FESTIVAL DE BERLIM DIVULGA sua SELEÇÃO OFICIAL

Cena do filme Petite Maman, de Céline Sciamma.

EM SUA 1ª EDIÇÃO NA PANDEMIA, EVENTO ALEMÃO BUSCA ADAPTAÇÕES PARA NÃO SER CANCELADO

A 71ª edição do Festival de Berlim acaba de anunciar os filmes selecionados para competição oficial. Neste ano, a seleção foi mais enxuta com apenas 15 títulos (em 2020 foram 18), representando 16 países, e dentre eles 5 foram dirigidos por mulheres (alguns co-dirigidos).

“Se a Competição oferece um retrato do cinema de como é e como será, podemos dizer que a perturbação provocada pelos acontecimentos de 2020 levou os cineastas a aproveitarem o máximo dessa situação e a criarem filmes profundamente pessoais. Esta competição é menos rica em números, mas muito densa em conteúdo e estilo,” comentou o diretor artístico Carlo Chatrian.

Esta edição também será diferente devido à pandemia, pois será realizada em duas etapas. No início de Março, teremos a parte que envolve o Mercado Cinematográfico, no qual serão negociados os direitos de exibição entre as distribuidoras de forma online. Já entre 09 e 20 de Junho, ocorrerá o festival físico com público, mas ainda respeitando as normas sanitárias. “Queremos oferecer um gostinho das celebrações em Junho quando todos nós poderemos nos encontrar nos cinemas novamente,” defendeu a diretora executiva Mariette Rissenbeek.

E ao contrário das edições anteriores, o júri foi formado apenas por vencedores do Urso de Ouro recentemente. Ao todo são seis: o diretor iraniano Mohammad Rasoulof (There Is No Evil), a israelense Nadav Lapid (Sinônimos), a romena Adina Pintilie (Touch Me Not), o húngaro Ildikó Enyedi (On Body and Soul), o italiano Gianfranco Rosi (Fire at Sea) e a bósnia Jasmila Žbanić (Grbavica).

Da seleção, o novo filme da francesa Céline Sciamma, Petite Maman, é o que mais chama a atenção, já que ela ainda está muito em evidência depois do sucesso de Retrato de uma Jovem em Chamas, mas vale destacar também os novos trabalhos de Hong Sangsoo, Xavier Beauvois e a estreia na direção do ator alemão Daniel Brühl.

INDICADOS AO URSO DE OURO:

  • Albatros (Drift Away)
    Dir: Xavier Beauvois
    França
  • Babardeală cu buclucsau porno balamuc (Bad Luck Banging or Loony Porn)
    Dir: Radu Jude
    Romênia/Luxemburgo/Croácia/República Tcheca
  • Fabian oder Der Gang vor die Hunde (Fabian – Going to the Dogs)
    Dir: Dominik Graf
    Alemanha
  • Ghasideyeh gave sefid (Ballad of a White Cow)
    Dir: Behtash Sanaeeha, Maryam Moghaddam
    Irã/França
  • Guzen to sozo (Wheel of Fortune and Fantasy)
    Dir: Ryusuke Hamaguchi
    Japão
  • Herr Bachmann und seine Klasse (Mr Bachmann and His Class)
    Dir: Maria Speth
    Alemanha
  • Ich bin dein Mensch (I’m Your Man)
    Dir: Maria Schrader
    Alemanha
  • Inteurodeoksyeon (Introduction)
    Dir: Hong Sang-soo
    Coréia do Sul
  • Memory Box
    Dir: Joana Hadjithomas, Khalil Joreige
    França/Líbano/Canadá/Catar
  • Nebenan (Next Door)
    Dir: Daniel Brühl
    Alemanha
  • Petite Maman
    Dir: Céline Sciamma
    França
  • Ras vkhedavt, rodesac cas vukurebt? (What Do We See When We Look at the Sky?)
    Dir: Alexandre Koberidze
    Alemanha/Geórgia
  • Rengeteg – mindenhol látlak (Forest – I See You Everywhere)
    Dir: Bence Fliegauf
    Hungria
  • Természetes fény (Natural Light)
    Dir: Dénes Nagy
    Hungria/Letônia/França/Alemanha
  • Una Película de Policías (A Cop Movie)
    Dir: Alonso Ruizpalacios
    México

FILME ROMENO de ESTREANTE, ‘TOUCH ME NOT’, VENCE o URSO DE OURO em BERLIM

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A diretora romena Adina Pintilie posa com seu Urso de Ouro no Festival de Berlim (pic by Veja)

PRODUÇÃO ROMENA SOBRE INTIMIDADE E SEXUALIDADE BATE FAVORITOS

Considerado o mais político dos festivais de cinema, Berlim, em sua 68ª edição, buscou abraçar a causa feminista do #MeToo, lançado na época do Globo de Ouro. O presidente do júri, o cineasta alemão Tom Tykwer, premiou o filme que mais dialoga com o momento conturbado de assédios.

