ACADEMIA DIVULGA SHORTLISTS de NOVE CATEGORIAS. BRASIL FICA DE FORA em FILME INTERNACIONAL

‘BABENCO: ALGUÉM TEM QUE OUVIR O CORAÇÃO E DIZER PAROU’ NÃO CONSEGUE SE QUALIFICAR NEM COMO FILME INTERNACIONAL, NEM COMO DOCUMENTÁRIO

A Academia anunciou as nove pré-listas da próxima edição do Oscar. Foram 15 pré-selecionados nas categorias de Documentário, Filme Internacional, Trilha Musical Original e Canção Original, enquanto foram 10 pré-selecionados nas categorias de Maquiagem e Penteado, Efeitos Visuais, Documentário-Curta, Curta-Metragem e Curta de Animação. Apenas os filmes dessas listas poderão seguir adiante na disputa para conquistar indicações nessas categorias, que serão divulgadas no próximo dia 15 de Março.

Mais uma vez, o Cinema Brasileiro não participa da categoria de Filme Internacional do Oscar desde 1999 com Central do Brasil. A estratégia do Comitê que selecionou o filme representante do Brasil até tinha uma coerência: eleger o documentário sobre o cineasta argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, que ganhou um prêmio especial na penúltima edição do Festival de Veneza, para ter chances em duas frentes: Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário. O objetivo ideal seria repetir o feito do filme da Macedônia do Norte, Honeyland, em 2020 mas no final, o filme de Bárbara Paz não conseguiu nem uma, nem outra indicação. Curiosamente, os representantes da Romênia, Collective, e do Chile, Agente Duplo, podem conseguir essa dobradinha de Filme Internacional e Documentário, pois ambos estão na pré-lista.

A última vez que o Brasil esteve presente na pré-lista foi lá no longínquo ano de 2007, quando O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias avançou, mas não conseguiu a indicação. Claro que a Ancine está decadente no governo Bolsonaro, mas é importante ressaltar que a seleção foi mal planejada. Bacurau foi preterido por A Vida Invisível pelo comitê em 2019, contudo com o lançamento do filme nos EUA em Março de 2020 pela Kino Lorber, o filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles vem conquistando prêmios e indicações importantes nesta temporada como o dos críticos de Nova York do NYFCC e Independent Spirit Awards, mas agora não pode participar desta seleção. Está faltando uma profissionalização para fazer uma seleção mais bem sintonizada e com o devido planejamento de campanha publicitária em território americano, senão o Cinema Brasileiro permanecerá fora da festa por mais alguns anos.

Abaixo, seguem as pré-listas das nove categorias e um breve panorama e comentário.

DOCUMENTÁRIO

  • 76 Days (MTV Documentary Films) – Dir: Weixi Chen, Hao Wu, Anonymous
  • Até o Fim: A Luta Pela Democracia (All In: The Fight for Democracy) (Amazon Studios) – Dir: Lisa Cortes, Liz Garbus
  • Boys State (Apple TV Plus) – Dir: Amanda McBaine, Jesse Moss
  • Collective (Magnolia Pictures and Participant) – Dir: Alexander Nanau
  • Crip Camp: Revolução Pela Inclusão (Crip Camp) (Netflix) – Dir: James Lebrecht, Nicole Newnham
  • As Mortes de Dick Johnson (Dick Johnson Is Dead) (Netflix) – Dir: Kirsten Johnson
  • Gunda (Neon) – Dir: Viktor Kosakovskiy
  • MLK/FBI (IFC Films) – Dir: Sam Pollard
  • Agente Duplo (The Mole Agent) (Gravitas Ventures) – Dir: Maite Alberdi
  • Professor Polvo (My Octopus Teacher) (Netflix) – Dir: Pippa Ehrlich, James Reed
  • Notturno (Neon) – Dir: Gianfranco Rosi
  • The Painter and the Thief (Neon) – Dir: Benjamin Ree
  • Time (Amazon Studios) – Dir: Garrett Bradley
  • The Truffle Hunters (Sony Pictures Classics) – Dir: Michael Dweck, Gregory Kershaw
  • Bem-Vindo à Chechênia (Welcome to Chechnya) (HBO) – Dir: David France

Como mencionado em post anterior, houve um recorde histórico de inscritos este ano com 238 documentários, número muito impulsionado pelo crescimento das plataformas digitais e da pandemia. Caso essa crescente permaneça, é possível que a Academia eleve o número de indicados da categoria de 5 para 10 nos próximos anos.

