Numa tragédia que poderia acontecer em um de seus filmes, o ator Paul Walker (foto) morreu nesse dia 30 de novembro em um acidente de carro. Ele tinha apenas 40 anos. Ficou mundialmente conhecido por suas participações na franquia Velozes e Furiosos como o agente infiltrado Brian O’Conner, fazendo parceria com Vin Diesel em algumas produções. Ele só não atuou no 3º filme, que se passa em Tóquio. Apesar da predominância de personagens de ação e aventura, Walker buscou desafios em produções menores dramáticas como A Vida em Preto e Branco (1998), Anjo de Vidro (2004) e A Conquista da Honra (2006), de Clint Eastwood, mas nunca foi unanimidade nesse quesito. As filmagens de Fast & Furious 7 (com lançamento previsto para 2014) estavam em andamento, mas ainda não se sabe se as cenas de seu personagem estavam completas. Paul Walker era também conhecido por seu lado filantropo, promovendo eventos de caridade para sua organização Reach Out Worldwide. Que descanse em paz!
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Paul Walker (1973 – 2013)
Postado por Winston Graysmith em dezembro 1, 2013
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Drive (Drive), de Nicolas Winding Refn (2011)
Filme trabalha minúcias e nuances para cobrir diálogos escassos
Não, não usufruí de meios ilegais para conferir Drive antes de sua estréia no Brasil. Consegui uma cópia em blu-ray, liguei as caixas de som e mandei ver. Confesso que tive uma expectativa alta um tempo atrás porque muitos críticos e cinéfilos elegeram o longa como o melhor filme de 2011 (e recentemente foi esnobado pela Academia, indicado apenas para Melhores Efeitos Sonoros).
A primeira vez que o filme chamou atenção foi no último Festival de Cannes, no qual fora indicado para a Palma de Ouro e levou o prêmio de Melhor Diretor. Foi a partir dali que percebi que não se tratava de um mero filme de ação. Aliás, muitos que assistirem a Drive, especialmente aqueles viciados nos 46 filmes da série Velozes e Furiosos, poderão até acusar o filme de plágio, pois pela sinopse, há alguns elementos semelhantes com Carga Explosiva (The Transporter, 2002). “Um motorista trabalha entregando pacotes sem fazer perguntas. Complicações surgem quando ele quebra sua regra” poderia ser a mesma sinopse para ambas as produções. Porém, já aviso desde já para que não haja espectadores decepcionados que costumam sair indignados da sala e pôr a culpa no filme que são duas produções completamente diferentes. Já presenciei esses espectadores indignados quando fui ver o belo filme sueco Let the Right One In e o público xingou até a avó da pessoa que inventou o marketing do cartaz: “Se você gostou de Crepúsculo, vai adorar este filme”.
Felizmente, as semelhanças entre Carga Explosiva e Drive terminam na sinopse. Ryan Gosling entrega um motorista hábil (e não que faz milagres como o personagem de Jason Statham) e que de dia ganha a vida sendo dublê de filmes e mecânico, e de noite, recolhe assaltantes da cena do crime. Homem de pouquíssimas palavras, o Driver possui algumas regras rígidas para sua própria segurança, e como na vida pessoal, mantém-se fechado em sua rotina. Até que ele sai do casulo quando seu instinto protetor acolhe sua vizinha Irene (vivida pela ótima Carey Mulligan) e seu filho pequeno Benicio, cujo pai está na cadeia.
É muito interessante ver a forma como dois personagens tão quietos e contidos demonstram interesse mútuo, assim como a interpretação dos atores. Eles trabalham essa importante química através de olhares tão intensos quanto despretensiosos que parecem durar vários minutos, dispensando contato físico. E esse sentimento tão forte, porém tão contido, faz com a paixão se eleve à sua essência e conquiste o público e sua torcida.
