Começando bem 2014: indicados ao DGA, PGA e WGA

Que tal menos filmes em 3D em 2014? (photo by

Que tal menos filmes em 3D em 2014? (photo by http://www.dailyfinance.com)

Ooooiii, pessoal! Feliz Ano Novo pra todos! Chego de volta a São Paulo e vejo uma caixa de entrada de e-mail abarrotada de mensagens de premiações e indicações louquinhas pra serem abertas e discutidas. Ao contrário do que fiz em outros anos, vou juntar tudo em apenas um post, porque estou no espírito de férias ainda! Não, não… brincadeirinha! Com uma safra tão rica de produções, é interessante ver as escolhas de três sindicatos que apontam os grandes favoritos ao Oscar.

DGA images

Dentre eles, o mais acertivo continua sendo o DGA (Directors Guild of America). Em apenas sete (!) vezes, o vencedor não coincidiu com o vencedor do Oscar de direção. Até o ano passado, quando Ben Affleck ficou estranhamente de fora da categoria, o último vencedor do DGA que não repetiu a façanha no Oscar foi Rob Marshall (Chicago) em 2003! Este ano, o páreo estava duríssimo. Não tinha como não deixar de lado alguns nomes consagrados. Assim, Alexander Payne (Nebraska), Spike Jonze (Ela) e Joel e Ethan Coen (Inside Llewyn Davis) foram eliminados por um nariz de diferença. Confira os selecionados:

DIRECTORS GUILD AWARDS

AlfonsoCuaron.ashxAlfonso Cuarón (Gravidade)
O diretor mexicano é um ótimo exemplo de como um profissional estrangeiro consegue atingir maturidade na indústria americana. Cuarón sempre primou por sua marca imagética. Seja um filme poético como A Princesinha, um blockbuster (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban), um road movie pós-moderno (E Sua Mãe Também) ou criando um novo marco tecnológico (Gravidade), o diretor de fotografia e colaborador assíduo, Emmanuel Lubezki, foi sempre fundamental em sua escrita. Seria uma grata surpresa uma dupla vitória neste Oscar: direção para Cuarón e o merecidíssimo de fotografia para Lubezki.

Paul Greengrass (Capitão Phillips)PaulGreengrass.ashx
Descoberto pelo ótimo drama Domingo Sangrento, que lhe rendeu o Urso de Ouro em 2002, o britânico Greengrass criou um nicho no cinema contemporâneo no qual ele pode trabalhar a linguagem documental numa ficção, gerando uma veracidade que espanta e emociona o público. Ele conseguiu essa proeza em Vôo United 93 na recriação do atentado terrorista do 11 de setembro e nesse episódio de pirataria moderna de Capitão Phillips, criando uma tensão interminável. Também emprestou seu estilo à série de ação e espionagem de Jason Bourne em A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne, que obrigou os produtores de James Bond a repensar a criação de Ian Fleming.

Steve McQueen (12 Anos de Escravidão)SteveMcQueen.ashx
Artista plástico premiado, este diretor britânico, que compartilha o mesmo nome artístico do ator Steve McQueen, está em extrema ascensão em apenas seu terceiro longa. Como bom entendedor do poder da imagem para uma história, ele busca aqueles enquadramentos que possam dizer algo sobre o filme que vemos. Em Shame, por exemplo, ele usa e abusa das linhas urbanas do cenário para contar um pouco mais sobre o personagem viciado em sexo numa cidade que ostenta a civilidade. Sendo um negro e com um filme sobre escravidão na manga, Steve McQueen corre na frente, afinal, eles adorariam a manchete: “O primeiro diretor afro-americano a ganhar um Oscar”. Sinceramente, espero que ele ganhe por méritos profissionais, e não raciais, pois trata-se de uma voz singular no cinema contemporâneo.

