeira vez que se assiste a Nós, a ação e a tensão crescente nos entretém como um bom filme de terror psicológico. A partir da segunda vez, é possível analisar melhor os detalhes que perdemos para nos proporcionar uma reflexão maior sobre as metáforas e simbolismos. Lupita Nyong’o extraordinária em dois papéis.

2. JÓIAS BRUTAS (Uncut Gems/ 2019)
Dir: Benny Sadie e Josh Safdie
Depois de se encantar com o filme anterior dos irmãos Safdie, Bom Comportamento, havia altas expectativas em relação a este novo trabalho. Mesmo assim, Jóias Brutas consegue nos surpreender, principalmente pela fluidez de sua narrativa. Como uma marca dos diretores, a imprevisibilidade faz parte dos acontecimentos, o que reforça ainda mais as atuações de Julia Fox, e principalmente de Adam Sandler. Ótima combinação de montagem com a trilha de Daniel Lopatin. É aquele típico filme que não tem cara de Oscar, mas que depois a Academia vai se arrepender de não ter premiado ou sequer indicado.

1. PARASITA (Gisaengchung/ 2019)
Dir: Bong Joon-Ho
Parasita é aquele fruto perfeito que o diretor Bong Joon-Ho plantou lá atrás com os intrigantes Memórias de um Assassino (2003), O Hospedeiro (2006), Mother (2009), O Expresso do Amanhã (2013) e Okja (2017). Aqui ele volta a dialogar com vários temas que já tratou como a família, a luta de classes e até a questão da superpopulação, mas de uma forma completamente diferente. A mistura de gêneros é tamanha que dá a impressão de que o filme vai se perder a qualquer momento, mas a direção de Joon-Ho é tão segura do primeiro ao último minuto que é impossível não ficar impressionado pelo seu controle. Um filme pra se ver várias vezes, descobrir coisas novas e com chances mínimas de ficar datado. Um dos melhores filmes deste século XXI.

Parasite.jpg

Cena de Parasita (pic by OutNow.CH)

TOP 5 MELHORES em ACERVO MÍDIA DIGITAL ou STREAMING

5. OASIS (Oasiseu/ 2002)
Dir: Chang-dong Lee
Depois de me apaixonar por seus outros trabalhos posteriores: Poesia, Sol Secreto e Em Chamas, finalmente consegui conferir Oasis. Lee escolhe a dedo seu protagonista atrapalhado que consegue enxergar muito mais além da superfície de preconceitos e ir fundo na alma da debilitada Gong-ju (aliás, impressionante atuação de So-ri Moon, que deixa Eddie Redmayne no chão). Um filme extremamente poético que merece ser descoberto.

Oasis

4. WANDA (Wanda/ 1970)
Dir: Barbara Loden
Muito se fala hoje de mulheres no cinema, então ninguém melhor do que Barbara Loden para abrir a discussão. Ela teve a audácia de dirigir um filme escrito e atuado por ela no final dos anos 60, tornando-se a primeira mulher a fazê-lo com este belo e tocante Wanda. A protagonista de mesmo nome é uma ex-dona de casa, recém-divorciada em uma pequena cidade de mineração nos EUA que tem uma segunda chance na vida ao ser acolhida por um ladrão. A atriz pioneira morreu muito jovem, aos 48 anos, vítima de câncer de mama. 

Wanda.jpg

3. A MONTANHA DOS SETE ABUTRES (Ace in the Hole/ 1952)
Dir: Billy Wilder
Este filme é um TAPA enorme no sensacionalismo da mídia. Jornalista de NY explora o circo midiático de um acidente na montanha que deixa um homem soterrado por dias. Somente Billy Wilder, grande diretor dos clássicos Se Meu Apartamento Falasse, Testemunha de Acusação e Pacto de Sangue, poderia destrinchar a podridão do jornalismo nos anos 50. Confirmando que o mestre estava à frente de seu tempo, o filme foi um fracasso de crítica e de público, mas ainda permanece muito relevante nos dias de hoje, e sua qualidade inquestionável. Talvez o melhor papel de Kirk Douglas na carreira, e estupenda atuação de Jan Sterling.

Ace in the Hole

2. MARGARET (Margaret/ 2011)
Dir: Kenneth Lonergan
Fiquei com esse filme na cabeça por alguns dias por vários motivos. Margaret é um filme sobre uma moça (Anna Paquin) que testemunha um acidente de ônibus na cidade. Com enorme peso na consciência, ela busca respostas se realmente foi acidental ou um erro grave. Só a cena do acidente em si já te deixa baqueado por um bom tempo, depois essa questão ética te drena de uma forma contundente. Paquin entrega sua melhor performance, Jeannie Berlin rouba suas cenas e temos uma vibe mega ôrganica nesse filme que é difícil não ficar perdido. Originalmente, o filme estava previsto para lançamento em 2007, mas devido às brigas de corte final com a Fox Searchlight, Lonergan teve de aguardar QUATRO anos para seu filme ser descoberto.