Essa “tática” se mostra indispensável, uma vez que o marido de Irene retorna da prisão e interrompe os pombinhos. Como o Driver se apegou demais à sua nova família, ele oferece ajuda ao marido enrrascado com uma dívida através de seu serviço atrás do volante. E é aí que as coisas se complicam para todos.
Devido à trama simples, poderia terminar um filme arroz-com-feijão, mas a abordagem de Nicolas Winding Refn faz toda a diferença. Ele absorve referências clássicas dos filmes estrelados por Steve McQueen (especialmente Bullitt), o Homem Sem Nome e calado de Clint Eastwood dos western spaghettis, e a violência dos filmes de Quentin Tarantino e até do filme coreano Oldboy pela sequência do martelo.
Contudo, mesmo desfrutando da fonte de outros cineastas, Drive é um filme de Nicolas Winding Refn. Ele cria tensão de forma dramática, utilizando-se de todas as suas ferramentas como a atuação de seu elenco; pela fotografia que explora a luz do sol e o brilho da metrópole; pela montagem que varia de cortes rápidos numa cena de perseguição à câmera lenta pontuada pela trilha de batida de Cliff Martinez. E, ciente do silêncio e escassez de diálogo de seus personagens centrais, o diretor escolhe à dedo algumas canções que, pela letra, expressam os pensamentos como “A Real Hero” da banda alternativa brasileira College e “Under Your Spell”, de Desire. Além disso, a forte presença das músicas dão um tom meio melancólico à la anos 80, quando as canções permeavam a história.
Aliás, o personagem de Albert Brooks, o agiota ex-produtor de cinema, Bernie Rose, tem um diálogo meio saudosista ao relembrar suas produções cinematográficas: “Eu produzia filmes. Nos anos 80. Tipo filmes de ação. Coisa sexy. Um crítico os chamava de Europeus. Eu achava que eram uma merda”. Pode soar estranho, mas interpretei essa deixa como uma espécie de crítica ao cinema atual de pirotecnias vazias.
Realmente Drive se mostra um filme atípico, pois insere conteúdo numa trama de ação, com inteligência e precisão, evitando excessos desnecessários (as chamadas “firulas”). As minúcias do diretor dinamarquês ainda têm lugar num detalhe de uma perseguição, pois a capotagem de um carro é mostrada numa tomada dentro do veículo com a atriz dentro.
Apesar de tantas qualidades e prêmios de várias associações de crítica como o LAFCA, NYFCC e National Board of Review, Drive foi esnobado pelo Oscar. Muitos esperavam pela menos uma indicação para Albert Brooks como coadjuvante, montagem e até diretor, ator e filme. Mas os conservadores da Academia falaram mais alto e a violência extrema do filme acabou sendo uma barreira. Acontece. Com certeza Cidade de Deus, Tropa de Elite, filmes coreanos sofreram com isso antes. Por que não Drive?
Infelizmente, houve manifestação pelo Twitter pela ausência no Oscar. Enquanto Albert Brooks postou um “You don’t like me. You really don’t like me” (Vocês não gostam de mim. Vocês realmente não gostam de mim) – fazendo menção ao discurso de Sally Field quando ganhou seu segundo Oscar (“You like me. You really like me!”), o indignado Russell Crowe fez uso de toda sua sutileza com um “Ryan Gosling didn’t get an Academy nomination? There’s some bullshit right there” (Ryan Gosling não foi indicado? Tem alguma merda aí).
Na parte da indignação, concordo plenamente pois caberia um reconhecimento maior ao filme do que apenas melhores efeitos sonoros (sem querer desmerecer a categoria e os profissionais que ficam semanas vivendo num estúdio de som). Mas esse tipo de manifestação acaba colaborando com a idéia de que na Arte existe melhor ou pior.
Postado por Winston Graysmith em fevereiro 18, 2012
https://cinemaoscareafins.wordpress.com/2012/02/18/drive-drive-de-nicolas-winding-refn-2011/