‘O Lado Bom da Vida’ domina o Independent Spirit Awards 2013

David O. Russell, vencedor de Melhor Diretor e Roteiro por O Lado Bom da Vida, no Independent Spirit Awards

David O. Russell, vencedor de Melhor Diretor e Roteiro por O Lado Bom da Vida, no Independent Spirit Awards (photo by latimes.com)

Um dia antes de concorrer em oito categorias no Oscar, a comédia O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook) se tornou a grande vitoriosa do prêmio que prestigia o cinema mais independente. Além de Melhor Filme, o filme de David O. Russell levou Direção, Roteiro e Atriz para Jennifer Lawrence.

Curiosamente, o orçamento de produção do vencedor ultrapassa em 1 milhão de dólares do limite estipulado pela premiação para poder concorrer, mas parece que o lobby da distribuidora Weinstein Company falou mais alto. Aliás, esta é a segunda produção consecutiva da Weinstein a ganhar o Independent Spirit Awards depois de O Artista.

Jennifer Lawrence aceitando prêmio de Melhor Atriz por O Lado Bom da Vida (photo by movies.yahoo.com)

Jennifer Lawrence aceitando prêmio de Melhor Atriz por O Lado Bom da Vida (photo by movies.yahoo.com)

Em 2012, havia uma discussão sobre a eligibilidade de O Artista nas principais categorias. Como ambos os atores principais (Jean Dujardin e Bérènice Bejo) e o diretor Michel Hazanavicius são franceses, o filme deveria ter competido apenas como produção estrangeira. Acabou também limpando a premiação com Melhor Filme, Diretor, Fotografia e Ator.

Com o domínio de O Lado Bom da Vida, um dos principais concorrentes ficou praticamente esquecido: Indomável Sonhadora. Apesar de terem tentado compensar o pequeno filme apenas com o prêmio de Fotografia para Ben Richardson, o público ficou com a sensação de injustiça, afinal, terá poucas chances nas quatro categorias que está indicado no Oscar ao contrário do filme vencedor.

Pelo histórico do Independent Spirit Awards, surgiu uma famosa frase: “Ganhe no sábado e perca no domingo”. Normalmente o filme vencedor perde no Oscar no dia seguinte. Casos mais recentes incluem Cisne Negro, Preciosa – Uma História de Esperança e O Lutador. O único a quebrar esta escrita foi justamente O Artista, que levou ambos o Independent e o Oscar.

Contudo, essa aliança tende a ficar mais recorrente. Desde 2000, 10 dos 13 vencedores de Melhor Filme foram também indicados a Melhor Filme no Oscar. Sem contar os atores que ganharam os dois prêmios: Jean Dujardin (O Artista), Christopher Plummer (Toda Forma de Amor), Natalie Portman (Cisne Negro), Mo’Nique (Preciosa – Uma História de Esperança) e Jeff Bridges (Coração Louco).

Ainda sobre os vencedores nas categorias de atuação, o Independent Spirit Awards salvou o ano dos atores John Hawkes e Matthew McConaughey. Ambos tiveram suas interpretações muito elogiadas pela crítica no final de 2012, mas viram suas boas campanhas naufragarem com a ausência na lista do Oscar. Em seu discurso de agradecimento, McConaughey, que venceu pelo papel de um dono de clube de striptease em Magic Mike, soltou um desabafo: “Tive que tirar minhas calças pra ganhar um troféu!”. E com a ausência da favorita Anne Hathaway, Helen Hunt acabou levando a melhor na categoria de atriz coadjuvante por As Sessões.

John Hawkes recebe prêmio de Melhor Ator por As Sessões das mãos de Salma Hayek (photo by sfgate.com)

John Hawkes recebe prêmio de Melhor Ator por As Sessões das mãos de Salma Hayek (photo by sfgate.com)

Amor, de Michael Haneke, confirmou seu favoritismo e deve chegar com força total para o Oscar, mesmo que seus concorrentes diretos (o chileno No e o norueguês Expedição Kon-Tiki) não tenham sido sequer indicados ao Independent Spirit.

Acompanhe novamente os indicados e os vencedores (assinalados em negrito):

MELHOR FILME
Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild)
Bernie
Deixe a Luz Acesa (Keep the Lights On)
Moonrise Kingdom (Moonrise Kingdom)
• O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook)

MELHOR DIRETOR
Wes Anderson, Moonrise Kingdom
Julia Loktev, The Loneliest Planet
• David O. Russell, O Lado Bom da Vida
Ira Sachs, Deixe a Luz Acesa
Benh Zeitlin, Indomável Sonhadora

MELHOR ROTEIRO
Wes Anderson & Roman Coppola, Moonrise Kingdom
Zoe Kazan, Ruby Sparks – A Namorada Perfeita
Martin McDonagh, Sete Psicopatas e um Shih Tzu
• David O. Russell, O Lado Bom da Vida
Ira Sachs, Deixe a Luz Acesa

MELHOR FILME DE ESTREANTE
Fill the Void
Gimme the Loot
Sem Segurança Nenhuma (Safety Not Guaranteed)
Sound of My Voice
• As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower)

MELHOR ROTEIRO DE ESTREANTE
Rama Burshtein, Fill the Void
• Derek Connolly, Sem Segurança Nenhuma
Christopher Ford, Frank e o Robô
Rashida Jones & Will McCormack, Celeste e Jesse Para Sempre
Jonathan Lisecki, Gayby

JOHN CASSAVETES AWARD – (para produções abaixo de 500 mil dólares)
Breakfast with Curtis
• Middle of Nowhere
Mosquita y Mari
Starlet
The Color Wheel

MELHOR ATRIZ
Linda Cardellini, Return
Emayatzy Corinealdi, Middle of Nowhere
• Jennifer Lawrence, O Lado Bom da Vida
Quvenzhané Wallis, Indomável Sonhadora
Mary Elizabeth Winstead, Smashed

MELHOR ATOR
Jack Black, Bernie
Bradley Cooper, O Lado Bom da Vida
• John Hawkes, As Sessões
Thure Lindhardt, Deixe a Luz Acesa
Matthew McConaughey, Killer Joe – Matador de Aluguel
Wendell Pierce, Four