Margaret.jpg

1. O REI DA COMÉDIA (The King of Comedy/ 1982)
Dir: Martin Scorsese
Dentre alguns filmes de Scorsese que deixei escapar, estava O Rei da Comédia. Yes, my bad!  O filme é focado na vida de Rupert Pupkin (Robert De Niro), um comediante amador que sonha em fazer sucesso no programa de TV de Jerry Langford (Jerry Lewis). Aproveitei a oportunidade do lançamento de Coringa para conferir este filme, para então descobrir que o diretor Todd Phillips praticamente copiou este filme e Taxi Driver para criar sua Gotham City dos anos 70. Não que copiar seja algo necessariamente inválido, mas o impacto que Coringa causou em muitos cinéfilos não se aplicava naqueles que já haviam visto os filmes de Scorsese. Honestamente, considero o Rupert Pupkin de De Niro e a Masha de Sandra Bernhard mais assustadores do que Joaquin Phoenix como Arthur Fleck. Pupkin tem uma imprevisibilidade deixariam muitos stalkers no chão. Filme perfeito de Scorsese, cujas cenas são inestimáveis, e ele pratica o humor negro que nunca imaginei que ele teria.

King of Comedy

Jerry Lewis e Robert De Niro em cena de O Rei da Comédia (pic by IMDb)

IN MEMORIAN

Foi triste acompanharmos a partida de atores muito jovens partindo como o nosso Caio Junqueira, que morreu num acidente de carro aos 42 anos, o ator americano Luke Perry aos 52 anos, e o diretor John Singleton aos 51, vítimas de AVC. Singleton foi o primeiro diretor negro a ser indicado ao Oscar de Direção e também o mais jovem aos 24 anos por Os Donos da Rua (1991).

Perdemos grandes mestres do cinema como a emblemática Agnès Varda, Franco Zeffirelli, Stanley Donen, e os diretores brasileiros Domingos de Oliveira e Fábio Barreto.

Dentre os atores, o britânico Albert Finney (indicado a 5 Oscars sem vitória), Doris Day (uma indicação por Confidências à Meia-Noite), Peter Fonda (2 indicações: uma por Roteiro Original e outra como Ator por O Ouro de Ulisses), Seymour Cassel (uma indicação por Faces), Robert Forster (uma indicação por Jackie Brown), Danny Aiello (uma indicação por Faça a Coisa Certa).

Outros atores que marcaram sua época estão Bibi Andersson (uma das favoritas de Ingmar Bergman), Rutger Hauer (Blade Runner), Bruno Ganz (que foi anjo em Asas do Desejo e Hitler em A Queda), Anna Karina (O Demônio das Onze Horas), Julie Adams (a moça que encantou o Monstro da Lagoa Negra) e Peter Mayhew, que foi o Chewbacca de Star Wars.

Também gostaríamos de destacar o grande compositor francês Michel Legrand, que venceu 2 Oscars de Trilha Musical (Houve uma Vez um Verão e Yentl) e 1 Oscar de Canção Original (Crown, o Magnífico).

Mais fora do âmbito do cinema, sentimos pela perda da cantora sueca Marie Fredriksson da banda Roxette (ela tinha câncer no cérebro), e dos brasileiros Gugu Liberato (que foi vítima de um acidente doméstico, e que participou de uns filmes brasileiros com a Xuxa e os Trapalhões) e o jornalista Ricardo Boechat (vítima de um acidente de helicóptero). Boechat era um dos raros âncoras de telejornal que expressava a nossa indignação com as notícias da política brasileira.

Ainda abro espaço para o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, que nos deixou em junho. Apesar de ter trabalhos como ator e escritor, ficou conhecido por ser o “homem do Oscar”, que fez a conexão de incontáveis cinéfilos à Sétima Arte por seu vasto conhecimento sobre filmes e artistas. Trabalhou como apresentador de TV nas transmissões das cerimônias do Oscar pelo SBT, Globo e TNT, e foi autor de inúmeros guias de filmes. Em 1998, assisti à cerimônia em que Titanic venceu 11 Oscars e fiquei abismado com a memória cinematográfica dele, especialmente naquela bela homenagem intitulada “Álbum de Família do Oscar”, na qual vários atores que venceram a estatueta eram saudados no palco. Rubens sabia todos os atores e os filmes pelos quais eles ganharam seus prêmios. Eu tinha gravado o evento no meu velho aparelho de videocassete e assisti inúmeras vezes a este Oscar, decorando os nomes através da voz dele. Em 2009, fui a um evento na extinta videolocadora 2001 em São Paulo, onde tive o prazer de conhecê-lo. Tive o privilégio de declarar meu enorme respeito e carinho para aquele que me introduziu a este universo de premiações de cinema. Era um homem muito querido e de uma bondade tremenda com seus fãs. Que descanse em paz, Rubens!

IMG_0791.JPG

Encontro com Rubens Ewald Filho em evento do lançamento de mais um guia de filmes de sua autoria

VOTOS PARA 2020

Não sei como foi o ano para vocês, mas o meu foi uma montanha-russa de altos e baixos. E foram nos momentos baixos que o Cinema mais me serviu como alento e fuga. Porém, além dessa característica quase medicinal, os filmes vêm com um propósito pouco comentado mas essencial que é sua capacidade de promover a compreensão entre as pessoas, os povos, as raças e as religiões. Tudo o que as diferenças separam, o cinema tem a incrível capacidade de unir… talvez com raras exceções entre os fãs de Marvel e DC, ou de Star Wars.