David O. Russell (Trapaça)DavidORussell.ashx
“Há um parafuso faltando aqui”, pensava eu ao falar de David O. Russell, na época em que vi Três Reis (1999) e Huckabees: A Vida é uma Comédia (2004). Não que isso seja ruim. Muito pelo contrário! Ele tinha um senso de humor bastante incomum que me atraía, mas eu sentia que ele não conseguiria decolar em Hollywood apenas com aquilo. Felizmente, nosso David O. Russell amadureceu seu cinema e nos entregou ótimos filmes como os recentes O Vencedor (2010) e O Lado Bom da Vida (2012). De longe, concordo, são filmes que você não dá nada. Não tem uma grandiosidade de um gladiador ou um grande navio afundando, mas ele explora tão bem a humanidade das histórias simples que fica impossível não lhe dar crédito. Além disso, tem se tornado um dos melhores diretores de atores dos últimos anos. Já conquistou sete indicações e três Oscars de atuação de seus elencos: Melissa Leo, Christian Bale e Jennifer Lawrence. Tem tudo pra conquistar mais com Trapaça e pode se tornar a grande surpresa da categoria.

scorsesewolf.ashxMartin Scorsese (O Lobo de Wall Street)
O que dizer de Marty? Nem posso dizer que ele é como vinho, que fica melhor a cada ano, pois também dirigiu obras-primas como Taxi Driver (1976) e Touro Indomável (1980) no passado. Mas definitivamente não existe diretor mais apaixonado por Cinema do que Scorsese. Isso já estava provado nas incontáveis entrevistas e no apoio às restaurações de películas antigas e perdidas no tempo. Ele comprovou essa paixão numa tocante homenagem à Sétima Arte e a Georges Méliès em A Invenção de Hugo Cabret. Talvez a polêmica sobre sexo e drogas de O Lobo de Wall Street atrapalhe na conquista de mais uma indicação ao Oscar, mas se ele está nesta lista, não acredito que seja favorecimento nenhum. Martin Scorsese cria filmes atemporais.

Ainda está cedo para previsões de vitória, mas até o momento, Alfonso Cuarón e Steve McQueen dividem a ponta, com David O. Russell cheirando o cangote deles logo atrás. E o vencedor tem 99% de vitória no Oscar, pois não creio em duas exceções consecutivas na história do DGA.

PGA headerJá o sindicato de Produtores teve uma tarefa mais fácil. Ou pelo menos, menos árdua do que o DGA, afinal poderiam selecionar 10 produções. Contudo, com uma grande variedade de candidatos de boa qualidade, dez vagas também não deram conta de tudo.

Vale destacar a importante marca para a produtora Megan Ellison (da Annapurna Pictures). Ela foi a única a conquistar duas indicações com Trapaça e Ela. Megan poderia ter conquistado três, mas Foxcatcher foi adiado para 2014. No ano passado, ela produziu dois filmes de qualidade e que ainda geraram discussão acalorada na mídia e na temporada de premiações: O Mestre e A Hora Mais Escura. Numa Hollywood dominada por produtores covardes e que só pensam em lucro, a presença de Megan Ellison me enche de esperança. Claro que ninguém é de ferro. Ela vai produzir o reboot de uma nova trilogia de O Exterminador do Futuro, que começa em 2015. Mas mesmo assim, acredito que ela não fará apenas pelas bilheterias. Guardem o nome dela, pois mais conquistas importantes estão por vir.

A produtora Megan Ellison (à dir) ao lado da diretora Kathryn Bigelow e da bela atriz Jessica Chastain na festa do Globo de Ouro 2013. (photo by www.vanityfair.com)

A produtora Megan Ellison (à dir) ao lado da diretora Kathryn Bigelow e da bela atriz Jessica Chastain na festa do Globo de Ouro 2013. (photo by http://www.vanityfair.com)

MELHORES PRODUTORES – LONGAS-METRAGENS

Trapaça (American Hustle)
Blue Jasmine (idem)
Capitão Phillips (Captain Phillips)
Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club)
Gravidade (Gravity)
Ela (Her)
Nebraska
Walt nos Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks)
12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave)
O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street)

Em 2011, o PGA decidiu estender seus indicados para 10 fixos, o que não ocorre no Oscar, onde pode haver de 5 a 10. Vale ressaltar também o alto índice de acertos de vencedores em relação à Academia. Em seus 24 aninhos de existência, o PGA elegeu 17 vezes o vencedor de Melhor Filme no Oscar, incluindo os recentes Argo e O Artista. A última divergência ocorreu em 2007, quando Pequena Miss Sunshine perdeu para Os Infiltrados.

Para a edição de 2014, as ausências mais sentidas foram Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum e Fruitvale Station: A Última Parada pela alta participação nas últimas listas de críticos. Mas vale citar também Álbum de Família, All is Lost e Philomena, que conseguiu uma indicação ao Globo de Ouro.