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Rosemarie DeWitt, Your Sister’s Sister
Ann Dowd, Compliance
• Helen Hunt, As Sessões
Brit Marling, Sound of My Voice
Lorraine Toussaint, Middle of Nowhere

MELHOR ATOR COADJUVANTE
• Matthew McConaughey, Magic Mike
David Oyelowo, Middle of Nowhere
Michael Péna, Marcados Para Morrer
Sam Rockwell, Sete Psicopatas e um Shih Tzu
Bruce Willis, Moonrise Kingdom

MELHOR FOTOGRAFIA
Yoni Brook, Valley of Saints
Lol Crawley, Here
• Ben Richardson, Indomável Sonhadora
Roman Vasyanov, Marcados Para Morrer
Robert Yeoman, Moonrise Kingdom

MELHOR DOCUMENTÁRIO
How to Survive a Plague
Marina Abramović: The Artist is Present
The Central Park Five
• The Invisible War
The Waiting Room

MELHOR FILME INTERNACIONAL
Amor (França) de Michael Haneke
Once Upon A Time in Anatolia (Turquia), de Nuri Bilge Ceylan
Ferrugem e Osso (França/Bélgica), de Jacques Audiard
Sister (Suíça), de Ursula Meier
A Feiticeira da Guerra (República Democrática do Congo), de Kim Nguyen

PIAGET PRODUCERS AWARD
Nobody Walks, Alicia Van Couvering
Prince Avalanche, Derrick Tseng
Stones in the Sun, Mynette Louie

SOMEONE TO WATCH AWARD
Pincus, diretor David Fenster
Gimme the Loot, diretor Adam Leon
Electrick Children, diretora Rebecca Thomas

TRUER THAN FICTION AWARD (dado para documentaristas emergentes)
Leviathan, diretores Lucien Castaing-Taylor and Véréna Paravel
The Waiting Room, diretor Peter Nicks
Only the Young, diretores Jason Tippet & Elizabeth Mims

ROBERT ALTMAN AWARD (pelo elenco)
Starlet
Diretor: Sean Baker
Diretor de Casting: Julia Kim
Elenco: Dree Hemingway, Besedka Johnson, Karren Karagulian, Stella Maeve, James Ransone.

FIND Your Audience Award
Breakfast With Curtis, de Laura Colella
The History of Future Folk, de John Mitchell, Jeremy Kipp Walker

Matthew McConaughey com o prêmio de coadjuvante por Magic Mike (photo by beaumontenterprise.com)

Matthew McConaughey com o prêmio de coadjuvante por Magic Mike (photo by beaumontenterprise.com)

Indicados ao Independent Spirit Awards 2013

Independent Spirit Awards 2013

Moonrise Kingdom e O Lado Bom da Vida lideram as indicações desta 27ª edição

Apesar de ter pouco a ver com o Oscar por se tratar de uma premiação dedicada a filmes independentes, o Independent Spirit Awards costuma premiar trabalhos de muita qualidade e que a cada ano, coincide mais com os indicados e vencedores da Academia. Este ano, O Artista, produção francesa que levou 5 Oscars, foi também o grande vencedor do Independent, com os prêmios para Melhor Filme, Diretor, Ator e Fotografia.

Moonrise Kingdom, de Wes Anderson: 5 indicações

Seguindo essa crescente, para 2013, o romance Moonrise Kingdom e a dramédia O Lado Bom da Vida, líderes das indicações com cinco para cada, podem garantir vaga na categoria de Melhor Filme no Oscar. Enquanto o belo filme de Wes Anderson concorre para Melhor Filme, Diretor, Ator Coadjuvante (Bruce Willis), Roteiro e Fotografia, o novo filme de David O. Russell briga nas categorias de Filme, Diretor, Ator (Bradley Cooper), Atriz (Jennifer Lawrence) e Roteiro, ignorando o favoritismo de Robert De Niro na categoria de Ator Coadjuvante.

Jennifer Lawrence e Bradley Cooper em cena de O Lado Bom da Vida, de David O. Russell

Entre os atores, o norte-americano Matthew McConaughey se destaca pela dupla indicação: Melhor Ator por Killer Joe, e Coadjuvante por Magic Mike. Embora tenha mais chances de ganhar, nem sempre a sorte está do lado e pode acabar saindo da cerimônia sem nenhum dos prêmios. Entretanto, vale ressaltar que as duas indicações acabam reforçando a possível primeira indicação ao Oscar de McConaughey como coadjuvante.

Outro artista que pode tirar proveito do Independent Spirit é o diretor estreante Benh Zeitlin de Indomável Sonhadora. Está concorrendo como Melhor Filme, Diretor, Atriz (Quvenzhané Wallis) e Fotografia.

Vale comentar a inclusão de Keep the Lights on, de Ira Sachs, drama sobre relacionamento homossexual na Nova York dos anos 90, que teve passagem pelo Festival de Sundance e venceu o prêmio Teddy (que reconhece perspectivas sexuais) no Festival de Berlim.

Cena mais caliente de Keep the Lights On, de Ira Sachs

A comédia de humor negro de Richard Linklater, Bernie, conta a história de Bernie Tiede (Jack Black), um tenor de música gospel, que se relaciona uma senhora viúva (Shirley MacLaine). Quando ela passa a ficar possessiva, o clima esquenta e planos criminosos surgem na cabeça de Bernie.

Com as indicações, Jennifer Lawrence, Quvenzhané Wallis, John Hawkes, Helen Hunt e Mary Elizabeth Winstead saem mais fortalecidos para a corrida do Oscar 2013. Talvez seja a crise econômica, mas os filmes independentes (leia-se produções com orçamento reduzido) vêm ganhando mais espaço entre os melhores filmes do ano. Como cinéfilo, torço para que os produtores de Hollywood enxerguem nisso uma nova oportunidade de investimento em artistas que busquem inovações, deixando de lado projetos que visam apenas o lucro como as incontáveis refilmagens.