Então, proponho um exercício para 2020. Você, que tem aquele preconceito sobre determinado assunto, determinado perfil de pessoas, determinado tipo de crença, assista a um filme sobre esses temas (claro, não sendo um filme supérfluo). Seja uma ficção, ou seja um documentário, o Cinema vai oferecer luz de conhecimento e empatia para aqueles cantos escuros da sua mente. Sinta na pele como é ser outra pessoa, entender seus problemas e refletir sobre seus dilemas. Na maioria das vezes, o cinema é somente associado a entretenimento porque é o grande chamariz que atrai o público, mas sempre foi e nunca deixará de ser uma forma de arte que busca entender o mundo e as pessoas que vivem nele. Dá pra aprender muito, principalmente se escolher aqueles filmes dos diretores que também têm essa missão.

Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos que acompanham o blog, Facebook e Instagram. Sigam as páginas, opinem, compartilhem. Obrigado a todos e que tenham um ano de muita paz, saúde, alegria e, claro, muitos bons filmes!

Macaulay Culkin Home Alone

Macaulay Culkin no eterno filme natalino Esqueceram de Mim (pic by eye-contact.tumblr.com)

JORDAN PEELE e GRETA GERWIG entre os INDICADOS ao DGA!

greta-gerwig-jordan-peele-1024x683.jpg

INDICADOS AO DGA: GRETA GERWIG e JORDAN PEELE. Pic by Vanity Fair

ESNOBADOS POR ALGUNS PRÊMIOS IMPORTANTES, PEELE E GERWIG RETOMAM BOAS CHANCES DE INDICAÇÃO AO OSCAR

O sindicato de diretores (DGA) anunciou seus indicados da categoria e tivemos boas surpresas. Além dos habituais Guillermo del Toro, que levou o Globo de Ouro no último domingo por A Forma da Água, Martin McDonagh, que levou o Globo de Ouro de roteiro por Três Anúncios Para um Crime, e Christopher Nolan por Dunkirk, dois nomes que costumavam ficar limitados às categorias de roteiro ressurgiram para serem reconhecidos pela trabalho na direção: Jordan Peele pelo fenomenal Corra! e Greta Gerwig por Lady Bird.

Jordan Peele também foi reconhecido na categoria de Diretor Estreante, ao lado dos colegas Geremy Jasper (Patti Cake$), William Oldroyd (Lady Macbeth), Taylor Sheridan (Terra Selvagem) e Aaron Sorkin (A Grande Jogada). Sheridan e Sorkin, muito conhecidos por seus roteiros, resolveram arriscar na carreira de diretor e agora estão colhendo frutos. Sou bastante fã dos roteiros de Sheridan, mas ao ver Terra Selvagem, achei que ele desperdiçou um bom material (seu próprio roteiro) e caiu em alguns clichês do gênero policial.

Wind River.jpg

TERRA SELVAGEM: Elizabeth Olsen e Jeremy Renner em estréia de Taylor Sheridan na direção. Pic by imdb.com

Para aqueles que gostam de curiosidades e estatísticas, vale lembrar que o DGA é um dos raros parâmetros para o Oscar. Em sua 70ª edição, não coincidiu seus vencedores com o do Oscar em apenas 13 oportunidades, sendo a última em 2013, naquele caso bem atípico quando Ben Affleck sequer fora indicado por Argo. Portanto, aquele que vencer o DGA já estará praticamente com as mãos no Oscar.

Continuando, Greta Gerwig se tornou a OITAVA mulher a ser indicada ao DGA. Suas antecessoras foram:
– Lina Wertmüller (Pasqualino Sete Belezas)
– Randa Haines (Filhos do Silêncio)
– Barbra Streisand (O Príncipe das Marés)
– Jane Campion (O Piano)
– Sofia Coppola (Encontros e Desencontros)
– Valerie Faris (Pequena Miss Sunshine)
– Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror)*
– Kathryn Bigelow (A Hora Mais Escura)

Kathryn Bigelow foi a única a vencer e a ser indicada mais de uma vez ao prêmio. E Valerie Faris foi indicada ao lado de seu parceiro Jonathan Dayton.

Jordan Peele se tornou o QUARTO diretor negro a ser indicado ao DGA. Antes dele vieram:
– Lee Daniels (Preciosa)
– Steve McQueen (12 Anos de Escravidão)
– Barry Jenkins (Moonlight)

Neste caso, nenhum deles venceu até o momento. Mas na minha opinião, Jordan Peele poderia ser o primeiro. Pra quem acompanha o blog há um tempo, sabe que minha opinião passa longe do politicamente correto. Prefiro sempre observar o talento e a qualidade do trabalho, e sob esse aspecto, Peele entregou um filme sensacional que entrou para a história do cinema. Ele falou de um tema “espinhudo” que é o preconceito racial sem ir para aquele lado mais careta e politizado que 99% dos diretores preferem trilhar nesse assunto. Provavelmente, o DGA lhe dará o prêmio de diretor estreante, o que certamente é um honra, mas esse reconhecimento em si já pode lhe render uma merecidíssima indicação ao Oscar.

PERDERAM O LUGAR

São cinco vagas para muitos diretores nessa dança, então alguns nomes não escapariam de ficar de fora. Luca Guadagnino (Me Chame Pelo Seu Nome), Steven Spielberg (The Post: A Guerra Secreta) e Ridley Scott (Todo o Dinheiro do Mundo) são nomes que já tiveram participação na temporada de premiações, mas não consolidaram uma boa campanha.