Dentre os 10 candidatos, Trapaça, 12 Anos de Escravidão e Gravidade largam na frente, mas Ela pode roubar o show sem grandes dificuldades por ser querido pela crítica. Por outro lado, se pensarmos em bilheteria, Gravidade tem todas as cartas por ter faturado mais de 600 milhões de dólares mundo afora, muito longe dos 208 milhões do segundo lugar Capitão Phillips. No Oscar, eu ainda acho que Gravidade deverá se concentrar nos prêmios mais técnicos como fotografia, montagem e som.

Gravidade: no páreo para o DGA e PGA (photo by www.beyondhollywood.com)

Gravidade: no páreo para o DGA e PGA (photo by http://www.beyondhollywood.com)

MELHORES PRODUTORES – ANIMAÇÕES

Os Croods (The Croods)
Meu Malvado Favorito 2 (Despicable Me 2)
Reino Escondido (Epic)
Frozen: Uma Aventura Congelante (Frozen)
Universidade Monstros (Monsters University)

Sem um dos grandes favoritos fora do páreo por não pertencer ao sindicato americano, a animação japonesa Vidas ao Vento, de Hayao Miyazaki, a categoria conta apenas com produções de grandes estúdios como Disney, Pixar, Dreamworks e Universal. Porém, essa ausência não deve reduzir as chances de Miyazaki conseguir sua segunda estatueta do Oscar. Ainda não conferi Frozen, mas premiaria Os Croods pela alta abrangência de público-alvo de sua história de uma família das cavernas se adaptando às mudanças na Terra.

Os Croods: caminho mais livre para o PGA (photo by www.beyondhollywood.com)

Os Croods: caminho mais livre para o PGA (photo by http://www.beyondhollywood.com)

MELHORES PRODUTORES – DOCUMENTÁRIOS

A Place at the Table
Far Out Isn’t Far Enough
Life According to Sam
We Steal Secrets: The Story of WikiLeaks
Which Way is the Front Line From Here? The Life and Time of Tim Hetherington

Com o documentário História que Contamos, de Sarah Polley, fora da competição, o grande favorito fica sendo We Steal Secrets, que aborda a história do WikiLeaks do exilado Julian Assange. Conta muito a favor ter o diretor Alex Gibney, de Um Táxi Para a Escuridão, que ganhou o Oscar em 2008. Infelizmente, não há previsão de estréia no Brasil para a maioria dos documentários, o que dificulta a análise dessa categoria.

Julian Assange no documentário de Alex Gibney (photo by www.elfilm.com)

Julian Assange no documentário de Alex Gibney (photo by http://www.elfilm.com)

Dos três sindicatos, o WGA é o menos badalado. Mas não porque se trataria de um prêmio menor, mas suas regras inviabilizam indicações de trabalhos pertinentes. Como os demais prêmios, ele exige a filiação do profissional ao sindicato, mas também a exigência da produção do filme sob a sua jurisdição, o que implica em mais regras que eliminam bons candidatos.

Desse modo, as estatísticas de acerto são bem menores. Os excluídos pela regra deste ano incluem: John Ridley (12 Anos de Escravidão), Steve Coogan e Jeff Pope (Philomena), Ryan Coogler (Fruitvale Station: A Última Parada), Peter Morgan (Rush: No Limite da Emoção) e Abdellatif Kechiche e Ghalia Lacroix (Azul é a Cor Mais Quente). Já os trabalhos originais incluem: Alfonso Cuarón e Jonas Cuarón (Gravidade), Joel e Ethan Coen (Inside Llewyn Davis), Kelly Marcel e Sue Smith (Walt nos Bastidores de Mary Poppins) e Jason Reitman (Refém da Paixão).

Claro que se levarmos em consideração que a Academia também premia roteiros desclassificados pela WGA, essas exclusões não pesariam tanto na temporada. Só para citar um exemplo, o roteiro de Quentin Tarantino para Django Livre foi cortado da WGA, mas ganhou o Oscar.