MELHOR FILME
Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild)
Bernie
Keep the Lights On
Moonrise Kingdom (Moonrise Kingdom)
O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook)

MELHOR DIRETOR
Wes Anderson, Moonrise Kingdom
Julia Loktev, The Loneliest Planet
David O. Russell, O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook)
Ira Sachs, Keep the Lights On
Benh Zeitlin, Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild)

MELHOR ROTEIRO
Wes Anderson & Roman Coppola, Moonrise Kingdom
Zoe Kazan, Ruby Sparks – A Namorada Perfeita (Ruby Sparks)
Martin McDonagh, Seven Psychopaths
David O. Russell, O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook)
Ira Sachs, Keep the Lights On

MELHOR FILME DE ESTREANTE
Fill the Void
Gimme the Loot
Safety Not Guaranteed
Sound of My Voice
As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower)

MELHOR ROTEIRO DE ESTREANTE
Rama Burshtein, Fill the Void
Derek Connolly, Safety Not Guaranteed
Christopher Ford, Robot & Frank
Rashida Jones & Will McCormack, Celeste and Jesse Forever
Jonathan Lisecki, Gayby

JOHN CASSAVETES AWARD – (para produções abaixo de 500 mil dólares)
Breakfast with Curtis
Middle of Nowhere
Mosquita y Mari
Starlet
The Color Wheel

MELHOR ATRIZ
Linda Cardellini, Return
Emayatzy Corinealdi, Middle of Nowhere
Jennifer Lawrence, O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook)
Quvenzhané Wallis, Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild)
Mary Elizabeth Winstead, Smashed

MELHOR ATOR
Jack Black, Bernie
Bradley Cooper, O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook)
John Hawkes, The Sessions
Thure Lindhardt, Keep the Lights On
Matthew McConaughey, Killer Joe
Wendell Pierce, Four

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Rosemarie DeWitt, Your Sister’s Sister
Ann Dowd, Compliance
Helen Hunt, The Sessions
Brit Marling, Sound of My Voice
Lorraine Toussaint, Middle of Nowhere

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Matthew McConaughey, Magic Mike
David Oyelowo, Middle of Nowhere
Michael Péna, Marcados Para Morrer (End of Watch)
Sam Rockwell, Seven Psychopaths
Bruce Willis, Moonrise Kingdom

MELHOR FOTOGRAFIA
Yoni Brook, Valley of Saints
Lol Crawley, Here
Ben Richardson, Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild)
Roman Vasyanov, Marcados Para Morrer (End of Watch)
Robert Yeoman, Moonrise Kingdom

MELHOR DOCUMENTÁRIO
How to Survive a Plague
Marina Abramović: The Artist is Present
The Central Park Five
The Invisible War
The Waiting Room

MELHOR FILME INTERNACIONAL
Amour (França), de Michael Haneke
Once Upon A Time in Anatolia (Turquia), de Nuri Bilge Ceylan
Ferrugem e Osso (Rust And Bone) (França/Bélgica), de Jacques Audiard
Sister (Suíça), de Ursula Meier
War Witch (República Democrática do Congo), de Kim Nguyen

PIAGET PRODUCERS AWARD
Nobody Walks, Alicia Van Couvering
Prince Avalanche, Derrick Tseng
Stones in the Sun, Mynette Louie

SOMEONE TO WATCH AWARD
Pincus, diretor David Fenster
Gimme the Loot, diretor Adam Leon
Electrick Children, diretora Rebecca Thomas

TRUER THAN FICTION AWARD (dado para documentaristas emergentes)
Leviathan, diretores Lucien Castaing-Taylor and Véréna Paravel
The Waiting Room, diretor Peter Nicks
Only the Young, diretores Jason Tippet & Elizabeth Mims

ROBERT ALTMAN AWARD (pelo elenco)
Starlet
Diretor: Sean Baker
Diretor de Casting: Julia Kim
Elenco: Dree Hemingway, Besedka Johnson, Karren Karagulian, Stella Maeve, James Ransone.

Colin Farrel e Sam Rockwell em cena do novo filme de Martin McDonagh, Seven Psycopaths.

Como de costume, a cerimônia de entrega dos prêmios do Independent Spirit Awards acontece um dia antes do Oscar. Nesse caso, no dia 23 de fevereiro de 2013.

 

Oscar 2013: Recorde de 71 filmes estrangeiros inscritos

Federico Fellini recebendo Oscar Honorário em 1993. O diretor levou quatro vezes Melhor Filme Estrangeiro para a Itália, além de doze indicações.

Uma nova marca é adicionada à história do Oscar. Setenta e um países inscreveram filmes para representá-los na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. É claro que o fato de concorrer oficialmente ao prêmio já seria um prestígio enorme, mas talvez esse aumento de participantes se deva à vitória de A Separação, de Asghar Farhadi, um filme iraniano pequeno que não pertence ao círculo de países de primeiro mundo que costuma ganhar nessa categoria.

Desde que a Academia criou a categoria internacional em 1957 (de 1948 a 1956, os filmes estrangeiros eram reconhecidos com Oscars Honorários), Itália e França são os maiores vencedores com dez e nove vitórias respectivamente. Contudo, ambos não ganham há um bom tempo. A última produção francesa a ganhar foi Indochina, de Régis Wargnier, em 1993, enquanto a Itália tem um jejum de treze anos desde que A Vida é Bela, de Roberto Benigni levou três prêmios naquele ano de 1999.

César Deve Morrer, dos irmãos Taviani: vencedor do Urso de Ouro em Berlim, representando a Itália no Oscar

E se depender do burburinho, a Itália pode voltar ao páreo com o César Deve Morrer, dos irmãos Vittorio e Paolo Taviani (sem previsão de estréia aqui). O docu-drama que mostra presidiários reais encenando a peça Júlio César, de Shakespeare, levantou polêmica e levou o Urso de Ouro no Festival de Berlim desse ano. Não tem tanta cara de Oscar pelo lado polêmico, mas seria uma excelente oportunidade da Academia resgatar grandes nomes do cinema italiano.

Intocáveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano: sucesso comercial e boas atuações garantem uma indicação ao Oscar

Maiores chances tem a França, pois conta com o sucesso comercial Intocáveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano, que já consolidou a segunda melhor posição da bilheteria francesa de todos os tempos, faturando mais de US$ 300 milhões ao redor do mundo. A comédia dramática, ainda em cartaz nos cinemas de São Paulo, conta a história verídica de um aristocrata que ficou quadriplégico e contratou um jovem incomum para seus cuidados. Seu sucesso de público se deve à química dos atores principais, François Cluzet e Omar Sy, e pelo roteiro que explora muito bem as diferenças culturais dos dois personagens.