Christopher Nolan recebeu sua quarta indicação ao DGA e não deve ter chances reais de ganhar. Ele foi previamente indicado por Amnésia, Batman – O Cavaleiro das Trevas e A Origem. Em nenhum dos casos, a indicação do DGA se tornou indicação ao Oscar. Se dependesse do meu voto, ele cederia sua vaga para Sean Baker pelo ótimo Projeto Flórida ou para Denis Villeneuve por Blade Runner 2049.

Algumas matérias citam ainda as diretoras Sofia Coppola (O Estranho que Nós Amamos), Angelina Jolie (First They Killed my Father), Dee Rees (Mudbound), e Patty Jenkins (Mulher-Maravilha). Não conferi as outras diretoras, mas querer Jenkins no DGA e Oscar seria forçar a barra. Os que defendem essa idéia estão visando apenas a vibe feminista que Mulher-Maravilha proporcionou na mídia. Particularmente, as poucas cenas que gostei da sua direção (primeira metade do filme) muito se deve a Richard Donner, diretor de Superman: O Filme (1978), que serviu de inspiração/plágio para Patty Jenkins.

INDICADOS AO 70º DGA:

  • GUILLERMO DEL TORO (A Forma da Água)
  • GRETA GERWIG (Lady Bird)
  • MARTIN MCDONAGH (Três Anúncios Para um Crime)
  • CHRISTOPHER NOLAN (Dunkirk)
  • JORDAN PEELE (Corra!)

 

INDICADOS A DIRETOR ESTREANTE:

  • GEREMY JASPER (Patti Cake$)
  • WILLIAM OLDROYD (Lady Macbeth)
  • JORDAN PEELE (Corra!)
  • TAYLOR SHERIDAN (Terra Selvagem) 
  • AARON SORKIN (A Grande Jogada)

Os vencedores do DGA serão conhecidos no dia 03 de fevereiro. E as indicações ao Oscar saem no dia 23 de janeiro.

2018 começando com EDDIE AWARDS, PGA e WGA

get out movie 2.jpg

Corra!, de Jordan Peele, presente nas três listas citadas: Eddie, PGA e WGA (pic by imdb.com)

PRÊMIOS DE SINDICATO VÃO REVELANDO SEUS CANDIDATOS NUM ANO BEM DIVERSIFICADO

Hello, pessoal! Feliz Ano Novo! Espero que todos tenham passado bem a virada e que este ano de 2018 seja de recuperação econômica (que o termo “crise” fique no passado) e que a eleição de novembro passe a limpo esta tão corrupta política brasileira.

Como de costume, o primeiro post do ano serve para revelar os indicados ao Eddie Awards, que é o prêmio do sindicato de montadores, mas com o PGA (Producers Guild of America) se antecipando, e o Writers Guild na cola, matarei TRÊS coelhos com uma só cajadada.

ace-eddie-awards

EDDIE AWARDS

Como já citei aqui em outras ocasiões, a montagem costuma ser mais valorizada em filmes de ação como Mad Max: Estrada da Fúria, ou em narrativas não-lineares como o vencedor do ano passado A Chegada.

Assim como no Globo de Ouro, o Eddie tem duas categorias: Drama e Comédia ou Musical. Na teoria, essa divisão possibilita que as comédias não caiam no esquecimento da temporada de premiações, mas na prática, montagem de qualidade não tem gêneros. Particularmente, considero essa divisão muito prejudicial para os filmes de terror, que têm a obrigação de apresentar uma boa montagem, pois não são comédias ou musicais, e têm dificuldade de bater os dramas.

Enfim, neste ano, a categoria de drama tem como destaque Blade Runner 2049, montado pelo último vencedor Joe Walker, e Dunkirk que tem como méritos as sequências de bombardeio e o fato de ser o primeiro filme de Christopher Nolan com duração abaixo de duas horas desde Insônia (2002). Ambos competem com as montagens de The Post: A Guerra Secreta, A Grande Jogada e A Forma da Água.

Já pela categoria de comédia, a surpresa ficou por conta da inclusão de Três Anúncios Para um Crime, que vinha competindo como drama em outras premiações, inclusive no Globo de Ouro. Claro que, para quem conhece a filmografia, o diretor Martin McDonagh tem um forte apelo para comédias de humor negro, por isso seu trabalho pode ser interpretado de formas diferentes nessa questão de gênero.

Porém, o favorito desta categoria continua sendo Eu, Tonya, que tem colecionado prêmios e indicações importantes, seguido bem de perto por Em Ritmo de Fuga e Corra!, uma vez que apresentam boas cenas de ação e tensão. Curiosamente, Lady Bird, o mais legítimo representante da verve da comédia corre por fora.

I Tonya

Margot Robbie em cena de Eu, Tonya, que concorre como montagem – comédia ou musical (pic by imdb.com)

Em animação, o novo trabalho da Pixar, Viva: A Vida é uma Festa deve ser premiado, enquanto na ala dos documentários, já que um dos favoritos Faces Places (Visages, Villages) da Agnès Varda não está na lista, talvez o filme sobre protestos de Los Angeles, LA 92, fature o prêmio.

Pelas categorias televisivas, destaque para Better Call Saul e Fargo em Drama, e Curb Your Enthusiasm em Comédia.

