IRANIANO ‘THERE IS NO EVIL’ GANHA o URSO DE OURO em BERLIM

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Equipe de There is No Evil segura coletivamente o Urso de Ouro em homenagem ao diretor Mohammad Rasoulof, impossibilitado de comparecer ao festival (pic by Teller Report)

FILME QUE CRITICA A PENA DE MORTE NO IRÃ É O GRANDE VENCEDOR

Neste sábado, dia 29/02, o presidente do júri Jeremy Irons revelou os vencedores da 70ª edição do festival alemão, anunciando a vitória do longa iraniano. There is no Evil, que apresenta quatro histórias, busca questionar a morte como forma de punição no país da Ásia. Curiosamente, o diretor Mohammad Rasoulof não pôde comparecer ao festival, pois seu passaporte fora confiscado pelas autoridades iranianas, que alega que o cineasta fazia propaganda contra o atual governo. Em 2017, seu filme A Man of Integrity (Um Homem de Integridade), que venceu o prêmio Un Certain Regard, criticava o sistema corrupto e injusto do Irã, já havia ocasionado um ano de detenção para o diretor.

Assim, a equipe e os atores do filme, incluindo a filha do diretor, Baran Rasoulof, subiram ao palco para receber o prêmio. “Obviamente estou muito feliz, mas ao mesmo tempo estou muito triste, porque este prêmio é para um diretor que não pôde estar aqui. E em nome da equipe, digo que isso (o prêmio) é dele”, disse a emocionada filha do diretor, que logo depois fez uma breve live com o pai pelo celular para que ele pudesse testemunhar à distância o público aplaudindo sua vitória.

Pra quem não conhece muito a história do festival alemão, Berlim tem uma tradição de premiar filmes mais controversos de cunho sócio-político. E nesse aspecto, podemos dizer que o júri acertou em cheio. Além do filme polêmico iraniano, o Grande Prêmio do Júri foi para o filme americano sobre aborto Never Rarely Sometimes Always. Com uma passagem marcante pelo último Festival de Sundance, o filme acompanha duas jovens amigas que juntam uma grana pra viajar para Nova York e realizar o aborto de uma delas. No palco, a diretora Eliza Hittman agradeceu aos médicos e às clínicas de aborto legalizadas nos EUA, que possibilitam essa liberdade feminina.

Para Direção, o júri selecionou o sul-coreano Hong Sang Soo por The Woman Who Ran. Pra quem conhece seus filmes, Soo costuma filmar suas personagens conversando sobre vários temas enquanto caminham, passando do trivial ao filosófico e ético. Mais uma vez, ele contou com sua atriz favorita Min-Hee Kim, que interpreta uma mulher casada há 5 anos que tem uma rara oportunidade de ficar desacompanhada e poder fazer uma avaliação de seu relacionamento com amigas.

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O diretor Hong Sang-Soo que venceu por The Woman Who Ran (pic by eldiario.es)

Pelas categorias de atuação, o italiano Elio Germano conquistou o prêmio de Melhor Ator por interpretar o pintor suíço Antonio Ligabue, que mesmo tendo passado boa parte da vida na Itália, sofrendo com problemas físicos e mentais, e internado em manicômios, almejava uma vida mais normal. A transformação do ator no filme Hidden Away (Volevo Nascondermi) conquistou o júri de forma unânime. Já a alemã Paula Beer levou Melhor Atriz por Undine, no qual sua personagem passional tem uma interação com uma entidade mitológica vingativa chamada Ondina.

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Elio Germano no papel e recebendo o Urso de Prata

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Paula Beer no filme Undine e com o Urso de Prata

Para Roteiro, os vencedores foram os irmãos italianos Fabio e Damiano D’Innocenzo, que em Favolacce, acompanham famílias dos subúrbios de Roma com uma pegada de fábula. Talvez tenha sido o prêmio mais questionado pela mídia internacional.

Este ano, o prêmio Alfred Bauer, que costuma reconhecer trabalhos mais inovadores, teve seu nome alterado para Prêmio da 70ª Edição de Berlim, pois recentemente descobriram que Bauer era um cineasta afiliado ao partido nazista! Sob o novo nome, o filme vencedor foi a comédia francesa Delete History, sobre uma família que busca se desvencilhar do vício das mídias sociais.

E o prêmio de contribuição artística foi para o diretor de fotografia Jürgen Jürges por DAU. Natasha, que é um projeto ousado que recria a União Soviética na era de Stalin em estúdio para que atores encenem a vida daquela época. Embora tenha sido premiado pela fotografia, o filme chama a atenção pelo sexo explícito e pela violência não-encenada. A mensagem do filme seria justamente criticar o excesso de autoridade de um diretor em um set de filmagem. Hello, Abdelatif Kechiche?

Embora o filme brasileiro Todos os Mortos não tenha levado nenhum prêmio, o Brasil esteve representado em co-produções vitoriosas como o colombiano Los Conductos, de Camilo Restrepo, que venceu o prêmio de Melhor Filme de Estreante.

Dentre as produções que saíram de mãos vazias está o novo trabalho de Kelly Reichardt, First Cow, assim como do ditetor malaio Tsai Ming-Liang, Days, que chegou a figurar como um dos favoritos a levar o Urso de Ouro até a reta final do festival.

Seguem os vencedores da 70ª edição do Festival de Berlim:

URSO DE OURO
There Is No Evil 
Dir: Mohammad Rasoulof

URSO DE PRATA GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
Never Rarely Sometimes Always

Dir: Eliza Hittman

URSO DE PRATA DE MELHOR DIRETOR
Hong Sang Soo (The Woman Who Ran)

URSO DE PRATA DE MELHOR ATRIZ
Paula Beer (Undine)

URSO DE PRATA DE MELHOR ATOR
Elio Germano (Hidden Away)

URSO DE PRATA DE MELHOR ROTEIRO
Bad Tales (Favolacce)
Dir: irmãos D’Innocenzo

URSO DE PRATA DA 70ª BERLINALE
Delete History

Dir: Benoît Delépine e Gustave Kervern

URSO DE PRATA DE CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA, FIGURINO OU DESIGN DE PRODUÇÃO
Jürgen Jürges (DAU. Natasha)

PRÊMIO DE DOCUMENTÁRIO
Irradiated

Dir: Rithy Panh

MELHOR FILME DE ESTREANTE
Los Conductos
Dir: Camilo Restrepo

URSO DE OURO DE MELHOR CURTA
T
Dir: Keisha Rae Witherspoon

URSO DE PRATA DE MELHOR CURTA PRÊMIO DO JÚRI
Filipiñana

Dir: Rafael Manuel

PRÊMIO AUDI DE CURTA
Genius Loci

Dir: Adrien Mérigeau