
Vladimir Brichta como Bozo, ou melhor, Bingo (pic by Veja Rio)
FILME SOBRE PALHAÇO AMERICANO CONCORRERÁ A UMA DAS CINCO VAGAS NA CATEGORIA DE FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
Na manhã desta sexta-feira, na Cinemateca aqui em São Paulo, a Comissão da Academia Brasileira de Cinema (ABC) anunciou a seleção de Bingo: O Rei das Manhãs como representante do país no Oscar 2018. O filme do diretor estreante Daniel Rezende (conhecido como o montador de Cidade de Deus) bateu outros 22 concorrentes listados abaixo. Importante ressaltar que 23 inscritos é o número recorde do cinema nacional. Ano passado, foram 16 filmes.
- A Família Dionti
Dir: Alan Minas - A Glória e a Graça
Dir: Flávio Ramos Tambellini - Café – Um Dedo de Prosa
Dir: Maurício Squarisi - Cidades Fantasmas
Dir: Tyrell Spencer - Como Nossos Pais
Dir: Laís Bodanzky - Corpo Elétrico
Dir: Marcelo Caetano - Divinas Divas
Dir: Leandra Leal - Elis
Dir: Hugo Prata - Era o Hotel Cambridge
Dir: Eliane Caffé - Fala Comigo
Dir: Felipe Sholl - O Filme da Minha Vida
Dir: Selton Mello - Gabriel e a Montanha
Dir: Fellipe Barbosa - História Antes da História
Dir: Wilson Lazaretti - Joaquim
Dir: Marcelo Gomes - João, o Maestro
Dir: Mauro Lima - La Vingança
Dir: Fernando Fraiha e Jiddu Pinheiro - Malasartes e o Duelo com a Morte
Dir: Paulo Morelli - Polícia Federal – A Lei é Para Todos
Dir: Marcelo Antunez - Por trás do Céu
Dir: Caio Sóh - Quem é Primavera das Neves
Dir: Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado - Real – O Plano por trás da História
Dir: Rodrigo Bittencourt - Vazante
Dir: Daniela Thomas
CURIOSIDADE DOS BASTIDORES
Este ano, a seleção do representante foi feita pela primeira vez pela Academia de Cinema Brasileiro, devido a uma polêmica em 2016, quando a Secretaria do Audiovisual decidiu eleger o drama pouco conhecido Pequeno Segredo, de David Schürman, quando claramente a produção que tinha mais chances era Aquarius, de Kléber Mendonça Filho, que além de contar com Sonia Braga como protagonista, havia sido indicado à Palma de Ouro em Cannes.
Na época, a Secretaria do Audiovisual declarou que Pequeno Segredo tinha “elementos universais” que favoreciam sua seleção, mas esse argumento não colou muito, porque a diferença da projeção internacional em relação a Aquarius era no mínimo colossal. O motivo real de sua desclassificação, como muitos já sabem, foi o protesto no tapete vermelho de Cannes contra o governo de Michel Temer.
Cheguei a escrever um post logo depois desse protesto, e ainda hoje não vejo lado certo nessa história. Apesar de ser defensor da liberdade de expressão, achei desnecessário o protesto em Cannes porque não se tratava de um evento político e além disso, a verba para o filme veio do governo. Por outro lado, claro que é ridículo um governo articular uma desclassificação de um filme só por causa de um protesto! E no final, o grande perdedor dessa história é o cinema brasileiro, são os profissionais que fazem cinema e o próprio público, que perdeu a chance de ver seu país novamente representado no Oscar desde 1999, quando Central do Brasil concorreu.
A DISPUTA
Existia forte possibilidade do escolhido deste ano estar entre os dramas Como Nossos Pais e O Filme da Minha Vida. O primeiro, dirigido pela competente Laís Bodanzky de Bicho de Sete Cabeças, tem um quê de drama familiar argentino, com bons diálogos e atuações. De alguma forma, ele lembra o clima familiar meio conturbado do vencedor do Oscar, Invasões Bárbaras, de Denys Arcand.

Cena de Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky (pic by carta capital)
Já o segundo, terceiro longa dirigido pelo ator Selton Mello, tinha a seu favor a retratação de época, a fotografia de Walter Carvalho e alguma internacionalidade trazida pelo ator francês Vincent Cassel, e o escritor chileno Antonio Skármeta (responsável pelo sucesso de O Carteiro e o Poeta) cujo trabalho originou o roteiro.

Cena com Selton Mello e Johnny Massaro em O Filme da Minha Vida (pic by abril.com.br)
Contudo, a Comissão optou pelo filme Bingo: O Rei das Manhãs, uma espécie de comédia biográfica de humor negro, o que à princípio parece uma escolha ousada demais para o Oscar. Parece.
Embora se trate da história de um ator que interpreta um palhaço num programa infantil e que abusa das drogas e sexo, existem elementos que podem ajudar na campanha do Oscar. Primeiramente, o nome do diretor Daniel Rezende. A Academia pode errar muitas vezes, mas ela costuma ter boa memória. Artistas previamente indicados têm melhores chances em relação aos demais, e Rezende foi indicado ao Oscar de Montagem por Cidade de Deus em 2004. Perdeu MUITO injustamente para a montagem longa e cansativa de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei.

À direita, Daniel Rezende passa instruções para os atores Leandra Leal e Vladimir Brichta para a cena da premiação (pic by Judão)
Para quem não conhece, Bingo é o nome fictício usado para substituir Bozo, o palhaço que comandava o programa infantil que passava todas as manhãs no SBT, mais especificamente focado na vida do intérprete Arlindo Barreto. Como o roteiro tinha sexo, drogas e o palavreado, os detentores dos direitos não permitiram o uso dos nomes reais, obrigando o roteirista Luiz Bolognesi e a equipe a contornar a situação com outros nomes e alterar caracterização de personagens. Mas mesmo assim, é impossível não identificar Bozo, que é de origem americana, o que o tornará conhecido para o público americano e para os votantes do Oscar.

Para os saudosistas: Bozo e Vovó Mafalda no programa infantil (pic by uol.com.br)
E o terceiro elemento que pode ajudar Bingo é justamente o momento em que vive a Academia. Apesar de eu ainda achar que eles sempre vão dar preferência aos filmes sobre Holocausto e cultura judaica, percebo que eles estão tentando mudar esse cenário. Nos últimos anos, premiaram longas de países que saem daquela panelinha européia Itália-França-Holanda-Espanha, e indicaram alguns países pela primeira vez na história como O Lobo do Deserto (da Jordânia), Timbuktu (da Mauritânia), Tangerinas (da Estônia) e A Imagem que Falta (do Camboja).
COMPETIÇÃO ATÉ O MOMENTO
Como a lista oficial dos filmes selecionados para a categoria ainda está longe de estar completa, vou deixar pra postá-la depois. Por enquanto, são 47 países que definiram seus representantes de um total que deve ultrapassar a estimativa de mais de 80.
Até o momento, os mais fortes concorrentes selecionados são:
* Os 4 em negrito já largam na frente
Áustria: Happy End, de Michael Haneke
Chile: Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio
Finlândia: Tom of Finland, de Dome Karukoski
Alemanha: In the Fade, de Fatih Akin
Japão: Her Love Boils Bathwater, de Ryota Nakano
Líbano: The Insult, de Ziad Doueiri
Suécia: The Square, de Ruben Östlund

Cena do chileno Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio, em cartaz em São Paulo (pic by moviepilot.de)
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Haverá uma pré-seleção em dezembro que definirá 9 filmes e somente no dia 23 de janeiro, os cinco indicados serão conhecidos.