INDICADOS AO EDDIE AWARDS:

MELHOR MONTAGEM – DRAMA
* Joe Walker (Blade Runner 2049)
* Lee Smith (Dunkirk)
* Alan Baumgarten, Josh Schaeffer, Elliot Graham (A Grande Jogada)
* Michael Kahn, Sarah Broshar (The Post: A Guerra Secreta)
* Sidney Wolinsky (A Forma da Água)

MELHOR MONTAGEM – COMÉDIA OU MUSICAL
* Jonathan Amos, Paul Machliss (Em Ritmo de Fuga)
* Gregory Plotkin (Corra!)
* Tatiana S. Riegel (Eu, Tonya)
* Nick Houy (Lady Bird: É Hora de Voar)
* Jon Gregory (Três Anúncios Para um Crime)

MELHOR MONTAGEM – ANIMAÇÃO
* Steve Bloom (Viva: A Vida é uma Festa)
* Clair Dodgson (Meu Malvado Favorito 3)
* David Burrows, Matt Villa, John Venzon (LEGO Batman: O Filme)

MELHOR MONTAGEM – DOCUMENTÁRIO
* Aaron I. Butler (Cries From Syria)
* Joe Beshenkovsky, Will Znidaric, Brett Morgen (Jane)
* Ann Collins (Joan Didion: The Center Will Not Hold)
* TJ Martin, Scott Stevenson, Dan Lindsay (LA 92)

 

MELHOR MONTAGEM – DOCUMENTÁRIO DE TV
* Lasse Järvi, Doug Pray (The Defiant Ones — Ep: Part 1)
* Will Znidaric (Five Came Back — Ep: The Price of Victory)
* Inbal Lessner (The Nineties” — Ep: Can We All Get Along?)
* Ben Sozanski, ACE, Geeta Gandbhir; Andy Grieve (Rolling Stone: Stories from the Edge — Ep: 01)

Best Edited Comedy Series for Commercial Television
* John Peter Bernardo, Jamie Pedroza (Black-ish — Ep: Lemons)
* Kabir Akhtar, Kyla Plewes (Crazy Ex-Girlfriend — Ep: Josh’s Ex-Girlfriend Wants Revenge)
* Heather Capps, Ali Greer, Jordan Kim (Portlandia — Ep: Amore)
* Peter Beyt (Will & Grace — Ep: Grandpa Jack)

Best Edited Comedy Series for Non-Commercial Television
MELHOR MONTAGEM DE SÉRIES DE COMÉDIA DE EPISÓDIOS DE MEIA-HORA

* Steven Rasch (Curb Your Enthusiasm — Ep: Fatwa!)
* Jonathan Corn (Curb Your Enthusiasm — Ep: The Shucker)
* William Turro (Glow — Ep: Pilot)
* Roger Nygard, Gennady Fridman (Veep — Ep: Chicklet)

MELHOR MONTAGEM DE SÉRIES DRAMÁTICAS DE EPISÓDIOS DE UMA HORA – COM COMERCIAL
* Skip Macdonald (Better Call Saul — Ep: Chicanery)
* Kelley Dixon, Skip Macdonald (Better Call Saul — Ep: Witness)
* Henk Van Eeghen (Fargo — Ep: Aporia)
* Andrew Seklir (Fargo — Ep: Who Rules the Land of Denial)

MELHOR MONTAGEM DE SÉRIES DRAMÁTICAS DE EPISÓDIOS DE UMA HORA – SEM COMERCIAL
* David Berman (Big Little Lies — Ep: You Get What You Need)
* Tim Porter (Game of Thrones — Ep: Beyond the Wall)
* Julian Clarke, Wendy Hallam Martin (The Handmaid’s Tale — Ep: Offred)
* Kevin D. Ross (Stranger Things — Ep: The Gate)

MELHOR MONTAGEM DE MINISSÉRIES OU FILMES PARA TV
* Adam Penn, Ken Ramos (Feud — Ep: Pilot)
* James D. Wilcox (Genius: Einstein — Ep: Chapter One)
* Ron Patane (The Wizard of Lies)

MELHOR MONTAGEM – SÉRIES NÃO-ROTEIRIZADAS
* Rob Butler, Ben Bulatao (Deadliest Catch — Ep: Lost at Sea)
* Reggie Spangler, Ben Simoff, Kevin Hibbard, Vince Oresman (Leah Remini: Scientology and the Aftermath — Ep: The Perfect Scientology Family)
* Tim Clancy, Cameron Dennis, John Chimples, Denny Thomas (VICE News Tonight — Ep: Charlottesville: Race & Terror)

A cerimônia do Eddie Awards acontece no dia 26 de janeiro.

***

PGA

PRODUCERS GUILD OF AMERICA (PGA)

Normalmente o filme que está na lista do PGA já tem um pé na categoria de Melhor Filme no Oscar, mas obviamente um ou outro filme deve ficar de fora. Ano passado, dos 10 indicados ao PGA, apenas Deadpool não conseguiu chegar ao tapete vermelho. Não que Deadpool precise de indicações ao Oscar, mas seria bacana ver um trabalho mais ousado e para adultos como candidato.