Dos 15 pré-selecionados, vale destacar que oito foram dirigidos por mulheres e de várias etnias e comunidades. Sobre a disputa, podemos dizer que se trata da categoria mais competitiva de todas daqui, e que independentemente dos cinco indicados, todos serão bem representados. Por enquanto, Time é o que vem conquistando mais prêmios e deve figurar entre os finalistas, seguido de perto por Collective. Contudo, tanto Collective quanto Agente Duplo podem ter votos anulados já que competem também como Filme Internacional.

FILME INTERNACIONAL

  • Druk – Mais uma Rodada (Another Round) (Dinamarca) – Dir: Thomas Vinterberg
  • Better Days (Hong Kong) – Dir: Derek Tsang
  • Charlatan (República Tcheca) – Dir: Agnieszka Holland
  • Collective (Romênia) – Dir: Alexander Nanau
  • Dear Comrades! (Rússia) – Dir: Andrey Konchalovskiy
  • I’m No Longer Here (México) – Dir: Fernando Frias
  • Hope (Noruega) – Dir: Maria Sødahl
  • La Llorona (Guatemala) – Dir: Jayro Bustamante
  • The Mole Agent (Chile) – Dir: Maite Alberdi
  • Night of the Kings (Costa do Marfim) – Dir: Philippe Lacôte
  • Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina) – Dir: Jasmila Žbanić
  • Sun Children (Irã) – Dir: Majid Majidi
  • Two of Us (França) – Dir: Filippo Meneghetti
  • A Sun (Taiwan) – Dir: Chung Mong-hong
  • The Man Who Sold His Skin (Tunísia) – Dir: Kaouther Ben Hania

Filmes de 93 países foram elegíveis este ano, igualando o recorde anterior. O que a Academia ainda não deixou claro é a quantidade mínima de filmes vistos para um membro da Academia estar apto a votar nesta categoria. Seriam 30? 40? 50? Talvez nunca saberemos. Felizmente, mesmo sem o comitê especial que “salva” os filmes mais conceituados da crítica, a pré-seleção mandou bem, com raras exceções, sendo uma delas a exclusão do filme do Lesoto, Isto Não é um Enterro, É uma Ressureição, e o filme espanhol A Trincheira Infinita. É uma pena também que o filme português Vitalina Varela não está na lista. Embora não tenha muito o perfil do Oscar, merecia estar pelo menos na pré-lista.

Em relação às chances, Druk – Mais uma Rodada, da Dinamarca, parece já ter uma vaga garantida, não apenas pela seleção no último Festival de Cannes, mas pelo prestígio que a parceria entre Thomas Vinterberg e Mads Mikkelsen tem. Apostaria também nas indicações de Quo Vadis, Ainda? (Bósnia e Herzegovina) e Night of the Kings (Costa do Marfim). Particularmente, gostaríamos que o filme guatemalteco La Llorona chegasse à cerimônia por apresentar uma mistura inusitada de elementos sobrenaturais com críticas políticas. E pra última vaga, a expectativa é do documentário Collective, da Romênia, mas pode ir para o mexicano I’m No Longer Here.

MAQUIAGEM E PENTEADO

  • Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (Birds of Prey and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn) (Warner Bros)
  • Emma (Focus Features)
  • The Glorias (Roadside Attractions and LD Entertainment)
  • Era uma Vez um Sonho (Hillbilly Elegy) (Netflix)
  • Uma Invenção de Natal (Jingle Jangle: A Christmas Journey (Netflix)
  • Os Pequenos Vestígios (The Little Things) (Warner Bros)
  • A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom) (Netflix)
  • Mank (Netflix)
  • Uma Noite em Miami… (One Night in Miami) (Amazon Studios)
  • Pinóquio (Pinocchio) (Roadside Attractions)

Dos dez filmes, quatro são da Netflix. Com a ausência de Os 7 de Chicago, automaticamente A Voz Suprema do Blues assume o favoritismo. Outros quatro que podem ser indicados são Mank, Emma, Os Pequenos Vestígios e Aves de Rapina, já que Esquadrão Suicida chegou a ganhar o Oscar de Maquiagem. Ainda não descartaríamos Era uma Vez um Sonho, caso a Academia queira fazer uma dupla indicação com Glenn Close como Coadjuvante.