Amour, de Michael Haneke: diretor austríaco (à esq) dirige os veteranos Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant. A Palma de Ouro lhe deu a merecida notoriedade.

Entretanto, os franceses têm dura competição com o representante da Áustria: o drama Amour, de Michael Haneke, uma vez que arrebatou a última Palma de Ouro em Cannes e conta ainda com uma ótima dupla de atores, o casal Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, ambos cotados para indicações nas categorias de atuação. Conta a favor também o fato de Michael Haneke ter a segunda chance na categoria depois que perdeu em 2010 pelo forte drama A Fita Branca, quando concorria pela Alemanha.

Em termos de favoritismo, parece claro que os três filmes citados acima estão com maiores chances. Porém, como se trata de uma categoria bastante imprevisível às vezes, vale a pena ressaltar alguns trabalhos bem comentados até o momento pela mídia e que não são necessariamente do mainstream, como é o caso do romeno Beyond the Hills, de Cristian Mungiu. Foi graças ao diretor que o cinema da Romênia voltou ao cenário internacional em 2007, quando seu filme anterior, o drama 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias foi reconhecido pela Palma de Ouro. O fato de Beyond the Hills ter saído com dois prêmios de Cannes esse ano: Melhor Atriz (recebido pela dupla de protagonistas Cosmina Stratan e Cristina Flutur) e Melhor Roteiro (Cristian Mungiu) certamente colabora na campanha, mas por se tratar de temática religiosa e sobrenatural envolvendo exorcismo verídico, os votantes velhinhos podem molhar suas fraldas geriátricas e nem terminar de ver o filme até o fim.

Beyond the Hills, de Cristian Mungiu: exorcismo na Academia? Só se for pra compensar O Exorcista (1973).

O mesmo asco deve acontecer entre os votantes ao ver o filme sul-coreano Pietá, de Kim Ki-duk, pois contém violência (apenas alguns membros decepados) e cenas de incesto (coisa mais light hoje em dia). Apesar de ter levado o Leão de Ouro em Veneza, as chances do filme ficar entre os cinco finalistas são as mesmas do mundo acabar em 2012.

Outros concorrentes apresentam alguns elementos que podem facilitar a indicação. No caso do israelense Fill the Void, o prêmio Volpi Cup de Melhor Atriz para Hadas Yaron seria um bom adendo, mas convenhamos que a maioria vontante judia também dá uma forcinha. Já o dinamarquês A Royal Affair, de Nikolaj Arcel, que ganhou Melhor Ator e Melhor Roteiro em Berlim, ganha pontos pela produção caprichada de filme de época, com figurinos e direção de arte vistosos, contando com Mads Mikkelsen, ator em ascensão internacional.

A Suécia pode conseguir grande ajuda pelo peso do nome Lasse Hallström. O diretor chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado pelo drama sueco Minha Vida de Cachorro em 1988 e novamente como Melhor Diretor pelo meloso Regras da Vida em 2000. Lasse Hallström conseguiu comandar bons projetos em Hollywood, resultando em Gilbert Grape – Aprendiz de um Sonhador (1993), Chocolate (2000), Chegadas e Partidas (2001), Sempre ao seu Lado (2009) e mais recentemente o drama baseado no best-seller de Nicholas Sparks, Querido John (2010). Ele pode voltar a competir com The Hypnotist, adaptação literária homônima da obra de Lars Kepler.

The Hypnotist, de Lasse Hallström. O diretor retorna à gélida Suécia e volta a ter boas chances no Oscar.

Se forçar um pouco a barra, dá pra incluir na briga o musical no melhor estilo Bollywood, Barfi!. A última indicação da Índia aconteceu em 2002 com outro musical Lagaan – Era Uma Vez na Índia, de Ashutosh Gowariker. Quem sabe não sai uma dobradinha musical com uma possível vitória de Les Miserábles, de Tom Hooper? OK, já seria muita ilusão de minha parte…

E o que dizer da primeira participação da Quênia no Oscar? Eles selecionaram o drama Nairobi Half Life, de David ‘Tosh’ Gitonga. Obviamente, trata-se de uma produção de baixo orçamento que acompanha a trajetória de um jovem aspirante a ator que se muda para a cidade grande (Nairobi) a fim de tentar a sorte na carreira. Talvez o filme tenha baixa qualidade técnica pelas dificuldades do país, mas se mandaram bem no lado emotivo da história, por que não teria chances reais? Se uma coisa eu aprendi nesses anos acompanhando o Oscar foi que a categoria de Filme Estrangeiro privilegia a boa e velha catarse. Histórias que mexem com elementos de superação são os favoritos.

Nairobi Half Life, de David ‘Tosh’ Gitonga: Primeiríssima participação do Quênia no Oscar. Motivo de orgulho e torcida.

E o Brasil? Quando vem o bendito primeiro Oscar para o nosso país? Teria O Palhaço, de Selton Mello, boas chances de ficar entre os finalistas? Particularmente, gostei da escolha entre os filmes nacionais, pois mostra um Brasil diferente dos últimos retratos de Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007). Como já afirmei antes, a categoria diverge das demais em termos de votação. Já tentamos ganhar com Walter Salles (Central do Brasil) e Fernando Meirelles (Cidade de Deus) pelo prestígio internacional. Já apelamos pelos gostos dos votantes com Olga (2004), de Jayme Monjardim, e O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006), de Cao Hamburger. Nada. Então, mesmo que O Palhaço sequer figure entre os finalistas, pelo menos estamos tentando com novas perspectivas. O filme possui temática universal do circo, boas atuações e qualidades técnicas como fotografia e trilha. Quem sabe?

