FILME JAPONÊS JÁ HAVIA CONQUISTADO CRÍTICOS DE NOVA YORK
Neste sábado, a Associação de Críticos de Los Angeles divulgou sua seleção dos melhores de 2021 pelo Twitter oficial @LAFilmCritics. Assim como os críticos de Nova York, o filme japonês Drive My Car venceu o prêmio de Melhor Filme, e a neozelandesa Jane Campion venceu como Melhor Diretora por Ataque dos Cães. Tradicionalmente, o LAFCA tem o prêmio de 2º lugar (ou como eles chama “runner up”), e curiosamente, houve uma alternação entre Filme e Direção: Drive My Car ficou com Melhor Filme e 2º lugar na Direção para Ryusuke Hamaguchi, enquanto Ataque dos Cães ficou com Melhor Direção e 2º lugar em Melhor Filme.
Com esta dupla vitória de LA e NY, a adaptação do conto de Haruki Murakami automaticamente se torna o franco favorito na categoria de Filme Internacional, representando o Japão, e alguns especialistas já arriscam outras indicações como Filme, Direção e Roteiro Adaptado, lembrando que já havia vencido Melhor Roteiro no último Festival de Cannes. Embora os críticos de Los Angeles tenham uma tradição de premiar produções estrangeiras, vale lembrar que o sul-coreano Parasita também fez a mesma trajetória em 2019-20.
Nas categorias de atuação, atores estrangeiros também se destacaram. Como previsto, a espanhola Penélope Cruz conquistou o prêmio de Atriz por Madres Paralelas, já em 2º lugar ficou a norueguesa Renate Reinsve em The Worst Person in the World. Na categoria de Ator Coadjuvante, houve um empate entre o francês Vincent Lindon por Titane e o jovem Kodi Smit-McPhee por Ataque dos Cães.
Esse amor às produções estrangeiras também se estendeu à categoria de Melhor Animação com a vitória do dinamarquês Flee, de Jonas Poher Rasmussen, e o 2º lugar para o japonês Belle, de Mamoru Hosoda. E isso comprova que as animações americanas da Disney, Pixar, Dreamworks e Sony deixaram a desejar este ano, pois normalmente elas ganham espaço aqui. Aproveitando a deixa, seria muito bacana se a Academia premiasse uma animação em língua estrangeira após 20 anos, já que A Viagem de Chihiro foi a primeira e única animação estrangeira a conseguir esse feito.
Ariana DeBose venceu como Atriz Coadjuvante, lembrando que Amor, Sublime Amor, de Steven Spielberg continua forte na temporada. A grande surpresa ficou por conta do prêmio de Melhor Ator para Simon Rex por Red Rocket, de Sean Baker. Embora o filme tenha sido indicado à Palma de Ouro em Cannes, a reação da crítica internacional foi mista, mas dependendo da campanha, ele pode conseguir uma indicação ao Oscar.
Mas talvez a maior surpresa desta edição foi a premiação de Duas Tias Loucas de Férias na categoria de Design de Produção, batendo um dos favoritos O Beco do Pesadelo, de Guillermo del Toro. Apesar de existir um trabalho grandioso na construção do resort, geralmente as comédias desse estilo costumam ser completamente ignoradas em temporadas de premiação. Falando em ignorados, a categoria de Filme em Língua Estrangeira se mostrou sem valor ao Oscar, pois Petite Maman não foi o filme selecionado pela França, e o 2º lugar, Quo Vadis, Aida? já foi indicado em 2021 pela Bósnia e Herzegovina.
Embora tenha ficado com o 2º lugar de Roteiro (perdeu para Drive My Car), Paul Thomas Anderson tem as melhores chances de conquistar sua primeira estatueta do Oscar pelo roteiro original de Licorice Pizza. Claro que ele tem boas chances de ser indicado a Diretor no Oscar, mas é mais provável que ele vença pelo roteiro, servindo como uma espécie de prêmio de consolação.