Seguindo a lógica e tradição, dessa nova lista, aliás, de ONZE filmes, Mulher-Maravilha deve ser o excluído da vez, mesmo num ano considerado das mulheres após os escândalos sexuais de Hollywood. Particularmente, não gosto do filme da Patty Jenkins e considero todos esses elogios e prêmios “overlooked”, mas de novo: Mulher-Maravilha não precisa de indicação ao Oscar, ainda mais depois desse sucesso estrondoso nas bilheterias.

wonder woman.jpg

Chris Pine, Gal Gadot e Lucy Davis em cena de Mulher-Maravilha (pic by imdb.com)

Bom, antes de analisar à fundo, melhor revelar os onze candidatos primeiro. Aqui vão:

MELHOR PRODUÇÃO FÍLMICA:

DOENTES DE AMOR (The Big Sick)
Produtores: Judd Apatow, Barry Mendel

ME CHAME PELO SEU NOME (Call Me By Your Name)
Produtores: Peter Spears, Luca Guadagnino, Emilie Georges, Marco Morabito

DUNKIRK (Dunkirk)
Produtores: Emma Thomas, Christopher Nolan

CORRA! (Get Out)
Produtores: Sean McKittrick, Edward H. Hamm Jr., Jason Blum, Jordan Peele

EU, TONYA (I, Tonya)
Produtores: Bryan Unkeless, Steven Rogers, Margot Robbie, Tom Ackerley

LADY BIRD: É HORA DE VOAR (Lady Bird)
Produtores: Scott Rudin, Eli Bush, Evelyn O’Neill

A GRANDE JOGADA (Molly’s Game)
Producers: Mark Gordon, Amy Pascal, Matt Jackson

THE POST: A GUERRA SECRETA (The Post)
Produtores: Amy Pascal, Steven Spielberg, Kristie Macosko Krieger

A FORMA DA ÁGUA (The Shape Of Water)
Produtores: Guillermo del Toro, J. Miles Dale

TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)
Produtores: Graham Broadbent, Pete Czernin, Martin McDonagh

MULHER-MARAVILHA (Wonder Woman)
Produtores: Charles Roven, Richard Suckle, Zack Snyder e Deborah Snyder

OK, vamos falar mal! Não, já falei de Mulher-Maravilha… haha
Bom, a lista não tem lá grandes surpresas. Temos os filmes que não podiam faltar devido ao seu bom histórico na temporada de premiações como The Post, A Forma da Água, Três Anúncios Para um Crime, Dunkirk, Lady Bird e Corra!.

Em termos de surpresas esperadas estão a inclusão de Me Chame Pelo Seu Nome e Doentes de Amor. O primeiro por duas questões: primeiro, o filme tem decaído um pouco desde seu início arrasador com os prêmios dos críticos de Los Angeles e do Independent Spirit Awards, e segundo porque ainda é um filme LGBT que precisa quebrar a barreira do conservadorismo desses prêmios. Já o segundo teve seu melhor momento quando foi lembrado em categorias principais no Critics’ Choice Awards, mas falhou miseravelmente para estar entre os indicados a Melhor Filme – Comédia ou Musical no Globo de Ouro.

Agora, de surpresa-surpresa mesmo foi a inclusão de A Grande Jogada, que vinha sendo lembrado apenas por sua atriz Jessica Chastain e um ou outro prêmio de roteiro, que foi escrito por um dos mestres do fast dialogue Aaron Sorkin. Se esse feito se repetir no Oscar, Chastain terá grandes chances de conquistar sua terceira indicação, mesmo tendo fortes candidatas pela frente como Meryl Streep, Frances McDormand, Saoirse Ronan e Sally Hawkins. E, claro, o já citado Mulher-Maravilha, cuja inclusão mais me soa como uma atitude de “fazer a média”, ainda mais por ser o 11º filme da lista ou plus one.

Molly's Game.jpg

Kevin Costner contracena com Jessica Chastain em A Grande Jogada (pic by imdb.com)

DOS EXCLUÍDOS

que mais senti falta foi Projeto Flórida, de Sean Baker. Tudo bem que o filme não é uma unanimidade como os favoritos, mas não li nenhuma crítica negativa que pudesse desqualificá-lo… E se formos levar em conta o contexto atual, o filme dialoga com a questão das minorias e imigrantes. Não dava pra entrar nessa lista?

Tem outro filme que supostamente era pra estar aqui, porque parece que filmes de guerra são feitos pra ganhar prêmios, que é O Destino de uma Nação. Antes de começar a temporada, todo mundo falava que esse filme ganharia o Oscar e daria finalmente o Oscar para Gary Oldman. Quando começaram os prêmios da crítica, o filme sumiu do radar, e aí as pessoas se questionavam: “Será que nem o Oscar pro Gary, vai??”. Eu sei que o ator merece há tempos uma estatueta, mas começo a ter minhas dúvidas também se ele tem mesmo toda essa chance.

E também vale citar o Mudbound, que de mais relevante conquistou uma indicação ao SAG de Melhor Elenco. Tem elementos da questão racial que estão no topic trend de Hollywood, e dirigido por uma mulher negra. Pode ser o filme a roubar a cadeira de Mulher-Maravilha no Oscar.

MELHOR PRODUÇÃO DE ANIMAÇÃO:

O PODEROSO CHEFINHO (The Boss Baby)
Producer: Ramsey Naito

VIVA: A VIDA É UMA FESTA (Coco)
Producer: Darla K. Anderson

MEU MALVADO FAVORITO 3 (Despicable Me 3)
Producers: Chris Meledandri, Janet Healy

O TOURO FERDINANDO (Ferdinand)
Producers: Lori Forte, Bruce Anderson

LEGO BATMAN: O FILME (The Lego Batman Movie)
Producers: Dan Lin, Phil Lord e Christopher Miller

Na categoria de animação, não tem muito o que falar. A Pixar deve conquistar mais um PGA com este belo exemplar de inclusão de imigrantes que é Viva: A Vida é uma Festa. Sem um possível estraga-festa que poderia ser Com Amor, Van Gogh, o caminho parece bem livre para o estúdio da Disney rumo a mais um PGA.