Vale lembrar que lista dos 71 filmes que participam da maratona do Oscar poderia ser de 72 filmes. O governo (patético) do Irã resolveu chamar a atenção da mídia ao cancelar a participação do país no Oscar como forma de protesto pelo vídeo (ainda mais patético) Inocência dos Muçulmanos, que o Youtube foi obrigado a retirar do ar por ordem do governo brasileiro (muito mais patético) que mesmo tendo mais de vinte anos de ditadura na História, ainda não aprendeu que censura é uma atitude desprezível que vai contra a liberdade que foi conquistada com muito suor e sangue. Azar também do pobre filme iraniano A Cube of Sugar, de Seyyed Reza Mir-Karimi, que teve que pagar o pato com essa história ridícula de boicote…
Segue lista completa em ordem alfabética:

Afeganistão: The Patience Stone, de Atiq Rahimi

África do Sul: Little One, de Darrell James Roodt
Albânia: Pharmakon, de Joni Shanaj

Alemanha: Barbara, de Christian Petzold
Argélia: Zabana!, de Said Ould Khelifa
Argentina: Clandestine Childhood, de Benjamín Ávila
Armênia: If Only Everyone, de Natalia Belyauskene
Austrália: Lore, de Cate Shortland
Áustria: Amour, de Michael Haneke
Azerbaijão: Buta, de Ilgar Najaf
Bangladesh: Pleasure Boy Komola, de Humayun Ahmed
Bélgica: Our Children, de Joachim Lafosse
Bósnia e Herzegovina: Children of Sarajevo, de Aida Begic
Brasil: O Palhaço, de Selton Mello
Bulgária: Sneakers, de Valeri Yordanov e Ivan Vladimirov
Camboja: Lost Loves, de Chhay Bora
Canadá: War Witch, de Kim Nguyen

Cazaquistão: Myn Bala: Warriors of the Steppe, de Akan Satayev
Chile: No, de Pablo Larraín;
China: Caught in the Web, de Chen Kaige
Colômbia: The Snitch Cartel, de Carlos Moreno

Coréia do Sul: Pieta, de Kim Ki-duk
Croácia: Vegetarian Cannibal, de Branko Schmidt
Dinamarca: A Royal Affair, de Nikolaj Arcel

Eslováquia: Made in Ash, de Iveta Grófová
Eslovênia: A Trip, de Nejc Gazvoda
Espanha: Blancanieves, de Pablo Berger
Estônia: Mushrooming, de Toomas Hussar

Filipinas: Bwakaw, de Jun Robles Lana
Finlândia: Purge, de Antti J. Jokinen
França: Intocáveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano
Georgia: Keep Smiling, de Rusudan Chkonia
Grécia: Unfair World, de Filippos Tsitos
Greenland: Inuk, de Mike Magidson

Holanda: Kauwboy, de Boudewijn Koole
Hong Kong: Life without Principle, de Johnnie To
Hungria: Just the Wind, de Bence Fliegauf
Índia: Barfi!, de Anurag Basu
Indonésia: The Dancer, de Ifa Isfansyah

Islândia: The Deep, de Baltasar Kormákur
Israel: Fill the Void, de Rama Burshtein
Itália: Caesar Must Die, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani
Japão: Our Homeland, de Yang Yonghi
Letônia: Gulf Stream under the Iceberg, de Yevgeny Pashkevich
Lituânia: Ramin, de Audrius Stonys
Macedônia: The Third Half, de Darko Mitrevski
Malásia: Bunohan, de Dain Iskandar Said

Marrocos: Death for Sale, de Faouzi Bensaïdi
México: After Lucia, de Michel Franco
Noruega: Kon-Tiki, de Joachim Rønning e Espen Sandberg
Palestina: When I Saw You, de Annemarie Jacir
Peru: The Bad Intentions, de Rosario García-Montero
Polônia: 80 Million, de Waldemar Krzystek
Portugal: Blood of My Blood, de João Canijo

Quênia: Nairobi Half Life, de David ‘Tosh’ Gitonga

Quirguistão: The Empty Home, de Nurbek Egen

República Dominicana: Jaque Mate, de José María Cabral

República Tcheca: In the Shadow, de David Ondrícek
Romênia: Beyond the Hills, de Cristian Mungiu
Rússia: White Tiger, de Karen Shakhnazarov
Sérvia: When Day Breaks, de Goran Paskaljevic

Singapura: Already Famous, de Michelle Chong
Suécia: The Hypnotist, de Lasse Hallström
Suíça: Sister, de Ursula Meier
Tailândia: Headshot, de Pen-ek Ratanaruang

Taiwan: Touch of the Light, de Chang Jung-Chi
Turquia: Where the Fire Burns, de Ismail Gunes
Ucrânia: The Firecrosser, de Mykhailo Illienko
Uruguai: The Delay, de Rodrigo Plá
Venezuela: Rock, Paper, Scissors, de Hernán Jabes
Vietnã: The Scent of Burning Grass, de Nguyen Huu Muoi

Vencedores do Festival de Veneza 2012

O grande vencedor de 2012: Kim Ki-duk por seu filme Pietà (foto por Domenico Stinellis/ Associated Press)

Produção sul-coreana, Pietà, leva prêmio máximo de Veneza batendo The Master

Enfim o festival de cinema mais antigo elegeu seu filme favorito entre 18 concorrentes. O presidente do júri desta 69ª edição, o diretor norte-americano Michael Mann, juntamente com os demais membros do júri (entre eles o diretor israelense Ari Folman, a atriz britânica Samantha Morton, o diretor italiano Matteo Garrone e o argentino Pablo Trapero), divulgaram a lista dos premiados e nitidamente, tentaram ser democráticos.

Embora The Master, de Paul Thomas Anderson, tenha sido mais embalado pela mídia, foi o filme sul-coreano, Pietà, que conseguiu maior consenso entre os membros do júri. No discurso de agradecimento do Leão de Ouro, o diretor Kim Ki-duk dedicou o filme “à humanidade e à nossa situação difícil numa crise capitalista extrema”. O drama narra a jornada de um cobrador de dívidas que mutila os devedores sem piedade para que recebam prêmios do seguro de acidente de trabalho e enfim, possam pagá-lo. A brutalidade desse universo chocou alguns espectadores, mas se mostrou bastante atual em tempos de crise.

Cena de Pietà: Cho Min-Soo e Lee Jung-jin

Para quem desconhece a filmografia de Kim Ki-duk, ele tem uma veia violenta, mas nunca gratuita. Seus filmes mais conhecidos por aqui são Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera (2003) e Casa Vazia (2004). Geralmente, essa violência de seus personagens vem à tona quando estes não entendem a situação e agem por impulso. Para quem acompanha os festivais internacionais, o diretor é uma figura carimbada que já levou prêmios importantes como o Urso de Prata para Melhor Diretor em 2004 por Samaria (Berlim), Un Certain Regard por Arirang em 2011 (Cannes), Melhor Diretor por Casa Vazia em 2004 (Veneza), mas nunca chegou ao Oscar. Aliás, o cinema sul-coreano como um todo jamais foi reconhecido pela Academia nem com uma mera indicação. Pra maioria dos votantes da Academia, filme asiático tem que ser de Akira Kurosawa ou uma pintura como os filmes de Zhang Yimou: Herói (2002) e O Clã das Adagas Voadoras (2004), assim como quase toda a Europa aposta num representante com tema judeu e Segunda Guerra para levar Melhor Filme Estrangeiro.

Michael Mann, presidente do júri da 69ª edição do Festival de Veneza (foto Pascal le Segretain/Getty Images Europe)

Até um dia anterior à premiação, o favoritismo ao Leão de Ouro estava nas mãos de Paul Thomas Anderson e seu The Master, carregando seus 75%. Em seguida, vinha o sul-coreano Pietà com 15% e por último, o italiano Bella Addormentata, de Marco Bellochio, com 10%. Coincidência ou não, todos os três apresentaram temas polêmicos, acarretando em discussões mais acaloradas entre os jornalistas e espectadores presentes. Nessa briga, The Master aborda o nascimento da Cientologia e Bella Addormentata discute a eutanásia ao adaptar um caso verídico.

Muitos jornalistas davam como certa a vitória do filme norte-americano, uma vez que o filme asiático continha cenas de violência extrema e até de incesto. Mas o que muitos não contavam era que Michael Mann tem temas violentos em sua filmografia, vide Fogo Contra Fogo, O Último dos Moicanos e Colateral, ea palavra final do júri é dele. Entretanto, como dito no começo, a premiação foi democrática.

Se The Master não levou o Leão de Ouro, saiu com dois prêmios: Melhor Diretor (Paul Thomas Anderson) e Melhor Ator para a dupla de protagonistas Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, reconhecimento que automaticamente os coloca na corrida para o Oscar 2013, com uma ligeira vantagem para Phoenix, pois seu papel tem uma carga mais dramática. O prêmio de Melhor Atriz foi considerada a maior surpresa, pois todos esperavam pelo nome da atriz coreana Cho Min-Soo (Pietà), mas como o filme levou o maior prêmio, concederam esse reconhecimento para a jovem Hadas Yaron, protagonista do filme israelense Fill the Void, de Rama Burshtein e Yigal Bursztyn.

Philip Seymour Hoffman com a taça Volpi Cup de Melhor Ator. Joaquin Phoenix não esteve presente (foto por Joel Ryan/ Associated Press)

Os ares de Veneza ficam mais graciosos com Hadas Yaron, recebendo o Volpi Cup de Melhor Atriz por Fill the Void (foto por Tiziana Fabi/ AFP photo)

O prêmio especial do júri ficou com o austríaco Ulrich Seidl por Paradise: Faith, considerada a segunda parte de uma trilogia, iniciada com Paradise: Love, que foi indicada à Palma de Ouro em Cannes este ano. O cineasta francês Olivier Assayas ficou com Melhor Roteiro por Après mai (Somehting in the Air), enquanto que o prêmio de consolação patriota ficou com o italiano Daniele Ciprì por È stato il Figlio pela contribuição artística (fotografia). O grande favorito italiano, Bella Addormentata, acabou ficando apenas com o prêmio Marcello Mastroianni, dedicado ao jovem ator Fabrizio Falco, que atuou também em È stato il Figlio.

Entre os maiores perdedores do festival estão To the Wonder, novo filme do controverso Terrence Malick, e o retorno de Brian De Palma a uma competição importante com Passion. Ambos os trabalhos não foram bem recebidos pela crítica e pelo público. Como era de se esperar, o filme de Malick dividiu as opiniões e acabou prevalecendo a crítica negativa. Quanto a De Palma, muitos receberam seu filme friamente e o motivo principal seria sua falta de criatividade. Segundo os comentários, ele teria abusado do auto-plágio, acumulando referências de seus filmes anteriores, mas sem o mesmo frescor.

A revelação sueca Noomi Rapace demonstrando seu carinho pelo diretor Brian De Palma, que, após o festival precisa dar um “atualizar” (foto por Associated Press)

Assim como o Oscar, Globo de Ouro e SAG, nenhuma premiação consegue satisfazer o público de forma plena e soberana. Mas ao contrário do prêmio da Academia que muitas vezes padece por motivos comerciais e de lobby dos estúdios, os festivais internacionais sofrem de um pseudo-patriotismo por parte do júri. Se o presidente do júri for norte-americano e o filme que venceu o prêmio máximo também, uma discussão mais grave seria questão de tempo. Um dos casos mais graves ocorreu em 2010, quando Quentin Tarantino era presidente do júri de Veneza e decidiu entregar o Leão de Ouro à compatriota e ex-namorada, Sofia Coppola, pelo drama Um Lugar Qualquer. Por mais que o filme seja merecedor do ouro, haverá uma inevitável desconfiança do público. Seria como escalar um árbitro brasileiro para apitar uma partida entre Brasil e Argentina.

Nesta edição de Veneza, um repórter teria questionado o porquê de nenhum filme italiano ter conquistado um dos principais prêmios para o conterrâneo Matteo Garrone, membro do júri. Quando ia responder, o presidente Michael Mann interveio e proibiu qualquer explicação de critérios.

Infelizmente, a Arte caminha junto com interesses econômicos desde a época do mecenato e muitas vezes, isso acaba tirando o foco da própria Arte. Na maior parte das vezes, a melhor solução seria interpretar as escolhas dos melhores filmes como algo puramente subjetivo (preferencialmente defendido com argumentos válidos). Atitude essa permitida pela grandeza da Arte.

Veja lista completa dos prêmios concedidos em Veneza:

LEÃO DE OURO
PIETÀ de Kim Ki-duk (Coréia do Sul)
 
LEÃO DE PRATA para Melhor Diretor:
THE MASTER de Paul Thomas Anderson (EUA)
 
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI:
Paradise: Faith de Ulrich Seidl (Áustria, Alemanha, França)
 
VOLPI CUP para Melhor Ator:
Philip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix (The Master/ EUA)
VOLPI CUP para Melhor Atriz:
Hadas Yaron (Fill the Void/ Israel)
 
PRÊMIO MARCELLO MASTROIANNI para Melhor Novo Ator Jovem:
Fabrizio Falco (Bella Addormentata e È stato il Figlio)
 
PRÊMIO DE MELHOR ROTEIRO:
Olivier Assayas (Apres Mai – Somehting in the Air)
PRÊMIO PELA MELHOR CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA (FOTOGRAFIA):
Daniele Ciprì (È stato il Figlio)
 
 
LEÃO DO FUTURO – PRÊMIO “LUIGI DE LAURENTIIS” PARA PRIMEIRO FILME:
KÜF (MOLD), de Ali Aydin (Turquia, Alemanha)
 
PRÊMIOS ORIZZONTI:
para MELHOR FILME:
SAN ZI MEI (Three Sisters), de Wang Bing (França, Hong Kong)
para  PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI ORIZZONTI:
TANGO LIBRE de Frédéric Fonteyne (França, Bélgica, Luxemburgo)
para PRÊMIO YOUTUBE PARA MELHOR CURTA-METRAGEM ORIZZONTI:
CHO-DE de Yoo Min-young (Coréia do Sul)
para PRÊMIOS DE FILMES EUROPEUS 2012 EFA:
TITLOI TELOUS de Yorgos Zois (Grécia)
 
LEÃO DE OURO PELO CONJUNTO DA OBRA 2012:
Francesco Rosi
 
JAEGER-LECOULTRE GLÓRIA PARA O CINEASTA:
Spike Lee
PRÊMIO PERSOL
Michael Cimino
PRÊMIO L’ORÉAL PARIS PELO CINEMA
Giulia Bevilacqua
Confira o trailer do vencedor do Leão de Ouro, Pietà (com legendas em inglês):

69º Festival de Veneza (2012) – Venice Film Festival

69º Festival de Veneza

Enquanto o vencedor do Leão de Ouro 2011, Fausto, de Aleksandr Sokurov, está atualmente em cartaz em São Paulo, o Festival de Veneza anuncia os indicados para esta 69ª edição, que ocorrerá entre os dias 29 de agosto a 8 de setembro.

Como em toda edição, a imprensa já destacou os considerados “favoritos”. A lista é encabeçada pelo polêmico diretor americano Terrence Malick, uma vez que ganhou a Palma de Ouro em Cannes 2011 com A Árvore da Vida. Seu mais novo filme, To the Wonder, oferece um romance estrelado por Ben Affleck, Rachel Weisz e Rachel McAdams. Talvez pela presença de atores com cara e jeito de comédia romântica boba, o filme não seja levado tão à sério, mas para quem conhece a filmografia de Malick, sabe que ele tem olho clínico para sentimentos com um pano de fundo caótico como Terra de Ninguém (1973), Dias de Paraíso (1978) e O Novo Mundo (2005). O fato do filme de Malick ter sua estréia em Veneza é dado como uma vitória para a direção do evento, pois tem buscado resgatar a importância do festival no cenário internacional.

Ben Affleck e Rachel McAdams em To the Wonder, de Terrence Malick

Na lista de competição oficial, outro norte-americano figura entre os favoritos. The Master, de Paul Thomas Anderson, ganha destaque ao tratar dos primórdios da polêmica religião da Cientologia, cujos adeptos incluem Tom Cruise e John Travolta. Além do tema e do diretor, o filme tem boas chances na conquista do Volpi Cup de Melhor Ator para Philip Seymour Hoffman ou Joaquin Phoenix, ou ambos, o que acredito que vai acontecer. Ganhando ou não um prêmio em Veneza, The Master já caminha como favorito também para o Oscar 2013.

Representando a prata da casa, o conterrâneo Marco Bellocchio também figura nessa lista. Já fora indicado duas vezes para o Leão de Ouro e ano passado, foi homenageado com o Career Golden Lion pelo conjunto da obra. Teve seis oportunidades para vencer a Palma de Ouro em Cannes, mas nunca levou. Um de seus últimos filmes, Vincere (2009), foi bastante ovacionado e conquistou inúmeros prêmios internacionais. Sua mais nova empreitada, Bella Addormentata (Bela Adormecida, em tradução livre para o português), conta com a experiência da atriz Isabelle Huppert para contar uma história verídica e e considerada forte tabu em terras católicas: a eutanásia. Independente da recepção do público e mídia, certamente deverá provocar intensas discussões, aumentando suas chances de sair premiado.

Um dos nomes que despertou a curiosidade do público foi o americano Brian De Palma que, em 2007, ganhou o Leão de Prata de melhor diretor com o drama bélico Guerra Sem Cortes, inédito nos cinemas brasileiros. Ele retorna ao festival cinco anos depois com Passion, uma história de suspense com pitadas de homossexualismo. Apesar do diretor já ter trabalhado com esses temperos em Femme Fatale (2002) e Dália Negra (2006), o sexo aliado à tensão sempre esteve presente em sua filmografia, tendo como ponto alto Dublê de Corpo (1984) e Vestida Para Matar (1980). Em Passion, Brian De Palma conta com uma estrela sueca em ascensão: Noomi Rapace, que protagonizou a trilogia Millennium, baseada na obra de Stieg Larsson e recentemente trabalhou com Ridley Scott em Prometheus.

Rachel McAdams e Noomi Rapace num momento tórrido em Passion, de Brian De Palma

Tornando o caldo cultural mais consistente, a presença do cineasta ascendente francês Olivier Assayas contribui bastante para uma competição mais acirrada. Depois de se aventurar no universo da minissérie televisiva com o aclamado Carlos, sobre o revolucionário venezuelano Ilich Ramírez Sánchez que fundou uma organização terrorista internacional, o diretor resolveu trabalhar num drama sobre uma jovem reagindo às mudanças sociais na década de 60 na Europa em Après mai (Something in the Air). As expectativas para o novo trabalho de Assayas são altas pela sua visão mais crua e fria da França (como no ótimo drama familiar Horas de Verão (2008)).