Confira a lista completa de vencedores da LAFCA abaixo:
MELHOR FILME: Drive My Car 2º lugar: Ataque dos Cães
MELHOR DIRETOR: Jane Campion (Ataque dos Cães) 2º lugar: Ryusuke Hamaguchi (Drive My Car)
MELHOR ATOR: Simon Rex (Red Rocket) 2º lugar: Benedict Cumberbatch (Ataque dos Cães)
MELHOR ATRIZ: Penélope Cruz (Madres Paralelas) 2º lugar: Renate Reinsve (The Worst Person in the World)
MELHOR ATOR COADJUVANTE (EMPATE): Vincent Lindon (Titane) E Kodi Smit-McPhee (Ataque dos Cães)
FILMES SELECIONADOS EM FESTIVAIS INTERNACIONAIS SÃO FAVORITOS. BRASIL TEM CHANCES REMOTAS COM DESERTO PARTICULAR
Embora o prazo de inscrição tenha terminado no último dia 1º de Novembro, alguns países não confirmaram seus filmes representantes como a Costa do Marfim e Guatemala. Outros países ausentes como Sudão não devem ter representantes para a próxima edição. Por enquanto, são 93 produções para disputar 5 vagas da categoria.
É preciso destacar a escolha da Espanha, que optou pela comédia The Good Boss, de Fernando León de Aranoa, no lugar do favorito Madres Paralelas, de Pedro Almodóvar, que recentemente venceu o Volpi Cup de Melhor Atriz para Penélope Cruz no Festival de Veneza. Ainda não vimos o filme de Aranoa (estrelado por Javier Bardem), mas nos parece uma escolha equivocada. Curiosamente, o mesmo aconteceu em 2002: Segunda-Feira ao Sol, do mesmo Aranoa, estrelado por Bardem, foi escolhido pela Espanha, mas foi Fale com Ela, de Pedro Almodóvar, que conquistou um Oscar de Roteiro Original e uma indicação a Melhor Direção para Almodóvar. Essa troca pode voltar a acontecer nesta temporada, e Penélope Cruz tem ótimas chances de receber nova indicação como Melhor Atriz.
E mais um pequeno parêntese: três países inscreveram o mesmo filme do ano anterior alegando que a exibição no país não foi possível devido à pandemia. Heliópolis foi novamente selecionado pelo comitê da Argélia. O filme de Djafar Gracem retrata um massacre ocorrido numa pequena cidade argelina no final da Segunda Guerra Mundial. O país africano já foi indicado 5 vezes na categoria (sendo 3 filmes dirigidos por Rachid Bouchareb) e levou um Oscar em 1970 com o formidável Z, de Costa-Gavras. Butão novamente inscreveu Lunana: A Yak in the Classroom, e Chade, Lingui. Ambos os países buscam a primeira indicação ao Oscar.
CALENDÁRIO DO OSCAR 2022
Para inscrição ser aprovada, o filme selecionado deve ter estreado no país de origem entre os dias 1º de Janeiro de 2021 e 31 de Dezembro de 2021, respeitando o prazo de inscrição no site da Academia até o dia 1º de Novembro.
Assim como na última edição, a pré-lista contará com 15 filmes votados por membros da Academia, que têm acesso aos filmes através da plataforma de streaming exclusiva. Essa lista será divulgada no dia 21 de Dezembro, enquanto os 5 finalistas apenas no dia 08 de Fevereiro de 2022, dia do anúncio dos indicados. Até antes da pandemia, a pré-lista era composta por 6 filmes selecionados por membros da Academia que viram os filmes, e 3 filmes selecionados por um comitê especial que garantia que filmes bem reconhecidos, elogiados e premiados na temporada fizessem parte da seleção final. Resta sabermos se esse sistema retornará após o término da pandemia.
COMO ESTÁ A DISPUTA ATÉ O MOMENTO?