Coco pixar.jpg

Viva: A Vida é uma Festa concorre no PGA (pic by imdb.com)

MELHOR PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIO:

CHASING CORAL

CITY OF GHOSTS

CRIES FROM SYRIA

EARTH: ONE AMAZING DAY

JANE

JOSHUA: TEENAGER VS. SUPERPOWER

THE NEWSPAPERMAN: THE LIFE AND TIMES OF BEN BRADLEE

Entre os documentários, o mais frequente nas premiações tem sido o novo filme de Agnès Varda, Visage, Villages, mas com ele ausente aqui, Jane, o filme sobre a especialista em primatas Jane Goodall pode se sobressair.

Jane documentary.jpg

Imagem de arquivo do documentário Jane, estrelado por Jane Goodall (pic by imdb.com)

Os vencedores serão anunciados no próximo dia 20 no Hotel Beverly Hilton.

***

wga-awards-logo-2009

WRITERS GUILD AWARDS (WGA)

De todos esses prêmios de sindicatos, o mais chato, rígido e insignificante é o dos roteiristas. Além de ter uma série de regras desqualificatórias que acabam eliminando todos os anos importantes concorrentes, não aceitam roteiros de animações na competição. Sim, como se os roteiros de animações fossem coisa de criança.

Não à toa, roteiristas consagrados como Quentin Tarantino torcem o nariz, não é membro desse sindicato e mesmo assim, consegue ser indicado e ganhar Oscar como o fez em 2013 por Django Livre. Bom, claro que cada sindicato com seus estatutos, mas acho que poderiam pelo menos incluir uma categoria para animações. Se até o Oscar criou um prêmio para os longas de animação desde 2002, por que não o Writers Guild também?

Este ano, talvez o roteiro mais premiado até o momento foi um dos desclassificados: Três Anúncios Para um Crime, de Martin McDonagh. Com isso, teria menos chances no Oscar? Não. Além do já citado Tarantino, em 2015, o roteiro de Birdman venceu como Original depois de ter sido inelegível pelo WGA.

Felizmente, a safra de roteiros originais de 2017 pode suprir a ausência de Três Anúncios. O roteiro de Jordan Peele por Corra! compete com fortes concorrentes como Lady Bird, de Greta Gerwig, A Forma da Água, de Guillermo del Toro e Vanessa Taylor, além de Doentes de Amor, de Kumail Nanjiani, e Eu, Tonya, de Steven Rogers. Ainda dá pra citar o roteiro de Trama Fantasma, de Paul Thomas Anderson, que vinha recebendo prêmios, mas foi preterido aqui.

Já na categoria de Adaptações, curiosamente, roteiros que eram considerados certos como The Post: A Guerra Secreta e até Extraordinário ficaram de fora por motivo de escolha mesmo. Como no ano passado, quando o roteiro de Deadpool concorreu, temos outro roteiro adaptado dos quadrinhos dos X-Men na lista: Logan, escrito por Scott Frank, James Mangold e Michael Green. Não tem a originalidade e ousadia de seu antecessor, mas vale a lembrança de outro bem-sucedido filme para o público mais adulto.

Logan.jpg

Dafne Keen, Patrick Stewart e Hugh Jackman em cena de Logan, que concorre como Roteiro Adaptado no WGA (pic by imdb.com)

Entre as adaptações, os favoritos O Artista do Desastre, de Scott Neustadter e Michael H. Weber, e A Grande Jogada, de Aaron Sorkin estão concorrendo com Me Chame Pelo Seu Nome, de James Ivory (que aos 89 anos conquista sua primeira indicação ao WGA), Mudbound, de Virgil Williams e Dee Rees, além do já citado Logan.

Na categoria de documentários, temos o veterano Alex Gibney concorrendo com No Stone Unturned, além de Jane, citado nos parágrafos de PGA acima, que está pré-selecionado para o Oscar.

ROTEIRO ORIGINAL
* Emily V. Gordon & Kumail Nanjiani (Doentes de Amor)
* Jordan Peele (Corra!)
* Steven Rogers (Eu, Tonya)
* Greta Gerwig (Lady Bird)
* Guillermo del Toro e Vanessa Taylor (A Forma da Água)

ROTEIRO ADAPTADO
* James Ivory; Baseado no romance de André Aciman (Me Chame Pelo Seu Nome)
* Scott Neustadter e Michael H. Weber; Baseado no livro “The Disaster Artist: My Life Inside the Room, the Greatest Bad Movie Ever Made” de Greg Sestero e Tom Bissell (O Artista do Desastre)
* Scott Frank, James Mangold e Michael Green; Baseado nos personagens dos quadrinhos de X-Men (Logan)
* Aaron Sorkin; Baseado no livro de Molly Bloom (A Grande Jogada)
* Virgil Williams e Dee Rees; Baseado no romance de Hillary Jordan (Mudbound)

ROTEIRO DE DOCUMENTÁRIO
* Theodore Braun (Betting on Zero)
* Brett Morgen (Jane)
* Alex Gibney (No Stone Unturned)
* Barak Goodman (Oklahoma City)

A 70ª edição do WGA está marcada para o dia 11 de fevereiro.