Something in the Air, novo filme de Olivier Assayas

Também vale a pena ressaltar a presença de dois asiáticos, considerados figurinhas carimbadas em festivais: o japonês Takeshi Kitano e o sul-coreano Kim Ki-Duk. Enquanto o primeiro, caracterizado pela violência extrema de seus filmes, traz Outrage Beyond sobre a máfia Yakuza, o segundo, que busca espiritualidade em seus personagens e sua história, vem à Veneza com Pietà. O filme coreano acompanha a vida de um jovem que trabalha ameaçando devedores. Sem parentes vivos, um dia, ele recebe a visita de uma mulher de meia-idade que se diz sua mãe. Takeshi Kitano já levou o Leão de Ouro em 2003 por Zatoichi, e Kim Ki-Duk levou o prêmio de direção por Casa Vazia em 2004.

Pieta, de Kim Ki-Duk. Se depender do cartaz, sai premiado de Veneza.

O diretor filipino Brillante Mendoza no Festival de Veneza de 2009, quando concorria por Lola.

Apesar de pouco conhecido do grande público, não devemos esquecer do filipino Brillante Mendoza, que conquistou melhor diretor em Cannes por Kinatay (2009). Curiosamente, seu novo filme, Thy Womb, que fala sobre infertilidade e pobreza, falhou na tentativa de entrar no festival de Metro Manila Film Festival (nas Filipinas), mas foi selecionado pela comissão de Veneza. Depois disso, Mendoza com certeza nem se importou com a não-inclusão de seu filme no evento filipino. Em alta no cenário internacional, Brillante Mendoza adotou como linguagem um estilo documental que lembra o Neo-realismo italiano do pós-Guerra, utilizando atores não-profissionais também, mas com toques violentos típicos de sua terra natal.

Mesmo que estejam fora de competição, existem produções assinadas por diretores consagrados como Michael Mann, Mira Nair, Susanne Bier, Jonathan Demme, Spike Lee, Robert Redford e o promissor Kyoshi Kurosawa.

Spike Lee e seu documentário sobre os 25 anos do lançamento do álbum Bad, de Michael Jackson. Está na seleção Fora de Competição de Veneza.

Infelizmente, não há nenhuma produção brasileira em Veneza. A minha atual impressão é de que o cinema nacional deu uma estagnada ao ficar mais preocupado com os números da bilheteria, predominando comédias de humor escrachado típicos da Globo Filmes. Tem horas que nem Walter Salles e Fernando Meirelles resolvem a parada.

Seguem a lista de indicados ao Leão de Ouro 2012; dos filmes que serão exibidos fora de competição; e da Mostra Orizzonti, que busca novas tendências internacionais.

INDICADOS AO LEÃO DE OURO

The Master, de Paul Thomas Anderson – EUA
Après Mai (“Something in the Air”), de Olivier Assayas – França
At Any Price, de Ramin Bahrani – EUA/Reino Unido
Bella Addormentata, de Marco Bellocchio – Itália/França
La cinquième saison, de Peter Brosens and Jessica Woodworth – Bélgica/Holanda/França
Lemale Et Ha’Chalal (Fill the Void), de Rama Burshtein – Israel
È stato il figlio, de Daniele Ciprì – Itália
Un Giorno Speciale, de Francesca Comencini – Itália
Passion, de Brian De Palma – França/Alemanha
Superstar, de Xavier Giannoli – Bélgica/França
Pieta, de Ki-Duk Kim – Coréia do Sul
Outrage Beyond, de Takeshi Kitano – Japão
Spring Breakers, de Harmony Korine – EUA
To The Wonder, de Terrence Malick – EUA
Sinapupunan (Thy Womb), de Brillante Mendoza – Filipinas
Linhas De Wellington, deValeria Sarmiento – França/Portugal
Paradise: Faith, de Ulrich Seidl – Alemanha/ Áustria/ França
Betrayal, de Kirill Serebrennikov – Rússia

FORA DE COMPETIÇÃO

L’Homme Qui Rit, de Jean-Pierre Ameris

Na seleção Fora de Competição: Pôster dinamarquês de Love is All you Need, de Susanne Bier, estrelado por Pierce Brosnan.

Anton’s Right Here, de Lyubov Arkus
Love Is All You Need, de Susanne Bier
Cherchez Hortense, de Pascal Bonitzer
It Was Better Tomorrow, de Hinde Boujemaa
Sur Un Fil…, de Simon Brook
Clarisse, de Liliana Cavani
Enzo Avitable Music Life, de Jonathan Demme
Tai Chi 0, de Stephen Fung
Sfiorando Il Muro, de Silvia Giralucci and Luca Ricciardi
Carmel, de Amos Gitai
Lullaby To My Father, de Amos Gitai
El Imenetrable, de Daniele Incalcaterra and Fausta Quattrini
Penance, de Kiyoshi Kurosawa
Bad 25, de Spike Lee
Witness: Libya, de Michael Mann
Medici Con L’Africa, de Carlo Mazzacurati
The Reluctant Fundamentalist, de Mira Nair
O Gebo E A Sombra, de Manoel De Oliveria
The Company You Keep, de Robert Redford
Shark (Bait 3D), de Kimble Rendall
Disconnect, de Henry-Alex Rubin
La Nave Dolce, de Daniele Vicari
The Iceman, de Ariel Vromen

MOSTRA ORIZZONTI
Wadjda, de Haifaa Al Mansour
Khaneh Pedari (The Paternal House), de Kianoosh Ayari
Ja Tozhe Mochu (I Also Want It), de Alexey Balabanov
Gli Equilibristi, de Ivano De Matteo
L’Intervallo, de Leonardo Di Costanzo
El Sheita Elli Fat (Winter of Discontent), de Ibrahim El Batout
Tango Libre, de Frederic Fonteyne
Menatek Ha-Maim (The Cutoff Man), de Idan Hubel
Gaosu Tamen, Wo Cheng Baihe Qu Le (Fly With the Crane), de Ruijun Li
Kapringen (A Hijacking), de Tobias Lindholm
Leones, de Jazmin Lopez
Bellas Mariposas, de Salvatore Mereu
Low Tide, de Roberto Minervini
Boxing Day, de Bernard Rose
Yema, de Djamila Sahraoui
Araf (Araf, Somewhere in Between), de Yesim Ustaoglu
Sennen No Yuraku (The Millennial Rapture), de Koji Makamatsu
Zan Zi Mei (Three Sisters), de Bing Wang