É difícil a gente falar sobre filmes que não vimos, apenas dar impressões com base em críticas internacionais, passagens em festivais e histórico de diretores em relação ao Oscar. Nos últimos anos, filmes selecionados e premiados em Cannes, Berlim e Veneza têm garantido um certo favoritismo. Se pegarmos os últimos 5 vencedores do Oscar dessa categoria, temos: três filmes com passagem em Cannes: Druk, Parasita e O Apartamento (tendo Parasita levando a Palma de Ouro), um vencedor do Leão de Ouro em Veneza (Roma) e o vencedor de Melhor Roteiro em Berlim (Uma Mulher Fantástica).
Seguindo essa lógica, temos alguns favoritos:
TITANE (França) Dir: Julia Ducournau
O segundo longa de Ducournau foi uma sensação no último Festival de Cannes, levando a Palma de Ouro do júri presidido por Spike Lee. A cineasta se tornou apenas a segunda mulher a ganhar a Palma de Ouro na história, que tinha apenas Jane Campion por O Piano. Na trama, acompanhamos um pai em busca de seu filho que sumira há 10 anos, mas o grande destaque é a questão transgênero e do body horror, consagrada por David Cronenberg. Se fosse alguns anos atrás, esse tipo de filme jamais teria lugar no Oscar, mas com os esforços de repaginação da Academia, Titane tem boas chances de figurar entre os cinco indicados. O filme foi exibido recentemente no Brasil pela Mostra de São Paulo, mas tem estreia prevista para Janeiro na plataforma da MUBI.
A HERO (Irã) Dir: Asghar Farhadi
Vencedor do Grande Prêmio do Júri (espécie de 2º lugar) em Cannes, este novo trabalho do diretor Asghar Farhadi automaticamente se tornou um favorito após uma repercussão bastante positiva na crítica internacional. Já houve especulações de que sua distribuidora nos EUA, Amazon Studios, tentará também indicações em outras categorias como Filme, Direção e Roteiro Original. Na história, Rahim está preso por causa de uma dívida. Durante uma condicional de dois dias, tenta convencer seu credor a retirar a queixa se pagar parte do que deve, mas seu plano não dá muito certo. Farhadi já tem dois Oscars de Melhor Filme em Língua Estrangeira por A Separação (2011) e O Apartamento (2016).
DRIVE MY CAR (Japão) Dir: Ryusuke Hamaguchi
Segundo a crítica internacional, esta adaptação de conto de Haruki Murakami foi um dos melhores filmes presentes na seleção oficial de Cannes. Embora tenha levado o prêmio de Roteiro, muitos acreditavam que o filme japonês merecia a Palma de Ouro. Na trama, um diretor teatral que perdeu sua esposa dramaturga está de luto há dois anos, mas aceita dirigir uma peça em Hiroshima. No caminho, ele vai conhecendo melhor sua motorista e seu passado. Hamaguchi se mostrou um ótimo diretor no recente Asako I & II, lançado em 2018, e essa possível indicação ao Oscar deve alavancar ainda mais sua curta carreira.
COMPARTMENT No. 6 (Finlândia) Dir: Juho Kuosmanen
Também presente no Festival de Cannes, de onde saiu com o Grande Prêmio do Júri (dividido com A Hero), este filme finalndês nos apresenta uma viagem de trem rumo ao Ártico, na qual dois estranhos compartilham uma jornada que mudará suas perspectivas de vida. Recentemente, foi indicado a Melhor Filme, Ator e Atriz no European Film Awards e isso deve impulsionar a campanha rumo à pré-lista.
THE WORST PERSON IN THE WORLD (Noruega) Dir: Joachim Trier
Indicado à Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Atriz para Renate Reinsve no Festival de Cannes, este filme norueguês apresenta uma protagonista feminina que se reavalia em busca de respostas pessoais e profissionais após um longo relacionamento de 4 anos com seu ex. A direção de Joachim Trier parece proporcionar uma boa dose de lirismo e romantismo, dando um frescor ao gênero. Com a NEON na distribuição, as chances do filme certamente aumentam.
THE HAND OF GOD (Itália) Dir: Paolo Sorrentino
Vencedor do Oscar em 2014 pelo poético A Grande Beleza, o diretor Paolo Sorrentino pode retornar ao Oscar com este filme mais pessoal, já que faz um retrato dos anos 80 inspirado em sua própria juventude em Nápoles e sua paixão por futebol (especialmente Diego Maradona) e cinema. Vencedor do Grande Prêmio do Júri no último Festival de Veneza, The Hand of God pode ser a primeira indicação da Itália desde o próprio A Grande Beleza.
OUTROS DESTAQUES
MEMORIA (Colômbia) Dir: Apichatpong Weerasethakul
Quando foi selecionado para o Festival de Cannes, este novo trabalho do diretor tailandês logo criou expectativas, ainda mais por contar com a versátil Tilda Swinton no elenco. Vencedor da Palma de Ouro em 2010 por Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, Weerasethakul nos apresenta uma história sobre uma mulher escocesa que passa a ouvir sons estranhos durante uma viagem à Colômbia. Não parece ser um material que a Academia vá amar ou elogiar, mas o filme conta com a sabedoria da distribuidora NEON (que foi responsável pela campanha avassaladora de Parasita) e, claro, com a fama de Swinton.
FLEE (Dinamarca) Dir: Jonas Poher Rasmussen
Esta animação/documentário já vem chamando a atenção desde que foi premiada no Festival de Sundance, ganhando o Grande Prêmio do Júri de Documentário. Acompanhamos a história real de um homem chamado Amin, que à beira de seu casamento com o namorado na Dinamarca, precisa revelar seu passado oculto no Afeganistão pela primeira vez. Misturando imagens de arquivo com animação, Flee narra uma história de sobrevivência que certamente dialogará com as tristes imagens que presenciamos no Afeganistão este ano. Embora tenha chances em Filme Internacional, deve garantir uma indicação em Longa de Animação, que costuma abraçar trabalhos alternativos, criativos e em língua estrangeira.
A METAMORFOSE DOS PÁSSAROS (Portugal) Dir: Catarina Vasconcelos
Embora já tenha inscrito diretores consagrados como o saudoso Manoel de Oliveira e o jovem Miguel Gomes, Portugal não recebeu uma indicação sequer desde que começou a selecionar representantes em 1980. Por se tratar de um documentário, A Metamorfose dos Pássaros pode concorrer também na categoria de Melhor Documentário, assim como fez a Romênia este ano com Collective. Com passagem no Festival de Berlim de 2020, levou um prêmio técnico da FIPRESCI e pode surpreender nesta temporada.
LEAVE NO TRACES (Polônia) Dir: Jan P. Matuszynski
Em 1983, na Polônia comunista, o estudante Grzegorz Przemyk foi espancado até a morte pela polícia, o que torna a única testemunha ocular inimigo do Estado. Filmes poloneses costumam frequentar esta categoria, mas em sua grande maioria, pelas temáticas relacionadas ao Holocausto ou cultura judaica. Baseado num caso verídico, este segundo longa do Matuszynski estava entre os indicados ao Leão de Ouro no último Festival de Veneza.
MÁ SORTE NO SEXO OU PORNÔ AMADOR (Romênia) Dir: Radu Jude
No último Festival de Berlim, o novo filme de Radu Jude conquistou o Urso de Ouro. Além desse feito, sua temática que explora a cultura de cancelamento vem chamando a atenção do público e da crítica, especialmente pela abordagem cômica do diretor. Na trama, a professora Emi tem sua reputação e carreira ameaçadas quando um vídeo de sexo seu vaza na internet, causando a ira dos pais dos alunos que desejam sua demissão.
E O BRASIL?
Como muitos já sabem, Deserto Particular foi selecionado pelo comitê da Academia Brasileira de Cinema. Embora não houvesse nenhum grande favorito como um Cidade de Deus ou O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, 7 Prisioneiros era considerada a melhor aposta do Brasil. Numa análise fria, alguns motivos facilmente defenderiam sua escolha: 1. NETFLIX: Sem uma boa distribuidora e uma boa campanha publicitária, nenhum filme ganha o Oscar. 7 Prisioneiros já contava com data de lançamento na plataforma de streaming mundial. 2. FERNANDO MEIRELLES e RAMIN BAHRANI: Dois cineastas indicados ao Oscar na produção (Meirelles por Cidade de Deus, e Bahrani por O Tigre Branco) certamente trariam maior visibilidade ao longa. 3. ALEXANDRE MORATTO: Embora pouco conhecido do grande público, Moratto já teve carreira internacional com seu filme anterior Sócrates (2018), que foi indicado ao Independent Spirit Awards. 4. VENEZA: 7 Prisioneiros teve uma boa passagem pelo festival italiano na mostra Orizzonti.
Pelas primeiras críticas que lemos, Deserto Particular se mostra um bom candidato também, principalmente por dialogar com essa polarização brasileira tão contemporânea. Contudo, sem uma boa distribuidora nos EUA que garanta visibilidade, as chances do filme de Aly Muritiba parecem remotas neste momento. O orçamento que o governo brasileiro disponibiliza para campanha publicitária é uma piada, portanto é preciso um milagre. Aproveitamos para criticar a Academia Brasileira de Cinema, que deveria antecipar essa seleção e exigir uma análise mais fria dos membros do comitê se realmente queremos que o Brasil retorne ao Oscar. Central do Brasil continua sendo o último filme nacional indicado na categoria em 1999, há longos 22 anos.
CONFIRA OS FILMES SELECIONADOS POR SEUS PAÍSES PARA DISPUTAR VAGA NO OSCAR 2022 (ATÉ O MOMENTO):
Julia Ducournau com Palma de Ouro (pic by Valéry Hache, AFP)
CONHECIDA POR FILME ‘GRAVE’ (2016), CINEASTA FRANCESA CONQUISTA JÚRI PRESIDIDO POR SPIKE LEE
Adiada em 2 meses devido à pandemia, a 74ª edição do Festival de Cannes fez história ao premiar a segunda diretora feminina com a Palma de Ouro em toda sua história. A primeira e única vencedora até então havia sido a neozelandesa Jane Campion em 1993 por O Piano. Vale lembrar que o fato do júri ter sido composto por maioria feminina foi fundamental para esta histórica vitória também.
Em seu primeiro filme, Grave, uma estudante vegetariana de medicina veterinária passa por mudanças comportamentais após digerir um órgão de um coelho como trote de colegas. Já neste segundo longa, Julia mistura os gêneros comédia, drama, suspense e ficção científica numa história sobre uma mulher que passa a sentir atração sexual por carros após um acidente de infância. Apesar da trama lembrar o chocante Crash – Estranhos Prazeres (1996), de David Cronenberg, o filme dela ainda trata de troca de gêneros e um reencontro de um pai com seu filho após dez anos.
Na cerimônia de premiação, Spike Lee acabou anunciando o vencedor da Palma de Ouro antes de tudo, quebrando uma longa tradição. Mas sua gafe não afetou o bom andamento do evento, e ainda gerou uma energia incrivelmente imprevisível para saber quais filmes ainda seriam premiados e ouvir o discurso de agradecimento de Ducournau, que confessou que assistia à premiação todos os anos quando mais jovem: “Naquela época, eu tinha certeza que todos os filmes que eram premiados deveriam ser perfeitos. E hoje, eu estou nessa posição, mas sei que meu filme não é perfeito – mas acho que nenhum filme é perfeito aos olhos de quem o realizou”. Ela ainda agradeceu ao júri pela mente aberta, já que se trata de um filme sobre identidade de gênero também.
Com altas expectativas para uma possível segunda Palma de Ouro, o filme Memoria, do tailandês Apichatpong Weerasethakul acabou ficando apenas com o Prêmio do Júri (uma espécie de 3º lugar), empatado ainda com Ahed’s Knee, de Nadav Lapid. Outro empate ficou na categoria de Grande Prêmio do Júri (considerado o 2º lugar) entre A Hero, do iraniano Asghar Farhadi (que pode ganhar um 3º Oscar depois de A Separação e O Apartamento) e Compartment No. 6, do finalndês Juho Kuosmanen.
Nas categorias de atuação, o americano Caleb Landry Jones (conhecido por Três Anúncios Para um Crime, X-Men: PrimeiraClasse e Corra!) levou Melhor Interpretação Masculina ao viver o responsável por um massacre ocorrido em na Austrália em 1996 no filme Nitram, enquanto a norueguesa Renate Reinsve foi reconhecida por The Worst Person in the World, que vive uma jovem indecisa sobre seus interesses amorosos, carreira e família.
O controverso Leos Carax, que abriu o evento com Annette, acabou levando o prêmio de Direção. Esta é a terceira vez que o diretor foi indicada à Palma de Ouro, e este é o maior prêmio que já conquistou pelo festival. Havia uma expectativa de que seus protagonistas pudessem levar prêmios de intepretação, mas Adam Driver e Marion Cotillard tiveram que se contentar com o reconhecimento do diretor. Já na categoria de Roteiro, o japonês Ryûsuke Hamaguchi foi reconhecido por sua adaptação de um conto de Haruki Murakami em seu filme Drive My Car. Em 2018, ele disputou a Palma de Ouro pelo ótimo Asako I & II.
Dentre os filmes que não levaram prêmios, destaque para o novo e polêmico filme de Paul Verhoeven, Benedetta, sobre uma relação lésbica entre freiras de um convento, e Red Rocket, de Sean Baker. Embora tivessem recebido boas críticas, não parecem ter o perfil de filmes que agradariam Spike Lee.
Concorrendo com dois curtas-metragens, o Brasil ficou com o prêmio de Menção Honrosa por Céu de Agosto, de Jasmin Tenucci, sobre uma grávida que frequenta igreja e sofre com as queimadas de sua região.
Confira todos os vencedores desta 74ª edição de Cannes:
COMPETIÇÃO OFICIAL
Palma de Ouro: “Titane”
Grande Prêmio do Júri (EMPATE):: Asghar Farhadi, “A Hero” E Juho Kuosmanen’s “Compartment No. 6”
Direção: Leos Carax, “Annette”
Ator: Caleb Landry Jones, “Nitram”
Atriz: Renate Reinsve, “The Worst Person in the World”
Prêmio do Júri (EMPATE): Nadav Lapid “Ahed’s Knee” E Apichatpong Weerasethakul’s “Memoria”
Roteiro: Ryûsuke Hamaguchi, ”Drive My Car”
OUTROS PRÊMIOS
Camera d’Or: ”Murina,” Antoneta Alamat Kusijanović
Palma de Ouro Curta: “All the Crows in the World,” Tang Yi
Short Films Special Mention: “August Sky,” Jasmin Tenucci
Queer Palm: “The Divide”
UN CERTAIN REGARD
Un Certain Regard Award: “Unclenching the Fists,” Kira Kovalenko
Jury Prize: “Great Freedom,” Sebastian Meise
Prize for Ensemble Performance: “Bonne Mere,” Hafsia Herzi
Prize for Courage: “La Civil,” Teodora Ana Mihai
Prize for Originality: “Lamb,” Valdimar Johannsson
Special Mention: “Prayers for the Stolen,” Tatiana Huezo
DIRECTORS’ FORTNIGHT
Europa Cinemas Label: “A Chiara,” Jonas Carpignano
Society of Dramatic Authors and Composers Prize: “Magnetic Beats,” Vincent Maël Cardona
CRITICS’ WEEK
Nespresso Grand Prize: “Feathers,” Omar El Zohairy
Society of Dramatic Authors and Composers Prize: Elie Grappe and Raphaëlle Desplechin, “Olga”
GAN Foundation Award for Distribution: Elie Grappe and Raphaëlle Desplechin, “Zero Fucks Given”
Louis Roederer Foundation Rising Star Award: Sandra Melissa Torres, “Amparo”
CINÉFONDATION
First Prize: “The Salamander Child,” Theo Degen
Second Prize: “Salamander,” Yoon Daewoon
Third Prize — TIE: “Love Stories on the Move”, Carina-Gabriela Dasoveanu AND “Cantareira,” Rodrigo Ribeyro