Particularmente, sentimos falta daquela maquiagem transformativa de criaturas fantasiosas que costumavam frequentar a categoria nos anos 80 e 90, que Rick Baker fazia de olhos vendados. Hoje em dia, a maquiagem tem seguido a linha discreta dos efeitos visuais, o que não é de todo ruim. O problema é quando a maquiagem parece básica demais pra estar entre os indicados ou até mesmo ganhar.

TRILHA MUSICAL ORIGINAL

  • Ammonite (Neon) – Dustin O’Halloran, Volker Bertelmann
  • Blizzard of Souls (Film Movement) – Lolita Ritmanis
  • Destacamento Blood (Da 5 Bloods) (Netflix) – Terence Blanchard
  • O Homem Invisível (The Invisible Man) (Universal Pictures) – Benjamin Wallfisch
  • Uma Invenção de Natal (Jingle Jangle: A Christmas Journey) (Netflix) – John Debney
  • Rosa e Momo (The Life Ahead (La Vita Davanti a Se) (Netflix) – Gabriel Yared
  • Os Pequenos Vestígios (The Little Things) (Warner Bros) – Thomas Newman
  • Mank (Netflix) – Trent Reznor, Atticus Ross
  • O Céu da Meia-Noite (The Midnight Sky) (Netflix) – Alexandre Desplat
  • Minari (A24) – Emile Mosseri
  • Mulan (Walt Disney Pictures) – Henry Gregson-Williams
  • Relatos do Mundo (News of the World) (Universal Pictures) – James Newton Howard
  • Soul (Pixar) – Jon Batiste, Trent Reznor, Atticus Ross
  • Tenet (Warner Bros) – Ludwig Göransson
  • Os 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7) (Netflix) – Daniel Pemberton

Nesta edição, 136 trilhas foram inscritas e elegíveis, e agora restam 15 composições no pote. Não sei se essa pré-lista abre espaço para muitas surpresas no anúncio das indicações, mas fico feliz com a inclusão de Benjamin Wallfisch por O Homem Invisível. Sua trilha que acentua a paranóia da protagonista faz uma baita diferença no filme de Leigh Whannell. Felizmente não tem John Williams este ano por Star Wars, senão ele teria uma vaga cativa.

Nossos palpites são: Soul, Mank, Tenet, Relatos do Mundo e O Céu da Meia-Noite. Talvez Minari fique com a vaga de James Newton Howard ou Alexandre Desplat, caso os votantes queiram dar uma inovada. E reforçando: Se Thomas Newman for indicado novamente, com certeza será outra derrota em seu vasto histórico sem vitórias, então talvez seja o caso de nem indicá-lo (?).

CANÇÃO ORIGINAL

  • “Turntables” de Até o Fim: A Luta Pela Democracia (Amazon Studios)
  • “See What You’ve Done” de Belly of the Beast (Independent Lens)
  • “Wuhan Flu” de Borat: Fita de Cinema Seguinte (Amazon Studios)
  • “Husavik” de Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars (Netflix)
  • “Never Break” de Vozes que Inspiram (Netflix)
  • “Make It Work” de Uma Invenção de Natal (Netflix)
  • “Fight For You” de Judas e o Messias Negro (Warner Bros)
  • “lo Sì (Seen)” de Rosa e Momo (Netflix)
  • “Rain Song” de Minari (A24)
  • “Show Me Your Soul” de Mr. Soul! (Shoes in the Bed Productions)
  • “Loyal Brave True” de Mulan (Walt Disney Pictures)
  • “Free” de O Grande Ivan (Disney Plus)
  • “Speak Now” de Uma Noite em Miami… (Amazon Studios)
  • “Green” de Som do Silêncio (Amazon Studios)
  • “Hear My Voice” de Os 7 de Chicago (Netflix)

105 canções foram inscritas e agora restam 15 na disputa. Dos mais reconhecidos até o momento, as canções de Os 7 de Chicago, Uma Noite em Miami…, Rosa e Momo e Judas e o Messias Negro são as que têm maiores chances de concretizar indicações. Seria engraçado ver Sacha Baron Cohen fazendo uma performance de “Wuhan Flu”, de Borat: Fita de Cinema Seguinte, mas está com cara de que vai rolar uma indicação para aquela canção de letras inspiradoras porém sem musicalidade de documentários, no caso, Até o Fim: A Luta Pela Democracia, ainda mais que a canção de Andra Day em The United States vs. Billie Holiday já ficou pelo caminho.