Novo filme de Spielberg, ‘THE POST’, leva MELHOR FILME no NATIONAL BOARD OF REVIEW

The Post

Tom Hanks divide cena com Meryl Streep em The Post (pic by outnow.ch)

GRUPO TRADICIONAL FORMADO POR CINÉFILOS, ACADÊMICOS E CINEASTAS DÁ UMA FORCINHA PARA ‘THE POST’, QUE PERMANECIA UMA INCÓGNITA

O que acontece quando Steven Spielberg, Meryl Streep e Tom Hanks se juntam no mesmo projeto? Cheirinho de Oscar, certo? O National Board of Review resolveu dar uma forcinha para The Post, já que até então, o novo filme de Spielberg era considerado uma incógnita total, já que ninguém tinha conferido ainda.

The Post, que aqui ganhou o subtítulo “A Guerra Secreta”, destrincha a batalha que o jornal The Washington Post travou com o governo americano quando publicou segredos de Estado, intitulados de Pentagon Papers (documentos do Pentágono), nos anos 70. Em tempos de protesto contra o governo Trump, o filme se mostra relevante no cenário atual, já que existe uma briga entre imprensa e governo sobre a influência russa na eleição de Donald Trump.

As vitórias dos atores centrais, Tom Hanks e Meryl Streep, certamente os coloca na corrida para as indicações ao Oscar. Streep tem todas as cartas na manga para conquistar sua 21ª indicação, um recorde que cresce a cada ano. Já Hanks temos que ter certa cautela. Embora tenha se destacado em filmes recentes como Capitão Phillips e Sully: O Herói do Rio Hudson, o ator sempre acaba morrendo na praia. Não sei se mais alguém pensa como eu, mas faz muito tempo que não vejo uma performance que consigo esquecer que estou vendo Tom Hanks.

Claro que a alavancada do National Board of Review ajuda The Post em sua campanha, mas não significa grande chance de vitória no Oscar. Nos últimos anos, a organização concedeu o prêmio de Melhor Filme para Manchester à Beira-Mar, Mad Max: Estrada da Fúria, Ela e A Hora Mais Escura. Embora todos tenham sido indicados ao Oscar, nenhum deles saiu com o Oscar de Melhor Filme. Sem contar O Ano Mais Violento (2014), que sequer recebeu indicação ao Oscar. E o último acerto de Melhor Filme do NBR foi lá em 2008, quando reconheceu Quem Quer Ser um Milionário?, de Danny Boyle. Faz tempo.

Entre os vencedores desta edição, chama bastante a atenção a vitória de Greta Gerwig na direção. Em seu segundo trabalho como diretora, ela recebeu muitos elogios por sua visão bastante feminina em Lady Bird. Resta saber se seu reconhecimento é por méritos ou por tempos politicamente corretos.

MELHOR FILME
The Post – A Guerra Secreta

MELHOR DIREÇÃO
Greta Gerwig (Lady Bird – É Hora de Voar)

MELHOR ATOR
Tom Hanks (The Post – A Guerra Secreta)

MELHOR ATRIZ
Meryl Streep (The Post – A Guerra Secreta)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Willem Dafoe (Projeto Flórida)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Laurie Metcalf (Lady Bird – É Hora de Voar)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Scott Neustadter e Michael H. Weber (Artista do Desastre)

MELHOR ANIMAÇÃO
Viva – A Vida é uma Festa (Coco)

MELHOR REVELAÇÃO
Timothée Chalamet (Me Chame Pelo seu Nome)

MELHOR DIRETOR ESTREANTE
Jordan Peele (Corra!)

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Foxtrot
Dir: Samuel Maoz (ISRAEL)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Jane
Dir: Brett Morgen

MELHOR ELENCO
Corra!

PRÊMIO SPOTLIGHT
Patty Jenkins e Gal Gadot (Mulher-Maravilha)

PRÊMIO LIBERDADE DE EXPRESSÃO
First They Killed my Father; Dir: Angelina Jolie
Let it Fall: LA 1982-1992; Dir: John Ridley

Melhores filmes
Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)
Me Chame Pelo Seu Nome (Call me by your Name)
Artista do Desastre (The Disaster Artist)
Pequena Grande Vida (Downsizing)
Dunkirk
Projeto Flórida (The Florida Project)
Corra! (Get Out)
Lady Bird – É Hora de Voar (Lady Bird)
Logan (Logan)
Trama Fantasma (Phantom Thread)

Melhores filmes independentes
Beatriz at Dinner
Bigsby Bear
A Ghost Story
Logan Lucky – Um Roubo em Família (Logan Lucky)
Com Amor, Van Gogh (Loving Vincent)
Menashe
Patti Cake$
Terra Selvagem (Wind River)
Norman: Confie em Mim (Norman: The Rise and Tragic Fall of a New York Fixer)

Melhores filmes estrangeiros
Uma Mulher Fantástica (Una Mujer Fantástica)
Frantz
Verão 1993 (Estiu 1993)
Loveless (Nelyubov)
The Square

Melhores documentários
Abacus: Pequeno o Bastante Para Condenar
Brimstone & Glory
Eric Clapton: A Life in 12 Bars
Visages, Villages
Hell On Earth: The Fall of Syria and the Rise of ISIS

%d blogueiros gostam disto: