
A diretora romena Adina Pintilie posa com seu Urso de Ouro no Festival de Berlim (pic by Veja)
PRODUÇÃO ROMENA SOBRE INTIMIDADE E SEXUALIDADE BATE FAVORITOS
Considerado o mais político dos festivais de cinema, Berlim, em sua 68ª edição, buscou abraçar a causa feminista do #MeToo, lançado na época do Globo de Ouro. O presidente do júri, o cineasta alemão Tom Tykwer, premiou o filme que mais dialoga com o momento conturbado de assédios.
Touch Me Not, que em tradução livre significa Não Me Toque, é resultado de uma pesquisa feita pela diretora Adina Pintilie sobre as fobias e obsessões das pessoas em relação ao contato físico, tanto que possui uma mistura de linguagens de ficção e documental. Com um elenco composto por não-atores, a jovem diretora retrata cenas de nudez e masturbação e busca desafiar o público a entender esse comportamento do ser humano que é pouco discutido no cinema. Dos poucos e raros exemplares recentes que vi desse tópico foram os dois volumes de Ninfomaníaca, de Lars von Trier, mas de um ponto de vista mais patológico do que “normal”.

Cena de Touch Me Not (Nu ma atinge-ma), de Adina Pintilie (pic by critic.de)
“O que o filme propõe é: abra-se para o diálogo que o mundo a sua volta está oferecendo”, declarou a diretora em seu discurso de agradecimento, quando levou todos os participantes do filme ao palco.
A produção romena da diretora estreante ganhou o principal prêmio da noite, batendo favoritos de diretores consagrados como o americano Gus Van Sant, que veio à Alemanha com o filme Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot, que tem Joaquin Phoenix como personagem que fica paraplégico após acidente e redescobre sua vida desenhando cartoons polêmicos e controversos.
Aliás, talvez o nome mais famoso em competição era o de Wes Anderson, que estava entre os 19 filmes indicados ao Urso de Ouro com seu segundo trabalho no gênero da animação Ilha de Cachorros, que assim como a primeira animação O Fantástico Sr. Raposo, utiliza-se da técnica do stop-motion. Já me adiantando um pouco, certamente o filme estará entre os indicados ao Oscar 2019 de Melhor Longa de Animação, podendo finalmente render a primeira estatueta ao diretor. Isso, claro, se não houver nenhum mega-sucesso da Pixar no caminho…

Cena da animação Ilha de Cachorros, de Wes Anderson (pic by imdb.com)
Entre os vencedores, destaque para o primeiro filme do Paraguai a competir oficialmente em Berlim, Las Herederas (The Heiress), de Marcelo Martinessi, que acompanha a trajetória de uma senhora de idade homossexual buscando um recomeço. A produção latina conquistou o prêmio Alfred Bauer (uma espécie de Un Certain Regard do Festival de Cannes que premia um olhar diferenciado) e o de Melhor Atriz para Ana Brun.
O Brasil estava participando com três produções. Duas delas saíram premiadas com o Teddy Bear, que reconhece filmes com temática LGBT: Tinta Bruta, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, levou como Melhor Filme; enquanto Bixa Travesty, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman, ficou como Melhor Documentário. Já o documentário O Processo, de Maria Augusta Ramos, sobre o impechament da ex-presidente Dilma Roussef, terminou em 3º lugar na competição Panorama, votado pelo público.
BREVE NOTA
Claro que é sempre bacana acompanhar um festival internacional que não visa apenas a temporada do Oscar, como tem se tornado festivais como o de Veneza e de Toronto, e que ainda prestigiam a vertente mais política dos filmes autorais, contudo, como sempre aponto aqui no blog, os organizadores do evento deveriam transferir a data para, sei lá, o mês de março ou abril, justamente para não ficar de escanteio enquanto todos os olhos ficam em Hollywood e na festa do Oscar.
Seguem os vencedores da 68ª edição do Festival de Berlim:
URSO DE OURO
Touch Me Not
Dir: Adina Pintilie
URSO DE PRATA – GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
Twarz (Mug)
Dir: Małgorzata Szumowska
URSO DE PRATA – PRÊMIO ALFRED BAUER
The Heiress
Dir: Marcelo Martinessi
URSO DE PRATA – MELHOR DIRETOR
Wes Anderson (Ilha de Cachorros)
URSO DE PRATA – MELHOR ATRIZ
Ana Brun (The Heiress)
URSO DE PRATA – MELHOR ATOR
Anthony Bajon (The Prayer)
URSO DE PRATA – MELHOR ROTEIRO
Manuel Alcalá e Alonso Ruizpalacios (Museum)
URSO DE PRATA – CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA, FIGURINO OU DIREÇÃO DE ARTE
Elena Okopnaya (Dovlatov)
PRÊMIO AUDI CURTA-METRAGEM
Solar Walk
Dir: Réka Bucsi
CURTA-METRAGEM – PRÊMIO DO JÚRI
Imfura
Dir: Samuel Ishimwe
URSO DE OURO – MELHOR CURTA-METRAGEM
The Men Behind the Wall
Dir: Ines Moldavsky
MELHOR FILME DE ESTREANTE
Touch Me Not
Dir: Adina Pintilie
MELHOR DOCUMENTÁRIO
The Waldheim Waltz
Dir: Ruth Beckermann