EFEITOS VISUAIS

  • Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (Birds of Prey and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn) (Warner Bros)
  • Bloodshot (Lionsgate)
  • Problemas Monstruosos (Love and Monsters) (Paramount Pictures)
  • Mank (Netflix)
  • O Céu da Meia-Noite (The Midnight Sky) (Netflix)
  • Mulan (Walt Disney Pictures)
  • O Grande Ivan (The One and Only Ivan) (Disney Plus)
  • Soul (Pixar)
  • Tenet (Warner Bros)
  • Bem-Vindo à Chechênia (Welcome to Chechnya) (HBO)

O comitê executivo de Efeitos Visuais será convidado a conferir um trecho de 10 minutos desses dez filmes pré-selecionados no dia 06 de Março para decidirem os cinco indicados. Nos últimos anos, a Academia tem premiado filmes com efeitos bem mais discretos e que servem a narrativa sem chamar muita atenção. Foram os casos vitoriosos de O Primeiro Homem e 1917. Nesse sentido, Mank se encaixa bem já que usou efeitos para reconstruir a Hollywood dos anos 30, e em uma escala um pouco maior, temos O Céu da Meia-Noite, que usou a tecnologia para criar estações espaciais e o próprio espaço sideral. Já em termos de efeitos exibicionistas que sempre marcam presença na categoria, a indicação de Tenet é dada como 99% certa.

A presença mais curiosa da lista é do documentário Bem-Vindo à Chechênia. Afinal, por que um documentário estaria indicado a Efeitos Visuais? Simples. Por se tratar de um filme sobre pessoas gays perseguidas na Rússia, os efeitos digitais foram utilizados para aplicar o chamado Deep Fake, trocando o verdadeiro rosto das vítimas para não serem identificadas pelo governo russo. Acredito que seria indicado mais pelo uso criativo e efetivo da tecnologia.

Já entre os excluídos, dá pra destacar o filme de submarinos Greyhound: Na Mira do Inimigo e até o Sonic: O Filme, que trocou bem o design do porco-espinho. Mas a grande injustiça aqui foi a ausência de O Homem Invisível. Totalmente injustificável, pois os efeitos caíram como uma luva no thriller de paranóia.

CURTA DE ANIMAÇÃO

  • Burrow
  • Genius Loci
  • If Anything Happens I Love You
  • Kapaemahu
  • Opera
  • Out
  • The Snail and the Whale
  • To Gerard
  • Traces
  • Yes-People

96 curtas animados foram inscritos, incluindo o brasileiro Umbrella, que acabou ficando de fora. O candidato com maior visibilidade aqui certamente é If Anything Happens I Love You, que está na plataforma da Netflix, é conta com a produtora Laura Dern.

DOCUMENTÁRIO-CURTA

  • Abortion Helpline, This Is Lisa
  • Call Center Blues
  • Colette
  • A Concerto Is a Conversation
  • Do Not Split
  • Hunger Ward
  • Hysterical Girl
  • A Love Song for Latasha
  • The Speed Cubers
  • O Que Sophia Loren Faria? (What Would Sophia Loren Do?)

De 114 documentários-curtas inscritos, restaram dez na disputa. Embora a Academia tenha uma preferência por curtas envolvendo crianças, adolescentes ou pessoas doentes, já arrisco a dizer que O Que Sophia Loren Faria? já apresenta todas as justificativas para estar entre os indicados: história de superação, envolve uma atriz internacional, faz uma ode ao cinema, conta com a publicidade da Netflix, e ainda tem trechos do Oscar.

CURTA-METRAGEM

  • Bittu
  • Da Yie
  • Feeling Through
  • The Human Voice
  • The Kicksled Choir
  • The Letter Room
  • The Present
  • Two Distant Strangers
  • The Van
  • White Eye

Desses dez pré-selecionados, o que tem as maiores chances de longe é o curta The Human Voice, já que é dirigido pelo cineasta espanhol Pedro Almodóvar e estrelado por Tilda Swinton. Filmado durante a pandemia, o curta foi exibido no último Festival de Veneza.

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O anúncio dos indicados ao Oscar 2021 será no dia 15 de Março.