ROTEIRO ORIGINAL

Eric Singer, David O. Russell (Trapaça)
Woody Allen (Blue Jasmine)
Craig Borten, Melisa Wallack (Clube de Compras Dallas)
Spike Jonze (Ela)
Bob Nelson (Nebraska)

ROTEIRO ADAPTADO

Tracy Letts (Álbum de Família)
Richard Linklater, Ethan Hawke, Julie Delpy (Antes da Meia-Noite)
Billy Ray (Capitão Phillips)
Peter Berg (O Grande Herói)
Terence Winter (O Lobo de Wall Street)

O diretor e roteirista Richard Linklater entre os atores e roteiristas Julie Delpy e Ethan Hawke no set de Antes da Meia-Noite (photo by www.elfilm.com)

O diretor e roteirista Richard Linklater entre os atores e roteiristas Julie Delpy e Ethan Hawke no set de Antes da Meia-Noite (photo by http://www.elfilm.com)

ROTEIRO DE DOCUMENTÁRIO

David Riker, Jeremy Scahill (Guerras Sujas)
Sara Lukinson, Michael Stevens (Herblock: The Black & the White)
Janet Tobias, Paul Laikin (No Place on Earth)
Sarah Polley (Histórias que Contamos)
Alex Gibney (We Steal Secrets: The Story of WikiLeaks)

Indicados ao BAFTA Rising Star de 2014 (photo by www.empireonline.com)

Indicados ao BAFTA Rising Star de 2014, do topo da esquerda à direita: Dane DeHaan, Lupita Nyong’o, Léa Seydoux, Will Poulter e George MacKay (photo by http://www.empireonline.com)

Também gostaria de aproveitar o post para divulgar os indicados ao Rising Star do BAFTA, concedido a um ator ou atriz revelação que se destacou no ano. Vencedores recentes incluem Juno Temple, Tom Hardy e Kristen Stewart. Porém, vale lembrar que os vencedores são eleitos pelo público, o que quase sempre resulta em vitória injusta. Talentos como Michael Fassbender, Carey Mulligan e Alicia Vikander já concorreram, mas perderam em edições anteriores. Particularmente, tenho certa aversão às escolhas do público como no MTV Movie Awards. Se dependesse dos votos na internet, os melhores filmes de todos os tempos seriam Star Wars e O Senhor dos Anéis para toda a eternidade…

Dane DeHaan
George MacKay
Lupita Nyong’o
Will Poulter
Léa Seydoux

* Fique atento às datas: O PGA divulga seus vencedores no dia 19 de janeiro. O DGA no dia 25, enquanto o WGA fica para o dia 1º de fevereiro.

‘Trapaça’ conquista 3 prêmios no NYFCC 2013

Vencedora do prêmio de coadjuvante, Jennifer Lawrence (à esquerda) divide cena com Amy Adams em Trapaça (photo by ww.elfilm.com)

Vencedora do prêmio de coadjuvante, Jennifer Lawrence (à esquerda) divide cena com Amy Adams em Trapaça (photo by ww.elfilm.com)

A New York Film Critics Circle, formada por críticos nova-iorquinos, divulgou sua lista anual de premiados:

FILME: Trapaça (American Hustle)
DIRETOR: Steve McQueen (12 Years a Slave)
ATOR: Robert Redford (All is Lost)
ATRIZ: Cate Blanchett (Blue Jasmine)
ATOR COADJUVANTE: Jared Leto (Dallas Buyers Club)
ATRIZ COADJUVANTE: Jennifer Lawrence (Trapaça)
ROTEIRO: Eric Singer, David O. Russell (Trapaça)
FOTOGRAFIA: Bruno Delbonnel (Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum)
FILME ESTRANGEIRO: Azul é a Cor Mais Quente (La Vie d’Adèle), de Abdellatif Kechiche (França)
DOCUMENTÁRIO: Stories We Tell, de Sarah Polley
ANIMAÇÃO: O Vento Está Soprando, de Hayao Miyazaki
PRIMEIRO FILME: Fruitvale Station: A Última Parada, de Ryan Coogler

Os três prêmios para Trapaça surpreendeu aqueles que acompanhavam a corrida do Oscar 2014, que tinha como favoritos 12 Years a Slave, de Steve McQueen, e Gravidade, de Alfonso Cuarón. Como o editor da Variety, Tim Gray, comentou: “…the critics prizes take the pressure off each of the films as the One To Beat (os prêmios dos críticos tiram a pressão dos filmes considerados favoritos)”.