Touch Me Not, que em tradução livre significa Não Me Toque, é resultado de uma pesquisa feita pela diretora Adina Pintilie sobre as fobias e obsessões das pessoas em relação ao contato físico, tanto que possui uma mistura de linguagens de ficção e documental. Com um elenco composto por não-atores, a jovem diretora retrata cenas de nudez e masturbação e busca desafiar o público a entender esse comportamento do ser humano que é pouco discutido no cinema. Dos poucos e raros exemplares recentes que vi desse tópico foram os dois volumes de Ninfomaníaca, de Lars von Trier, mas de um ponto de vista mais patológico do que “normal”.

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Cena de Touch Me Not (Nu ma atinge-ma), de Adina Pintilie (pic by critic.de)

“O que o filme propõe é: abra-se para o diálogo que o mundo a sua volta está oferecendo”, declarou a diretora em seu discurso de agradecimento, quando levou todos os participantes do filme ao palco.

A produção romena da diretora estreante ganhou o principal prêmio da noite, batendo favoritos de diretores consagrados como o americano Gus Van Sant, que veio à Alemanha com o filme Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot, que tem Joaquin Phoenix como personagem que fica paraplégico após acidente e redescobre sua vida desenhando cartoons polêmicos e controversos.

Aliás, talvez o nome mais famoso em competição era o de Wes Anderson, que estava entre os 19 filmes indicados ao Urso de Ouro com seu segundo trabalho no gênero da animação Ilha de Cachorros, que assim como a primeira animação O Fantástico Sr. Raposo, utiliza-se da técnica do stop-motion. Já me adiantando um pouco, certamente o filme estará entre os indicados ao Oscar 2019 de Melhor Longa de Animação, podendo finalmente render a primeira estatueta ao diretor. Isso, claro, se não houver nenhum mega-sucesso da Pixar no caminho…

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Cena da animação Ilha de Cachorros, de Wes Anderson (pic by imdb.com)

Entre os vencedores, destaque para o primeiro filme do Paraguai a competir oficialmente em Berlim, Las Herederas (The Heiress), de Marcelo Martinessi, que acompanha a trajetória de uma senhora de idade homossexual buscando um recomeço. A produção latina conquistou o prêmio Alfred Bauer (uma espécie de Un Certain Regard do Festival de Cannes que premia um olhar diferenciado) e o de Melhor Atriz para Ana Brun.

O Brasil estava participando com três produções. Duas delas saíram premiadas com o Teddy Bear, que reconhece filmes com temática LGBT: Tinta Bruta, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, levou como Melhor Filme; enquanto Bixa Travesty, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman, ficou como Melhor Documentário. Já o documentário O Processo, de Maria Augusta Ramos, sobre o impechament da ex-presidente Dilma Roussef, terminou em 3º lugar na competição Panorama, votado pelo público.

BREVE NOTA

Claro que é sempre bacana acompanhar um festival internacional que não visa apenas a temporada do Oscar, como tem se tornado festivais como o de Veneza e de Toronto, e que ainda prestigiam a vertente mais política dos filmes autorais, contudo, como sempre aponto aqui no blog, os organizadores do evento deveriam transferir a data para, sei lá, o mês de março ou abril, justamente para não ficar de escanteio enquanto todos os olhos ficam em Hollywood e na festa do Oscar.

Seguem os vencedores da 68ª edição do Festival de Berlim:

URSO DE OURO
Touch Me Not
Dir: Adina Pintilie

URSO DE PRATA – GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
Twarz (Mug)
Dir: Małgorzata Szumowska

URSO DE PRATA – PRÊMIO ALFRED BAUER
The Heiress
Dir: Marcelo Martinessi

URSO DE PRATA – MELHOR DIRETOR
Wes Anderson (Ilha de Cachorros)

URSO DE PRATA – MELHOR ATRIZ
Ana Brun (The Heiress)

URSO DE PRATA – MELHOR ATOR
Anthony Bajon (The Prayer)

URSO DE PRATA – MELHOR ROTEIRO
Manuel Alcalá e Alonso Ruizpalacios (Museum)

URSO DE PRATA – CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA, FIGURINO OU DIREÇÃO DE ARTE
Elena Okopnaya (Dovlatov)

PRÊMIO AUDI CURTA-METRAGEM
Solar Walk
Dir: Réka Bucsi

CURTA-METRAGEM – PRÊMIO DO JÚRI
Imfura
Dir: Samuel Ishimwe

URSO DE OURO – MELHOR CURTA-METRAGEM
The Men Behind the Wall
Dir: Ines Moldavsky

MELHOR FILME DE ESTREANTE
Touch Me Not
Dir: Adina Pintilie

MELHOR DOCUMENTÁRIO
The Waldheim Waltz
Dir: Ruth Beckermann