No set de 12 Years a Slave, o diretor britânico Steve McQueen faturou o prêmio de Diretor (photo by www.collider.com)

No set de 12 Years a Slave, o diretor britânico Steve McQueen faturou o prêmio de Diretor (photo by http://www.collider.com)

Além dessa virtude, os críticos têm como objetivo lembrar a variedade de bons filmes que têm chances reais de chegar ao Oscar de Melhor Filme, principalmente com 10 indicados, evitando aqueles casos de franco-favoritismo que papa mais de 10 estatuetas como fizeram os recordistas Ben-Hur e Titanic. Além dos filmes já citados, temos Nebraska, de Alexander Payne, O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese, Álbum de Família, de John Wells, Capitão Phillips, de Paul Greengrass, O Mordomo da Casa Branca, de Lee Daniels, e Inside Llewyn Davis, de Joel e Ethan Coen, só para citar alguns.

Apesar da vitória no NYFCC significar pontuação na corrida para o Oscar, vale ressaltar que os críticos nova-iorquinos não estão tão em sintonia com a Academia. Nos últimos 10 anos, apenas em quatro vezes os Melhores Filmes coincidiram: em 2011 com O Artista, 2009: Guerra ao Terror, 2007: Onde os Fracos Não Têm Vez, e 2003: O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei. Sem contar os atores que nem chegam a ser indicados no Oscar como os vencedores do ano passado de Melhor Atriz e Ator Coadjuvante, respectivamente: Rachel Weisz (Amor Profundo) e Matthew McConaughey (Magic Mike).

Como Trapaça teve sua premiere agora nos EUA, (sim, o Brasil não tem pressa nenhuma. Estréia marcada para fevereiro de 2014!), alguns talvez façam a leitura de que o NYFCC estaria tentando compensar a ausência total de O Lado Bom da Vida, do mesmo diretor David O. Russell, da última edição. Em 2012, eles premiaram o polêmico A Hora Mais Escura, de Kathryn Bigelow. Como o filme foi acusado erroneamente de fazer apologia à tortura e gerou uma série de discussões, talvez eles quiseram deixar polêmicas de lado e apostaram em David O. Russell, que sempre fez filmes mais light. Apesar de ter ter sido premiado como diretor, recebeu a honraria de Melhor Roteiro juntamente com o colaborador Eric Singer.

Embora a vitória de Jennifer Lawrence tenha possibilidade de também se encaixar na leitura de compensação por 2012, comprova que a jovem continua no topo de Hollywood aos 23 anos. Ela sabe aliar com maestria o sonho de todo ator: sucesso de crítica e público. Seu outro trabalho de 2013, a seqüência Jogos Vorazes: Em Chamas já conquistou 300 milhões de dólares apenas em sua segunda semana nos EUA. Como a corrida da categoria de coadjuvante está relativamente mais fraca, Lawrence deve figurar entre as indicadas do Oscar 2014, mas como já ganhou este ano, não deve ter muitas chances.

No geral, a premiação do NYFCC foi bastante democrática. Lembrou bons trabalhos de 2013 como a direção de Steve McQueen em 12 Years a Slave. Apesar deste ser apenas seu terceiro longa, o diretor britânico vem conquistando muito prestígio da ala artística americana depois dos aclamados Fome (2008) e Shame (2011). O NYFCC consagra o talento e a versatilidade de Cate Blanchett, que vive uma socialite falida no novo filme de Woody Allen, Blue Jasmine, e resgata o veterano da atuação e charme em pessoa Robert Redford, por sua interpretação em All is Lost, um drama de ação em que um marinheiro encara sua mortalidade após a colisão de seu barco em alto mar.

Aos 77 anos, Robert Redford é o único ator do segundo longa do jovem J.C. Chandor, All is Lost (photo by www.elfilm.com)

Aos 77 anos, Robert Redford é o único ator do segundo longa do jovem J.C. Chandor, All is Lost (photo by http://www.elfilm.com)

Assim como eles, o ator Jared Leto, que ficou conhecido por Réquiem Para um Sonho (2001) e retornou de um afastamento de quatro anos dos cinemas, deve conquistar uma indicação pela ousadia de seu papel em Dallas Buyers Club. Na produção independente, Leto dá vida a Rayon, um gay travesti que ajuda o protagonista Ron Woodroof (Matthew McConaughey) a encontrar uma cura para o HIV em meados da década de 80. Além do homossexualismo e do travestismo já chamarem atenção para o papel, o ator também perdeu cerca de 13 quilos para viver Rayon, o que deve lhe garantir auto-publicidade até março.

Já na categoria de Filme Estrangeiro, é uma pena que Azul é a Cor Mais Quente não possa disputar o Oscar. Infelizmente, as regras arcaicas da Academia desqualificaram o filme vencedor da Palma de Ouro por estrear na França após o prazo permitido. Assim, um dos filmes mais aclamados da temporada fica de fora da categoria, mas dependendo do lobby, talvez conquista uma indicação para Direção (Abdellatif Kechiche) e Atriz (Adèle Exarchopoulos).

Vencedor da Palma de Ouro e do prêmio do NYFCC, Azul é a Cor Mais Quente está fora da corrida pelo Oscar de Filme Estrangeiro. Porém a bela Adèle Exarchopoulos pode ser uma surpresa (photo by www.elfilm.com)

Vencedor da Palma de Ouro e do prêmio do NYFCC, Azul é a Cor Mais Quente está fora da corrida pelo Oscar de Filme Estrangeiro. Porém a bela Adèle Exarchopoulos pode ser uma surpresa (photo by http://www.elfilm.com)

O prêmio de Melhor Fotografia para Bruno Delbonnel deve reforçar a campanha para sua 4ª indicação ao Oscar. Após ter sido indicado por O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), Eterno Amor (2004) e Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009), o diretor de fotografia francês pode vencer, caso o franco-favorito mexicano Emmanuel Lubezki não figurar na lista por Gravidade. E, espero que a vitória da animação japonesa O Vento Está Soprando também se transforme em indicação e segundo Oscar para o mestre Hayao Miyazaki. Considerado um ano fraco para animações dos grandes estúdios, Miyazaki e seu Studio Ghibli podem se consagrar mais uma vez na Academia.

O diretor de fotografia francês Bruno Delbonnel dá o toque artístico ao visual de Inside Llewyn Davis, dos irmãos Coen (photo by www.elfilm.com)

O diretor de fotografia francês Bruno Delbonnel dá o toque artístico ao visual de Inside Llewyn Davis, dos irmãos Coen (photo by http://www.elfilm.com)

O prêmio de Primeiro Filme acabou indo para Fruitvale Station: A Última Parada, que visa não apenas o merecimento do diretor Ryan Coogler, mas de todo o elenco formado por Michael B. Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer e Chad Michael Murray. A produção independente foi bastante aplaudida no último Festival de Cannes, e mais recentemente, recebeu 3 indicações ao Independent Spirit Awards. Com a benção do lobby de Harvey Weinstein, o filme pode surpreender ainda mais espaço nessa corrida ao Oscar.

E como Melhor Documentário, um trabalho singelo da diretora e atriz canadense Sarah Polley intitulado Stories We Tell. Ao contrário da maioria dos documentários que visa temas polêmicos, ela opta por um trabalho mais intimista ao atuar como entrevistadora num experimento que busca identificar mitos e verdades sobre sua família. Aliás, o documentário foi pré-selecionado para competir no Oscar de Melhor Documentário.

A diretor e atriz canadense Sarah Polley foi premiada por seu documentário intimista (photo by www.outnow.ch)

A diretor e atriz canadense Sarah Polley foi premiada por seu documentário intimista (photo by http://www.elfilm.com)

Veja lista dos 15 semi-finalistas:

– O Ato de Matar (The Act of Killing), de Joshua Oppenheimer
– The Armstrong Lie, de Alex Gibney
– Blackfish, de Gabriela Cowperthwaite
– The Crash Reel, de Lucy Walker
– Cutie and the Boxer, de Zachary Heinzerling
– Dirty Wars, de Rick Rowley
– First Cousin Once Removed, de Alan Berliner
– God Loves Uganda, de Roger Ross Williams
– Life According to Sam, de Sean Fine, Andrea Nix
– Pussy Riot: A Punk Prayer, de Mike Lerner, Maxim Pozdorovkin
– The Square, de Jehane Noujaim
– Stories We Tell, de Sarah Polley
– Tim’s Vermeer, de Teller
– 20 Feet from Stardom, de Morgan Neville
– Which Way Is the Front Line from Here? The Life and Time of Tim Hetherington, de Sebastian Junger

The Armstrong Lie, de Alex Gibney, destrincha os altos e baixos do campeão Lance Armstrong que venceu 7 Tour de France, mas perdeu após exame anti-dopping (photo by www.outnow.ch)

The Armstrong Lie, de Alex Gibney, destrincha os altos e baixos do campeão Lance Armstrong que venceu 7 Tour de France, mas perdeu após exame anti-dopping (photo by http://www.outnow.ch)

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